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IFRS PALAVRA BRINCADA INFÂNCIA, LITERATURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS 2021 Curso dividido em: Módulo 1: Relações entre a história e a literatura. Módulo 2: Tópicos teóricos sobre a literatura infantil – conceito, função e aspectos composicionais. Módulo 3: Clássicos infantis: contos de fadas da oralidade, da escrita e do cinema. Módulo 4: Contação de histórias. Os conteúdos e atividades presentes neste arquivo, foram retirados do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Segue o link para a plataforma do curso: https://moodle.ifrs.edu.br/course/index.php?categoryid=38 2021 https://moodle.ifrs.edu.br/course/index.php?categoryid=38 PALAVRA BRINCADA: INFÂNCIA, LITERATURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS MÓDULO 1 INFÂNCIA: RELAÇÕES ENTRE A HISTÓRIA E A LITERATURA Para começar: vamos brincar? Children’s Games, 1560, Pieter Bruegel the Elder (Flemish Northern Renaissance Painter, ca.1525-1569), Kunsthistorisches Museum, Vienna, Austria. O quadro que você visualizou já possui quase meio século! Pieter Bruegel era um artista contemporâneo ao Renascimento Holandês, mas que apresentava características medievais. Sua pintura representa diversas crianças envolvidas em mais de oitenta brincadeiras. Entre elas, estão: • Brincar com bonecas; • Jogo da cerca; • Jogo da cabra-cega; • Brincar com bolhas de sabão; • Subir em árvores; • Jogo das cinco Marias; • Pular corda. Você identificou as brincadeiras acima citadas? Visualizou outras? Percebeu que muitas delas ainda existem na atualidade? Além das brincadeiras, é possível observar que o artista representou um vilarejo localizado na beira de um rio, na qual há uma igreja, casas, árvores e até um castelo. As crianças exibidas na obra demonstram bastante agitação, o que nos remete à impressão de movimento. Para também incitar o sentimento de euforia, o artista faz uso de cores vivas sobre um fundo amarelado. Mas você observou bem a representação do corpo das crianças? E suas roupas? E seu rosto? Repare nesse recorte do quadro: Children’s Games, 1560, Pieter Bruegel the Elder (Flemish Northern Renaissance Painter, ca.1525-1569), Kunsthistorisches Museum, Vienna, Austria [Recorte]. É bem provável que você tenha a impressão de a única diferença entre as crianças e os adultos, nesse quadro, seja a estatura. E é isso mesmo! Na Idade Média, cujo imaginário inspira Pieter Bruegel, as crianças eram considerados "adultos em miniatura". Por isso, Jogos Infantis é umas http://www.artcyclopedia.com/artists/bruegel_the_elder_pieter.html http://www.artcyclopedia.com/artists/bruegel_the_elder_pieter.html das únicas obras derivadas desse período que direcionou o seu foco às crianças. A escassez da representação de infantes em produções artísticas levou muitos estudiosos, como o historiador Phillipe Ariès, a defenderem que o sentimento de infância não existia antes da Idade Moderna. A construção da infância: "As crianças são as mensagens vivas que enviamos a um tempo que não veremos. Do ponto de vista biológico é inconcebível que uma cultura esqueça a sua necessidade de se reproduzir. Mas uma cultura pode existir sem uma ideia social de infância. Passado o primeiro ano de vida, a infância é um artefato social, não uma categoria biológica. Nossos genes não contêm instruções claras sobre quem é e quem não é criança, e as leis de sobrevivência não exigem que se faça distinção entre o mundo do adulto e o da criança. [...] Vejamos um pequeno exemplo: [...] ainda em 1890 as escolas secundárias americanas acolhiam somente sete por cento da população de jovens entre quatorze e dezessete anos. Juntamente com muitas crianças mais novas, os outros noventa e três por cento executavam trabalho adulto, alguns do nascer ao pôr do sol, em todas as nossas grandes cidades." (POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Tradução: Susana Menescal de Alencar Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio de Janeiro: Graphia, 1999, p.10-11). A criança no fio da história: Apesar de parecer simples, a tarefa de definir o que, de fato, é infância pode ser uma questão profundamente complexa. Para começarmos nosso diálogo, leia o texto que preparamos para você. https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5449/mod_page/content/38/Inf%C3%A2ncia %20e%20hist%C3%B3ria%20m%C3%B3dul o%201.pdf Existe infância na sociedade contemporânea? Origem da palavra "infância": latim infantia, referente ao indivíduo que não é capaz de falar. Nós presenciamos, na atualidade, uma constante busca pelo direito de fala, especialmente por grupos minoritários, como mulheres, indígenas, negros. Assim, compreendemos o alcance simbólico do ato de falar, que remete à possibilidade de expressão, de participação social e de responsabilização pelos atos. O historiador Neil Postman (1999) explica que, na Idade Média, a infância terminava aos sete anos, isso porque, nessa idade, os infantes já podiam dizer e compreender o que os adultos, por sua vez, diziam e compreendiam. Isso foi transformado com a expansão da cultura escrita, que passou a registrar os segredos da vida adulta. Dessa forma, criou-se a necessidade de proteção da infância, que, hoje, toma forma em diferentes marcos legais. Neles, predominam critérios etários para a definição da infância: Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral nas Nações Unidas, a criança é definida como todo o ser humano com menos de 18 anos, exceto se a lei nacional confere a maioridade mais cedo. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança a pessoa até 12 anos incompletos. A Portaria 1.130, de 05 de agosto de 2015, que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735449/mod_page/content/38/Inf%C3%A2ncia%20e%20hist%C3%B3ria%20m%C3%B3dulo%201.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735449/mod_page/content/38/Inf%C3%A2ncia%20e%20hist%C3%B3ria%20m%C3%B3dulo%201.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735449/mod_page/content/38/Inf%C3%A2ncia%20e%20hist%C3%B3ria%20m%C3%B3dulo%201.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735449/mod_page/content/38/Inf%C3%A2ncia%20e%20hist%C3%B3ria%20m%C3%B3dulo%201.pdf (PNAISC) considera criança o indivíduo de 0 a 9 anos, destacando-se a Primeira infância, de 0 a 5 anos. A criança na vitrine: haverá infância no futuro? Ainda que a proteção à infância esteja assegurada em leis e normativas, a integridade física, intelectual e moral das crianças continua suscetível a riscos, como a exploração do trabalho infantil, a vulnerabilidade social, e o apelo midiático pelo consumo. Para Neil Postman (1999), estamos assistindo ao desaparecimento da infância devido ao surgimento do sistema de mídia, que fornece informações acerca dos "segredos do mundo adulto", desfazendo a separação estabelecida entre este e o mundo infantil. Essa perspectiva é complementada por Shirley Steinberg e Joe Kincheloe (2004), que alertam que a chamada “cultura infantil” é construída por corporações que, por seus produtos, são capazes de penetrar, constantemente, na vida privada das crianças, desestabilizando-lhes a identidade. Na visão dos pesquisadores, as noções mais tradicionais da infância como um tempo de inocência e de dependência do adulto foram minadas pelo acesso das crianças à cultura popular durante o século XX. Está, portanto, decretado o fim da infância? Talvez não. Autores como Dora Marín-Díaz (2010) apresentam um contraponto às ideias apocalípticas em relação à infância. A pesquisadora reafirma que o uso dos meios de comunicação e de informaçãomodernos não só mantém as fronteiras entre os mundos adulto e infantil, como ainda acabam por produzir e ampliar as fronteiras entre as gerações. Desse modo, as crianças, em vez de serem dominados pelas mídias, utilizam-nas em seu próprio benefício, tornando-as instrumentos de força e de diferenciação do adulto pela naturalidade com que o fazem. Deve-se dizer que ideias como esta são menos recorrentes, mas ajudam a sustentar o debate acerca da infância que é produzida e