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MONOGRAFIA "O DIREITO À EDUCAÇÃO DOMICILIAR COMO EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CONVICÇÃO FILOSÓFICA"

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Prévia do material em texto

CRATO – CE 
2019 
 
 
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA 
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS E APLICADOS – CESA 
CURSO DE DIREITO DO CRATO 
 
 
 
CREUSA THAYANNE SILVA RODRIGUES JACÓ 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO À EDUCAÇÃO DOMICILIAR COMO EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS 
CONSTITUCIONAIS DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E 
CONVICÇÃO FILOSÓFICA 
 
 
 
CRATO – CE 
2019 
 
CREUSA THAYANNE SILVA RODRIGUES JACÓ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO À EDUCAÇÃO DOMICILIAR COMO EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS 
CONSTITUCIONAIS DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E 
CONVICÇÃO FILOSÓFICA 
 
 
Monografia submetida à Universidade Regional do 
Cariri para obtenção do título de bacharel em 
Direito. 
Orientadora Profa. Ma. Jahyra Helena Pequeno dos 
Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRATO – CE 
2019 
 
CREUSA THAYANNE SILVA RODRIGUES JACÓ 
 
 
 
O DIREITO À EDUCAÇÃO DOMICILIAR COMO EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS 
CONSTITUCIONAIS DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E 
CONVICÇÃO FILOSÓFICA 
 
 
 
Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do grau de Bacharel em Direito e 
aprovada em sua forma final pela banca examinadora do Curso de Direito da URCA. 
 
 
Data de Aprovação: ____ de _______ de 2019 
 
 
Banca examinadora: 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________ 
Orientador: Profa. Ma. Jahyra Helena Pequeno dos Santos 
 
 
_____________________________________ 
Membro: Prof.º (titulação, nome) 
 
 
_____________________________________ 
Membro: Prof.º (titulação, nome) 
 
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ 
SECRETÁRIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR 
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
TERMO DE RESPONSABILIDADE AUTORAL 
 
 
 
 
 
Declaro para os devidos fins que eu, Creusa Thayanne Silva Rodrigues Jacó, aluna 
do Curso de Direito – URCA matricula nº 2014210006-4, responsabilizando-me 
pela Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel 
em Direito sob o título O Direito à Educação Domiciliar Como Efetivação dos Direitos 
Constitucionais de Liberdade de Consciência, Crença e Convicção Filosófica, 
isentando, mediante o presente termo, a Universidade de qualquer 
responsabilização, consequência de ações atentatórias à “Propriedade Intelectual”, 
assumindo as responsabilidades civis e criminais decorrentes de tais ações. 
 
Crato, _____________ de ___________________ de 2019 
 
____________________________________________________________ 
Creusa Thayanne Silva Rodrigues Jacó 
Mat. 2014210006-4 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente ao Senhor Jesus, que proporcionou todos os 
instrumentos e ferramentas necessárias para realização deste trabalho e aproximou 
no momento oportuno todas as pessoas indispensáveis para contribuírem nesta 
obra. A Ele toda honra, glória, e louvor. 
Aos meus pais, por terem construído em minha memória momentos ímpares 
que me vieram à mente enquanto escrevia e recordava ternamente da minha 
infância e da dedicação da minha mãe em instruir e educar a mim e às minhas 
irmãs. Agradeço a Deus por ter tido oportunidade de aprender mais no meu lar do 
que na escola. 
Aos meus amigos de longe e de perto, que me proporcionaram o espaço para 
o debate e fomentaram essa temática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que cada casa constitua um Estado soberano 
e julgue seus filhos segundo suas leis.” 
(G. K. Chesterton) 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ABNT 
ANED 
BR 
CC 
CEDH 
CF 
DUDH 
ECA 
LDB 
MG 
PR 
RS 
SP 
STF 
Associação Brasileira de Normas Técnicas 
Associação Nacional de Educação Domiciliar 
Brasil 
Código Civil 
Corte Europeia de Direitos Humanos 
Constituição da República Federativa do Brasil 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Estatuto da Criança e do Adolescente 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Minas Gerais 
Paraná 
Rio Grande do Sul 
São Paulo 
Supremo Tribunal Federal 
 
 
 
 
RESUMO 
Esse trabalho intenciona demonstrar como o direito à educação domiciliar constitui 
um desdobramento de direitos já estabelecidos no ordenamento jurídico brasileiro: o 
direito de liberdade de crença, convicção filosófica e pensamento e o dever dos pais 
em propiciar a seus filhos sustento, criação e educação. Para a realização desse 
trabalho, utilizou-se da pesquisa bibliográfica, levando em consideração textos 
normativos e entendimentos jurisprudenciais sobre os direitos e deveres já 
mencionados, analisados sob os métodos histórico, comparativo e monográfico. Seu 
objetivo geral é analisar o direito à educação domiciliar como possível configuração 
para a efetivação dos direitos constitucionais de liberdade de consciência, de crença 
e de convicção filosófica, além de salvaguardar a autonomia familiar quanto ao 
exercício do poder familiar quanto ao exercício do poder familiar no que tange à 
educação e criação dos filhos em detrimento da imposição estatal de matrícula 
compulsória de crianças e adolescentes na rede de ensino regular no Brasil. O 
trabalho está dividido em três capítulos: o capítulo 1 tem como objetivo tratar sobre a 
problemática da educação estatal compulsória, motivo pelo qual os pais têm optado 
por retirar seus filhos da escola e educá-los em casa; o capítulo 2 trata sobre os 
direitos individuais de liberdade de crença, convicção filosófica e pensamento e seu 
exercício como justificativa para a opção do ensino no lar; o capítulo 3, por fim, 
demonstra como a educação domiciliar é decorrência senão do dever de educar dos 
pais ou responsáveis advindos pelo poder familiar a estes outorgados. Finalmente, 
considera conclusivamente a possibilidade jurídica e a viabilidade da educação 
domiciliar como uma consequência inerente ao exercício pleno dos direitos 
individuais dos pais e o cumprimento de suas obrigações decorrentes do poder 
familiar. 
 
Palavras-chave: Constituição. Homeschooling. Família. Liberdades. Poder Familiar. 
 
 
ABSTRACT 
This paper intends to demonstrate how the right to home education is an offshoot of 
rights already established in the Brazilian legal system: the right to freedom of belief, 
philosophical conviction and thought and the duty of parents to provide their children 
with livelihood, creation and education. For the accomplishment of this work, we used 
the bibliographical research, taking into consideration normative texts and 
jurisprudential understandings about the rights and duties already mentioned, 
analyzed under the historical, comparative and monographic methods Its general 
objective is to analyze the right to home education as a possible configuration for the 
realization of constitutional rights of freedom of conscience, belief and philosophical 
conviction, in addition to safeguarding family autonomy in the exercise of family 
power in relation to the education and rearing of children to the detriment of the state 
imposition of compulsory enrollment of children and adolescents in the regular school 
system in Brazil. The work is divided into three chapters: chapter 1 aims to deal with 
the problem of compulsory state education, which is why parents have opted for 
remove their children from school and educate them at home; chapter 2 deals with 
the individual rights of freedom of belief, philosophical conviction, and thought and 
their exercise as justification for the choice of home teaching; Finally, chapter 3 
demonstrates how home-based education is a consequence of the duty to educate 
the parents or guardians of the family power granted to them. Finally, it considers 
conclusively the legal possibility and feasibility of home education as an inherent 
consequence of the full exercise of the individual rights of parents and the fulfillment 
of their obligations under family power. 
 
Keywords: Constitution. Homeschooling. Family. Freedoms. Family power. 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9 
2 A “CONFESSIONALIDADE” ESTATAL: O MITO DA EDUCAÇÃO ESTATAL 
NEUTRA .................................................................................................................. 10 
2.1 Do direito à educação: educação formal e educação clássica ou 
domiciliar ................................................................................................................ 11 
2.1.1 Da educação formal sob a ótica da legislação brasileira ............................. 12 
2.1.2 A educação domiciliar sob a ótica da legislação brasileira .......................... 15 
2.2 O engajamento político-religioso estatal: educação laica? ................... 18 
2.2.1 Da “confessionalidade” estatal: o mito da educação estatal neutra ............. 19 
2.2.2 Educação em questão: o dever de neutralidade moderada na educação 
estatal ........ ........................................................................................................... 21 
3 A LIBERDADE RELIGIOSA FRENTE À ESCOLARIZAÇÃO OBRIGATÓRIA: 
LIBERDADES E GARANTIAS INDIVIDUAIS EM QUESTÃO ................................. 25 
3.1 A liberdade de crença, de consciência e de convicção filosófica à luz 
constitucional ......................................................................................................... 25 
3.2 O direito fundamental de objeção de consciência: a educação 
domiciliar como uma alternativa legal para o objetor ......................................... 28 
3.3 Liberdade Religiosa versus Educação Formal Obrigatória ................... 32 
4 AUTONOMIA DA FAMÍLIA E PODER FAMILIAR ............................................ 37 
4.1 O status da família na legislação brasileira ............................................ 38 
4.2 A educação domiciliar como garantidora da autonomia familiar .......... 42 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 52 
 
