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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS DE JATAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS TCCG – GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS Caroline Rocha de Oliveira Lima Orientador: Prof. MSc. Rogério Elias Rabelo JATAÍ 2007 CAROLINE ROCHA DE OLIVEIRA LIMA CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado para obtenção do título de Médica Veterinária junto a Universidade Federal de Goiás. Orientador: Prof. MSc. Rogério Elias Rabelo Supervisor: Prof. MSc. Apóstolo Ferreira Martins JATAÍ 2007 CAROLINE ROCHA DE OLIVEIRA LIMA Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina Veterinária defendido e aprovado em 26 de Janeiro de 2007 pela seguinte Banca Examinadora: Prof. MSc. Rogério Elias Rabelo – CCAB/CAJ/UFG Presidente da Banca Profª. MSc. Alana Flávia Romani – CCAB/CAJ/UFG Membro da banca Examinadora Prof. Filipe Augusto Sales Gomes – CCAB/CAJ/UFG Membro da banca Examinadora Dedico este trabalho à minha família, só eles sabem o quão fundamental e indispensáveis se fizeram para realização deste trabalho. E de modo especial ao meu pai Leopoldo Rocha de Oliveira Filho que tanto almejou e sonhou com este momento. É principalmente por vocês e graças a vocês que estou aqui hoje! Perdão por tudo e muito obrigado! Amo vocês!!! AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Deus pelas infinitas bênçãos que Ele derrama em minha vida, me guiando sempre por caminhos de luz e trazendo tantas alegrias e vitórias. Sei que o Senhor me colocou diante dessa profissão maravilhosa com um propósito muito maior, o qual honrarei eternamente. Também agradeço minha família, meu pai, minha mãe, minha irmã, tia Augusta, avó Iraídes e a Letícia que são tudo para mim. São anjos de bondade que sempre me apóiam e nunca me abandonam, muitas vezes até mesmo se sacrificando e passando por cima de seus ideais para estarem ao meu lado sempre. Quero que saibam o quanto eu os amo e o quanto sou grata a vocês. Agradeço imensamente ao meu professor Rogério Elias Rabelo que para mim foi muito mais que um professor. Não posso dizer pai porque ele é muito jovem, mas posso dizer que foi e é um irmão querido e um amigo verdadeiro, o qual tive a honra de conhecer no meu segundo ano de faculdade e que me transformou na pessoa que me tornei hoje. Abriu minha mente, expandiu meus horizontes e me mostrou o verdadeiro significado da palavra Profissional. Sei que muitas vezes me faço intolerante, imatura e é por isso que te peço perdão, porque sei que você já deu seu sangue por mim inúmeras vezes e só quer o meu sucesso. Você é uma pessoa que eu gostaria de ter eternamente ao meu lado, me guiando na minha caminhada sempre. Espero que um dia, eu consiga retribuir ao menos parte de tudo que você faz e representa para mim. Muito Obrigada! Quero agradecer também em especial aos meus mestres que muito contribuíram, tanto na minha formação profissional quanto pessoal, por todos esses anos. Agradeço a Alana Flávia Romani por sua amizade, pelas conversas francas que teve comigo, visando sempre o meu bem e o meu amadurecimento, além de ser uma excelente profissional que dá um verdadeiro show nas aulas de clínica de pequenos animais. Agradeço também a oportunidade de ter conhecido os diversos funcionários da universidade, cada um desempenhando impecavelmente seu papel, transformaram a realização desse sonho possível, muitas vezes se desdobrando para que nós tivéssemos as melhores condições para usufruir ao máximo desse ambiente. Agradeço a todos os meus colegas de sala, que deixaram na verdade de serem colegas de sala e passaram a ser verdadeiros amigos, irmãos e uma nova família para mim. E especialmente as minhas amigas, Mariana, Cinthya e Thaisinha que muito mais que amigas foram irmãs, parceiras, companheiras, cúmplices e anjos na minha vida. Pessoas iluminadas que tive o prazer de conviver, que me ensinaram muito e me fizeram tão feliz. Vocês estarão para sempre em meu coração e em minhas orações! Agradeço também a minha super amiga Denise Cristina que além de linda, divertida, companheira, é a irmã mais velha que eu ganhei de Deus! Te adoro muito amiga e obrigada por estar sempre comigo. E também minha amiguinha fofa Heglle, minha companheira Tati, meus cachorrinhos Doug e Bambi, que eu amo tanto e que a cada dia trazem um novo sentido a minha vida. “Chegará o dia em que conheceremos o íntimo de um animal. Nesse dia um crime contra um animal será um crime contra a humanidade.” SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 2 3 PLANO DE ESTÁGIO – ATIVIDADES REALIZADAS 4 3.1 Clínica Médica 5 3.2 Clínica Cirúrgica 7 4 ACOMPANHAMENTO DE PESQUISAS 8 5 CASO CLÍNICO – OBSTRUÇÃO INTESTINAL 9 5.1 REVISÃO DE LITERATURA 9 5.1.1 Anatomia 9 5.1.2 Definição de Obstrução Intestinal 10 5.1.3 Fisiopatologia 11 5.1.4 Classificação 11 5.1.5 Sinais Clínicos 13 5.1.6 Diagnóstico 14 5.1.7 Diagnóstico Diferencial 15 5.1.8 Tratamento 16 5.1.9 Prognóstico 24 5.1.10 Profilaxia 24 5.2 RELATO DE CASO – RUPTURA INTESTINAL 25 5.2.1 Resenha 25 5.2.2 Anamnese 25 5.2.3 Exame Físico 26 5.2.4 Suspeita Clínica 27 5.2.5 Exames Complementares 27 5.2.6 Prognóstico 27 5.2.7 Terapêutica Sintomática 27 5.2.8 Interpretação dos Exames Complementares 27 5.2.9 Internação 31 5.2.10 Tratamento Cirúrgico 32 5.3 DISCUSSÃO 38 5.4 CONCLUSÃO 47 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48 REFERÊNCIAS 49 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Júpiter, animal atendido no HV/EV/UFG com Obstrução Intestinal. 25 FIGURA 2 Resultado de Hemograma com pesquisa de Hematozoários do cão Júpiter, portador de obstrução intestinal (19/09/06). 