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Ventilação A ventilação é a troca de O2, proveniente do ar atmosférico, por CO2, proveniente do metabolismo tecidual. A respiração ocorre por pressão negativa, respeitando a lei de Boyle, que diz “para uma mesma massa de gás, quanto maior o volume, menor é a pressão”. Pressão alveolar Volume alveolar É realizada por meio da ação de terminados grupos musculares, como diafragma, responsável pela respiração passiva, intercostais externos, esternocleidomastoideo e escaleno. Os pulmões podem ser insulflados ou esvaziados de duas maneiras: devido a movimentação do diafragma para baixo e para cima, alongando ou encurtando a caixa torácica (a cúpula diafragmática rebaixada traciona o parênquima pulmonar) e devido à elevação e depressão das costelas, aumentando ou diminuindo o diâmetro ântero-posterior da cavidade torácica. O pulmão é uma estrutura elástica que colapsa como um balão expelindo o seu ar pela traqueia, sempre que não houver qualquer força para mantê-lo inflado (a tendência natural é que o pulmão se feche, expelindo o ar que está em seu interior, enquanto a caixa torácica tende a se expandir devido à ação muscular). Pressões pleural e alveolar e suas variações durante a ventilação: • Pressão pleural/intrapleural É a pressão do pequeno espaço, preenchido com líquido, existente no estreito espaço entre a pleura parietal e a pleura visceral. A tendência de retração pulmonar (pleura visceral) é contrabalançeada pela tendência de expansão da caixa torácica (pleura parietal), que resulta em pressão intrapleural subatmosférica/negativa. Durante a inspiração, a tração do parênquima pulmonar negativa a pressão, provocando um aumento do volume pulmonar que favorece a entrada de ar para os alvéolos. No entanto, na expiração a pressão intrapleural se torna menos negativa (podendo até mesmo se tornar positiva, como ocorre no reflexo da tosse, que conta com a ação da musculatura abdominal), o que favorece a saída de ar dos pulmões, reduzindo o volume pulmonar. A pressão intrapleural antes da inspiração é aproximadamente -5 cm H2O. Durante a inspiração, essa pressão pode ficar ainda mais negativa, chegando a aproximadamente -7,5 cm H2O, o que favorece o enchimento pulmonar. Algumas patologias podem provocar alterações dessas pressões. Em traumas da caixa torácica, em que há fratura das costelas, por exemplo, perde-se parte da estabilidade do gradil costal, o que aumenta a força de retração pulmonar, fazendo com que a região da fratura tenda a se colabar (a força de retração estará maior do que a força de expansão). Nesse caso, a pressão intrapleural pode chegar a 0 cm H2O, favorecendo a entrada no ar no espaço intrapleural, o que pode provocar atelectasia/colabamento nessa região, reduzindo o volume pulmonar. Esse quadro em que há entrada de ar entre as pleuras é denominado pneumotórax e é necessário que haja um procedimento para a colocação de um dreno para a remoção desse ar, estabilizando as pressões. • Pressão alveolar Quando a glote está aberta e não há entrada nem saída de ar dos pulmões, as pressões em todas as partes da árvore respiratória, incluindo os alvéolos, é igual à pressão atmosférica. (ao final de uma expiração ou inspiração, com a glote aberta, a pressão intra-alveolar será igual à pressão atmosférica). Durante a inspiração, o tracionamento do parênquima pulmonar é responsável por negativar a pressão intrapleural, favorecendo a entrada de ar da atmosfera para os alvéolos, aumentando o volume pulmonar. Nesse processo, há também uma negativação da pressão alveolar, que chega à -2 cm de H2O e, ao final da inspiração, essa pressão se iguala novamente à pressão atmosférica. Durante o processo de expiração, é necessário que a pressão intrapleural se torne menos negativa, reduzindo o volume pulmonar. A pressão alveolar precisa se tornar positiva para que seja maior do que a pressão atmosférica, estimulando a saída do ar de um lugar de maior pressão para um lugar de menor pressão. • Ventilação mecânica Durante a ventilação mecânica, ocorre uma inversão das pressões intrapleural e alveolar. Isso ocorre devido à colocação do ar no interior dos pulmões. Ao “jogar” o ar para o interior das