 
9 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
O ordenamento jurídico brasileiro trata sobre o direito à educação como um 
direito fundamental cuja responsabilidade pertence, solidariamente, ao Estado à 
família e à sociedade, cabendo à família, em decorrência do poder familiar, a 
primazia para escolher o método que melhor se adéqua para o cumprimento da sua 
obrigação. Nesse intuito, almejando cumprir com o dever de oferecer os melhores 
métodos pedagógicos para a educação de seus filhos, tem crescido, 
paulatinamente, o número de pais que opta por retirar seus filhos da rede ensino 
regular para ensiná-los em casa. 
Dentre os motivos que impulsionam a educação domiciliar no Brasil estão o 
ensino deficitário das escolas, o índice de violência nas instituições e, 
principalmente, razões de ordem religiosa, ou seja, o direito de os pais ensinarem 
seus filhos de acordo com suas convicções religiosas e filosóficas, característicos do 
direito de liberdade de consciência, crença e religião, todos constitucionalmente 
amparados. No Brasil, inexiste legislação permissiva ou proibitiva sobre a educação 
domiciliar, de modo que os pais que almejam exercê-la recorrem ao Judiciário para 
exercer livremente o direito ao ensino doméstico, uma vez que o ordenamento 
jurídico instituiu o ensino escolarizado compulsório. 
O presente trabalho utiliza o método hipotético-dedutivo, partindo de uma 
análise do direito à educação na legislação pátria, das liberdades individuais e, por 
fim, sobre a autonomia familiar. Seu objetivo geral é analisar o direito à educação 
domiciliar como possível configuração para a efetivação dos direitos constitucionais 
de liberdade de consciência, de crença e de convicção filosófica, além de 
salvaguardar a autonomia familiar quanto ao exercício do poder familiar no que 
tange à educação e criação dos filhos em detrimento da imposição estatal de 
matrícula compulsória de crianças e adolescentes na rede de ensino regular no 
Brasil. Para isso, utilizam-se os métodos histórico, comparativo, monográfico e, por 
fim, a pesquisa bibliográfica. 
O artigo está dividido em três seções, a primeira seção trata de analisar a 
problemática da educação estatal e da escolarização compulsória. A segunda 
analisa os direitos individuais de consciência, de crença e de convicção filosófica, 
como justificativa ao direito da educação domiciliar. Na terceira, se discorre sobre a 
autonomia familiar e os direitos e deveres inerentes ao poder familiar. 
 
 
10 
 
 
2 A “CONFESSIONALIDADE” ESTATAL: O MITO DA EDUCAÇÃO ESTATAL 
NEUTRA 
 
A Constituição Federal de 1988 inaugurou no cenário nacional inéditos 
parâmetros no que se refere à efetivação de direitos, princípios e garantias 
individuais e coletivas. Tais moldes permeiam todo o ornamento jurídico, em um 
fenômeno denominado de “neoconstitucionalismo”, por meio do qual todas as 
normas devem respeitar os princípios promulgados pela soberania popular através 
do Poder Constituinte na elaboração da Carta Magna e trabalhar conjuntamente 
para a sua plena execução na sociedade. 
Dentre as premissas fundamentais presentes na Lei Maior estão a instituição 
de um Estado Democrático de Direito cuja finalidade é assegurar o exercício dos 
direitos sociais e individuais, dentre os quais se destacam a liberdade, a segurança, 
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, adotados como valores 
supremos de uma sociedade fraternal, pluralista e sem preconceitos, radicados, 
dentre outros, na dignidade da pessoa humana e no pluralismo político. 
Nesse lastro, a norma constitucional assegura, no capítulo concernente aos 
direitos e garantias fundamentais, o direito à inviolabilidade da liberdade de crença e 
de consciência, ratificados na vedação ao cerceamento de direitos por motivos de 
crença religiosa, convicção filosófica ou política, nos termos do artigo 5º, incisos VI e 
VIII, da Constituição Federal. 
Assim, insta questionar como a matrícula compulsória em rede de ensino 
formal viola os direitos individuais, uma vez que os pais, a quem o próprio 
ordenamento jurídico assegura o pleno exercício do poder familiar para dirigir a 
educação e criação dos filhos, não participam da escolha da matriz curricular a ser 
aplicada nas escolas e, desta forma, podem ter suas crenças e valores 
confrontados. 
 
 
 
 
11 
 
 
2.1 Do direito à educação: educação formal e educação clássica ou 
domiciliar 
 
A educação é um direito internacionalmente reconhecido como fundamental a 
ser oferecido a todos, sem distinção, reconhecido por sua importância na garantia do 
pleno desenvolvimento e para o progresso pessoal e social. 
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, por meio da 
Declaração Universal de Direitos Humanos, em seu artigo 26, que a educação 
deverá ser ofertada a todos, de forma gratuita, ressaltando, ainda, a prioridade dos 
pais na escolha do gênero de instrução a ser ministrada aos seus filhos. No mesmo 
sentido, a educação deverá basear-se no pleno desenvolvimento da personalidade 
humana, no fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades 
fundamentais. 
Por sua vez, a Convenção sobre os Direitos das Crianças, vigente em âmbito 
nacional nos termos do art. 18 do Decreto nº 99.710 de 1990, outorga aos pais a 
responsabilidade com relação à educação e ao desenvolvimento da sua prole, 
visando primar sempre pelo melhor interesse desses, nos seguintes termos: 
1. Os Estados Partes envidarão os seus melhores esforços a fim de 
assegurar o reconhecimento do princípio de que ambos os pais têm 
obrigações comuns com relação à educação e ao desenvolvimento 
da criança. Caberá aos pais ou, quando for o caso, aos 
representantes legais, a responsabilidade primordial pela educação e 
pelo desenvolvimento da criança. Sua preocupação fundamental 
visará ao interesse maior da criança. 
 Nesse sentido, destaca o textonormativo o papel do Estado como agente 
cooperador, dando, assim, a primazia de prestar a educação aos pais ou 
responsáveis, que contarão com auxílio do Estado e da sociedade. Aqueles também 
deverão ser assistidos de forma adequada para o melhor desempenho de suas 
funções no que tange a proporcionar educação aos seus filhos. 
O documento dispõe, outrossim, nos artigos 28 e 29, princípios que deverão 
ser observados pelos Estados com vistas a proporcionar a prestação do direito a 
educação universalizada, de modo a coibir a existência de restrições quanto a 
liberdade de criação e direção de instituições de ensino, desde que estejam 
 
 
12 
 
 
comprometidas com a tarefa educacional, respeitem a dignidade humana, assim 
como os demais valores nela descritos, nesse sentido: 
1. Os Estados Partes reconhecem que a educação da criança deverá 
estar orientada no sentido de: a) desenvolver a personalidade, as 
aptidões e a capacidade mental e física da criança em todo o seu 
potencial; b) imbuir na criança o respeito aos direitos humanos e às 
liberdades fundamentais, bem como aos princípios consagrados na 
Carta das Nações Unidas; c) imbuir na criança o respeito aos seus 
pais, à sua própria identidade cultural, ao seu idioma e seus valores, 
aos valores nacionais do país em que reside, aos do eventual país 
de origem, e aos das civilizações diferentes da sua; [...] 
2. Nada do disposto no presente artigo ou no Artigo 28 será 
interpretado de modo a restringir a liberdade dos indivíduos ou das 
entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que sejam 
respeitados os princípios enunciados no parágrafo 1 do presente 
artigo e que a educação ministrada em tais instituições esteja acorde 
com os padrões mínimos estabelecidos pelo Estado. 
 Desta forma, é possível salientar que o direito à educação deve ser a todos 
garantido como direito fundamental que, aliado aos direitos à liberdade e à vida, 
outorgam prerrogativas essenciais para o pleno desenvolvimento humano e 
progresso social, sendo inadmissível, portanto, restrições àqueles que detêm com 
maior peculiaridade acesso à transmissão de valores indispensáveis para tal: os 
pais. 
 
2.1.1 Da educação formal sob a ótica da legislação brasileira 
 
A legislação brasileira encontra respaldo nos documentos internacionais, 
conforme artigo 5º, §2º, da Constituição Federal, e traz em seu bojo regulamentação 
específica ao que se convencionará chamar de educação formal, com vistas a 
diferenciar da educação clássica ou domiciliar, uma vez que aquela é regida em 
forma de escolarização e não abrange todo o processo educacional. 
A Constituição Federal de 1988 (CF/88) trata da educação formal no capítulo 
concernente aos diretos sociais, juntamente ao direito à outros direitos que garantem 
um mínimo existencial, e também em capítulo próprio, a partir do artigo 205 e 
seguintes, nos quais a matéria é devidamente tratada como um dever da família em 
colaboração com o Estado e a sociedade, que, conjuntamente, devem trabalhar com 
 
