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Hemostasia e Hemorragia Referencia Bibliografica: Robbins e Cotran.Patologia – Bases Patologicas das Doenças 9ed Capitulo 4 :Disturbios Hemodinamicos,Doença tromboembolitica e Choque. Patologia Bogliolo capiítulo 9: Alterações da circulação A hemostasia pode ser definida simplesmente como o processo em que o sangue coagula em todos os locais de lesão vascular. Ela é essencial para a vida e está desregulada em uma ampla gama de distúrbios, que podem ser divididos em dois grupos. Nos distúrbios hemorrágicos, caracterizados pelo sangramento excessivo, os mecanismos hemostáticos ou estão embotados, ou são insuficientes para prevenir a perda anormal de sangue. Em contraste, nos distúrbios trombóticos, os coágulos de sangue (chamados comumente de trombos) formam-se dentro dos vasos sanguíneos intactos ou dentro das câmaras cardíacas. Embora útil, deve-se reconhecer que essa divisão entre disfunções hemorrágicas e trombóticas às vezes falha, no sentido de que a ativação generalizada da coagulação ocasionalmente produz, paradoxalmente, sangramento devido ao consumo dos fatores da coagulação, como na coagulação intravascular disseminada (CID). Para contextualizar o entendimento dos distúrbios hemorrágicos e trombóticos, esta discussão começa com a hemostasia normal, focando na contribuição das plaquetas, fatores da coagulação e endotélio. Hemostasia Hemostasia, que é a parada ou a cessação de um sangramento, pode ser feita naturalmente (hemostasia espontânea) ou artificialmente (p. ex., ligadura ou cauterização de vasos lesados). A hemostasia espontânea faz-se por um conjunto de eventos em que participam a parede vascular, as plaquetas e o sistema de coagulação sanguínea. Nesse processo ocorrem os seguintes fenômenos: 1) Vasoconstrição arteriolar 2) Formação do tampão plaquetario-Hemostasia primaria 3) Estruturação da rede de fibrina, a partir da polimerização do fibrinogênio,mediante o processo de coagulação do sangue(coagulo sanguineo) - Hemostasia secundaria 4) Estabilização do Coagulo por meio da formação de ligações cruzadas entre as moléculas de fibrina Cessado o sangramento, é acionado o mecanismo de dissolução do coágulo pelo sistema fibrinolítico, de modo a restabelecer o fluxo sanguíneo e a permitir os mecanismos de reparo tecidual. Vasoconstrição Arteriolar A vasoconstrição arteriolar ocorre imediatamente e reduz notoriamente o fluxo sanguíneo na área lesionada .Ela é mediada por mecanismos reflexos neurogênicos e incrementada pela secreção local de fatores como a endotelina, um potente vasoconstritor derivado do endotélio. O efeito é, contudo, transitório, e o sangramento poderia prosseguir se não houvesse a ativação das plaquetas e dos fatores da coagulação. Após a lesão vascular,fatores neuro-humorais locais induzem a vasoconstrição transitória Hemostasia Primaria - Caracterizada pela formação do tampão plaquetario sem depósito de fibrina. - Fator de Von willebrand(vWF) -Formação do tampão hemostático primario . A descontinuidade do endotélio expõe o fator de Von Willebrand (vWF) e o colágeno subendoteliais, que promovem a aderência e ativação das plaquetas. A ativação das plaquetas resulta em uma alteração importante em sua forma (de pequenos discos arredondados para placas achatadas, com prolongamentos espiculados que aumentam acentuadamente sua área da superfície), assim como na liberação de grânulos secretores. Em alguns minutos o produto secretado recruta plaquetas adicionais, que são agregadas e formam um tampão hemostático primário. As plaquetas se ligam através dos receptores de glicoproteinas Ib(Gplb) com o fator de Von willebrand na matriz extracelular exposta e são ativadas sofrendo alteração e liberaçãio do conteúdo dos seus grânulos. A liberação de difosfato de adenosina (ADP) e tromboxano A 2 (TxA 2) induz uma agregação plaquetária adicional através do receptor plaquetário GpIIb- IIIa que se liga ao fibrinogênio, formando o tampão hemostático primário. Ativação Plaquetaria(OCORRE PRIMEIRO) • Degranulação – liberação de substs. pró- coagulantes (ADP, TxA2) • Alteração da forma • Aumento da supericie de adesão • Tanslocação de fosfolipídeos de carga (-) • A=vação do complexo GpIIb-IIIa Adesão Plaquetaria(OCORRE DEPOIS DA ATIVAÇÃO) A adesão plaquetária é mediada primariamente pela ligação do complexo receptor de superBcie de plaqueta/glicoproteína (GP) Ib-IX-V à proteína de adesão chamada fator de von Willebrand (vWF), na matriz subendotelial. Fator de Von willebrand: A perda da integridade endotelial expõe o fvW subendotelial e o colágeno da membrana basal, es=mulando a adesão plaquetária, a a=vação plaquetária e a formação de coágulo. O fator de von Willebrand funciona como uma ponte de adesão entre o colágeno subendotelial e o receptor plaquetário de glicoproteína Ib (GpIb). A agregação plaquetária é realizada pela ligação de fibrinogênio aos receptores GpIIb- IIIa em diferentes plaquetas. Os fármacos antiplaquetários, como clopidina,aspirina(AAS) e clopidogrel, bloqueiam a ativação de P2Y12 (Um dos dois receptores acoplados à proteína G) Hemostasia Secudaria -Deposição de fibrina -Tampão hemostático secundário definitivo O fator tecidual é também exposto no local da lesão. O fator tecidual é uma glicoproteína pró- coagulante ligada a membrana que é normalmente expressa pelas células subendoteliais das paredes vasculares, como as células musculares lisas e os fibroblastos. O fator tecidual se liga e ativa o fator VII , colocando em movimento uma cascata de reações que culmina na formação da trombina. A trombina cliva o