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www.PROJETOREDACAO.com.br Exercícios de Interpretação de texto A tecnologia é hoje crucial para uma educação de qualidade. Para estudantes, ela congrega informações e interatividades que facilitam o aprendizado. Para as escolas e professores, ela é um ganho de ferramentas pedagógicas estratégicas que elevam a qualidade do ensino, além de facilitar a gestão e a logística do grande volume de informações, provas e papéis que circulam diariamente nos colégios. O PROJETO REDAÇÃO está inserido nesse cenário, fornecendo soluções tecnológicas inovadoras para a educação. Já são mais de 804.451 usuários e mais de 1.300.000 redações corrigidas. Esperamos, juntos, protagonizar a transformação da educação brasileira, garantindo um ensino acessível e de qualidade. A Equipe PROJETO REDAÇÃO deseja a você bons estudos e muito sucesso! SUMÁRIO Questões fáceis ............................................................ 4 GABARITO ............................................................................................... 153 Questões médias .................................................... 158 GABARITO ............................................................................................... 331 Questões difíceis .................................................... 336 GABARITO ............................................................................................... 484 4 - www.PROJETOREDACAO.com.br TEXTO: 1 - Comuns às questões: 1, 2 Lei de Abuso de Autoridade não ameaça qualquer práti- ca jurisdicional Em corpos diferenciados do funcionalismo público emerge, naturalmente, um corporativismo construí- do pelo elitismo do seu “espírito de corpo”. Trata-se, de fato, de um anel protetor do bom e do mau uso que seus membros podem fazer de suas prerrogati- vas. Um exemplo disso é a que o País assiste agora, perplexo: a reação à lei que combate os possíveis abusos de autoridade nos Três Poderes da República. (...) Eventuais dúvidas sobre julgamentos são anali- sadas com recurso a instâncias jurídicas superiores (colegiadas), porque só outros juízes podem avaliar a razoabilidade de outro juiz. O preparo da ação e o julgamento são influenciados por muitos fatores (inclusive a “visão de mundo” de cada um deles). O importante, entretanto, é que, se o paciente não se conformar com o resultado, há a possibilidade de re- correr a instâncias superiores que, eventualmente, terão a oportunidade de corrigi-lo. Esses parcos co- nhecimentos me levaram nos últimos 70 anos a acei- tar tal mecanismo como satisfatório para minimizar os riscos do sistema. É por isso que estou surpreso com a reação corporativista contra a Lei de Abuso de Autoridade, que, obviamente, não ameaça qualquer prática jurisdicional que obedeça ao espírito e à letra da Lei. Sobre o poder do Congresso de produzi-la e aprová- la, e o poder do presidente de sancioná-la ou vetá-la parcialmente, não há dúvidas. Entretanto, a palavra final sobre ela (pela rejeição de eventuais vetos) pertence ao Congresso. Mas há um problema lógico muito interessante, apontado pelo competente Elio Gaspari. No caso de eventual denúncia de abuso de autoridade, quem vai julgá-lo? O próprio Judiciário! Logo, se um funcionário da Receita, do Coaf, um promotor ou um juiz se julga ameaçado, porque será “controlado” pelo próprio Judiciário, é porque ele não acredita em nada do que foi dito acima! (...) (Delfim Netto, revista Carta Capital, adaptado, 28 de agosto de 2019) Questão 01 - (ESPM SP) Segundo o texto: a) uncionários públicos executaram um bom “lo- bby”, para se protegerem de possíveis falsas acusações relativas a exercício ilegal de poder. b) Membros do funcionalismo público dos três po- deres demonstraram divergências ideológicas quanto à Lei do Abuso de Autoridade. c) O “espírito de corpo”, que é uma postura soli- dária de um determinado grupo, é conflitante com uma nova lei que trata de extrapolação de poder. d) Tomados por certo elitismo, funcionários de ins- tituição oficiais se manifestaram favoravelmente à lei que combate possíveis abusos de autorida- de. e) Usando o corporativismo como escudo, setores do funcionalismo público reagiram infensos à Lei de Abuso de Autoridade. Questão 02 - (ESPM SP) Um dos questionamentos levantados pelo autor (que o faz concordar com Elio Gaspari) é: a) a possibilidade de recurso ao Supremo afastar qualquer temor de julgamento equivocado em primeira instância. b) julgamentos estarem sujeitos, dentre vários fa- tores, às visões particulares de cada magistrado. c) a prática jurisdicional obediente ao espírito e à regra da Constituição não acarretar prejuízos a funcionários públicos. d) um funcionário, seja da Receita ou do Coaf, seja um juiz ou promotor, sentir-se coagido pelo Ju- diciário e não confiar na justeza da lei. e) o arrazoado de um juiz só poder ser julgado ou avaliado por outro juiz. TEXTO: 2 - Comuns às questões: 3, 4, 5, 6 Os fenômenos da linguagem examinavam- se ou- trora apenas à luz da gramática e da lógica, e já era muito se a análise reconhecia como palavras expleti- vas ou de realce os termos sobejantes¹ unidos à ora- ção ou nela encravados. QUESTÕES FÁCEIS www.PROJETOREDACAO.com.br - 5 Hoje que a ciência da linguagem investiga os fatos sem deixar-se pear² por antigos preconceitos, já não podemos levar essas expressões à conta da super- fluidades nem ainda atribuir-lhes papel decorativo, o que seria contrassenso, uma vez que rareiam no dis- curso eloquente e retórico e se usam a cada instante justamente no falar desataviado de todos os dias. Uma coisa é dirigirmo-nos à coletividade, a pes- soas desconhecidas, de condições diversas, e que nos ouvem caladas; outra coisa é tratar com alguém de perto, falar e ouvir, e ajeitar a cada momento a linguagem em atenção a essa pessoa que está diante de nós, para que fique sempre bem impressionada com as nossas palavras. (Said Ali, Meios de Expressão e Alterações Semânti- cas, RJ) ¹ sobejantes: demasiados, excessivos, de sobras. ² pear: prender. Questão 03 - (ESPM SP) Conforme o autor: a) A gramática e a lógica reconheciam outrora a análise das partículas de realce. b) A gramática e a lógica analisavam apenas os ter- mos sobejantes da oração. c) A linguagem era iluminada outrora apenas pela análise dos termos de realce. d) As palavras excedentes encaixadas na oração, classificadas como termos de realce, consti- tuíam, até então, os limites da análise. e) As palavras expletivas e ilógicas sobravam nas orações de realce, desde que reconhecidas como fenômenos da linguagem. Questão 04 - (ESPM SP) Conforme o texto, para a ciência da linguagem, as ex- pressões de realce passaram a ser: a) um raro contrassenso linguístico. b) frequentes na linguagem coloquial cotidiana. c) supérfluas e decorativas. d) eloquentes nos discursos retóricos. e) comuns na linguagem culta ou padrão. Questão 05 - (ESPM SP) Segundo o texto: a) A coletividade, interlocutora de nossos discur- sos, é constituída de pessoas desconhecidas que nos ouvem em silêncio. b) Há uma tendência frequente de impressionar, com vocabulário rebuscado, um receptor de nossa fala. c) É necessário escolher adequadamente o públi- co-alvo de nossa fala, para compatibilizar o nível de linguagem entre ambos. d) Há uma tendência frequente de modular a lin- guagem voltada ao ouvinte que está diante de nós para impressioná-lo. e) Um discurso retórico, com emprego de lingua- gem formal e de palavras cultas, impressiona o ouvinte. Questão 06 - (ESPM SP) Segundo o autor, não seria um contrassenso: a) Nos tempos atuais, a ciência linguística prender- -se a superfluidades. b) A ciência linguística ainda estar entravada por preconceitos. c) Os antigos preconceitos já não influírem na in- vestigação linguística dos fatos. d) A ciência da linguagem deixar-se permear pela gramática. e) Considerar palavras ou expressões de realce como sendo inútil por excesso. TEXTO:3 - Comum à questão: 7 amora a palavra amora seria talvez menos doce 6 - www.PROJETOREDACAO.com.br e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. Questão 07 - (FUVEST SP) É correto afirmar que o poema a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amar- go e sombrio. b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das pala- vras, o que vem expresso pela repetição da pala- vra “talvez”. c) apresenta natureza romântica, sendo as pala- vras “amora” e “amargo” metáforas do senti- mento amoroso. d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. TEXTO: 4 - Comuns às questões: 8, 9 Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. Questão 08 - (FUVEST SP) Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua comple- xidade abordará o poema como a) uma defesa da natureza. b) um ataque às forças armadas. c) uma defesa dos direitos humanos. d) uma defesa da resistência civil. e) um ataque à passividade. Questão 09 - (FUVEST SP) O ditado popular que se relaciona melhor com o poe- ma é: a) Para bom entendedor, meia palavra basta. b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. e) Uma andorinha só não faz verão. Questão 10 - (FUVEST SP) Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pinga- dinho, quase menino – “pepino que encorujou des- de pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo en- farruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam-se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabe- lo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia-lua; malares pontudos; lobo da orelha aderen- te; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol. Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. *sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço www.PROJETOREDACAO.com.br - 7 O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no frag- mento, permite afirmar que a) há clara antipatia do narrador para com a per- sonagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro. c) a expressão “caburé insalubre” denota o deter- minismo biológico que norteia o livro. d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física. e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como in- gênua. Questão 11 - (FUVEST SP) 1 O feminismo negro não é uma luta meramente iden- titária, até 2 porque branquitude e masculinidade também são 3 identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos 4 democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas 5 minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma 6 incom- preensão fundamental. Não que eu buscasse respos- tas 7 para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, 8 não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia 9 vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma 10 pergunta já supon- do que eu não saberia a resposta. Por que 11 eu fica- va isolada na hora do recreio. Por que os meninos 12 diziam na minha cara que não queriam formar par com a 13 “neguinha” na festa junina. Eu me sentia es- tranha e 14 inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no 15 automático, me esforçando para não ser notada. Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo ne- gro?. O trecho que melhor define a “incompreensão fun- damental” (Ref.6) referida pela autora é: a) “não que eu buscasse respostas para tudo” (Refs. 6-7). b) “não tinha consciência de mim” (Ref. 8). c) “Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (Refs. 10-11). d) “me esforçando para não ser notada” (Ref. 15). e) “sentia vergonha de levantar a mão” (Refs. 8-9). TEXTO: 5 - Comum à questão: 12 1 E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et 2 Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a 3 mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – 4 coisas que, aliás, não impe- dem que uma pessoa ame, quando 5 quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa 6 per- gunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que 7 eu não me quero senão com dissimulados. 8 Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chega- ra ao fim da 9 comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia 10 chamou-lhe “o anjo da conso- lação”. E não se pense que este 11 nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, 12 resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar 13 as novas amigas, e fazer-lhe perder em um dia o trabalho de 14 longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha 15 trouxe no número seguinte, no- meando, particularizando e 16 glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira 17 grandeza”. Machado de Assis, Quincas Borba. Questão 12 - (FUVEST SP) No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dia- logando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como subs- tantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance, sugere-se que a tartufice a) se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios. b) é ação isolada de Sofia, arrivista social e bene- mérita fingida. c) diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que ex- plica o título do livro. d) se produz na imprensa, apesar de esta se esqui- var da eloquência vazia. e) se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes. Questão 13 - (FUVEST SP) 8 - www.PROJETOREDACAO.com.br Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá-la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra. Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimen- to, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó dis- se que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer. Helena Morley, Minha Vida de Menina. Perguntas Numa incerta hora fria perguntei ao fantasma que força nos prendia, ele a mim, que presumo estar livre de tudo eu a ele, gasoso, (...) No voo que desfere silente e melancólico, rumo da eternidade, ele apenas responde (se acaso é responder a mistérios, somar-lhes um mistério mais alto): Amar, depois de perder. Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira. b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais. c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poetaespecula o sentido filo- sófico da morte. d) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo. e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares. TEXTO: 6 - Comuns às questões: 14, 15, 16, 17, 18 Texto I Fonte: Disponível em: https://www.agenciaconexoes. org/fome-e-desperdicio-em-numeros/. Acesso em: 09 agost. 2019. (texto adaptado). www.PROJETOREDACAO.com.br - 9 Texto II Sem merenda: quando férias escolares significam fome no Brasil “Me corta o coração eles quererem um pão e eu não ter. Já coloquei os meninos na escola pra isso mesmo, por causa da merenda. Um pouquinho de arroz sempre alguém me dá, mas nas férias com- plica”, afirma Alessandra, que, desempregada, cole- ta latinhas na favela de Paraisópolis, em São Paulo, onde mora. [...] O drama de Alessandra não é incomum. As férias escolares, quando muitas crianças deixam de ter o acesso diário à merenda, intensificam a vulnerabili- dade social de muitas famílias em todo o país. Em- bora variem em conteúdo e qualidade (às vezes, são apenas bolacha ou pão, em outras, são refeições completas de arroz, feijão, legumes e carne), as me- rendas ocupam função importante no dia a dia de certos alunos. Para essas crianças, nos períodos sem aulas é que a fome, uma ameaça ao longo de todo ano, torna-se uma realidade a ser enfrentada. [...] Embora não haja estudos nacionais que indiquem o tamanho da insegurança alimentar durante o pe- ríodo de férias escolares, uma série de indicadores comprova a evolução da pobreza no país e o modo como ela incide sobre as crianças. De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálcu- los, a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e 14 anos do Brasil vivem em situação de extrema pobreza. O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (Sisvan) identi- ficou, no ano retrasado, 207 mil crianças menores de cinco anos com desnutrição grave no Brasil. A mais recente pesquisa de Segurança Alimentar do IBGE, de 2013, apontava que uma a cada cinco famílias brasileiras tinha restrições alimentares ou preocupação com a possibilidade de não ter dinheiro para pagar comida. Se a pesquisa fosse feita hoje, a família da faxinei- ra Marinalva Maria de Paula, de 57 anos, se enqua- draria nessa condição. Com uma renda de R$ 360,00 mensais para três adultos e uma criança, ela se vê cotidianamente frente a decisões dramáticas: “Se eu pagar a prestação do apartamento ou a conta de água, não temos o que comer”. [...] O fenômeno que acontece na casa da faxinei- ra já havia sido identificado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em 2008, quando um terço dos titulares do Bolsa Família de- claravam em pesquisa que a alimentação da família piorava durante as férias escolares. [...] Marinalva não consegue emprego formal há qua- tro anos. Ela está muito longe de atingir a renda míni- ma familiar, estimada pelo Departamento Intersindi- cal de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em R$ 4.214,62, para suprir sem carências as neces- sidades com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência dos quatro integrantes da casa. O valor, calculado em julho, equivale a aproximadamente quatro vezes o salário mínimo atual, de R$ 998,00. Fonte: IDOETA, Paula Adamo; SANCHES, Mariana. In: BBC News Brasil. 15 jul. 2019. Disponível em: https:// www.bbc.com/portuguese/brasil-48953335. Acesso em: 09 agost. 2019. (texto adaptado). Questão 14 - (UFT TO) Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações apresentadas no texto I. a) O Brasil é o responsável mundial pelos 54% de alimentos desperdiçados nas etapas pós-consu- mo. b) O mundo produz comida suficiente para alimen- tar toda a população, caso não houvesse 1/3 de desperdício desses alimentos. c) O Brasil é um dos países do mundo que mais desperdiça alimentos, por essa razão, uma em cada oito pessoas passam fome no país. d) A produção alimentícia no mundo vem caindo, principalmente, pelo processamento inadequa- do dos alimentos. Questão 15 - (UFT TO) Assinale a alternativa INCORRETA sobre o entendi- mento de “insegurança alimentar”, presente no 1º e 2º parágrafos, do texto II. a) Insuficiência de alimentos para os alunos, inten- sificada durante o período de férias. b) Privação de alimentos para os alunos, principal- mente, no período de férias. c) Ausência de condicionamento adequado dos ali- mentos que são servidos na escola, durante o período de férias. d) Falta de alimentação, no período de férias esco- lares, em razão de a população mais carente não ter dinheiro para comprar comida. 