reproduzida nos produtos e manifestações culturais de nossa sociedade. A conclusão a que se chega diante da narrativa da história da infância – vale lembrar, não é única, há múltiplas infâncias e portanto, múltiplas histórias – é que há muito para se refletir e construir para que a infância alcance um tempo realmente feliz, no sentido de que todas as crianças possam vivenciá-la. Como é uma construção social que se modifica ao longo do tempo, não tem um fim, está em constante transformação. Porém, o que se deseja é que ao menos alcance um estágio em que se consiga ter a certeza de que a concepção de infância finalmente resultasse em benefícios inquestionáveis a todas as crianças. Para quem quer mais! Uma dica de leitura para aprofundar os conhecimentos sobre as relações entre infância e a produção da literatura é a dissertaçã de Cláudia Gisele Masiero, em que o texto desse módulo se inspira. Ela é intitulada “Era uma vez…” – um estudo sobre concepções de infância em narrativas” e está disponível para consulta gratuita por meio do link https://biblioteca.feevale.br/Dissertacao /DissertacaoClaudiaMasiero.pdf . O encontro entre a história da infância e a história da literatura: "Entre os gêneros literários existentes, um dos mais recentes é o constituído pela literatura infantil, que apareceu durante o século XVIII, época em que as mudanças na estrutura da sociedade provocaram efeitos no âmbito artístico [...]. Nesse contexto, aparece a literatura infantil; seu nascimento, porém, tem características próprias, pois decorre da ascensão da família burguesa, do novo status concedido à https://biblioteca.feevale.br/Dissertacao/DissertacaoClaudiaMasiero.pdf https://biblioteca.feevale.br/Dissertacao/DissertacaoClaudiaMasiero.pdf infância na sociedade e da reorganização da escola" (ZILBERMAN, 2003, p. 33). Era uma vez... Basta ler ou ouvir essa expressão que nos transportamos para o universo dos contos de fada e da literatura voltada a crianças, não é? Em sua origem, porém, esses elementos não eram tão interligados assim. Os contos de fada, em sua gênese, não eram textos para crianças, nem eram textos da burguesia, nem eram repletos de finais felizes e... nem começavam com "era uma vez...". Se, como já vimos, a infância é um conceito que decorre da ascensão da burguesia e de formação da família numa concepção moderna, também os textos voltados a crianças fazem parte desse processo histórico. A literatura infantil é uma criação dos adultos, que recorreram à adaptação de textos em diferentes níveis para alcançar efeitos moralizantes. Em outras palavras, a burguesia valeu-se da tradição folclórica dos contos populares, adaptando- os para que estimulassem as crianças "do ponto de vista comportamental" e as conduzisse "à aceitação de valores que colaborem em sua integração ao meio social" (ZILBERMAN, 2003). Para entender melhor, um pequeno exercício de análise: Pense em histórias como Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida. Todas essas histórias apresentam um problema ou uma situação de conflito que envolve a personagem citada no título: o ataque do lobo, o envenenamento pela maçã, o anonimato social, o adormecimento após o feitiço. Mas como se dá a resolução desse nó? Em nenhuma das histórias, a personagem citada no título encontra a solução, ela precisa sempre de uma intervenção externa, seja ela um artifício mágico ou a ação de um ser mais forte (leia-se: um homem da burguesia). Na origem folclórica, essas personagens eram associadas, por sua fragilidade física, econômica ou social, à classe camponesa, que utilizava os contos populares para refletir sobre as adversidades de sua vida, conformada a uma hierarquia social intransponível. Havia um tom de rebeldia nas histórias, repletas de violência e de infortúnios, e sem heróis montados em cavalos brancos. Mas rebeldia não combinava com o projeto burguês de educar as crianças para se acomodarem à nova ordem social. Assim, na adaptação romântica dos contos de fada, as personagens frágeis foram mantidas para provocar a identificação de um novo público: as crianças. Sinalizando sua dependência ao mundo adulto e masculino, elas foram, então, submetidas a príncipes salvadores e a seres mágicos, que passaram a garantir os finais idealizados. Por esses motivos, o nascimento da literatura infantil está mais ligado ao campo da Pedagogia que da Literatura. Na sua opinião, pode-se dizer o mesmo a respeito da literatura infantil hoje? Mais questionamentos e algumas respostas estão no próximo módulo desse curso! História da literatura infantil no Brasil: Talvez você esteja se perguntando se a literatura infantil é criação exclusiva de países europeus. Não, não é! Um exemplo é o rico folclore do Brasil, que mescla cantigas, lendas, mitos e parlendas de inúmeras etnias. Mesmo em se tratando dos textos escritos, a literatura infantil possui um percurso próprio em terras tupiniquins Veja: ATIVIDADE DE FIXAÇÃO - 1 Questão 1. A Literatura infantil surgiu com a intencionalidade de traduzir os anseios e desejos das crianças do século XVIII. Verdadeiro Falso Questão 2. No Brasil, atualmente, todas as crianças têm o direito e vivem plenamente a infância, sem abusos e explorações, como o trabalho infantil. Verdadeiro Falso Questão 3. Apesar da qualidade estética dos livros atuais, pode-se afirmar que, até hoje, a literatura infantil produzida no Brasil limita-se a reproduzir os padrões europeus. Verdadeiro Falso Questão 4. Durante a Idade Média, era permitido que o infante participasse do mundo adulto, frequentando locais como prostíbulos e bares. Verdadeiro Falso Questão 5. No Brasil, um marco para a produção literária infantil são os livros de Monteiro Lobato, que começam a incorporar elementos do folclore brasileiro. Verdadeiro Falso Questão 6. Apesar de muitos avanços em relação à infância na contemporaneidade, ainda não existem leis ou órgãos governamentais que assegurem o bem-estar da criança. Verdadeiro Falso Questão 7. Segundo alguns estudiosos, no futuro, a infância não existirá devido ao apelo midiático e o livre acesso a informações do mundo adulto. Verdadeiro Falso Questão 8. Nos dias atuais, considera-se que a infância termina aos 7 anos completos, pois, nessa idade, o indivíduo já possui o domínio de sua língua nativa e não possui dificuldade em se comunicar. Verdadeiro Falso Questão 9. Um dos fatores que influenciou o desenvolvimento da infância foi o fortalecimento do núcleo familiar e da noção de privacidade. Verdadeiro Falso Questão 10. Inicialmente, o intuito da Literatura Infantil era o de moralizar e transmitir os valores da sociedade burguesa Verdadeiro Falso MÓDULO 2 TÓPICOS TEÓRICOS SOBRE A LITERATURA INFANTIL: CONCEITO, FUNÇÃO E ASPECTOS COMPOSICIONAIS Literatura infantil: do que estamos falando? O QUE É, O QUE É? Sou um nobre muito rico Feito por sábio engenho Dou-vos tudo quanto tenho Com quanto tenho me fico QUEM SOU? Vamos tratar da pergunta que não quer calare que vem ocupando a mente e o coração de pesquisadores ao longo das décadas: o que, afinal, é a literatura infantil? Para tentar simplificar a questão que não possui nenhuma resposta simples, vamos começar definindo o que a literatura infantil não é. Não é um gênero: A literatura infantil NÃO é definida por um gênero específico, como poema ou texto dramático, por exemplo. A falta de experiência leitora da criança e, portanto, um horizonte de expectativas muito amplo, permite que ela esteja aberta a inúmeros gêneros, alguns específicos da literatura infantil (como contos de fada e histórias de animais), outros não (como poemas, contos etc.). Além disso, é comum que textos lúdicos e fantasiosos do folclore sejam incluídos no rol dessa literatura, como quadrinhas, adivinhas, lendas, mitos, cantigas, entre outros. Não é um tema: A literatura infantil NÃO é definida por uma temática, como o romance policial ou as narrativas de viagens, por exemplo. Os textos para crianças podem abordar tantos temas fantasiosos, repletos de seres mágicos, quanto aspectos do cotidiano, como a descrição de paisagens em poemas e a