fibrinogênio em circulação em fibrina insolúvel, criando uma malha de fibrina, e também é um potente ativador de plaquetas, promovendo a agregação adicional de plaquetas no local da lesão. Essa sequência, denominada hemostasia secundária, consolida o tampão plaquetário inicial (ou primário). A ativação local da cascata da coagulação (envolvendo o fator tecidual e fosfolipídios plaquetários) resulta na polimerização da fibrina, “cimentando” as plaquetas em um tampão hemostático secundário definitivo (Coagulo estável que é a transformação do fibrinogênio em fibrina por ação da trombina) Funções da Trombina: 1. Conversão de fibrinogênio em Fibrina: • Conversão de fibrinogênio em fibrina entrecruzada. A trombina converte diretamente o fibrinogênio solúvel em monômeros de fibrina que se polimerizam em um coágulo insolúvel, e ainda amplifica o processo de coagulação, não apenas ativando o fator XI, mas também ativando dois cofatores críticos, os fatores V e VIII. Ela também estabiliza o tampão hemostático secundário ao ativar o fator XIII, que entrecruza covalentemente a fibrina. 2. Ativação plaquetária (amplificação da coagulação) • Ativação plaquetária. A trombina é um potente indutor de ativação e agregação plaquetárias através de sua capacidade de ativar os PARs, ligando assim a função plaquetária à coagulação. 3. Efeitos pró-inflamatórios (início do reparo) • Efeitos pró-inflamatórios. Os PARs também são expressos nas células inflamatórias, no endotélio e em outros tipos de células e acredita-se que a ativação desses receptores pela trombina medeie os efeitos pró-- inflamatórios que contribuem para o reparo tecidual e a angiogênese. 4. Quando ligada à Trombomodulina (endotélio normal): ação anticoagulante Ao deparar-se com oendotélio normal, a trombina tem sua função pró-coagulante alterada para anticoagulante. Essa reversão na função evita que a coagulação se estenda para além do local da lesão vascular e forme trombos. Estabilização e reabsorção do Tampão A fibrina polimerizada e as plaquetas agregadas sofrem contração para formar um tampãopermanente, sólido, que previne hemorragias ulteriores. Nessa etapa, os mecanismos contrarreguladores (p. ex., ativador do plasminogênio tecidual, t-PA) são colocados em movimento limitando a coagulação no local da lesão e levando, finalmente, à reabsorção do tampão e ao reparo do tecido. Mecanismos contrarregulatórios, mediados pelo ativador do plasminogênio tecidual (t-PA, um produto fibrinolítico) e trombomodulina, restringem o processo hemostático ao sítio da lesão.(CONTRARREGULAÇÃO ANTITROMBOTICA) Plaquetas As plaquetas desempenham um papel importante na hemostasia, formando o tampão primário que inicialmente sela as rupturas vasculares e fornece uma superfície que liga e concentra os fatores da coagulação ativados. As plaquetas são fragmentos anucleados de células em forma de disco, que se originam dos megacariócitos, na medula óssea, para a corrente sanguínea. Sua função depende de vários receptores glicoproteicos, um citoesqueleto contrátil e dois tipos de grânulos citoplasmáticos. Os grânulos α têm a molécula de adesão selectina-P em suas membranas e contêm proteínas envolvidas na coagulação, tais como fibrinogênio, fator V da coagulação e vWF, além de fatores proteicos que podem estar envolvidos na restauração das feridas, tais como a fibronectina, fator plaquetário 4 (quimiocina ligada a heparina), fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) e o fator transformante do crescimento-β. Grânulos densos (ou δ) contêm difosfato de adenosina (ADP) e trifosfato de adenosina, cálcio ionizado, serotonina e adrenalina. Após uma lesão vascular traumática, as plaquetas encontram componentes do tecido conjuntivo subendotelial, como vWF(fator de Von willebrand) e colágeno. Em contato com essas proteínas, as plaquetas passam por uma sequência de reações que culminam na formação do tampão plaquetário: 1) A adesão plaquetária é mediada, em grande parte, pelas interações com o vWF, que funciona como uma ponte entre os receptores da superfície plaquetária glicoproteína Ib (GpIb) e o colágeno exposto. Notavelmente, as deficiências genéticas do vWF (doença de von Willebrand) ou Gplb (síndrome de Bernard-Soulier) resultam em distúrbios hemorrágicos, confirmando a importância desses fatores. 2) As plaquetas mudam rapidamente de forma após a adesão, convertendo-se de discos lisos para “ouriços do mar” espiculados, com uma área de superfície muito aumentada. Esta mudança é acompanhada por alterações na glicoproteína IIb/IIIa que aumentam sua afinidade pelo fibrinogênio e pela translocação dos fosfolipídios com carga negativa (em particular fosfatidilserina) para a superfície plaquetária. Esses fosfolipídios ligam-se ao cálcio e servem como um local de nucleação para a formação de complexos de fatores da coagulação. 3) A secreção (reação de liberação) do conteúdo dos grânulos ocorre junto com mudanças na forma; estes dois eventos geralmente são denominados conjuntamente como ativação plaquetária. A ativação plaquetária é acionada por vários fatores, incluindo o fator da coagulação trombina e ADP. A trombina ativa as plaquetas através de um tipo especial de receptor acoplado à proteína G denominado como receptor ativado por protease (PAR), que é ativado por clivagem proteolítica promovida pela trombina. O ADP é um componente dos grânulos densos; desse modo, a ativação plaquetária e a liberação de ADP produzem ciclos adicionais de ativação plaquetária, um fenômeno referido como recrutamento. As plaquetas ativadas também produzem a prostaglandina e tromboxano A2 (TxA2), um potente indutor da agregação plaquetária Aspirina(AAS-ACIDO ACETILSALICILICO)- Anticoagulante A aspirina inibe a agregação plaquetária produzindo um leve distúrbio hemorrágico ao inibir a ciclo-oxigenase, uma enzima plaquetária que é necessária para a síntese do TxA2. Embora o fenômeno não seja ainda bem caracterizado, também se suspeita que fatores de crescimento liberados pelas plaquetas contribuam para a restauração da parede vascular secundária à lesão. 