10 - www.PROJETOREDACAO.com.br Questão 16 - (UFT TO) Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações apresentadas no texto II. a) A insegurança alimentar brasileira cresce, no pe- ríodo de férias escolares, principalmente, entre crianças. b) A merenda escolar, fornecida no período de fé- rias, é composta por pão e bolachas, o que é in- suficiente para suprir a carência alimentar dos alunos. c) A escola é responsável pelo fornecimento de alimentos, nas férias escolares, posto que as famílias, em situação de vulnerabilidade social, carecem desse auxílio. d) A pesquisa do IBGE indica que a falta de meren- da, no período de férias, é um dos fatores de evasão escolar das crianças contempladas pelo programa Bolsa Família. Questão 17 - (UFT TO) Assinale a alternativa CORRETA sobre as informações apresentadas no texto II. a) O salário mínimo de R$ 998,00 é o suficiente para custear gastos com moradia, saúde, dentre outros, segundo o Dieese. b) A faxineira Marinalva recebe um salário mínimo para suprir as despesas de quatro integrantes de sua família. c) A renda de R$ 360,00, recebida por cada mem- bro da família de Marinalva, é suficiente para suprir as necessidades básicas. d) O valor da renda mínima, para suprir os gas- tos familiares, estipulado pelo Dieese, é de R$ 4.214,62 e está muito longe do valor do salário mínimo atual. Questão 18 - (UFT TO) Sobre as temáticas retratadas nos textos I e II, assina- le a alternativa CORRETA. a) Os textos I e II retratam a fome presente no mundo e, mais especificamente, no Brasil. Nes- te, por exemplo, muitas crianças dependem da merenda escolar para suprir as necessidades ali- mentares. b) Os textos I e II evidenciam que crianças de todo o mundo necessitam de merenda escolar para suprir a carência alimentar vivenciada pelas fa- mílias. c) Os textos I e II comprovam que a insegurança ali- mentar poderia ser sanada, caso houvesse uma política de fornecimento de merenda de quali- dade. d) Os textos I e II ratificam a necessidade de uma merenda escolar, baseada no reaproveitamento de alimentos desperdiçados. Questão 19 - (UFT TO) Horácio não gostava de ser contestado, mas com- preendeu não era bom tema de conversa. Voltou à li- teratura, aconselhando os outros a lerem Drummond de Andrade, na sua opinião o melhor poeta de língua portuguesa de sempre. Qual Camões, qual Pessoa, Drummond é que era, tudo estava nele, até a situa- ção de Angola se podia inferir na sua poesia. Por isso vos digo, os portugueses passam a vida a querer-nos impingir a sua poesia, temos de a estudar na escola, e escondem-nos os brasileiros, nossos irmãos, poe- tas e prosadores sublimes, relatando os nossos pro- blemas e numa linguagem bem mais próxima da que falamos nas cidades. Quem não leu Drummond é um analfabeto. Os outros iam comendo, trocando de vez em quando olhares cúmplices. Até que Malongo e Vítor terminaram a refeição. Malongo despediu-se, levantando-se, um analfabeto vos saúda. Vítor e Fur- tado riram, Horácio fingiu que não ouviu. Agarrou no braço de Furtado e continuou a cultivá-lo com versos de Drummond e os seus próprios, dedicados ao gran- de brasileiro. Fonte: PEPETELA. A geração da utopia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira:2000, p. 30-31 (frag- mento). No fragmento do romance do escritor angolano Pe- petela, Horácio aconselha seus amigos Malongo, Ví- tor e Furtado a lerem o poeta Drummond de Andra- de. Analise as afirmativas a seguir. I. A poesia de Drummond é melhor que a de Ca- mões e de Pessoa. II. Há uma aproximação entre a literatura de Drum- mond e a realidade angolana. www.PROJETOREDACAO.com.br - 11 III. Nas escolas portuguesas se estuda a poesia de Drummond. IV. A poesia de Drummond está sendo usada para alfabetizar nas escolas angolanas. V. As obras dos literatos brasileiros possuem uma linguagem próxima a dos angolanos nas cidades. Assinale a alternativa CORRETA. a) Apenas as afirmativas II, IV e V estão corretas. b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. c) Apenas as afirmativas I, II e V estão corretas. d) Apenas as afirmativas I, III e V estão corretas. Questão 20 - (UFT TO) Texto I O Juiz Valério alegrava-se com a aproximação da co- missão. Acreditava em justiça, em lei, achava que o governo fosse dotado de uma clarividência que o co- mum dos homens não possuía, de uma reta intenção de punir o mal e premiar o bem. Daquele recanto tão afastado, Governo era assim algo de sobre-humano e inatacável. Antes porém que a Comissão chegasse ao [Vila do] Duro, aportaram ali notícias do que era ela. Era como o vento que precede a chuva braba. Quem vinha chefiando a comissão era um juiz togado, com assento em Porto Nacional, formado pela Faculdade do Recife, com militança no Foro de Salvador e Belém do Pará, homem de estudo, homem de preparo, ho- mem sabido e corrido. Fonte: ÉLIS, Bernardo. O tronco. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.15. (fragmen- to). (adaptado). Texto II Sucedeu então vir o grande sujeito entrando no lugar, capiau de muito longínquo: tirado à arreata o cavalo raposo, que mancara, apontava de noroeste, pisan- do o arenoso. Seus bigodes ou a rustiquez – roupa parda, botinões de couro de anta, chapéu toda a aba – causavam riso e susto. Tomou fôlego, feito burro entesa orelhas, no avistar um fiapo de povo mas a rua, imponente invenção humana. Tinha vergonha de frente e de perfil, todo o mundo viu, devia tam- bém de alentar internas desordens no espírito. Fonte: ROSA, João Guimarães. Tutaméia (Terceiras estó- rias). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 58. (frag- mento). Os fragmentos das obras de Bernardo Élis e de João Guimarães Rosa narram, respectivamente, a notícia da chegada de um viajante e a chegada de outro via- jante. É CORRETO afirmar que os narradores: a) descrevem a valentia desses viajantes. b) constroem imaginários desses viajantes. c) delineiam as características físicas desses viajan- tes. d) explicam as relações entre esses viajantes e o governo. Questão 21 - (UFT TO) Texto I Bulandeira O braço rompe a roda a roda vira o ralo o ralo na raiz da fome farinha. Texto II Tapioca na gamela Eita que esse destino de furupa guarnece a brasa e o tição o forno de assar o bolo 12 - www.PROJETOREDACAO.com.br alvura que ama a tapioca na gamela amassando a vida com as mãos pois a festa é certa quando certo o pão. Fonte: PEDREIRA, Célio. As tocantinas. Palmas–TO: Universidade Federal do Tocantins/ EDUFT, 2014, p. 36 e 20. A partir da leitura dos dois poemas do escritor tocan- tinense Célio Pedreira é CORRETO afirmar que eles: a) aludem ao trabalho e ao preparo artesanal de alimentos retirados da mandioca. b) resgatam as tradições do preparo de alimentos servidos nas festas religiosas e rezas. c) retomam memórias afetivas de festejos popula- res que ocorrem nas comunidades interioranas. d) remetem ao trabalho coletivo e ao ambiente festivo durante a preparação de pratos tradicio- nais. Questão 22 - (UFT TO) Contam os velhos do povo Karajá que um misterioso acontecimento estava deixando a aldeia alarmada. Isso acontecia porque os guerreiros estavam sumin- do durante a caçada e ninguém conseguia explicar por que isso estava acontecendo. Havia um clima de medo. Um rapaz, no entanto, resolveu rastrear pela trilha dos parentes sumidos. Entrou na mata cautelosa- mente e logo adiante avistou um bando de urubus. Isso era um sinal de que havia carniça por perto. Re- dobrou sua atenção e arrastou-se até chegar perto de uma grande árvore em cuja raiz encontrou obje- tos e ossadas dos parentes desaparecidos. Seu susto foi maior quando avistou dois monstruosos indiví- duos saindo de uma caverna. Comentavam um para o outro: – Estou com uma fome tão grande. Tô com vontade de comer gente! – Vamos botar uma espera? Sinto que hoje vamos pegar alguém! O jovem, ouvindo aquela conversa, sentiu-se ame- drontado, achando que ele poderia ser o alimento daquela gente estranha. [...] Quando chegou à aldeia, estava muito angustia- do. Começou a gritar para chamar a atenção de to- dos. _ Inã biroxikre nhaçã rekã!... (Bugios grandalhões es- tão devorando gente!). [...] Onde vais com tanta pressa, valente guerreiro? – Vou caçar nhaçã rekã! – respondeu o jovem de for- ma arrogante. – Se me tomares como esposa, eu te ensinarei como caçar aquelas perigosas feras feiticeiras! – propôs a mulher-sapo. Fonte: MUNDURUKU, Daniel. A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histó- rias. Ilustrações Maurício Negro. São Paulo: Global, 2010, p. 40-41. (fragmento). A partir da leitura do fragmento de texto de Daniel Munduruku, é INCORRETO afirmar que: a) Munduruku faz referência a elementos da cultu- ra indígena. b) a história Karajá narrada por Munduruku traz à cena criaturas misteriosas. c) na construção da sua narrativa Munduruku utili- za palavras da língua indígena. d) Munduruku trata do aniquilamento de guerrei- ros Karajá por tribos inimigas. Questão 23 - (UFT TO) Corpo meu corpo corpo que tem um nariz assim uma boca dois olhos e um certo jeito de sorrir de falar que minha mãe identifica como sendo de seu filho que meu filho identifica como sendo de seu pai corpo que se para de funcionar provoca um grave acontecimento na família: www.PROJETOREDACAO.com.br - 13 sem ele não há José Ribamar Ferreira não há Ferreira Gullar e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta estarão esquecidas para sempre corpo-facho corpo-fátuo corpo-fato [...] meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos Prazeres ao lado de uma padaria sob o signo de Virgo