Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APOSTILA PREPARATÓRIA APOSTILA PREPARATÓRIA FILOSOFIA Você será convidado a conhecer e explorar a história do homem em busca do autoconhecimento e conhecimento do mundo que o rodeia. Prof. Bruno Dias Gomes DISCIPLINA: FILOSOFIA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro estudante, Seja bem-vindo! Na disciplina de Filosofia, você será convidado a conhecer e explorar a história do homem em busca do autoconhecimento e conhecimento do mundo que o rodeia. Inicialmente, transitando pelo surgimento do mais antigo registro do estudo da filosofia, passaremos pelas transformações históricas e sociais que o mundo sofreu nessa viagem do pensar na construção de uma filosofia sólida. Neste passeio histórico, não perderemos de vista a reflexão crítica sobre os temas estudados. É de suma importância que você entenda a história da Filosofia, o contexto sociopolítico e as celeumas que fizeram parte da construção do conhecimento. Faremos um apanhado dos principais filósofos e de suas principais teorias. Você entenderá como elas influenciaram o mundo e foram influenciadas por ele também. Ao adquirir conhecimento sobre o desenvolvimento da Filosofia nos diversos períodos da história (antigo, medieval, moderno, contemporâneo), você irá desenvolver a capacidade de análise crítica de situações que impactaram o mundo, de modo a transcender a mera interpretação. A vida fará mais sentido. Acompanhe a evolução do raciocinar, as descobertas e influências que repercutiram na doutrina filosófica e, por fim, perceba que o mundo não só evolui, mas também possui características extremamente cíclicas. Para fazer a diferença no mercado de trabalho e nas demais relações, é primordial que você desenvolva o próprio raciocínio e quebre as barreiras do senso comum. Ao entender o nascimento da Filosofia e os ciclos humanos, adquirirá segurança e lucidez para entender o período atual e formar suas próprias conclusões. O escopo deste material é formar profissionais capacitados e conscientes de sua função social, bem como da função da Filosofia neste contexto. Acreditamos que a Filosofia permitirá que você amplie sua percepção de mundo e entenda o porquê da divisão estrutural/ política/ jurídica da sociedade. Ao final deste estudo, você terá desenvolvido um senso crítico geral. Entretanto, a Filosofia proporcionará muito mais: por meio dela você poderá ir além, sair da sua zona de conforto, observar, questionar e perceber outras cores e formas no mundo. As dicas de estudo e sugestões de aprofundamento ao final da maior parte das unidades servirão como um complemento do estudo. Por meio de vídeos e sugestões de leitura, você poderá fazer o link entre os temas estudados e a sua realidade. Pronto para alçar voos mais altos? Boa leitura! “Se queres prever o futuro, estuda o passado.” (Confúcio) OBJETIVOS DA DISCIPLINA A disciplina de Filosofia tem por objetivo fomentar em você a percepção crítica de si e da sociedade como um todo para, a partir deste conhecimento, conseguir chegar às próprias conclusões. As discussões promovidas pela disciplina possibilitarão a construção de um olhar crítico acerca das relações humanas e seu contexto social, colaborando assim para uma formação acadêmica ética e política, atenta à realidade e às influências nela inseridas. HABILIDADES E COMPETÊNCIAS Ao final da disciplina, você será capaz de: - Correlacionar os pressupostos básicos da Filosofia, sua necessidade e sua conexão com o Direito; https://www.pensador.com/autor/confucio/ - Definir a visão crítica do Direito, com base nos postulados da Filosofia apreendidos nas diferentes posições jusfilosóficas; - Desenvolver a reflexão sobre o fenômeno jurídico; - Explicar as dimensões éticas e políticas do Direito Positivo; - Identificar o valor e o sentido do Direito no contexto dos problemas da sociedade contemporânea. EMENTA: Introdução à Filosofia: aspectos sociais e históricos que contextualizam o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga; o surgimento da Filosofia e a sua oposição ao pensamento mítico; os pré-socráticos; Sócrates e o humanismo antigo; Platão e noção de Justiça na cidade ideal; Aristóteles. As noções de bem e mal na Idade Média à luz do pensamento de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino. A modernidade: Principais filósofos. O pensamento de Immanuel Kant – gnosiologia, ética e Direito. A contemporaneidade: o pensamento de Marx e sua concepção sobre o Direito; Nietzsche e a queda dos valores supremos (o niilismo); Escola de Frankfurt. Heidegger e a crítica ao Humanismo. SUMÁRIO UNIDADE I - FILOSOFIA ANTIGA: O PENSAMENTO MÍTICO .............................11 Instruções Preliminares.............................................................................................12 O Surgimento da Filosofia na Grécia Antiga: O Pensamento Mítico.........................15 Conceitos Relevantes: Cosmogonia, Teogonia, Cosmologia....................................16 Caixa de Pandora.......................................................................................................16 Atividade Extraclasse: Sugestão de Animação..........................................................17 UNIDADE II - PENSAMENTO MÍTICO x PENSAMENTO FILOSÓFICO..................18 Comparativo: Pensamento Mítico X Pensamento Filosófico......................................20 Reflexão: A importância do Pensamento Mítico.........................................................20 Aspectos Sociais e Históricos que Contextualizam o Surgimento da Filosofia..........21 Atividade Extraclasse: Indicação de Filme.................................................................21 UNIDADE III - SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA. FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS, SOCRÁTICOS E PÓS-SOCRÁTICOS....................................24 O que é a Filosofia?...................................................................................................25 Características da Filosofia........................................................................................25 Filósofos Pré-Socráticos, Socráticos e Pós-Socráticos..............................................26 Atividade Extraclasse: Sugestão de Leitura...............................................................27 UNIDADE IV - PRIMEIROS FILÓSOFOS..................................................................28 O Período Pré-socrático (Escolas Jônica. Pitagórica, Atomista, Eleática) ................29 Ceticistas. Epicutistas. Estoicistas.............................................................................29 Filósofos Naturalistas ................................................................................................30 Principais Conceitos. Physis, Arché, Logos...............................................................31 UNIDADE V - PRIMEIROS FILÓSOFOS. NATURALISTAS. SOFISTAS.................32 Principais Filósofos Naturalistas: Thales de Mileto, Pitágoras, Demócrito, Leucipo, áclito e Parmênides....................................................................................................34 Sofistas.......................................................................................................................35 UNIDADE VI – SOFISTAS. PASSAGEM DO NATURALISMO AO HUMANISMO. SÓCRATES E A REVOLUÇÃO DO MUNDO INTERIOR. SÓCRATES E O MÉTODO DIALÉTICO. MAIÊUTICA.........................................................................37 Passagem do Naturalismo para o Humanismo..........................................................37 Sócrates e a Revolução Interior do Naturalismo para o Humanismo.......................39 Sócrates: Dialética e Maiêutica..................................................................................40Autenticidade dos Ensinamentos Socráticos.............................................................41 UNIDADE VII – SÓCRATES E OS SOFISTAS. MORTE E HERANÇA DE SÓCRATES. PLATÃO ..............................................................................................43 Sócrates e os Sofistas................................................................................................43 A Morte e a Herança Deixada por Sócrates...............................................................44 Filósofos Socráticos...................................................................................................45 Quem Foi Platão?.......................................................................................................45 A Construção da Cidade Ideal com Base no Conceito de Justiça.............................46 Teoria da Alma...........................................................................................................47 Atividade Extraclasse: Indicação de Filme.................................................................48 UNIDADE VIII - PLATÃO E A TEORIA DA REMINISCÊNCIA . PLATÃO E A VIRTUDE. ALEGORIA DA CAVERNA. ARISTÓTELES. DIFERENÇAS ENTRE PLATÃO E ARISTÓTELES.......................................................................................49 Teoria da Reminiscência............................................................................................49 Platão e as Virtudes Cardeais....................................................................................50 Alegoria da Caverna...................................................................................................52 Quem Foi Aristóteles?................................................................................................52 Platão X