29 FIGURA 3 Resultado da Bioquímica Sérica do cão Júpiter, portador de obstrução intestinal (19/09/06). 30 FIGURA 4 Sugador cirúrgico utilizado para retirada de líquido intestinal presente no interior da cavidade abdominal. 33 FIGURA 5 Quantidade e aspecto do líquido retirado com auxílio do sugador na cavidade abdominal. 33 FIGURA 6 Presença de fecaloma no interior do I.G., no local onde ocorreu a ruptura intestinal. 34 FIGURA 7 Compressas esterilizadas protegendo a cavidade abdominal e pinçamento de segmento intestinal rompido. 35 FIGURA 8 Segmento intestinal congesto, hemorrágico e isquêmico devido ao tempo de ruptura intestinal e contaminação fecal. 36 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Casos Clínicos e Cirúrgicos acompanhados no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFG (HV/EV/UFG) durante o período de Estágio Curricular. 5 TABELA 2 Procedimentos Cirúrgicos acompanhados no HV/EV/UFG durante o período do Estágio Curricular. 7 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Plano de Estágio com a descrição das atividades desenvolvidas durante o período de estágio curricular obrigatório. 4 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS a Anos ABS Absoluto ALT Alaninoaminotransferase AR Anti-Rábica AST AspartatoaminotransferaseB.I.D Duas vezes ao dia BPM Batimentos por Minuto ºC Graus Celsius CAN Canino CHCM Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média CK Creatina quinase Cl- Cloreto cm Centímetro DNNRE Desvio Nuclear Neutrofílico Regenerativo à Esquerda F Fêmea FC Freqüência Cardíaca FEL Felino FR Freqüência Respiratória g/dL Grama por Decilitro GGT Gamaglutamiltransferase Giga/L* Giga por Litro = 10 h Horas HCM Hemoglobina Corpuscular Média HCO3- Bicarbonato HV/EV/UFG Hospital Veterinário/Escola de Veterinária/Universidade Federal de Goiás H20 Água I.D. Intestino Delgado I.G. Intestino Grosso I.M. Intramuscular I.V. Intravenosa K+ Potássio kg Quilogramas Leucóc. Leucócito m Meses M Macho m2 Metro Quadrado mm3 Milímetro Cúbico mg Miligrama min Minuto mL Mililitro mmHg Milímetro de Mercúrio mpm Movimento por Minuto Nº. Número Na+ Sódio NaHCO3- Bicarbonato de Sódio Obs. Observação Ph Pressão Hidrostática Prot. Proteína Plasm. Plasmática Q.I.D. Quatro vezes ao dia REL. Relativo S.C. Subcutânea S.R.D. Sem Raça Definida T Temperatura tera/L* Tera por Litro = 1012 T.I.D. Três vezes ao dia UI/dL Unidade Internacional por Decilitro UND. Unidade V8 Óctupla VCM Volume Corpuscular Médio V.O. Via Oral µg Micrograma 1 INTRODUÇÃO Atualmente a relação homem/animal está se tornando cada vez mais intensificada, sendo que os animais de companhia passaram a ser considerados membros da família em diversas culturas. Dia após dia torna-se mais necessário e vital para o Médico Veterinário o aprimoramento nas áreas da Clínica, Cirurgia, Patologia, Zootecnia, Melhoramento Genético e outras, sendo que o papel do profissional frente à sociedade deve ter como princípios básicos o desempenho ético, tendo o veterinário como detentor da teoria e vivenciador da prática. Não muito longe está a era das especializações que todos os dias se torna mais real e necessária em nosso meio. O estágio curricular obrigatório e trabalho de conclusão de curso de graduação têm por objetivos despertar os novos profissionais para essa realidade, seja qual for a área de atuação em que esteja inserido, dando oportunidade ao acadêmico de traçar metas para seu futuro, escolher seu caminho, conhecer novas áreas, enfrentar um pouco da realidade, retirar as dúvidas finais, errar e aprender para que cada vez mais se formem verdadeiros PROFISSIONAIS éticos, maduros, com conhecimento técnico-científico e experiência prática, para saber lidar com ética frente a cada situação que encontrará no futuro. 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO O Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (HV/EV/UFG) está localizado no Campus Samambaia da UFG, apresentando uma estrutura sólida, em alvenaria, estendendo-se por uma área superior a 700 m2. O Hospital Veterinário presta serviços à comunidade, destinando-se ao atendimento de animais de pequeno e grande portes, nas áreas de clínica médica e cirúrgica de pequenos e grandes animais, ortopedia, odontologia, cardiologia, radiologia, oftalmologia, laboratório clínico, dentre outras. Todo atendimento é realizado em horário comercial pelos funcionários, estagiários, residentes e médicos veterinários responsáveis pelo Hospital Veterinário e aos fins de semana uma equipe de residentes e estagiários são escalonados para participar dos plantões, onde é feita a monitoração e tratamento dos animais. A estrutura física do Hospital Veterinário está descrita resumidamente a seguir: A parte frontal do estabelecimento é provida de área pavimentada, onde fica o estacionamento do hospital veterinário. A partir do estacionamento, tem-se a porta de acesso à recepção. A recepção possui balcão de atendimento e uma atendente que agiliza os encaminhamentos dos casos ali ingressados. Partindo-se da recepção, tem-se acesso aos quatro ambulatórios de atendimento clínico. Todas as unidades são devidamente providas por sistema de rede informatizada, de forma que cada procedimento é devidamente registrado em prontuário ou ficha de acompanhamento. O HV possui uma sala destinada a internação dos animais com oito canis e uma sala de isolamento com oito canis. Em frente à sala de internação encontra-se a farmácia. No HV encontra-se o centro cirúrgico constando de uma sala de preparação, três salas de cirurgia e sala pós-operatória. Na sala de cirurgia encontramos mesas e focos cirúrgicos, sondas endotraqueais e outros. Paralelamente encontra-se a farmácia do centro cirúrgico com materiais e medicamentos que atendem a este setor. Nos outros pavimentos do HV também estão dispostos o laboratório de análises clínicas e a sala de Raios-X. Ao lado da sala de Raios-X encontra-se a sala de esterilização de materiais. O HV ainda conta com salas para direção do hospital, sala para os residentes, cozinha e banheiros. 