abordagem de temas sociais em narrativas. Não possui uma finalidade única: A literatura infantil NÃO é definida por uma finalidade específica, como os romances de tese ou textos paradidáticos. A literatura infantil, na concepção contemporânea, não é produzida para educar uma criança, nem para alfabetizar nem para desenvolver a consciência política. Esses podem ser efeitos indiretos da formação leitora, mas não são o propósito em si da produção de textos para crianças. Assim, o único elemento que confere unidade ao conjunto de textos que compõem a literatura infantil é o PÚBLICO a que se destinam as obras. Por isso é tão importante entender que o conceito de infância não é estável: se ele se modifica, também a literatura infantil se transforma. Além disso, a literatura ainda tem de lidar com mudanças internas, relacionadas com a transitoriedade de seu próprio leitor, como explica Regina Zilberman (2003, p. 66): Abrangendo tudo que é produzido para pessoas de até mais ou menos doze anos, a literatura infantil deve ir se modificando à medida que evolui a criança até perdê-la por completo, fenômeno paralelamente vivido pelo próprio leitor, que vai aos poucos se afastando do produto a ele oferecido. Essa índole passageira do gênero determina sua temporalidade, o que se relaciona, de um lado, com a condição de seu receptor e, de outro, com a própria natureza histórica da faixa etária a que se destina. É importante sempre recordar que a literatura infantil é fruto da visão que o adulto lança sobre a infância. Uma obra infantil deriva de um trabalho de adaptação na forma, no conteúdo e na linguagem, com a intenção de amenizar a assimetria entre o mundo do adulto criador e da criança receptora. Zilberman (2003, p. 68) chega a afirmar que a literatura infantil é uma traição: [...] provindo de uma tomada de decisão da qual a criança não participa, mas cujos efeitos percebe, a literatura infantil pode ser considerada uma espécie de traição, uma vez que lida com as emoções e o prazer dos leitores, para dirigi-los a uma realidade que, por melhor e mais adequada que seja, eles em princípio não escolheram. Nessa medida, a literatura infantil somente poderá alcançar sua verdadeira dimensão artística e estética pela superação dos fatores que intervieram em sua geração. A acusação de traição é enfática, e há provas contundentes na história da literatura infantil! É possível, entretanto, argumentar a favor da ré. Antes de sair condenando de modo geral a literatura infantil, é preciso entender que não se deseja que ela tenha caráter educativo ou didático, o que é diferente de manifestar uma natureza formadora. Isso quer dizer que a literatura exerce um papel importante, em um sentido antropológico e intelectual, para o desenvolvimento infantil, justamente porque não possui o intuito de ensinar ou moralizar. Função do texto literário para crianças: Em resumo, os textos literários atuam no alargamento da compreensão do real pela criança. Isso acontece, em primeiro lugar, porque “qualquer narrativa, por simples que seja, compõe um modelo do real e manifesta certo modo de interpretação de algo” (CADEMARTORI, 2012, p. 46). Em outras palavras, a experiência fictícia apresenta uma realidade organizada e acessível à criança, auxiliando-a a perceber os fatos de sua realidade e a sistematizá-los em relações de causa e consequência. Em segundo lugar, porque os textos literários estimulam o desenvolvimento da linguagem, que atua como “[...] mediador entre a criança e o mundo, de modo que, propiciando, pela leitura, um alargamento do domínio linguístico, a literatura preencherá uma função de conhecimento” (ZILBERMAN, 2003, p. 45 – 46). Assim, antes mesmo da alfabetização, a criança exposta à literatura terá iniciado seu processo de letramento. Poesia e rima com infância? O QUE É, O QUE É? Sou um nobre muito rico Feito por sábio engenho Dou-vos tudo quanto tenho Com quanto tenho me fico QUEM SOU? A resposta da adivinha é a mesma da adivinha que segue: Tenho capa sem ser herói Tenho folhas sem árvore ser Nem todos podem me compreender QUEM SOU? Para falar de todas as características dos textos infantis, teríamos de fazer primeiramente um traçado dos gêneros, o que, por si só, já demandaria um módulo inteirinho. Então, nós vamos optar por deixar uma sugestão de leitura acerca dos gêneros no quadro “Para quem quer mais”, que você pode buscar conforme seu interesse. Para quem quer mais: o livro Literatura e Alfabetização: do plano do choro ao plano da ação (Porto Alegre: Artmed, 2001), organizado por Juracy Assmann Saraiva, reúne textos de vários pesquisadores sobre narrativas e poesias infantis. Além disso, apresenta 16 roteiros para exploração de textos literários nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Veja um exemplo do conteúdo: Era uma vez, a história vai começar... Toda criança adora uma boa história, não é? Mas o que pode ser considerada uma boa história? Não há como definir com exatidão, mas podemos elencar algumas características importantes nas narrativas literárias. Explore esse livro para descobrir de que características estamos falando! Para cada característica, apresentamos um exemplo de obra literária e, na sequência, registramos um pequeno comentário sobre ela. Linguagem adequada ao pública: Gosto muito de inventar coisas. Por isso não sou muito boa contadeira de história. Fico misturando as coisas que aconteceram com as inventadas. E quando começo a conversar vou lembrando de outros assuntos, e misturando mais ainda. Fica uma história grande e principal cheia de historinhas pequenas penduradas nela. (MACHADO, 1982, p. 5). Explicando... A simplicidade da linguagem aproxima o leitor criança da história e, muitas vezes, imprime um tom de diálogo ao texto. Isso, porém, não significa subestimar a capacidade infantil, confundindo simplicidade com uma escrita descuidada, excessivamente explicativa ou infantilizada. A obra História meio ao contrário subverte a tradição dos contos de fada ao iniciar pelo “E viveram felizes para sempre”. Nela, a linguagem é acessível à criança e, ao mesmo tempo, ajuda a construir sua competência leitora, lançando mão de ironia, vocábulos cultos (inseridos em um contexto cômico) e recursos narrativos diversos. Tratamento de temas universais: Porque todas as noites, enquanto ESTRELA sonhava, LINO via pela janela LUA iluminada. Às vezes, ela até parecia sorrir no céu. (NEVES, 2011, s.p.) Explicando: Por mais doce que seja, a infância também lida com perdas materiais, afetivas e simbólicas. Em Lino, o luto da partida de um amigo próximo transforma-se em uma metáfora delicada, que envolve o nome das personagens e os elementos da natureza. Assim como ocorre no livro de André Neves, a boa literatura infantil lança um olhar sensível a temas universais do ser humano, como morte, amor, solidão etc. A fantasia, os jogos sonoros, as metáforas tornam os assuntos compreensíveis à mente da criança e respeitam a delicadeza do mundo afetivo infantil. Humor / ludicidade: “Eu sou um Bolinho, Redondo e fofinho, De creme recheado, Na manteiga assada. Deixaram-me esfriando, Mas eu fugi rolando! O vô não me pegou, A vó não me pegou, Nem você, dona Lebre, Vai me pegar!” (BELINKY, 2017) Explicando... Brincadeira, risada, alegria têm tudo a ver com criança. Em consideração ao mundo lúdico da infância, muitas obras literárias apostam no humor para conquistar os pequenos leitores. Muitas vezes, esses textos ironizam o adulto, mobilizam o nonsense e envolvem a criança em um jogo linguístico. Em “O caso do bolinho”, o enredo gira em torno de um bolinho, que foge enquanto esfriava na janela. A situação inusitada é cômica e se intensifica no decorrer da história, quando o bolinho se encontra com animais que querem comê-lo. Ele, então, engana os bichos ao cantar uma canção, que pode ser musicada pelo leitor infantil ou pelo contador de histórias. Narrador identificado com a criança: Por isso, se você é uma princesa, vê lá, hein? Não vá beijar nenhum sapo por aí... Porque os reizinhos mandões Podem aparecer em qualquer lugar (ROCHA, 1982, p. 38) Explicando... Nada de voz autoritária ou moralista: quem manda em história infantil é a voz da criança! Em O reizinho mandão, por exemplo, há um narrador infantojuvenil que conta a história de um rei menino que silenciou todo um reino com seu autoritarismo. A narração é fluida, recheada de oralidade e de diálogos com a criança leitora. Na literatura infantil, o narrador precisa preservar os espaços de participação da criança. Assim, nada de ficar explicando tudo para o leitor ou dando lição de moral: essas características narrativas já ficaram para trás na tradição literária. Narrativas de repetição ou acumulativas: Fonte: DRUCE, Arden. Bruxa, Bruxa, venha à minha festa. 