4) A agregação plaquetária sucede sua ativação. A alteração conformacional da glicoproteína IIb/IIIa, que ocorre com a ativação plaquetária, permite a ligação do fibrinogênio, um grande polipeptídio plasmático bivalente que forma pontes entre as plaquetas adjacentes, promovendo a sua agregação. Como era esperado, a deficiência hereditária da GpIIb-IIIa resulta em distúrbio hemorrágico (chamado trombastenia de Glanzmann). A onda inicial de agregação é reversível, mas a ativação simultânea da trombina estabiliza o tampão plaquetário causando ainda mais ativação e agregação plaquetárias, e promovendo a contração plaquetária irreversível. A contração plaquetária depende do citoesqueleto e consolida a agregação plaquetária.Paralelamente, a trombina também converte o fibrinogênio em fibrina insolúvel, cimentando as plaquetas no lugar e criando o tampão hemostático secundário definitivo. As hemácias e leucócitos aprisionados também são encontrados nos tampões hemostáticos, em parte devido à aderência de leucócitos à selectina-P expressa nas plaquetas ativadas. Cascata de Coagulação A cascata de coagulação é uma série de reações enzimáticas amplificadoras que culminam com a deposição de um coágulo de fibrina insolúvel. A cascata de reações nas vias pode ser comparada a uma “dança” em que os fatores de coagulação são passados de um parceiro para o próximo. Cada etapa de reação envolve uma enzima (um fator da coagulação ativado), um substrato (uma forma pró-enzima inativa de um fator da coagulação), e um cofator (um acelerador de reação). Esses componentes são montados em uma superfície de fosfolipídios com carga negativa, que é fornecida pelas plaquetas ativadas. A montagem dos complexos de reação também depende do cálcio, que se liga aos resíduos γ- carboxilados do ácido glutâmico que estão presentes nos fatores II, VII, IX, e X. As reações enzimáticas que produzem ácido glutâmico γ- carboxilado usam a vitamina K como cofator e são antagonizadas por fármacos como o warfarin (e agentes relacionados), anticoagulantes amplamente utilizados na clínica. Com base nas pesquisas realizadas em laboratórios clínicos,a cascata de coagulação foi dividida tradicionalmente em vias Intrínsecas e extrínsecas. • O tempo de protrombina (TP) é um teste que avalia a função das proteínas na via extrínseca (fatores VII, X, V, II e fibrinogênio). Resumidamente, fator tecidual, fosfolipídios e cálcio são adicionados ao plasma, e o tempo para a formação do coágulo de fibrina é registrado • O tempo de tromboplastina parcial (TTP) é um teste que avalia a função das proteínas na via intrínseca (fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio). Nesse teste, a coagulação de plasma é iniciada por meio da adição de partículas com carga negativa (p. ex., vidro fosco), que provocam a ativação do fator XII (fator Hageman), junto com fosfolipídios e cálcio, e o tempo de formação do coágulo de fibrina é registrado. As deficiências dos fatores V, VII, VIII, IX, e X estão associadas com distúrbios hemorrágicos moderados a severos, e a deficiência de protrombina é incompatível com a vida. Em contraposição, a deficiência do fator XI está associada apenas a hemorragias leves, e indivíduos com deficiência do fator XII não têm sangramentos e podem, de fato, estar suscetíveis à trombose. Protrombina quebra a trombina que vai atuar fazendo a conversão do fibinogenio em fibrina. O efeito paradoxal da deficiência de fator XII pode ser explicado pelo envolvimento do fator XII na via da fibrinólise ; embora existam algumas evidências de modelos experimentais sugerindo que o fator XII pode promover trombose sob certas circunstâncias, a relevância dessas observações na doençatrombótica humana permanece indeterminada. IMPORTANTE: Dentre os fatores da coagulação, a trombina é o mais importante, pois suas várias atividades enzimáticas controlam diversos aspectos de hemostasia e ligam a coagulação à inflamação e ao reparo tecidual. Fatores que limitam a coagulação Uma vez iniciada, a coagulação deve ser restringida ao local da lesão vascular, evitando consequências deletérias. Um fator limitante é a diluição simples; o fluxo sanguíneo passando pelo local lesionado “lava” para longe os fatores da coagulação ativados, que são removidos rapidamente pelo fígado. Um segundo fator limitante é a necessidade de fosfolipídios com carga negativa, que, como mencionado, são fornecidos principalmente pelas plaquetas que foram ativadas pelo contato com a matriz subendotelial no local da lesão vascular. Contudo, os mecanismos contrarregulatórios mais importantes envolvem fatores que são expressos pelo endotélio intacto adjacente ao local da lesão. Sistema Fibrinolítico A ativação da cascata de coagulação também coloca em movimento a cascata fibrinolítica, limitando o tamanho do coágulo e contribuindo para sua posterior dissolução. A fibrinólise é amplamente realizada pela atividade enzimática da plasmina, que quebra a fibrina e interfere na sua polimerização. Níveis elevados de produtos da quebra do fibrinogênio (comumente chamados de produtos de degradação da fibrina), particularmente o dímero-D