sob as balas do 24º BC na revolução de 30 e que desde então segue pulsando como um relógio num tic tac que não se ouve (senão quando se cola o ouvido à altura do meu co- ração) tic tac tic tac Fonte: GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. São Paulo: Círculo do Livro, 1980, p. 11-13. (frag- mento). Sobre o fragmento do Poema Sujo, de Ferreira Gullar, assinale a alternativa CORRETA. a) Retrata, por meio de um narrador em terceira pessoa, a memória de um homem cosmopolita de meia idade. b) Traz como temáticas centrais as paixões da ju- ventude e a solidão que compõe o eu-lírico na idade adulta. c) Apresenta as impressões do eu-lírico sobre o corpo-vida que o constitui. d) Compõe-se de um narrador em terceira pessoa que descreve sua trajetória de vida, do nasci- mento à velhice. Questão 24 - (FATEC SP) Texto I O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre Vejo-o puro E afável ao paladar Como beijo de moça, água Na pele, flor Que se dissolve na boca. Mas este açúcar Não foi feito por mim. Este açúcar veio Da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oli- veira, Dono da mercearia. Este açúcar veio De uma usina de açúcar em Pernambuco Ou no Estado do Rio E tampouco o fez o dono da usina. Este açúcar era cana E veio dos canaviais extensos Que não nascem por acaso No regaço do vale. Em lugares distantes, onde não há hospital Nemescola, Homens que não sabem ler e morrem de fome Aos 27 anos Plantaram e colheram a cana Que viraria açúcar. Em usinas escuras, Homens de vida amarga E dura Produziram este açúcar 14 - www.PROJETOREDACAO.com.br Branco e puro Com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. GULLAR, F. “O Açúcar”. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980. Texto II <https://tinyurl.com/y4ur7lhb> Acesso em: 18.10.2019. Original colorido. * Texto da imagem: “Em 1888, a princesa Isabel as- sinou a Lei Aurea, mas nem todo mundo conseguiu ler.” As informações contidas na imagem do texto II, loca- lizadas no canto inferior direito, não foram reprodu- zidas, pois não interferem na resolução das questões apresentadas. Após a leitura e a análise, infere-se corretamente que ambos os textos abordam temáticas a) tangenciais, pois, apesar de tratarem do proces- so de produção e do consumo do açúcar, igno- ram a desigualdade existente entre o consumi- dor final e o comerciante do produto. b) semelhantes, pois o primeiro induz à reflexão sobre as desigualdades existentes no ciclo de produção e de consumo, e o segundo represen- ta o impacto ambiental gerado pelo consumo excessivo. c) conflitantes, pois o primeiro representa a aliena- ção dos poetas de todo o processo de produção dos alimentos, enquanto o segundo, a mão de obra empregada nos centros urbanos. d) similares, pois o primeiro ressalta as desigual- dades existentes entre o trabalhador rural e o consumidor, o eu lírico; e o segundo evidencia a exploração da mão de obra. e) complementares, pois o primeiro aborda as de- sigualdades sociais descrevendo os ciclos eco- nômicos desenvolvidos em períodos diferentes; enquanto o segundo retrata a mão de obra utili- zada nesses períodos. Questão 25 - (FATEC SP) Leia a charge. <https://tinyurl.com/y4xtwcwo> Acesso em: 19.10.2019. De acordo com as informações verbais e não verbais apresentadas na charge, pode-se depreender, corre- tamente, que a) a alta qualificação profissional da maioria da população acarreta um aumento no número de vagas não preenchidas no mercado de trabalho. b) as vagas de emprego cresceram devido à alta concorrência entre os trabalhadores, incluindo- -se até mesmo crianças e mulheres na disputa por uma vaga no mercado de trabalho. c) a falta de oportunidade de trabalho, aliada a novos meios de transporte de massa, impedem o desenvolvimento de atividades paralelas no mercado de trabalho. d) as vagas ofertadas no mercado de trabalho, apesar de inúmeras e constantes, não garantem estabilidade e remuneram menos do que as ati- vidades “empreendedoras”. e) a resiliência, aliada à persistência, levam as pes- soas a se realocarem dentro do mercado de tra- balho e, consequentemente, adaptarem-se a novas oportunidades de trabalho. www.PROJETOREDACAO.com.br - 15 TEXTO: 7 - Comum à questão: 26 O leitor encontra, neste belo número da Revista Ka- tálysis, um panorama rico, denso e qualificado do que vem ocorrendo no mundo do trabalho hoje, com seus traços de “continuidade” e “descontinuidade”, num período em que o capitalismo aprofundou ainda mais as penalizações que está impondo ao universo laborativo, onde o “novo” e o “velho” se (re)configu- ram a partir da nova Divisão Internacional do Traba- lho (DIT), que se reestruturou nas últimas décadas. [...] Se a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, le- gou-nos um enorme processo de “desantropomor- fização do trabalho” (Lukács); se o século XX pode ser caracterizado pelo que Braverman definiu como sendo a “era da degradação do trabalho”, as últimas décadas do século passado e os inícios do atual vêm presenciando a generalização de “outras formas e modalidades de precarização”, [...] aquela responsá- vel pela geração do cybertariado (Ursula Huws), uma nova força de trabalho global que mescla intensa- mente “informatização” com “informalização”.[...] As consequências são fortes: nesta fase de desman- che, estamos presenciando o derretimento dos pou- cos laços de sociabilidade, [...] sem presenciarmos uma ampliação da vida dotada de sentido, nem “den- tro” e nem “fora” do trabalho. A vida se consolida, cada vez mais, como sendo desprovida de sentido no trabalho e, por outro lado, estranhada e fetichizada* também “fora” do trabalho, exaurindo-se no mundo sublimado do consumo (virtual ou real), ou na labuta incansável pelas qualificações de todo tipo, que são incentivadas como antídoto [...] para não perder o emprego daqueles que o têm. É por isso que estamos presenciando uma descons- trução sem precedentes do trabalho em toda a era moderna, ampliando os diversos modos de ser da precarização e do desemprego estrutural. Resta para a “classe-que-vive-do-trabalho” oscilar, ao modo dos pêndulos, entre a busca de qualquer “labor” e a vi- vência do desemprego. Este número especial da Revista Katálysis, dedica- do às novas configurações do trabalho na sociedade capitalista, é uma contribuição efetiva para a linha- gem crítica, atualizada e original, tanto pelos temas selecionados, quanto pela qualidade e competência dos colaboradores presentes, ajudando a descortinar tantos elementos que configuram a “nova morfolo- gia do trabalho”, seus dilemas e desafios. Ricardo Antunes, Editorial da Revista Katálysis, n.2, 2009. <https://tinyurl.com/y6nchqmr> Acesso em: 19.10.2019. Adaptado. * fetichizar: ação de admirar exageradamente, irres- tritamente, incondicionalmente uma pessoa ou coi- sa. Questão 26 - (FATEC SP) Assinale a alternativa que apresenta uma análise cor- reta das informações apresentadas no texto. a) As mudanças ocorridas no mercado de trabalho, nas últimas décadas, caracterizam-se por um processo contínuo de reformulação geradora de lucros ao trabalhador. b) As novas formas de relações laborais acabam por gerar oportunidades no mercado de traba- lho e garantir o acesso do trabalhador aos direi- tos assegurados pela carteira assinada. c) Como resultado do processo de desumanização das relações trabalhistas, a vida é dissipada pelo consumo ou pelo desgaste devido à busca cons- tante por aperfeiçoamento profissional. d) A sociedade atual mantém questionamentos e desafios herdados de períodos históricos di- ferentes, sem, contudo, despertar o interesse mais profundo de pesquisadores e cientistas. e) A partir da Revolução Industrial, repetidos pro- cessos geradores de garantias trabalhistas ocor- reram, visando à humanização das relações en- tre empregador e empregado. TEXTO: 8 - Comuns às questões: 27, 28 SOBREVIVEREMOS NA TERRA? 1Tenho interesse pessoal no tempo. Primeiro, meu best-seller chama-se Uma breve história do 2tempo. Segundo, por ser alguém que, aos 21 anos, foi infor- mado pelos médicos de que teria apenas 3mais cinco anos de vida e que completou 76 anos em 2018. Te- nho uma aguda e desconfortável 4consciência da pas- sagem do tempo. Durante a maior parte da minha 16 - www.PROJETOREDACAO.com.br vida, convivi com a sensação 5de que estava fazendo hora extra. 6Parece que nosso mundo enfrenta uma instabilidade política maior do que em qualquer outro 7momento. Uma grande quantidade de pessoas sente ter ficado para trás. Como resultado, temos 8nos voltado para políticos populistas, com experiência de governo li- mitada e cuja capacidade para 9tomar decisões pon- deradas em uma crise ainda está para ser testada. A Terra sofre ameaças em 10tantas frentes que é difícil permanecer otimista. Os perigos são grandes e nu- merosos demais. O 11planeta está ficando pequeno para nós. Nossos recursos físicos estão se esgotando a uma velocidade 12alarmante. A mudança climática foi uma trágica dádiva humana ao planeta. Tempe- raturas cada vez 13mais elevadas, redução da calota polar, desmatamento, superpopulação, doenças, guerras, fome, 14escassez de água e extermínio de es- pécies; todos esses problemas poderiam ser resolvi- dos, mas 15até hoje não foram. O aquecimento global está sendo causado por todos nós. Queremosandar de 16carro, viajar e desfrutar um padrão de vida me- lhor. Mas quando as pessoas se derem conta do que 17está acontecendo, pode ser tarde demais. 