2 ed. São Paulo: Brinque-Book, 2007, p. 4-5. Explicando... A repetição é uma fórmula clássica da infância. Narrativas acumulativas costumam envolver os leitores menores, porque facilitam a compreensão da história, propondo um jogo de memorização. Em Bruxa, Bruxa, venha à minha festa, uma voz convida diferentes seres mitológicos e animais para participarem de uma festa. Cada personagem condiciona sua aceitação ao convite de outra personagem. Assim, a história torna-se interativa, pois a criança já antecipa as falas da próxima página. Linguagem visual: Explicando... A escritora Bia Vilella diz que “o livro é um brinquedo de ideias”. E as ideias se formam no conjunto entre palavras e imagens. Assim, as ilustrações em um livro infantil devem estimular a criatividade do leitor e contribuir para a construção de sentido textual. Imagens que reforçam estereótipos, que são meramente ilustrativas ou que correspondem unicamente ao padrão do adulto não combinam com boa literatura. Observe, por exemplo, as páginas do livro O grilo, reproduzidas na página anterior desse livro. Em um projeto gráfico minimalista e descontraído, as linhas recebem diferentes combinações para formar as personagens e reproduzir seu movimento. A linha pontilhada, por exemplo, no canto inferior da página, simula o movimento do grilo, bem como a fonte das letras, que parecem pular junto com o animalzinho. O conteúdo do texto, escrito em linguagem simples e objetiva, enriquece a estética, demonstrando que todos os bichos possuem diferentes formas de se locomover, mas que todos se divertem à sua maneira. Culturas variadas: Fonte: MUNDURUKU, Daniel. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos. São Paulo: Peirópolis, 2001. Explicando... A ampliação do universo cultural das crianças passa pelo contato com as narrativas de diferentes povos. No Brasil, mais do que simples disposição do professor, o acesso à cultura indígena e africana está previsto nas leis 10.639 – art. 26a – e 11.845. Para conhecer essas culturas, é importante procurar por escritores que pertençam às etnias, como o brasileiro Daniel Munduruku, que traduz o imaginário indígena em seus livros de contos e lendas. Em As serpentes que roubaram a noite, as ilustrações foram feitas por crianças indígenas, representando a estética munduruku. Também é possível ter acesso a narrativas africanas por meio de escritores como o renomado moçambicano Mia Couto. Muitas lendas e contos não foram escritos especialmente para crianças, mas são adequados ao universo infantil. A propósito, vale a pena conhecer a coleção “Contos de Moçambique”, da editora Kapulana. Importante: há uma infinidade de adaptações do folclore indígena e africano que não respeitam a simbologia dessas narrativas para os povos de origem. Da mesma forma, é preciso ter cuidado com ilustrações estereotipadas acerca do universo indígena e/ou africano. Essa história entrou pela perna do pato e saiu pela perna do pinto. Quem gostou, conte até cinco. Como você percebeu, definir uma boa história não é uma ciência exata. Entretanto, se você encontrar a maioria das seguintes características em um livro literário, é bem provável que ele possua qualidade artística: - Linguagem adequada ao público; - Tratamento de temas universais; - Presença de humor/ ludicidade; - Presença de um narrador identificado com a criança; - Configuração de narrativas de repetição ou acumulativas, especialmente para crianças menores; - Linguagem visual que acrescente significados ao texto verbal; - Exploração de culturas variadas. Ressaltamos que cada obra possui suas particularidades, as quais devem ser analisadas, assim como se analisam as características das crianças para as quais a história se destina. Em síntese, boas histórias encantam os leitores, independente de sua idade. Assim, se uma obra cativar você, aposte nela! Critérios de seleção para leitura em ambiente escolar: Ok, mas como escolher a obra adequada para minha turma? Como apresentá-la aos alunos? Se essas dúvidas surgiram em sua mente, você faz parte da grande maioria dos professores que resolvem inserir a literatura infantil no seu cotidiano. Embora não possamos oferecer uma resposta definitiva e prática para suas perguntas, podemos apontar alguns caminhos. Para a primeira questão, segue um infográfico inspirado no texto de Mara Jardim. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO – 2 Questão 1. Leia o trecho a seguir. De borco no barco. (De bruços no berço…) O braço é o barco O barco é o berço. (Cecília Meireles) A respeito, são feitas as seguintes afirmações. I - A poesia descritiva sugere sentimentos a partir das imagens descritas e dos jogos sonoros. II - A poesia descritiva não é adequada para crianças abaixo de 6 anos. Escolha uma opção: a. I e II estão corretas. b. Apenas a II está correta. c. Nenhuma das alternativas está correta. d. Apenas a I está correta. Questão 2. Leia o trecho que segue. Gosto muito de inventar coisas. Por isso não sou muito boa contadeira de história. Fico misturando as coisas que aconteceram com as inventadas. E quando começo a conversar vou lembrando de outros assuntos, e misturando mais ainda. Fica uma históriagrande e principal cheia de historinhas pequenas penduradas nela. (História meio ao contrário, de Ana Maria Machado) A respeito da linguagem nas obras literárias infantis, são feitas as seguintes afirmações: I - A linguagem deve sempre respeitar a norma padrão da língua escrita, pois a finalidade do texto é somente a de preparar a criança para a alfabetização. II- A linguagem simples e oralizada aproxima o leitor infantil da obra, sem subestimar sua capacidade interpretativa. Escolha uma opção: a. Apenas II está correta. b. I e II estão corretas c. Nenhuma das afirmações está correta. d. Apenas I está correta. Questão 3. Leia o trecho que segue. Por isso, se você é uma princesa, vê lá, hein? Não vá beijar nenhum sapo por aí... Porque os reizinhos mandões Podem aparecer em qualquer lugar (O reizinho mandão, de Ruth Rocha) A respeito do narrador em livros infantis, fazem-se as seguintes afirmações: I - O narrador deve sempre guiar a criança na aprendizagem de valores morais e na compreensão do sentido textual. II - O narrador deve aproximar-se da criança, estabelecendo diálogos com ela e evitando impor a ótica moralizante do adulto. Escolha uma opção: a. Apenas a II está correta. b. I e II estão corretas. c. Nenhuma das afirmações está correta. d. Apenas a I está correta. Questão 4. Leia o trecho que segue. Era uma vez Uma casa sonolenta Onde todos viviam dormindo Nessa casa Tinha uma cama Uma cama aconchegante, Numa casa sonolenta, Onde todos viviam dormindo. Nessa cama tinha uma avó [...] (A casa sonolenta, de Andrey Wood) A respeito desse trecho, fazem-se as seguintes afirmações: I - As narrativas de repetição ou acumulativas estimulam a participação da criança e facilitam sua compreensão. II - A repetição é um elemento importante para crianças maiores de 6 anos, pois, antes dessa idade, a redundância provoca a dispersão dos leitores/ouvintes. Escolha uma opção: a. Apenas a II está correta. b. Nenhuma das afirmações está correta. c. I e II estão corretas. d. Apenas a I está correta. Questão 5. Assinale a alternativa CORRETA sobre a poesia infantil. Escolha uma opção: a. A poesia infantil não parte de elementos da realidade para um universo imaginário, mas, sim, instaura a ludicidade somente através do ritmo. b. Os poemas infantis são apenas descritivos, pois os poemas narrativos não cabem na classificação de poesia. c. O ritmo e a temática da poesia infantil não possuem importância para a sua composição. d. A poesia infantil possui laços estreitos com a oralidade e o folclore. Questão 6. Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma característica importante em textos literários para crianças. Escolha uma opção: a. O ritmo, em poemas. b. Um narrador identificado com a criança, em narrativas. c. O glossário de palavras, em romances infantis. d. A repetição, em narrativas acumulativas. Questão 7. A respeito da poesia dirigida ao público infantil, é CORRETO afirmar que: Escolha uma opção: a. poemas descritivos não são adequados para crianças, pois são um gênero exclusivo da literatura para adultos. b. poemas descritivos só são adequados à criança quando descrevem elementos do cotidiano de forma objetiva, sem elementos fantasiosos. c. nos poemas infantis, o ritmo é essencial, pois reforça a natureza lúdica do texto e colabora na construção de sentidos textuais. d. poemas narrativos não são adequados para crianças, pois são um gênero exclusivo da literatura para adultos. Questão 8. Leia a frase: A literatura infantil pode ser caracterizada como uma espécie de _____________, pois _____________ determina a produção do texto direcionado ______________, que sofre os efeitos das escolhas temáticas e artísticas, sem ter podido decidir sobre elas. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. Escolha uma opção: a. traição/ o adulto/ à criança b. ensinamento/ jovens e adultos/ à criança c. leque/ o adulto/ a um público amplo d. tradução/ a criança/ à própria criança Questão 9. A literatura infantil pode ser definida: Escolha uma opção: a. pela finalidade exclusiva de instruir seu leitor. b. pela existência de um único gênero textual. c. pelo público específico a que se destina. d. pela temática sempre centrada em histórias fantásticas e com animais. Questão 10. É correto afirmar que, na compreensão contemporânea, a literatura infantil possui uma função: Escolha uma opção: a. formadora b. educativa c. moralizante d. pedagógica MÓDULO 3 ERA UMA VEZ... OS CONTOS DE FADAS E SUA LOGA TRAJETÓRIA Um espaço especial reservado aos contos de fadas: Segundo Karin Volobuef (1993), o conto de fadas (que em muitas coletâneas são chamados de “Histórias clássicas infantis”), pertence ao gênero maravilhoso, sendo que o herói e sua tarefa constituem o centro e a base de sua narrativa. Pode-se citar quatro características básicas deste gênero: a tendência à nitidez; a propensão à universalidade; a representação estilizada da realidade e a adequação à transmissão oral. O elemento fantástico presente enquanto maravilhoso nessas narrativas cumpre a função de garantir que se trata de outra dimensão, de outro mundo, com possibilidades e lógicas diferentes. Assim fazendo, os argumentos da razão e da coerência já são barrados na porta, e a festa pode começar sem suas incômodas presenças, bastando pronunciar as palavras mágicas Era uma vez... Como uma senha de entrada. Nelly Novaes Coelho afirma que “os contos de fadas fazem parte desses livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas as idades” (2012, p.27). A autora pergunta quando e onde teriam nascido essas narrativas maravilhosas, que hoje conhecemos como Literatura Infantil Clássica? Diversas fontes, levadas para diversas regiões, por peregrinos, viajantes, invasores, foram-se misturando umas às outras e criando diferentes formas narrativas “nacionais”, que hoje constituem a Literatura Infantil Clássica e o folclore e cada nação. Para Canton (2009) estão presentes na cultura de diversos povos: surgiram nos primórdios da tradição oral, passaram por manuscritos medievais – a maioria deles, anônimos – e chegaram a partir da invenção da prensa até a Literatura. Durante séculos faziam parte dos momentos coletivos, em que um bom contador de histórias emocionava a sua plateia. Não eram tidos como infantis. Estavam ligados à oralidade. À medida que as antigas histórias se espalhavam, ultrapassando fronteiras sociais, e ao logo dos séculos, desenvolveram um enorme poder de resistência. Mudaram sem perder o seu sabor. Mesmo depois de absorvidas pelas principais correntes da cultura moderna são testemunhos de uma antiga visão de mundo. Os contos populares são documentos históricos. Surgiram ao longo de muitos séculos e sofreram diferentes transformações em diferentes tradições culturais. Longe de expressarem as imutáveis operações do ser interno do homem, sugerem que as próprias mentalidades mudaram. Quer tenhamos ou não consciência disso, os contos de fadas modelam códigos de comportamento e trajetórias de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que nos forneceram termos com que pensar sobre o que acontece em nosso mundo. Os contos de fadas, outrora narrados por camponeses ao pé da lareira para afugentar o tédio dos afazeres domésticos, foram transplantados com grande sucesso para o quarto das crianças, onde florescem na forma de entretenimento e edificação. A importância dos contos tradicionais para a construção e o desenvolvimento da subjetividade humanajá foi estudada e demonstrada, especialmente por Bruno Bettelheim em seu livro A Psicanálise dos Contos de Fadas. Essa obra foi uma experiência pioneira em interpretar exaustivamente os contos de fadas a partir da teoria psicanalítica, ressaltando que seu uso pelas crianças contemporâneas visa a ajuda-las na elaboração de seus conflitos íntimos. Disseminados por diversas mídias – da ópera e do drama ao cinema e à publicidade -, os contos de fadas tornaram-se uma parte vital de nosso capital cultural. O que os mantém a vida vibrando: angústias, medos, desejos, romance, paixão e amor. o A origem dos contos se perde no tempo. Para Canton (2009), estão presentes na cultura de diversos povos: surgiram nos primórdios da tradição oral, passaram por manuscritos medievais e chegaram a partir da invenção da prensa até a Literatura. Até o século XII, os contos eram essencialmente narrados oralmente e se destinavam a pessoas de qualquer idade, “em sua essência, não eram destinados ao universo das crianças, uma vez que as histórias eram recheadas de cenas de adultério, canibalismo, incesto, mortes hediondas e outros componentes do imaginário dos adultos” (SCHNEIDER; TOROSSIAN, 2009, p. 134). Eles eram parte do lazer e da distração, contados tanto em tabernas e nas simples rodas de amigos, quanto nos salões da alta nobreza. São narrativas atemporais porque os valores de cada sociedade estão intrínsecos neles e se modificam e modelam conforme cada época. Toda vez que se inicia uma dessas histórias com o “Era uma vez” ou “Em um reino muito distante”, se reporta o ouvinte a um mundo desconhecido e fascinante, seria como uma senha de acesso, nas palavras de Diana Corso e Mario Corso (2006). E o tão esperado “felizes para sempre” da maioria dos contos de fadas pode representar simbolicamente não a felicidade que dura eternamente, mas a felicidade de enfrentar obstáculos, conflitos, sofrimentos inesperados, injustiças e, mesmo assim, sair vitorioso. Como já dito, mas é importante destacar, “sabe-se que, ao mesmo tempo em que uma criança escuta um conto, a sua mente está a produzir outro” (MESQUITA, 2010, p. 34), está trabalhando internamente as suas questões existenciais. Assim, também, deve- se contar sempre o seu conto favorito, quantas vezes ela quiser. Para Maria Tatar (2004), a verdadeira magia dos contos de fadas reside na sua capacidade de extrair prazer da dor. Assim, dando vida às figuras sombrias de nossa imaginação, como bichos- papões, bruxas, canibais, ogros e gigantes, essas narrativas podem fazer aflorar o medo, mas no fim sempre proporcionam o prazer de vê-lo vencido. - Observe a diferença dos clássicos e tente adivinhar quais são os seus títulos: Lembre-se: estamos falando das versões mais antigas de contos de fadas, e elas nem sempre correspondem às histórias que lemos atualmente em livros infantis. Para descobrir as respostas das adivinhas, clique sobre cada imagem. 