Aristóteles....................................................................................................53 Atividade Extraclasse: Indicação de Filme.................................................................54 UNIDADE IX – ARISTÓTELES: VIDA E OBRA. METAFÍSICA................................55 A Vida de Aristóteles: ................................................................................................57 Conceitos Aristotélicos...............................................................................................57 Metafísica...................................................................................................................58 Atividade Extraclasse: Questionamentos Sobre a Metafísica....................................59 UNIDADE X – ARISTÓTELES E A TEORIA DAS CAUSAS....................................60 Teoria das Causas.....................................................................................................62 Aristóteles e Outros Filósofos (Platão, Parmênides e Heráclito)................................62 Atividade Extraclasse: Sugestão de Vídeo (Metafísica).............................................64 UNIDADE XI – ARISTÓTELES E VIRTUDE, A ÉTICA E A JUSTIÇA......................65 Aristóteles e a Virtude ...............................................................................................65 A Virtude e o Meio Termo...........................................................................................66 Aristóteles e a Ética....................................................................................................67 Justiça Aristotélica......................................................................................................68 UNIDADE XII - FILOSOFIA MEDIEVAL: O ENCONTRO DA FILOSOFIA ANTIGA E A EXPERIÊNCIA DA CRISTANDADE......................................................................69 Agostinho de Hipona – Vida e Obra (354-430)..........................................................69 Do Maniqueísmo ao Cristianismo...........................................................................,,,,70 A Indistinção do Plano Ontológico Para o Plano Deontológico segundo o Pensamento de Agostinho...................................................................................... 71 Teoria da Iluminação Divina.......................................................................................72 UNIDADE XIII – O PROBLEMA DO BEM E DO MAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A FILOSOFIA.............................................................................................................73 A Importância do Estudo de Agostinho de Hipona.....................................................73 O Problema do Bem e do Mal....................................................................................73 Conceitos Fundamentais – Perguntas e Respostas .................................................76 UNIDADE XIV – O PROBLEMA DO BEM E DO MAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DIREITO.................................................................................................................78 O Problema do Direito................................................................................................78 Agostinho e a Política.................................................................................................79 A Paz Perfeita.............................................................................................................80 Agostinho e o Livre Arbítrio........................................................................................81 Agostinho e Platão.....................................................................................................81 UNIDADE XV – SÃO TOMÁS DE AQUINO..............................................................82 Convergências e Divergências Entre as teorias de Tomás de Aquino e Agostinho de Hipona........................................................................................................................83 Tomás de Aquino e a Teoria da Existência de Deus.................................................84 Tomás de Aquino e a Ética Tomista...........................................................................85 UNIDADE XVI - A MODERNIDADE: CONTEXTO HISTÓRICO, ECONÔMICO, SOCIAL E POLÍTICO ................................................................................................87 Aspectos Históricos que Justificam o Advento da Filosofia Moderna: Renascimento Cultural. .....................................................................................................................88 Principais Causas do Surgimento do Renascimento Cultural:...................................89 Novo Mundo (Versus Velho Mundo)......................................................................... 89 Reformas Religiosas do Século XVI...........................................................................90 Mudança no Comércio...............................................................................................90 Absolutismo................................................................................................................90 Nascimento da Burguesia. ........................................................................................91 UNIDADE XVII – FILOSOFIA MODERNA: REVOLUÇÃO CIENTÍFICA, NOVOS VALORES. DIFERENÇAS ENTRE A IDADE MÉDIA E A MODERNA.....................92 Revolução Científica do Século XVI a XVIII...............................................................92 Nascimento e Retomada de Certos Valores..............................................................94 Idade Média X Modernidade......................................................................................95 UNIDADE XVIII - O SURGIMENTO DA MODERNIDADE: A NOVA ERA HISTÓRICA CENTRADA NO HOMEM E SEUS IMPACTOS NA FILOSOFIA E NO DIREITO.....................................................................................................................96 Características da Filosofia Moderna: Fruto do Renascimento..................................96Principais Filósofos Modernos....................................................................................98 Nicolau Maquiavel.....................................................................................................99 UNIDADE XIX – PRINCIPAIS FILÓSOFOS MODERNOS......................................100 Francis Bacon e o Método Empirista-Indutivo..........................................................100 Baruch Espinosa e o Determinismo.........................................................................102 Montesquieu (Charles-Louis de Secondat)..............................................................103 Voltaire (François-Marie Arouet)..............................................................................103 Adam Smith..............................................................................................................104 Atividade Extraclasse: Distinção entre Senso Comum e Senso Crítico...................104 UNIDADE XX – FILÓSOFOS DA MODERNIDADE: DAVID HUME. RENÉ DESCARTES...........................................................................................................105 David Hume..............................................................................................................106 René Descartes .......................................................................................................107 Conceitos: Solipsismo, Princípio da Correspondência, Teoria das Ideias...............108 Método Cartesiano...................................................................................................109 Unidade XXI – FILÓSOFOS MODERNOS: CONTRATUALISTAS: THOMAS HOBBES, JOHN LOCKE E ROUSSEAU. IMANNUEL KANT................................111 Filósofos Contratualistas: O Que Foi o contratualismo?..........................................111 Thomas Hobbes.......................................................................................................112 https://www.todamateria.com.br/maquiavel/ https://www.todamateria.com.br/francis-bacon/ https://www.todamateria.com.br/baruch-spinoza/ https://www.todamateria.com.br/montesquieu/ https://www.todamateria.com.br/adam-smith/ https://www.todamateria.com.br/david-hume/ https://www.todamateria.com.br/thomas-hobbes/ https://www.todamateria.com.br/thomas-hobbes/ https://www.todamateria.com.br/john-locke/ https://www.todamateria.com.br/jean-jacques-rousseau/ https://www.todamateria.com.br/thomas-hobbes/ John Locke...............................................................................................................112 Rousseau.................................................................................................................113 Immanuel Kant - Vida e Obra (1724-1804)..............................................................114 A Filosofia de Kant Como Maior Expressão do Pensamento Moderno...................115 Base dos Conceitos Kantianos: a Priori e a Posteriori.............................................115 UNIDADE XXII – A FILOSOFIA DE KANT COMO A MAIOR EXPRESSÃO DO PENSAMENTO MODERNO....................................................................................117 A Dicotomia “Sujeito x Objeto”.................................................................................117 Revolução Copernicana...........................................................................................118 A Teoria do Conhecimento de Kant – Sensibilidade e Entendimento (Estética e Lógica Transcendental)............................................................................................119 UNIDADE XXIII – KANT: JUÍZOS ANALÍTICOS, SINTÉTICOS A POSTERIORI E SINTÉTICOS A PRIORI; DIREITO, MORAL E IMPERATIVOS CATEGÓRICOS.......................................................................................................123 Juízos Analíticos, Sintéticos a Posteriori e Sintéticos a Priori .................................123 A Ética Kantiana.......................................................................................................124 Direito, Moral e Imperativos Categóricos.................................................................125 UNIDADE XXIV- KANT: O DIREITO E A PAZ PERPÉTUA. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA PÓS-MODERNA..................................................................................129 Kant e a Paz Perpétua (1795)..................................................................................128 Introdução ao Período Filosófico Pós-Moderno.......................................................129 Filosofia Contemporânea (Pós-Moderna)................................................................132 Diferenças Entre a Filosofia Moderna e a Contemporânea.....................................133 UNIDADE XXV – KARL MARX E A LUTA DE CLASSES......................................135 Karl Marx e a Luta de Classes: Materialismo Histórico Dialético.............................136 Concepção Marxista do Direito como Superestrutura – Infraestrutura e Superestrutura..........................................................................................................137 O Conceito Marxista de Ideologia............................................................................139 Atividade Extraclasse: Sugestão de Leitura.............................................................141 UNIDADE XXVI – FRIEDRICH NIETZSCHE. NIETZSCHE X KARL MARX. NIILISMO..................................................................................................................142 https://www.todamateria.com.br/john-locke/ https://www.todamateria.com.br/jean-jacques-rousseau/ https://www.todamateria.com.br/immanuel-kant/ Friedrich Nietzsche: Vida e Obra..............................................................................142 Materialismo: Nietzsche e Marx...............................................................................143 Niilismo.....................................................................................................................145 Atividade Extraclasse: Sugestão de Leitura.............................................................146 UNIDADE XXVII – NIETZSCHE E A QUEDA DOS VALORES SUPREMOS. A FILOSOFIA, A MORAL E A RELIGIÃO COM O DIREITO.....................................147 Nietzsche e o Niilismo..............................................................................................147 Nietzsche e a Queda dos Valores Supremos...........................................................148 UNIDADE XXVIII – A SOLUÇÃO DE NIETZSCHE PARA OS HOMENS. FILOSOFIA, MORAL, RELIGIÃO E O DIREITO.....................................................152 O Homem Sem Muletas: O Super-Homem..............................................................152 Relação Entre: Filosofia, Moral, Religião e o Direito............................................... 154 UNIDADE XXIX – CRÍTICA À FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA...........................157 O Marxismo e a Escola de Frankfurt:.......................................................................157 Meios de Comunicação em Massa e Indústria Cultural...........................................160 Atividade Extraclasse: Sugestão de Vídeos.............................................................161 UNIDADE XXX – MARTIN HEIDEGGER................................................................165 Martin Heidegger e a Crítica ao Humanismo Moderno............................................165 Ser e Ente................................................................................................................166 Atividade Extraclasse: Representação da Angústia.................................................168 Conclusão e Despedida...........................................................................................169 RESUMO DO QUE FOI ESTUDADO ENTRE AS UNIDADES 1 A 6 ..................... 170 RESUMO DO QUEFOI ESTUDADO ENTRE AS UNIDADES 7 A 12 ................... 174 RESUMO DO QUE FOI ESTUDADO ENTRE AS UNIDADES 13 A 18 ................. 177 RESUMO DO QUE FOI ESTUDADO ENTRE AS UNIDADES 19 A 24 ............... ..180 RESUMO DO QUE FOI ESTUDADO ENTRE AS UNIDADES 25 A 30 .............. ...183 GLOSSÁRIO ........................................................................................................... 186 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 188 11 UNIDADE I – FILOSOFIA ANTIGA: O PENSAMENTO MÍTICO. Objetivos da unidade - Nesta unidade, você compreenderá em que consistiu o pensamento mítico; - Diferenciará os conceitos de Cosmogonia, Teogonia e Cosmologia. “Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.” (Heródoto) Instruções preliminares Para estudarmos a disciplina Filosofia, é fundamental que entendamos o contexto histórico, político, econômico e social do objeto de análise. Diferente de outras disciplinas, o estudo da nossa matéria não pode ser feito de forma isolada nem distante de sua evolução histórica. Para entendermos o momento da Filosofia analisado, é necessário também que nos voltemos para o momento anterior. Muitas das vezes, o momento anterior é o que justifica o extremo oposto vivenciado no momento posterior. Mas isso ficará mais claro quando passarmos de fato ao estudo dos períodos pelos quais a Filosofia passou. Essa parte introdutória é apenas para que você compreenda que na Filosofia é um erro trazer fatos passados para o mundo atual, como se os fatos apreciados fizessem parte do presente. É preciso notar o contexto e a época para analisar um fato passado e assim compreender o período filosófico estudado. Preparados? Então, iniciemos nossa viagem histórica pelo mundo do saber e do pensar! O surgimento da Filosofia na Grécia Antiga: o pensamento mítico Filosofia é a arte de pensar. Filosofar é sair da zona de conforto para questionar o mundo e tudo que nos cerca. Filosofar é pedir mais da vida. É não se contentar com https://www.pensador.com/autor/herodoto/ 12 as coisas e com o mundo da forma como é colocado. Um filósofo é um grande questionador. É alguém que se tornou amante do conhecimento, do saber. O filósofo é um ser que não se contenta em ver a vida sem refletir nos seus porquês e que usa sua racionalidade para isso. Inicialmente, não existia a Filosofia no mundo. Porém, o fato de não haver Filosofia não significava que o homem não questionava. É próprio de o comportamento humano ter questionamentos. É próprio de a racionalidade humana ser extremamente inquieta mentalmente. Faz parte da estrutura do homem ter sede de conhecimento. Os animais irracionais agem por instinto, quase que mecanicamente. O ser humano é diferente: desde a Antiguidade indaga sobre tudo. Isso porque o ser humano é racional e é da sua essência, quase que naturalmente, tentar encontrar resposta para tudo na vida. E por indagar demais, quando não tem respostas, o homem cria. A natureza humana precisa de uma resposta para se sentir confortável. Nesse primeiro momento, não havia conhecimento científico, nem grandes descobertas. Não havia escritos, nem livros, nem calendários, nem instrumentos para medição, nem telescópio ou navegações. Havia questionamentos que intrigavam os seres humanos. Porém, tudo era mistério e dúvidas. A existência dos fenômenos naturais, o início do cosmos e do universo, as estações do ano, a origem dos sentimentos, a magnitude do céu , dos astros e do mar, todas essas coisas precisavam de explicações. E assim surgiu a Era da Mitologia. Tudo que o homem não podia explicar pela razão, tentava explicar por meio da crença em mitos, em deuses, usando a imaginação. O homem, na ânsia de desvendar os “porquês” do mundo e sanar suas dúvidas, criou a figura mítica para entender o que, para o povo da época, era completamente impossível de forma racional. Assim, o pensamento mítico foi uma necessidade social. No afã de solucionar suas incansáveis dúvidas, o ser humano mistura características humanas com características de animais, com super poderes e com formas transcendentais e cria seus deuses. A origem desses deuses não são apenas lendas, mas também histórias reais de antepassados que foram glamourizadas e tornaram-se respostas para as indagações dos povos antigos. 