derivado da fibrina, são marcadores clínicos úteis de vários estados trombóticos. A plasmina é gerada pelo catabolismo enzimático do plasminogênio, seu precursor circulante inativo, seja pela via dependente do fator XII (possivelmente explicando a associação da deficiência do fator XII e da trombose), seja pelos ativadores do plasminogênio. O mais importante dos ativadores do plasminogênio é o t-PA, que é sintetizado principalmente pelo endotélio, sendo mais ativo quando ligado à fibrina. Essa característica faz do t-PA um agente terapêutico útil, já que sua atividade fibrinolítica está, em grande parte, limitada ao local de trombose recente. Uma vez ativada, a plasmina é, por sua vez, firmemente controlada por fatores contrarregulatórios, como o inibidor α2 da plasmina, uma proteína plasmática que se liga à plasmina livre e a inibe rapidamente.(plasmina degrada fibrina) O dímero d é um produto da degradação da fibrina pela ação da plasmina então ele indica que ta tendo muita fibrina se formando pq já que ta sendo degradada,logo o dímero d indica presença de trombos em algum lugar na circulação. Legenda: Fator XII: a=vação do plasminogênio em plasmina Plasmina Prejudica da polimerização da fibrina e quebra da fibrina já formada O ativador tecidual do plasminogênio (TPA = tecidual plasminogen activator) liberado pelo endotélio que circunda a área da lesão é responsável pelo processo que limita a progressão desnecessária da trombose. A antiplasmina, presente no plasma, combina-se com o excesso de plasmina liberada, impedindo o aparecimento de fibrinólise generalizada. Endotélio O balanço entre as atividades anticoagulantes e pró-coagulantes do endotélio frequentemente determina se ocorrerá a formação, a propagação ou a dissolução dos trombos. Conforme comentado anteriormente, as células endoteliais normais expressam uma gama de fatores que inibem as atividades pró-coagulantes das plaquetas e dos fatores de coagulação e outros que aumentam a fibrinólise. Esses fatores agem em conjunto para prevenir a trombose e limitar a sua ocorrência aos locais de dano vascular. Contudo, se lesionadas ou expostas a fatores pró-inflamatórios, as células endoteliais perdem várias de suas propriedades antitrombóticas. As propriedades antitrombóticas do endotélio podem ser divididas em atividades direcionadas ás plaquetas,aos fatores de coagulação ou a fibrinólise. Efeitos Inibidores sobre as plaquetas: Uma finalidade evidente do endotélio intacto é servir como uma barreira que protege as plaquetas do vWF e do colágeno subendotelial. Contudo, o endotélio normal também libera vários fatores que inibem a ativação e agregação plaquetárias. Entre os mais importantes estão a prostaciclina (PGI2), óxido nítrico (NO), e adenosina difosfatase; o último decompõe o ADP, já discutido como um ativador potente de agregação plaquetária. Finalmente, as células endoteliais se ligam à trombina, um dos mais potentes ativadores das plaquetas, e alteram a sua atividade. Efeitos Anticoagulantes: O endotélio normal impede o contato dos fatores de coagulação com o fator tecidual nas paredes dos vasos e também expressa vários fatores que se opõem efetivamente à coagulação, particularmente a trombomodulina, receptores de proteína C endotelial, moléculas semelhantes à heparina e inibidores da via do fator tecidual. A trombomodulina e o receptor de proteína C endotelial se ligam à trombina e à proteína C, respectivamente, em um complexo na superfície celular endotelial. Quando unida nesse complexo, a trombina perde a capacidade de ativar os fatores da coagulação e as plaquetas Heparina As moléculas semelhantes à heparina na superfície do endotélio se ligam e ativam a antitrombina III, que inibe, então, a trombina e os fatores IXa, Xa, XIa e XIIa. A utilidade clínica da heparina e de outros fármacos relacionados é baseada na sua habilidade de estimular a atividade da antitrombina III. Efeitos Fibrinolíticos: As células endoteliais normais sintetizam t-PA, como discutido anteriormente, como um componente basilar da via fibrinolítica. O endotélio quando lesionado em um processo inflamatório passa a exercer características opostas e passa a estimular a formação de trombos(Pró-trombotico) Hemorragia Hemorragia ou sangramento é o distúrbio da circulação caracterizado pela saída de sangue do compartimento vascular ou das câmaras cardíacas para o meio externo, para o interstício ou para as cavidades pré-formadas. Por isso mesmo, as hemorragias podem ser classificadas inicialmente em interna ou externa. A extensão do sangramento na superfície corpórea ou na intimidade dos órgãos define a terminologia para a sua identificação e, em geral, o nome sugere o mecanismo envolvido na hemorragia. Hemorragia Puntiforme ou petéquias: Hemorragias puntiformes ou petéquias são diminutas áreas hemorrágicas (até 3 mm de diâmetro), geralmente múltiplas. Na maioria das vezes, resultam de defeitos qualitativos ou quantitativos de plaquetas. Púrpura É a lesão superficial um pouco maior que as petéquias, geralmente na pele, múltipla, plana ou discretamente elevada, podendo atingir até 1 cm de diâmetro. Equimose Equimose é a hemorragia que aparece como mancha azulada ou arroxeada, mais extensa do que a púrpura e que pode provocar aumento discreto de volume local. Equimoses são frequentes em traumatismos. Hematoma Hematoma consiste em hemorragia em que o sangue se acumula formando uma tumoração. Como a equimose, hematoma é frequente após ação de agentes mecânicos. Hemorragias em cavidades pré – formadas Hemorragias em cavidades pré-formadas são denominadas de acordo com a