3 PLANO DE ESTÁGIO – ATIVIDADES REALIZADAS O estágio foi realizado no HV/EV/UFG no período de 15 de agosto a 20 de outubro de 2006, perfazendo uma carga horária total de 360h. No início do estágio foi traçado um plano de estágio com descrição das atividades a serem realizadas no período compreendido pelo mesmo (Quadro 1). QUADRO 1 - Plano de Estágio com a descrição das atividades desenvolvidas durante o período de Estágio Curricular Obrigatório ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO Acompanhamento de Pesquisas Acompanhamento de Seminários Atendimento Clínico de Pequenos Animais Cirurgia – Auxiliar no Pré, Trans e Pós Operatório Coleta de Material para Exames laboratoriais Receitas ou Prescrições Enfermaria Internação Interpretação de Exames laboratoriais Raios – X Ultrassonografia O estagiário tem a oportunidade de participar das atividades da clínica médica e clínica cirúrgica semanalmente, seguindo a escala efetuada no HV/EV/UFG. A rotina diária do Hospital Veterinário obedece rigorosamente a um procedimento cronológico. As atividades iniciam às 8h da manhã, com atualização dos prontuários, revisão e medicação dos animais internados no hospital. No ambulatório clínico o médico veterinário e os estagiários realizam a interpretação dos resultados da patologia clínica, ultrassonografia e radiologia. Por volta das 9h iniciam-se as atividades de atendimento ambulatorial, como retornos, consultas, coleta de materiais biológicos, raios-x, ultrassom, análises laboratoriais, internação, procedimentos cirúrgicos, dentre outros. 3.1 Clínica Médica Os animais são atendidos por ordem de chegada, onde os secretários abrem a ficha clínica do paciente, preenchendo os dados referentes à resenha e efetuando a pesagem dos animais. Então, estes são encaminhados ao consultório veterinário, onde os estagiários têm o primeiro contato com o cliente, realizando a anamnese e o exame físico do paciente. Posteriormente, o médico veterinário responsável observa as anotações efetuadas pelo estagiário e dando seqüência, realizam os procedimentos de pedido de exames complementares, encaminhamentos para a internação ou cirurgia, receituários e outros. Os casos clínicos e cirúrgicos que ocorreram nesse período estão citados na Tabela 1. TABELA 1 - Casos clínicos e cirúrgicos acompanhados no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFG (HV/EV/UFG) durante o período de estágio curricular PROCEDIMENTOS TOTAL Distúrbios do sistema tegumentar Dermatite de contato 2 Dermatofitose 1 Escabiose 1 Leishmaniose 1 Miíase 3 Pododermatite 1 Queimadura de testículo 1 Sarnas 4 Distúrbios do trato urinário Hiperplasia de próstata 1 Distúrbios dosistema reprodutivo Cesariana 2 Piometra 3 Tumor mamário 2 Tumor perianal 1 Tumor venéreo transmissível 3 Distúrbios do sistema respiratório Pneumonia 1 TABELA 1 - Casos clínicos e cirúrgicos acompanhados no HV/EV/UFG durante o período de estágio curricular (continuação) PROCEDIMENTOS TOTAL Distúrbios do sistema digestivo Doença periodontal 2 Fratura de dente canino superior direito com exposição de polpa 2 Fístula perianal 1 Hérnia perineal 1 Intoxicação alimentar 1 Intoxicação por chumbo 1 Úlcera estomacal 1 Distúrbios do sistema hemolinfático Hemoparasitose 16 Distúrbios músculo-esqueléticos Fratura de fêmur esquerdo e exposição de osso peniano 1 Luxação do cotovelo 1 Displasia coxo-femoral 1 Hérnia de disco 1 Lesão do ligamento cruzado cranial 1 Miosite com causa a definir 1 Osteíte 1 Oncologia Neoplasia de pâncreas com causa a definir 1 Tumor glandular 1 Doenças infecciosas Cinomose 7 Parvovirose 3 Outros Agressão física com cão 2 Atropelamento 1 Cardiopatia 2 Caquexia 1 Clostridiose 1 Eutanásia 8 Obesidade 2 Otohematoma 4 Transfusão sangüínea 4 Tenesmo 2 Vacinação 15 TOTAL 113 3.2 Clínica Cirúrgica Exceto em casos de emergência, os proprietários de todos os animais que serão submetidos há algum tipo de intervenção são recomendados a submeter seus referidos animais a jejum hídrico e alimentar total por oito a 12 horas previamente ao procedimento. Os animais são pesados momentos antes da cirurgia para que seja realizado um cálculo seguro do protocolo anestésico e os estagiários escalonados para a clínica cirúrgica têm a oportunidade de acompanhar os médicos veterinários nos procedimentos pré, trans e pós-cirúrgicos, bem como a oportunidade de acompanhar a evolução do quadro clínico do animal. Os procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o período de estágio curricular estão citados na Tabela 2. TABELA 2 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados no HV/EV/UFG durante o período do estágio curricular PROCEDIMENTOS TOTAL Sistema reprodutivo Cesariana 2 Mastectomia 3 Orquiectomia 5 Ovário-histerectomia 7 Sistema digestivo Obstrução intestinal 1 Outros Caudectomia 12 Otohematoma 2 TOTAL 32 4 ACOMPANHAMENTO DE PESQUISAS Por ocasião do estágio curricular obrigatório, além de exercer atividades no HV/EV/UFG, tive a oportunidade de participar de um grupo de pesquisas coordenado pelo professor do departamento de Clínica Cirúrgica Animal, Doutor Luiz Antônio Franco da Silva. Além de efetuar atividades de acompanhamento de casos clínicos e cirúrgicos na área de grandes animais, pude acompanhar visitas à fazenda da Escola de Veterinária, onde efetuamos diversas atividades práticas com grandes animais, coordenadas pelo professor Luiz Franco. Paralelamente, participei de atividades de confecção de artigos científicos, tendo oportunidade de escrever trabalhos científicos juntamente com toda a equipe de pesquisa, os quais foram enviados a diversos congressos e eventos de nível nacional e internacional e revistas científicas. 