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Introdução à Epidemiologia → Deve-se conhecer o perfil epidemiológico do Brasil, bem como seus determinantes. Com isso, há uma reflexão sobre as condições sócio-econômicas, político-culturais e sanitárias dos determinantes do processo saúde-doença e sua distribuição em coletividades humanas. Na epidemiologia descritiva, vemos o processo saúde-doença, seus determinantes e medidas de controle, nos utilizando sempre de fontes e bases de dados; vemos a distribuição das doenças segundo variáveis relacionadas à pessoa, espaço e tempo (o processo epidêmico). A epidemiologia se divide em duas partes: descritiva e analítica. A importância da epidemiologia é, dentre muitas, a interpretação de dados. A palavra epidemiologia, sendo dividida em sua raíz, nos diz o estudo sobre aspectos da população. ● Epi: sobre ● Demos: povo ou população ● Logos: estudo ↪ A epidemiologia, por exemplo, questiona o por quê de uma doença se desenvolver em algumas populações e não outras, e como tratá-las. Atualmente (2008, Porta), a epidemiologia é definida como “estudo da ocorrência e distribuição de estados ou eventos relacionados à saúde em populações específicas, incluindo o estudo de determinantes que influenciam estes estados e a aplicação deste conhecimento no controle dos problemas de saúde.” ● Incluem doenças, causa de óbito, comportamento como uso de cigarros, adesão a condutas preventivas e ao uso de serviços de saúde ● Fatores físicos, biológicos, sociais, culturais, econômicos e de comportamento que influenciam a saúde Termo Explicação Estudo Inclui vigilância, observação, teste de hipóteses e pesquisas analíticas e experimentais Distribuição Refere-se à análise quanto ao tempo, pessoas, lugares e grupos de indivíduos afetados Determinantes Inclui fatores que afetam o estado de saúde, dentre os quais os biológicos, químicos, físicos, sociais, culturais, econômicos, genéticos e comportamentais Estados ou eventos relacionados à saúde Referem-se a doenças, causas de óbito, hábitos comportamentais (tabagismo), aspectos positivos em saúde (bem-estar), reações a medidas preventivas, utilização e oferta de serviços de saúde entre outros População Inclui indivíduos com características específicas. Aplicações na prevenção O objetivo da saúde pública é promover, proteger e restaurar a saúde. → A epidemiologia origina-se de hipócrates há mais de 2000 anos, que acreditava que fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças, porém, foi somente no século 19 que a distribuição das doenças em grupos humanos específicos passou a ser medida em larga escala. ↪ John Snow: conhecido como pai da epidemiologia, pois elaborou a teoria da transmissão da cólera → Teoria dos miasmas: o resultado de uma putrefação que causava várias fumaças, e antigamente acreditava-se que essa fumaça levava à ocorrência das doenças. Acreditava-se que, quanto mais ‘abaixo’, essa nuvem de fumaça se encontrava, maior era o número de mortes. Através da observação, John Snow desmentiu essa teoria e provou, por mapeamento, que o fator determinante para a morte por cólera era a água contaminada coletada pela empresa. ↪ A epidemiologia atual é uma disciplina relativamente nova e usa métodos quantitativos para estudar a ocorrência de doenças nas populações humanas e para definir estratégias de prevenção e controle. A bioestatística se responsabiliza em quantificar os desfechos de saúde; através de eventos probabilísticos, determina-se a ocorrência dessas doenças, a fim de prevenção e controle. → Epidemiologia descritiva x analítica: ● Epidemiologia descritiva: examina a distribuição das doenças ou eventos na população e observa as características dessa distribuição; apenas descreve. ● Epidemiologia analítica: testa hipóteses sobre a causa da doença ou agravo estudando como a exposição se associa com a doença ou evento; analisa. ↪ Os epidemiologistas fazem a medição da frequência de doenças na população, medidas como: ● proporção ● chance; probabilidade (odds) ● taxa (hazard) → É importante se atentar à interpretação de dados → Objetivos da epidemiologia: ● Identificar a etiologia ou a causa de uma doença e os fatores de risco relevantes ● Determinar a extensão da doença encontrada em uma comunidade ● Estudar a história natural e o prognóstico da doença ● Avaliar medidas preventivas e terapêuticas e modelos novos ou existentes de assistência à saúde ● Fornecer fundamentos para o desenvolvimento