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DIREITO CIVIL: COISAS
O Direito das Coisas é a parte do Direito Civil que regula os poderes da pessoa sobre bens materiais – móveis e imóveis – e imateriais. Tais poderes envolvem a submissão do objeto e a capacidade de produzir efeitos jurídicos. Exemplificando com o direito de propriedade, o Direito das Coisas confere ao titular do direito subjetivo a possibilidade de uso, gozo e disposição do bem, com exclusão de outrem e nos limites da lei. Para Massimo Bianca, poder jurídico é a “capacidade do sujeito de produzir determinados efeitos jurídicos”. Na realidade o poder jurídico não se restringe à produção de resultados jurídicos, como o de alienação da coisa, mas também o de uso e gozo, além do exercício da pretensão, que é a possibilidade de exigir de terceiros, judicialmente, a tutela de um direito. O possuidor, vítima de esbulho, pode não apenas requerer judicialmente a eficácia de seus direitos, como reagir incontinenti, manu militari, a fim de impedir a consumação do ato. O Direito das Coisas dispõe basicamente sobre os chamados direitos reais, entre os quais destaca-se o direito de propriedade.
As coisas constituem bem jurídico, desde que suscetíveis de apropriação, o que significa controle, dominação, e apresentem conteúdo econômico. Este pressupõe existência limitada, o que não ocorre, por exemplo, com a luz do sol, as águas do oceano, o ar atmosférico. Enquanto os bens podem ser corpóreos ou incorpóreos, as coisas se compõem apenas de matéria.
· TEORIA CLÁSSICA
Adotada pelo nosso CC 2002. Distinção entre direito reais e direito pessoais. Os direitos reais possuem normas cogentes; tem ligação direta com a coisa; é mediata; sempre incide sobre uma coisa determinada; garante a permanência. Já as normas de direito pessoas vigora o princípio da liberdade das partes; depende da ação de outra pessoa para se concretizar; é imediato; podem incidir sobre algo determinável.
Para os adeptos desta concepção, no direito real existe uma relação direta e imediata entre o sujeito e o objeto do direito. Compete às leis estabelecer o elenco das faculdades de que o sujeito se acha investido em relação às coisas. As atitudes, por exemplo, que o usufrutuário de um imóvel pode ter são dimensionadas pelo ordenamento jurídico. De acordo com a teoria, inexiste um vínculo que ligue o titular a outra pessoa.
Em sua definição, Baudry-Lacantinerie bem sintetizou a orientação da teoria clássica: “O direito real é o que temos direta e imediatamente sobre uma coisa... A coisa se encontra submissa diretamente à ação e à vontade de uma pessoa.” 
· TEORIA PERSONALISTA
Para os seus defensores, o direito real apresenta uma relação jurídica entre o seu titular e a coletividade, portadora do dever jurídico. Se o direito real é de propriedade, no polo passivo da relação e com deveres omissivos estariam todas as pessoas, indeterminadamente. Não haveria, destarte, uma relação jurídica entre o titular do direito e a coisa. Esta seria apenas o objeto sobre o qual o titular exerceria o seu poder.
A teoria personalista coloca em destaque o lado externo do direito real, que é a relação do sujeito ativo com todos aqueles que têm o dever jurídico negativo, isto é, a coletividade. Deixa, todavia, de colocar em destaque o lado interno, que é o poder direto e imediato do sujeito ativo sobre o objeto. Quem teria dado as condições para o surgimento da teoria personalista, na opinião de Pontes de Miranda, seria Savigny, ao excluir, em seus estudos sobre as relações jurídicas, a possibilidade de um vínculo entre pessoa e coisa.
· DIFERENÇA ENTRE DIREITO REAL E DIREITO PESOAL
O direito real representa um complexo de normas regulamentadoras das relações jurídicas correspondentes à coisas que o homem possa possuir, como um apartamento, por exemplo. Vale ressaltar que essas coisas são, de forma ordinária, tangíveis, para que se possa exercer domínio sobre as mesmas. Pode-se dizer que, de forma resumida, que o direito real é aquele que cai sobre as posses.
Enquanto isso, o direito pessoal responde ao Direito das Obrigações numa forma que trata das relações dos sujeitos passivos e ativos. De forma mais simplificada, o direito pessoal atua necessariamente sobre uma pessoa (caso contrário inexistiria uma relação obrigacional), o devedor (ao contrário do direito real, que atua sobre as posses), que faz a prestação monetariamente.
A melhor e mais resumida forma de conceituá-los e diferenciá-los é “falar o que o nome já diz”; que o direito real se refere à relação do homem com o objeto, e o direito pessoal se refere à relação pessoal.
É da característica do direito real que seja limitado, ou seja, não permite a criação de novas figuras contratuais que não correspondam à legislação, e é regulado de forma expressa pela norma jurídica; muito ao contrário do direito pessoal, que não possui limites e permite novas criações das já citadas figuras contratuais não correspondentes à legislação.
Quando se fala sobre o gozo do direito, acerca do direito real, naturalmente ocorre o exercício do direito pelo proprietário do que é seu, por exemplo, cabe ao dono de um carro aproveitar de seu uso. Sob a perspectiva do direito pessoal, o gozo do mesmo necessita de um intermediário (a pessoa obrigada à prestação).
No que se refere à ação a ser tomada por conta dos que se sentirem violados dentro de seu direito de alguma forma, sob a ótica do direito real, ela ocorre somente contra o sujeito passivo, enquanto no direito real, a “vítima”, por assim dizer, tomará as medidas necessárias a quem possuir o bem de forma indistinta.
Quanto ao objeto, o do direito pessoal será sempre uma prestação do devedor, enquanto o direito real se refere, como já foi dito, à propriedade, ao direito sobre um bem alheio.
Sobre os danos que o réu pode ter que arcar, o direito real segue seu objeto em qualquer lugar, característico de sua eficácia absoluta. E, interligando-se com o conceito de direito pessoal, o réu deverá pagar com uma prestação ao requerente, sem qualquer envolvimento de terceiros.
Percebe-se que, com o que foi dito acima, as diferenças entre o direito real e o direito pessoal são soberbas. Contudo, existem situações extraordinárias que demandam um “consenso” entre eles para que se chegue a uma decisão dentro de um processo judicial. E são dessas ocasiões que surgem as obrigações proptem rem, também conhecidas como direitos intermediários.
Conceitua-se como obrigações proptem rem toda e qualquer obrigação que se recaia sobre uma pessoa, por força direito real (permitindo então o abandono do bem), porém tendo características tanto do direito real quanto do pessoal, uma vez que essa pessoa fica sujeita ao pagamento de certa prestação e vincula o titular do bem (podendo então envolver terceiros).
As obrigações proptem rem possuem três características. São elas:
O vínculo a um direito real, ou seja, um determinado objeto que seja de posse do devedor;
A possibilidade de exoneração por parte do devedor pelo abandono do direito real (o abandono da coisa);
O poder de se transmitir a posse por meio de negócios jurídicos. Neste caso, a obrigação recairá sobre o adquirente.
Obrigação propter rem é uma expressão latina que corresponde ao português: própria da coisa.
Os casos mais comuns de obrigações propter rem são relacionadas a bens imóveis, senão vejamos:
I) IPTU - a própria coisa, o imóvel, recebe a obrigação de pagar o imposto, por intermédio de seu proprietário;
II) IPVA - a própria coisa agora é o automóvel; e também
III) Hipoteca - é gravame que incai sobre o bem imóvel, que permanece nele até que qualquer um adimpla a dívida.
Citados alguns parcos exemplos de obrigações propter rem, vale à pena distingui-la de sua pareada dicotômica: a obrigação pessoal.
Quando alguém assina um contrato de prestação de serviço, por exemplo, assume uma obrigação pessoal (ou personalíssima) de fazer algo.
Assim, enquanto a propter rem acompanha a coisa independentemente de quem é seu dono; a obrigação pessoal acompanha a pessoa, por ser ela o objeto da obrigação (contrato).
1. Direitos ObrigacionaisO direito obrigacional ou pessoal consiste num vínculo jurídico pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação.
Constitui uma relação de pessoa a pessoa (direito relativo) e tem, como elementos:
O sujeito ativo.
O sujeito passivo.
E a prestação.
Tutelam as relações em âmbito econômico; ensejam vínculo transitório apenas entre credor e devedor; o sujeito passivo pode ser determinado ou determinável; têm como objeto uma prestação de dar, fazer ou não fazer; são oponíveis apenas em relações pessoais diretas; possuem como fontes, o contrato, a lei, o ato unilateral e o ato ilícito; não conferem a faculdade de abandono; são tutelados pelos mecanismos e corolários de responsabilidade civil; são previstos em rol exparsos e exemplificativos.
2. Direitos Reais
O direito real pode ser definido como o poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa. É a relação jurídica da pessoa na posse, uso e gozo de uma coisa, corpórea ou incorpórea, que é de sua propriedade. O direito real tem como elementos essenciais:
O sujeito ativo.
A coisa.
E a relação ou poder do sujeito ativo sobre a coisa, chamado domínio.
Regem as coisas suscetíveis de apreensão pelos homens; ensejam vínculo perpétuo, decorrente dos modos de aquisição da propriedade; o sujeito passivo é a generalidade anônima dos sujeitos (indeterminado); têm como objeto coisa corpórea; são oponíveis erga omnes (contra todos); possuem como fontes os diversos modos de aquisição da propriedade; conferem faculdade de abandono (sujeito que não pode arcar com ônus de manutenção do bem); tutelados pelos interditos proibitórios; são previstos em rol taxativo no Código Civil, abaixo in verbis:
Art. 1.225 do CC - São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese;
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII - a concessão de direito real de uso;
XIII - os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão.