5 CASO CLÍNICO – OBSTRUÇÃO INTESTINAL 5.1 REVISÃO DE LITERATURA 5.1.1 Anatomia O intestino é um dos maiores órgãos do corpo animal, fazendo parte do segmento final do sistema digestivo. Sua função primordial baseia-se na absorção dos nutrientes ingeridos durante a dieta (Getty, 1986). O intestino inicia na porção caudal do piloro e termina no ânus. Anatomicamente está dividido em duas porções: intestino delgado (I.D.) e intestino grosso (I.G.). O I.D. é subdividido em duodeno, jejuno e íleo e o I.G. em ceco e cólon. O cólon por sua vez ainda é subdividido em três menores porções: cólon ascendente, cólon transverso e cólon descendente. O reto é uma continuação do cólon descendente, distribuído na cavidade pélvica (Dyce et al., 1997). A delimitação entre I.D. e I.G. é feita pela válvula íleocecal (Dyce et al., 1997). O I.D. tem as funções de digestão e absorção. A digestão consiste no processo de redução enzimática dos nutrientes nos seus componentes absorvíveis. Adicionalmente esse processo recebe o auxílio da secreção enzimática do pâncreas e dos ácidos biliares da bile (Getty, 1986). De acordo com Ferreira & Pachaly (2000) as principais funções do I.D. incluem mistura e propulsão do conteúdo luminal, absorção de água e íons, digestão e absorção de nutrientes, secreção de hormônios, dentre outras. A digestão e absorção de nutrientes ocorrem em três fases, incluindo a digestão intraluminal, digestão e absorção mucosais e liberação dos nutrientes obtidos para a circulação. A parede intestinal é constituída por diversos estratos, que da porção interna para a externa são denominados túnica mucosa, túnica submucosa, túnica muscular e túnica serosa. Cada um destes estratos possui particularidades que contribuem direta ou indiretamente na digestão e absorção de alimentos (Getty, 1986). O canal anal e o ânus formam a porção final do tubo intestinal que auxiliados pelos músculos esfíncter anal interno e esfíncter anal externo atuam na oclusão do segmento terminal do intestino (König & Liebich, 2004). O canal anal no cão apresenta três zonas distintas, denominadas zona colunar, zona intermediária e zona cutânea. Na zona intermediária estão dispostas as glândulas anais. Outra particularidade que os cães apresentam são as bolsas perianais, que são evaginações do reto onde o ducto excretor desemboca na zona cutânea e secundariamente na pele. A secreção de odor característico, usada para delimitar territórios próprios, é composta por formações sebáceas, serosas e descamações epiteliais. Freqüentemente ocorre inflamação dessas glândulas, desencadeando um sinal clínico caracterizado pela permanência do animal em posição sentada ou muitas vezes se arrastando. Tal fato está relacionado ao intenso prurido e irritação da região afetada (König & Liebich, 2004). 5.1.2 Definição de Obstrução Intestinal Vários fatores estão relacionados ao insucesso na digestão, absorção e eliminação de conteúdo do trato gastrintestinal pelo organismo (Ferreira, 1988). A Obstrução Intestinal é uma síndrome onde o conteúdo do I.D. e/ou do I.G. está prejudicado ou impossibilitado de chegar ao reto e ser eliminado pelo organismo (Faria, 2006). De acordo com Ferreira (1988) o termo obstrução pode ser definido como ato ou efeito de obstruir-se, determinando um impedimento parcial ou total do livre trânsito no interior de uma estrutura ou órgão. A obstrução intestinal é comumente relatada na clínica de pequenos animais, estando associada a enfermidades do sistema digestivo, alimentação, manejo inadequado dos animais, além das causas não relacionadas ao trato digestivo, porém, que atuam indiretamente na gênese dessa síndrome (Willard, 1998; Burrows et al., 2004). 5.1.3 Fisiopatologia Burrows et al. (2004) descreveram três causas principais da obstrução intestinal no cão, sendo elas a compressão extramural, obstrução funcional e obstrução intraluminal. A compressão extramural ocorre externamente ao intestino, prejudicando a passagem do alimento pelo trato intestinal. Pode ser resultado de aderências, hérnias, estrangulamento, intussuscepção, vólvulo, lesões murais, tumores (Linfoma, Adenocarcinoma, Leiomiossarcoma), granulomas inflamatórios, ficomicose, constrição/estenose, abscesso, hematoma e outros. A obstrução funcional ocorre quando há dano no sistema nervoso central, medular, doenças concomitantes e manejo inadequado, podendo ocorrer devido a uma inibição simpática, infiltração mural, moléstias neuromusculares, peritonites ou hipocalemia. A obstrução intraluminal ocorre no próprio intestino devido à presença de corpos estranhos lineares ou não lineares, pólipos e formações de massas tumorais. Corposestranhos tais como ossos, bolas, brinquedos, pedras, espigas, anzóis, panos, caroços, objetos lineares (como barbantes) e sacos plásticos, são exemplos comuns e acometem principalmente os animais jovens (Orsher & Rosin, 1998; Fossum, 2002; Stainki, 2004). Raramente ocorre obstrução intestinal em função de más formações congênitas. Porém, casos de estenose ou atresia intestinal e ligamento pancreaticojejunal anômalo já foram descritos por Burrows et al. (2004) como causas de obstrução intestinal em animais jovens. 