18Estamos no limiar de um período de mudança cli- mática sem precedentes. No entanto, muitos políti- cos 19negam a mudança climática provocada pelo ho- mem, ou a capacidade do homem de revertê-la. 20O derretimento das calotas polares ártica e antártica reduz a fração de energia solar refletida de volta 21no espaço e aumenta ainda mais a temperatura. A mu- dança climática pode destruir a Amazônia e 22outras florestas tropicais, eliminando uma das principais fer- ramentas para a remoção do dióxido 23de carbono da atmosfera. A elevação da temperatura dos oceanos pode provocar a liberação de 24grandes quantidades de dióxido de carbono. Ambos os fenômenos aumen- tariam o efeito estufa e 25exacerbariam o aquecimen- to global, tornando o clima em nosso planeta pareci- do com o de Vênus: 26atmosfera escaldante e chuva ácida a uma temperatura de 250 ºC. A vida humana seria impossível. 27Precisamos ir além do Protocolo de Kyoto – o acordo internacional adotado em 1997 – e cortar 28imediatamente as emissões de carbono. Temos a tecnologia. Só precisamos de vontade polí- tica. 29Quando enfrentamos crises parecidas no passado, havia algum outro lugar para colonizar. Estamos 30fi- cando sem espaço, e o único lugar para ir são outros mundos. Tenho esperança e fé de que nossa 31enge- nhosa raça encontrará uma maneira de escapar dos sombrios grilhões do planeta e, deste 32modo, sobre- viver ao desastre. A mesma providência talvez não seja possível para os milhões de 33outras espécies que vivem na Terra, e isso pesará em nossa consciên- cia. 34Mas somos, por natureza, exploradores. Somos motivados pela curiosidade, essa qualidade 35huma- na única. Foi a curiosidade obstinada que levou os exploradores a provar que a Terra não era 36plana, e é esse mesmo impulso que nos leva a viajar para as estrelas na velocidade do pensamento, 37instigando- -nos a realmente chegar lá. E sempre que realizamos um grande salto, como nos pousos 38lunares, exalta- mos a humanidade, unimos povos e nações, introdu- zimos novas descobertas e novas 39tecnologias. Dei- xar a Terra exige uma abordagem global combinada – todos devem participar. STEPHEN HAWKING (1942-2018) Adaptado de Breves respostas para grandes ques- tões. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018. Questão 27 - (UERJ) Como resultado, temos nos voltado para políticos populistas, com experiência de governo limitada e cuja capacidade para tomar decisões ponderadas em uma crise ainda está para ser testada. (ref. 7-9) No trecho acima, Stephen Hawking faz uma afirma- ção cujo conteúdo se desdobra nas cinco frases sub- sequentes. Essas cinco frases cumprem o propósito de: a) justificar a estrutura econômica b) relativizar as alterações ambientais c) caracterizar a conjuntura internacional d) exemplificar as ações institucionais Questão 28 - (UERJ) Ao enfatizar a atitude de curiosidade no último pa- rágrafo, pode-se inferir a seguinte proposta do autor para o problema que debate: a) estímulo a ações inovadoras b) cautela com práticas antigas c) confiança em soluções padronizadas d) questionamento de decisões precipitadas TEXTO: 9 - Comum à questão: 29 Diverti-me imensamente com a história dos imbe- www.PROJETOREDACAO.com.br - 17 cis da web. Para quem não acompanhou, foi publica- do em alguns jornais e também on-line que no curso de uma chamada lectio magistralis em Turim eu teria dito que a web está cheia de imbecis. É falso. A lectio era sobre um tema completamente diferente, mas isso mostra como as notícias circulam e se deformam entre os jornais e a web. A história dos imbecis surgiu numa conferência de imprensa durante a qual, res- pondendo a uma pergunta que não me lembro mais, fiz uma observação de puro bom senso. Admitindo que em 7 bilhões de habitantes exista uma taxa ine- vitável de imbecis, muitíssimos deles costumavam comunicar seus delírios aos íntimos ou aos amigos do bar – e assim suas opiniões permaneciam limita- das a um círculo restrito. Hoje uma parte consistente dessas pessoas tem a possibilidade de expressar as próprias opiniões nas redes sociais e, portanto, tais opiniões alcançam audiências altíssimas e se mistu- ram com tantas outras ideias expressas por pessoas razoáveis. [...] É justo que a rede permita que mesmo quem não diz coisas sensatas se expresse, mas o excesso de besteira congestiona as linhas. E algumas reações descompensadas que vi na internet confirmam mi- nha razoabilíssima tese. Alguém chegou a dizer que, para mim, as opiniões de um tolo e aquelas de um ganhador do prêmio Nobel têm a mesma evidência e não demorou para que se difundisse viralmente uma inútil discussão sobre o fato de eu ter ou não recebi- do um prêmio Nobel – sem que ninguém consultasse sequer a Wikipédia. (Umberto Eco – Os imbecis e a imprensa responsável, 2017.) Questão 29 - (UFPR) A questão central apontada pelo autor no texto pode ser corretamente sintetizada no fato de que: a) ele tenha se divertido com os comentários a res- peito da presença dos imbecis na web. b) na web, as opiniões atingem audiências altíssi- mas por expressarem ideias absurdas. c) a opinião de um ganhador do prêmio Nobel e a de um imbecil têm o mesmo peso na web. d) as notícias sofrem distorções durante o proces- so de circulação entre as diferentes mídias. e) os navegadores da web não conferiram a infor- mação sobre ele ter recebido ou não um prêmio Nobel. TEXTO: 10 - Comuns às questões: 30, 31 O jogo do salário mínimo 1[...] Em menos de trinta minutos, dois times cen- tenários do futebol carioca, Bonsucesso e Olaria, vão se enfrentar num 2jogo-treino, na preparação para a disputa da segunda divisão do campeonato do Rio. 3Na arena vazia, os jogadores vivem a desigual- dade salarial do futebol brasileiro. Na esperança de chegar a um clube grande, 4os 22 atletas em campo correm no estádio em troca de um salário mínimo (998 reais) na carteira assinada – isso quando não há 5atraso no pagamento. Juntos, ganham cerca de 22 mil reais – menos de 2% do salário mensal de uma estrela como o atacante 6Gabriel Barbosa, o Gabi- gol, do Flamengo. Longe do glamour dos estádios padrão Fifa, os 22 em campo no chamado Clássico da 7Leopoldina, em referência à antiga linha de trem, são um retrato do precário mercado de trabalho da bola no Brasil. 8Levantamento do antigo Ministério do Trabalho revela que a maioria (54%) dos jogadores de fute- bol do país empregados em 92017 recebia até três salários mínimos (2.811 reais). Os dados constam da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2017. 10[...] 11A estatística do antigo Ministério do Trabalho é o único levantamento que tenta mapear os salários no futebol brasileiro. A CBF 12fazia uma pesquisa pareci- da, mas deixou de publicar por causa das distorções criadas pelos contratos de direito de imagem. 13Se- gundo a última edição do trabalho da entidade que comanda o futebol nacional, mais de 80% dos joga- dores de futebol ganhavam 14até 1 mil reais por mês em 2016. Sem citar nomes, a CBF informou que ape- nas um jogador recebia mais de 500 mil reais, mas o 15número estava longe da realidade, e o mesmo se pode dizer dos dados da RAIS. O salário em carteira é só uma parte do que os 16atletas recebem, pois o principal vem dos direitos de imagem e patrocínios. 17Mas essa é uma realidade dos clubes grandes. Em clubes como Bonsucesso e Olaria, não há direitos de imagem, já que não 18há imagem a ser vendida. Os patrocinadores estão mais para pequenos comer- ciantes locais do que para grandes financiadores do 19futebol. (Sérgio Rangel. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-salario-mi- nimo/. 31/05/2019.) Questão 30 - (UFPR) 18 - www.PROJETOREDACAO.com.br Com base no texto de Rangel, considere as seguintes afirmativas: 1. Em “Os patrocinadores estãomais para peque- nos comerciantes locais do que para grandes fi- nanciadores do futebol”, temos uma relação de contraposição. 2. Os baixos salários, somados aos atrasos nos pagamentos, são aspectos da precariedade do mercado da bola no Brasil. 3. Os dados salariais dos jogadores brasileiros, apontados pela RAIS, apresentam distorções porque a maioria dos jogadores recebem até três salários mínimos por mês, enquanto outros recebem até quinhentos mil reais por mês. 4. A ausência de comercialização de imagens de jogadores de clubes como Bonsucesso e Olaria decorre do fato de esses jogadores não terem direitos de imagem como o jogador Gabigol, por exemplo. Assinale a alternativa correta. a) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. e) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. Questão 31 - (UFPR) Com base no texto, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: ( ) A expressão “na arena vazia” (Ref. 3) encontra- -se em relação de oposição metafórica com a ex- pressão “glamour dos estádios padrão Fifa” (Ref. 6). ( ) Ainda que os jogadores de clubes como Bonsu- cesso e Olaria sujeitem-se aos baixos salários, eles mantêm no horizonte a aspiração aos gran- des clubes. ( ) O autor do texto traz a lume denúncias de joga- dores acerca das disparidades salariais no mun- do do futebol. ( ) O desequilíbrio entre o que um jogador-estrela recebe no Brasil em relação ao contingente dos demais jogadores fundamenta-se na variável di- reitos de imagem. Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- reta, de cima para baixo. a) V – V – F – V. b) V – F – V – F. c) F – V – F – V. d) F – F – V – V. e) V – V – V – F. TEXTO: 11 - Comuns às questões: 32, 33 A tira a seguir, do rato Níquel Náusea, de Fernando Gonsales. (Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/bau. shtml. Acesso em 07/07/2019.) Questão 32 - (UFPR) Com base na tira, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: ( ) No último quadrinho da charge, Níquel Náusea www.PROJETOREDACAO.com.br - 19 se dirige diretamente à barata para dizer que não gosta de filosofia. ( ) A informação visual dos quadrinhos em que Ní- quel Náusea está presente sinaliza sua irritação com a barata. ( ) Nos dois primeiros quadrinhos, a fala da barata é uma adaptação de dois provérbios à sua pró- pria realidade. ( ) A barata utiliza provérbios em sua fala com a in- tenção de dar lições de moral para Níquel Náu- sea. Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- reta, de cima para baixo. a) V – F – V – V. b) F – V – F – V. c) V – V – V – F. d) V – F – F – V. e) F – V – V – F. Questão 33 - (UFPR) Considerando a sentença “Mais vale uma naftalina na mão do que duas rolando”, no segundo quadrinho da tira, assinale a alternativa que traz um provérbio com sentido mais próximo ao sentido do provérbio suposto pela citação. a) Quem não tem cão, caça com gato. b) Quando um não quer, dois não brigam. c) O seguro morreu de velho. d) Um dia é da caça, outro é do caçador. e) As aparências enganam. TEXTO: 12 - Comum à questão: 34 Por que as lhamas podem guardar o segredo para combater a gripe Cientistas americanos recrutaram uma curiosa aliada para desenvolver tratamentos contra a gripe: a lhama. O sangue desse animal sul-americano foi utili- zado para produzir uma nova terapia com anticorpos que têm o potencial de combater todos os tipos de gripe. A gripe é uma das doenças mais hábeis na hora de mudar de forma. Constantemente, modifica sua aparência para despistar nosso sistema imunológico. Isso explica porque as vacinas nem sempre são efeti- vas e, a cada inverno, é necessário receber uma nova injeção para prevenir a doença. Por isso, a ciência está à procura de uma forma de acabar com todos os tipos de gripe, não importando de qual cepa provenha ou o quanto possa sofrer mu- tações. É aí que entra a lhama. Esses animais, nativos dos Andes, têm anticorpos incrivelmente pequenos em comparação com os dos humanos. Os anticorpos são as armas do sistema imunológico, e aderem às proteínas que sobressaem na superfície dos vírus. Os anticorpos humanos tendem a atacar as pon- tas dessas proteínas, _______ essa é a parte em que o vírus da gripe muda com mais rapidez. _______ os anticorpos da lhama, com seu tamanho diminuto, conseguem atacar as partes do vírus da gripe que não sofrem mutação. Uma equipe do Instituto Scripps, nos Estados Uni- dos, infectou lhamas com múltiplos tipos de gripe, para estimular uma resposta do seu sistema imuno- lógico. Em seguida, analisou o sangue dos animais, procurando pelos anticorpos mais potentes, que po- deriam atacar uma ampla variedade de vírus. Os cientistas, _______, identificaram quatro anti- corpos das lhamas. Depois, começaram a desenvol- ver um anticorpo sintético, que une elementos des- ses quatro tipos. O trabalho, que foi publicado na revista científica Science, ainda está em estágios muito iniciais. A equi- pe de cientistas pretende realizar mais experimentos antes de fazer testes com humanos. “Ter um trata- mento que possa funcionar contra uma variedade de cepas diferentes do vírus da gripe é algo muito de- sejado. É o Santo Graal da gripe”, afirma o professor Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham. (James Gallagher, Correspondente de Saúde e Ciência, BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/ portuguese/geral-46101443?ocid=socialflow_ face- book&fbclid=IwAR1Bj0yRbAN1yzVPG9X8H0KC2B5I- 59XTXbPwX7w0kk9O4kfMIop3H-wjmIY. Acesso em 07/07/2019. Adaptado.) Questão 34 - (UFPR) Ao comparar a vacina contra diferentes cepas do ví- rus da gripe ao Santo Graal, o professor Jonathan Ball 20 - www.PROJETOREDACAO.com.br quis dizer que: a) tanto o Santo Graal quanto a vacina são busca- dos com afinco. b) a descoberta da vacina e do Santo Graal cabe a pessoas com aptidões especiais. c) o Santo Graal e a vacina têm o sangue como ele- mento em comum. d) tanto o Santo Graal como a imunização pelas va- cinas são lendas. e) tanto a vacina quanto o Santo Graal apresen- tam-se em mais de uma forma. TEXTO: 13 - Comum à questão: 35 CIVILIZAÇÃO 1 A matéria saiu no New York Times, foi publicada na Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia 2 obrigató- ria do ensino fundamental à pós-graduação, deveria ser colada aos postes, lançada de aviões, 3 viralizada nas redes sociais, impressa em santinhos, guardada na carteira, no bolso ou no sutiã e lida 4 toda vez que a desilusão, o desespero, a melancolia ou mesmo o tédio batesse na porta, batesse na aorta: 5 “Para sal- var Stradivarius, uma cidade inteira fica em silêncio”. 6 Antonio Stradivari viveu entre 1644 e 1737 em Cre- mona, norte da Itália, cidadezinha que hoje 7 conta com 72267 habitantes. Durante algumas décadas dos séculos XVII e XVIII, Stradivari 8 produziu instrumen- tos de corda, como violinos, cujos sons quase quatro séculos de conhecimento 9 acumulado não foram ca- pazes de igualar. 10 Por muito tempo permaneceu um mistério o que fazia aqueles instrumentos tão diferentes dos 11 de- mais, fabricados antes ou depois. Estudos recentes, porém, mostraram que, para além da artesania 12 magistral do luthier*, um tratamento químico dado à madeira, à época da fabricação, interfere na 13 quali- dade do som dos instrumentos. 14 O tempo de uso também entra na equação: a se- cura da madeira e a distância entre as fibras, causada 15 pela oxidação, são razões pelas quais, segundo o dr. Hwan-Ching Tai, autor de um estudo de 2016, 16 “esses velhos violinos vibram mais livremente, o que permite a eles expressar uma gama mais ampla 17 de emoções”. 18 Se é verdade que os violinos Stradivarius, como muitos vinhos, melhoraram com o tempo, é 19 ine- xorável que, em algum momento, avinagrem. Poisesse momento se aproxima: depois de quase 20 qua- trocentos anos espalhando a melhor música que já foi ouvida, os violinos, violoncelos e violas 21 de Cre- mona estão atingindo seu limite. Logo estarão frá- geis demais para serem tocados e serão, 22 segundo Fausto Cacciatori, curador do Museu do Violino de Cremona, “colocados para dormir”. 23 Antecipando-se ao sono derradeiro, os morado- res de Cremona criaram o Projeto Stradivarius. “Por 24 cinco semanas, quatro músicos, tocando dois vio- linos, uma viola e um violoncelo, farão centenas de 25 escalas e arpejos, usando técnicas diferentes com arcos, ou dedilhando as cordas”, sob “trinta e dois 26 microfones de alta sensibilidade”. Três engenheiros de som, trancados num quartinho à prova de 27 qual- quer ruído, no auditório do museu, gravarão cada uma das centenas de milhares de variações 28 sono- ras, de modo que, no futuro, será possível compor músicas com o som dos Stradivarius. 29 O projeto já estava quase saindo do papel em 2017 quando os idealizadores perceberam que o barulho 30 em torno do museu impossibilitaria as gravações. O prefeito de Cremona, então, permitiu que as ruas 31 da região fossem fechadas até que a última nota fos- se imortalizada. A cidade calou-se e os Stradivarius 32 começaram a cantar. 33 Até meados de fevereiro, os 72267 moradores da cidadezinha italiana deixarão de buzinar suas 34 lam- bretas, “nonas” evitarão gritar às janelas e amigos cochicharão pelas mesas dos cafés para que 35 daqui a quatrocentos anos um garoto em Cremona, Mum- bai ou Reykjavik possa compor uma 36 música com as notas únicas e inimitáveis saídas de instrumentos feitos à mão por um homem 37 que morreu quase um milênio antes de esse garoto nascer. Acho que é disso que estamos falando 38 quando falamos em civiliza- ção. ANTONIO PRATA Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 27/01/2019. * Luthier: profissional especializado em instrumen- tos de cordas. www.PROJETOREDACAO.com.br - 21 Questão 35 - (UERJ) A matéria saiu no New York Times, foi publicada na Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia obrigató- ria do ensino fundamental à pós-graduação, deveria ser colada aos postes, lançada de aviões, viralizada nas redes sociais, impressa em santinhos, (Refs. 1-3) Com base no trecho acima, é possível reconhecer que, para o autor, o conteúdo da notícia comentada se caracteriza por: a) interessar a diferentes espaços sociais b) remeter a diversos recortes temporais c) possuir variados significados alegóricos d) permitir múltiplas interpretações pessoais TEXTO: 14 - Comuns às questões: 36, 37 CONSIDERE O LIVRO HORA DE ALIMENTAR SERPEN- TES, DE MARINA COLASANTI. CENA ANTIGA 1 Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal se encontram para mais um duelo. 2 Escolhem as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os padrinhos 3 que aguardam ao lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam entre restolhos, são instados 4 a partir. Que não haja testemunhas. 