13 Neste contexto, são criados os famosos deuses da mitologia grega. Deuses que em diversos momentos foram retomados e serviram de inspiração para a humanidade, para filmes, quadrinhos, histórias infantis. Os Deuses do Caos, Os Doze Deuses Olímpios1, Os Titãs. Deuses das imaginações culturais coletivas. Deusa Thêmis O pensamento mítico foi a primeira forma coletiva mundial de pensar o mundo e consiste principalmente em uma narrativa sobre a origem dos fenômenos naturais. Abrange também a explicação sobre o porquê dos sentimentos, da origem do universo e da vida. Tudo o que os povos antigos não conseguiam entender, explicavam através da existência da divindade. Nesse contexto, natureza e transcendental eram interligados. Formavam um todo harmônico que, para a época, fazia muito sentido. Gerava conforto, segurança e servia como norma de contenção social. Os mitos eram narrados pelos enviados dos deuses. Eram os únicos autorizados a transmitir as histórias ao mundo dos homens. Esses enviados chamavam-se rapsodo. Eram poetas e cantores que andavam pelos lugarejos a recitar, cantar e narrar as histórias míticas. Naquela época, ainda não existia escrita e as narrativas eram feitas de forma oral. Dessa situação, decorre uma importante característica do pensamento mítico: por ser um escolhido dos deuses, as narrativas do rapsodo eram incontestáveis pelos homens. Assim, havia uma completa confiança nas histórias contadas pelo poeta narrador, humanos intermediadores dos deuses na Terra. Ainda que existisse 1 Afrodite, Apolo, Ares, Ártemis, Atena, Deméter, Dioniso, Éolo, Eros, Hades, Hefesto, Hera, Hermes,Héstia, Poseidon, Zeus. 14 alguma contradição no mito, os indivíduos não a percebiam, nem ousavam discordar dela. São exemplos de pensamento mítico2 antigo: a lenda de Pandora, do período homérico da Grécia Antiga, e as lendas indígenas. Em comum, tais pensamentos têm três valores base: piedade, desobediência e castigo. Outra qualidade marcante do pensamento mítico é a de que ele tem forte característica antropomórfica3. Isso porque são atribuídas aos deuses características físicas humanas, bem como emocionais, a exemplo dos sentimentos de raiva, amor e afeto. 2 Um segundo exemplo são as histórias dos doze deuses do Olimpo: Zeus, Hera, Posidão, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioniso. 3 O radical grego Antropo significa homem. Morfo significa forma. As formas dos deuses gregos reproduziam características humanas. 15 Na base do pensamento mítico, não havia razão ou justificativa racional qualquer. O fundamento da crença era exclusivamente a fé e o medo. Nota-se que o medo de provocar o furor dos deuses funcionou como importante meio de controle social e pacificação social dos povos antigos. Naquela época, não havia regras escritas nem código de conduta. Assim, o temor aos deuses pacificou e garantiu, por certo tempo, a ordem coletiva. No entanto, impediu, por certo período, o desbravamento dos mares. Portanto, a crença na existência de deuses e monstros marinhos impedia os homens de alçar novos voos. De outra senda, o pensamento mitopoiético serviu de base para a manutenção do sistema socioeconômico da época e permitiu que os líderes exercessem domínio quase que absoluto sobre o povo. Conceitos Relevantes para o Nosso Estudo: Cosmogonia, Teogonia, Cosmologia. Também são dignos de nota outrascaracterísticas marcantes do pensamento mítico. Havia forte cosmogonia e teogonia. Veja ambos os conceitos logo abaixo: Cosmogonia Teogonia Cosmologia Em Grego, kosmos significa universo, mundo, ordem, oposto de caos. Gonia (ou genia), por sua vez, significa origem, nascimento, gênese. Cosmogonia é qualquer teoria que, por meio da mitologia, tenta explicar o mundo de acordo com a origem do universo e dos seus componentes. São princípios e teorias que procuram explicar a origem da existência do universo, do cosmos e dos seres. Em grego theos, significa deus. Gonia /genia, significa origem. Trata-se de uma forma de entender o mundo Conforme aprendemos no quadrinho anterior, kosmos é um radical de origem grega que significa universo, mundo. Logia, por sua vez, significa estudo. Cosmologia é ramo da astronomia que busca explicar a origem da existência humana usando métodos científicos, estudos e testes aplicáveis 16 Justificava a força dos seres naturais pela existência de deuses e os vinculava às estações do ano, ao dia e à noite, aos fenômenos naturais, de a outros fenômenos e fatores externos ligado ao cosmos. Aplica a fé e a crença inquestionável e absoluta. pela origem provinda de deuses pagãos antigos. aos elementos naturais e ao universo. Diferente da Cosmogonia, a Cosmologia aplica a racionalidade e a razão. Mitologia da Caixa de Pandora Certamente, você já ouviu algo sobre a lenda da caixa de Pandora. Uma das interpretações da caixa de Pandora é a crítica à curiosidade, à falta de autocontrole, ao dever de obediência às normas e à sabedoria no agir. Certas situações não devem ser reveladas ou aprofundadas, sob pena de causar um mal maior, que fuja do controle. Entretanto, também traz uma mensagem de esperança à humanidade, tendo em vista que, quando o mal é liberado, a esperança também vem ao mundo para amenizar a dor. Veja essa interessante animação, que conta a famosa história da caixa de Pandora: 17 https://www.youtube.com/watch?v=hoCq3_BYFq4 Ao assistir ao vídeo, transponha os ensinamentos da lenda para o seu cotidiano e agregue tais ensinamentos a sua vida. Chegamos ao fim do capítulo I! Procure entender o contexto do surgimento da Filosofia. e a contribuição da Filosofia para o seu cotidiano. Em tudo há Filosofia e a tudo a Filosofia é aplicável. Isso facilitará seu caminho em busca do conhecimento. Até a próxima unidade! https://www.youtube.com/watch?v=hoCq3_BYFq4 18 UNIDADE II: PENSAMENTO MÍTICO x PENSAMENTO FILOSÓFICO. COMPARATIVO. A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO MÍTICO. SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA Objetivos da Unidade - Nesta unidade, você aprenderá sobre o contexto em que se deu a passagem do pensamento mítico para o filosófico; - Refletirá de forma comparativa em que consistiu o pensamento; - Diferenciará o pensamento mítico do pensamento filosófico. - Compreenderá como o contexto histórico, político, cultural, social e econômico influenciou o nascimento da Filosofia; O Pensamento Mítico X Pensamento Filosófico 19 Os gregos contribuíram de forma excepcional para a história da civilização. Antes do surgimento da Filosofia, o sistema político vigente era aristocrático, tradicional e teocrático. O mundo era explicado por meio dos deuses e das imaginações culturais coletivas. As palavras do Imperador/Faraó eram vistas como sagradas e inquestionáveis4. O pensamento racional começou a romper o pensamento mítico, quando os primeiros filósofos perceberam que a razão era o método mais eficaz de explicar o universo. O início das navegações na Grécia Antiga, o crescimento do comércio, a criação dos calendários, da escrita e das moedas, dentre outros fatores, que estudaremos oportunamente, fizeram com que os gregos a fundamentar as razões do universo na Ciência e na Matemática. De maneira progressiva, o pensamento filosófico foi substituindo o mítico. Quando os primeiros filósofos não entendiam algo, procuravam desvendar os motivos. Não atribuíam mais os fenômenos a seres mágicos ou aos deuses, mas exigiam comprovações lógicas. Os primeiros cientistas do saber retiram as argumentações dos deuses pagãos e as colocam em elementos da natureza. A Filosofia nasce nas colônias da Grécia Antiga (não foi na cidade da Grécia Antiga) como expressão da oposição ao pensamento mítico. O logos (razão) 4 No tocante a Grécia Antiga, este foi o chamado período homérico. 20 distancia-se da Teologia, e por fim, rompe com ela. Assim, ocorre a passagem do pensamento mitopoiético para o pensamento filosófico-teorizante5. A Filosofia se opõe ao mito por ser o seu oposto. É um discurso argumentativo, marcado pelo rigor conceitual. Utiliza a razão e não aceita contradições. É um saber problematizador, crítico e radical. A Filosofia não se contenta com respostas prontas, movidas pelo senso comum e sem questionamento no seu interior. Se alguém pergunta por que algo é de determinada forma, é insuficiente, para a Filosofia, a velha resposta: “Porque sim.” A Filosofia quer saber o porquê das causas primeiras. É a ciência que busca de maneira racional a origem de todas as coisas. Comparação: Pensamento Mítico X Pensamento Filosófico Prezado aluno, para você visualizar e fixar com maior riqueza de detalhes quais mudanças ocorreram no mundo com a passagem do estágio mítico para o filosófico, veja o quadrinho abaixo: Diferenças entre o pensamento mítico e o filosófico: Pensamento Mítico (até séc. VI a.C.) Pensamento filosófico (séc. VII a.C. em diante) Deuses. Elementos da natureza. Narrativa. Discurso argumentativo. Ausência de crítica. Saber problematizador. Quer saber o porquê, a origem das coisas. Fundamento está completamente na fé, por isso não há contradição. Confiança no argumento, na razão. Intuição. Demonstração racional. 5 Diz respeito à teoria filosófica estruturada cientificamente. 21 Reflexão: A Importância do Pensamento Mítico Para pensar... A importância do pensamento mítico O preconceito e o senso comum podem nos levar a acreditar que o pensamento mítico é uma forma inferior de explicar o mundo. Entretanto, esse raciocínio é superficial, raso, preconceituoso e insuficiente para classificá-lo. Primeiramente, porque, quando estudamos Filosofia, é de fundamental importância entender o contexto histórico, político, econômico e social do objeto de análise. O estudo da Filosofia não pode ser feito de forma isolada, trazendo fatos passados para o mundo atual, como se os fatos apreciados fizessem parte do presente. É preciso analisar a fundo a sociedade da época e o seu status social, econômico, político, cultural e influências, para entendê-la. No caso do pensamento mítico, é indispensável que você perceba a época em que as coisas estavam postas. Não havia escrita, não havia moeda, não havia as navegações, nem os dias do ano, nem calendários, telescópios ou outros instrumentos que aperfeiçoaram o conhecimento do homem. Não existiam cientistas nem grandes descobertas. As estações do ano, os fenômenos naturais, os astros, tudo era mistério e dúvidas. Assim o homem, na ânsia de desvendar os “porquês” do mundo e sanar suas dúvidas, criou a figura mítica para entender o que, para o povo da época, era completamente impossível de forma racional. Assim, o pensamento mítico foi uma necessidade social. Por outro lado, o pensamento mítico existe em todos os tempos; não é uma característica exclusiva dos povos antigos. É um reflexo indissociável da personalidade dos homens e de sua compreensão da realidade. Ideologias dos tempos atuais podem ser consideradas um mito, a exemplo do socialismo e do mito nazistada raça ariana. 