3. Principais Distinções
Direitos Reais – “ius in re”, é o direito do titular sobre a coisa, sendo ele imediato, exclusivo e contra todos.
Direitos Obrigacionais –“jus ad rem”, pode ser exercido contra pessoas. Segundo Carlos Roberto Gonçalves direito obrigacional:
“consiste num vínculo jurídico pelo qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação” [1].
3.1. Quanto ao Objeto
Direitos Reais - Ao passo que estes incidem sobre uma coisa, via de regra é corpóreo, a exceção de propriedade intelectual.
Direitos Obrigacionais - Exigem o cumprimento de determinada prestação, em regra é incorpóreo.
3.2. Quanto ao Sujeito
Direitos Reais - É indeterminado. No direito real o devedor é indeterminado, figura que surgirá determinadamente quando alguém violar a obrigação de abster-se frente aos direitos reais do titular da coisa (sujeito atributivo – um só sujeito).
Direitos Obrigacionais - O sujeito passivo é determinado ou determinável (sujeito cooperativo – mínimo de dois sujeitos).
3.3. Quanto à Duração
Direitos Reais – São perpétuos/permanente, não se extinguindo pelo não uso, mas somente nos casos expressos em lei, exemplos: desapropriação, usucapião em favor de terceiro, etc.
Direitos Obrigacionais - São transitórios/temporários e se extinguem pelo cumprimento ou por outros meios (ação judicial, etc.)
3.4. Quanto à Formação
Direitos Reais – Só podem ser criados pela lei, sendo seu número limitado e regulado por esta (numerus clausus - TAXATIVO).
Direitos Obrigacionais - Resultam da vontade das partes, sendo ilimitado o número de contratos inominados (numerus apertus - EXEMPLIFICATIVO).
3.5. Quanto ao Exercício
Direitos Reais – São exercidos diretamente sobre a coisa, sem necessidade da existência de um sujeito passivo (IMEDIATO – não depende de um intermediário).
Direitos Obrigacionais - Exigem uma figura intermediária, que é o devedor (MEDIATO – depende da prestação de um intermediário).
3.6. Quanto à Ação
Direitos Reais – Pode ser exercida contra quem quer que detenha a coisa (ERGA OMNES / ABSOLUTO – oponível contra todos, inclusive com direito de sequela).
Direitos Obrigacionais - É dirigida somente contra quem figura na relação jurídica como sujeito passivo (INTER PARTES” / RELATIVO – ação pessoal afeta somente as partes pactuantes do contrato).
3.7. Quanto as Garantias
Direitos Reais – Recai sobre as coisas.
Direitos Obrigacionais – Recai sobre o patrimônio do devedor.
3.8. Quanto à Violação
Direitos Reais – É violado via AÇÃO. Exemplo: invadir propriedade alheia.
Direitos Obrigacionais – É violada por uma OMISSÃO. Exemplo: o não pagamento.
· CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS 
a) Aderência – uma vez vinculada, acompanha a coisa, independentemente de quem tem a posse de fato. Confere à coisa uma obrigação ambulatória.
b) Absolutismo – oponibilidade erga omnis: faculdade de se opor a quem intervir ou lhe causar dano; e direito de sequela: significa que o bem está marcado; é o direito que tem de perseguir a coisa/direito em seus últimos limites. Usar, gozar, fruir, abdicar da coisa na sua totalidade, porém respeitando os direitos dos outros.
c) Publicidade – confere estabilidade e visibilidade e ao se tornar público protege a todos.
d) Taxatividade – os direitos reais já estão postos pelo legislador, e as partes não podem criar novos direitos reais. Art. 1225, CC.
e) Desmembramento/Elasticidade/Desdobramento – usar, gozar, fruir de forma elástica.
f) Perpetuidade – o tempo não enfraquece o vínculo do proprietário com sua coisa, ele é sempre permanente. O não uso importa na extinção do bem (ex. desapropriação do bem não usado, usucapião, usufruto).
g) Exclusividade – não pode existir dois direitos reais idênticos sobre a mesma coisa, de modo a se excluir um deles.
h) Preferência – primazia que tem o credor ou titular do direito sobre outras pessoas. Estão presentes nos Direitos de Garantias como: no penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária. (Art. 1475, CC).
· CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS 
Em razão de sua diversidade tipológica, os direitos reais são classificados, doutrinariamente, segundo critérios não uniformes e que se justificam na medida em que favorecem a compreensão da categoria jurídica e sua aplicabilidade
Quanto à amplitude de poderes concentrados, o direito real pode ser pleno ou limitado. A primeira classe é integrada pela propriedade, cujo direito confere ao seu titular o poder de usar, gozar e dispor da coisa, com exclusão de outrem e nos limites da lei.
Afora este, os direitos reais são limitados, pois não outorgam aos seus respectivos titulares a extensa gama de poderes que se irradiam do direito de propriedade.
À luz do Direito pátrio, consoante o art. 1.225 do Códex, são direitos reais limitados: a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel,44 o penhor, a hipoteca e a anticrese.
Considerando-se a titularidade do objeto, o direito pode recair sobre a coisa própria ou alheia.
No primeiro caso, temos o direito de propriedade e, nos direitos reais sobre a coisa alheia, os direitos de fruição e os direitos de garantia. Os de fruição habilitam o seu titular a tirar proveito direto e imediato do objeto, beneficiando-se de sua utilidade funcional ou serventia. São eles: a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação. Os direitos reais de garantia, que incidem naturalmente sobre a coisa alheia, são: o penhor, a hipoteca, a anticrese. Existem apenas onde houver dívida e visam a garantir o credor.
Sob o ângulo da autonomia, o direito real pode ser principal ou acessório. O primeiro existe por si, como o direito de propriedade, o usufruto, enquanto o segundo necessariamentese atrela a uma relação obrigacional. Constitui, no dizer de Arnoldo Medeiros da Fonseca, uma “afetação de um bem determinado à segurança do credor”. Direitos reais acessórios são, portanto, os direitos reais de garantia: penhor, hipoteca, anticrese.
DA POSSE 
· CONCEITO DE POSSE NO CÓDIGO CIVIL 
O Direito Civil brasileiro, pela codificação de 1916, foi o primeiro ordenamento a consagrar a teoria da posse formulada por Ihering. O Código Civil de 2002 adotou igual orientação, ex vi do art. 1.196: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.” Embora a referência direta seja ao possuidor, do ponto de vista lógico o artigo define posse e, por extensão, possuidor, pois, em termos práticos, infere-se: possuidor é quem detém a posse esta se substancializa no exercício de algum dos poderes conferidos pelos direitos reais. E quais são esses poderes? São os de uso, gozo, disposição e de reaver a coisa de quem injustamente a possua. E o exercício desses poderes não fica adstrito à figura do proprietário, mas de todo aquele que, em razão de um fato jurídico, encontra-se no uso ou gozo da coisa. A posse, perante o nosso direito, prescinde, pois, do animus domini. 
Em comentários ao artigo sub examine, Joel Dias Figueira Jr., com oportunidade, observa que a posse não é propriamente o exercício do poder, mas sim o poder que o sujeito detém sobre a coisa e que se caracteriza tanto pelo exercício quanto pela possibilidade de exercício.55 A lição encontra-se, também, em Pontes de Miranda: “Rigorosamente, a posse é o estado de fato de quem se acha na possibilidade de exercer poder como o que exerceria quem fosse proprietário ou tivesse, sem ser proprietário, poder que sói ser incluso no direito de propriedade (usus, fructus, abusus).”
· Jus possessionis e jus possidendi.
Jus possessionis é o direito DE posse, ou seja, é o poder sobre a coisa e, a possibilidade de sua defesa por intermédio dos interditos (interdito proibitório, de manutenção da posse ou de reintegração de posse). Trata-se de conceito que se relaciona diretamente com a posse direta e indireta. Ao possuidor direto é conferido o direito DE posse.
Já o jus possidendi é o direito à posse, decorrente do direito de propriedade, ou seja, é o próprio domínio. Em outras palavras, é o direito conferido ao titular de possuir o que é seu.
· TEORIA SUBJETIVA DE SAVIGNY E TEORIA OBJETIVA DE IHERING
A Teoria Subjetiva de Savigny, acredita que a posse é a união de dois elementos: o corpus, que seria a possibilidade de disposição da coisa, e o animus, que resulta da vontade e a intenção do possuidor de ter a coisa como sua.
Assim, numa situação fática, se uma pessoa exerce sobre a coisa o poder de dispor da forma que bem entender, e ainda, age como com a vontade de ser dono, está-se diante da posse.
Já a outra teoria, de Ihering, não acredita no elemento subjetivo animus para que a posse seja configurada.
Justifica o autor da teoria que o animus, por ser um elemento subjetivo, é de difícil comprovação, e assim, somente seria necessário o elemento objetivo, o corpus, pois o possuidor agiria da mesma forma que o proprietário.
 
 No Código Civil de 2002, para a configuração da posse adotou-se essa teoria, embora em alguns casos, a lei aborde a questão do elemento animus. Assim, possuidor é aquele que age como se fosse proprietário
· DETENÇÃO 
Os conceitos jurídicos de posse e detenção não se confundem. Em sentido próprio, todavia, detenção consiste na disponibilidade de fato da coisa “em nome de outrem”. Como procedera em relação à posse, quando optou por definir possuidor, o Código Civil, pelo art. 1.198, identificou a figura do detentor e, indiretamente, conceituou detenção.
Há dois elementos básicos, distintivos e caracterizadores da detenção:
 a) a existência de um vínculo de subordinação entre o detentor e o titular da posse;
 b) em nome do titular da posse e sob as suas instruções, o detentor conserva a coisa em seu poder. À vista da teoria de Savigny, a detenção não constituiria posse por lhe faltar o animus domini. Como a detenção é sempre temporária, cabe ao detentor a devolução da coisa ao seu possuidor. Entre ambos há uma relação jurídica, geralmente constituída por contrato, como o de trabalho.