1. A bruxa foi obrigada a calçar sapatos de ferro em brasa e dançar em torno de si até, finalmente cair morta. 2. A menina é engolida pelo lobo depois de tirar a roupa e se deitar com ele na cama. Ela morre, e esse é o final da história. 3. Duas crianças encontram uma casa que era feita de pão, o telhado era bolo e as janelas de açúcar cintilante. 4. A mãe então disse para a segunda filha: "Pegue o sapato, e se ele for apertado, é melhor cortar a parte dos dedos". A filha levou o sapato para o quarto e, ao ver que seu pé era grande demais, cerrou os dentes e cortou fora um pedaço bem grande do dedão. 5. A avó pôs uma coroa de lírios brancos no cabelo dela, mas cada pétala das flores era metade de uma pérola. Depois a velha senhora prendeu oito grandes ostras na cauda princesa [...]. - Ai, como dói - disse ela. - É, mas todo mundo sabe que para ficar bonita é preciso sofrer - disse a avó. 6. - Tem razão, disse o monstro. - Mas além de feio, não tenho inteligência, afinal não passo de um animal. - Não pode ser um animal se acha que não tem inteligência. Um tolo nunca sabe que é um tolo. 7. Um moleiro muito pobre, que tinha uma filha muito bonita, mentiu ao rei dizendo que ela sabia tecer a palha e transformá-la em ouro, só para casá-la com o príncipe. A moça acabou se metendo numa grande enrascada. 8. Nessa narrativa uma menina coloca pedras na barriga de um lobo. Depois desse episódio, encontra outro lobo, mas não mais de deixa enganar por ele. 9. Uma senhora malvada, chamada Gothel, leva a personagem desse conto ao deserto onde teria que viver em grande sofrimento e miséria. Nesse contexto, ela deu à luz gêmeos. 10. Aconteceu que o prazo de cem anos acabara de se esgotar, e chegara o dia em que a Rosa de Urze iria acordar. Quando se aproximou da cerca viva de urzes, o príncipe não encontrou nada senão grandes e lindas flores. Elas se afastaram para lhe abrir caminho e o deixaram passar são e salvo [...]. 11. Seus filhos são muito bonitos, madame! - disse a pata idosa da fitinha na perna. - Todos, fora um, que é um fracasso. Eu gostaria muito que a senhora pudesse fabricar de novo esse tal. - Respostas: 1. Branca de Neve- Irmãos Grimm 2. Chapeuzinho Vermelho - Charles Perrault 3. João e Maria - Irmãos Grimm 4. A Gata Borralheira - Irmãos Grimm 5. A Sereiazinha - Hans Christian Andersen 6. A Bela e a Fera - Jeanne Marie Leprince Beaumont 7. Rumpelstiltskin - Irmãos Grimm 8. Chapeuzinho Vermelho - Charles Perrault 9. Rapunzel - Irmãos Grimm 10. A Bela Adormecida - Irmãos Grimm 11 - Patinho Feio - Hans Christian Andersen Charles Perrault: as obras O nome do autor Charles Perrault pode não lhe parecer muito familiar, mas temos certeza de que uma de suas histórias marcou sua infância. Ou melhor, a adaptação de uma de suas histórias. Quer saber o que nunca te contaram sobre Chapeuzinho? E, quem sabe, conhecer o macabro Barba Azul? Veja: https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mo d_page/content/26/Chapeuzinho%20vermelho%20pe rrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mo d_page/content/26/o%20BARBA%20AZUL%20perra ult%20transcrito.pdf "Perrault não é responsável apenas pelo primeiro surto de literatura infantil, cujo impulso inicial determina, retroativamente, a incorporação dos textos citados de La Fontaine e Fénelon. Seu livro provoca também uma preferência inaudita pelo conto de fadas, literarizando uma produção até aquele momento de natureza popular e circulação oral, adotada doravante como principal leitura infantil." Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2010, p. 16) Para você se familiarizar com esse expoente da produção de contos de fada, preparamos um infográfico! Confira a seguir dados relevantes sobre a vida e a obra de Charles https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/Chapeuzinho%20vermelho%20perrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/Chapeuzinho%20vermelho%20perrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/Chapeuzinho%20vermelho%20perrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/o%20BARBA%20AZUL%20perrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/o%20BARBA%20AZUL%20perrault%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735464/mod_page/content/26/o%20BARBA%20AZUL%20perrault%20transcrito.pdf Perrault, clicando sobre a imagem do Monumento ao autor. Os Irmãos Grimm: as obras É quase impossível pensar em contos de fada sem a produção dos irmãos germânicos, mas vale lembrar que nem sempre as versões açucaradas do presente correspondem aos contosoriginais. Veja: https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5466/mod_page/content/14/o%20lobo%20e% 20os%20sete%20cabritinhos%20grimm%20 transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5466/mod_page/content/14/o%20principe%2 0sapo%20grimm%20transcrito.pdf "Os contos dos Irmãos Grimm fazem hoje parte do património da nossa cultura: são conhecidos pelas crianças, são recontados por elas, são reescritos e reinterpretados por escritores e ilustradores e por toda uma indústria cultural que os consolida no âmbito da chamada cultura popular." John Storey (2013 apud AZEVEDO, 2003) Você que assistiu ao filme Os irmãos Grimm (2005) e pensa saber tudo sobre essas figuras históricas, vai perceber que nem sempre a ficção imita a vida. Leia o infográfico que preparamos para saber sobre a vida nem tão aventureira, mas igualmente marcante, dos irmãos alemães do século XIX! Hans Christian Andersen: as obras Conto de fadas sempre tem final feliz, certo? E o protagonista é sempre uma personagem https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20lobo%20e%20os%20sete%20cabritinhos%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20lobo%20e%20os%20sete%20cabritinhos%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20lobo%20e%20os%20sete%20cabritinhos%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20lobo%20e%20os%20sete%20cabritinhos%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20principe%20sapo%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20principe%20sapo%20grimm%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735466/mod_page/content/14/o%20principe%20sapo%20grimm%20transcrito.pdf masculina, não é? A essa altura, você já sabe que não, pois a diversidade também marca as narrativas folclóricas. Separamos dois textos muito especiais, escritos por Hans Andersen, e que apresentam protagonistas femininas. Um deles emociona. Veja: https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5468/mod_page/content/16/a%20pequena%2 0vendedora%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5468/mod_page/content/16/a%20princesa%2 0e%20a%20ervilha%20Andersen%20transc rito.pdf "Segundo o próprio Hans Christian Andersen, sua vida foi como um conto de fadas – e não há como negar que ela parecia de faz de conta. Andersen foi um garoto sem instrução, vinha de uma família pobre, mas isso não o impediu de vir a frequentar os salões de aristocratas e reis; adulto tímido, soube dominar as próprias fraquezas para fascinar as crianças com histórias que desde então vêm encantando gerações. " Russell Ash e Bernard Higton (1995, p. 6) Revisitados para sempre: novas versões literárias e novos produtos culturais Os contos de fadas sobreviveram ao tempo e foram sendo “reinventados”. Novas versões surgem constantemente e nos fazem pensar sobre contextos passados e sobre a sociedade atual. Como nos dizem Diana Corso e Mario Corso (2006), geralmente, quando contamos um conto, apropriamo-nos dele e o subjugamos aos nossos interesses. Para tanto, os autores explicam que uma parte se conserva (uma espécie de núcleo da história), mas outra é acrescentada, por isso, as histórias não permanecem exatamente iguais com o passar dos anos. Acrescentam, ainda, que nós vivemos num momento em que a mutação dos meios dessas histórias atingiu um ponto de virada: a tradição oral cedeu espaço ao império das imagens. Hoje, tudo o que se diz deve ser ilustrado. Os sons, os silêncios, a entonação