 
13 
 
 
vistas a assegurar a educação como um direito de todos e cuja finalidade consiste 
no abundante qualificação pessoal, sua capacitação para o exercício da cidadania e 
sua aptidão para a prática laboral. 
No artigo seguinte, o legislador constituinte estabeleceu os princípios sobre os 
quais o ensino a ser ministrado deverá basear-se, com especial destaque para os 
incisos II e III, segundo os quais deverão ser obervados a liberdade de aprender, 
ensinar, a pesquisa e a livre divulgação do pensamento, a expressão artística, os 
variados tipos de saber, e, ainda, o pluralismo de ideias e as diversas concepções 
pedagógicas, e,por fim, a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino: 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes 
princípios: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o 
pensamento, a arte e o saber; 
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e 
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
[...] (BRASIL,1988) 
No que concerne à função estatal, o artigo 208 dispõe que sua obrigação será 
exercida mediante a garantia de: educação básica e gratuita de forma compulsória, 
ministrada para crianças a partir de 4 (quatro) até atingir a adolescência, aos 17 
(dezessete) anos de idade, assegurando, ainda, a possibilidade de acesso de forma 
gratuita a quem não a obteve em idade devida; universalização gradual do ensino 
médio; ao atendimento especial aos portadores de deficiência, de forma preferencial 
na rede regular de ensino; creche e pré-escola para crianças até 5 (cinco) anos de 
idade; qualidade do ensino, da pesquisa e da criação artística, conforme a 
capacidade individual do aluno; ensino noturno regular, adaptado às condições do 
educando; e, por fim, ao atendimento em todas as etapas da educação básica ao 
estudante, através de programas suplementares de material didático, oferecimento 
de transporte, alimentação e assistência à saúde (CF/88). 
Desse modo, é possível observar que o legislador conceitua e regulamenta a 
educação formal como sinônimo de escolarização, com vistas a combater o 
analfabetismo e estimular a frequência escolar. Assim, o artigo 22, inciso XXIV, da 
Lei Maior atribui a competência para a União, de forma exclusiva, a regulamentação 
das diretrizes e bases da educação, delineados pela Lei nº 9.394, de 1996, a Lei de 
 
 
14 
 
 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que em seu art. 1º, §1º, aduz que a 
norma citada disciplina única e tão somente a educação escolar, a ser desenvolvida 
predominantemente, por meio do ensino em entidades apropriadas. Em seu art. 2º, 
prescreve: 
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos 
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem 
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
(BRASIL, 1996) 
Logo em seguida, o artigo subsequente ratifica os princípios já expressos na 
Constituição Federal que regem o ensino, acrescentando, dentre outros, que serão 
igualmente observadas a importância de experiências extraescolares; o vínculo 
entre a escola, o trabalho e a sociedade, além de a consideração com a diversidade 
étnico-racial, e à aprendizagem adquirida ao longo da vida. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por sua vez, ao dispor sobre o 
direito à educação, define como pertencente à família, à comunidade, à sociedade 
em geral e ao poder público o dever de assegurar, com absoluta predileção, a 
efetivação do dever de educar (art. 4º, ECA). Ainda, em seu artigo 53, dispõe que: 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao 
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da 
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - direito de ser respeitado por seus educadores; 
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às 
instâncias escolares superiores; 
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; 
V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, 
garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que 
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. 
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do 
processo pedagógico, bem como participar da definição das 
propostas educacionais. (BRASIL, 1990) 
 Diante do exposto, mostra-se indeclinável que a educação, ainda que 
escolarizada, não retém o direito inalienável dos pais em dirigir, primariamente, a 
educação dos seus filhos, de modo que o agente estatal e a sociedade devem atuar 
de forma cooperativa, não restringindo, portanto, o direito daqueles. Outrossim, 
deve-se respeitar em todoo processo educacional, ainda que escolarizado, os 
 
 
15 
 
 
princípios do pluralismo de ideias e concepções filosóficas, ratificados pelo princípio 
da liberdade de ensinar e aprender, sendo, por conseguinte, inadmissível a violação 
destes por professores e educadores em geral, conforme se verá adiante. 
 
2.1.2 A educação domiciliar sob a ótica da legislação brasileira 
 
Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar (2017), a educação 
doméstica, também denominada de educação clássica ou, ainda, homeschooling, 
consiste na abrangência, por completo, do controle do processo global da educação 
dos filhos por seus pais. Ou seja, é “[...] uma modalidade de educação, no qual os 
principais direcionadores e responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem são 
os pais do educando [...]”, baseados na “[...] educação integral, educação em todo o 
tempo e no treino para o aprendizado [...]”. (ANED, 2017) 
Insta, desde logo, diferenciar as diversas espécies de práticas da educação 
feita em âmbito doméstico. Nas palavras de Édison Prado de Andrade (2016, p. 9), 
unschooling consiste em uma ideia mais radical de desescolarização que propõe o 
total afastamento governamental da educação da criança e do adolescente, a ser 
realizada no unicamente no seio familiar. A desescolarização diverge do 
homeschooling uma vez que este é uma versão mais moderada, que não aparta por 
completo o Estado do modelo educacional, e, assim, facilita a fiscalização pelos 
entes estatais, sem restringir, contudo, a atuação dos pais ou responsáveis na 
instrução dos filhos. Em outras palavras, a educação domiciliar possibilita aos pais 
levarem, de certa forma e à sua escolha, a escola para o ambiente doméstico. 
A escolha pela educação domiciliar, por sua vez, é feita levando em 
consideração questões práticas como o acesso à instituição de ensino ou mesmo à 
falta dessa ou, mormente, por motivos religiosos, conforme explicita Alexandre 
Magno Fernandes Moreira (2009, p. 47), uma vez que as escolas apresentam um 
ambiente hostil que dificulta o desenvolvimento do caráter, além de, por vezes, 
gerarem inevitáveis conflitos pela divergência entre os valores ensinados em casa e 
os ofertados na escola. Leva-se em consideração também questões como a 
 
 
16 
 
 
dificuldade de deslocamento e a superlotação em escolas que ofereçam ensino de 
qualidade. 
O Supremo Tribunal pátrio ratificou que um dos principais argumentos usados 
em defesa da opção do homeschooling tem sido o direito dos pais de assegurar a 
educação e o ensino dos filhos em consoante com suas convicções religiosas e 
filosóficas, salientando, assim, o debate sobre liberdades individuais e a intervenção 
estatal na família, além de colocar em questão aspectos como a laicidade do Estado 
e a liberdade de consciência e de crença, também a ser usufruída na infância. 
No Brasil, inexiste legislação constitucional regulamentando a prática. Em 
inédito precedente em Recurso Extraordinário de nº 888.815, tendo como Relator o 
Ministro Luís Roberto Barroso, fora apreciado pela Suprema Corte, em julgamento 
de caráter de repercussão geral, em 12 de setembro de 2018, se o ensino domiciliar 
ou homeschooling poderia ser considerado legitima forma de cumprimento, pela 
família, do dever de prover a educação dos filhos, uma vez que o tema foi 
considerado compatível com a Constituição Federal. 
O Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de considerar a questão como 
constitucional, negou, em julgamento, por nove votos a um, o direito ao ensino 
domiciliar, fundamentando-se na inexistência, até então, de regulamentação legal no 
país. A maioria dos ministros, contudo, concordou que a Carta Maior não proíbe a 
prática, votando favoravelmente apenas o ministro relator, pois, para ele, o direito de 
escolher o tipo de educação que consideram melhor para os filhos pertence aos 
pais, principalmente em face da deficiência do ensino oferecido pelo Estado. 
Entendeu, ainda, o STF que a educação domiciliar compatível com a 
Constituição Federal deve observar o dever de solidariedade entre o Estado e a 
família, vedando as modalidades de ensino de unschooling radical 
(desescolarização radical), unschooling moderado (desescolarização moderada) e 
homeschooling puro, em qualquer de suas variações. 
Contudo, tal decisão, ainda que negue o direito ao homeschooling como 
opção de cumprimento do dever de educação, previsto no texto constitucional, não 
lhe proíbe posterior regulamentação legislativa, desde que observados: 
 
[...] sua criação por meio de lei federal, editada pelo Congresso 
Nacional, na modalidade “utilitarista” ou “por conveniência 
 
 
17 
 
 
circunstancial”, desde que se cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 
anos, e se respeite o dever solidário Família/Estado, o núcleo 
básico de matérias acadêmicas, a supervisão, avaliação e 
fiscalização pelo Poder Público; bem como as demais previsões 
impostas diretamente pelo texto constitucional, inclusive no tocante 
às finalidades e objetivos do ensino; em especial, evitar a evasão 
escolar e garantir a socialização do indivíduo, por meio de ampla 
convivência familiar e comunitária [...]. (STF, 2018, grifado pelo 
autor) 
 
A omissão normativa não torna, por conseguinte, a prática ilegal, isso por que 
a Constituição Federal trata, em seu art. 5º, inciso II, que, não sendo qualquer 
conduta ou ato expressamente vedado legalmente, estes são permitidos, resultando 
na possibilidade do exercício de ensino domiciliar, entendimento ratificado no 
julgamento aludido anteriormente. 
Como já dito anteriormente, a competência para prover a educação é 
compartilhada entre o Estado e a família, conforme preceituam os artigos 205, da CF 
(1988), e 2º da LDB (1996), respectivamente: 
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, 
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, 
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos 
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem 
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Assim, destarte a responsabilidade em promover a educação seja partilhada, 
a primazia de educar os filhos pertence aos pais, conforme melhor interpretação do 
artigo 1.634 do Código Civil pátrio, segundo o qual, compete a ambos os pais o 
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos dirigir-lhes a 
criação e a educação, de modo que o Estado somente intervirá caso a família 
exima-se de sua atribuição. 
Sobre o Estado, portanto, recai a obrigação de possibilitar a livre utilização de 
métodos pedagógicos considerados propícios para o melhor interesse das crianças 
e adolescentes. Nesse mesmo entendimento, reza o artigo 26 da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, já previamente citado, na qual o Brasil é signatário, 
reafirmando que “os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução 
que será ministrada a seus filhos”. 
 