22 Os mitos encontram-se ainda presentes nos dias atuais nas fábulas infantis, nos contos de carnaval, nas lendas urbanas, dentre outros. Portanto, o conceito de mito é amplo, perfaz todos os povos e é atemporal. A figura mítica servia e serve para eternizar valores morais, desempenhando um papel social moralizante. Em outro aspecto, o pensamento mítico também serve para narrar acontecimentos reais. Surgimento da Filosofia na Grécia Antiga: Aspectos Sociais e Históricos que Contextualizam o Surgimento da Filosofia A passagem da mitologia para a Filosofia foi marcada por alguns acontecimentos sociais, políticos, culturais, econômicas na Grécia Antiga, conforme veremos. Costuma-se dizer que o surgimento da Filosofia foi uma inovação, criação com identidade certa e manifestação direta do gênio helênico6. O gênio grego é um termo que faz referência ao período de ascensão da cultura helênica na Grécia Antiga e que favoreceu o nascimento da Filosofia. Seus traços fundamentais são: - Racionalismo do pensar, que se voltou à experiência e à sensibilidade. - O otimismo e o pessimismo grego. Fatores não filosóficos decorrentes de condições socioeconômicas históricas, culturais e políticas, vivenciadas na Grécia Antiga, contribuíram para o nascimento da Filosofia. Vejamos: - A inserção do regime de governo democrático foi um primeiro fator, tendo em vista que substitui o despotismo até então vigente. Despotismo é a forma de governo em que o poder é concentrado nas mãos de um só governante. A democracia daquela época era diferente da forma em que conhecemos hoje, no sentido de governo do povo. Eram restritas a um sistema político dividido entre 6 Estilo de vida grego. 23 atenienses adultos, homens livres. As mulheres não poderiam votar e havia escravidão. Ainda assim, era considerada democracia dentro da conjuntura da época. - O nascimento de cidades favoreceu a necessidade de um discurso político para a criação das leis. - A existência de solo e poços férteis da região da Grécia Antiga permitiu as primeiras navegações. O impulso expansionista dos comerciantes demonstrou a inexistência de monstros no mar, contribuiu para o questionamento de algumas lendas e desconstruiu o pensamento mítico. - A descoberta da navegação permitiu desenvolver o comércio, favoreceu o intercâmbio cultural, adquirir novos conhecimentos e facilitou o desenvolvimento da filosofia. - As criações de instrumentos facilitadores do uso da racionalidade também exerceram importante função, a exemplo do calendário, da moeda e da escrita. - Socialmente, a escravidão e o crescimento do ócio criativo possibilitaram a reflexão filosófica, a discussão e a disputa oratória. Havia a visão de que o trabalho manual denegria o homem. - Nas ágoras, locais públicos separados para a discussão, todos os cidadãos atenienses possuíam isonomia (todos eram iguais) e isegoria (direitos iguais de participação política). As ágoras consistiram em uma grande inovação para a época. Principalmente, se considerados o contexto sociopolítico de forte despotismo, atrelado ao pensamento mítico e autoritarismo dos imperadores da época. Atividade Extraclasse INDICAÇÃO DE FILME: A ODISSEIA Nesse interessante filme, adaptação do poema épico de Homero, você poderá conhecer melhor alguns dos intrigantes deuses que compõem a mitologia grega. 24 UNIDADE III - FILOSOFIA: CONCEITOS INICIAIS. O QUE É A FILOSOFIA. CARACTERÍSTICAS. FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICO, SOCRÁTICOS E PÓS- SOCRÁTICOS. Objetivos da Unidade: - Nesta unidade, você entenderá com maior profundidade o conceito e as principais características da Filosofia; - Aprenderá sobre a classificação dos filósofos em: pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos; Mas afinal, o que é a Filosofia? O primeiro filósofo a usar a palavra Filosofia foi Pitágoras, no século VIII, aC. Para entendermos o significado da palavra que é nosso objeto de estudo, vamos primeiramente aprender a etimologia7 dela. 7 Raiz, origem e evolução das palavras. Filosofia é amar a sabedoria. Filosofar é pensar. E é isso o que nos distingue dos outros animais. É ser racional e não aceitar respostas prontas. A Filosofia consiste em um discurso argumentativo, marcado pelo rigor conceitual. A Filosofia utiliza a razão e não aceita contradições. É um saber problematizador, crítico e radical. Quer saber o porquê das causas primeiras e busca de maneira racional a origem de todas as coisas. 25 A Filosofia, ao mesmo tempo em que é uma sistematização do pensamento, é um enfrentamento do próprio pensamento e do mundo (Mascaro, 2016, p. 19). Características do pensamento filosófico Estudiosos pontuaram as características básicas do pensamento filosófico. Vamos entendê-las. Radicalidade O pensamento filosófico visa buscar a origem dos acontecimentos. Tem por objetivo encontrar a raiz e o sentido das coisas. É uma ciência profunda, que não se contenta com o conhecimento superficial e tendente a manutenção do status quo. Para tanto, se afasta das respostas provindas do senso comum, apressadas, superficiais e generalizantes. Rigorosidade Ser rigoroso é seguir uma sistematização, um método cadenciado, um caminho específico. Não é algo fragmentário, atécnico, inconstante, inseguro. Filosofar é um processo de pensamento disciplinado e específico. É seguir um script racional/lógico, ainda que determinadas formas do pensar não adotem técnica ou métodos tradicionais. Universalidade ou De Conjunto A Filosofia é ciência principiológica e generalizante. Ela observa um fato de forma correlacionada e contextualizada com fatores históricos e sociais. Analisa o universal em detrimento do isolado, de forma totalizante. A realidade é estudada por cada ciência no seu respectivo âmbito de atuação. É a soma do conjunto de realidades que forma o saber universal e totalizante. Informação/Historicidade 26 A Filosofia não se contenta com presente e o passado recente. Vai buscar suas respostas em todos os tempos e assim orienta as soluções. Busca suas explicações tendo como base o passado, as tradições, as lendas e a sociedade. Conhecimento É o resultado que a Filosofia causa no ser humano. Ela ensina o indivíduo a pensar por si, discutir, argumentar, fazer um juízo aprofundado e tirar suas próprias conclusões sobre o que foi informado. Sabedoria A Filosofia ensina a escolhermos com zelo o caminho mais acertado. A agir de forma ponderada, equilibrada, razoável. A Filosofia leva à sabedoria, pois leva à escolha da decisão mais coerente. Autonomia A Filosofia é ciência autônoma e independe de outras ciências. Isso porque ela é dotada de seus próprios métodos. O pensador tem liberdade para fazer seu próprio sistema, sem precisar beber de outras fontes. Por outro lado, é uma ciência dotada de autonomia porque independe da religião e do senso comum. A Filosofia é a própria base para que o indivíduo pense por si. Filósofos Pré-Socrático, Socráticos e Pós-Socráticos: Inicialmente em nossos estudos, é de fundamental importância que você compreenda as diferentes linhas seguidas pelos filósofos que estudaremos nesta Unidade. Os primeiros filósofos foram distribuídos doutrinariamente em: pré- socráticos, socráticos e pós-socráticos. Essa divisão em três categorias foi organizada de acordo com a forma com que os filósofos entendiam o mundo. Ela não é uma separação com base no tempo. Assim, 27 não significa que os filósofos pré-socráticos divulgaram seus estudos antes de Sócrates, os socráticos durante a vida de Sócrates e os pós-socráticos após a vida de Sócrates. Ao contrário, alguns filósofos pré-socráticos viveram após a morte de Sócrates e assim sucessivamente. Os filósofos naturalistas são considerados pré-socráticosporque apenas acreditavam na razão direcionada ao cosmos e aos fenômenos da natureza. Suas justificativas filosóficas eram pautadas em fenômenos da natureza, na Física. Sócrates iniciou uma nova tendência filosófica. Inaugurou uma forma peculiar de ver o mundo. Seguindo os ensinamentos de Platão, foi Sócrates quem pela primeira vez direcionou a Filosofia para a ética e a política, indo para além do pensamento natural. Com o tempo, o método dialético passou a ser usado como meio científico para chegarmos à razão. Por fim, o pensamento pós-socrático foi um reflexo do contexto do fim da hegemonia da Grécia Antiga, marcada por guerras e mudanças que refletiram na Filosofia. Em assim sendo, a doutrina filosófica entendeu ser mais didático distinguir os primeiros filósofos entre pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos, de acordo com o perfil dos filósofos. Mas esta é apenas uma divisão didática entre aqueles que têm pensamento filosófico distinto. Sugestão de leitura. Características da Filosofia: https://www.professornews.com.br/artigos/5622-filosofar- uma-atividade-de-reflexao.html UNIDADE IV: PRIMEIROS FILÓSOFOS. https://www.professornews.com.br/artigos/5622-filosofar-uma-atividade-de-reflexao.html https://www.professornews.com.br/artigos/5622-filosofar-uma-atividade-de-reflexao.html 28 Objetivos da Unidade - Nesta unidade, você continuará o estudo na divisão filósofos entre: pré- socráticos, socráticos e pós-socráticos; - Conhecerá os primeiros filósofos que aprofundaram o pensamento racional: os filósofos naturalistas; .Aprenderá os mais importantes conceitos dos filósofos naturalistas. Filósofos Pré-Socráticos, Socráticos e Pós-Socráticos: Nesta unidade, continuaremos os estudos iniciados na unidade anterior. Observe o quadrinho abaixo, com a divisão dos principais filósofos em pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos: FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS Tales de Mileto (624 a.C. - 548 a.C.), Anaximandro de Mileto (610 a.C. - 547 a.C.), Anaxímenes de Mileto (588 a.C. - 524 a.C.), Heráclito de Eféso (540 29 a.C. - 476 a.C.), Pitágoras de Samos (570 a.C. - 497 a.C.), Xenófanes de Cólofon (570 a.C. - 475 a.C.), Parmênides de Eléia (530 a.C. - 460 a.C.), Zenão de Eléia (490 a.C. - 430 a.C.), Demócrito de Abdera (460 a.C.