5.1.4 Classificação As obstruções intestinais podem ainda ser classificadas quanto à localização, tempo, tipo e comprometimento vascular. Quanto à localização, podem ser caracterizadas em obstruções proximal, ocorrendo no I.D., mais comumente no duodeno e jejuno (até junção íleocecal) e distal, sendo esta observada no I.G., principalmente no cólon e reto. Quanto ao tempo de obstrução, classificam-se em aguda ou crônica, estando diretamente relacionada à duração dos eventos. Quanto ao tipo de obstrução e comprometimento vascular, cita-se a obstrução simples ou parcial, onde ocorre oclusão parcial do lúmen sem comprometimento da integridade vascular e obstrução completa ou estrangulada. Neste tipo de obstrução há comprometimento vascular do segmento obstruído, devido à oclusão total do lúmen intestinal (Birchard & Sherding, 2003). Fossum (2002) relatou que as obstruções parciais permitem a passagem limitada de fluido ou gás, enquanto as obstruções completas não permitem fluxo de nenhum conteúdo do trato alimentar. Na obstrução completa, a mucosa encontra-se sensível em virtude de uma perfusão insuficiente ou a uma anóxia, culminando em possível necrose do segmento intestinal afetado. Como conseqüência deste evento são comuns quadros de perfuração ou infarto e peritonite. Após a destruição da barreira mucosa, bactérias e endotoxinas passam transmuralmente para o interior dos vasos linfáticos e cavidade peritoneal, atingindo a circulação sistêmica, determinando um quadro de hipotensão com conseqüente choque séptico (Orsher & Rosin, 1998; Jergens & Willard, 2000 e Fossum 2002). A pressão intraluminal normal encontra-se em torno de 2 a 3 mmHg, sendo que esta pode aumentar gradualmente em casos de obstrução intestinal, principalmente próximo ao ponto de obstrução, em virtude do acúmulo de fluido e gás. Esta poderá atingir 30 mmHg causando estase linfática. Caso esta pressão se eleve a níveis iguais ou superiores a 50 mmHg, pode ocorrer estase na drenagem venosa levando à elevação da pressão hidrostática nos capilares, desviando o fluido líquido para o interstício causando edema da parede intestinal com posterior extravasamento para o peritônio. Este aumento de pressão também compromete a circulação na mucosa e submucosa com baixo aporte de oxigênio e isquemia seguida de necrose. A isquemia leva ao hipercrescimento de bactérias da flora intestinal produtora de toxinas como Escherichia coli, Clostridium spp., Enterococcus spp., Staphylococcus aureus coagulase positivo, prejudicando a barreira mucosa intestinal, aumentando a permeabilidade e possibilitando a migração de bactérias e absorção de toxinas na cavidade peritoneal e/ou circulação sistêmica (Fossum, 2002; Burrows et al., 2004). 5.1.5 Sinais Clínicos Birchard & Sherding (2003) relataram que quanto mais próxima ao piloro e quanto mais completa for uma obstrução, mais agudos e intensos serão os sinais clínicos. Obstruções proximais geralmente causam oclusão da saída gástrica resultando em vômito intermitente com perda de secreções gástricas e alcalose metabólica. Porém, Orsher & Rosin (1998) afirmou que animais com vômito podem apresentar pH normal ou ainda uma acidose metabólica. No entanto, deve-se saber que além do desequilíbrio ácido-básico ocorre o desequilíbrio eletrolítico, já que há uma intensa secreção de Sódio (Na+), Potássio (K+), Água (H2O), Cloreto (Cl-), Bicarbonato de Sódio (NaHCO3-) no segmento obstruído, predispondo o paciente a hipocalemia e resultando em queda de pressão osmótica. Conseqüentemente ocorre diminuição da transmissão do impulso nervoso, contração das fibras musculares e déficit no funcionamento da musculatura cardíaca (Case et al., 1998). As obstruções distais causam graus variáveis de acidose metabólica, com sinais clínicos vagos e vômitos ocasionais, porém resultará na distensão abdominal por líquidos e gases, sendo este achado muito comum. Anorexia, desidratação, depressão, dor abdominal, postura anormal, perda de peso, febre, diarréia ou fezes escassas e secas, além do choque, são também citados como sinais clínicos observados (Burrows et al., 2004). Willard (1998) e Stainki (2004) descreveram que vômito, hematêmese, hematoquesia, tenesmo, constipação, obstipação, perda de peso, anorexia, abdômen agudo, dor abdominal e distensão ou aumento de volume intestinal são alguns dos principais sinais clínicos relacionados à enfermidade intestinal. Levit & Bauer (1992), Orsher & Rosin (1998) e Jergens & Willard (2000) descreveram além dos sinais clínicos anteriormente mencionados a ocorrência de fezes mucóides sangüinolentas e palpação da massa abdominal em forma de salsicha. 5.1.6 Diagnóstico A anamnese, exame clínico geral e específico associados aos exames laboratoriais e os raios-X são os primeiros procedimentos que o médico veterinário utiliza em casos de suspeita da ocorrência de obstrução intestinal. Laboratorialmente, o hemograma e os perfis bioquímicos determinam o grau de hemoconcentração sangüínea, desidratação, desequilíbrio ácido-básico e hidroeletrolítico, entre outros. Na interpretação do hemograma, uma leucocitose com desvio nuclear neutrofílico regenerativo à esquerda (DNNRE) poderá ser indicativa de isquemia ou perfuração intestinal com peritonite (Fenner, 1982). O exame radiográfico simples pode ser utilizado na identificação, localização, consistência e tamanho da estrutura responsável pela obstrução, sendo esta um corpo estranho, massa tumoral ou fecalomas. A imagem radiográfica também poderá evidenciar alças intestinais dilatadas, auxiliando na identificação do local da obstrução (Fossum, 2002). Para Willard (1998) as radiografias simples são pouco proveitosas em animais com uma marcada efusão abdominal ou com diarréia crônica. A relação custo-benefício da radiografia é baixa, principalmente se o abdômen puder ser cuidadosamente palpado. Outro método comumente utilizado é a radiografia contrastada, podendo ser utilizado Sulfato de Bário como contraste. Nestes casos