topografia. Hemartro ou hemartrose para a cavidade articular, hemopericárdio , hemotórax e hemoperitônio para as respectivas cavidades serosas. Hemossalpinge, hematométrio e hematocolpo são coleções sanguíneas na luz da tuba uterina, na cavidade uterina e na cavidade vaginal, respectivamente. Hemobilia é a hemorragia no interior da vesícula biliar ou dos ductos biliares. Exteriorização da Hemorragia A exteriorização de hemorragias por orifícios corpóreos também recebe denominações específicas. A eliminação de sangue pelas narinas é denominada epistaxe. Pelatosse e oriunda do sistema respiratório, é chamada hemoptise quando em maior volume e de escarro hemoptoico quando discreta. Hematêmese é a eliminação de sangue pela boca oriundo do sistema digestório e eliminado por vômito. A eliminação de sangue pelo ânus pode ocorrer de duas maneiras: (1) sangue digerido, que confere cor escura às fezes, recebe o nome de melena; (2) sangue não digerido, de cor vermelha, tem o nome de hematoquezia. Otorragia é a perda de sangue pelo meato acústico externo. Hematúria é a eliminação de sangue com a urina, podendo ser macroscópica ou microscópica. Metrorragia é a perda de sangue originado do útero fora da menstruação; se há perda excessiva de sangue na menstruação, tem-se a menorragia ou hipermenorreia; se a frequência e/ou o tempo de duração da menstruação aumenta, trata-se de polimenorreia. Hemorragia da câmara anterior do olho é denominada de hifema, e hiposfagma é a hemorragia ocular subconjuntival. Etiopatogênese Hemorragias podem ser causadas pelos seguintes mecanismos: (1) alteração na integridade da parede vascular; (2) alterações dos mecanismos de coagulação sanguínea, incluindo fatores plasmáticos e teciduais de coagulação(defeito na hemostasia secundaria) (3) alterações qualitativas ou quantitativas das plaquetas;(defeito na hemostasia primaria) (4) mecanismos complexos e ainda mal definidos. Hemorragia por lesão da parede vascular Sangramento por comprometimento da parede do vaso ocorre por ruptura ou por diapedese. A causa mais comum de hemorragia por lesão da parede vascular é traumatismo mecânico que provoca ruptura do vaso (hemorragia por rexe). De acordo com a sua intensidade, o agente mecânico pode ser o fator isolado para a hemorragia, mas em muitos casos está associado a defeitos na resistência vascular ou na coagulação do sangue. Nos casos de fragilidade da parede vascular, traumatismos mecânicos mínimos podem romper os vasos, como acontece na ruptura de aneurismas arteriais congênitos ou adquiridos durante elevações da pressão arterial sistêmica. Lesões vasculares de pequenas artérias (arteriolosclerose) associadas à hipertensão arterial sistêmica resultam nos chamados microaneurismas cerebrais (aneurismas de Charcot-Bouchard), que muitas vezes se rompem e causam hemorragia cerebral. Traumatismo mecânico (p. ex., bolo alimentar ou fecal) também pode estar associado a ruptura de veias varicosas no esôfago e em hemorroidas. Gengivorragia durante a escovação de dentes pode ser o primeiro sinal de uma trombocitopenia; neste caso, traumatismo pequeno, habitual, é capaz de provocar hemorragia devido à associação com a redução do número de plaquetas. Ulcerações na parede vascular podem causar hemorragia por mecanismos variáveis. Em vasculites, a púrpura é geralmente palpável, e o sangramento pode ser atribuído à destruição segmentar da parede vascular pelo exsudato inflamatório. Inflamações parenquimatosas com supuração ,que é a formadora de pus ,(necrose liquefativa de inflamação purulenta), granulomatosas ou necrosantes (p. ex., necrose caseosa na tuberculose) podem corroer e perfurar a parede vascular (hemorragia é frequente em cavernas da tuberculose pulmonar). Mecanismo semelhante acontece na luz de órgãos ocos cujas mucosas podem sofrer ulcerações, como na úlcera péptica do esôfago, do estômago ou do duodeno, em tumores do trato digestivo e em ulcerações do sistema urinário por cálculos, tumores ou inflamações ulcerativas; nesses casos, a necrose que provoca úlceras atinge também a parede de vasos e causa seu rompimento. Hemorragia por diapedese é a que ocorre pela saída de sangue através de espaços entre as células endoteliais por causa de: (1) alteração local nas junções intercelulares (diapedese paracelular); (2) formação de poros nas células endoteliais (diapedese transcelular), possivelmente em locais com citoplasma mais delgado. Hemorragia por diapedese ocorre em vênulas ou capilares quando existe hiperemia passiva e resulta de aumento da pressão intravascular. Hemorragia por defeito na Coagulação sanguínea(problema na hemóstase secundaria) Em geral, manifesta-se como hemorragia espontânea. Quase sempre, é provocada por traumatismos pequenos, sendo o sangramento desproporcional à intensidade da lesão. Em mulheres, podem manifestar-se espontaneamente durante os períodos menstruais (menorragias). As principais hemorragias por alterações nos mecanismos da coagulação sanguínea estão relacionadas com: (1) deficiência congênita ou adquirida de fatores plasmáticos da coagulação; (2) excesso de anticoagulantes, endógenos ou exógenos. Deficiências congênitas nos fatores de coagulação: As deficiências congênitas de fatores da coagulação mais importantes são a hemofilia A (deficiência de fator VIII), a hemofilia B ou doença de Christmas (deficiência de fator IX) e a doença de von Willebrand (deficiência do fator Von Willebrand), esta a mais frequente entre as hemorragias hereditárias. Tais hemorragias manifestam-se em geral por sangramento frente a pequenos traumatismos. Exemplos clássicos são