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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck A família representa a proteção, o apoio e também a fonte de modelos que direciona a forma como cada um aprende a ser e a enfrentar as dificuldades. Nessa perspectiva, os médicos de família e comunidade precisam conhecer todos os ingredientes que possam compor a fórmula desse antídoto e se aproximar, ainda mais, daqueles que enfrentam as situações mais críticas (GUSSO, 2ª ed.). A Política Nacional de Atenção Básica de Saúde do Ministério da Saúde, publicada em 2006, reafirma a família como sujeito do processo de cuidado e define o domicílio como o contexto social em que se constroem as relações intra e extrafamiliares e se efetiva a luta pela sobrevivência e pelas condições de vida (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). Família ↠ Trata-se de um sistema aberto, dinâmico e complexo, cujos membros pertencem a um mesmo contexto social compartilhado, lugar do reconhecimento da diferença e do aprendizado quanto ao se unir ou se separar e sede das primeiras trocas afetivo-emocionais e da construção da identidade (MS, 2013). ↠ O conceito sobre o que é família também sofre alterações de acordo com as transformações que ocorrem na sociedade. A definição de família, embora não exclusiva, é a de ser um grupo de pessoas que convivem, têm laços intensos de proximidade e compartilham o sentimento de identidade e pertencimento, que influenciarão, de alguma forma, suas vidas (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Esse grupo, em geral, possui objetivos relacionados com a preservação, a nutrição e a proteção daqueles que vivem em conjunto e tem seu próprio modo de perceber o mundo (GUSSO, 2ª ed.). IMPORTANTE: Conhecer os papéis de cada indivíduo da família – cuidadores e provedores, quem toma as decisões, quem resolve os problemas. CONHECER O HISTÓRICO: tipo de família, recurso financeiro, segurança, saúde, suporte emocional interno e externo. O QUE OBSERVAR DURANTE UMA ABORDAGEM FAMILIAR? Tópicos relevantes para observação durante uma abordagem familiar no domicílio que facilitarão o entendimento global da estrutura e do funcionamento familiar: ➢ Limites ou fronteiras: espera-se que sejam claros e flexíveis, porém podem ocorrer disfuncionalidades quando estes são muito rígidos ou emaranhados. ➢ Papéis: cada integrante do sistema familiar representa papéis em sua vida, entre eles estão: de homem, empregado, empregador, pai, marido, amigo, irmão, filho, torcedor etc. De acordo com cada subsistema familiar, é importante que o profissional de Saúde identifique a função de cada um naquele contexto para poder resgatar funções e papéis, tornando o cuidado integral e, muitas vezes, resgatando a funcionalidade da família e extraindo a doença; ➢ Comunicação: o ser humano utiliza a comunicação constantemente, em todos os momentos de sua vida, mesmo quando não está falando (comunicação não verbal), mas que pode ser percebida por gestos, ações, olhares, entre outros; e a comunicação verbal (que diz respeito à fala). Nessa última, temos dois tipos de linguagem: na primeira, cada formulação possui apenas um sentido, há um estímulo e apenas uma resposta; na segunda, cada mensagem refere-se a um contexto de outras mensagens, não há mensagem e resposta única, e sim respostas múltiplas, algumas vezes imaginárias. Na prática do trabalhador de Saúde, a comunicação apresenta-se como a principal ferramenta de trabalho. E é necessário, portanto, estar atento se a mensagem que estamos passando ou recebendo está sendo adequadamente entendida. ➢ Transgeracionalidade: deve-se observar a família nuclear e a trigeracional (avós, pais e filhos), avaliando padrões de repetição, segredos e rituais que possam estar enraizados entre as gerações. TIPOS DE FAMÍLIA ↠ Verifica-se ampla variação de organização familiar de uma sociedade para outra ou mesmo no interior de uma dada sociedade. Contudo, encontram-se, principalmente, as seguintes organizações: (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ➢ Família nuclear, conjugal ou elementar: pai, mãe e filhos nascidos dessa união; os irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, habitando o mesmo espaço e tendo sua união reconhecida pelos demais membros da comunidade. Pai, mãe e filhos (biológicos ou adotivos). Pai provedor e mãe dona de casa. Atentar para violência. ➢ Família composta: compreende o conjunto de cônjuges e de seus filhos na sociedade poligâmica, sob duas modalidades: a poliginia (um homem com mais de uma esposa) ou a poliandria (uma mulher com vários maridos). ➢ Família extensa: rede familiar ligando consanguíneos, aliados e descendentes, ao longo de pelo menos três gerações, correspondendo, em geral, a uma unidade doméstica (propriedade da terra e das habitações). 