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Júlia Figueirêdo – PINESC II FERRAMENTAS DE ABORDAGEM FAMILIAR: O genograma é um método de coleta, processamento e armazenamento de informações sobre a família na qual é possível esquematizar graficamente todos os seus membros, suas inter-relações e vínculos afetivos, aspectos importantes do ponto de vista da saúde pois expõem situações e perspectivas capazes de afetar o processo de saúde-doença. Essa ferramenta pode ser utilizada para auxiliar núcleos familiares a se perceberem como estruturas sistêmicas, visando assim reestruturar comportamentos e criar relacionamentos saudáveis imprescindíveis ao bem-estar geral. Para a construção desse material empregam-se os ícones gráficos utilizados convencionalmente nos estudos de genética e na montagem de árvores genealógicas. O ponto de partida é sempre o indivíduo doente ou que seja alvo dos cuidados dos profissionais da USF, costumando contar com descrições de ao menos três gerações daquela família. O aspecto mais importante é que todos os indivíduos, mesmo que não tenham relação familiar direta ao núcleo em análise, mas que contribuem para o estabelecimento da rede de cuidados estejam ali representados, ou seja, o genograma deve ser ampliado ao máximo para permitir melhores interpretações do caso. Os familiares são dispostos em filas horizontais, representando gerações distintas, representando os falecimentos por um X sobre a iconografia individual, apontando data e demais aspectos relacionados ao evento, e as crianças dispostas em ordem decrescente de nascimento. Nome e idade da pessoa devem ser anotados dentro do símbolo atribuído a ela e dados significativos, escritos fora. É importante que estejam incluídas todas informações relevante à história da saúde- doença de todos os familiares, em especial as doenças crônicas e/ou degenerativas, e os hábitos, sejam eles saudáveis ou não. É importante salientar que o genograma apresenta-se como um retrato momentâneo da família, que deve ser atualizado com frequência, dadas as modificações constantes do ambiente familiar. Júlia Figueirêdo – PINESC II Complementar ao genograma, o ecomapa consiste na representação gráfica das interações entre os membros da família e as outras instituições sociais por meio de três dimensões distintas: a força da ligação, seu impacto e sua qualidade. Esse panorama auxilia a avaliar os suportes disponíveis para aquele núcleo e sua utilização, podendo apontar a presença de recursos que podem ser empregados para a manutenção ou recuperação da saúde individual. Da mesma forma que o mecanismo supracitado, compõe uma apresentação de um momento delimitado da vida daquela família. Qualquer profissional pode montar o ecomapa, visto que é um artifício que pode ser utilizado por todos os funcionários de uma equipe de saúde, devendo, entretanto, contar sempre com a participação e cooperação por parte da família-alvo, permitindo assim a representação facilitada das conexões sociais familiares, sejam elas com serviços prestados na comunidade, grupos sociais, relações de trabalho ou aspectos peculiares da localidade na qual esse núcleo se insere. Caso existam poucas interações, sejam elas internas ou externas, os profissionais devem investir de forma mais ostensiva na melhoria do bem-estar geral, estimulando a formação de uma rede de suporte ou proteção comunitária. A esquematização de tais fatores na exposição representativa do ecomapa consiste em círculos, delimitando cada um dos aspectos sociais relevantes a dinâmica do grupo familiar abordado, e em linhas, que definem a intensidade e a qualidade dos relacionamentos entre esses fatores, além de pontas de seta, representando o fluxo de energia ou de recursos empregados nessas interações. O Ciclo Vital das famílias, esquematização das etapas e desafios vivenciados por seus componentes desde a constituição de uma geração até o seu falecimento, deve ser analisado e interpretado, permitindo que os agentes envolvidos na atenção domiciliar possam perceber os entraves atravessados pelo grupo, sejam eles oriundos de crises previsíveis ou não. A classificação mais empregada nesse tema consiste em: Adulto jovem: momento de responsabilização emocional e financeira para o indivíduo, que inicia o processo de diferenciação em relação à família e buscam a independência; Casamento: há uma reorganização das relações afetivas com amigos e pais, além da construção de um novo sistema familiar próprio, no qual o indivíduo tem maior autonomia; Nascimento do primeiro filho: a maternidade modifica as interações entre o casal, necessitando de novos acordos e divisões de papéis, permitindo a inclusão de um novo membro na família; Família com filhos pequenos: o nascimento de outros filhos requer Júlia Figueirêdo – PINESC II articulação entre os irmãos para que sejam evitados conflitos. As crianças ganham cada vez mais autonomia e participação social, com a divisão de responsabilidades auxiliando o convívio doméstico; Família com filhos adolescentes: a família como um todo vive em crise, com sobrecarga de responsabilidades e uma perspectiva geral de envelhecimento. Os pais devem preparar-se para um grau cada vez maior de autonomia por parte de sua prole, que deve encontrar sua própria identidade; Lançando os filhos e seguindo adiante: os filhos começam a sair de casa e deixam para trás os pais novamente sozinhos, vivenciando a crise da meia-idade e a perspectiva da incapacidade e da morte dos próprios pais; Aposentadoria: a chegada de netos à família modifica as relações familiares, que passam a ser mais estreitas pela maior disponibilidade de tempo, mas os objetivos são diferentes; Velhice (famílias no estágio tardio: novamente os papéis sofrem mudanças, com centralização nas gerações do meio. A sabedoria dos idosos deve ser respeitada, sem superfuncionamento por parte dos indivíduos mais novos. Os patriarcas devem lidar com a perda de companheiros, parentes e amigos, além de acostumar-se com a proximidade da própria morte. Famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica sofrem a ação de alguns fatores externos que encurtam as fases de seu Ciclo Vital, como a gravidez na adolescência, que suprimem os segmentos de casamento e nascimento do primogênito em troca da classificação “famílias com filhos pequenos”. Devido à necessidade de trabalhar e estudar, adolescentes e adultos jovens deixam seus filhos com os avós para criação até que cheguem novamente à adolescência, momento no qual passam a ter sua própria prole. A estrutura, geralmente monoparental e a aglomeração de gerações sob um mesmo teto fazem com que famílias populares tenham ciclos de vida abreviados, organizados da seguinte forma: Família composta por jovem adulto: a busca por formas de subsistência pouco exploradas faz com que os indivíduos cresçam precocemente (a parti dos 10 anos) e por conta própria; Família com filhos pequenos: representa uma grande parcela do ciclo, com três ou quatro gerações convivendo numa mesma casa, o que faz com que as tarefas se misturem; Família no estágio tardio: a condição de “ninho vazio” (casa sem filhos, com os idosos vivendo sozinhos) é menos comum, uma vez que os mais velhos são mais atuantes na dinâmica Júlia Figueirêdo – PINESC II familiar, educando e sustentando as gerações mais novas, fase que vem crescendo nos últimos anos.
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