Detenção e posse são conceitos que se distinguem. Quem é detentor não se encontra na posse, apenas conserva a coisa em seu poder e em nome de outrem, do possuidor, daí não gozar de proteção possessória, nem vir a obter a aquisição do domínio mediante a usucapião. Como Arruda Alvim analisa, o detentor é passível de figurar como réu em ação reivindicatória, à vista da redação do art. 1.228, caput, do Código Civil, que prevê o poder de o proprietário reaver a coisa “do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
Aquele que conserva a coisa em razão do vínculo de trabalho é mero detentor. Em suas atividades de entrega, tão comuns na atualidade, os motobóis são meros detentores das coisas que lhe são confiadas. Embora não atendam às condições do art. 1.198 do Código Civil, há situações que se incluem, por força de lei, na categoria de detenção. Nesta não ocorre o desmembramento da posse, uma vez que esta é de quem entrega a coisa ao detentor.
· CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
· POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA
Dado que a posse se caracteriza com a possibilidade de exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade – uso, gozo, disponibilidade –, estes podem se concentrar na esfera patrimonial de uma pessoa ou se dispersar em mais de uma titularidade, quando então todas as pessoas estarão na posse, mas com poderes diversos e, naturalmente, limitados. A primeira hipótese é a do proprietário que detém a coisa, preservando os poderes de uso, gozo e disponibilidade. A segunda ocorre quando o proprietário mantém o direito à substância da coisa, enquanto outrem dispõe do poder de uso ou gozo, como o locatário ou usufrutuário.
A propriedade é um direito real que atribui variados poderes ao seu titular. Este poderá transferi-los separadamente ou em conjunto para outrem. Quando alcança a totalidade, transfere-se em realidade o próprio direito de propriedade. Isto ocorre, por exemplo, pelo contrato de compra e venda, quando todos os poderes passam a outrem. Se apenas o uso ou o gozo é transferido, a posse se desmembra: o proprietário detém a posse indireta, e o usuário, a direta.
No usufruto, posse direta é a exercida pelo usufrutuário, que tem o direito de uso e gozo da coisa, enquanto a indireta é a do nu-proprietário, que é dono, mas sem os poderes de utilização. Quando todos os poderes se reúnem na pessoa do proprietário, a posse se apresenta sem qualquer adjetivação, embora alguns prefiram denominá-la posse absoluta ou plena.
A posse direta, pertencente a quem tem a coisa em seu poder, pode emanar de um direito real ou pessoal. Como exemplo do primeiro caso, temos a posse pignoratícia: o credor detém a coisa dada em garantia (posse direta), enquanto o devedor mantém o direito à substância da coisa (posse indireta). Na exemplificação do segundo, podemos nos valer do contrato de comodato: fisicamente a coisa fica com o comodatário (posse direta), enquanto o comodante conserva o direito real de propriedade. Constituem posse direta, também, a do arrendatário, testamenteiro, depositário, entre outros.
Conforme a titularidade do direito correspondente, o possuidor direto pode transferir a sua posse para terceiro, assumindo a condição de possuidor indireto, ao lado de quem lhe transmitiu a posse. Tal fato se dá, por exemplo, quando o usufrutuário entrega a coisa em locação. In casu, o nu-proprietário e o usufrutuário ficam na condição de possuidores indiretos ou mediatos e o locatário, na de possuidor direto. Todos poderão, na forma da lei, se valer da proteção possessória. Quando o locatário, na forma da lei, subloca ou quando o usufrutuário aluga a coisa, deixam a condição de possuidores diretos e assumem a de possuidores indiretos
· POSSE EXCLUVISA E COMPOSSE
Posse exclusiva é a não partilhada.O titular, pessoa física ou jurídica, exerce determinado tipo de poder, isoladamente, sem comunhão com outrem, sobre uma determinada coisa. Caracteriza-se pelo fato de que apenas uma pessoa dispõe de determinada posse, que poderá ser plena, direta ou indireta. Sobre uma coisa pode incidir mais de uma posse exclusiva, mas cada qual recaindo sobre poder diferente.
Se o usufruto possui apenas um titular, a posse correspondente será exclusiva. Posse exclusiva não se confunde com a absoluta ou plena. Esta diz respeito ao conteúdo amplo da posse. Seu titular detém a gama de poderes inerentes à propriedade. Se “A” adquire um imóvel não gravado, podendo exercer todos os poderes inerentes ao domínio, será detentor de uma posse plena. Pelo fato de não partilhar com qualquer pessoa os poderes a sua posse será também exclusiva. Se “A” adquire a nua-propriedade de um apartamento, assumirá a posse exclusiva, que não será absoluta ou plena, porque não reunirá todos os poderes inerentes ao domínio.
Composse é a própria posse, direta ou indireta, quando partilhada por duas ou mais pessoas. Pode surgir no mundo das relações jurídicas por ato inter vivos ou mortis causa.
A primeira modalidade pode caracterizar-se pelo casamento sob regime de comunhão universal de bens, concubinato quanto aos bens adquiridos na constância da sociedade conjugal, e a segunda, pela herança, enquanto não houver a partilha.
“nenhum dos compossuidores possui a coisa por inteiro, mas cada um possui uma parte abstrata, e não pode dispor senão dessa parte”. Na síntese de Massimo Bianca, composse “é a posse exercida conjuntamente por mais de um sujeito, a igual título e sobre o mesmo bem”. Ou seja, a composse pressupõe: a) posse por mais de uma pessoa; b) iguais poderes; c) o mesmo bem. O compossuidor pode utilizar- se da coisa desde que não impeça, aos demais consortes, o exercício da posse partilhada.
O art. 1.199 da Lei Civil dispõe sobre a composse de coisa indivisível, a qual não é suscetível de fracionamento, seja pela natureza da coisa, por determinação legal ou por convenção. Nestas condições, o dispositivo sub examine autoriza a cada um dos consortes o exercício de atos possessórios, respeitando-se igual direito aos demais. Tal regra leva à conclusão a que chegou Clóvis Beviláqua: um compossuidor pode valer-se de interdito possessório em face de outro, que o impeça de exercitar os seus direitos. Há quem vislumbre duas modalidades de composse: a pro diviso e a pro indiviso. Na primeira, a coisa em si é divisível e os composseiros exercem poderes sobre partes distintas, enquanto na composse pro indiviso o objeto é infracionável fisicamente, não comportando igual arranjo, pelo que os composseiros exercem seus poderes, cada qual, sobre a totalidade da coisa.
· POSSE JUSTA E INJUSTA
Justo é o que se afeiçoa à ordem natural das coisas; consiste em dar a cada um o que lhe é devido. De outro lado, os termos são gerais e aplicáveis sempre que houver desequilíbrio entre os participantes de uma relação jurídica. Vista a matéria, todavia, do ponto de vista legal, diz-se que a posse é injusta quando adquirida mediante violência, clandestinidade, ou de forma precária .
Tal espécie não se confunde com a posse de má-fé. A contrario sensu, a posse é justa quando não se constitui por qualquer desses vícios, quando não repugna à lei. É a dicção do art. 1.200 do Código Civil. A violência prevista é tanto a física quanto a moral ou psicológica.
Dá-se a posse mediante violência física, quando o adquirente emprega a força bruta, afastando o possuidor ou alguém que o represente, ou destruindo obstáculos materiais, a fim de alcançar o seu objetivo. A posse pela violência psicológica se caracteriza quando obtida após grave ameaça ao possuidor. A violência somente qualifica a posse como injusta ao se efetivar no momento de aquisição, apresentando-se como irrelevante quando se manifesta posteriormente.
Posse clandestina é a que se obtém sem o conhecimento do possuidor e sorrateiramente, às escondidas. Não se caracteriza apenas pelo desconhecimento do possuidor, mas ainda pelo fato de se estabelecer de modo sub-reptício. Pressupõe, assim, a conjugação de ambos elementos. A clandestinidade, conforme Tito Fulgêncio, é o oposto à publicidade.
Precária é a posse que se adquire com a recusa de restituição da coisa, quando esta é entregue para posterior devolução. O novo possuidor frustra a confiança que lhe foi depositada pelo possuidor, deixando de lhe entregar a coisa, quando solicitada ou no tempo predeterminado. A posse do comodatário recalcitrante se caracteriza como precária. Igualmente, a do depositário, locatário, usufrutuário. Observe-se que, enquanto na posse por violência e clandestinidade o vício se patenteia no momento da aquisição, na precariedade a posse se revela injusta a posteriori.
A posse violenta ou clandestina, cessada a violência ou clandestinidade, se convalesce (art. 1.208, CC), deixando assim a condição de injusta, passando à categoria de posse justa. Tal conversão não se opera com a posse precária, que permanece sempre com o vício. O tratamento dado pelo legislador à posse precária, segundo Sílvio Rodrigues, se dá “em razão de ela implicar a quebra da confiança, na falta à fé do contrato”. 
· POSSE DE BOA FÉ E DE MÁ FÉ 
À luz do art. 1.201 do Código Civil, tem-se a posse de má-fé quando o possuidor conhece a existência de vício ou obstáculo impeditivo à aquisição da coisa. A caracterização da modalidade pressupõe, destarte, dois elementos: um objetivo e outro subjetivo. O primeiro se compõe de vício (violência, clandestinidade, precariedade) ou impedimento à aquisição (permissão ou tolerância), enquanto o segundo se apresenta quando o possuidor ignora o vício ou o obstáculo.