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck Mais de uma geração morando todos juntos. Comum nas classes baixas. Confusões de papéis e funções. Atentar aos filhos mais novos que acumulam doenças. ➢ Família unitária: só um membro. Ex.: viúvo. Atentar para depressão, incapacidade de realizar as tarefas e cuidados pessoais. Auxílio dos vizinhos, da igreja. ➢ Família monoparental: um dos pais moram com os filhos. Atentar ao “cuidador” e a saúde das crianças. ➢ Família reconstruída: família que tinha um formato e agora formam uma nova família. Atentar sinais psicológicos – ciúmes, mal tratos. ➢ Família homoafetiva: casais com pessoas do mesmo sexo com ou sem filhos. Atentar sinais de preconceitos que podem gerar sequelas psicológicas sérias. ➢ Família instituição: instituto que tem função de criar e desenvolver uma criança, adolescente ou idoso. Ex.: orfanato, irmandades religiosas, asilos. OBS.: Pode-se afirmar que o modelo de família mais conhecido e reconhecido socialmente seja o denominado de “nuclear”, hoje adquirindo também as denominações de “natal-conjugal”, “simples”, “imediata”, “primária” ou “normal” (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). IMPORTANTE: Entender como a família influencia a saúde dá, ao médico de família e comunidade, a oportunidade de antecipar e reduzir os efeitos adversos do estresse familiar e usar a família como recurso para cuidar das pessoas (GUSSO, 2ª ed.). FUNÇÕES DA FAMÍLIA CICLO DE VIDA ↠ O ciclo de vida familiar é uma sequência de transformações na história do desenvolvimento da família. Cada família atravessa diferentes fases em suas vidas, e cada nova etapa é um desafio para que a família se organize e obtenha novamente o equilíbrio. Cada nova fase exige mudanças emocionais e realização de tarefas práticas para ocorrer o equilíbrio dentro do sistema familiar e assim prosseguir para a próxima fase do ciclo (GUSSO, 2ª ed.). OBS.: O momento de maior vulnerabilidade para o aparecimento de sintomas, em geral, coincide com os períodos de transição de uma fase à outra do ciclo de vida. O sintoma pode sinalizar que a família se imobilizou e está com dificuldades de passar para a fase seguinte (GUSSO, 2ª ed.). ↠ As crises do ciclo de vida familiar podem ser previsíveis, esperadas, ou acidentais, inesperadas, que ocorrem por adoecimento, acidente, separação ou divórcio, perda de emprego, perda de um membro da família, e que exigem cuidados específicos. O importante é percebê-las conforme a exigência de mudança que a situação demanda (GUSSO, 2ª ed.). ESTÁGIO PROCESSO EMOCIONAL MUDANÇAS NECESSÁRIAS Saindo de casa: jovens solteiros Aceitar a responsabilidade emocional e financeira (eu) Diferenciar-se da família; Desenvolver relacionamentos íntimos com adultos iguais; Estabelecer-se Financeiramente. O novo casal Comprometer- se com o novo sistema Formar sistema marital; Realinhar relacionamentos, incluir cônjuge. Famílias com filhos pequenos Aceitar novos membros no sistema Ajustar o sistema conjugal para criar espaço para filhos; Unir-se nas tarefas de educação dos filhos, tanto financeirasquanto domésticas; Incluir papéis de pais e avós. Famílias com adolescentes Aumentar a flexibilidade das fronteiras familiares para incluir a independência dos filhos e a fragilidade dos avós Modificar o relacionamento com os filhos; Procurar novo foco nas questões conjugais e profissionais; Começar a mudança no sentido de cuidar a geração mais velha. Encaminhando os filhos e seguindo em frente Aceitar várias saídas e entradas no sistema familiar Renegociar o sistema conjugal como díade; Desenvolver relacionamento dos adultos e destes com os filhos; 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck Realinhar os relacionamentos, para incluir parentes por afinidade e netos; Lidar com incapacidade e morte dos pais (avós). Famílias no estágio tardio de vida Aceitar a mudança dos papéis em cada geração Manter o funcionamento e interesses próprios e/ou do casal em face do declínio biológico; Apoiar um papel mais central da geração do meio; Abrir espaço para sabedoria dos idosos, apoiando-a sem superfuncionar por ela; Lidar com as perdas. OBS.: O ciclo de vida familiar de classe popular é caracterizado por um menor número de etapas de desenvolvimento decorrentes do processo de adaptação. Esse contexto exige que as pessoas exerçam tarefas que não são específicas para a fase da vida em que se encontram e sim exigidas em uma determinada situação (GUSSO, 2ª ed.). ↠ São três as etapas do ciclo de vida familiar da população de classe popular: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ Estágio 1 – Adolescente/Adulto jovem solteiro: As fronteiras entre a adolescência e a idade adulta jovem são confusas. Os adolescentes são responsáveis por si mesmos e utilizados como fonte de renda a partir dos 10 ou 11 