e a capacidade dramática que faziam a glória de um bom contador de histórias foram substituídos pelas capacidades narrativas dos estúdios de cinema, da televisão e dos ilustradores de livros e quadrinhos. O que nos interessa é o fato de muitas histórias terem subsistido através desses novos meios e perdurarem evocando as mesmas emoções. Nosso propósito é encontrar velhas tramas mesmo que estejam vestindo novos trajes (CORSO; CORSO, 2006, p. 27). Vamos olhar para narrativas de diversas época e lugares, contadas nos mais diferentes formatos. Da tradição oral ao livro, do cinema ao meme da rede social... Onde estão essas histórias e o que nos contam?; Veja mais sobre em: https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/273 5470/mod_page/content/24/Contos%20de%2 0Fadas%20e%20Inf%C3%A2ncia.pdf?time= 1591664149720 https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20pequena%20vendedora%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20pequena%20vendedora%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20pequena%20vendedora%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20princesa%20e%20a%20ervilha%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20princesa%20e%20a%20ervilha%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20princesa%20e%20a%20ervilha%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735468/mod_page/content/16/a%20princesa%20e%20a%20ervilha%20Andersen%20transcrito.pdf https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735470/mod_page/content/24/Contos%20de%20Fadas%20e%20Inf%C3%A2ncia.pdf?time=1591664149720 https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735470/mod_page/content/24/Contos%20de%20Fadas%20e%20Inf%C3%A2ncia.pdf?time=1591664149720 https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735470/mod_page/content/24/Contos%20de%20Fadas%20e%20Inf%C3%A2ncia.pdf?time=1591664149720 https://moodle.ifrs.edu.br/pluginfile.php/2735470/mod_page/content/24/Contos%20de%20Fadas%20e%20Inf%C3%A2ncia.pdf?time=1591664149720 ATIVIDADE DE FIXAÇÃO - 3 Questão 1. Bruno Bettelheim (2007) destaca a importância dos Contos de Fadas para as crianças principalmente porque: Escolha uma opção: a. São apenas divertidos e atrativos. b. enquanto divertem a criança, essas narrativas favorecem o desenvolvimento de sua personalidade e um maior conhecimento sobre si mesma. c. Não há infância se não houver a leitura de contos de fadas. Questão 2. Considere as sentenças abaixo, a respeito dos contos populares. I - Os contos populares são documentos históricos. II - Surgiram ao longo de muitos séculos e sofreram diferentes transformações em diferentes tradições culturais. III - Sugerem que as próprias mentalidades nunca mudaram. Segundo os estudos de Robert Darnton (1986), estão corretas as afirmações: Escolha uma opção: a. Apenas a I. b. Apenas a I e III. c. Apenas a I e II. Questão 3. Os contos mais conhecidos de Charles Perrault são: a. O Gato de Botas, O Patinho Feio, João e Maria, A Roupa Nova do Imperador e Rumpelstiltskin. b. Cinderela, Barba Azul, O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida e O Pequeno Polegar. c. O Patinho Feio, A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo, A Roupa Nova do Imperador e A Pequena Vendedora de Fósforos. d. Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Branca de Neve, A Bela Adormecida, Rapunzel e Rumpelstiltskin. Questão 4. Charles Perrault escreveu contos com as seguintes características: Escolha uma opção: a. Os textos focavam exclusivamente o padecimento de órfãos e crianças; ou seja, a descrição do sofrimento. b. O objetivo inicial era elaborar um documento cultural a respeito do folclore alemão para estudiosos. c. Os textos falavam sobre temas íntimos e pessoais; comportamento humano; virtudes e vícios; compaixão e arrependimento. d. Os textos continhammensagens sobre comportamentos, valores e atitudes, todas com aspecto moralizante. Questão 5. Marque a opção que completa corretamente as lacunas: Segundo Robert Darton (1986) à medida que as antigas ___________ se espalhavam, ultrapassaram fronteiras ___________ e, ao longo dos séculos, desenvolveram um enorme poder de ______________. Os contos tradicionais mudaram sem perder o seu sabor. Mesmo depois de ______________ pelas principais correntes da ___________ moderna são testemunhos de uma antiga visão de _____. Escolha uma opção: a. histórias; sociais; resistência; absorvidos; cultura; mundo. b. narrativas; culturais; mudança; absorvidos; arte; literatura. c histórias; sociais; resistência; descartados; cultura; sociedade. d. narrativas; sociais; mudança; absorvidos; literatura; mundo. Questão 6. “A menina é engolida pelo lobo, depois de tirar a roupa e se deitar com ele na cama. Ela morre e esse é o final da história”. A qual conto pertence o trecho acima? a. A Polegarzinha - Hans Christian Andersen b. Patinho feio – Hans Christian Andersen c. Rumpelstiltskin – Irmãos Grimm d. Chapeuzinho Vermelho – Charles Perrault Questão 7. “A bruxa foi obrigada a calçar sapatos de ferro em brasa e dançar em torno de si até, finalmente, cair morta”. O trecho acima pertence a qual conto? a. Rumpelstiltskin – Irmãos Grimm b. Branca de Neve – Irmãos Grimm c. Patinho feio – Hans Christian Andersen d. João e Maria – Irmãos Grimm Questão 8. Observe a ilustração abaixo: A figura ilustra uma cena do conto: a. Branca de Neve - Charles Perrault b. O Barba Azul - Charles Perrault c. A Luva Azul - Charles Perrault d. A Chave Mestra - Charles Perrault Questão 9. Observe os cartazes dos filmes a seguir: Em quais contos, respectivamente, os filmes se inspiram? a. A Rainha da Neve e Rapunzel b. A Rainha da Neve e Branca de Neve e os Sete Anões c. Floco de Neve e Cinderela d. Branca de Neve e os Sete Anões e A Bela e a Fera Questão 10. Observe a ilustração abaixo: A imagem ilustra uma cena do conto: a. A Princesa e a Ervilha - Hans Christian Andersen b. A Polegarzinha - Hans Christian Andersen c. A Senhora Holle–Irmãos Grimm d. A Pequena Vendedora de Fósforos - Hans Christian Andersen MÓDULO 4 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS Antes de contar: contar ou ler? • Após a escolha da história, o passo seguinte é você decidir se irá ler ou contar com suas próprias palavras. • Leve em consideração aquilo que o deixará mais confortável e confiante. • Se não estiver seguro do texto, é melhor estudá-lo mais antes de ser contado com suas palavras ou ser simplesmente lido. O que contar? • Para orientar a escolha das histórias é importante saber os assuntos preferidos relacionados à faixa etária: • Até 3 anos: histórias de bichinhos, de brinquedos, de animais com características humanas, histórias cujos personagens são crianças. • Entre 3 e 6 anos: histórias com bastante fantasia, histórias com fatos inesperados e repetitivos, histórias cujos personagens são crianças ou animais. • 7 anos: aventuras no ambiente conhecido (a escola, o bairro, a família), histórias de fadas, fábulas. • 8 anos: histórias que utilizam a fantasia de forma mais elaborada, histórias vinculadas à realidade. • 9 anos: aventuras em ambientes longínquos (selva, Oriente, fundo do mar,outros planetas), histórias de fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas, aventuras, narrativas de viagens, explorações, invenções. • 10 a 12 anos: narrativas de viagens, explorações, invenções, mitos e lendas. ATENÇÃO! Essa orientação não é uma regra, pois direcionar corretamente as histórias depende mais da proposta do contador e da maturidade individual de cada criança, ou do grupo de crianças, do que propriamente da história em si. Onde e quando contar? • A criança não vai querer ouvir histórias em um ambiente com muito barulho, nem terá vontade se estiver com sono ou fome. Ela também poderá não querer se estiver ansiosa por algo que irá acontecer, como uma viagem, o início das aulas. • Ao local também é preciso ficar atento. Não deve ser um lugar onde as pessoas não param de passar, com a televisão ligada, em ambiente quente, ou onde todos fiquem mal acomodados. O espaço deve ser tranquilo e