de políticas públicas. História natural da doença e medidas de prevenção → Segundo a OMS, em 1948, a definição de saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. O processo de transição entre saúde e doença (a saúde caminhando para o adoecimento) possui alguns modelos, chamados de ‘modelos saúde-doença’ ● Modelo biomédico: patologias, clínica médica, parasitologia; é o próprio agente infeccioso levando ao processo de doenças ● Modelo processual (ou história natural): epidemiologia, risco, interação com fatores de risco; entender todo o processo da doença sem uma intervenção ● Modelo sistêmico (ou abrangente): teoria dos sistemas, ecologia; no qual o ambiente influencia a doença ● Modelo sociocultural: sociologia, antropologia; a sociedade também tem parcela de influência na doença ↪ O modelo de saúde-doença possui dois pontos de vistas: ● Ponto de vista clínico: aguda ou crônica ● Ponto de vista da patologia: infecciosa ou não infecciosa Infecciosa Não infecciosa Aguda gripe, rubéola, varicela, dengue... fratura, picada de insetos, reações alérgicas, acidentes, quedas.... Crônica HIV/AIDS, tuberculose, hanseníase, doença de chagas, hepatite C... hipertensão arterial, diabetes, bronquite, rinite, sinusite, câncer, alzheimer, parkinson, depressão, esquizofrenia, esclerose múltipla... → A saúde não é ausência de doenças, ela considera a ação de fatores socioeconômicos e culturais, psicológicos e de hábitos de vida sobre a saúde. A história natural das doenças é o conjunto de processos interativos que compreendem “as inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estilo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do ser humano ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte”. (LEAVELL & CLARK, 1976). Em resumo, é o curso da doença desde seu início patológico até sua resolução, na ausência de intervenção. ● Conhecimento importante para instruir ações que visem modificar o curso natural das doenças. ● Para detectar as doenças em fases mais inicial de sua história natural e tornar o tratamento mais eficaz. ● Conhecer a gravidade da doença para estabelecer prioridades para programas de saúde pública. ↪ A história natural da doença tem desenvolvimento em dois períodos sequenciados: ● Período epidemiológico (pré-patogênese): o interesse é dirigido para as relações suscetível-ambiente. É o período em que a doença ainda não surgiu do organismo. No período pré-patogênico, descrevemos a interação da pessoa com os fatores de risco e a interação da pessoa com o ambiente em que ela vive e ainda mais se a pessoa possui condições físicas e genéticas que podem protegê-la ou prejudicá-la em relação à doença. Exemplo: ○ Pessoa que fuma cigarros enquanto é jovem; ○ Pessoa ainda não foi picada pelo Aedes aegypti infectado pelo zika vírus. ↪ Fatores que influenciam no período pré-patogênico sócio econômicos sócio políticos sócio culturais psicossociai s ambientais genéticos Os pobres adoecem mais, morrem mais cedo, taxa leis mais favoráveis, participação da população defecar e urinar no solo, jogar lixo na rua, desperdício ausência de boa relação familiar, trabalhos estressantes agentes patogênicos no ambiente, poluição ambiental, presença de genes que favorecem o desenvolvim ento de de mortalidade infantil é mais alta entre os mais pobres, pobres têm mais filhos com baixo peso nas decisões, transparência nas relações do Estado com a população, corrupção de recursos, acreditar que os políticos resolvem tudo, falta de cuidado com a própria saúde , promiscuida de, carência afetiva moradias em locais de risco. Solo, clima, topografia, vegetação doenças, como a distrofia muscular de Duchenne, gene BRCA1 e BRCA2 ligados ao câncer de mama e ovário; síndromes genéticas ↪ No período pré-patogênico: força de estímulo patológico, temos a configuração de risco máximo (ex, substâncias injetáveis que compartilham coletivamente a mesma agulha, possuindo alta probabilidade), risco intermediário e risco mínimo (por ex, pessoas ricas adoecerem por cólera é de baixa probabilidade) ● Período patológico (período de patogênese): o interesse nas modificações que se passam no organismo vivo. Onde ocorre a infestação e manifestação da doença. No horizonte clínico, observamos os sinais dos sintomas, que é a transição da fase pré-clínica para a fase clínica → A tríade epidemiológica: ● Hospedeiro: idade, sexo, etnia, religião, hábitos, ocupação, perfil genético, estado civil, antecedentes