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DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS TROMBOSE/HEMORRAGIA/EMBOLIA 1. HEMOSTASIA: HEMORRAGIA E TROMBOSE A hemostasia consiste no proces so que regula o equilíbrio volêmico, mantendo o sangue em seu estado lí quido nos vasos normais, ou seja, não lesados, e permitindo a formação de tampão hemostático (trombo) nos lo cais de lesão vascular, a fim de evitar a perda significativa de sangue. De feitos nos processos de hemostasia podem causar hemorragias e trom bose, que consiste na formação de coágulos sanguíneos (trombos) den tro de vasos normais, o que pode ser causado por vários fatores. Tanto os mecanismos da hemosta sia quanto da trombose envolvem três componentes principais: parede vascular (especialmente o endotélio), plaquetas e a cascata de coagula ção. De maneira geral, os eventos he mostáticos no local da lesão vascular passa pelas seguintes fases: • Vasoconstrição: mediada por me canismos neurogênicos reflexos e fatores de secreção local (endoteli na). É uma medida paliativa e transi tória, que visa diminuir a perda san guínea diminuindo o fluxo sanguíneo na região, porém o sangramento pode retornar caso as próximas fa ses da hemostasia não ocorram. • Hemostasia primária: consiste na formação do tampão hemos tático pela agregação plaquetária. A lesão endotelial expõe a matriz extracelular (MEC), favorecendo a aderência e ativação plaquetá ria, resultante da alteração de seu formato (de discos arredondados para placas planas). • Hemostasia secundária: nessa fase o início do tampão plaque tário é consolidado. Isso ocorre com a exposição do fator tecidual no local da lesão endotelial. O fa tor tecidual, também chamado de fator III ou tromboplastina, é uma DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 11 proteína pró-coagulante que atua em conjunto com o fator II, que é o principal ativador da cascata de coagulação e normalmente resul ta em trombina. A trombina cliva o fibrinogênio circulante em fibrina insolúvel, formando uma rede de fibrina e induzindo o recrutamento e ativação de mais plaquetas, for mando um tampão permanente, um trombo sólido. • Eventos anti-trombóticos regu latórios: Com isso a formação do trombo são ativados os mecanis mos anti-trombóticos, que visam limitar o tampão evitando trom bose. Um dos principais agentes dessa fase é o ativador de plas minogênio tecidual (t-PA), o qual converte o plasminogênio circu lante em plasmina, que é uma en zima fibrinolítica. Figura 4. Estágios da hemostasia. Fonte: ROBBINS & COTRAN. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 9ªed CONCEITO: Hemostasia não é a mesma coisa que homeostasia. Home ostasia se refere ao equilíbrio entre as funções e componentes do corpo, o que será melhor descrito na seção sobre edema, enquanto hemostasia, como já visto, é referente aos mecanismos que buscam evitar a perda de sangue em casos de lesão dos vasos, além de manter o sangue em seu estado líquido (não trombótico), permitindo seu fluxo adequado. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 12 Endotélio T A regulação da hemostasia é feita principalmente pelas células endo teliais, que mantém em equilíbrio as atividades trombóticas e anti-trom bóticas. Quando íntegro, o endotélio apresenta propriedades antipla quetárias, anticoagulantes e fibri nolíticas, mas a lesão desse tecido ativa os fatores pró-coagulantes, que também podem ser ativados por mi croorganismos invasores, citocinas, mediadores plasmáticos e forças he modinâmicas (tríade de Virchow). As propriedades antitrombóticas en volver a produção de fatores que bloqueiam a adesão e agregação plaquetária, inibem a coagulação intacto impede que as plaquetas se encontrem com a MEC, então tanto plaquetas não ativadas (formato arre dondado) quanto ativadas (conforma ção plana) não conseguem se aderir ao endotélio. No caso de plaquetas ativadas, a prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico produzido pelas células endoteliais impedem a adesão pla quetária. Além disso, PGI2 e o óxido nítrico são mediadores vasodilata dores, cuja síntese é estimulada por fatores produzidos durante a coagu lação. O endotélio também inibe a agregação plaquetária por meio da adenosina difosfatase, que degrada o ADP plaquetário, impedindo que o mesmo se ative. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 13 Os efeitos anticoagulantes são media dos pelo endotélio associado a molé culas semelhantes à heparina, trom bomodulina e inibidor da via do fator tecidual. As moléculas semelhantes à heparina agem como cofatores au mentando a inativação da trombina e de outros fatores da coagulação por meio da proteína antitrombina III. A trombomodulina se liga à trombina, convertendo-a em um fator antico agulante ativando a proteína C, que por sua vez inibe a coagulação atra vés da inativação dos fatores Va e VIIIa. Além disso, o endotélio produz um cofator da proteína C, a prote ína S, e o inibidor da via do fator endoteliais ativadas também aumen tam a função catalítica dos fatores de coagulação ativados IXa e Xa. As propriedades pró-trombóticas do en dotélio também possuem efeitos an tifibrinolíticos, por meio da secreção de inibidores do ativador de plasmi nogênio (PAI), limitando a fibrinólise e favorecendo a trombose. ENDOTÉLIO tecidual (TFPI), que é uma proteína inibidora dos fatores teciduais VIIa e Xa. (Os fatores aqui mencionados serão melhor descritos na seção so bre a cascata de coagulação). Os efeitos fibrinolíticos envolvem principalmente a síntese de t-PA, que cliva plasminogênio em plas mina, como já menciona, e essa por sua vez converte a fibrina para de gradar o trombo. Entretanto, quando lesado, o en dotélio ativa suas propriedades pró-trombóticas. O contato das plaquetas com a MEC permite sua adesão graças ao fator de von Wil lebrand (vWF). Além disso, citocinas como TNF e IL-1, bem como endo toxinas bacterianas, estimulam as células endoteliais a sintetizarem o fator tecidual, principal ativador da cascata de coagulação, e as células Atividades anti Plaquetas As plaquetas, além de formar o tam pão inicial, possuem uma face que recruta e concentra os fatores de co agulação ativados. A função dessas células depende de vários receptores, citoesqueleto contrátil e dois tipos de grânulos citoplasmático: grânulos α e grânulos densos. Os grânulos α expressam a molécula P-selectina e possui fibrinogênio, fibronectina, fa tores V e VIII, fator plaquetário 4 (qui miocina ligada à heparina), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de crescimento trans formador-β. Os grânulos densos, por sua vez, possuem ADP e ATP, cál cio ionizado, histamina, serotonina e epinefrina. Com o encontro com a MEC, as plaquetas passam pelos se guintes eventos: • Adesão e mudança conforma cional: a adesão, como já mencio nado, é mediada principalmente pelo vWF, que faz uma ponte en tre o colágeno exposto da MEC e a superfície plaquetária (através da glicoproteína Ib - Gplb) – a jun ção vWF-Gplb resiste às forças de cisalhamento do fluxo sanguíneo, porém as plaquetas podem se as sociar a outros componentes da MEC também. • Secreção: nessa etapa são libera dos os conteúdos de ambos os grâ nulos, sendo a liberação do corpo denso especialmente importante, visto que o cálcio é necessário na cascata de coagulação e o ADP é um ativador da agregação plaque tária. A agregação plaquetária per mite o surgimento de fosfolipídios com carga negativa em sua super fície, os quais se ligam ao cálcio e servem como local de formação de complexos com diferentes fatores de coagulação. • Agregação: além do ADP, a agre gação plaquetária também é esti mulada pelo vasoconstritor trom boxano A2 (TxA2 – derivado das plaquetas), levando à formação do tampão primário. Essa agre gação inicial é reversível, e com a ativação da cascata de coagula ção, a trombina estabiliza o trom bo. Para isso, a trombina se liga a um receptor ativado por protease (PAR) na membrana plaquetária, que gera agregação adicional em conjunto com o TxA2 e ADP. Após isso, a contração plaquetária cria uma massa fundida de plaquetas, formando o tampão secundáriodefinitivo. Com isso, a trombina converte fibrinogênio em fibrina ci mentando as plaquetas no local da lesão. O fibrinogênio não clivado também é importante na agregação plaquetária. A ativação plaquetária por ADP pro move uma alteração conformacional nos receptores plaquetários GPIIb-IIIa, DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 15 que induz a ligação ao fibrinogênio, que por sua vez faz a ponte entre as plaquetas, favorecendo a agregação plaquetária. Figura 5. Formação do coágulo por plaquetas. Fonte: https://bit.ly/3abnNH7 Eritrócitos e leucócitos também são compõem os tampões he mostáticos. Os leucócitos se aderem às plaquetas através da P-selectina e ao endotélio por meio de várias receptores, e essas células contribuem para a inflamação