confortável. Portanto, procure lugares tranquilos, confortáveis, aconchegantes e com boa acústica. O contador de histórias: seu rosto, seu corpo, sua voz – Seu corpo fala? O corpo e a voz são as ferramentas mais importantes para se contar uma boa história, não é mesmo? Quando utilizados de forma atrativa e cativante, eles auxiliam o público a mergulhar na fantasia e se interessar pela história narrada. Confira algumas dicas que selecionamos sobre como adequar a voz e as expressões corporais e faciais em contações de histórias. A VOZ E O CORPO DO CONTADOR DE HISTÓRIAS o VOZ • Volume: atentar-se ao volume e adequar a voz de acordo com o tamanho da plateia, para que todos escutem o narrador sem dificuldades, é imprescindível para uma boa contação de histórias. • Tonalidade: a entonação da voz deve ser modificada conforme o sentimento que se deseja passar. Exemplo: uma voz grave pode incitar a sensação de suspense ou medo. Além disso, uma voz monótona poderá desinteressar os ouvintes. Portanto, faça pausas, mude a entonação da voz, o volume, para que o público não se distraia. • Dicção: é importante manter uma boa dicção e pronunciar todas as palavras de forma audível. • Diferentes vozes: muitos contadores de histórias recomendam criar uma voz para cada personagem da narrativa, pois essa estratégia auxiliará o público a identificar as personagens e compreender a história mais facilmente. • Adequação: adeque a sua voz de acordo com a faixa etária dos seus ouvintes. Lembre-se que crianças pequenas podem se assustar facilmente, e produzir uma voz muito expressiva pode não lhe ser agradável. o EXPRESSÕES FACIAIS E CORPORAIS • Importância: as expressões faciais e corporais são fundamentais, pois podem acentuar a própria troca ou determinadas características das personagens. • Adaptação: adapte o seu corpo e rosto segundo as personagens da história e com a narrativa. Exemplo: se a história narrada for sobre gigantes malvados, você pode franzir a testa e expressar, com o seu corpo, erguendo os pés, o quão grande é aquele monstruoso gigante. • Estimular sentidos: utilize do seu corpo e faze como ferramentas para estimular os sentidos dos seus ouvintes. Exemplo: se você estiver narrando uma história que se passa na gélida Antártica, você pode sinalizar o frio tremendo o corpo e o queixo. • Objeto cênico: caso você deseje utilizar um objeto cênico para representar uma personagem, não esqueça de olhar para ele quando reproduzir a sua fala. Recursos alternativos para contação de histórias: Há pessoas que conseguem cativar o público apenas com sua presença e espontaneidade. Elas contam uma história naturalmente, sem utilizar nenhum objeto cenográfico. Talvez você seja assim. Talvez seja uma pessoa mais tímida. Em todos os casos, variar os recursos na contação de história sempre pode deixar a narrativa mais interessante. Encanto especial para crianças surdas: Você já teve um(a) colega ou um(a) aluno(a) surdo(a)? Se sim, você consegue imaginar uma contação de histórias adaptada a ele(a)? Mesmo que você tenha hesitado na resposta, os surdos estão cada vez mais integrados à escola regular, e incluí-los no processo de aprendizagem é um dever do professor. Surdez e contação de histórias: Todos somos diferentes e temos nossas particularidades, certo? Em umasala de aula, também é assim. Quando um aluno apresenta um diagnóstico específico, conseguimos identificar e fazer algumas adaptações, mas que nem sempre funcionam de igual maneira para todos; assim sempre é necessário conhecermos o aluno ao qual iremos ministrar nossas aulas. Diante do diagnóstico da Surdez, existem estratégias gerais para serem seguidas pelo professor: Aposte no visual: O material utilizado deve ser o mais visual possível e com imagens. Além de facilitar a memorização e a compreensão do surdo, esse recurso beneficiará todos os alunos, promovendo o interesse e favorecendo a memória fotográfica. Selecione vídeos com janela de tradução: A primeira língua do surdo é a LIBRAS, por isso nem todos os surdos têm a compreensão do português. Vídeos, mesmo que com legenda, podem não ser compreendidos; o ideal é possuírem uma interpretação com janela. Fique atento a seu corpo: A contação de histórias precisa ser expressiva, com o olhar direcionado aos alunos, pois, caso haja alguma comunicação de perfil ou mesmo de costas, o aluno não compreenderá. Assim, evite comunicações desta maneira e se coloque sempre de frente. Mesmo que você não saiba a LIBRAS, é possível contar histórias, pois, na contação, são utilizados frequentemente os classificadores, ou seja, sinais que possam expressar alguma semelhança com a forma ou o tamanho do referente. Ex: Para falar da boca grande do leão em uma história, você pode abrir bem sua boca e ampliar com a mão, fazendo movimento para simular o rugido. Conheça a cultura surda: Sim, os surdos possuem uma cultura própria, que merece ser divulgada e valorizada. Conhecer a cultura surda facilita o trabalho a ser feito com os alunos. Os surdos também se identificam de diferentes maneiras entre eles, e muitos não se aceitam como surdos. A valorização dos saberes da comunidade dos surdos é um trabalho a ser construído diariamente com multiprofissionais. Uma boa alternativa são cursos EaD que trazem a acessibilidade, possibilitando que sejam cursados por alunos que já saibam LIBRAS, por profissionais surdos ou por professores que queiram se aprofundar se tiverem alunos surdos. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO – 4 Questão 1. Marque o recurso de contação de histórias que corresponde à seguinte descrição: Pode ser fabricado com uma caixa de papelão, onde se dispõe um rolo que, ao ser girado, apresenta a ilustração de diferentes cenas da história que é contada. a. gravuras b. fantoches c. teatro de sombras d. cineminha Questão 2 - Objeto cênico. Imagine que você escolheu o livro “O domador de monstros”, de Ana Maria Machado. Nele, um menino chamado Jorge sente medo, pois as sombras que as árvores projetam na parede de seu quarto parecem um monstro. Para apresentar essa história, seria adequado um . Nesse caso, seria essencial providenciar um ambiente e uma fonte de . Questão 3 - Emprego da voz. Você vai contar a história de "Lúcia já-vou-indo", de Maria Heloísa Penteado. Nela, a personagem principal é Lúcia, uma lesma que sempre chega atrasada a todas as festas. Quando ela recebe um convite para a festa de Chispa-Foguinho, ela promete: "Juro que vou chegar na hora". Para reproduzir a voz da lesma, você deveria . Questão 4 - Objeto cênico alternativo. Para divertir a plateia, você escolheu o livro “E o dente ainda doía”, de Ana Terra. Na história, um jacaré está com uma tremenda dor de dente. Para ajudá-lo, diferentes animais dão conselhos: coelhos, corujas, tatus, patos, ratos, toupeiras, sapos, esquilos, passarinhos. Para representar esses animais, você pode utilizar somente objetos alternativos, utilizados dentro de sua casa. Usando sua criatividade, é possível imaginar que um grampo de roupa abre como a boca ; uma rolha perfura como ; um pincel de maquiagem é suave como e assim por diante. Questão 5. Marque a alternativa INCORRETA a respeito da contação de histórias. a. O sucesso da contação de histórias inicia no planejamento da ação, no qual o contador decidirá ler ou contar a história, optará pela utilização ou não de recursos e pensará na organização do espaço da contação. b. É essencial pensar em uma forma de demarcar o início e o final da contação da história, o que pode ser feito por meio de um sinal sonoro, de uma frase de efeito ou de um objeto, como um baú de histórias, por exemplo. c. O contador de histórias deve sempre observar seu público. O uso da voz é um recurso importante, mas deve ser cauteloso para não causar sustos em crianças muito pequenas ou mais sensíveis, como as autistas. d. A contação de histórias requer a memorização do livro, por isso, é necessário que o contador faça repetidas leituras até conseguir reproduzir todas as passagens da narrativa, tal qual foram escritas.
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