familiares, características genéticas, doenças anteriores e estado imunológico. ● Agente: biológicos (microorganismos), químicos (veneno, álcool, fumo e medicametos), físicos (trauma, radiação, fogo), nutricionais (deficiência ou excesso) ● Ambiente: temperatura, umidade, altitude, aglomeração, moradia, vizinhança, água, leite, alimentação, radiação, poluição atmosférica, ruído → Níveis de prevenção: primeiramente, deve-se conceituar a prevenção, que é a ação antecipada tendo por objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença na comunidade ou no indivíduo. Identifica riscos, atua sobre eles, mas não considera de sua alçada a gênese desses riscos. ● Prevenção primária: presente no período pré-patogênico, que é promoção da saúde e proteção específica ○ População como um todo ○ Dirigida a ação sobre determinantes; ○ Causalidade: ■ Social; econômica; cultural; política e ambiental. ○ Conceito moderno: ■ Políticas públicas saudáveis e intersetoriais que atuem nesses determinantes do processo saúde doença. ○ Moradia adequada; ○ Escolas ○ Áreas de lazer; ○ Alimentação adequada; ○ Educação em todos os níveis; ○ Educação em saúde; ○ Atividade física regular; ○ Saneamento básico. ○ Proteção específica: direcionada para um tipo de doença ■ Imunização; ■ Saúde do trabalhador; ■ Higiene pessoal e do lar; ■ Proteção contra acidentes; ■ Aconselhamento genético; ■ Controle de vetores e reservatórios; ■ Uso de preservativos e seringas descartáveis ● Prevenção secundária: diagnóstico, tratamento precoce, limitação de danos e o próprio tratamento (período patogênico) ○ Diagnóstico precoce: ■ Inquérito para descoberta de casos na comunidade; ■ Exames periódicos, individuais, para detecção precoce de casos; ■ Isolamento para evitar a propagação de doenças; ■ Tratamento para evitar a progressão da doença. ○ Limitação da incapacidade ■ Evitar futuras complicações; ■ Evitar sequelas; ■ Reduzir o risco de transmissão da doença. ● Prevenção terciária: reabilitação ○ Reabilitação (impedir a incapacidade total); ○ Fisioterapia; ○ Terapia ocupacional; ○ Emprego para o reabilitado; ○ Melhoria da qualidade de vida da pessoa com sequela. ● Prevenção quartenária: novo conceito que surge em 1995 Jamoulle e Roland; ○ Não relacionada ao risco de doença, mas ao risco por excesso de intervenção, medicalização desnecessária; ○ Conjunto de medidas para evitar intervenções desnecessárias e diminuir efeitos adversos dos tratamentos. Medidas de ocorrência de desfechos em saúde → Medir a ocorrência de um evento relacionado à saúde. Deve-se lembrar dos conceitos de epidemiologia analítica e descritiva. As medidas de ocorrência ou frequência são baseadas em: ● Proporção ● Prevalência ● Incidência cumulativa (risco; probabilidade) ● Odds (chance) ● Hazard (densidade de incidência - força de morbidade/mortalidade) → Expressar variáveis qualitativas, ou seja, medidas de ocorrência ou frequência. Mas como calcular medidas de frequência? Existem duas formas ● Medidas absolutas: é um número absoluto, por exemplo, quando se pergunta quantas pessoas tem dengue; temos um número X (número de casos) ● Relativas: geralmente é uma razão, proporção, taxa e odds. → Razão: é o quociente de duas quantidades, no qual o numerador não é necessariamente incluído no denominador. Nos permite comparar quantidades de diferentes naturezas. ● Ex: número de leitos por médicos ○ 850 leitos/10 médicos = 85 leitos por 1 médico. → Porcentagem: quociente de duas quantidades, no qual o numerador necessariamente incluído no denominador. As quantidades devem ser da mesma natureza, e as proporções sempre variam entre 0 e 1 ● Porcentagem = proporção x 100 → Taxa: quociente de duas quantidades, que mede a velocidade de ocorrência de um evento no tempo ● Numerador: número de eventos observados num determinado tempo. ● Denominador: população na qual o evento ocorreu (população sob risco). Inclui tempo. ○ Ex: a taxa de uma doença na população em 2005 → Prevalência e incidência: são duas medidas relativas; estima-se doenças ou eventos relacionados à saúde. ● A prevalência é uma razão entre o número de casos presentes (somando-se o antigo e o novo) e a população em risco. Mede a magnitude de uma doença, condição ou exposição na população, a probabilidade de ter a doença. Casos existentes de desfecho em um ponto no tempo. ● A incidência é uma razão entre os casos novos e a população sem desfecho no início do seguimento, ou seja, avalia com que frequência