no processo de trom bose. A trombina também se dirige à inflamação ligada ao trombo esti mulada por neutrófilos e monócitos e pela geração de produtos quimio táticos da degradação da fi Secreção PLAQUETAS brina durante a clivagem do fibrinogênio. Adesão e mudança conformacional SAIBA MAIS! A doença de von Willebrand (DVW) é uma deficiência hereditária do fator de von Willebrand (FVW), que causa disfunção plaquetária. A tendência ao sangramento geralmente é discreta. Exames de triagem mostram uma contagem plaquetária normal e, possivelmente, PTT ligei ramente prolongado. O diagnóstico baseia-se em níveis baixos do antígeno do FVW e na atividade de cofator de ristocetina anormal. O tratamento envolve o controle do sangramento com terapia de reposição (concentrado intermediário do grau de pureza do fator VIII inativa dos para vírus) ou desmopressina. Cascata da Coagulação Sabe-se que o processo de coagula ção tem a potencialidade de amplificar um pequeno estímulo inicial em um tampão hemostático, composto por fibrina e plaquetas ativadas, sendo um processo dinâmico, que envolve: iniciação, amplificação e propagação. Iniciação: Essa etapa ocorre em resposta ao dano vascular, que expõe o subendotélio ao sangue. As plaquetas se aderem ao lo cal danificado, e, uma vez próximas ao subendotélio se ligam ao colágeno pela glicoproteína GpVI, sendo que essa li gação é responsável por promover uma sinalização em cascata e ativação das integrinas plaquetárias, que mediam a ligação das plaquetas com o subendo télio. O fator de von Willebrand (FvW), que circula no plasma, pode se ligar ao colágeno exposto na matriz extracelu lar e à glicoproteína (Gp) Ib, presente na superfície plaquetária. Concomitante a isso, o fator tecidu al (FT), presente no subendotélio, é exposto e se liga ao FVII circulante no plasma. O fator tecidual atua como receptor e cofator para o FVIII, e uma vez complexados, o FVII é rapidamen te convertido em FVII ativado (FVIIa) e o complexo FT/FVIIa resultante ativa os fatores IX e X. O fator Xa se liga ao FVa e converte pequenas quantida des de protrombina em trombina. A quantidade de trombina formada de início é insuficiente para a formação do coágulo, mas é suficiente para re troalimentar a coagulação através da ativação dos fatores V, VIII e IX e de receptores da superfície plaquetária. Amplificação: Inicia-se a partir do efeito de peque nas quantidades de trombina gerada na etapa de iniciação. A trombina liga- -se avidamente a GpIb, e, com isso, a trombina sofre uma alteração confor macional, que permite a clivagem dos receptores ativadores de protease pla quetária (PAR) pela trombina. Dessa forma, observa-se que a interação da trombina com a PAR-1 engatilha um processo de sinalização em cascata, DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 17 o que resulta na ativação plaquetária, que provoca várias alterações, como: mudança no citoesqueleto plaquetá rio, aumento da expressão de fosfati dilserina (FS) na superfície externa da plaqueta, um fato de extrema impor tância para o incremento da atividade coagulante e a degranulação plaque tária com liberação dos conteúdos dos grânulos alfa e denso. Diante disso, sabe-se que o conteúdo dos grânu los densos, em especial o difosfato de adenosina (ADP), exerce uma re troalimentação positiva nas plaquetas adjacentes para promover ativação plaquetária adicional. Enquanto isso, o FV parcialmente ativado, presente nos grânulos alfa, é convertido para sua forma completamente ativa por ação da trombina ou do FXa. Propagação: Após as duas eta pas anteriores, as plaquetas se en contram em seu es tado ativado. Logo, juntamente com os cofatores Va e VIIIa ligados em sua su perfície, as plaque tas funcionam como plataforma para o ancoramento de proteínas e forma ção de complexos tenase e protrombi nase. O FIXa, formado durante a etapa de iniciação, liga-se às plaquetas ati vadas de duas formas: dependente e independente do FVIIIa, sendo que na ação dependente do FVIII, ocorre for mação do complexo fixa/FVIIIa (com plexo tenase), que ativa o fator FX. Ademais, o FXa ligado a plaqueta for ma um complexo com o FVa também ligado a plaqueta (complexo protrom binase), que é capaz de converter a protrombina em trombina. Nesse con texto, a trombina cliva o fibrinogênio, formando assim, os monômeros de fibrina, os quais se agregam esponta neamente em protofibrilas. Por último, outra função da trombina é a de ati var o