- 370 a.C.). FILÓSOFOS SOCRÁTICOS Filósofos socráticos: Anaximandro, Heráclito, Anaxímenes de Mileto, Demócrito, Zenão de Eleia, Empédocles, Anaxágoras, Filolau de Crotona. Por fim, os filósofos pós-socráticos são divididos em dois subgrupos: grandes e pequenos. Dentro destes há, ainda, a divisão das escolas, vejamos: FILÓSOFOS PÓS-SOCRÁTICOS => Pequenos: -Megáricos: "Euclides de Mégara" -Cirenaicos: "Aristipo" -Cínicos: "Antístenses e Diógenes" => Grandes: -Academia de Platão: "Platão" -Liceu de Aristóteles: "Aristóteles" Escolas do período pré-socrático O período pré-socrático foi marcado por quatro escolas: 1) Escola Jônica → Originária da colônia grega Jônia, na Ásia Menor (atual Turquia). Filósofos: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso. 2) Escola Pitagórica/Escola Itálica → Desenvolvida no sul da Itália, por Pitágoras. Foi Pitágoras quem iniciou os estudos da alma humana ser vista de forma distinta do corpo. 30 3) Escola Atomista/Atomismo → Originada na região da Trácia. Representantes: Demócrito de Abdera e Leucipo de Abdera. 4) Escola Eleática → Originada no sul da Itália. Representantes: Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia. Escolas do Período Pós- Socrático O período pós-Socrático fora marcado pelo fim da hegemonia política e militar da Grécia. Esse contexto de guerras e perdas permitiu que surgissem três novas escolas de pensadores: 1) Ceticistas → Não acreditam em nada, tudo é dúvida; 2) Epicutistas → O sentido da vida é o prazer, buscar a felicidade; 3) Estoicistas → A razão deve comandar. Tudo que não for razão deve ser deixado de lado. As três escolas de pensadores são um reflexo direto deste período de transição enfrentado pelos gregos. Período de guerra e de mudança de domínio. Filósofos naturalistas: Conforme dito anteriormente, a Filosofia foi marcada por períodos. Os filósofos naturalistas e físicos foram os primeiros pensadores e constituíram a fase pré- socrática. Também eram chamados de filósofos cosmólogos, pois estudavam a Physis (a origem de todas as coisas)8 e o cosmos. Buscavam suas explicações no estudo empírico do fenômeno natural. Preocupavam-se com a origem do universo, com os fenômenos naturais e as divindades. 8 O que indica a natureza – “não no sentido moderno do termo, mas no sentido de realidade primeira e fundamental” – REALI; ANTISERI, 2003, p. 30 31 Em que pese o forte vínculo com a natureza, ousaram deixar de lado a crença em deuses e em fenômenos naturais e sobrenaturais do pensamento mítico, para buscar compreender de forma racional os fenômenos da natureza e o universo. Filósofos Naturalistas: Principais Conceitos Antes de passarmos para as biografias dos principais primeiros filósofos, é imprescindível que você entenda alguns conceitos abstratos dos filósofos naturalistas. Conceitos importantes para os filósofos cosmólogos: Logos, Razão, Arché. Cosmologia e Cosmogonia. Physis → Em Grego, significa natureza. Physis representa um termo genérico que significa de onde tudo vem e para onde tudo vai. A origem de todas as coisas no universo. Realidade primeira e fundamental que tudo originava. O conceito naturalista distingue coisas que são criadas de coisas que são fabricadas. Physis diz respeito ao que é criado e evolui. Arché → Em Grego, a palavra tem duplo significado: fonte, começo, início. Mas também significa algo que direciona. Para os gregos, arché fazia referência à origem, em que dela tudo deriva. É a raiz de todas as coisas da physis. Logos → Em Grego, significa a explicar, enunciar a razão. Logos é um termo utilizado para explicar a razão humana. Em um primeiro momento, logos busca explicar a physis (origem de todas as coisas). Posteriormente, evolui para um sentido de razão universal, porém na forma de princípio, de verdade, de razão. 32 UNIDADE V – PRIMEIROS FILÓSOFOS: NATURALISTAS. SOFISTAS. Objetivos da Unidade - Nesta unidade, você conhecerá os principais filósofos naturalistas; - Aprenderá sobre o contexto do surgimento do Sofismo e quem foram os sofistas. Filósofos Naturalistas ou físicos: Thales de Mileto, filósofo da Era Jacônica, foi o primeiro a desenvolver a filosofia da physis. Para ele, a água era a fonte originária, o princípio único. O “princípio” de tudo (arché) é o infinito, uma natureza (physis) infinita e indefinida da qual provém todas as coisas que existem. Thales de Mileto Pitágoras formou a escola pitagórica, cujos princípios universais eram os números. Tudo no universo tem medidas, o homem não inventou as medidas, elas sempre existiram. Não há certeza científica quanto às obras de Pitágoras, tendo em vista Dentre os atomistas o maior expoente foi Demócrito. Segundo seus ensinamentos, o vazio existe e os átomos o preenchem e podem combinar- se, alterando forma e estado, porém permanecem iguais. O grafite e o diamante representam esta ideia, pois mudam a aparência, mas permanecem na essência. O átomo- ideia é indivisível, inteligível e Heráclito e Parmênides encerram o período pré-socrático. O primeiro explicava que tudo muda o tempo todo. Ninguém entra no mesmo rio duas vezes. Há tensão entre elementos opostos. Eis que se encontram em guerra e em proximidade, pois um depende do outro. Por exemplo: o frio e o calor, a noite e odia. Heráclito defendia que o elemento era o 33 Seu discípulo, Anaximandro, no lugar da água acreditava no princípio no sentido de infinito (ápeiron). Toda origem de tudo no mundo é ilimitada e indefinida, em que desta análise abstrata se conclui que nada se perde, tudo se transforma. Anaximandro. que a escola tinha como princípio o segredo, e muito da obra a si atribuída surgiu após sua morte. Seus ensinamentos eram orais e a escola Pitagórica deu continuidade. Pitágoras. invisível9. Demócrito. Leucipo também foi um importante expoente. Defende que todas as coisas são formadas a partir da existência do átomo. Leucipo de Mileto. fogo. Heráclito Em sentido oposto, Parmênides, poeta do ser, defendendo que nada muda. O Ser é o não ser. As mudanças são uma ilusão, nada muda, na verdade, a essência não se modifica. Parmênides. Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito são considerados filósofos físicos. Além desses, outros filósofos naturalistas também marcaram a época e contribuíram para que o caminho dos cosmólogos chegasse ao seu limite exploratório10. Conheça mais alguns logo abaixo: Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.): integrante da Escola Jônica, defendia a condensação e rarefação do ar como a origem de todas as coisas. 9 É indivisível porque é a menor partícula da matéria. Inteligível, pois não é possível descrevê-lo. Por fim, invisível tendo em vista que é tão pequeno que não dá para ver. 10 Anaxímenes de Mileto, Xenófanes e os eleatas, Zenão e a Dialética, Melisso, Empédocles. Anaxágoras, Lêucipo, dentre outros. 34 Xenófanes (570 - 475 a.C.): considerado um dos fundadores da Escola Eleata. Foi mestre de Parmênides. Combatia o antropomorfismo. Defendia a existência de um Deus único presente no cosmos. Zenão (488 – 430 a.C.): integrante da Escola Eleática, foi discípulo de Parmênides e defendeu a filosofia de seu mestre. Segundo Aristóteles, ele foi o criador do método dialético. Anaxágoras (500 - 428 a.C.): acreditava na decomposição do que morre e composição do que nasce. Tudo era imutável. Empédocles (484 - 421 a.C.): grande poeta. Defensor da democracia. Acreditava nos 4 elementos da natureza. Integrou a Escola Jônica. Quem foram os Sofistas (IV e V a.C)? A palavra sofista deriva do grego Sophia, que significa sabedoria. Os sofistas foram filósofos estrangeiros que viviam como nômades e dominavam a Filosofia e a Arte da Oratória. Tinham que se deslocar de cidade em cidade e não faziam parte da vida política de Atenas. Por serem nômades, foram um dos responsáveis pela difusão do gênio Helênico. Defendiam a democracia usando a retórica. Eram relativistas11 e adotavam entendimento de mundo oposto ao socrático quanto à remuneração pelo pensamento filosófico. Isso porque eles ensinavam seus saberes em troca de compensação pecuniária, condição a que Sócrates e Platão se opuseram e que criticaram severamente. Os sofistas eram céticos dogmáticos. Segundo esse tipo de ceticismo, a verdade é impossível de ser alcançada. É uma teoria anticientífica, pois se preocupa em destruir toda e qualquer crença. Ela não é construtiva de teorias, mas destrutiva. Ela não acrescenta, mas limita, engessa a evolução do conhecimento. 