5 Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e caminham até a taverna 6 mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão conselhos durante dias 7 ou sé- culos, até o próximo duelo. Questão 36 - (UERJ) O título “Cena antiga” alude à repetição de um ritual, evidenciada pelo seguinte trecho: a) Amanhece o dia entre neblinas, (Ref. 1) b) se encontram para mais um duelo. (Ref. 1) c) Que não haja testemunhas. (Ref. 4) d) caminham até a taverna mais próxima. (Refs. 5-6) Questão 37 - (UERJ) É comum, no pensamento contemporâneo, o enten- dimento de que os conceitos de Bem e de Mal não são fixos, mas sim relativos a épocas e lugares. Esse entendimento se reflete no conto quando o Bem e o Mal têm a atitude de: a) mudar comportamento b) reafirmar argumentos c) radicalizar traição d) revelar ambições Questão 38 - (UNIRG TO) Em Tribo cara baixa, Deusimar Pires elabora peque- nos textos cronísticos pertinentes a) a críticas de questões sociológicas conservadoras. b) ao uso acadêmico e científico dos meios digitais. c) a reflexões moralistas sobre tópicos comporta- mentais. d) ao desenvolvimento otimizado das novas gera- ções. Questão 39 - (UNIRG TO) Deusimar Pires, no livro Tribo cara baixa, trata em uma de suas crônicas, entre outros temas, da felici- dade, que segundo ele, a) é demonstrada pela condição de acúmulo de ex- periências variadas. b) é demonstrada pela capacidade de se fazer mui- tas viagens. c) é uma condição humana que supõe capacidade para intelectualização. d) é uma condição humana que supõe desprendi- mento material. 22 - www.PROJETOREDACAO.com.br TEXTO: 15 - Comuns às questões: 40, 41 TEXTO 1 Fabiano [...] Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picouo, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. – Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Ver- melho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cui- dava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corri- giu-a, murmurando: – Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. – Um bicho, Fabiano. Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desen- tendido e oferecera os seus préstimos, resmungan- do, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro. Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as ba- raúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra. [...] RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 74 ed. São Paulo: Record, 1998. [Adaptado]. TEXTO 2 Cartaz do XIII Festival de Artes de Goiás. Diretoria de Comunicação Social do Instituto Federal de Goiás, 2015. TEXTO 3 Revista Vida Simples. São Paulo: Abril, edição 139, dez. 2013. [Adaptado]. Questão 40 - (IFGO) No fragmento “E ali estava, forte, até gordo, fuman- do o seu cigarro de palha”, Texto 1, o elemento em destaque sugere que se trata de a) uma noção depreciativa acerca do excesso de peso do personagem. b) uma situação inesperada com relação ao peso do personagem. c) uma soma de atributos dentre os quais o peso é o menos relevante. d) um momento comum na vida do personagem marcado pelo peso em excesso. www.PROJETOREDACAO.com.br - 23 Questão 41 - (IFGO) No fragmento de Vidas Secas, Texto 1, de Graciliano Ramos, Fabiano é apresentado, respectivamente, como homem, cabra, bicho e planta. Do ponto de vista do personagem, essa gradação de atributos põe em evidência a) o seu processo de autoconhecimento. b) a sua condição de imutabilidade. c) a sua inconformidade com a realidade. d) a sua transformação em algo inanimado. TEXTO: 16 - Comuns às questões: 42, 43 Ferramentas da mente 1 Toda tecnologia é uma expressão da vontade 2 humana. Através de nossas ferramentas, procuramos 3 expandir nosso poder e nosso controle sobre as cir- cunstâncias 4 — sobre a natureza, sobre o tempo e a 5 distância, sobre o outro. 5 Nossastecnologias podem ser classificadas 7 conforme o modo como suplementam ou amplificam 8 nossas capacidades naturais. Um primeiro conjun- to, 9 que inclui o arado, a agulha de costura e o caça a 10 jato, estende a força física, a destreza ou a resiliên- cia 11 das pessoas. Um segundo conjunto, que inclui o 12 microscópio e o amplificador, estende a faixa ou a 13 sensibilidade dos nossos sentidos. Um terceiro grupo, 14 abarcando tecnologias tais como o reser- vatório, 15 a pílula anticoncepcional e o milho gene- ticamente 16 modificado, permite-nos remodelar a natureza para 17 servir melhor a nossas necessidades ou desejos. O 18 mapa e o relógio pertencem à quar- ta categoria, que 19 seria mais bem descrita como a das “tecnologias intelectuais”. 20 Estas incluem todas as ferramentas que 21 usamos para estender ou dar suporte aos nossos 22 poderes mentais — encontrar e classificar informação, 23 formular e articular ideias, partilhar know-how 24 e experiência, fazer medidas e realizar cálculos, expandir 25 a capacidade da nossa memória. A máquina 26 de escrever é uma tecnologia intelectual e, do mesmo 27 modo, a régua de cálculo, o globo, o livro e o jornal, a 28 escola e a biblioteca, o computador e a internet. Embora 29 o uso de qual- quer tipo de ferramenta possa influenciar 30 nossos pensamentos e nossas perspectivas — o arado 31 mu- dou a visão do fazendeiro, o microscópio abriu novos 32 mundos de exploração mental para o cientista —, 33 são as tecnologias intelectuais que têm o maior e mais 34 duradouro poder sobre como pensamos. 35 O que o mapa fez com o espaço — traduzir um 36 fenômeno natural em uma conceitualização artifi- cial 37 e intelectual daquele fenômeno — o relógio mecânico, 38 outra tecnologia, fez com o tempo. Du- rante a 39 maior parte da história humana, as pessoas experimentaram 40 o tempo como um fluxo contínuo, cíclico. 41 Por conseguinte, sua “marcação” era rea- lizada por 42 instrumentos que enfatizavam seu pro- cesso natural: 43 relógios de sol nos quais as sombras giravam, ampulhetas 44 nas quais a areia caía, clepsi- dras nas quais a 45 água escorria. Não havia uma ne- cessidade particular 46 de medir o tempo com preci- são ou dividir um dia em 47 seus pequenos pedaços. Para a maioria das pessoas, 48 as estrelas forneciam os únicos relógios de que 49 precisavam. 50 A necessidade de um maior rigor da programa- ção 51 e da sincronização no trabalho, no transporte e 52 no lazer forneceu o impulso para um rápido pro- gresso 53 da tecnologia do relógio. Agora, o tempo te- ria que 54 ser o mesmo em toda parte para não preju- dicar o comércio 55 e a indústria. Unidades de tempo se tornaram 56 padronizadas — segundos, minutos, horas — e os 57 mecanismos do relógio sofreram um ajuste fino para 58 medirem essas unidades com pre- cisão muito maior. 59 O relógio mecânico mudou o modo como vemos 60 a nós mesmos. E, como o mapa, mudou o modo 61 como pensamos. O mapa e o relógio partilham uma 62 ética semelhante uma vez que ambos colocaram 63 uma nova ênfase na mensuração e na abstração, 64 na percepção e na definição de formas e processos 65 além daqueles aparentes aos sentidos. 66 As recentes descobertas da neuroplasticidade 67 tornam mais visível a essência do intelecto, e mais fáceis 68 de assinalar seus passos e suas fronteiras. Elas 69 nos dizem que as ferramentas que o homem usou 70 para apoiar ou estender seu sistema nervoso modelaram 71 a estrutura física e o funcionamento do cérebro 72 humano. Seu uso fortaleceu alguns circui- tos neurais 73 e enfraqueceu outros, reforçou certos traços mentais 74 enquanto deixou esmaecer outros. A neuroplasticidade 75 fornece o elo perdido para compreendermos como 76 os meios informacionais e outras tecnologias intelectuais 77 exerceram sua in- fluência sobre o desenvolvimento 78 da civilização e ajudaram a guiar, em um nível 79 biológico, a história da consciência humana. CARR, Nicholas. A geração superfi cial: o que a internet está fazendo com as nossas mentes. Tradu- ção: Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janei- ro: Agir. 2011. p. 69-75. Adaptado. Questão 42 - (FM Petrópolis RJ) O fragmento que resume a ideia principal do texto é: 24 - www.PROJETOREDACAO.com.br a) “Um terceiro grupo, abarcando tecnologias tais como o reservatório, a pílula anticoncepcional e o milho geneticamente modificado, permite-nos remodelar a natureza para servir melhor a nos- sas necessidades ou desejos” (Refs. 13-17) b) “Durante a maior parte da história humana, as pessoas experimentaram o tempo como um flu- xo contínuo, cíclico. Por conseguinte, sua ‘mar- cação’ era realizada por instrumentos que enfa- tizavam seu processo natural” (Refs. 38-42) c) “Elas [as recentes descobertas da neuroplastici- dade] nos dizem que as ferramentas que o ho- mem usou para apoiar ou estender seu sistema nervoso modelaram a estrutura física e o funcio- namento do cérebro humano” (Refs. 68-72) d) “A máquina de escrever é uma tecnologia inte- lectual e, do mesmo modo, a régua de cálculo, o globo, o livro e o jornal, a escola e a biblioteca, o computador e a internet” (Refs. 25-28) e) “A necessidade de um maior rigor da programa- ção e da sincronização no trabalho, no transpor- te e no lazer forneceu o impulso para um rápido progresso da tecnologia do relógio” (Refs. 50- 53) Questão 43 - (FM Petrópolis RJ) No desenvolvimento temático do texto, antes de ex- plicar que as tecnologias intelectuais são usadas para encontrar e classificar informação, formular e arti- cular ideias, partilhar know-how e experiência, fazer medidas e realizar cálculos, o autor afirma que a) o arado, a agulha de costura e o caça a jato es- tendem a força física, a destreza ou a resiliência das pessoas. (2º par.) b) no passado, não havia uma necessidade particu- lar