vias aéreas, os alvéolos irão se expandir, aumentando o volume pulmonar e consequentemente favorecendo as trocas gasosas. Nesse caso, não há ação da musculatura respiratória tracionando o parênquima pulmonar para negativar a pressão. Ao final da inspiração, ocorre a abertura de uma válvula denomina válvula expiratória, responsável por favorecer a retração do parênquima pulmonar, retirando o ar dos alvéolos e tornando a pressão alveolar menos negativa. Complacência pulmonar Complacência pulmonar é o grau de expansão dos pulmões para cada unidade de alteração da pressão transpulmonar, que é aproximadamente 200 mL/cmH2O. A complacência está intimamente relacionada ao fenômeno da interdependência, que ocorre em todas as estruturas pulmonares. Na inspiração, a tração provoca aumento do volume alveolar, do diâmetro dos vasos e do calibre da árvore brônquica. Na expiração ocorre o inverso. Na ventilação mecânica, a pressão positiva provoca um aumento do volume dos alvéolos sem que haja tração dos vasos, pois o aumento do volume pulmonar acarreta compressão de parte dos vasos. Consequentemente, o vis a fronte (força para o retorno venoso) irá se reduzir, sendo a sobrecarga cardíaca um dos problemas provocados pela ventilação mecânica (a pressão negativa na caixa torácica favorece o retorno venoso). Ao pensar no alvéolo, a interdependência é um dos fenômenos responsáveis por evitar o colabamento, pois a tendência de um alvéolo de se fechar é sobreposta pela tendência dos outros de se permanecerem abertos, pois um alvéolo traciona o outro, mantendo a estrutura alveolar. Parte dessa tendência de retração é dada pelas fibras de elastina e cerca de 2/3 é dada pela tensão superficial, definida como a força gerada por uma fina camada de líquido que reveste internamente os alvéolos. A tensão superficial está presente em toda interface gás- líquido e é gerada pelas forças de coesão/atração entre as moléculas do líquido, favorecendo o colabamento alveolar. O surfactante pulmonar é responsável pela redução dessa tensão, evitando o colabamento. Ele é sintetizado a partir de ácidos graxos e apresenta cadeias hidrofóbicas, voltada para a luz do alvéolo, e hidrofílicas, que se volta para o líquido alveolar (atua analogamente a um detergente, pois permanece entre as moléculas do liquido para reduzir a força de coesão das moléculas, o que reduz a tensão superficial). Vantagens: tensão superficial (melhora a complacência) Estabilidade alveolar Impede a transudação de líquido para o alvéolo Sempre que o pulmão é insuflado por pressão negativa, ele gera um padrão de curva. As curvas de expiração e inspiração são diferentes, portanto, a uma mesma pressão, há um volume maior na expiração do que na inspiração. Isso ocorre devido à ação do surfactante, responsável por diminuir a tensão superficial. A diferença nas curvas não lineares de inflação e deflação é denominada histerese. Se enchermos o pulmão de água e não por pressão negativa, a histerese some, fazendo com que a curva de insuflação seja igual a de deflação. O aumento do líquido no interior do alvéolo provoca uma instabilidade no líquido responsável por reduzir a tensão superficial, o que ocorre devido à redução da ação do surfactante. Lei de Laplace: 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = 2 𝑥 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑟𝑎𝑖𝑜 Os alvéolos de menor raio tendem a se esvaziar para os alvéolos de maior raio, ou seja, os alvéolos menos expandidos se esvaziam para os mais expandidos. A volumes pulmonares elevados (pulmão hiperinsuflado), mesmo com uma grande alteração de pressão, haverá pouca geração de volume, ou seja, pouca alteração de volume com a ventilação. Isso ocorre, pois, o parênquimapulmonar já está distendido. Em situações de baixo volume pulmonar, a mesma alteração de pressão provoca geração de grandes volumes, pois há uma baixa distensão do parênquima pulmonar. Algumas patologias interferem na complacência pulmonar, diminuindo-a ou aumentando-a. Pacientes enfisematosos apresentam complacência aumentada devido a destruição do parênquima pulmonar e principalmente das fibras de elastina, o que consequentemente reduz o grau de retração pulmonar, aumentando o volume