anos de idade. ➢ Estágio 2 – A família com filhos: Começa sem que ocorra necessariamente o casamento, mas com a geração de filhos e a busca por formar um sistema conjugal, assumir papéis paternos e realinhamento dos relacionamentos com a família. ➢ Estágio 3 – A família no estágio tardio da vida: Ocorre com frequência uma composição familiar com três ou quatro gerações. Sendo assim, há pouca probabilidade de haver “ninho vazio”, e muitas vezes a base de sustentação familiar depende da aposentadoria de um dos avós, em geral a avó, que persiste com responsabilidades sobre a sobrevivência de todos. DOENÇA CRÔNICA E O CICLO DE VIDA FAMILIAR Quando uma doença crônica acomete um dos membros da família, podem ser necessárias mudanças e adaptações para que a família continue funcionando. Essas mudanças dependerão de algumas características da doença e da combinação entre elas (CORREIA et. al., 2019). ENTREVISTA COM A FAMÍLIA ↠ O encontro com a família, seja para abordar problemas biológicos ou psicossociais, estabelece uma interação entre interlocutores desconhecidos, que tratam de situações em comum, de âmbito privado, entre pessoas com motivações diferentes (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Para suavizar possíveis dificuldades, além de utilizar as orientações referidas, sugere-se que a consulta seja composta das seguintes etapas: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ 1ª Apresentação social: durante a fase inicial, a de apresentação, cumprimente cada pessoa individualmente. ➢ 2ª Aproximação: é importante buscar pontos de aproximação, conhecer as pessoas, independentemente dos problemas, estar atento a todo o processo de comunicação – verbal e não verbal – e saber sobre seu cotidiano, para iniciar o processo de conexão e geração de hipóteses sobre a situação. 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ 3ª Entendimento da situação: Solicite que cada pessoa mostre seu ponto de vista. O importante é ouvir a explicação sobre o problema a partir da percepção de cada participante da consulta. ➢ 4ª Discussão: Encoraje a família a conversar. Questione como já lidaram com os problemas em outras situações. ➢ 5ª Estabelecimento de um plano terapêutico: Solicite um plano da família, contribua quando necessário com informações médicas, aconselhe, enfatize as questões em comum, realize combinações, lembrando os objetivos, questione se há dúvidas e remarque novo encontro, se necessário. Ferramentas de abordagem familiar ↠ As ferramentas de abordagem familiar têm por objetivo o diagnóstico do indivíduo e sua família, sendo aplicadas segundo suas necessidades apresentadas (CORREIA et. al., 2019). GENOGRAMA ↠ O genograma é uma ferramenta de representação gráfica da família. Nele são representados os diferentes membros da família, o padrão de relacionamento entre eles e as suas principais morbidades. Podem ser acrescentados dados como ocupação, hábitos, grau de escolaridade, entre outros, de acordo com o objetivo do profissional e dados relevantes da família (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ↠ O genograma baseia-se no modelo do heredograma, mostrando, graficamente, a estrutura e o padrão de repetição das relações familiares, as repetições de padrões de doenças, o relacionamento e os conflitos resultantes do adoecer (MS, 2013). OBS.: Não existe uma regra fixa relacionada ao momento da entrevista em que o genograma deve ser realizado, assim como não é obrigatória a presença de todos os componentes da família para a sua elaboração (GUSSO, 2ª ed.). REGRAS PARA ELABORAÇÃO DO GENOGRAMA ↠ O genograma possui dois elementos fundamentais, os estruturais e os funcionais, apresentados a seguir. Os elementos estruturais trazem as informações relativas à composição familiar, data de nascimento, grau de escolaridade, ocupação, hábitos, doenças, mortes, separações, etc. Os elementos funcionais mostram a dinâmica funcional da família (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ↠ É preciso observar regras básicas na construção do genograma, como: (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ➢ Utilizar simbologia padrão, utilizando símbolos e siglas. ➢ Representar pelo menos três gerações. ➢ Iniciar com a representação do casal e seus filhos. ➢ Indicar o ciclo vital da família. ➢ Representar as relações familiares. ➢ Indicar os fatores estressores, como doenças e condições. ➢ Obedecer à cronologia de idade − dos mais velhos para os mais novos. ↠ No genograma devem ser registrados três tipos de informações: (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ➢ Informações demográficas: datas de nascimento e de mortes, profissão, grau de escolaridade. As idades devem ser colocadas junto às respectivas figuras. ➢ Informações sobre o funcionamento: anotar os dados a respeito do estado de saúde, qualidade das relações, comportamentos e emoções. 