 
18 
 
 
Alguns municípios brasileiros, todavia, já se manifestaram sobre a matéria e a 
prática vem, paulatinamente, sendo regulamentada no cenário nacional. O mais 
recente projeto de lei sobre a matéria foi aprovado no município de Vitória, estado do 
Espírito Santo, em 16 de abril de 2019, de iniciativa do vereador Vinícius Simões, do 
Partido Popular Socialista (PPS), em face da omissão legislativa em âmbito federal e 
estadual. A lei aprovada regulamentou a prática no município em questão, dispondo 
sobre a fiscalização e garantindo às famílias adotantes do método todos os direitos 
relativos aos serviços públicos de educação municipais, sem a exigência, contudo, 
de matrícula em rede de ensino regular (escola). 
 
2.2 O engajamento político-religiosoestatal: educação laica? 
 
Passados os aspectos legais sobre o direito à educação, e sua aplicação 
normativa em âmbito nacional e internacional, além da diferenciação entre a 
educação formal ou escolarização e educação domiciliar, da qual se extraem os 
conceitos de homeschooling e unschooling, passa-se a uma análise sobre os 
aspectos pedagógicos do processo formativo da instrução, tendo como base os 
princípios da laicidade estatal, do pluralismo político e de ideias, além da liberdade 
de aprendizagem, ensino, na pesquisa e divulgação da cultura, do pensamento, da 
arte e do saber. 
De início, insta diferenciar os conceitos de educação e de instrução formal. 
Educação, nas palavras de Pestalozzi (apud MOREIRA, 2017, p. 19), é o 
“desenvolvimento harmonioso e progressivo de todos os poderes e faculdades 
inatas do ser humano – físicas, intelectuais e morais.” Nesse sentido, educação 
abrange inúmeros processos de aprendizagem ao longo do tempo, não podendo ser 
restrita, assim, à aprendizagem escolar, que consiste em apenas uma das etapas da 
formação humana. Além disso, trata-se de um processo dinâmico, caracterizado 
pelo desenvolvimento de um poder inato, ou, ainda, intrínseco, da pessoa. 
Já instrução formal, que não se confunde com o termo escolarização, aduz 
José Carlos Libâneo (1994, p. 23, apud MOREIRA, 2017, p. 23) refere-se à 
formação intelectual mediante desenvolvimento de capacidades cognoscitivas 
 
 
19 
 
 
através do domínio de conhecimentos sistematizados. Assim, escolarização, por sua 
vez, consiste em um meio para a instrução, e não um fim em si mesmo. 
Importante diferenciar tais conceitos porque o Estado, ao regulamentar a 
questão, assume para si um papel de educador, e não apenas de provedor de 
ensino ou instrução, que, como visto, consiste na formação não apenas do 
desenvolvimento de uma capacidade ou técnica, mas abrange todos os aspectos da 
formação humana, incluídas nesta a ética, a moral e, até mesmo, a formação da 
consciência, lado a lado com a vivência advinda por meio da família e da 
convivência em sociedade. Nesse sentido, ratifica o texto constitucional, em seu art. 
205, que a finalidade da educação visará ao pleno desenvolvimento da pessoal, sua 
qualificação para o exercício da cidadania e para o trabalho. 
Outros conceitos que se fundem no contexto da educação brasileira são os de 
professor e educador. Tal como visto, educador tem um papel muito mais 
abrangente na formação humana (intelectual e moralmente alcançados), quando 
levado em consideração o conceito de educação em sentido amplo, enquanto o 
professor é aquele que domina determinada matéria ou disciplina e a repassa. 
Assim, no sentido literal, educador não é o mesmo que professor, e vice-versa, uma 
vez que são termos apartados e dizem respeito a áreas de formação humanas 
diferentes, ainda que complementares. 
Tais confusões conceituais por parte do texto normativo, por conseguinte, 
distorcem a finalidade precípua da educação e outorgam ao Estado poderes 
precipuamente inerentes aos pais ou responsáveis. Além disso, ao tomar para si a 
responsabilidade de educar, restringindo-a, em termos legais, à escolarização, 
sendo esta compulsoriamente oferecida única e tão somente pelo ensino regular 
estatal, tem o Estado negligenciado todo o processo de desenvolvimento humano 
abrangido pelo processo da educação em geral, que pode e, de fato tem sido, 
oferecido para além do aparato escolar por meio da educação domiciliar. 
 
2.2.1 Da “confesssionalidade” estatal: o mito da educação estatal neutra 
 
 No Brasil, embora edificado sob a égide da laicidade estatal, que salvaguarda, 
em tese, o pluralismo político e propicia o debate aberto, crítico e objetivo das mais 
 
 
20 
 
 
variadas concepções de crença e convicção filosófica na escola, é por todos sabido 
que o ambiente educacional, precipuamente, o público, vêm relegando a sua função 
básica de transmitir conhecimento e informação para hastear a bandeira de “formar 
cidadãos”, o que significa, em regra, que boa parte dos professores são 
politicamente engajados com convicções filosóficas e partidárias que, por vezes, 
contrariam o ensinamento ofertado pelos pais em âmbito privado. 
O caráter imparcial da educação é notadamente reconhecido e, por vezes, 
estimulado no planejamento pedagógico nacional. Nesse sentido expressa Paulo 
Freire (1989, p. 15-16), denominado patrono da educação brasileira, que a educação 
ideal deve ser crítica, ou seja, engajada a serviço da humanidade, e para tanto, faz-
se necessário abandonar “o mito da neutralidade da educação, que leva à negação 
da natureza política do processo educativo”, pois, partindo dessa premissa, “[...] é 
tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o 
caráter educativo do ato político”, uma vez que, para o autor, todo partido político é 
sempre educador, e ambos, tanto a educação como a política, gravitam em torno 
“[...] de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos a 
educação”. 
No mesmo sentido, a pedagoga Maria José Ferreira Ruiz (2003, p. 56), em 
análise sobre o papel do professor e fundamentada em teóricos como Paulo Freire e 
Moacir Gadotti, cujo entendimento é de que o profissional da educação tem um 
papel predominantemente político a desempenhar, educando, assim, para a 
transformação da sociedade, aduz: 
Nesse contexto incerto, o papel do profissional da educação precisa 
ser repensado. Segundo Gadotti (1998), faz-se mister que o 
professor se assuma enquanto um profissional do humano, social e 
político, tomando partido e não sendo omisso, neutro, mas sim 
definindo para si de qual lado está, pois se apoiando nos ideais 
freireanos, ou se está a favor dos oprimidos ou contra eles. 
Posicionando-se então este profissional não mais neutro, pode 
ascender à sociedade usando a educação como instrumento de luta, 
levando a população a uma consciência crítica que supere o senso 
comum, todavia não o desconsiderando. (grifado pelo autor) 
 É preciso reconhecer que, ainda que fixados um mínimo de conteúdo a ser 
observado pelas escolas através da matriz curricular uniformizada, conforme 
previsto na Constituição Federal em vigor, o que, por si só, já implica na intervenção 
e imposição estatal na elaboração dos currículos a serem utilizados, não é possível 
 
 
21 
 
 
dissociar as questões valorativas e a visão de mundo acolhidas pelo profissional da 
educação, o que pode, facilmente, vir a confrontar as liberdades de crença, 
consciência e filosofia escolhidas pelos pais do educando e a ele repassado na 
esfera familiar. Ora, não há que se defender, todavia, que seja o professor um cético 
cujo ensino é descontextualizado, mas sim uma defesa do magistério para ensino 
dos mais jovens nas disciplinas essenciais. 
Dessa forma, resta claro que há, por parte dos professores, e, assim, do 
Estado, algum engajamento não só político, como também religioso, uma vez que, 
conforme Alexandre Moreira (2017, p. 105) “[...] mesmo a mera escolha dos 
conteúdos a serem ministrados já requer a valoração do conhecimento necessário 
para a formação do ser humano [...]”. No mesmo lastro, continua o autor explicando 
que, por definição, inexiste educação neutra, pois “[...] toda forma de educação 
requer que se façam opções políticas, filosóficas e antropológicas, [...].” Em resumo, 
a educação, mesmo a estatal, não pode ser neutra, ou, mesmo “laica”, pois lhe é 
impossível abster-se de todo e qualquer tipo de cosmovisão, haja vista sua 
finalidade de formação humana plena. 
Portanto, em uma sociedade pluralista, baseada no respeito à autonomia 
privada, tal qual assumida pelo ordenamento jurídico brasileiro, é preciso que haja, 
em caso de divergências quanto ao método, conteúdo, ou ainda sobre quem possui 
a aptidão necessária para ministrar o ensino (se os pais ou professores), alternativas 
que se adequem ao melhorinteresse dos educandos e cumpra a finalidade 
assumida pelo Estado em ofertar, através da educação, o pleno desenvolvimento da 
pessoa, como a possibilidade da educação domiciliar. 
 
2.2.2 Educação em questão: o dever de neutralidade moderada na educação 
estatal 
 
 Como já explicitado, mostra-se incabível, e, do ponto de vista teleológico, 
inadequada a concepção de uma educação dada como neutra, uma vez que sua 
definição é propriamente a transmissão de ideias, valores e cosmovisões adquiridas 
pela convivência social e familiar, tendo em vista o pleno desenvolvimento do ser 
humano. 
 