observa-se na área obstruída radiotransparescência com o contraste circunjacente delineando o corpo estranho (Elisson, 1996; Willard, 1998 e Fossum, 2002). Orsher & Rosin (1998) e Jergens & Willard (2000) mencionaram que a radiografia contrastada é normalmente necessária para estabelecer a diferenciação entre intussuscepção e outras causas de obstrução intestinal. Segundo Willard (1998) o vômito é a principal razão para realizar estudos contrastados da porção anterior do I.D. Obstruções proximais são mais fáceis de serem evidenciadas se o meio de contraste for administrado oralmente. Se houver suspeita de uma obstrução muito distal, utiliza-se o enema de bário como contraste radiográfico como método auxiliar de diagnóstico. A ultrassonografia também consiste em um método de diagnóstico de eleição, pois identifica claramente a presença de massas tumorais intra e extraluminais, corpos estranhos, fecalomas, aderências, estenoses e se há comprometimento de órgãos adjacentes (Fossum, 2002). Para Lamb & Mantis (1998) a ultrassonografia além de um excelente método diagnóstico das obstruções intestinais, possibilita a exploração do órgão em busca de fatores predisponentes concomitantes, além de determinar alterações nos tecidos moles e infiltrações. A endoscopia apresentarelação custo-benefício positiva quando os achados da radiografia e da ultrassonografia não permitem o diagnóstico em animais com vômito crônico, diarréia ou perda de peso. É considerado um excelente método para determinar alterações morfológicas, identificando massas, úlceras e obstruções com grande precisão (Willard, 1998). A tomografia computadorizada apesar de pouco utilizada em medicina veterinária como método de diagnóstico, recentemente, tem sido empregada para se diagnosticar enfermidades do trato gastrintestinal e obstruções intestinais. O exame do tubo digestivo permite a visualização da imagem tanto da luz, quanto de toda extensão serosa, embora a definição precisa das doenças freqüentemente dependa da correlação com os sinais clínicos apresentados pelo animal (Crespo et al., 2001). 5.1.7 Diagnóstico Diferencial Os sinais clínicos observados na obstrução intestinal não são patognomônicos para a enfermidade, sendo que o diagnóstico diferencial deve basear-se, principalmente, no histórico do animal, exame físico geral e específico de todo o trato digestivo e exames complementares poderão auxiliar no diagnóstico exato da enfermidade em questão (Burrows et al., 2004). De acordo com Fossum (2002) o diagnóstico diferencial inclui todas as outras causas de obstrução intestinal, tais como a intussuscepção, vólvulo/torção intestinal, encarceramento intestinal, obstipação intestinal, aderências, estenoses, abscessos, granulomas, hematomas, neoplasias ou más formações congênitas. Outras causas podem incluir íleo paralítico fisiológico secundário a inflamação (parvovirose ou peritonite). 5.1.8 Tratamento a) Tratamento Conservador É importante definir o tipo e localização da obstrução intestinal. Para corpos estranhos perfurantes como espinhas de peixe e agulhas de costura recomenda-se o tratamento conservador, monitorando-se atentamente o trajeto do objeto pelo trato gastrintestinal, por meio de avaliações radiográficas periódicas, observando sinais que poderão evidenciar um quadro de peritonite. A cirurgia não está inicialmente indicada para estes casos, pois, ainda que se localize o objeto por meio da imagem radiográfica, será difícil encontrá-lo por ocasião do ato cirúrgico (Fossum, 2002). b) Tratamento Medicamentoso Quando a obstrução intestinal ocorre devido a uma constipação intestinal, ocasionada pela presença de fecalomas no intestino, pode-se tentar realizar terapia medicamentosa no intuito de lubrificar o conteúdo do intestino e permitir que o mesmo possa ser deslocado até a porção final do reto e finalmente expelido do organismo (Birchard & Sherding, 2003). Vários fármacos podem ser utilizados na tentativa de se lubrificar os fecalomas, para que estes possam ser removidos do organismo sem a necessidade de uma intervenção cirúrgica. O Leite de Magnésio poderá ser utilizado para este fim, sendo recomendada a administração de uma colher de chá para cada cinco quilos de peso vivo. Os óleos de origem vegetal também caracterizam-se como opção, atuando como emolientes e muitas vezes solucionando o problema (Dammous et al., 2001). Willard (1998) recomendaram o uso de enemas, laxantes ou catárticos como terapia medicamentosa, na tentativa de desobstruir um segmento intestinal. Dentre os enemas citam-se, os de retenção, limpeza e hipertônicos. Os enemas de retenção são utilizados de modo que a substância administrada permaneça no cólon até exercer efeito desejado. Os animais obstipados podem necessitar de administrações freqüentes de moderados volumes de água (por exemplo, 20 a 200 mL, dependendo do tamanho do animal) para que esta permaneça no cólon e gradualmente amoleça as fezes. A distensão excessiva do cólon ou a administração de fármacos que possam ser absorvidos e causar efeitos indesejáveis devem ser evitadas. A suspeita ou a possibilidade de ruptura do cólon se constituem em contra-indicações para o uso de enemas (Willard, 1998). Os enemas de limpeza são destinados à remoção de material fecal, consistindo na administração repetida de grandes volumes de água morna (com ou sem sabão). A água é administrada por gravidade, a partir de um balde ou bolsa de água, mantidos acima do nível do animal. A sonda é introduzida em direção ao cólon. Cerca de 50 a 100 mL são tolerados pela maioria dos cães pequenos, 200 a 500 mL pelos cães de porte médio e um a dois litros pelos cães de grande porte. Deve-se tomar cuidado para evitar a distensão