pequenos cortes que sangram por muito tempo, sangramento menstrual prolongado, hemorragia excessiva durante extrações dentárias ou formação de hematoma desproporcional a um traumatismo mecânico. Nesses casos, os testes para avaliar a hemostasia que medem a via plasmática da coagulação estão alterados (tempo de tromboplastina parcial, ver adiante), embora o tempo de sangramento possa ser normal. Isso se explica porque o tampão plaquetário se forma e promove hemostasia em tempo normal no teste de sangramento. No entanto, apesar da formação do tampão plaquetário, a hemostasia está comprometida, porque o tampão não é estabilizado pela formação da fibrina, que depende dos fatores plasmáticos da coagulação. Vitamina K Deficiências adquiridas de fatores de coagulação são mais frequentes do que as congênitas e estão associadas a doenças carenciais (deficiência de vitamina K), a doenças hepáticas (deficiência na síntese dos fatores II, VII, IX e X e das proteínas C e S) ou a depleção desses fatores quando existe ativação sistêmica da coagulação (coagulopatia de consumo). A vitamina K é cofator na síntese hepática de fatores da coagulação. Diminuição do aporte de vitamina K, associada, geralmente, a deficiência de outras vitaminas lipossolúveis, está relacionada com problemas em sua absorção. Na insuficiência hepática de qualquer natureza, fenômenos hemorrágicos são frequentes e devem-se à redução na síntese dos fatores da coagulação. Essa redução é tão evidente que os testes de avaliação da atividade dos fatores da coagulação (TAP, PTTa, ver adiante) estão incluídos entre os chamados testes de função hepática. Coagulopatia de consumo é o quadro hemorrágico associado à redução dos fatores da coagulação consumidos em excesso. O exemplo mais conhecido é o da coagulação intravascular disseminada (CID), pois a ativação sistêmica da coagulação sanguínea leva ao consumo de seus fatores. Nesses casos, há redução do fibrinogênio circulante e aumento da quantidade de produtos de degradação de fibrina na circulação, estes últimos potentes inibidores de fatores da coagulação. A CID aumenta a atividade fibrinolítica que atua sobre a fibrina recém- formada e sobre o fibrinogênio, razão pela qual os seus produtos de degradação aumentam na circulação. Hemorragia por excesso de anticoagulante No grupo de hemorragias por excesso de anticoagulantes endógenos ou exógenos estão incluídas as hemorragias por ação de inibidores dos fatores da coagulação, por fibrinólise exagerada resultante de ativação excessiva do plasminogênio ou por inibição de inativadores naturais deste. Hemorragias por ação de anticoagulantes exógenossão comuns em pacientes em tratamento com anticoagulante (heparinização) ou em intoxicações com substâncias com ação anticoagulante (p. ex., warfarin, usado como medicamento ou raticida). Tratamento trombolítico com ativadores exógenos do plasminogênio (rt-PA ou estreptocinases; ver adiante – trombose) pode ter como complicação hemorragias variadas, às vezes graves. Hemorragia por alterações quantitativas ou qualitativas de plaquetas(defeitos na Hemostasia primaria) Redução do número (trombocitopenia) e alterações funcionais de plaquetas (trombocitopatia) acompanham-se frequentemente de hemorragia, especialmente como petéquias ou púrpuras. O tempo de sangramento começa a ficar alterado quando as plaquetas caem abaixo de 100.000 por mm de sangue, embora hemorragias espontâneas tornem-se evidentes quando o número de plaquetas é inferior a 20.000/mm; hemorragias graves acontecem quando esse número está abaixo de 10.000 plaquetas/mm. As causas mais comuns de trombocitopenia são aplasia e infiltração neoplásica da medula óssea, síndrome mielodisplásica, hiperesplenismo, medicamentos (α-metildopa, sulfadiazínicos) e autoanticorpos, estes especialmente na púrpura trombocitopênica idiopática. Próteses valvares podem aumentar a destruição de plaquetas (por lise mecânica), reduzindo o seu número na circulação. Na trombocitopenia causada por medicamentos, a substância fica adsorvida à plaqueta e induz a síntese de anticorpos, os quais causam lise plaquetária por ativação do complemento. IMPORTANTE: Alterações funcionais de plaquetas por medicamentos são frequentes. O melhor exemplo é o que acontece com fármacos que interferem na agregação plaquetária. Ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroides têm em comum o fato de inibirem a ciclo- oxigenase (COX), diminuindo a produção de tromboxano, o que reduz a agregação e a ativação de plaquetas. Os usuários desses medicamentos apresentam frequentemente micro-hemorragias (hematúria microscópica, sangue oculto nas fezes), mas podem também apresentar episódios mais graves de hemorragia digestiva. A maior gravidade da hemorragia digestiva provocada por esses medicamentos deve-se à redução também na síntese de prostaglandina E2, o que reduz a ação protetora desses autacoides na mucosa gástrica. A ativação e a agregação plaquetárias podem ser inibidas também por bloqueadores de receptores de ADP plaquetários (p. ex., clopidogrel, prasugrel), largamente utilizados na prevenção de trombose arterial. Por ter ação independente da via do tromboxano, tais fármacos atuam de forma sinérgica quando combinados com o ácido acetilsalicílico. Disfunção plaquetária é também observada na uremia, na cirrose hepática e em pacientes submetidos a circulação extracorpórea. Nessas condições, o número de plaquetas circulantes é pouco reduzido, mas o tempo de sangramento é alterado por causa de defeitos mal conhecidos nos mecanismos de ativação de plaquetas. Causa menos frequente de