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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - FMU APS – Filosofia do Direito e Direitos Humanos Professor Emerson Malheiros Hebert Santos de Souza R.A.: 8366958 São Paulo, 25 de abril de 2021 APS – Atividade Prática Supervisionada Análise do caso de Gilson Nogueira No dia 20 de outubro de 1996, foi assassinado, na cidade de Macaíba, Estado do Rio Grande do Norte, Francisco Gilson Nogueira de Carvalho. Pelo que se sabe, o advogado que atuava na área na defesa dos direitos humanos, teria sido assassinado por um grupo de extermínio, conhecidos como “meninos de ouro”, por causa de suas incessantes denúncias acerca de crimes cometidos por esse grupo. É importante pontuar que, o advogado dedicou parte de sua vida profissional combatendo esses crimes, denunciando esse grupo, do qual tinha policiais civis entre outros funcionários estatais como membros. Nesse contexto, a Comissão Internamericana de Direitos Humanos submeteu à Corte, em 13 de janeiro de 2005, uma demanda contra a República Federativa do Brasil, de acordo com o texto dos artigos 50 e 61 da Convenção Americana, da qual o país faz parte. Na demanda, a Comissão Internamerica alega que o Estado violou as garantias judiciais e a proteção judicial disposto nos artigos 8 e 25, respectivamente, da Convenção Americana, sendo que o Estado tinha a obrigação de respeitar os direitos estabelecidos pelo artigo 1.1, do mesmo instrumento legal. Em razão disso, fez com que Jaurídice Nogueira de Carvalho e Geraldo Cruz de Carvalho, pais de Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, partes legitimas da demanda, tivessem sido negligenciados pelo Estado, por causa da falta de devido andamento do processo legal, em que não houveram efetiva investigação dos fatos, bem como a falta de punição para os responsáveis pela morte do advogado, além de não ter esgotado os institutos judiciais que poderiam ser utilizados no caso. Desse modo, em 11 de dezembro de 1997, o Holocaust Human Rights Project e o Group of International Human Rights Law Students, que fazem parte do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), peticionaram, perante a Comissão Internamericana, contra o Brasil, alegando que o Estado era responsável pela morte do advogado Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, por não ter garantido a ele o direito à vida, à uma investigação efetiva sobre a sua morte, bem como a promoção de processar e julgar os responsáveis pelo assassinato. Cabe salientar que, a denúncia foi apresentada em língua inglesa, posteriormente, em 13 de outubro de 1998, traduzida para o português. Apesar da petição ter sido oferecida pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), mais tarde, em 21 de agosto de 2000, a Justiça Global foi incorporada como co-peticionário. Antes disso, em 10 de dezembro de 1998, foi reconhecido a competência da Corte Internamericana, para reconhecer as exceções de preliminares, bem como, a eventuais reparações, mérito e custas presente no caso. Vale ressaltar que, apesar da morosidade, mais tarde a República Federativa do Brasil apresentou exceções de preliminares a respeito do caso. O Estado, apresentou à Corte duas exceções de preliminares: a primeira alegando a falta de competência ratione temporis, e a segunda alegando que não houve o esgotamento dos recursos da jurisdição interna do Estado. Sendo que, na primeira preliminar de exceção, o Estado alega que a Corte Internamericana não possui competência para reconhecer a demanda, pois embora a Comissão alegue a violação dos artigos 1.1, 8 e 25 da Convenção Americana, a demanda requer uma condenação indireta pela violação do artigo 4, do mesmo instrumento. E apesar de ter reconhecido a competência contenciosa da Corte, a morte do advogado aconteceu dois anos antes do reconhecimento, razão pela qual impede o Tribunal de reconhecer a máteria. Já a segunda exceção de preliminar, o Estado alega que enquanto a Comissão reconhecia a admissibilidade da demanda, foi informada de que o processo penal que investigava a morte do advogado estava em trâmite, e por isso não deveria ter sido aceita a demanda. Além disso, os recursos interpostos pelas partes, os pais de Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, estavam pendentes de decisão na jurisdição interna sendo, mais uma vez, inadmissível o reconhecimento da demanda. Ademais, no que concerne ao pedido de pagamento de indenização a favor dos pais do advogado, feito perante a Corte, não houve requisição na Justiça Nacional. Não obstante, foram apresentadas provas referentes as alegações tanto por parte dos peticionários, como do Estado. Sendo que, os representantes anexaram uma declaração testemunhal e um laudo pericial, enquanto que o Estado apresentou duas declarações testemunhais, todos os documentos autenticados por meio de notório púbico. Dessa maneira, com base nos fundamentos provados, a Corte restou por acreditar que os fatos antecedentes ao reconhecimento de competência contenciosa da Corte pelo Estado, razão pela qual não haverá consequência jurídica aos fatos anteriores, ao contrário dos acontecimentos ocorridos a partir da data da referida competência. À vista disso, levando em consideração aos fatos e fundamentos apresentados tanto pela Comissão Internamericana, quanto pela República Federativa do Brasil, Estado, foi declarada por unanimidade pela Corte, a desconsideração das preliminares de exceções interposta pelo Estado, visto que o Estado não limitou a competência temporal da Corte em sua declaração de reconhecimento da competência contenciosa. No que concerne a violação das Garantias Judiciais e à Proteção Judicial dispostos nos artigos 8 e 25, respectivamente, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, a Corte reconheceu que não houve violação de tais direitos e, por essas razões, decidiu arquivar a demanda que lhe foi apresentada.