de medir o tempo com precisão ou dividir um dia em seus pequenos pedaços. (3º par.) c) os meios informacionais e outras tecnologias in- telectuais ajudaram a guiar, em um nível biológi- co, a história da consciência humana. (5º par.) d) o mapa traduziu o espaço, um fenômeno natu- ral, em uma conceitualização artificial e intelec- tual. (3º par.) e) a necessidade de sincronização no trabalho e no lazer forneceu o impulso para um rápido pro- gresso da tecnologia do relógio. (4º par.) TEXTO: 17 - Comum à questão: 44 De onde vem o termo “shippar”? Vem da palavra “relationship” (relacionamento, em inglês) e significa torcer para que personagens de ficção firmem uma relação. A prática se popularizou na década de 1970 com a série Star Trek: os fãs tor- ciam por Kirk e Spock e os apelidaram de “K/S”. Mas foi com Arquivo X que o verbo “shippar” (“to ship”) propriamente dito surgiu nos EUA, quando espectadores torciam para que Fox Mulder e Dana Scully ficassem juntos. No Brasil, o termo bombou durante os anos 2000, graças aos usuários do Twitter. Com o passar do tempo, classificações de “shi- ppar” foram criadas: há o “slash ship” (um casal gay masculino, caso de “K/S”), o “femslash” (um casal fe- minino), o “canon ship” (o casal óbvio da série) e o “cult ship”(um casal que nunca se formou). É comum que, ao “shippar” dois personagens, os fãs criem uma junção dos nomes: Elena e Damon, de The Vampire Diaries, por exemplo, viraram Delena. (Luiza Wolf. https://super.abril.com.br, 04.07.2018.) Questão 44 - (UNIVAG MT) De acordo com o texto, a criação do termo “shippar” está associada a) à simpatia do público de programas de televisão para com seus personagens, expressa no desejo de que estes formem pares românticos. b) à prática de compor nomes de personagens gra- ças à junção de seus nomes aos de outros perso- nagens com os quais o público simpatiza. c) ao papel influenciador do Twitter junto ao públi- co jovem, que disseminou a prática de atrapa- lhar os enredos das séries de ficção. d) ao conceito de humor associado aos nomes dos pares românticos de séries de televisão, com os quais o público se identifica. e) à popularização,ocorrida no Brasil, com os no- mes das personagens que surgiram nas redes sociais, as quais os internautas querem ver uni- das. www.PROJETOREDACAO.com.br - 25 Questão 45 - (UNIVAG MT) Leia a tira. (Adão Iturrusgarai. “A vida como ela yeah”. Folha de S.Paulo, 09.08.2019.) O efeito de humor da tira decorre a) da quebra de associações de sentido, sugeridas nas designações dos profissionais mas desvia- das, na sequência, para referências a outros campos de significação. b) da criação intencional de uma lacuna de sentido nas referências à natureza das atividades, suge- rindo que são realizadas por falsos profissionais. c) da reiteração dos sentidos literais de cada uma das profissões, por meio da menção a ações que lhes são atribuídas pelo senso comum. d) do emprego de expressões pouco usuais para aludir a um novo sentido que pode ser dado às atribuições de cada profissional. e) da escolha deliberada de expressões ambíguas para designar as profissões, tendo em vista que as atividades que desempenham são incompatí- veis. Questão 46 - (UNIVAG MT) A prisão de lideranças dos movimentos de mora- dia em São Paulo, no âmbito das investigações sobre o incêndio e o desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida, deve ser considerada com cautela. É evidente que é necessário coibir a ação de crimino- sos que se têm misturado nos movimentos sociais de São Paulo e do País. Mas é preciso cuidado para não pôr em risco conquistas obtidas com extremo esfor- ço por indivíduos e instituições que enfrentam o dé- ficit habitacional, um dos grandes desafios urbanos de nosso tempo. As ocupações não são todas iguais. Quem acompanha a trajetória de organizações como a Frente de Luta por Moradia (FLM) ou o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) conhece o extraordinário impacto positivo por elas provocado na vida de gran- de parcela da população em situação de vulnerabili- dade. Nosso objetivo, aqui, é sublinhar essa diferen- ça, para que as ações — legítimas e urgentes — do Ministério Público não ponham sob o mesmo rótulo movimentos pautados por objetivos e métodos an- tagônicos. (Philip Yang et al. “Luta por moradia: por que criminalizar a cidadania?”. https://opiniao.estadao.com.br, 08.08.2019. Adaptado.) No editorial, o ponto de vista manifesto afirma que as medidas do Ministério Público, a) apesar de serem legais e urgentes, são desastra- das e acabam por acobertar a ação dos crimino- sos que supostamente enfrentam o déficit habi- tacional, mas que estão, no fundo, acentuando a condição de vulnerabilidade das populações. b) como são legais e urgentes, vêm solucionando a crise urbana de moradia das populações pobres, conferindo legitimidade às lideranças de movi- mentos de moradia, em busca de resolver o pro- blema das ações antagônicas desses grupos. c) ainda que sejam legais e urgentes, precisam dis- tinguir, entre os movimentos sociais, aqueles cujas ações são legítimas e resultaram em con- quistas para o enfrentamento do déficit habita- cional, daqueles que praticam atos criminosos. d) caso sejam legais e urgentes, consistirão em ações de enfrentamento de atividades crimino- sas na área social, dando o mesmo tratamento para os movimentos que lutam, legitimamente ou não, pela causa dos sem-teto na capital pau- lista. e) para serem legais e urgentes, desconsideram o extraordinário impacto positivo das ocupações e consistem em ações que não passam pelo crivo da equidade, pois visam a punir todos os mo- vimentos sociais, independentemente de viés ideológico. TEXTO: 18 - Comum à questão: 47 PRAZERES DA “MELHOR IDADE” A voz em Congonhas anunciou: “Clientes com ne- cessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferên- cia etc.”. Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, muito menos gestante, nem mesmo portador do dito cartão, só me restava a “melhor ida- de” – algo entre os 60 anos e a morte. 26 - www.PROJETOREDACAO.com.br Para os que ainda não chegaram a ela, “melhor ida- de” é quando você pensa duas vezes antes de se abai- xar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica. Privilégios da “melhor idade” são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audi- ção, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da “melhor idade”, estamos com tudo, e os demais po- dem ir lamber sabão. Outra característica da “melhor idade” é a disponi- bilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar. Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: “Voltan- do da farra, Ruy?”. Respondi, eufórico: “Que nada! Estou voltando da farmácia!” E esta, de fato, é uma grande vantagem da “melhor idade”: você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir. (CASTRO, Ruy. Morrer de prazer – crônicas da vida por um fio. Rio de Janeiro: Foz, 2013, p.39.) Questão 47 - (FCM MG) O cronista vale-se da linguagem conotativa, isto é, explora tudo aquilo que as palavras podem sugerir, além de seu significado propriamente dito. O trecho “um pterodáctilo da clássica boemia carioca” sugere que o autor: a) constitui-se como um escritor ultrapassado. b) exemplifica a autenticidade de um boêmio. c) identifica-se com um carioca da gema. d) representa uma categoria já extinta. Questão 48 - (FCM MG) Leia a tirinha de Adão Iturrusgarai. (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/ cartunsdiarios/#28/7/2019) A comicidade da tirinha é explicada CORRETAMENTE em: a) O paciente confunde o médico e sua especializa- ção. b) O paciente domina o assunto melhor do que o médico. c) O médico faz outra leitura da expressão “intesti- no preso”. d) O médico não convencional paradoxalmente usa um clichê. www.PROJETOREDACAO.com.br - 27 TEXTO: 19 - Comum à questão: 49 DISTÂNCIA TEM CURA Em quase trinta anos atendendo doentes em ca- deias, jamais ouvi um desaforo, uma palavra áspera, uma reivindicação mal-educada. Às vezes, fica difícil acreditar que pessoas tão respeitosas com o médi- co tenham cometido os crimes que constam de seus prontuários. Profissão caprichosa a medicina, capaz de criar empatia mútua entre dois estranhos em questão de minutos. A tendência natural é a de nos aproximarmos de pessoas da mesma classe social, com gostos, ideias, posições políticas e estilos de vida semelhantes aos nossos. Embora esse formato de convivência nos traga conforto, não abre espaço para o contraditório nem dá acesso a modos de pensar e de viver radi- calmente diferentes. Impossível imaginar como eu chegaria aos 73 anos se não fosse a experiência nos presídios, mas sei que saberia menos medicina e des- conheceria aspectos da alma humana aos quais só tive acesso porque me dispus a chegar perto daque- les que a sociedade tranca atrás de grades. O fascínio infantil pelo mundo marginal que me con- duziu ao Carandiru ainda persiste. Não faço esse trabalho voluntário que me toma um período da se- mana há tantos anos por motivações religiosas ou engajamento ideológico de qualquer natureza — sou avesso a religiões e ideologias —, mas porque posso dispor desse tempo e manter aceso o interesse pela complexidade das interações humanas, sem o qual viver perde o encanto. (VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras,
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