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ Eventos críticos: anotar todos os eventos marcantes na família, como morte, nascimento, casamento, doenças graves, separação, mudança de cidade, entre outros. QUANDO CONSTRUIR O GENOGRAMA? ↠ Como toda ferramenta, esta também tem sua aplicabilidade. Pode ser utilizada por todos os membros da equipe, mas não deve ser feita como uma tarefa sem objetivo. As situações indicadas para sua utilização são: ➢ Sintomas inespecíficos. ➢ Utilização excessiva dos serviços de saúde. ➢ Doença crônica. ➢ Isolamento. ➢ Problemas emocionais graves. ➢ Situações de risco familiar, por violência doméstica ou drogadição. ➢ Mudanças no ciclo de vida. ➢ Resistência ao tratamento ou dificuldade para aceitar o diagnóstico. ➢ Alteração nos papéis familiares, por eventos agudos. OBS.: O genograma permite conhecer o indivíduo em seu contexto familiar e a influência da família em sua vida; conhecer as doenças mais frequentes na família e o padrão de repetição das mesmas, possibilitando ações efetivas de promoção de saúde nos seus descendentes; além de permitir ao profissional conhecer e explorar junto aos familiares suas crenças e padrões de comportamento. Tem valor não só diagnóstico, como tambémterapêutico. E, finalmente, avalia até que ponto o padrão de relacionamento é saudável ou não (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ECOMAPA ↠ Quando representamos a rede social da família, estamos fazendo o ECOMAPA, que é o desenho complementar ao genograma na compreensão da composição e estrutura relacional da família e a relação com o meio que a cerca (CORREIA et. al., 2019). ↠ Ao construirmos o Ecomapa é necessário colocar todos os suportes da família: trabalho, igreja, grupos comunitários, clubes, vizinhança e outros que a família cite como estrutura de apoio. Uma família que tem poucas conexões com a comunidade e entre seus membros necessita maior investimento da equipe de Saúde da Família, para melhorar seu bem- estar (CORREIA et. al., 2019). ↠ Os círculos externos mostram os contatos da família com a comunidade. As linhas indicam o tipo de conexão: linhas contínuas representam ligações fortes; linhas pontilhadas, ligações frágeis; linhas com barras, aspectos estressantes. As setas significam energia e fluxo de recursos. Ausência de linhas significa ausência de conexão (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). O ecomapa da família de Sandra e Fernando demonstra o forte fluxo de energia e recursos com o serviço de saúde e trabalho. As setas nos dois sentidos significam que esse fluxo é recíproco, os serviços de saúde estão direcionados para a família, assim como a família está direcionada para os serviços. Essa relação ocorre também com o trabalho (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). A relação do serviço social com a família também é intensa; contudo, a família não demonstra reciprocidade. As barras, na linha que liga o genograma à família de origem de Sandra, indicam que as relações entre as duas famílias são estressantes (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). PRACTICE ↠ Instrumento que permite a avaliação do funcionamento das famílias. Esse instrumento facilita a coleta de informações e entendimento do problema, seja ele de ordem clínica, comportamental ou relacional, assim como a elaboração de avaliação e construção de intervenção, com dados colhidos com a família, facilitando o desenvolvimento da avaliação familiar (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ↠ Deve ser aplicado em reuniões familiares, sendo que o profissional tem que ter a clareza de que só uma entrevista familiar será insuficiente para se construir com a família soluções para resolução do problema apresentado (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ↠ Funciona como um roteiro para obtenção de informações e é focado na resolução de problemas. Cada letra significa uma área de investigação. Seria como se descompactássemos um arquivo para o entendimento e 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck em seguida o compactássemos novamente para o seu funcionamento. Geralmente usado em conferências familiares (DIAS; GUIMARÃES). Problema: Como a família percebe, define e enfrenta o problema atual (por exemplo, uma doença grave em um dos membros). Papéis e estrutura: Aprofunda aspectos do desempenho dos papéis de cada um dos familiares e como eles evoluem a partir dos seus posicionamentos. Afeto: Como se estabelecem as trocas de afeto entre os membros e como esta troca reflete e interfere no problema apresentado. Comunicação: Como acontecem as diversas formas de comunicação entre as pessoas. Tempo no ciclo de vida: Correlaciona o problema com as dificuldades e as tarefas esperadas dentro das diversas fases