 
22 
 
 
Contudo, insta salientar que, embora à educação não possa ser atribuída a 
característica da neutralidade, não pode a escola, local que, atualmente detém a 
oferta do ensino e, desta forma, da educação nacional, valer-se desse aspecto para 
tornar a sala de aula um espaço antidemocrático, dando primazia a uma cosmovisão 
em detrimento de outras, devendo se abster de impor determinada ideologia ou 
concepção político-partidária. 
No Brasil, muitas são as queixas relativas, precipuamente, ao engajamento 
político por parte dos professores que, em nome do ideal de formar cidadãos 
acabam por fazer da sala de aula espaço para disseminação de ideologias políticas 
próprias, violando, assim, o princípio de que a educação deve ser ministrada com 
base na liberdade de aprender e ensinar, mas, sobretudo, no pluralismo de ideias e 
na diversidade de concepções pedagógicas, conforme preceitua a Constituição 
Federal em vigor. 
Em 2008, a Revista Veja (apud MOREIRA, 2009, p. 50) publicou uma 
pesquisa cujos resultados deixam claro o uso da cátedra para a propagação de 
determinada ideologia. Segundo os dados, 78% dos professores consideram que a 
principal função da escola é formar cidadãos, enquanto apenas 8% assinalam a 
provisão de instrução formal, além disso, 80% dos professores consideram seu 
próprio discurso como politicamente engajado, contra apenas 20% que o 
consideraram politicamente neutro. Com “engajamento político” entende-se que eles 
admiram Paulo Freire (29%), Karl Marx (10%), além de que 86% dos professores 
têm em alta estima Che Guevara e que nenhum deles possui nenhum conceito 
negativo sobre esse. No mesmo sentido, Lênin teve análise positiva por 65%, sendo 
a negativa de apenas 9%. 
Tamanha insatisfação deu ensejo a movimentos como o Escola Sem Partido, 
que visa dirimir os aspectos políticos do discurso do corpo docente no ensino de 
crianças e adolescentes, fundado pelo advogado Miguel Nagib em 2003 e 
amplamente difundido em todo o país. Tal iniciativa inspirou projetos como o 
Programa Escola Livre, instituído pela Lei nº 7800, de 2016, no estado de Alagoas, 
cuja finalidade era estabelecer parâmetros com vistas a inibir a prática de 
doutrinação nas escolas por parte dos professores. 
A lei que instituiu o programa foi objeto das Ações Diretas de 
Inconstitucionalidade (ADI) nº 5580 e nº 5537, dentre outros motivos, por violar a 
 
 
23 
 
 
competência federal para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, e 
ainda, por trazer em seu texto dispositivos de lei que limitam o conteúdo da 
manifestação docente, visando proteger – hipotética - contrariedade às convicções 
morais, religiosas, políticas ou ideológicas de alunos, ou de seus pais e 
responsáveis, desviando-se, assim, dos princípios constitucionais que formam a 
educação nacional, regida pela liberdade de ensinar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte, os saberes, e, ainda, o pluralismo de ideias e a possibilidade de 
diversas concepções pedagógicas através da gestão democrática da instrução. 
Entendeu, ainda, a Suprema Corte, conforme legislação internacional, a 
saber, o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 
incorporado em território nacional pelo Decreto no 591 de 1992, e o Protocolo 
Adicional de São Salvador à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, 
também introduzido na legislação brasileira pelo Decreto no 3.321 de 1999, pelo 
reconhecimento de que a educação deve visar ao pleno desenvolvimento da 
personalidade humana, sua capacitação para a vida em sociedade e também à 
tolerância, devendo, portanto, serem fortalecidos o pluralismo ideológico e as 
liberdades fundamentais. 
Assim, demonstrada a impossibilidade de a educação apresentar-se como 
totalmente neutra, e na tentativa de retirar o educando do “cabo de guerra” dos 
extremos entre uma educação absolutamente isenta, abstraída de sua finalidade, 
haja vista ter o ensino um papel importante na formação do desenvolvimento 
humano, e outra ideologicamente afetada, que, do mesmo modo, nada vem a 
instruir, faz-se necessário que o Estado apresente uma forma de “neutralismo 
moderado” que, conforme preceitua Alexandre Magno (2017, p. 106-107), dá ao 
Estado a possibilidade de atuar de forma não neutra na educação, baseando-se no 
Princípio da Proporcionalidade, desde que esta seja objeto de consenso social sobre 
a sua necessidade e, ainda, que na inexistência do consenso, o Estado outorgue ao 
educando, ou ao seu responsável, a alternativa de não se submeter à imposição 
educacional. 
É essa a compreensão do Supremo Tribunal Federal (2018, p. 25-6), no 
julgamento da ADI nº 5580 e nº 5537, ao buscar equalizar a questão da liberdade de 
expressão dos professores e do direito dos pais em educar seus filhos, sem, com 
isso, violar a finalidade da educação, que é, precipuamente, baseada no acúmulo e 
 
 
24 
 
 
o processamento de concepções e informações que proveem de pontos de vista 
divergentes entre si, experimentados em espaços diversos, como o lar, o convívio 
social e, também, na escola: 
A norma [Lei nº 7800, de 2016] é, assim, evidentemente inadequada 
para alcançar a suposta finalidade a que se destina: a promoção de 
educação sem “doutrinação” de qualquer ordem. É tão vaga e 
genérica que pode se prestar à finalidade inversa: a imposição 
ideológica e a perseguição dos que dela divergem. Portanto, a lei 
impugnada limita direitos e valores protegidos constitucionalmente 
sem necessariamente promover outros direitos de igual hierarquia. 
Trata-se, assim, de norma que viola o princípio constitucional da 
proporcionalidade (art. 5º, LIV e art. 1º), na vertente adequação, por 
não constituir instrumento apto à obtenção do fim que alega 
perseguir. 
Portanto, faz-se necessário estabelecer premente equilíbrio para que tanto os 
pais como os docentes gozem de plena liberdade de aprender e ensinar, baseado 
na pluralidade de ideias, no respeito as concepções pedagógicas, observadas com 
vistas a propiciar o melhor interesse do infante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
3 A LIBERDADE RELIGIOSA FRENTE À ESCOLARIZAÇÃO OBRIGATÓRIA: 
LIBERDADES E GARANTIAS INDIVIDUAIS EM QUESTÃO 
 
O aspecto subjetivo do direito à liberdade de consciência e de crença está 
diretamente relacionado aos direitos à intimidade, à identidade e à formação da 
personalidade, e, quanto ao seu aspecto objetivo, à garantia da neutralidade estatal 
ou laicidade, que, diante do livre exercício de profissões religiosas, deve abster-se 
de favorecer a uma doutrina ou dogma específico no âmbito do espaço público. 
Atrelados a estas e ao conceito de educação e ensino, encontra-se o 
importante princípio do pluralismo político e de ideias, característicos do exercício da 
liberdade de expressão e constitui um dos fundamentos essenciais de uma 
sociedade democrática, baseada na consagração do pluralismo de ideias e 
pensamentos – políticos, filosóficos, religiosos – e da tolerância de opiniões diversas 
e da abertura ao diálogo entre diferentes ideologias. 
Nesse sentido, questiona-se: como o Estado, exercendo seu papel de 
garantidor do exercício dessas liberdades, para a mediação dos interesses 
conflitantes, irá assegurar o exercício da liberdade de consciência no espaço público 
escolar e, na esfera privada,estimular o respeito à autodeterminação privada do 
núcleo familiar frente à imposição estatal de escolarização obrigatória? 
É dever de o Estado resguardar os direitos individuais, abstendo-se de dar 
primazia à determinada religião ou ideologia, sem, contudo, atuar de forma 
indiferente à religiosidade e crenças de seu povo, fundamentado no princípio da 
laicidade, incluindo, assim, a educação domiciliar como alternativa legal para o pleno 
exercício desses direitos pelos pais na educação de seus filhos. 
 
3.1 A liberdade de crença, de consciência e de convicção filosófica à luz 
constitucional 
 
A Carta Política de 1988 traz em seu bojo de direitos e garantias 
fundamentais do indivíduo. Mais especificamente no artigo 5º, em seus incisos VI e 
VIII, estão expostas as liberdades de consciência e de crença, consideradas pelo 
 
 
26 
 
 
constituinte como invioláveis, assegurado, no mesmo lastro, o livre exercício dos 
cultos religiosos. 
Garante, semelhantemente, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias, 
e, ainda, veda a privação de direitos quando por motivo de crença religiosa, 
convicção filosófica ou política, exceto se as utilizar como escusa para eximir-se de 
obrigação legal imposta a todos, ou, ainda, se houver recusa de cumprir prestação 
alternativa fixada legalmente, ratificando assim, o fundamento da dignidade da 
pessoa humana, expresso no art. 1º, elevando em mais alta estima o respeito à 
esfera subjetiva do indivíduo. 
A liberdade de consciência é gênero do qual a liberdade religiosa se 
incorpora, caracterizado pelo direito de professar qualquer crença religiosa, ou, 
ainda, pela liberdade de ter convicções filosóficas destituídas de caráter religioso. O 
sentimento de religiosidade, de conexão com a perspectiva transcendental da vida 
humana, foi incorporado na norma constitucional como uma garantia individual, 
devendo o Estado assegurar o livre exercício dos cultos religiosos, sem privilegiar 
este ou aquele credo. A liberdade religiosa inclui, ainda, a proteção das liturgias e 
dos locais de culto, devendo a lei proteger os templos e abster-se de interferir nas 
liturgias, salvo em casos de imposição de valor constitucional concorrente de maior 
peso na hipótese considerada ou de afronta a alguma norma. 
Nesse sentido, preceitua o Min. Alexandre de Morais, em voto na ADI 4439, 
que versa sobre o ensino religioso de matrícula facultativa nas escolas públicas, que 
“[...] a relação entre o Estado e as religiões, histórica, jurídica e culturalmente, é um 
dos mais importantes temas estruturais do Estado [...].” Sendo assim, a interpretação 
do texto constitucional que consagra a inviolabilidade da liberdade de crença e o 
respeito aos cultos religiosos e suas liturgias deve ser realizada em dupla acepção: 
salvaguardar o direito individual e as diversas confissões religiosas de quaisquer 
intervenções ou mandamentos estatais; e, ainda, assegurar a laicidade do Estado, 
prevendo total liberdade de atuação estatal em relação aos dogmas e princípios 
religiosos. 
Assim, é possível perceber que tais garantias caminham aliadas ao princípio 
da Laicidade Estatal, expressamente instituída no art. 19, I, da CF/88, de modo a 
estabelecer a proteção do indivíduo frente à imposição da vontade da maioria, 
resguardando, assim, as liberdades individuais. 
 