excessiva ou a perfuração iatrogênica do cólon (Willard, 1998). Os enemas hipertônicos são perigosos e devem ser utilizados de forma cautelosa, pois podem determinar deslocamento maciço e fatal de fluidos e eletrólitos (hiperfosfatemia, hipocalcemia, hipocalemia, hipercalemia). Deve ser evitado em animais obstipados que não podem eliminar o enema rapidamente (Willard, 1998). Os catárticos ou laxantes devem apenas ser utilizados para aumentar a defecação em animais que não estejam obstruídos, destacando-se os laxantes irritativos e formadores de volume (Fenner, 1982). Os laxantes irritativos estimulam a defecação mais propriamente do que amolecem as fezes. Um supositório de glicerina ou um palito de fósforo lubrificado normalmente são substitutos eficientes para um laxante irritativo (Fenner, 1982). Os laxantes formadores de volume e osmóticos compreendem uma variedade de preparações, incluindo as fibras, sulfato de magnésio, lactulose, sorvete ou leite. Estes promovem a retenção fecal de água, sendo indicados em animais que apresentam fezes excessivamente ressecadas, cuja causa não seja a ingestão de corpos estranhos. A lactulose é um exemplo de laxante osmótico bastante eficaz, sendo útil nos animais que se recusam a ingerir dietas com alto teor de fibras. A dose necessária para amolecer as fezes deve ser estabelecida para cada animal; no entanto de 0,5 a 5 mL podem ser administrados duas vezes ao dia (B.I.D.) ou três vezes ao dia (T.I.D.) para cães de pequeno e grande portes, respectivamente (Fenner, 1982). c) Tratamento Cirúrgico As intervenções cirúrgicas, quando indicadas, objetivam retirar a estrutura responsável pela obstrução do lúmen intestinal, utilizando todos os critérios necessários para evitar a contaminação da cavidade abdominal. Os procedimentos cirúrgicos empregados nestes casos baseiam-se em três técnicas principais, ficando estas a critério do cirurgião em função da avaliação quanto ao tipo de obstrução e grau de comprometimento das estruturas. Assim sendo, pode- se utilizar a enterotomia, enterectomia e entero-anastomose (Ellison, 1996; Orsher & Rosin, 1998; Fossum, 2002). - Pré-Operatório O momento cirúrgico depende do histórico, tipo de obstrução intestinal e estado geral do paciente. O ideal é que as intervenções sejam efetuadas rapidamente após elucidação do diagnóstico, com máximo de 12h, cabendo ao médico veterinário o bom senso (Burrows et al., 2004). O tratamento de obstrução baseia-se na remoção cirúrgica do conteúdo. Todavia, previamente a intervenção cirúrgica torna-se necessário realizar a correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, com solução salina e suplementação com cloreto de potássio, além de antibioticoterapia de amplo espectro por via intravenosa (I.V.), principalmente em pacientes com suspeita de endotoxemia ou perfuração intestinal (Burrows et al., 2004). A fluidoterapia é geralmente utilizada para o tratamento do choque, da desidratação e dos desequilíbrios ácido-básicos. A perda de conteúdo gástrico por vômito causa um quadro típico de alcalose metabólica hipocalêmica e hipoclorêmica. A perda de conteúdo intestinal tipicamente causa hipocalemia, acompanhada ou não de acidose (Willard, 1998). Ellison (1996) descreveu para animais metabolicamente acidóticos, fluidoterapia com solução de Ringer-lactato, podendo ser suplementada com NaHCO3.Já para animais hipocalêmicos também se justifica suplementação com K+. Segundo Orsher & Rosin (1998), a antibioticoterapia deve ser iniciada juntamente com a anestesia, mantendo-a por 24h, sendo sugerido o protocolo a base de Cefazolina (20 mg/kg I.V., perfazendo três doses com intervalos de 4h) e Gentamicina (4 mg/kg I.V., perfazendo três doses com intervalos de 8h). Contudo, Fossum (2002) e Birchard & Sherding (2003) recomendaram que se inicie a antibioticoterapia no mínimo 20-40min previamente ao ato cirúrgico, podendo ser utilizadas cefalosporinas de primeira geração (cefazolina 20 mg/kg I.V.) para intervenções no I.D. e cefalosporina de segunda geração (cefoxitina 15-30 mg/kg) para o I.G. Ellison (1996) indicou antibioticoterapia com bactericidas de amplo espectro na forma de aminoglicosídeos endovenosos, tais como a Gentamicina (2 mg/kg T.I.D.) e Cefalotina (10 mg/kg quatro vezes ao dia - Q.I.D.), além do uso de glicocorticóides, tais como o succinato de prednisolona (0,5-1,0 mg/kg I.V.) após a fluidoterapia. Os antagonistas prostaglandínicos não-esteróides, tais como a flunixina-meglumina (1,1 mg/kg I.V.) também podem ser benéficos para o tratamento do choque séptico e a peritonite bacteriana nos cães. Os animais poderão permanecer em jejum hídrico e alimentar por 12 a 18h antes da intervenção cirúrgica em pacientes adultos e de quatro a oito horas em pacientes pediátricos. Tal conduta só é válida para pacientes portadores de obstrução parcial e que estejam submetidos à internação e fluidoterapia parenteral (Ellison, 1996; Orsher & Rosin, 1998; Fossum, 2002). Recomenda-se a realização de tricotomia ampla em toda extensão da região ventral do animal e antissepsia com iodopovidine (Ellison, 1996; Orsher & Rosin, 1998; Fossum, 2002). - Anestesia Pacientes com obstrução, isquemia ou perfuração intestinal necessitam de protocolos anestésicos especiais, em função do alto risco do procedimento nestes pacientes, tendo em vista a debilidade, desidratação ou mesmo a eminência de choque. Para tais animais, evita-se o uso do óxido nitroso em virtude da influência deste fármaco no aumento do volume de ar preso nas vísceras corporais, o que prejudicaria mais a gravidade do caso (Ellison, 1996; Fossum, 2002). Para Massone (2003) dentre os protocolos citados como opção para pacientes portadores de obstrução