A contrario sensu, a posse de boa-fé é a que não reúne pelo menos um dos elementos apontados. Na síntese de Lafayette R. Pereira, “possuidor de boa-fé é aquele que está na convicção de que a coisa por ele possuída de direito lhe pertence. Ao contrário, de má-fé se diz o possuidor que sabe não lhe assistir direito para possuir a coisa”.
A posse de boa-fé nem sempre configura posse justa, como a de má-fé pode não se caracterizar como injusta. A posse de quem adquire uma coisa, ignorando que o transmitente a assumira mediante violência, se qualifica como de boa-fé e injusta. Tais distinções são de grande alcance prático, pois a lei atribui efeitos jurídicos diversos às várias classes de posse.
Doutrinariamente, discutem os autores se o erro de direito justifica a ignorância da existência do vício ou impedimento à aquisição da coisa ou do direito. Pertinente ao mérito da indagação, recorde-se a disposição do art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (Ignorantia legis neminem excusat; nemo ius ignorare censetur). Em primeiro lugar, quem participa do tráfico jurídico tem o dever social de conhecer a lei; em segundo lugar, a disposição é relevante do ponto de vista da segurança jurídica, pois a ordem jurídica deve a todos vincular. Acresce, ainda, que a ignorância da lei é algo subjetivo, difícil de se apurar. Por esse conjunto de motivos é imperioso que o possuidor não possa alegar em seu favor o desconhecimento ou a errada compreensão da lei. Para Alberto Trabucchi, a boa-fé não é apenas um elemento psicológico, ou seja, não basta a ignorância de se prejudicar direito alheio. Para o jurista italiano, não é sempre que a ignorância pode beneficiar o possuidor, pois a proteção à boa-fé requer a “desculpabilidade do erro invocado”, que é o seu fundamento ético.
O parágrafo único, do citado art. 1.201, estabelece uma presunção de boa-fé a favor do possuidor que ostenta justo título. É a hipótese, por exemplo, de quem assumiu a posse mediante escritura pública de compra e venda de imóvel, devidamente registrada. Mas a noção de justo título não se infere apenas de peças documentais, mas da causa possessionis, ou seja, de um fato gerador do direito. A presunção em foco é relativa (juris tantum),vencível, portanto, por prova em contrário. Também não prevalece a presunção, quando a própria lei, para o caso concreto, a rejeite como elemento probatório.
A posse de boa-fé é passível de conversão em má-fé, desde que se patenteie que o adquirente não ignorava o vício ou o impedimento. É a dicção do art. 1.202. A posse somente perde o caráter de boa-fé a partir do momento em que ocorre aquela constatação. Observe-se que a nova adjetivação da posse – má-fé –não ocorre quando o possuidor toma conhecimento do vício ou impedimento, mas do momento em que os fatos evidenciem aquele conhecimento. O contrário seria impraticável, pois impossível a constatação do instante em que se forma o elemento subjetivo. A doutrina apresenta um elenco de situações em que se opera a conversão em posse de má-fé, como nas hipóteses a seguir: 
a) a confissão, pelo possuidor, de que a sua posse sempre careceu de título. Como toda confissão, esta pode ser ilidida por elementos probatórios, como a prova documental; 
b) nulidade manifesta do título;
 c) dos termos do próprio título, infere-se o conhecimento anterior do vício ou impedimento pelo possuidor. Alguns autores tomam como referência temporal: a propositura da ação; a citação inicial; a contestação
· Em geral a posse injusta é de má-fé e a posse justa é de boa-fé, porém admite-se posse injusta de boa-fé (ex: comprar coisa do ladrão, art. 1203 do Código Civil; é injusta porque nasceu da violência, mas o comprador não sabia que era roubada), e posse justa de má-fé (ex: o tutor comprar bem do órfão, o Juiz comprar o bem que ele mandou penhorar, mesmo pagando o preço correto, é vedado pelo art. 497 do Código Civil. A posse é justa porque foi pago o preço correto, mas é de má-fé porque tem vício, porque viola a ética, a moral, e a própria lei.
Cabe por fim registrar, que a posse de boa fé se transforma em posse de má fé ao tomar o possuidor conhecimento do vício que invalida sua posse, tendo a parte adversa o ônus de demonstrar as circunstâncias externas capazes de provar tal questionamento.
· PRINCÍPIO DE PERMANÊNCIA DO CARÁTER DA POSSE
Até prova em contrário, o caráter da posse permanece igual ao de sua origem. É a dicção do art. 1.203 do Código Civil.
A qualidade da posse se mantém, portanto, inalterável em princípio. Se caracterizada como posse injusta ou de má-fé, assim permanecerá, até que surja fato novo e se prove o contrário. A vedação legal não alcança alterações decorrentes de convenção. Há possibilidade teórica de o caráter da posse modificar-se, como se daria no caso de o esbulhador vir a adquirir, junto a quem perdeu a posse, a propriedade da coisa.
A presunção de permanência do caráter da posse engloba tanto a sua qualidade, pertinente à eventual presença de vícios, quanto ao título de sua aquisição: compra, comodato, ocupação, locação, entre outros. O título da posse também pode alterar-se. Quem possuía a coisa, por exemplo, na condição de comodatário, poderá vir a tê-la como locatário, ocorrendo, destarte, a mudança do título da posse, ou seja, a interversão.
· OUTRAS CLASSIFICAÇÕES 
Além das classes consideradas, a doutrina registra outras, como a trazida por Lafayette R. Pereira: posse natural e posse civil, entendendo-se pela primeira a que se efetiva pelo contato físico e, pela segunda, a que surge por força de lei ou em conformidade com a lei, independentemente do contato com a coisa.
Quanto ao surgimento, a posse pode ser originária ou derivada. A primeira nasce com o titular, não padecendo assim de qualquer vício anterior. A posse proveniente de usucapião é desta natureza. Derivada, como o próprio nome induz, é a que provém de outrem e continua com as mesmas características da anterior, com os mesmos vícios.
· AQUISIÇÃO, CONSERVAÇÃO E PERDA DA POSSE
· AQUISIÇÃO
Objeto de aquisição de posse, na perspectiva do Código Civil, são os bens particulares. Se a posse, por definição, é a possibilidade de exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade, a sua aquisição se opera no momento em que tal exercício se torna possível. Os arts. 1.196 e 1.204, ambos do Código Civil, são harmônicos e complementares. Aquele, ao dizer quem é possuidor, definiu, por inferência lógica, a posse; este, ao esclarecer o momento da aquisição, apoiou-se na própria definição de posse, aduzindo: “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.” Adquire-se a posse, não propriamente pelo exercício do poder de uso, gozo ou disposição, mas pela simples possibilidade de seu exercício. Ou seja, o exercício é exigível em estado de potência, não em ato.
· MODOS DE AQUISIÇÃO 
Tratando-se de ato inter vivos a aquisição se opera nos termos do art. 1.205, que é inócuo, ao esclarecer que a posse pode ser adquirida “I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação”. O importante é que a coisa ingresse na esfera de poder do possuidor. As disposições do citado artigo não apresentam especificidade, antes, são questões afetas, explicadas e resolvidas nos institutos da representação e da gestão de negócios.
A posse se adquire, como anota Clóvis Beviláqua, por ato unilateral, bilateralmente ou (herança ou legado). Ou seja, adquire-se a posse originariamente, por ocupação, ou derivadamente, mediante ato inter vivos ou causa mortis. Na apreensão de uma res nullius (coisa de ninguém e que nunca teve dono) oures derelictae (coisa abandonada), na caça ou na pesca, na posse ad usucapionem, tem-se a aquisição não transmitida, originária, unilateral. Na adquirida bilateralmente, o possuidor recebe a coisa de alguém, quase sempre em decorrência de contrato de compra e venda ou locação, ou causa mortis. Na posse derivada ocorre sempre a tradição material ou simbólica (ficta). Na tradição material a coisa é entregue fisicamente ao adquirente, enquanto na simbólica opera-se mediante a entrega de documentos ou, quando for o caso, de chaves. A tradição convencional compreende duas modalidades: o constituto possessório e a brevi manu.
Se a coisa alienada, móvel ou imóvel, permanece em poder do alienante ou de terceiro, podem as partes se valer da cláusula constituti, ou constituto possessório, de que trata o art. 1.267, parágrafo único, do Código Civil, para efeito de transmissão da posse. Quando o vendedor, ou um terceiro, permanece com a coisa alienada, tem-se o desmembramento da posse, permanecendo o transmitente, ou o terceiro, com a posse direta, ficando a indireta, por força da cláusula constituti, com o adquirente.
Como se infere: a) pelo constituto possessório o comprador assume a condição de possuidor indireto; b) o constituto possessório pode apresentar-se de duplo modo: permanecendo a posse direta com o alienante ou com um possuidor de menor título, como o locatário.
· Atos de mera permissão ou tolerância 
Como vimos, não é qualquer poder sobre a coisa que gera a posse. O art. 1.208, em sua primeira parte, esclarece que atos de mera permissão ou tolerância não induzem a posse. Quem recebe uma caneta, por exemplo, para o simples ato de assinatura, não se acha em relação de dependência com o proprietário da coisa, nem adquire a posse desta. Assume apenas a condição de mero detentor. Se um produtor rural permite, ao fazendeiro vizinho, eventual pastoreio de um rebanho em suas terras, o fato não provoca a aquisição de posse, pois haverá, in casu, ato de mera permissão. Ao agir dessa forma, o produtor rural não pretendeu conferir, ao fazendeiro, qualquer concessão além do simples poder de utilizar parte de sua propriedade e durante determinado tempo
· Atos de violência e clandestinidade
Pela segunda parte do art. 1.208, o Código Civil não reconhece a posse adquirida por atos de violência ou de forma clandestina. A violência em questão, como vimos, é tanto a vis absoluta (física) quanto a vis compulsiva (psicológica), enquanto a clandestinidade corresponde ao poder assumido sobre a coisa de um modo sub-reptício, às escondidas. Cessadaa violência ou tornado público o exercício do poder sobre a coisa, ter-se-á por adquirida a posse. No bojo do art. 1.208, o legislador não se referiu ao precarium, de modo que esta modalidade de vício não transmuda o poder sobre a coisa em posse. Havendo o precário, inexiste a justa posse, de acordo com a definição do art. 1.200, objeto de análise anterior. Quem assumiu o controle da coisa, precariamente, pode vir a adquirir a sua posse, mas pela prática de negócio jurídico com o titular da posse direta ou indireta. Passará à condição de possuidor, caso adquira a propriedade da coisa, obtenha o seu usufruto ou convencione o seu comodato ou locação, entre outras possibilidades.
· TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS
Os herdeiros e legatários do antigo possuidor, por força do art. 1.206 do Código Civil, assumem a posse no estado jurídico em que se encontrava, isto é, com os mesmos caracteres existentes no momento do óbito. Eventuais vícios anteriores não desaparecem com os novos possuidores. Trata-se de posse derivada e não originária. É próprio daquela a transmissão da coisa acompanhada de seu histórico, diferentemente da originária, em que o novo possuidor recebe a posse inteiramente desvinculada de qualquer mácula. 
Como a posse é um estado de fato, a sua aquisição pode realizar-se pela apreensão, dispensando-se a prática de ato negocial. Destarte, não se exige capacidade de fato para a sua aquisição, salvo quando advém da via negocial. Enquanto o atual Código não dispõe sobre a capacidade para adquirir a posse, o Código Civil português, de 1966, art. 1.266, dispensa a capacidade de fato apenas quanto à posse de coisas suscetíveis de ocupação.
· PRESUNÇÃO DE POSSE DA COISA MÓVEL 
A posse de coisas móveis, até prova em contrário, pertence ao possuidor do imóvel onde se encontrem. É a norma do art. 1.209, que fixa uma presunção relativa ou juris tantum. 	Ao dispor desta forma, o legislador levou em conta, notadamente, dois aspectos: a) geralmente, os bens que guarnecem a casa, loja, apartamento, sala, galpão e outros tipos de imóveis, encontram-se na posse dos respectivos ocupantes; b) o possuidor, na grande maioria dos casos, dispõe apenas de alguns poucos comprovantes da posse de tais bens. Assim, na generalidade dos casos não se exige do possuidor do imóvel a prova da justa posse; o oposto, sim, é que se impõe: a quem alegar o contrário caberá a prova. Como toda presunção relativa, esta também é vencível diante de alguma evidência contrária.
· CONSERVAÇÃO
Adquirida a posse, a sua conservação dependerá da permanência da possibilidade de exercício de um dos poderes inerentes à propriedade. Na lição de Charles Maynz, a posse se conserva desde que “o poder físico e a intenção de possuir se encontrem reunidos...”. Malgrado a Lei pátria se filie à teoria objetiva de Ihering, não há como se deixar de recorrer, na análise de determinadas situações, ao elemento animus possidendi. Na palavra de Savigny, “para que a posse continue, é preciso a relação física com a coisa possuída e o ânimo”.
· PERDA
O primeiro requisito lógico para a perda da posse, direta ou indireta, é que a pessoa física ou jurídica, em dado momento, teve a possibilidade de exercitar qualquer dos poderes inerentes à propriedade. É curial: só se perde algo que anteriormente se possuiu. A perda da posse é antítese da aquisição. Esta se opera no momento em que alguém pode exercitar algum poder inerente à propriedade; logo, a perda coincide com o momento em que se torna impossível a continuação do exercício do poder correspondente.
Para as legislações e juristas que seguem a teoria subjetiva de Savigny, dá-se a perda da posse quando deixa de existir o corpus ou o animus possidendi. Como observa Eduardo Espínola, no sistema de Savigny, atribui-se maior importância ao animus relativamente à conservação e perda da posse, pois admite-se que “a falta do contato material com a coisa não determina a perda da posse, quando persista o animus possidendi”.18 Hipótese mais difícil de ocorrer é o desaparecimento conjunto daqueles elementos. Tal entendimento não prevalece perante o Direito pátrio, que optou pela teoria objetiva, para a qual a posse é a exteriorização da propriedade.
A perda da posse, na prática, pode ocorrer mediante fato jurídico ou por imposição legal. Aquele, em sentido amplo, é qualquer acontecimento do mundo fático que produz efeitos no mundo jurídico. Neste caso, a perda da posse pode ocorrer por convenção, ato de terceiro (esbulho), destruição ou desaparecimento da coisa, abandono. Por força de lei, perde-se a coisa colocada fora do comércio.
Mediante contrato, o possuidor pode transferir a posse, em caráter provisório ou não. Tanto a direta quanto a indireta são suscetíveis à troca de titularidade por ato inter vivos ou causa mortis. A perda da posse efetiva-se por ato de vontade ou mesmo contra a vontade do possuidor, como prevê o art. 1.223 do Código Civil. Para a hipótese de perda da posse mediante esbulho, há duas situações a serem consideradas. Se o titular desconhece o fato não haverá a perda da posse. Esta ocorrerá se o possuidor presenciou o fato ou dele tomou ciência posteriormente, com ou sem reação. Não obstante o texto – art. 1.224 – se refira à perda de posse, nada impede que a vítima requeira a proteção possessória, pleiteando, inclusive, a reintegração liminar, tratando-se de esbulho de menos de ano e dia (posse nova). Obtido êxito na incursão judiciária, a perda da posse terá sido provisória.
O abandono se caracteriza quando o possuidor se desfaz da coisa, intencionalmente, deixando-a fora dos lugares de seu controle. Simples ato de esquecimento de objeto não o caracteriza, mas a intenção de abandonálo pode ser superveniente.
O abandono não se presume, pois o art. 1.233 do Código Civil impõe, a quem encontre coisa alheia perdida, o dever de restituí-la ao seu verdadeiro dono ou legítimo possuidor. Abandono, por outro lado, não se confunde com renúncia. Esta é ato de titular do direito de propriedade e implica o despojamento do domínio da coisa.
Quem encontra a coisa abandonada e a mantém sob um poder de fato adquire a sua posse e propriedade? Ocorrendo o abandono da posse direta e indireta, tem-se não apenas a perda da posse, mas também a da propriedade, convertendo-se a coisa em res derelictae – coisa abandonada. O abandono é uma das causas de perda da propriedade, consoante a disposição do art. 1.275, inciso III, da Lei Civil. Relativamente ao imóvel urbano, caso as atitudes reveladoras de abandono persistam por mais de três anos, haverá a presunção absoluta de abandono deixando o proprietário de satisfazer os ônus fiscais, consoante reza o art. 1.276, § 2º do Códex.
A pessoa que se apropria de coisa sem dono, à luz da disposição do art. 1.263 do Código Civil, para logo lhe adquire a propriedade. A apropriação só não produz este efeito caso haja impedimento legal, como se dá com as coisas colocadas fora do comércio. Não é necessária, portanto, a usucapião para que o apropriante da coisa abandonada adquira a propriedade. E se esta incorpora-se ao patrimônio da pessoa, consequentemente opera-se a aquisição da posse. Se o abandono da coisa, todavia, limita-se à posse direta, o efeito jurídico já não será o mesmo.
EFEITOS DA POSSE
Os efeitos jurídicos da posse não se distribuem igualmente entre as suas diversas espécies. Diante dos casos concretos, antes de se indagar sobre os efeitos, o operador há de classificar a posse, apurando, por exemplo, se esta é justa ou injusta, de boa ou má-fé, ad usucapionem ou não, nova ou velha. Embora o Código Civil apresente um capítulo com o título Dos Efeitos da Posse, abrangendo os arts. 1.210 a 1.222, nem todos os efeitos estão ali previstos, como o da aquisição da propriedade por usucapião. A proteção possessória, que é uma das consequências fundamentais da posse, encontra-se regulada também no Código de Processo Civil, especialmente nos arts. 920 a 933.
· AUTO TUTELA DA POSSE
A via ordinária ou natural de proteção aos direitos, no mundo civilizado, é a que se processa por intermédiode poderes públicos, especialmente sob o comando do poder judiciário. A coação – mecanismo de força a serviço do Direito – é monopólio do Estado, que o exerce por órgãos especializados e na forma constitucional. Excepcionalmente, quando a via estatal não se revela em condições de atender à urgência do caso concreto, é cabível a autotutela. Na impossibilidade fática de se valer da proteção oficial, seja para conter injusta agressão a seu direito ou a de terceiros, seja para se opor a atos de turbação ou de esbulho, a pessoa pode reagir manu militari, moderadamente e com os meios necessários.
Tecnicamente, à vista da linguagem do legislador, o termo defesa é aplicável aos atos do possuidor, visando a repelir a turbação, enquanto o vocábulo desforço expressa a atitude do possuidor que reage, fisicamente, ao ser esbulhado de sua posse. Eis a redação do art. 1.210, § 1º, da Lei Civil, que autoriza a autotutela: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse”.
Tanto o possuidor direto quanto o indireto têm legitimidade para a defesa da posse, embora haja quem negue ao indireto tal possibilidade.
Para que a autoproteção se enquadre na esfera do lícito, é indispensável, em primeiro lugar, a atualidade dos atos de turbação ou esbulho da posse. Caracteriza-se a turbação quando o agente pratica atos de molestação ou de lesão à posse, sem substituir o possuidor. Os atos que legitimam a defesa devem ser atuais, nem do passado, nem do futuro.
No exercício da faculdade de autodefesa, o possuidor há de valer-se de recursos suficientes à eficácia da tutela da posse. A reação deve ser moderada e o quanto baste para estancar a agressão em curso. Caso extrapole os limites necessários à defesa, incorrerá na prática de abuso de direito e, provavelmente, na de ilícito criminal.