disfunção plaquetária é a adsorção de substâncias sobre as plaquetas, como ocorre em algumas paraproteinemias e após o uso de penicilina. Tal processo mascara receptores e moléculas de adesão nas plaquetas. Diagnóstico das causas de Hemorragia(Métodos laboratoriais para avaliar Hemostasia) As principais causas de sangramento anormal podem ser suspeitadas após anamnese bem conduzida, sendo o diagnóstico estabelecido com segurança por meio de exames complementares. Os exames complementares mais utilizados são avaliação do hemograma, contagem de plaquetas, tempo de sangramento, tempo de trombina, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada e prova do laço. Causas Congênitas: - (1) na história familiar existem casos de sangramento anormal ou história pregressa de sangramento excessivo pelo coto umbilical; (2) sangramento com duração prolongada (> 24 h) ou recidiva de sangramento após extração dentária; (3) epistaxe volumosa com necessidade de tamponamento ou cauterização; (4) sangramento exagerado em procedimentos cirúrgicos simples, necessitando de transfusão sanguínea. Nos defeitos congênitos da coagulação em que a alteração da hemostasia é discreta, sangramentos mais intensos podem manifestar-se tardiamente, na vida adulta, ou ser precipitados por medicamentos que interferem na coagulação do sangue. Sangramento de origem plaquetaria: Sangramento de origem plaquetária, geralmente superficial (cutâneo ou de mucosas), manifesta-se por epistaxe, menorragia, hematúria, hemorragia digestiva, púrpura e petéquias. Em hemorragias por deficiência de fatores da coagulação sanguínea, podem acontecer as mesmas manifestações, mas são mais comuns hemorragias profundas intra-articulares e intramusculares; quando ocorre na pele, o sangramento é superficial e confluente, formando equimose frequentemente elevada na região central. IMPORTANTE: Em defeitos plaquetários, as hemorragias iniciam-se geralmente logo após o traumatismo, enquanto nadeficiência de fatores da coagulação elas surgem algum tempo depois da lesão. Este fato resulta da falta de estabilização do tampão plaquetário pelos fatores plasmáticos da coagulação. Os testes laboratoriais para avaliar hemorragias têm como alvo os diversos componentes do processo de coagulação sanguínea, permitindo fazer inferências sobre o tipo de defeito e suas causas mais prováveis. Tempo de Trombina: O teste laboratorial inicial é o tempo de trombina (TT), que avalia se o fibrinogênio está presente e é funcional. Ao plasma extraído preferencialmente de sangue citratado e com o cuidado de não sofrer contaminação por produtos anticoagulantes durante a coleta, adiciona-se trombina diluída. Com isso, o fibrinogênio é convertido em fibrina, e o tempo para se formar o coágulo é medido, seja pela verificação da solidificação do plasma, seja por sua turvação durante a formação da malha de fibrina, que é detectada por sistema de absorção de luz transmitida através do tubo de ensaio (fotocolorimetria). Aumento do tempo de formação do coágulo indica deficiência de fibrinogênio. A causa mais comum de hipofibrinogenemia adquirida é a coagulação intravascular disseminada (CID). Se o tempo de trombina é normal, são avaliados o tempo de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial. Tempo de Protrombina O tempo de protrombina (TP) é avaliado em plasma citratado e pobre em plaquetas, ao qual são adicionados cálcio e tromboplastina tecidual. Na presença destes, o fator VII é ativado e forma o complexo ativador do fator X, que ativa a via de formação da fibrina. O tempo é cronometrado e comparado ao tempo gasto para formar o coágulo de fibrina em um soro normal (controle), sendo o resultado dado em porcentagem relativa ao tempo do controle (atividade de protrombina). Valores abaixo de 100% indicam a intensidade do distúrbio. Se o tempo para formar o coágulo estiver acima do tempo do controle, trata-se de redução do fator VII (alteração no braço tecidual da coagulação) ou alteração na via comum da coagulação (fator X e fibrinogênio). Valores normais estão entre 0,9 e 1,3. TP alterado é muito sensível para indicar alterações no fator VII em diversas circunstâncias, entre elas: (1) deficiência de vitamina K; (2) uso de anticoagulante warfarin (inibe a epóxido redutase da vitamina K, reduzindo a disponibilidade da vitamina para a carboxilação dos resíduos de glutamato nos fatores da coagulação sintetizados no fígado, tornando-os inativos). A falta desses radicais carboxilados impede que o Ca++ promova a ligação desses fatores com os fosfolipídeos das vesículas para formar as plataformas ativadoras da coagulação; (3) fase inicial de insuficiência hepática, por redução na síntese do fator VII; (4) deficiênciacongênita do fator VII (muito rara). Tempo de tromboplastina Parcial O teste de avaliação do tempo de tromboplastina parcial (PTT; PTTK, em que K = kaolin, o ativador utilizado; PTTa, em que “a” indica tromboplastina ativada) é feito tomando-se o plasma citratado ao qual se acrescenta um ativador de contato (que ativa o fator XII), um fosfolipídeo que forma vesículas para servir de fase sólida para montar a plataforma ativadora do fator X a partir do fator XII, e cálcio, necessário para prender os fatores plasmáticos nas vesículas fosfolipídicas. Desse modo, o fator XII é ativado (contato com o produto ativador), prende-se às vesículas de fosfolipídeo e ativa os demais fatores plasmáticos que ativam o fator X. O tempo para formação do coágulo de fibrina é cronometrado, sendo feita a comparação com o teste realizado com plasma controle de indivíduo sem anormalidades; o