FXIII, responsável por estabilizar essas protofibrilas e tornar o coágulo estável. Figura 6. Coagulação in vivo. Fonte: ZAGO, Marco An tônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 18 A ativação da cascata de coagulação também promove uma cascata fibri nolítica, cuja importância é limitar o tamanho do trombo. Esse processo é realizado principalmente pela plas mina, uma enzima que interfere na polimerização da fibrina. Além disso, os produtos da degradação da fibri na também podem atuar como an ticoagulantes fracos, e o nível sérico desses produtos pode ser utilizado no diagnóstico de eventos trombóti cos anormais, como os que ocorrem na CID, TVP e TEP (melhor descritos adiante). A plasmina é formada pela conversão do plasminogênio circu lante pela ação do t-PA, principal mente, o qual é ativado pela ligação com a fibrina e isso é importante pois “restringe” a ação do t-PA aos locais de trombose recente. A plasmina livre é inativada pelo inibidor α2-plasmina. Além da ação do t-PA, o endotélio li mita a coagulação com a liberação do inibidor do ativador do plasminogênio (PAI), que impede a fibrinólise inibin do a ligação do t-PA à fibrina, ou seja, o PAI é um fator pró-coagulante, cuja produção é aumentada pela presença de trombina. Observações experimentais e estu dos clínicos demonstraram que as re ações de coagulação ocorrem como processos simultâneos nas superfí cies celulares. Logo, os componentes das denominadas vias intrínsecas e extrínsecas participam da iniciação e propagação da coagulação, respecti vamente, assumindo papéis distintos e complementares. Dessa forma, ob serva-se que é pouco provável que essas vias operem de modo indepen dente in vivo. Figura 7. Sistema fibrinolítico. Fonte: ROBBINS & COTRAN. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 9ªed DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 19 Trombose A formação do trombo envolve três principais alterações, agrupadas na tríade de Virchow, sendo elas: le são endotelial, estase do fluxo san guíneo (turbulência) e estado de hipercoagulabilidade. A lesão endotelial é importante na formação de trombos no coração ou na circulação arterial, onde as taxas de fluxo podem impedir a coagulação prevenindo a adesão plaquetária e di luindo os fatores de coagulação ati vados. Assim, a formação de trombos C nas câmaras cardíacas (após infarto do miocárdio, por exemplo), nas pla cas de ateroma e nos locais de vascu lite são resultada da lesão endotelial, visto que ocorre a exposição da MEC, DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 20 desencadeando os processos de co agulação aqui já descritos. Porém, o endotélio não contribui para a trom bose apenas quando está rompido, mas qualquer alteração no equilíbrio dinâmicos entre as atividades pró eantitrombóticas podem causar coa gulação local. Ou seja, disfunções en doteliais na expressão de fatores pró e anticoagulantes causam trombose e essas disfunções podem ser conse quência de várias complicações, como hipertensão, lesões por radiação, fluxo sanguíneo turbulento (fibrilação atrial), endotoxinas bacterianas, toxinas do cigarro e anormalidades metabólicas. A turbulência do fluxo sanguíneo (estase) leva à formação de trombos devido à lesão e/ou disfunção endo telial que provoca. A estase sanguí nea é a principal agente na formação de trombo venoso. O fluxo sanguíneo normal é laminar, ou seja, as plaque tas e as outras células sanguíneas fluem na porção central do lúmen do vaso, separada do endotélio por uma camada de plasma com movimento mais lento. Com isso, a estase e tur bulência sanguínea promovem a ati vação endotelial, aumentando a ativi dade pró-coagulante; rompe o fluxo laminar, fazendo com que as plaque tas entrem em contato com o endoté lio; e impede a diluição dos fatores de coagulação, devido falta de fluxo san guíneo fresco e influxo dos inibidores dos fatores de coagulação. A turbu lência e estase podem ser causadas por infarto do miocárdio, estenose da válvula mitral, hiperviscosidade (poli citemia vera), doença falciforme e ou tras complicações. O estado de hipercoagulabilidade, também chamado de trombofilia, é fator que menos contribui para a for mação de trombose, porém pode pre dominar em algumas condições. A hipercoagulabilidade é definida como qualquer alteração nas vias de coa gulação que predispõe à trombose, podendo ter origem de desordens pri márias (genéticas) ou secundárias (ad quiridas). As causas primárias