O possuidor poderá valer-se da força física também para tentar recuperar a posse, tão logo se materialize o esbulho. Este se caracteriza quando o agressor afasta o possuidor e assume a posse em seu lugar. A Lei Civil autoriza a defesa ou desforço.
· AÇÕES POSSESÓRIAS
A heterotutela da posse, que se desenvolve na instância judicial, faz-se mediante a conjugação de normas materiais e formais. Aquelas definem os direitos subjetivos à manutenção ou à reintegração da posse, enquanto estas definem os ritos e as fases procedimentais. De acordo com o nosso sistema, objeto da proteção é tanto a coisa móvel quanto a imóvel e possuidor, tanto o direto quanto o indireto. O detentor não possui legitimidade para as ações possessórias. A proteção é provocada por ameaça, turbação ou esbulho da posse e se efetiva, respectivamente, pelo interdito possessório, manutenção ou reintegração de posse. Consoante entendimento doutrinário e jurisprudencial, o ordenamento brasileiro não prevê a posse dos direitos pessoais, daí ser incabível a proteção do direito autoral mediante interditos possessórios.
Para pleitear a proteção possessória, basta ao requerente alegar o ius possessionis, que significa apenas direito de posse e independe do ius possidendi, que é o direito de possuir. Suficiente, portanto, o fato da posse para se obter o remédio possessório. As ações possessórias decidem, em caráter provisório, o direito à posse.
O possuidor poderá pleitear a concessão de liminar de manutenção ou reintegração, desde que se trate de posse nova, isto é, que as práticas ilícitas não datem mais de ano e dia. Estando suficientemente instruída a petição inicial, o juiz poderá deferir o pedido ou, não convencido prima facie, designar audiência de justificação, intimado o réu para comparecer à audiência. A hipótese está prevista no art. 562 do CPC de 2015 que, no parágrafo único, veda a concessão de liminar contra pessoa jurídica de direito público, sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
Embora se possa afirmar, na esteira do processualista Adroaldo Furtado Fabrício, que “a rigor só há uma ação possessória, com variantes determinadas pelas condições de fato”,14 a doutrina e a legislação distinguem três espécies: a) ação de manutenção de posse; b) ação de reintegração de posse; c) interdito proibitório. Cada ação visa à proteção contra determinado tipo de ataque à posse, mas possuem basicamente idêntico rito processual.
Como o pressuposto das possessórias é a posse, turbada, esbulhada ou ameaçada, e não o domínio, de forma coerente o art. 1.210, § 2º, do Código Civil, dispõe que “não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”. Tal dispositivo é inovador e torna sem efeito a Súmula 487 do Supremo Tribunal Federal, que prescrevia: “Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada.” A exceptio proprietatis já não pode ser invocada em ações possessórias. Como adverte o jurista Joel Dias Ferreira Jr.: “Doravante, os julgamentos em sede possessória haverão de pautar-se, tão somente, com base na pureza dos interditos, isto é, levando-se em conta, para a tomada de decisão, apenas as questões pertencentes ao mundo dos fatos.” Ao postular em ação possessória, basta a prova da existência da posse, ainda que esbulhada, dispensado o possuidor de alegar o jus possidendi (direito de possuir).
No curso de uma ação possessória, não podem as partes intentar ação de reconhecimento de domínio, à luz do disposto no art. 923 do Código de Processo Civil. Como o sentido da norma jurídica é impedir a concomitância dos pleitos possessório e petitório, evitando-se a discussão simultânea em torno da posse e da propriedade, as partes também ficam impedidas de cumular, em uma única ação, ambos os pedidos.
Qualquer que seja a modalidade de ação possessória, poderá o autor requerer, cumulativamente: 
a) indenização pelos prejuízos sofridos (perdas, lucros cessantes, danos morais);
b) fixação de pena pecuniária para o caso de nova turbação ou esbulho; 
c) demolição de obra ou remoção de plantação, feitas em prejuízo de sua obra.
· MANUTENÇÃO PROVISÓRIA DA POSSE POLÊMICA 
O poder cautelar, inerente à função jurisdicional, permite ao juiz tomar decisões, em caráter provisório, sobre incidentes ou fatos relevantes que se apresentem no início ou curso do processo. Além desse poder de ordem geral, o art. 1.211 do Código Civil autoriza o juiz a determinar em poder de quem ficará a coisa, provisoriamente, quando duas ou mais pessoas se intitulam possuidoras. A hipótese não é de juízo de equidade, pois o julgador não está autorizado a decidir discricionariamente, mas vinculado a dados objetivos.
Em princípio, a posse deve ser conferida àquele que, de fato, mantém a coisa em seu poder, ou, como diz a Lei Civil, ao “que tiver a coisa”.
Tal critério, todavia, não deve prevalecer se, da análise dos elementos factuais disponíveis, o juiz constatar que a parte obteve a coisa mediante violência, atos clandestinos ou abuso de confiança.
· A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA E AS SERVIDÕES NÃO APARENTES
Na servidão, que é direito real sobre a coisa alheia, a capacidade de uso ou gozo de um imóvel beneficia a outro, pertencente a proprietário diverso. Em sua variedade de espécies, há as chamadas servidões não aparentes, as quais, como a própria terminologia revela, não conservam sinais exteriores de existência. Nas aparentes, o direito real sobre a coisa alheia se exterioriza, como na servidão de aqueduto, dada a tubulação que se estende entre os imóveis.
Para que uma servidão não aparente possa constituir-se objeto de proteção possessória, exige a Lei Civil, pelo art. 1.213, que haja um título correspondente, originário do possuidor do prédio serviente ou daqueles de quem este o adquiriu.
Atos de mera tolerância, como o de eventual pastagem, não configuram a servidão e em seu nome é incabível o pleito possessório. Ao estabelecer a exigência do título, o que se pretende é dar certeza à existência de uma servidão que não é notória ou visível.· MANUTENÇÃO DA POSSE
Esta modalidade de ação possessória se destina a proteger a posse contra atos de turbação. Conforme vimos, na análise da autotutela, na turbação o possuidor não é despojado da posse, mas impedido de exercitá-la em sua plenitude, como se dá, por exemplo, quando alguém corta a energia elétrica em residência ou derruba árvores de uma propriedade rural. Quem, sem autorização do possuidor, utiliza-se de via particular, molesta a posse, praticando ato de turbação. A turbação pode ser positiva ou negativa. Pela primeira, o turbator molesta a posse invadindo propriedade; pela segunda, quando impede o livre uso da coisa por seu possuidor.
Pressuposto para a concessão deste interdito é a existência da posse e a perturbação de seu exercício. A pretensão do autor é manter-se na posse, livre dos atos que a molestam. O possuidor não está privado da posse, pois manter significa conservar o que existe. A manutenção distingue-se da reintegração, pois nesta o pleito é de recuperação da posse.
O possuidor direto pode requerer a manutenção não apenas em face de terceiros, mas inclusive contra o possuidor indireto, caso este provoque embaraços ao exercício de sua posse. Quanto aos diretos, possuem legitimidade para o pleito: o locatário, o usufrutuário, o comodatário, o credor pignoratício, o depositário, entre outros. Não estando na posse da coisa, o possuidor indireto não poderá requerer a seu favor a prestação jurisdicional. É o caso do locador, do nu-proprietário, do comodante, do devedor pignoratício, do depositante, entre outros.
O direito à manutenção é cabível também na posse injusta, que é a adquirida mediante violência, de uma forma clandestina ou precária.
O possuidor turbado na posse, como vimos, possui a faculdade de repelir, coercitivamente, as ações mas desde que a sua reação se faça durante a turbação e pelos meios necessários. Não exercitado esse poder, cabível é a ação de manutenção de posse, com o pedido de concessão liminar. Caberá ao autor a prova de sua posse, bem como a prática de atos de turbação pelo réu e a data em que se verificou o último ato de turbação. Como se infere, nas ações possessórias não se discute o domínio, mas apenas a posse. Assim, não é relevante a prova da propriedade, nem a de que uma das partes já perdeu o domínio.
· REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Como a própria denominação indica, a reintegração se destina a devolver a posse ao titular, que dela foi destituído mediante esbulho – prática de apossamento por violência, ação clandestina ou abuso de confiança. Enquanto a manutenção de posse pretende livrar o possuidor de atos de turbação, a reintegração visa a restituir a posse perdida injustamente.
A prática do esbulho pode caracterizar-se em um segundo momento da posse, mediante a conversão da posse justa em injusta, como se verifica no comodato por prazo indeterminado, quando o comodatário, notificado para a entrega da coisa, deixa de atender ao possuidor indireto.
Após a prática do esbulho, caso a posse tenha sido transmitida a terceiro, que a recebeu ciente de sua origem, contra ele o possuidor prejudicado poderá pleitear a reintegração ou a verba indenizatória, consoante o permissivo do art. 1.212 do Estatuto Civil. O possuidor poderá optar pela restituição da posse cumulada com perdas e danos ou por indenização, caso a coisa tenha se deteriorado.
· INTERDITO PROIBITÓRIO
Esta é uma ação de prevenção. Convencendo-se de que a sua posse corre sério risco de sofrer turbação ou esbulho, o possuidor poderá ingressar em juízo com o interdito proibitório, que possui natureza preventiva. O caput do art. 1.210 do Código Civil, in fine, garante ao possuidor a proteção possessória, quando se encontrar na iminência de ser molestado em sua posse.