pulmonar e a complacência estática (por estarem insuflados, ventilam em volumes maiores). Dessa forma, é necessário gerar uma menor pressão para que haja um aumento do volume pulmonar, em relação ao normal. Nos pacientes com fibrose pulmonar, em que há rigidez do parênquima pulmonar, o volume pulmonar está diminuído, consequentemente tornando necessária a geração de grandes pressões para ventilar pequenos volumes. Por isso, há uma redução da complacência pulmonar. Além da fibrose, outras patologias, como pneumotórax (o ar no espaço intrapleural empurra o parênquima pulmonar), edema alveolar e atelectasia (a região que está com atelectasia não consegue se expandir) também podem reduzir a complacência pulmonar. Diferenças regionais da ventilação e da circulação O pulmão é mais facilmente insuflado a baixos volumes do que a grandes volumes, pois no último seria necessária uma maior pressão para a geração de pouco volume. Na posição ereta, os alvéolos apicais estão mais distendidos do que os alvéolos basais. Isso ocorre, pois, o peso do pulmão traciona os alvéolos apicais, expandindo-os. A ventilação da base é maior, pois a pequenos volumes a complacência é maior, enquanto que no ápice, com os alvéolos distendidos, a geração de volume é menor. Essa condição é modificada pela posição do indivíduo, seja ela o decúbito lateral ou plantando bananeira. Portanto, a mudança de decúbito de pacientes com patologias pulmonares é muito importante para facilitar a ventilação em diferentes locais do pulmão. O mesmo ocorre na circulação. Alvéolos mais expandidos tendem a comprimir o vaso, consequentemente reduzindo a perfusão nessa região. Com isso, o fluxo sanguíneo é deslocado para as regiões inferiores, onde o peso da coluna hídrica aumenta a pressão no vaso, favorecendo a manutenção desses vasos abertos e das trocas gasosas, o que faz com que os alvéolos basais sejam mais perfundidos e ventilados. O espaço morto fisiológico pode ser exemplificado pelos alvéolos hiperinsuflados que comprimem o vaso sanguíneo, impossibilitando a passagem de sangue. Essas regiões provocam shunts arterio-venosos. Pacientes com SARA, por exemplo, apresentam aumento de extravasamento de líquido para o interior dos alvéolos. Portanto, onde houver maior quantidade de sangue, haverá também maior comprometimento alveolar (a maior pressão no interior do vaso favorece a saída desse líquido para o espaço alveolar). Por isso, é importante a mudança de decúbito em pacientes acometidos por essa patologia. Além disso, a pressão hidrostática no interior dos vasos capilares é em torno de 10 mm Hg, enquanto a pressão oncótica nos capilares pulmonares é aproximadamente 23 mmHg. Essa grande diferença de pressão favorece a entrada de líquido dentro dos vasos. Em algumas patologias em que há o aumento da pressão hidrostática, como na ICC esquerda, o líquido passa para o interstício, aumentando o espaço intersticial e até mesmo encharcando os alvéolos. Resistência das vias aéreas Nas vias aéreas, existem três tipos de fluxos. O fluxo laminar ocorre principalmente nas regiões periféricas de pequeno calibre, enquanto o fluxo turbulento ocorre nas vias aéreas de grande calibre. A resistência é maior quanto menor for o raio, ou seja, quanto menor o calibre, maior a resistência. Na árvore brônquica, a maior resistência é encontrada nos brônquios, sendo que a resistência é menor nos bronquíolos terminais pois eles existem em grande quantidade, possibilitando que o ar se espalhe por eles. A resistência é determinada por contração da musculatura lisa (broncoconstrição), como um efeito direto do SN parassimpático; pela presença de substâncias irritantes na traqueia e dos brônquios, que podem dificultar a passagem do gás devido a formação de secreção e ao estímulo para realização de broncoconstrição, reduzindo a luz das vias aéreas; e aumento da densidade do gás, como ocorre ao mergulhar, devido ao aumento do volume. O aumento da resistência da árvore brônquica provoca redução tanto da condutância quanto do volume pulmonar. A diminuição da resistência da árvore brônquica, no entanto, acarreta aumento da condutância e consequentemente do volume pulmonar.
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