são re lacionadas com defeitos em diversos fatores envolvidos nos processos de coagulação, como mutação do gene do fator V, deficiência de antitrombina III, de proteína C, entre outras anorma lidades. As causas secundárias, por sua vez, estão relacionadas com re pouso no leito e imobilizações prolon gadas, infarto do miocárdio, fibrilação atrial, lesão tecidual (cirurgia, fratura, queimaduras), tumores, síndrome ne frótica, uso de contraceptivos orais ou gestação (estado hiperestrogênico), tabagismo, entre outras doenças e condições que tornam o sangue mais viscoso. Ao contrário das doenças hereditárias, a trombofilia adquirida é normalmente multifatorial. Os trombos podem se desenvolver em qualquer parte do sistema car diovascular, e seu tamanho e forma depende do local de origem e causa de formação. Assim, podem existir DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 21 trombos arteriais e trombos venosos. Os trombos arteriais ou cardíacos normalmente se formam em locais de turbulência (regiões de bifurcação arterial) ou de lesão endotelial (placas de ateroma, HAS), enquanto os trombos venosos normalmente ocorrem em locais de estase. Ambos os trombos se propagam na direção do coração, ou seja, o trombo arterial crescem em direção retrógrada do ponto de ligação e os trombos venosos na direção do fluxo sanguíneo. Os trombos nas câmaras cardíacas são chamados de trombos murais, que são causados por anormalidade de contração do miocárdio ou lesão endomiocárdica. As placas de ate roma e aneurismas comumente pro vocam trombos aórticos. Os trombos arteriais normalmente são oclusivos, e também podem ser causados por vasculite e trauma, apesar da causa mais comum ser a ruptura das placas de ateroma. Os trombos nas válvulas cardíacas são chamados de vegeta ções, comumente causados por infec ções bacterianas. A trombose arterial pode embolizar e provocar infartos. A trombose venosa é quase inva riavelmente oclusiva e seus coágulos são conhecidos como trombos verme lhos ou de estase. As veias dos mem bros inferiores são as mais afetadas, mas também podem acometer outras veias do corpo. A trombose venosa também pode causar infarto, porém é mais comum apenas congestão, e nesses casos os canais colaterais au xiliam no fluxo vascular, melhorando o influxo arterial. Por isso, os infartos por trombose venosa são mais prová veis em órgãos com uma única veia aferente, como os testículos e ovários. Por outro lado, a trombose venosa profunda é a principal causa de trom boembolismo pulmonar (TEP), que será melhor descrito adiante. Após sua formação, o trombo, quan do não fatal, pode ter os seguintes destinos: • Propagação: acumulam plaquetas e fibrinas, crescendo e promoven do obstrução do vaso. • Embolização: se desprendem e deslocam para outras locais da vasculatura. • Dissolução: resultado da fibrinóli se, podendo ser administrado t-PA nas primeiras horas do evento trombótico. • Organização e recanalização: trombos mais velhos são organi zados por células endoteliais, célu las do músculo liso e fibroblastos, que ocasionalmente conseguem formam canais capilares por den tro do trombo, permitindo a conti nuidade do lúmen, ainda que mais estreitado que o normal. Para isso, os centros do trombos sofrem di gestão enzimática, por enzimas lisossômicas dos leucócitos e pla quetas recrutados. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 22 Trombose Venosa (TVP) TEP A hemorragia consiste no extravasamento de sangue para o espa ço extravascular, que pode ser provocado por traumas, aterosclerose, inflamação ou neopla sia na parede do vaso e congestão crônica. Algu mas doenças que geram maior predisposição a hemorragias são chama das de diáteses hemor rágicas. Quando a lesão ocorre em capilares e arteríolas, a hemorragia pode se acumular no te cido subcutâneos e ca vidades do corpo, como também pode extravasar para fora do corpo. Per das maiores que 20% do volume sanguíneo podem causar choque hemor rágico (hipovolêmico), o qual costuma ser menor, de fácil controle, no entanto, o comprometimento de grandes artérias e vasos podem cau sar grande perda de sangue, o qual é potencialmente fatal e será melhor descrito adiante. Daí a importância da regulação adequada dos mecanis mos de hemostasia. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 23 circulação pulmonar ou na circulação SE LIGA! Aspirina é um inibidor irrever sível da ciclo-oxigenase. É utilizada em pacientes com risco de trombose coro nariana pois bloqueia permanentemen te a síntese de TxA2 pelas plaquetas. A aspirina também inibe a produção pelo endotélio de PGI2 (inibidor da agregação plaquetária), porém as células endote liais conseguem realizar nova síntese de ciclo-oxigenase ativa, superando o blo queio. Ciclo-oxigenase é a enzima que converte o ácido araquidônico em pros taciclinas, e por isso a aspirina consegue parar permanentemente a produção de TxA2 (um tipo de prostaciclina) nas pla quetas, visto que as plaquetas são célu las anucleadas e assim não conseguem sintetizar mais ciclo-oxigenase como as células endoteliais. Por outro lado, esse efeito da aspirina aumenta as chances de hemorragias espontâneas. 5. EMBOLIA Um êmbolo é uma massa intravas cular solta, que pode ser sólida, líqui da ou gasosa, a qual é transportada pelo sangue para um local distante do seu ponto de origem. A maioria dos êmbolos, no entanto, têm origem em um trombo, por isso o termo trombo embolismo, mas também pode existir êmbolos de gordura, bolhas de nitro gênio, fragmentos da medula óssea e até mesmo corpo estranho. A principal consequência da embolia é o infarto do tecido distal, visto que os êmbolos normalmente provocam oclusão dos vasos onde se alojam. De maneira geral, os êmbolos se abrigam ou na sistêmica. Embolia Pulmonar (Tromboembolismo pulmonar – TEP) A TEP é normalmente causada por trombose venosa profunda das per nas, quando os trombos são trans portados para o lado direito do co ração, antes de se alojar nas artérias pulmonares. A depender do tamanho, o êmbolo pode ocluir a artéria pulmo nar principal, impactar-se através da bifurcação da artéria (êmbolo em sela) ou se distribuir pelas arteríolas meno res. De maneira geral, o indivíduo que teve TEP tem maior risco de desen volver outros êmbolos. Um êmbolo venoso pode passar para a circulação sistêmica através de um defeito inte ratrial ouinterventricular, porém isso é mais raro (embolia paradoxal). A maioria dos êmbolos pulmonares são pequenos, e por isso são assin tomáticos. Essas trombos podem provocar morte súbita, insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale) ou colapso cardiovascular quando ocor re obstrução superior a 60% da cir culação pulmonar. A obstrução de artérias de médio calibre com ruptura vascular pode causar hemorragia, po rém não causa infarto pulmonar devi do à existência da circulação brônqui ca, que mantém a perfusão da área afetada. Entretanto, indivíduos com DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 24 insuficiência cardíaca esquerda apre sentam comprometimento do fluxo da artéria brônquica e com isso pode ocorrer infarto. Por outro lado, quando os êmbolos atigem pequenas artérias pulmonares, normalmente ocorre he morragia ou infarto. Êmbolos múltiplos ao longo do tempo podem causar hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita. Figura 8. Tromboembolismo pulmonar. Fonte: www.http://www.hcfmb.unesp.br/tromboembolia-pulmonar/ Tromboembolismo Sistêmico A maioria dos êmbolos na circulação arterial surgem de trombos murais, sendo a maioria deles associados a infartos da parede ventricular es querda, dilatação atrial esquerda e fibrilação. Porém, há ainda êmbolos originados de aneurismas aórticos, trombos das placas de ateroma ulce radas ou fragmentação da vegetação na válvula cardíaca. Os êmbolos arteriais podem percor rer vários locais, e seu local de aloja mento depende da fonte e do volume relativo do fluxo sanguíneo aos teci dos. Os locais mais comuns de em bolias arteriais são as extremidades inferiores, cérebro, intestino e baço. Os danos aos tecidos afetados serão de maior ou menor grau de acordo com a vulnerabilidade desses teci dos à isquemia, calibre do vaso oclu ído e existência ou não de circulaç colateral. Porém, a maioria dos êmbolos sistêmicos provocam infarto nos tecidos afetados. pREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas Das Doenças - 9ª Ed. 2016. GOLDMAN, L. et al: Cecil Medicina. 25 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Hoffbrand, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,2013. ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hemato logia. São Paulo: Atheneu, 2013. FRANCO, Rendrik F. Fisiologia da coagulação, anticoagulação e fibrinólise. Medicina (Ribei rão Preto. Online), v. 34, n. 3/4, p. 229-237, 2001. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 31
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