O rito a ser observado é o mesmo das ações de manutenção e de reintegração. Ao determinar a expedição do mandado proibitório, deverá o juiz fixar uma pena pecuniária para a hipótese de descumprimento da ordem judicial. Tal providência poderá ser tomada liminarmente e em decisão final. Dada a conversibilidade dos interditos, caso se constate, no curso da ação, a ocorrência de turbação ou de esbulho, o interdito se transmudará em ação de manutenção ou de reintegração de posse.
Além das clássicas ações possessórias (manutenção, reintegração e interdito proibitório), há outros procedimentos judiciais, previstos em nosso ordenamento e que afetam diretamente a posse, como a ação de nunciação de obra nova e os embargos de terceiro.
· AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA
Legitimidade para propor esta ação, entre outros, possuem o proprietário e o possuidor de prédio que está sendo prejudicado ou se encontre na iminência de sêlo, devido à realização, em andamento, de obra em imóvel vizinho. O condômino e o Município também têm legitimidade para ingresso em juízo, na defesa de seus próprios interesses. O Código Civil não cuida desta matéria, que é disciplinada pelo Código de Processo Civil – arts. 934 a 940. O objetivo da ação é impedir que a irregularidade da obra se transforme em fato consumado, afetando os direitos do autor.
Na prática dos tribunais, múltiplos são os tipos de faltas apontadas, como a não observância do recuo de metro e meio exigido para a abertura de janela (art. 1.301, CC) ou a má qualidade da edificação, capaz de colocar em risco o objeto da posse ou propriedade do autor. A presente ação somente é cabível antes do término da edificação, daí o seu título “nunciação de obra nova”.
A Lei Processual prevê, para os casos de urgência, um tipo precário de autotutela. O próprio autor poderá promover o embargo extrajudicial da construção, notificando verbalmente o proprietário da obra e, na falta deste, ao construtor, sob o testemunho de duas pessoas. Efetivada a medida, o embargante terá o prazo de três dias para requerer ao juiz a ratificação de seu ato, sob pena de o embargo perder o efeito.
· EMBARGOS DE TERCEIRO
Ao possuidor que, não sendo parte no processo, for prejudicado devido à apreensão judicial, cabe a oposição de embargos. A turbação ou esbulho se efetiva mediante atos de penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário e partilha. Tais embargos podem ser de senhor e possuidor ou apenas de possuidor. Os embargos não se justificam diante de simples receio ou temor, como já se decidiu: “... não há turbação ou ameaça, mas mero temor a respeito de possíveis danos, que advirão para os imóveis contíguos com a demolição de obra determinada por decisão judicial em ação distinta...”
· USUCAPIÃO
A prescrição aquisitiva é também um dos efeitos da posse. Quem se encontra na posse da coisa móvel ou imóvel pode adquirir o seu domínio pelo decurso do tempo e nas condições definidas em lei. O fato gerador do direito à propriedade não é a sentença judicial, mas o transcurso do tempo na posse da coisa. Tanto é assim que a usucapião pode ser alegada como matéria de defesa em ações judiciais. Para a formalização da aquisição do domínio, contudo, é indispensável que o usucapiente proponha ação própria contra aquele em cujo nome a propriedade se encontre registrada. Produzida a prova necessária e reconhecido o direito com a sentença judicial, o juízo determinará a expedição de mandado próprio, para efeito de registro em Cartório de Registro de Imóveis. Quando a parte alega a usucapião em matéria de defesa, ainda que prove sobejamente a posse pelo tempo necessário à aquisição do domínio, não obterá sentença declaratória, hábil ao registro da propriedade. Haverá de ajuizar ação específica, para que logre o seu objetivo.
· DIREITO AOS FRUTOS 
Enquanto de boa-fé, o possuidor tem direito aos frutos percebidos. Frutos são os rendimentos periódicos da coisa e percebidos, os já colhidos. Os frutos pendentes, que são os não colhidos, encontram-se unidos ao bem principal e, uma vez cessada a boa-fé, devem ser restituídos ao seu legítimo possuidor, juntamente com os frutos antecipadamente colhidos. Assiste ao possuidor de má-fé o direito a deduzir as despesas efetuadas na produção e custeio. Tal orientaçãose funda no princípio inibidor do enriquecimento sem causa.
De acordo com o art. 1.215 do Código Civil, consideram-se percebidos os frutos naturais e industriais, logo que separados, enquanto os civis reputam-se percebidos dia a dia. Frutos naturais são as dádivas da natureza, como as plantações, as crias animais; industriais são os que resultam do engenho humano, da produção, enquanto os civis correspondem aos rendimentos da coisa, como os juros, os aluguéis, entre outros.
À vista do caput do art. 1.214, que garante ao possuidor de boa-fé o direito aos frutos percebidos, a disposição do art. 1.216 se apresenta como um corolário lógico, capaz de ser inferido pelo argumento a contrario sensu. Preceitua o artigo que o possuidor de má-fé responde pelos frutos percebidos, enquanto perdurou o seu animus. São igualmente de sua responsabilidade os frutos que deixaram, nesse período, de ser percebidos por sua culpa. Em todo caso, cabe-lhe o ressarcimento pelas despesas de custeio e produção.
· ALGUNS EFEITOS DA POSSE DE BOA OU DE MÁ FÉ
Ao formular seus juízos de valor, visando ao equilíbrio nas relações interindividuais, o legislador favorece a quem age de boa-fé e penaliza o que obrou de má-fé. Exemplo da aplicação deste critério são as regras sobre os frutos percebidos, analisadas no item anterior.
· PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA 
O possuidor de boa-fé somente responde pela perda total ou parcial da coisa, quando culpado pela ocorrência. Se a causa eficiente foi um Act of God ou mero acidente, sem dolo ou culpa do possuidor, este não será obrigado a ressarcir os prejuízos do reivindicante, pois res perit domino (a coisa perece por conta do dono). É a dicção do art. 1.217.
Quanto ao possuidor de má-fé, este somente deixa de responder pela perda ou deterioração, quando ficar caracterizado que o prejuízo ocorreria ainda que a coisa estivesse em poder do retomante ou de seu dono. Se o objeto da posse era um automóvel, que sofreu perda parcial em razão de enchente, duas são as situações a serem cogitadas. Primeira: caso a pessoa legitimada para a posse fosse da localidade atingida pelo cataclismo, o veículo seria atingido ainda que em seu poder, motivo pelo qual o possuidor de má-fé estaria liberado da responsabilidade. Segunda: na hipótese, porém, em que o retomante residisse em cidade não alcançada pelo fenômeno meteorológico, apesar de o fato caracterizar motivo de força maior, o possuidor seria responsável por perdas e danos. O comando legal é do art. 1.218.
· QUANTO ÀS BENFEITORIAS
As disposições sobre esta matéria estão previstas nos arts. 1.219 a 1.222 do Código Civil. Enquanto o possuidor de má-fé somente tem direito à indenização por benfeitorias necessárias, cabendo ao reivindicante a escolha entre o seu valor atual e o de custo, o de boa-fé faz jus também ao ressarcimento por benfeitorias úteis e pelo seu valor atual. Quanto às voluptuárias, caso o reivindicante não as queira comprar, o possuidor de boa-fé poderá levantá-las se a tarefa não implicar danos para o reivindicante. O possuidor de má-fé perderá as benfeitorias úteis e as voluptuárias. Em qualquer caso, o reivindicante somente responderá por benfeitorias se estas existirem ao tempo da evicção. 
Ao estabelecer o direito à indenização por benfeitorias, o legislador garantiu ao possuidor de boa-fé o direito de retenção. Vale dizer, enquanto não receber do reivindicante o valor correspondente, o possuidor poderá conservar a coisa em seu poder por tempo indeterminado.
AP2
DA PROPRIEDADE
Entre definir a propriedade e formular o conjunto de poderes do proprietário, o legislador preferiu a segunda opção, fazendo-o pelo caput do art. 1.228: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. ”
A propriedade enfeixa uma gama de faculdades asseguradas pela ordem jurídica ao titular do direito subjetivo. Tais atribuições não são fragmentadas, mas fazem parte de um conjunto unitário, que confere ao dominus o amplo poder sobre a coisa.
Usar, em regra, é tirar proveito das utilidades que a coisa oferece, sem destruí-la. Para tanto, o proprietário deve encontrar-se na posse do objeto. O dono de uma casa de campo, por exemplo, possui a faculdade de frequentá-la, de usá-la a seu bel-prazer.
O direito de gozar – jus fruendi – confere ao proprietário o poder de perceber os frutos que a coisa produz. Ao valer-se de tal faculdade, o dono deve estar na posse da coisa. Conforme os autores realçam, o exercício desse poder implica também o de uso. Graças a esse poder o proprietário, que cultivou a terra, semeando-a, procede à colheita de seus frutos. Estes, todavia, não se limitam à dádivas da terra, pois alcançam também os rendimentos que a coisa produz, como os aluguéis.
O poder de disposição da coisa, correspondente ao jus abutendi dos romanos, consiste na capacidade de o proprietário se desfazer do objeto, seja consumindo-o, alienando-o ou dando-lhe qualquer outra destinação, atendidos os requisitos de lei. Nem todo direito de propriedade, contudo, se reveste desse poder, pois há os bens inalienáveis por força de lei ou de vontade.
O proprietário tem, ainda, o direito de reaver a coisa, podendo valer-se da ação reivindicatória, a fim de receber o que é seu de quem injustamente o possua. Quando o dispositivo legal se refere a “quem quer que injustamente a possua ou detenha”, o legislador não restringe o poder à posse injusta, que se caracteriza pela forma violenta, clandestina ou precária de aquisição.
À luz do Direito brasileiro, presume-se plena e exclusiva a propriedade, até prova em contrário. É a disposição do art. 1.231 da Lei Civil.