do ciclo de vida. Doenças na família (passadas e presente): Resgata a morbidade familiar e o modo de enfrentamento nas situações pregressas. Trabalha com a longitudinalidade do cuidado e a importância do suporte familiar. Enfrentando o estresse: Como a família lida com o estresse? A equipe parte das experiências anteriores e analisa a atual. Identifica fontes de recursos internos, explora alternativas de enfrentamento se requeridas e interfere se a crise estiver for a de controle. Ecologia (ou meio ambiente): Identifica o tipo de sustentação familiar e como podem ser usados os recursos disponíveis. Usar o instrumento “ecomapa”. APGAR FAMILIAR ↠ Reflete a satisfação de cada membro da família, representado pela sigla APGAR que significa: Adaptation (Adaptação), Partneship (Participação), Growth (Crescimento), Affection (Afeição) e Resolve (Resolução) (CORREIA et. al., 2019). ↠ A avaliação será feita para cada membro da família, por questionário de cinco perguntas referentes aos aspectos abordados, que serão pontuadas e analisadas depois. Os diferentes índices de cada membro devem ser comparados para se avaliar o estado funcional da família. A partir da aplicação do questionário e da avaliação do quadro familiar pode-se desenhar um plano terapêutico que poderá ser desenvolvido pelo próprio médico de família ou pode exigir a participação de outros profissionais, como enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais ou de família (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). Para cada pergunta, pontuar da seguinte forma: quase sempre: 2 pontos; às vezes: 1 ponto; raramente: zero (CORREIA et. al., 2019). A forma de pontuação para a ferramenta APGAR considera: 7 a 10 pontos: altamente funcional; 4 a 6 pontos: moderadamente funcional; 0 a 3 pontos: severamente disfuncional (CORREIA et. al., 2019). FIRO ↠ As “Orientações Fundamentais nas Relações Interpessoais” − Fundamental Interpersonal Relations Orientations (FIRO) − procuram avaliar os sentimentos de membros da família, na vivência das relações do cotidiano (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ↠ Esta ferramenta deve ser utilizada em quatro situações: (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). ➢ Quando as interações na família podem ser categorizadas nas dimensões inclusão, controle e intimidade, ou seja, a família pode ser estudada 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck quanto às suas relações de poder, comunicação e afeto; ➢ Quando a família sofre mudanças importantes ou ritos de passagem, tais como descritos no ciclo de vida, e faz-se necessário criar novos padrões de inclusão, controle e intimidade; ➢ Quando a inclusão, o controle e a intimidade constituem uma sequência inerente ao desenvolvimento para o manejo de mudanças da família; ➢ Quando as três dimensões anteriores constituem uma sequência lógica de prioridades para o tratamento: inclusão, controle e intimidade. SIGNIFICADO DE CADA TERMO-CHAVE ➢ Inclusão: permite conhecer a dinâmica de relacionamento na família, como ela se organiza para enfrentar as situações de estresse, o papel de cada membro e como são a interação e participação de cada um dos membros da família. Vamos voltar nossa reflexão para nossa própria família − como nos organizamos ao enfrentar um problema, quem apoia, quem se afasta, como nos comunicamos? ➢ Controle: mostra como é exercido o poder na família. Ele pode ser: dominante − um exerce o poder sobre toda a família; reativo − ocorre reação contrária a alguém que deseja exercer o papel de dominância; colaborativo − compartilhamento de poder entre os membros da família. ➢ Intimidade: como os membros da família se unem para compartilhar entre si os sentimentos. Obs.: Essa ferramenta é útil quando, por qualquer motivo, houver mudança de papéis na família. Por exemplo: quando o chefe da família perde seu emprego e passa a ser sustentado pela esposa, deverá haver negociação dos papéis de cada membro da família. Se tal fato não se verificar, pode gerar sentimentos de inutilidade em um membro e sobrecarga de outro, levando a algum tipo de disfunção na família ou até mesmo a um problema orgânico em qualquer membro dessa família (CHAPADEIRO; ANDRADE; ARAÚJO, 2011). Referências GUSSO et. al. Tratado de Medicina de Família e Comunidade, 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019. CHAPADEIRO, C. A.; ANDRADE, H. S. O.;ARAÚJO, M. R. N. A família como foco da Atenção Primária à Saúde. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2011. Ministério da Saúde. Caderno de atenção domiciliar. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. CORREIA et. al. Curso de Especialização em Saúde da Família: Família e Abordagem Familiar, 2019. DIAS, R. B.; GUIMARÃES, F. G. Abordagem Familiar.
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