resultado é dado em porcentagem em relação ao perfil normal. O teste avalia o braço plasmático ou via intrínseca da coagulação (fatores XII, XI, IX e VIII) e a via comum (fatores II, X e V); o exame só se mostra alterado se a deficiência dos fatores ultrapassa 40%. Nas elevações isoladas do PTT, indicando alteração no braço plasmático da coagulação, há necessidade de distinguir se existe inibição ou redução de fatores. A distinção se faz pela adição de plasma normal, na proporção de 1:1. Se a adição restaurar a coagulação, o defeito é redução quantitativa nos fatores da via plasmática; se não, o defeito está relacionado com a inibição desses fatores. O mesmo procedimento pode ser realizado para TT e TP, quando se suspeita da existência de fatores de inibição. Na prática clínica, as causas mais comuns de PTT prolongado por ação de inibidores são as formas adquiridas de inibição do fator VIII e a síndrome do anticoagulante lúpico. Esta é mais comum em indivíduos com lúpus eritematoso sistêmico, mas pode ser encontrada também em usuários de drogas injetáveis, na síndrome da imunodeficiência adquirida e em neoplasias hematológicas. Na hemofilia A, forma-se um fator inibidor em até 20% dos indivíduos com deficiência acentuada do fator VIII. Infusão de concentrado de fator VIII (deficiente nesses indivíduos) induz a formação de anticorpos IgG antifator VIII. As causas mais comuns de deficiência de fatores da via plasmática da coagulação são deficiências dos fatores VIII, IX e XI. As demais deficiências de fatores intrínsecos (fator XII, pré-calicreína e cininogênio de alto peso molecular) não têm importância clínica, pois não causam sangramento expressivo. Quando o TP e o PTT estão francamente alterados, as causas mais comuns são deficiências acentuadas de vitamina K, insuficiência hepática, transfusões maciças sem adição de plasma fresco e deficiências congênitas dos fatores II, V e X (muito raras). Contagem de Plaquetas A avaliação quantitativa de plaquetas é muito importante na prática, sobretudo se os TT, TP e PTT estão normais, condição em que a probabilidade de existir defeito nos fatores plasmáticos da coagulação é mínima (menos de 1%). Existe relação quase linear entre plaquetopenia e tempo de sangramento aumentado. Quando o número de plaquetas está entre 50.000 e 100.000/mm 3 de sangue, o tempo de sangramento já se mostra aumentado, embora sem manifestar como doença hemorrágica, exceto em casos de traumatismo grave ou cirurgia de maior porte. Entre 20.000 e 50.000 plaquetas/mm 3, sangramento espontâneo é raro; se este acontece, deve-se suspeitar também de deficiência qualitativa de plaquetas. Plaquetopenia isolada com hematoscopia normal e número normal dos demais elementos figurados associa-se mais a causas que levam a destruição das plaquetas na periferia, por anticorpos, medicamentos ou hiperesplenismo. Plaquetopenia associada a anemia e leucopenia (pancitopenia) deve-se mais frequentemente a doenças que inibem ou destroem a medula óssea (aplasia medular, mielodisplasia, infiltrações leucêmicas da medula óssea) ou a hiperesplenismo. Se a plaquetopenia é acentuada (< 10.000 células/mm 3 ), a hematoscopia é normal e não há outra citopenia(deficiencia de células sanguineas variadas), o diagnóstico mais provável é de púrpura trombocitopênica autoimune (idiopática). Nesses casos, o mielograma mostra integridade de megacariócitos. Tempo de sangramento A avaliação do tempo de sangramento é feita mediante perfuração com lanceta na polpa digital ou lóbulo da orelha. Iniciado o sangramento, ele é acompanhado com cronômetro até a sua cessação. A verificação da parada da hemorragia é feita por absorção periódica do sangue extravasado por folha de papel de filtro. O tempo de sangramento avalia o número e a atividade das plaquetas. Tempo de sangramento aumentado significa falha na formação do tampão plaquetário, que pode estar relacionado com a trombocitopenia ou trombocitopatia. Em pacientes com plaquetopenia, a avaliação do tempo de sangramento só se justifica se o número de plaquetas é maior do que 10.000/mm. Abaixo desse valor, não existe linearidade entre plaquetopenia e tempo de sangramento. Entre 10.000 e 100.000 plaquetas/mm 3 , o aumento no tempo de sangramento é proporcional à plaquetopenia. Tempo de sangramento aumentado de modo desproporcional ao grau de plaquetopenia é indicativo de disfunção plaquetária associada a plaquetopenia, portanto deficiência quantitativa e qualitativa de plaquetas. Prova de Laço É realizada colocando-se o manguito do esfigmomanômetro no braço do paciente após desenhar na face anterior do antebraço um retângulo de 2,5 × 2,5 cm. O manguito é insuflado até o valor da pressão média do paciente, permanecendo assim, durante 5 min (3 min em crianças). O manguito é retirado e são contadas as petéquias formadas no retângulo delimitado: se superior a 20, o teste é positivo em adultos (10 em crianças). A prova do laço avalia plaquetas e fragilidade vascular.Praticamente todas as causas de hemorragia podem ser diagnosticadas com os procedimentos comentados anteriormente. No entanto, pelo menos duas categorias de doenças hemorrágicas podem cursar com TT, TAP, PTTK, número de plaquetas e hematoscopia normais: são elas: (1) síndromes raras associadas a: (a) formação deficiente de ligações cruzadas na fibrina; (b) fibrinólise anormalmente elevada; (2) púrpura por aumento da fragilidade capilar (púrpuras vasculares), estas mais frequentes. O sangramento que ocorre no escorbuto é umbom exemplo de hemorragia de natureza vascular.
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