Ainda quando duas ou mais pessoas são proprietárias de uma coisa, formando-se um condomínio, diz-se que a propriedade é exclusiva, pois cada um dos titulares pode afastar a ação de terceiros sobre a coisa. O art. 1.314 do Código Civil garante a cada condômino amplos poderes sobre a coisa, como o de usá-la, reivindicá-la de terceiro e defender a sua posse.
A propriedade é plena quando reúne todos os poderes previstos na Lei Civil. O titular detém todos os elementos inerentes à propriedade: o direito de usar, gozar e dispor livremente, com exclusão de outrem. Qualquer interessado poderá alegar a não plenitude do domínio, por exemplo, comprovando que o direito limita-se à nua-propriedade. Ao proprietário, não cabe o ônus da prova, pois a presunção o favorece. As limitações legais, impostas à propriedade, como o direito de vizinhança, não retiram da propriedade o caráter de plenitude.
· CARACTERÍSTICAS
A doutrina, de um modo geral, indica os seguintes caracteres básicos da propriedade: a) exclusividade; b) perpetuidade; c) generalidade; d) caráter absoluto; e) elasticidade.
A exclusividade significa que o titular do direito detém poderes sobre a coisa com exclusão de outrem.
O caráter perpétuo revela que o direito não é temporário ou transitório, pois suscetível de ser transmitido inter vivos ou causa mortis. Existindo o bem, haverá a propriedade, excetuando-se a res nullius e a res derelictae, enquanto não houver ocupação.
Diz-se que a propriedade é geral, dado que ao seu titular tudo é permitido nos limites da lei. Aplica-se a ele o princípio da norma de liberdade: o que não lhe for proibido, licitamente poderá ser praticado.
Alguns autores o consideram absoluto também pelo poder generalizado que o dominus possui em relação à coisa.
No passado mais distante, quando predominava a filosofia individualista, esse direito era incomensurável, sem limites, mas tal fase se encontra perdida na noite dos tempos, substituída pelo princípio de solidariedade que deve existir nas relações sociais. Hoje, a grande chancela do direito de propriedade é a sua função social, que impede o exercício irregular desse direito subjetivo em detrimento do interesse da coletividade.
Alguns juristas apontam a elasticidade como um dos caracteres da propriedade. Esta teria a capacidade de retornar à plenitude dos poderes que lhe são inerentes, quandose extinguisse um direito real limitador. É a capacidade de expansão da propriedade, uma vez que, na palavra de Mota Pinto, “não fica vago o somatório dos poderes que se extinguiram, correspondentes ao direito que findou”.30 Destarte, se ocorre a extinção do usufruto pelo falecimento do seu titular, a propriedade volta a ser plena, deixando de ser apenas uma nua-propriedade. O art. 1.410, inc. I, do Código Civil, cuida desta última hipótese.
· FUNCÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
A função social, como atributo da propriedade, integra o elenco dos princípios fundamentais da Constituição da República, ex vi do art. 5º, inc. XXIII. 
Ao efetivar a função social da propriedade, o legislador, ao mesmo tempo que estabelece mecanismos de conversão da posse em domínio, seja com a multiplicação das modalidades de usucapião ou com a posse-trabalho, que é desapropriação indireta, penaliza a não utilização ou subutilização da coisa de variados modos, como a indenização, por exemplo, com títulos da dívida pública (art. 8º do Estatuto da Cidade). Além disto, há diversas formas de intervenção na propriedade privada.32 Quando a lei condena o mau uso da propriedade, diz Roberto Kaisserlian Marmo, “sanciona, em muitas hipóteses, em favor do ser (social), em detrimento doter (individual) ...”
· Proteção à natureza e ao patrimônio cultural da sociedade
O primeiro dos parágrafos do art. 1.228 sublinha o dever jurídico de o proprietário preservar, na forma da lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das águas.
· Desapropriações
Dada a função social da propriedade e considerando-se que o interesse do proprietário não deve prevalecer sobre os da sociedade, a Lei Civil prevê, pelo § 3º do artigo sob comentário, a desapropriação da coisa, por iniciativa do poder público, quando houver necessidade pública, utilidade pública ou interesse social (art. 5º, inc. XXIV, CF). É possível, também, a requisição da coisa, havendo perigo público iminente. A hipótese é de uso da propriedade particular, previsto na Constituição da República, art. 5º, inc. XXV. A segurança jurídica do proprietário limita-se à certeza de que, desapropriado o bem, deverá receber previamente uma justa indenização em dinheiro, ressalvada a hipótese dos imóveis urbanos ou rurais que não estiverem alinhados à sua virtual função social. Nos casos de requisição, ocorrendo dano à coisa, haverá indenização a posteriori. Nesta última hipótese, o pagamento será efetuado mediante títulos da dívida pública. Embora os Estados-membros e os Municípios tenham competência para atos de desapropriação, apenas a União está autorizada a legislar sobre a matéria, consoante prevê a Lei Maior, art. 22, inciso II.
· Posse-trabalho
Na sequência das disposições do art. 1.228, o legislador ordinário cuidou da chamada posse-trabalho ou pro labore. A figura em pauta é situação especialíssima, que exige um conjunto de requisitos: a) o objeto deve consistir de extensa área; b) posse ininterrupta e de boa-fé, durante mais de cinco anos, por considerável número de pessoas; c) execução, pelos possuidores, em conjunto ou separadamente, de obras ou serviços de interesse social e economicamente relevantes, a critério do juiz.
Um dos requisitos, em especial, desperta a atenção do intérprete: a exigência de boa-fé pelos compossuidores. De acordo com a sistemática do Códex, a boa-fé consiste no desconhecimento da existência de algum impedimento ou obstáculo legal à posse do objeto. Não cabe aos compossuidores a sua prova, mas, ao inverso, será uma atribuição do reivindicante a comprovação de eventual má-fé dos ocupantes da extensa área. Caso os compossuidores estejam munidos de justo título, à vista do parágrafo único, do art. 1.201 do Código Civil, haverá a presunção de boafé.
Muitas são as dúvidas suscitadas pelo dispositivo em estudo. A hipótese é de desapropriação e mediante justa indenização fixada pelo juiz, cujo pagamento constitui conditio si ne qua non para o registro do título de propriedade em cartório. Embora se assemelhe à figura da usucapião, a previsão legal com esta não se confunde, pois impõe uma justa indenização.
· ABRANGÊNCIA DA PROPRIEDADE DO SOLO 
A propriedade imobiliária privada se justifica como recurso necessário à satisfação de interesses domésticos e produtivos. A utilização do solo deve ser teleológica: na medida necessária à viabilização daqueles interesses legítimos. A solidez das obras, de acordo com as leis da Física, exige fundações compatíveis com o vulto das edificações e estas, quanto mais arrojadas, mais se aprofundam no subsolo e se estendem no espaço aéreo. Modernamente, nos grandes centros, há edifícios que se utilizam de grandes faixas subterrâneas de terras, a fim de instalar galerias comerciais ou estacionamentos de veículos. A ordem jurídica não dimensiona, matematicamente, a disponibilidade do subsolo e do espaço aéreo, mas entende-se que deva corresponder ao necessário à realização de projetos.
Daí o citado artigo vedar ao proprietário qualquer manobra que impeça, a outrem, a utilização dos espaços sobejantes: “... não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. ” Em síntese, ao mesmo tempo em que a lei tutela o proprietário quanto à dimensão vertical útil, veda-lhe o cerceamento do uso por terceiros além desse limite.
Assinale-se que a proteção ao espaço aéreo e ao subsolo independe do estado em que se encontre o solo: construído ou não; construção rasa ou de altura considerável, pois o relevante é garantir-se a capacidade de expansão a patamares admitidos pela legislação municipal.
A interpretação do art. 1.229 deve considerar as restrições impostas pelo art. 1.230, que exclui da propriedade do solo as jazidas, minas e demais recursos minerais, entre outros.
Relativamente aos recursos minerais, empregados em construção e que independam de transformação industrial, a sua exploração constitui direito do proprietário do solo, observada a legislação especial. É o que prescreve o parágrafo único do art. 1.230 do Código Civil. Enquadram-se na hipótese, por exemplo, as extrações de cal virgem e em pedreiras. O proprietário do solo tem direito, também, à participação nos resultados da lavra, fazendo jus à metade do valor total devido aos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos da administração direta da União, de acordo com o disposto no art. 11, b, § 1º, do Código de Mineração, em consonância com o caput do art. 176 da Lei Maior.
Entre os poderes ínsitos ao domínio, consta o de gozo ou fruição, pelo qual o proprietário faz jus aos frutos e produtos da coisa. De acordo com o estabelecido no art. 1.232, esse direito subsiste ainda quando os bens se encontrem separados da coisa, ou seja, quando percebidos. Tal critério somente não prevalece diante de preceito jurídico especial, como o do caput do art. 1.214, que atribui ao possuidor de boa-fé, enquanto esta perdurar, o direito aos frutos percebidos. No art. 1.284, encontra-se outra hipótese em que os frutos separados não pertencem ao proprietário da coisa, mas ao dono do imóvel vizinho onde caírem.
· Descoberta
Quem encontra coisa móvel alheia assume a obrigação de devolvê-la ao seu dono ou possuidor. A hipótese é de coisa perdida, que não se confunde com res nullius (sem dono), nem com res derelictae(abandonada). Estas, quando encontradas, podem ser apropriadas, o que se opera mediante a ocupação, ressalvada a hipótese de vedação em lei. Entre coisa perdida (vacuae possessionis) e abandonada (vacuae dominii), o diferencial situa-se no animus. A perda é fato não intencional, enquanto o abandono é despojamento voluntário da coisa.
Coisa perdida, portanto, é a que fica sem possuidor, sem transformar-se em res nullius ou res derelictae.
Com a descoberta, cabe a quem encontrou a coisa restituí-la ao seu dono ou proprietário. Se desconhecido para o inventor, este deverá valer-se

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