 
27 
 
 
Destarte, a laicidade não implica em menosprezo ou, ainda, na 
marginalização da religião na vida da sociedade, mas intenta afastar o dirigismo 
estatal no tocante à crença de cada um. Assim, um Estado laico não incentiva o 
ceticismo, tampouco o aniquilamento da religião, mas limita-se a viabilizar a 
convivência pacífica entre as diversas cosmovisões, inclusive aquelas que 
pressupõem a inexistência de algo além do plano físico, além de buscar assegurar 
um campo saudável e desimpedido ao desenvolvimento das diversas concepções 
(AURÉLIO, M., 2017). 
No mesmo lastro, é preciso diferenciar os conceitos de consciência, crença e 
crença religiosa. A consciência é a faculdade moral intrínseca a todo ser humano, 
que avalia o que é certo ou errado (MOREIRA, 2017). Crença, por sua vez, é visão 
de mundo pessoal, ou melhor, é a cosmovisão que cada indivíduo do mundo, a 
forma com que ele interpreta o que acontece ao seu redor, enquanto a crença 
religiosa envolve a concepção de uma realidade transcendental ou metafísica. 
Outrossim, o direito à liberdade de consciência e religião é ratificado pela 
possibilidade do indivíduo opor contra determinada imposição estatal a objeção de 
consciência, trazido ambos no mesmo texto normativo. Nas palavras do 
constitucionalista Gilmar Mendes (2012, p. 279), a objeção de consciência não se 
confunde com a desobediência civil, pois “[...] nesta, recusa-se não uma norma, mas 
todo um sistema jurídico, na sua globalidade.” Uma vez que a objeção se situa no 
marco da legalidade vigente, pretende tão somente o reconhecimento da 
normalidade de certa conduta, enquanto que, na desobediência civil, a reação 
violenta do poder não é indesejada, mas pretendida. 
Assim, a objeção de consciência é uma garantia ao direito da liberdade de 
consciência religiosa, filosófica, ética e política, todas ramificações do gênero do 
direito à liberdade de pensamento. O texto legal – a saber, o art. 143, da CF/88 - 
aduz o exemplo fático da abstenção militar por motivo religioso, o que, todavia, não 
deve ser interpretado de maneira restrita, de modo a esvaziar o sentido de proteção 
legal da esfera íntima do indivíduo introduzido na norma. Da mesma forma, reza o 
autor (MENDES, 2012, p. 289) citado alhures que: 
Não é, entretanto, esta a única hipótese de objeção de consciência 
pensável, já que não apenas quanto ao serviço militar pode surgir a 
oposição a um ato determinado pelos Poderes Públicos que, embora 
 
 
28 
 
 
com apoio em lei, choca-se inexoravelmente com convicção 
livremente formada pelo indivíduo, que lhe define a identidade moral. 
Reconhecendo que há outras obrigações além da militar que podem 
suscitar problema, o inciso VIII do art. 5º da Constituição fala na 
possibilidade de perda de direitos, por conta de descumprimento de 
obrigação legal a todos imposta, por motivos de foro íntimo, desde 
que o indivíduo se recuse a realizar prestação substitutiva, 
estabelecida por lei. A redação da norma dá ensejo a que se admita 
que outras causas, além da oposição à guerra, possam ser 
levantadas para objetar ao cumprimento de uma obrigação – o que 
poderá conduzir a sanções, se houver prestação alternativa prevista 
em lei e ela também for recusada pelo objetor. 
 Por fim, com escopo ainda na liberdade religiosa, e, assim, no mesmo lastro 
da garantia da liberdade de pensamento, insta salientar, conforme melhor 
entendimento do diploma constitucional que versa sobre o assunto, que ao Estado é 
incabível a total indiferença quanto ao âmbito religioso, recaindo sobre ele certas 
obrigações de modo a efetivar as liberdades expressas. Ora, uma vez que o Estado 
brasileiro não é confessional, assumindo assim para si uma religião em primazia, 
também não se apresenta como ateu, conforme demonstrado no preâmbulo da 
Carta Magna pátria, que invoca a proteção de Deus. 
Consequência disso é admissão, dentre outros exemplos, do ensino religioso 
em escolas públicas de ensino fundamental (CF, art. 210, § 1º), que permite o 
ensino da doutrina de uma dada religião para os alunos interessados, e, ainda, a 
produção de efeitos civis no casamento religioso, realizado na forma do disposto em 
lei (CF, art. 226, §§ 1º e 2º). O art. 5º, VII, da CF assegura, semelhantemente, a 
prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação 
coletiva, pondo à disposição o conforto religioso aos que o desejam, não lhes sendo 
privado tal direito. 
 
3.2 O direito fundamental de objeção de consciência: a educação domiciliar 
como uma alternativa legal para o objetor 
 
Dentreos principais motivos que impulsionam os pais a preferirem a 
educação familiar consiste em razões de ordem religiosa e convicções filosóficas, 
uma vez que a matriz curricular ofertada pelo Estado não abrange de maneira 
equitativa as variadas concepções existentes no espaço democrático, possibilitando, 
 
 
29 
 
 
assim, questionamentos quanto aos limites da intervenção estatal no âmbito privado 
e a solução de conflitos entre princípios constitucionais. 
A Constituição Federal traz, em seu artigo 5º, que trata das garantias e 
direitos fundamentais do indivíduo, em seu inciso VIII, a garantia de que ninguém 
poderá ser privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção 
filosófica ou política, salvo se as invocar como escusa de obrigação legal a todos 
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, definida em Lei. 
Somado a este direito fundamental, porém não com este confundindo-se, 
tem-se o inciso VI, do artigo 5º da Magna Carta, que faz alusão à liberdade de 
consciência. Essa liberdade refere-se à “capacidade de o individuo formular juízos 
de si mesmo e do mundo que o circunda” conforme preceitua o ministro da Suprema 
Corte, Gilmar Mendes (2012, p. 442), de tal maneira que o Estado não pode interferir 
na esfera subjetiva, impondo-lhe concepções a serem seguidas, mas sim possibilitar 
meios de exercê-la livremente. 
Uma das maneiras com as quais o Estado permite que o indivíduo exerça 
tanto sua liberdade de consciência como sua liberdade de crença e convicção 
filosófica é através da objeção de consciência, trazida pelo texto constitucional em 
seu art. 143, atribuído à escusa de serviço militar se realizada prestação alternativa, 
não se limitando, todavia, a essa hipótese. 
A falta de previsão legal de prestação alternativa, como seria o caso dos pais 
que optassem pela educação domiciliar, isentando-se, assim, de matricular seus 
filhos em ensino escolar por motivos religiosos, não deve ser óbice para o livre 
exercício do direito de crença religiosa ou convicção filosófica, uma vez que 
resultaria no cerceamento de um princípio constitucional de aplicação imediata, que 
trata de liberdades individuais. Além disso, o artigo citado tem por escopo proteger o 
indivíduo contra a imposição da maioria, lhe garantindo, assim, o direito à objeção 
de consciência, como bem explicitado pelo Ministro Gilmar Mendes (2012, p.443-
444): 
A falta de lei prevendo a prestação alternativa não deve levar 
necessariamente à inviabilidade da escusa de consciência; afinal, os 
direitos fundamentais devem ser presumidos como de aplicabilidade 
imediata (art. 5º, § 1º, da CF). Cabe, antes, se uma ponderação de 
valores constitucionais o permitir, ter-se o objetor como desonerado 
da obrigação, sem que se veja apenado por isso. A objeção de 
consciência consiste, portanto, na recusa em realizar um 
 
 
30 
 
 
comportamento prescrito, por força de convicções seriamente 
arraigadas no indivíduo, de tal sorte que, se o indivíduo atendesse ao 
comando normativo, sofreria grave tormento moral. [...] A objeção de 
consciência admitida pelo Estado traduz forma máxima de respeito à 
intimidade e à consciência do indivíduo. O Estado abre mão do 
princípio de que a maioria democrática impõe as normas para todos, 
em troca de não sacrificar a integridade íntima do indivíduo. 
A aplicação da objeção de consciência é, portanto, perfeitamente cabível ao 
homeschooling, pois coibir a prática de ensino domiciliar tolheria, para os pais, o 
direito de manifestar sua crença ou convicção filosóficas, repassando-as a seus 
filhos, ferindo-lhes o direito de liberdade de expressão e de consciência, além de 
lhes proibir educá-los da maneira que consideram mais adequadas para atingir a 
finalidade para a qual se propõe a educação. 
Além disso, sob a égide dos princípios da laicidade estatal e da liberdade de 
crença, sobre os quais está estabelecida a ordem social brasileira, insta salientar 
que é vedado ao Estado, e, por conseguinte, ao ensino público – uma vez que as 
escolas particulares podem ser confessionais – primar por determinada religião, ou, 
ainda, de ir contra a manifestação de alguma em específico. É o que entende o 
Ministro Alexandre de Moraes, ao julgar a controvérsia gerada sobre o artigo que 
estabelece o ensino religioso de matrícula facultativa, constante no art. 19, inciso I, 
da CF/88, na Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº 4.439, ipsis litteris: 
[...] Insisto, um Estado não consagra verdadeiramente a liberdade 
religiosa sem absoluto respeito aos seus dogmas, suas crenças, 
liturgias e cultos. O direito fundamental à liberdade religiosa não 
exige do Estado concordância o parceria com uma ou várias 
religiões; exige, tão somente, respeito; impossibilitando-o de mutilar 
dogmas religiosos de várias crenças bem como de unificar dogmas 
contraditórios sob o pretexto de criar uma pseudo neutralidade no 
“ensino religioso estatal”. 
 