11 Tudo era relativo e não haveria uma verdade. https://www.todamateria.com.br/parmenides/ https://www.todamateria.com.br/aristoteles/ 35 Contexto para o surgimento do sofismo Em um primeiro momento, havia apenas a Filosofia naturalista dos pré- socráticos. Os filósofos naturalistas retiraram os deuses do centro das discussões. Justificavam suas dúvidas sobre a origem do universo, dos sentimentos e dos fenômenos naturais como o cosmos (universo), a física e a natureza. Na natureza eram encontrados os elementos essenciais de tudo, o princípio de tudo e a origem de todas as coisas (o arché). Com o desenvolvimento das navegações na Grécia Antiga, ocorreu o crescimento do comércio e Atenas se tornou um grande pólo intercultural. Havia a necessidade de intermediadores que falassem diferentes línguas e ajudassem na intermediação dos negócios. Neste contexto, surgem os sofistas: pessoas de fora de Atenas que tinham vasto conhecimento adquiridos nas navegações, inclusive quanto a diversas culturas. Os sofistas acreditavam na dialética, na persuasão, no poder do argumento e na arte da negociação. Visavam à formação de uma cultura grega marcada pelo diálogo, pela retórica. A grande virtude dos sofistas é que eles foram um instrumento de democratização do saber e da arte do convencimento. Eles trouxeram a qualquer cidadão, desde que pagassem, a possibilidade da oratória, do discurso. Importante ressaltar que naquela época não havia ainda escrita. Assim, quem dominasse a retórica, a arte da palavra e da persuasão, teria a garantia do sucesso comercial e político. Uma desvantagem é que os sofistas criaram o Sofismo, termo que significa uma falta de verdade capaz de enganar algumas pessoas. Para os sofistas, a verdade não existe e tudo pode ser desmentido e convencido pela oratória (fala, discurso, retórica). Por fim, os sofistas eram egoístas, hedonistas e imediatistas. Acreditavam que a busca da felicidade era o caminho. O homem deveria perseguir este ideal o tempo inteiro, pois a vida é curta. 36 UNIDADE VI – PASSAGEM DO NATURALISMO AO HUMANISMO. SÓCRATES E A REVOLUÇÃO DO MUNDO INTERIOR. SÓCRATES E O MÉTODO DIALÉTICO. MAIÊUTICA. Objetivos da unidade 37 - Nesta Unidade, você entenderá a passagem do Naturalismo para o Humanismo; - Compreenderá em que consistiu o Humanismo em Sócrates e a revolução do mundo interior; - Estudará a metodologia dialética socrática direcionada à Maiêutica; - Conhecerá “o problema de Sócrates”. Passagem do Naturalismo para o Humanismo Os sofistas viveram na época dos filósofos pré-socráticos e influenciaram a passagem do Naturalismo para o Humanismo. Tudo deve ser formado pelo homem e em prol do homem. O mais famoso sofista, Protágoras, eternizou seus ensinamentos com a conhecida frase: “O homem é a medida de todas as coisas.”. Os sofistas inauguram uma época em que não há mais a crença nos deuses. Também não há mais a preocupação com a Physis e a origem de todas as coisas. Todo o conhecimento que a Filosofia gerar deve ser direcionado ao homem e à melhora de sua vida e à coletividade. Assim, corre a passagem da visão teocêntrica para a visão humana e o início do Humanismo Antigo. Nestes termos, os sofistas também estabeleceram o Relativismo. Nele, cada homem estabelece sua medida e forma de interpretar o mundo. Há múltiplas leituras do real. Virtuoso era o sujeito que conseguisse derrubar o argumento de outro. Tudo era relativo. Assim, uma verdade poderia tornar-se mentira e vice-versa, a depender do argumento. Os sofistas acreditavam na relatividade da verdade e venciam suas verdades na ágora ateniense12. 12 Espaço público em que ocorriam verdadeiras disputas filosóficas, discussões. 38 A retórica (argumentação e convencimento) e a política eram os grandes investimentos dos sofistas, que ensinavam a arte do argumento a quem pudesse pagar. Sócrates, Platão e Aristóteles os criticavam. Diziam que eles não tinham compromisso com a verdade e distorciam a função do filósofo, tendo em vista que vendiam sua fala por terem uma boa retórica. Também os consideravam mentirosos e oportunistas. Alegavam que os sofistas defendiam a justiça, segundo esses interesses, quando defendiam o Relativismo. Em que pese as críticas da época, hoje se sabe que os sofistas romperam com o esquema social que limitava a cultura e o conhecimento aos ricos. É importante notarmos, ainda, que os sofistas questionavam os costumesvigentes e iniciaram uma nova tradição filosófica que alterou o foco da discussão: do cosmos para o homem. Ademais, os sofistas influenciavam os jovens a questionar o modelo vigente. Defendiam a educação de todos os cidadãos e a preparação dos estudantes para pensar. Devido a essa conjuntura, os sofistas foram severamente perseguidos e acusados de causar rebeldia nos jovens. Também foram acusados de irem contra os interesses da cidade. Protágoras foi o mais famoso sofista. Defendia o Humanismo e o Relativismo. Suas célebres frases são: “Tudo é relativo.” e “O homem é a medida de todas as coisas.” Por fim, Protágoras teve seus livros queimados. Apenas uma parte foi resgatada por Platão. Sócrates e a revolução interior – do Naturalismo ao Humanismo 39 Sócrates (469‑399 a.C.) foi considerado o divisor de águas na Grécia Antiga. Conforme estudamos anteriormente, este fato permitiu a divisão dos filósofos em pré-socráticos e pós- socráticos. O filósofo viveu em Atenas, em um período bastante conturbado. Tinha como escopo a busca da verdade e do conhecimento, conforme a aplicação do método da Maiêutica (aprofundaremos na próxima unidade). Ser sábio para Sócrates era ser humilde13. Era questionar com método o que estava posto, questionar o senso comum. Para ele, a verdade plena jamais é possível de ser atingida. A grande frase do filósofo era: “Conhece-te a ti mesmo.”. Ele almejava que as pessoas conhecessem a si. Acreditava que a razão é o que distinguia um homem do outro. É ele quem consolida o Humanismo iniciado pelos sofistas. Nisso há um ponto em comum entre as duas teorias. Porém, é Sócrates quem direciona o estudo filosófico para o método científico (Dialética e Maiêutica, conforme veremos oportunamente) e para a busca do conhecimento de cada um por si. Os sofistas eram céticos dogmáticos e não admitiam nenhuma crença. Sócrates também criticava o fato dos sofistas cobrarem pagamento por sua boa fala (oratória). 13 Uma célebre frase de Sócrates é: “Só sei que nada sei.” (O paradoxo de Sócrates). Sócrates 40 Esse Humanismo socrático que busca coerência na vida humana será retomado na Renascença, conforme estudaremos oportunamente. Sócrates: Dialética e Maiêutica Continuando o estudo do filósofo Sócrates, verificamos que em seus estudos ele utiliza a famosa Técnica da Formulação de Perguntas (discussão racional). Essa técnica compôs a metodologia socrática e foi eternizada pelos séculos em todo o mundo. O MÉTODO SOCRÁTICO passa por fases de aprofundamento do conhecimento para chegar, por fim, a Maiêutica, conforme o quadro que segue: MAIÊUTICA Maiêutica significa parto, dar à luz. Neste contexto, Sócrates se refere à Maiêutica no sentido de fazer nascer a verdadeira ideia, o belo, a coragem, as virtudes. Com este termo, ele quer dizer que é preciso conhecer para, a partir do conhecimento, modificar o ser, dando luz a algo verdadeiro e virtuoso. Assim, a Maiêutica é uma filosofia científica (sistematizada em metodologia) voltada ao autoconhecimento, à coerência, à conformidade entre pensamento e ser. Com esta finalidade, o filósofo utilizava do método indutivo14 e dialético, que era composto de duas etapas. Segundo Sócrates, estas são as etapas da metodologia: 1) Etapa: Ironia → No sentido Grego da época, ironia significa perguntar, questionar (eiren). É um significado diferente de como entendemos a palavra hoje. Nesta primeira etapa da metodologia, Sócrates visa que o interlocutor declare a própria ignorância pelo reconhecimento do preconceito da resposta dada, das opiniões subjetivas, da ausência de fundamentação completa, da falha no raciocínio. Funciona da seguinte forma: Sócrates pede que o interlocutor faça uma conceituação sobre determinado assunto. Com a conceituação feita, Sócrates destaca as contradições e as carências da resposta. E assim faz uma nova pergunta, levando o interlocutor a uma nova 14 Indutivo o método de pesquisa que começa com a observação de vários casos particulares para concluir uma verdade geral. 41 resposta, refutada pelo filósofo, o que levava a nova resposta. E assim sucessivamente, em constantes perguntas e respostas. Até que por fim, o interlocutor exausto, confuso e irritado, perdido nos próprios argumentos, reconhece a própria ignorância, declarando-se perdedor. O primeiro passo na busca do conhecimento era o reconhecimento da ignorância pelo interlocutor não para constrangê-lo, mas para purificar o entendimento e desfazer as ilusões. 2) Etapa: Maiêutica → É a segunda etapa do método de Sócrates. O interlocutor deveria encontrar as respostas dentro de si. Maiêutica é a arte de auxiliar o interlocutor a se despojar de tudo aquilo que alguém diz saber, desfazer da própria ignorância, dos preconceitos e encontrar a resposta dentro de si. Sócrates em seus estudos nunca chega a um conhecimento absoluto. Aplicação do MÉTODO SOCRÁTICO: EXORTAÇÃO (Chama para a discussão) → INDAGAÇÃO (Ouve a opinião do outro e questiona o senso comum) → IRONIA (Destrói o argumento oposto) → MAIÊUTICA (Surge nova verdade e novos filósofos. Aquisição de conhecimento e sabedoria). Autenticidade dos ensinamentos socráticos: Sócrates não deixou nada escrito; todas as suas fontes eram orais. Fato que dificultou distinguir o que efetivamente foi produção do autor. A esse fato dá-se o nome de O problema de Sócrates15. Porém, Sócrates teve vários expositores de suas ideias, uns dotados de maior credibilidade, outros dotados de menor credibilidade: 15 Tem a ver com a natureza da escrita na época. 