ocorrem casos novos de uma doença, a probabilidade de desenvolver a doença. Novos casos de desfecho em um período determinado. ● Para ambos acima, o resultado pode ser expresso em percentual (x100) ou por 1.000, 10.000 ou 100.000 (o mais comum é a multiplicação por 100) → Relação incidência x prevalência: a prevalência é a incidência multiplicada pela duração do evento/doença. ● Supondo que na imagem a seguir, a água no tanque representa os casos de doença; número de casos. O que aumenta o número de casos (sendo as torneiras que enchem o tanque) são doentes novos e doentes que imigram para determinado lugar em busca de tratamento. Óbitos, Doentes que emigram que saem de tal lugar e as curas diminuem a prevalência da doença em X local. → Prevalência vs. causalidade: a prevalência não é uma boa medida para avaliar uma relação causal. A incidência que determina causalidade. ● Ex: Quero saber a prevalência de câncer de laringe; supondo que é uma prevalência de 15%, podemos relacionar esse câncer ao fumo? Não, pois não se faz o acompanhamento dos indivíduos; não se sabe se ele apenas estava exposto num ambiente de trabalho que propiciava, etc. A incidência que permite a correlação entre causa e desfecho, pois nela que acompanha-se os indivíduos, relaciona-se fatores de risco e aí determinamos o surgimento da doença, permitindo então a relação causal. → Exemplo abaixo: a perda não necessariamente é um óbito, pode ser qualquer outro motivo que tenha levado o indivíduo a abandonar o estudo ● Em T0, temos 2 doentes, com um total de 10 pessoas. Mas não temos nenhum doente novo além dos já conhecidos. Na incidência, não se conta os doentes ‘antigos’ ● Em T1, 3 doentes com 10 pessoas. Temos 1 doente novo, e devemos colocar no denominador os saudáveis em T0 ● Em T2, temos 4 doentes, mas 9 pessoas (1 perda). 2 doentes novos, comparando com os saudáveis em T0 → Odds (ou chance): Quociente de duas quantidades, a probabilidade de um evento ocorra / probabilidade que um evento não ocorra, na qual o numerador não é incluído no denominador ● Ex: ● Em T0, a chance seria de 2 para 8, pois 2 pessoas estão doentes e 8 não ● Em T1, temos 3 doentes e 7 saudáveis, logo a chance é de 3 para 7 ● Em T2, temos 4 doentes, 1 perda e 5 saudáveis, sendo uma proporção de 4 para 5. ● Perda de seguimento é o caso do paciente sair do estudo clínico. ● Em 7 anos, apenas o indivíduo 3 desenvolveu a doença, e temos 5 indivíduos, então a incidênciaé de 1 para 5 (população do início do estudo, o indivíduo 2 estava no início então ele é contado) ● Em 7 anos, temos uma chance de 1 para 4, pois 1 pessoa (ind3) teve a doença, porém 4 pessoas não tiveram (um indivíduo morreu). ● No quarto ano, temos uma prevalência de 1 para 4, visto que foi no ano em que o indivíduo desenvolveu a doença (numerador = 1 pessoa), e a população total são 4 pessoas (conta-se o doente; um indivíduo morreu) → Hazard: também chamada de densidade de incidência, é a razão entre número de casos novos pelo tempo total de exposição ● Ex: na imagem a seguir, temos 5 indivíduos. ○ Ind5: dois anos na pesquisa ○ Ind4 = Ind1: sete anos na pesquisa ○ Ind3: quatro anos na pesquisa ○ Ind2: cinco anos na pesquisa ■ Logo, somando-se tudo temos 2+7+7+4+5 = 25, portanto o denominador é 25 (o tempo total de exposição). O numerador é 1, pois apenas 1 indivíduo foi afetado. ■ A razão seria 1/25, sendo 1 caso novo a cada 25 anos ou 4 casos novos a cada 100 anos. → Exemplos: Os resultados de um estudo com o objetivo de analisar a associação entre fumo e doença coronariana (estão descritos abaixo nessa tabela 2 x 2 (ou de contingência) ● Qual a incidência e a chance de doença coronariana (DC) na população total? ○ A incidência é 300/2800, pois 300 pessoas possuem DC e 2800 pessoas são o total de pessoas, dando 10,7% ○ A chance é 300/2500 pois 300 pessoas possuem DC e 2500 não possuem, dando 12% ● Qual a incidência e a chance de doença coronariana (DC) entre fumantes? ○ São 600 fumantes. A incidência é 100/600 pois 100 pessoas que fumam possuem DC e são 600 no total, dando 16,7% ○ As chances são 100/500, pois 100 fumam e tem DC e 500 pessoas fumam e não tem DC, totalizando 20% ● Qual a incidência e chance de doença coronariana (DC) entre não fumantes? ○ A incidência é 200/2200, pois 200 desenvolveram DC, e o total de não fumantes é 2200, sendo 9,1% ○ A chance é 200/2000, pois 200 desenvolveram DC e 2000 não, totalizando 10%
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