O Poder Público tem a obrigação constitucional de garantir a plena 
liberdade religiosa, mas, em face de sua laicidade, não pode ser 
subserviente, ou mesmo conivente com qualquer dogma ou princípio 
religioso que possa colocar em risco sua própria laicidade ou a 
efetividade dos demais direitos fundamentais, entre eles, o princípio 
isonômico no tratamento de todas as crenças e de seus adeptos, 
bem como dos agnósticos e ateus. 
 
A discussão entre as esferas da liberdade de crença e o direito dos pais em 
retirar seus filhos da escola por motivos religiosos e convicções filosóficas é também 
tratada em âmbito internacional, e sobre essa se trará exemplos de cortes 
 
 
31 
 
 
estrangeiras. Assunto semelhante foi julgado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do 
Homem, que tratou do ensino do cristianismo e respeito às convicções religiosas dos 
pais, no caso Folgerø and Others versus Norway (GC), e considerou que: 
A recusa em conceder aos pais autorização para que os filhos não 
cursem matéria com ênfase no ensino do cristianismo viola o direito 
que possuem de educá-los em conformidade com suas convicções 
religiosas e filosóficas, nos termos do artigo 2º do Protocolo nº 1 da 
CEDH. (BRASIL, 2018) 
No caso em tela, os requerentes, pais não-cristãos, pleitearam a permissão 
para não matricularem seus filhos em matérias com ênfase no ensino cristão, 
decorrente de mudança no currículo escolar, queixando-se que a imposição de 
frequência “[...] à instrução religiosa interferiu injustificadamente no direito dos pais à 
liberdade de pensamento, consciência e religião [...].” (BRASIL, 2018) entendendo 
também pela violação do direito de assegurar o ensino em conformidade com suas 
convicções religiosas e filosóficas. 
Em outro julgado, desta vez na Dinamarca, houve interessante decisão sobre 
o tema do direito de crença dos pais frente ao ensino oferecido pelo Estado. No caso 
Kjeldsen, Busk Madsen and Pedersen versus Denmark, três casais, com filhos em 
idade escolar, ajuizaram contra a introdução de educação sexual obrigatória nas 
escolas primárias estaduais do país perante o Tribunal Europeu de Direitos do 
Homem. A corte negou o requerimento alegando que: 
O Estado dinamarquês não obriga os pais a confiar seus filhos às 
escolas estaduais, podendo educá-los em casa ou confiá-los a 
escolas privadas que melhor se adequem às suas convicções 
religiosas. (BRASIL, 2018) 
Tais decisões demonstram que o Estado deve oferecer alternativas que se 
adequem às concepções dos responsáveis pela formação das crianças e 
adolescentes, protegendo, assim, suas liberdades individuais. 
Assim, mostra-se cabível a oferta da educação domiciliar como alternativa 
para resguardar os direitos e garantias constitucionalmente radicados de crença, 
convicção filosófica e de consciência. Ora, a imposição de matrícula obrigatória no 
ensino regular para os pais ou responsáveis que divergem da educação oferecida 
pelo ensino público mostra-se contrário às características de pluralismopolítico e 
laicidade estatal. 
 
 
32 
 
 
Pode-se, todavia, argumentar sobre a possibilidade de matrícula em escolas 
privadas de cunho confessional a fim de garantir o respeito aos direitos individuais 
das famílias discordantes do ensino oferecido. Todavia, pergunta-se: caso os pais 
não possuam condições ou, ainda, caso não haja escolas que se adequem àquela 
determinada crença ou convicção, é razoável a supressão de seus direitos e 
garantias individuais e, ainda o cerceamento do exercício do poder familiar para 
educar e criar seus os filhos? Ora, havendo uma alternativa legal como se mostra a 
educação domiciliar, a resposta é negativa. 
Por todo o exposto até aqui, demonstra-se que a possibilidade de ofertar aos 
pais ou responsáveis a prática do homeschooling assegura a existência de um 
“Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e 
individuais, a liberdade, [...] valores supremos de uma sociedade [...] pluralista [...]” 
(CF/ 88, preâmbulo), sobre o qual se estabelece a sociedade brasileira. 
 
3.3 Liberdade Religiosa versus Educação Formal Obrigatória 
 
Noberto Bobbio (1995) classifica o ordenamento jurídico enquanto sistema 
relacionando o nível de coerência entre suas normas, de modo que além de 
apresentar-se como um ordenamento uno e com alguma espécie de hierarquia, cujo 
fundamento basilar seja a norma fundamental, deva constituir um sistema cujas leis 
não apresentem antinomia, ou seja, não venha uma a invalidar a outra, sendo 
responsabilidade do intérprete resolver os impasses trazidos por supostas 
contradições. 
Contudo, pode haver normas válidas e que apresentam entre si certa 
antinomia, ou seja, certa incompatibilidade, de modo que ambas não podem 
coexistir sem que uma invalide a outra ou enseje a ineficácia, ainda que parcial, de 
sua aplicação. As antinomias, classifica Bobbio (1995, p. 91), tratam da situação de 
incompatibilidade de normas, de modo que uma ordena e outra proíbe certa 
conduta, ou uma norma ordena conduta tal, porém outra permite não fazê-la ou, 
ainda, certa norma proíba determinada conduta, sendo essa permitida por outra 
norma. A solução para tais contradições, continua o autor, cabem ao intérprete da lei 
 
 
33 
 
 
através da aplicação de certos critérios, dentre os quais o critério cronológico, o 
critério da hierarquia, e, por fim, o critério da especialidade. 
Hodiernamente, o fenômeno conhecido como “Constitucionalização” busca 
validar as normas do ordenamento jurídico com base na Constituição Federal, uma 
vez que este documento resguarda todas as regras, princípios e garantias 
fundamentais, buscando, assim, a máxima efetividade possível aos valores 
constitucionais. Para tanto, utiliza-se a submissão das normas em geral ao controle 
de constitucionalidade, de modo a aferir se tal norma ou texto legal adéqua-se 
eficazmente ao filtro constitucional. 
Semelhantemente à antinomia de Bobbio, é possível que os direitos dispostos 
na Constituição Federal apresentem, em primeiro plano, conflitos ou 
incompatibilidades, não sendo cabível que um derrogue o outro, uma vez que são 
válidos e estão de acordo com o ordenamento vigente. Do mesmo modo, a solução 
para tais divergências dá-se através da hermenêutica jurídica, que, mormente utiliza-
se do princípio da proporcionalidade ou razoabilidade, porém não unicamente deste, 
desde que preenchidos os requisitos de necessidade, adequação e 
proporcionalidade em sentido estrito. 
Na teoria do jurista Robert Alexy (1993, apud LIMA, 2014), as normas 
constitucionais podem ser classificadas em regras e princípios, em que as primeiras 
devem ser integralmente observadas (regra do tudo ou nada), enquanto os 
princípios consistem em modos de otimização, devendo ser cumpridos em maior 
grau possível. Quando da existência de colisão entre regras, só há duas 
possibilidades para solucionar a questão: uma das regras é declarada inválida, ou 
faz-se necessária a introdução de uma cláusula de exceção em uma delas. Esta 
última situação afasta a necessidade de invalidação da regra, permitindo, assim, a 
sua não aplicação. Dos princípios, por sua vez, não há invalidação. Quando da 
colisão entre eles, um deve ceder frente ao outro, levando em consideração que 
alguns princípios têm preferência sobre outros, dado o caso concreto. Enquanto os 
conflitos (de regras) são resolvidos na dimensão de validade, as colisões de 
princípios são resolvidas na dimensão de “peso” (LIMA, 2014). 
É, portanto, nesse campo que se trava a discussão entre as liberdades 
individuais de pensamento e, juntamente, a liberdade de crença e de convicção 
 