42 - Xerofontes: amigo de Sócrates constitui uma fonte duvidosa para retratá-lo, tendo em vista que Sócrates foi condenado à morte. - Aristófanes: foi um dramaturgo. É a fonte cômica que tenta retratar Sócrates em uma peça, de forma lúdica e com senso comum. Exagero negativo da imagem de Sócrates. - Aristóteles: entende Sócrates como o pai da ciência. Exagerou quanto à figura de Sócrates de forma positiva. - Platão: trouxe os diálogos entre ele e Sócrates e substância para o entendimento do método Socrático. Platão é a mais confiável externalização do pensamento socrático. Ainda assim, não se sabe ao certo onde terminam os ensinamentos de Sócrates e, então, começam os ensinamentos de Platão. Isso porque alguns trechos das obras intituladas a Sócrates são voltados à política, característica de Platão. 43 UNIDADE VII – SÓCRATES E OS SOFISTAS. MORTE E HERANÇA DE SÓCRATES. PLATÃO E A CONSTRUÇÃO DA CIDADE IDEAL. Objetivos da Unidade - Nesta unidade, você refletirá sobre Sócrates e os Sofistas; - Aprenderá sobre a morte de Sócrates e a herança deixada por ele; - Iniciaremos os estudos de Platão, sobre a construção da cidade ideal; - Compreenderá a Teoria da Alma. Sócrates e os sofistas Sócrates defendeu teses diversas às dos sofistas e pode ser considerado o contraponto deles, apesar de por muitas vezes ter sido confundido com eles. Ocorre que os sofistas não acreditavam na verdade e na Dialética para chegar à Maiêutica, mas na Relatividade16, no poder do argumento e do convencimento. A verdade podia ser criada conforme o gosto do freguês. Por outro lado, Sócrates defendia que a verdade se encontra no interior da alma humana. Aduzia a utilização do método dialético para chegar até a verdade (Maiêutica). Sócrates também não pode ser confundido com os sofistas, pois criticava a cobrança de valores pela oratória, ao invés de exigir remuneração por seu trabalho. O maior indício de que não era sofista vem da sua própria vida. Sócrates era pobre e não cobrava caro pelo ensinamento de suas virtudes, apesar de ter pupilos riquíssimos, a exemplo de Platão, que pertencia à família nobre. Diferentementedos 16 Segundo a relatividade dos sofistas, tudo é passível de discussão e pode ser vencido ou não, a depender de quem discute. 44 sofistas, Sócrates preocupava-se apenas em difundir sua verdade e a verdade de cada ser humano. A morte e a herança deixada por Sócrates Sócrates foi importantíssimo para a Antiguidade. Questionou o modelo vigente e a verdade exposta por uma opinião rasa e incomodou as autoridades. Tais questionamentos custaram-lhe a vida. Acusado de ser sofista, corromper a juventude de Atenas (inclusive Platão), desacreditar nos deuses da cidade e de ir contra a democracia, foi condenado à morte por “impiedade”. Sócrates fora obrigado a tomar um copo de cicuta (veneno). Porém morreu fiel às suas ideias, tendo feito um lindo discurso no ato da morte. Sócrates pode ter morrido, mas suas ideias ficaram vivas por meio de seus discípulos, que o devolveram ao mundo e o eternizaram. Até hoje o método socrático é utilizado por professores em todo o mundo. Esta foi a sua grande herança para a humanidade. Filósofos socráticos Intitulados porta-vozes da virtude, filósofos socráticos defendiam a busca da ética teleológica, da educação, da virtude e da obediência e fincavam seus alicerces La mort de socrat 45 no homem e não nos fenômenos naturais, seguindo a mesma linha iniciada por Sócrates em seus estudos. Platão “A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma.” (Platão) Platão Quem foi Platão? Platão (427 a.C. - 347 a.C.) foi o mais importante discípulo de Sócrates, mas foi além dos ensinamentos deste. Humanista de família nobre, uniu em seus estudos política e filosofia para traçar o perfil de uma política ideal, verdadeira e justa. Decepcionado com a política (principalmente devido à morte de Sócrates), buscou alternativas para a democracia ateniense e fundou a Metafísica Ocidental e a Academia de Platão17. Posteriormente, Platão foi discípulo de Pitágoras e adicionou aos seus estudos a visão pitagórica de alma, Matemática e Geometria. O filósofo questionou a democracia da época. Dizia que aquela forma de democracia não representava um governo ideal, pois não abarcava todos, mas apenas o homem, branco, filho de pai e mãe ateniense, livre e maior de idade18. Defendia a instituição de uma República19 em seu lugar, dividida de forma hierárquica conforme o saber. Juntamente com Sócrates, opôs-se aos sofistas. Condenava-os por venderem a retórica. Consideravam tal ato corrupção. Para Platão, o filósofo deveria ser um 17 Considerada a primeira instituição de ensino superior do ocidente. 18 Os escravos, as mulheres, os menores de idade, os estrangeiros e os pobres não eram considerados cidadãos. 19 “A República” foi o nome conferido ao famoso livro de Platão. 46 intérprete da sociedade, que atuaria na busca do bem comum, de forma transparente, de forma a mostrar a todos a verdade. Platão criou a Teoria das Ideias, da Dialética. Usou-a para discordar do relativismo dos sofistas. Desenvolveu a Maiêutica de Sócrates e aprofundou a síntese proveniente da contraposição entre a tese e antítese, complementando-se em uma terceira ideia, chamada de síntese (estudaremos o tema com maior profundidade). Para tanto, Platão questionou o extremo oposto entre a tese e a antítese, de Parmênides e Heráclito, filósofos naturalistas estudados anteriormente. A construção da cidade ideal com base no conceito de justiça A cidade idealizada por Platão é um lugar bem ordenado, justo. Engloba justiça, educação e estrutura social. Para tanto, Platão desenvolveu um processo educacional que acompanhava o indivíduo dos 7 aos 30 anos de idade, chamado de paideia, com o objetivo de preparar a parte racional da alma para o controle as outras partes do corpo. O filósofo descreve uma pólis ideal, em que haja realmente justiça, distribuindo as pessoas de forma hierárquica, de acordo com a capacidade intelectiva de cada um. Lembre-se de que, para entendermos Filosofia, precisamos fazer uma viagem no tempo e analisar a estrutura social da época. Naquela época, democracia era diferente do regime que temos hoje e da ideia de governo do povo. A democracia da Grécia consistia apenas na inclusão do homem nascido em Atenas, maior de idade e não escravo. Assim, a cidade ideal para Platão não seria dividida em posses, como era na Grécia Antiga, mas em uma estrutura intelectual. Na base dessa estrutura hierarquizada estariam os produtores (parte apetitiva), no meio os guardiões (parte emotiva) e, no topo da organização social, os governantes (parte racional). Os filósofos comporiam a terceira classe (dos governantes). Nesse contexto, somente filósofos poderiam ser reis. Isso porque somente os indivíduos dotados de saber científico poderiam ver a potência das coisas e encontrar 47 a virtude nelas - virtude no sentido de justa medida, o meio termo. Todas as coisas têm potência, uma natureza em si. E a natureza do filósofo é saber e discernir o melhor caminho. É o filósofo que tem a natural sabedoria para escolher o melhor caminho. Um último diferencial importante da pólis ideal de Platão é o de que as mulheres também poderiam fazer parte desse processo político. Platão e a Teoria da Alma Teoria da Alma Após a morte de Sócrates, Platão tornou-se discípulo de Pitágoras e sofreu influência dos Pitagóricos (Escola de Pitágoras), corrente filosófica que distingue a alma do corpo. Platão defendia que havia dois mundos: 1) Mundo das ideias: mundo sensível, perfeito, imutável, mundo da alma (teorias de Parmênides e Heráclito). 2) Mundo Terreno (mundo humano): o corpo era o túmulo da alma. Segundo Platão, os seres humanos têm uma alma imortal. A forma mais elevada de pensamento é a razão, que é uma característica da alma imortal. Mas o indivíduo na terra perdeu contato com essa razão da alma. A única forma de a alma chegar ao conhecimento verdadeiro novamente, ao mundo das ideias, é superando a experiência sensorial (experiência dos sentidos, experiência terrena). Somente é possível chegar ao inato (ao mundo das ideias esquecido) por meio do domínio da Filosofia e da Matemática. O papel da educação é o de trazer à tona novamente este conhecimento. No livro A República, Platão defendeu que no mundo terreno a alma é composta por 3 partes: 1) Apetitiva (parte responsável pela reprodução e subsistência); 2) Emotiva (parte responsável pelas emoções); 3) Racional (é a parte responsável por tornar uma pessoa melhor que outra e alcançar o mundo das ideias, o mundo perfeito). 48 O estágio racional, ligado ao mundo perfeito, era alcançado por meio de um sistema educacional chamado paideia. • A paideia era um sistema educacional dialético que ocorria dos 7 aos 30 anos de idade e preparava a parte racional da alma para o controle das outras partes do corpo. Na pólis (cidade ideal de Platão), havia realmente justiça, porque apenas os filósofos (pessoas racionais) a controlavam. Nela, as pessoas seriam distribuídas de forma hierárquica, de acordo com a sua capacidade intelectiva e com a parte ocupada na alma terrena. A cidade ideal seria dividida em: produtores (parte apetitiva), guardiões (parte emotiva), governantes (parte racional – filósofos). Nesse contexto, somente os filósofos poderiam ser reis. As mulheres também poderiam fazer parte desse processo. Em suma, para Platão a Filosofia é uma libertação da alma, para chegar a super essência desta. Conhecer é reconhecer algo que a alma humana já sabe, mas precisa ser relembrado. Atividade Extraclasse: INDICAÇÃO DE FILME: SÓCRATES 49 UNIDADE VIII – PLATÃO E A TEORIA DA REMINISCÊNCIA. PLATÃO E A VIRTUDE. ALEGORIA DA CAVERNA. ARISTÓTELES. DIFERENÇAS ENTRE PLATÃO E ARISTÓTELES. Objetivos
Compartilhar