 
34 
 
 
filosófica frente à obrigatoriedade da matrícula escolar em rede de ensino formal, 
uma vez que se faz necessário ponderar até que ponto pode o Estado intervir na 
criação e educação infanto-juvenil, cerceando, assim, o direito dos pais de provê-la 
de forma que melhor se adéqua à sua crença e à plena formação do indivíduo. 
Nesse sentido aduz o artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
(1948): 
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, 
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de 
religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou 
crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em 
público ou em particular. 
Lastreando tal questão, aduz o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e 
Políticos, incorporado no Brasil pelo decreto nº 592 de 1992, em seu artigo 18 que 
“os Estados Partes [...] comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais e, quando 
for o caso, dos tutores legais - de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos 
[...].” de acordo com suas convicções e crenças. 
O mesmo entendimento é trazido pela Convenção Americana de Direitos 
Humanos (1969), através do Pacto de San José da Costa Rica, em seu artigo 12, 
que trata da liberdade de consciência e de religião, e traz que: 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. 
Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas 
crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a 
liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, 
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. 
2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam 
limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou 
de mudar de religião ou de crenças. 
[...] 
4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus 
filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja de 
acordo com suas próprias convicções. (BRASIL, 1992) 
 
A educação nada mais é senão o instrumento próprio para a transmissão 
cultural de valores e princípios familiares e sociais, estando, portanto, 
intrinsecamente relacionado às liberdades de consciência, crença e religião. No 
melhor dizer de Alexandre Moreira (2017, p. 111), a educação há de ser um dos 
campos mais permeados por valores políticos, morais, filosóficos e religiosos, uma 
vez que a educação é uma atividade não neutra e que é papel intrinsecamente 
 
 
35 
 
 
paterno o repasse de crenças, valores e visões de mundo às crianças e 
adolescentes. 
O art. 210 da CF/88, ademais, estabelece que uma das finalidades da fixação 
de conteúdos mínimos para o ensino fundamental é “[...] assegurar formação básica 
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais [...]” e, 
aliado a esse dispositivo, lê-se no art. 215 do mesmo documento que deverá existir 
garantia estatal para que todos possam exercer plenamente seus direitos culturais. 
Ora, como dito anteriormente, a família é o núcleo mais importante da sociedade e é 
a principal transmissora da identidade cultural para as próximas gerações. Alexandre 
Moreira (2017, p. 117) bem explicita tal argumento, nesse sentido: 
Fora das escolas e das instituições oficiais, o patrimônio cultural é 
transmitidoàs novas gerações em sentido fundamental pela família, 
por meio da educação domiciliar. Na verdade, a família é a unidade 
cultural mais importante, pois não apenas transmite todos os dias o 
patrimônio cultural aos filhos, como também garante que, devido às 
suas mais diversas formações culturais, cada cultura específica seja 
preservada por meio da transmissão às novas gerações. 
Ora, aos pais é garantido o direito de transmitir seus valores, ou seja, sua 
cultura familiar aos seus filhos como forma de exercer suas liberdades de crença, 
pensamento e convicção e uma vez que, sendo a cultura um conjunto de valores, o 
direito de decidir sob qual cultura serão educados os mais jovens recai sobre 
aqueles em primeiro lugar. É o que se extrai, outrossim, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (1990) em seus artigos 3º, 19, e 22, que estabelecem ser direito da 
criança e do adolescente “ser criado e educado no seio de sua família”, incumbindo 
aos pais o dever de educação dos filhos menores, que consistirá na melhor forma de 
proporcionar “todas as oportunidade e facilidades, a fim de lhes facultar o 
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade 
e de dignidade.” 
Defender a bandeira das liberdades individuais intrínsecas à consciência 
humana é defender, por certo, a sua dignidade, uma vez que nela se perfaz a 
qualidade peculiar que “[...] o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por 
parte do Estado e da comunidade [...].” (SARLET, 2007, p. 383). Portanto, dadas 
certas situações, a liberdade de crença religiosa e de convicção deve dar aos pais o 
direito de retirar os filhos da escola e educá-los em casa, uma vez que pode não 
haver escolas confessionais viáveis ou compatíveis com aquela determinada crença, 
 
 
36 
 
 
não sendo aceitável que os pais devam optar por ter que suprimir um direito 
individual quando a única ação condizente com seu sistema de crenças e convicção 
filosófica dá-se por meio da educação domiciliar. 
A configuração do direito à educação como direito fundamental, presente 
tanto na CF/88 como na legislação infraconstitucional estabelecido como dever do 
Estado de garantir a todos acesso à educação básica não significa que a sociedade 
tenha outorgado, de forma exclusiva, a oferta da educação ao Estado. Portanto, não 
deve haver hegemonia estatal isolada. A educação formal também pode ser 
oferecida pela esfera privada, tanto pelas instituições de ensino como pela família, 
sobre quem recai a responsabilidade primária na formação dos filhos. 
Ao Estado cabe a fiscalização do cumprimento do dever pertencente ao poder 
familiar, de modo a garantir o desenvolvimento dos indivíduos, através do 
aprimoramento de suas potencialidades e capacidades. Para tanto, o Estado não 
pode ofender a liberdade dos pais no que se refere à escolha do modo em que 
ocorrerá o processo de educação, uma vez que o modelo para sua efetivação é uma 
escolha individual, que cabe aos pais quando de crianças e adolescentes. 
A escolarização obrigatória não deve ser a única alternativa para a efetivação 
do direito à educação, uma vez que o conceito do termo abrange bem mais do que a 
simples instrução e matrícula em rede de ensino regular. O ato de educar consiste 
na formação moral e intelectual, o que acontece também no seio familiar, e que se 
completa apenas quando família e sociedade se fazem presentes para a formação 
individual de crianças e adolescentes. 
Ora, “quanto maior a intervenção externa na vida de uma pessoa, menor sua 
autonomia e mais exposta a riscos estará sua dignidade” (MOREIRA, 2017, p. 89). 
Portanto, deve-se levar em consideração que a escolarização compulsória configura 
uma forma de intervenção autoritária no núcleo familiar por parte do Estado, pois 
obriga os pais a confiarem seus filhos ao modelo de ensino estatal, a sua matriz 
curricular e a seus métodos de aprendizado durante toda a sua infância e 
adolescência. 
 
 
 
 
37 
 
 
4 AUTONOMIA DA FAMÍLIA E PODER FAMILIAR 
 
O atual cenário de intervenção estatal caminha para o distanciamento da 
gestão pública nas relações particulares, especialmente no âmbito familiar. Embora 
a Constituição Federal vigente tenha dado especial proteção a esse núcleo, o 
princípio da intervenção mínima do Estado na família vem ganhando expressiva 
força no que se refere aos arranjos familiares contemporâneos. 
A proibição, ainda que não absoluta, da intervenção estatal é estabelecida no 
art. 1513 do Código Civil (2002) que veda interferência na comunhão da vida familiar 
por qualquer pessoa, tanto de direito público como privado. Nesse contexto, o 
Estado só deve intervir nos casos em que o poder familiar não for exercido de forma 
adequada. Assim asseveram Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2016, p. 48): 
Nas relações de família, a regra geral é a autonomia privada, com a 
liberdade de atuação do titular. A intervenção estatal somente será 
justificável quando for necessário para garantir os direitos (em 
especial os direitos fundamentalmente reconhecidos em sede 
constitucional) de cada titular, que estejam periclitando. É o exemplo 
da atuação do Estado para impor a um relutante genitor o 
reconhecimento da paternidade de seu rebento, através de uma 
decisão judicial em ação de reconhecimento de filho (investigação de 
paternidade). Também é o exemplo da imposição de obrigação 
alimentícia a um pai que abandona materialmente o seu filho. Em tais 
hipóteses, impõe-se a atuação estatal para evitar a violação frontal a 
direitos e garantias reconhecidas aos titulares. Em síntese apertada, 
porém completa: o Estado somente deve interferir nas entidades 
familiares para efetivar a promoção dos direitos e garantias 
(especialmente, os fundamentais) dos seus componentes, 
assegurando a dignidade. 
Dessa forma, é possível perceber que a ação direta do Estado em âmbito 
familiar deve dar-se única e tão somente mediante a total inviabilidade dos pais em 
exercer os deveres inerentes ao poder familiar, de modo a resguardar, assim, os 
direitos da criança e do adolescente. Tal intervenção, ainda que em casos de 
disfunção familiar, não é permanente ou irreversível, conforme dispõe o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (1990). Segundo o texto normativo, a retirada do seio 
familiar não pode se dá por período superior a 18 meses, sendo preferíveis a 
manutenção ou a reintegração da criança ou adolescente à sua família relacionado a 
qualquer outra providência, caso em que será essa incluída em serviços e 
programas de proteção. 
 
 
38 
 
 
Consequência lógica seria, então, a possibilidade de, tal qual exposto a 
seguir, ser primariamente dos pais a responsabilidade pela plena formação e 
desenvolvimento humano de seus filhos através da educação exercida na forma que 
estes optarem como a mais adequada e, esta, em conformidade com suas crenças e 
valores. 
4.1 O status da família na legislação brasileira 
 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também conhecida como 
Pacto de San José da Costa Rica, incorporado à legislação brasileira em 1992, 
afirma em seu artigo 17, I, que a família é o elemento natural e fundamental da 
sociedade e, por isso, deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. No mesmo 
sentido, o texto constitucional traz em seu bojo diversas normas que regulamentam 
a família, uma vez que esta se configura, para o constituinte originário, como base 
da sociedade, sobre a qual recai especial proteção do Estado. 
Para tanto, o art. 226 da lei maior assegura ao casamento a sua gratuidade, 
estende ao casamento religioso efeito civil, desde que nos termos da lei; reconhece 
a união estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes 
como ente familiar; assegura o direito de constituição e planejamento familiar, 
fundado no princípio da paternidade responsável, competindo ao Estado propiciar 
recursos educacionais e científicos para o

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