entérica, destaca-se: pré-medicação com Sulfato de Atropina (0,02-0,04 mg/kg S.C. ou I.M.), Glicopirrolato (0,005-0,011 mg/kg S.C. ou I.M.) ou Butorfanol (5-15 µg/kg I.M.). A indução anestésica pode ser efetuada com o auxílio dos fármacos Tiopental (10-12 mg/kg I.V.), Propofol (4- 6 mg/kg I.V.) ou a associação do Diazepan com Cetamina (0,27 mg/kg + 5,5 mg/kg I.V.). Para manutenção anestésica utiliza-se preferencialmente os fármacos Isoflurano (1,5-2,5% I.V.) ou Halotano (0,5-1,5% I.V.). - Trans-Operatório Dentre as cirurgias para a correção de moléstias intestinais citam-se três procedimentos principais: Enterotomia, Enterectomia e Entero-anastomose. Para tal escolha cabe ao cirurgião discernimento em escolher o melhor método cirúrgico para cada caso (Ellison, 1996; Orsher & Rosin, 1998; Fossum, 2002). Na enterotomia objetiva-se a remoção de um corpo estranho, massa tumoral ou fecalomas em determinada localização, além de realizar colheita para obter material para biópsia, sendo que o procedimento deve ser realizado com o máximo de cautela para se evitar contaminação da cavidade abdominal, o que determinaria severas intercorrências (Orsher & Rosin,1998). Neste tipo de intervenção, alguns passos deverão ser seguidos. Primeiramente, faz-se uma incisão na linha média ventral, estendendo-se da cartilagem xifóide ao púbis. Aplicam-se tampões de laparotomia ou gazes umedecidos com solução salina nas bordas do ferimento e um afastador abdominal, com o intuito de isolar o segmento intestinal afetado (Ellison, 1996). Por ocasião da inspeção da cavidade bem como dos segmentos intestinais, observa-se a viabilidade dos mesmos após criteriosa avaliação. Em casos em que se observa isquemia, congestão ou mesmo presença de necrose da parede intestinal, deve-se realizar uma ressecção com posterior anastomose término-terminal ou término-lateral (Ellison, 1996). Para avaliar a viabilidade de um segmento de alça intestinal portadora de uma obstrução, diversas técnicas poderão ser utilizadas. Dentre estas se destacam o uso da eletromiografia, sondas de microtemperatura e outras. Porém, em muitas situações, estes procedimentos se mostram onerosos e conseqüentemente impraticáveis na rotina cirúrgica. Em contrapartida, técnicas como a da fluoresceína tem sido comumente citada pela literatura bem como aceita e praticada na rotina veterinária (Burrows et al., 2004). A fluoresceína é um corante biológico que emite cor verde dourada após dois a três minutos da injeção I.V., observado em luz ultravioleta em ambiente à penumbra. Na dose de 15 mg/kg permite visualizar sua perfusão no líquido extracelular, dando uma idéia mais precisa da viabilidade do segmento em questão (Burrows et al., 2004). Após avaliação da viabilidade das alças intestinais, retira-se o conteúdo intestinal remanescente de 10 cm de cada lado do corpo estranho, mantém-se o intestino entre os dedos do assistente ou com o auxílio de pinça intestinal de Doyen. Com uma lâmina de bisturi nº. 15, faz-se uma incisão longitudinal na borda antimesentérica do intestino, tendo o cuidado de praticá-la em tecido viável, imediatamente distal ao corpo estranho. Utiliza-se uma sucção contínua, por meio de um sugador cirúrgico, com o intuito de reduzir o extravasamento de conteúdo com conseqüente contaminação da cavidade. Paralelamente, o cirurgião empurra o corpo estranho suavemente até o ponto de abertura incisional, tendo-se o cuidado de não dilacerar as margens da incisão. Após esta manobra, efetua-se o exame criterioso da luz intestinal, investigando possíveis evidências de perfurações ou estenoses anteriores ao fechamento. Em diversos casos, como na ocorrência de corpos estanhos lineares devem ser realizadas diversas enterotomias (Ellison, 1996). O fechamento da incisão geralmente é feito com um padrão de sutura interrompida simples em uma forma longitudinal lado-a-lado. O importante em todos os casos é sempre abranger a submucosa por ocasião desta manobra. Tal fato está relacionado à rica presença de colágenos, o que determinaria melhor resistência na sutura. Também podem ser utilizadas técnicas de aproximação de camada única (aproximação interrompida simples ou de pressão). A sutura de Gambee modificada, que tem como característica a incorporação da serosa, muscular e submucosa, excluindo a mucosa é considerada útil na reversão da eversão da camada mucosa (Ellison, 1996). Também se pode fechar a enterotomia utilizando-se um padrão de aproximação contínuo simples. Porém, o extravasamento de conteúdo após efetuada uma sutura por ocasião de uma enterotomia, poderá ocorrer, principalmente em se tratando de pacientes hipoproteinêmicos e cronicamente debilitados. Tal fato estaria relacionado à dificuldade ou retardo de cicatrização dos ferimentos nestes animais. Nestes casos, a sutura em padrão Cushing inversor contínuo proporciona uma boa aproximação serosa com serosa com incremento de resistência (Ellison, 1996). A sutura nas enterotomias poderão ser feitas utilizando os fios de poliglactina 910, ácido poliglicólico ou polidioxanona sintéticos 3-0 ou 4-0, com uma agulha de corte reverso pequena e de extremidade afiada. Também podem ser utilizados materiais monofilamentares não-absorvíveis tais como o náilon ou polipropileno. Tem-se utilizado o categute cirúrgico cromado com sucesso clínico, mas este não é recomendado porque perde rapidamente sua força tênsil na presença da colagenase, sendo rapidamente fagocitado em ambiente infectado.Após se completar o fechamento da enterotomia, enxágua-se com uma solução salina aquecida a cavidade tendo o cuidado de recobrir com omento o segmento submetido à manipulação cirúrgica (Ellison, 1996; Staink, 2004). A enterectomia e a entero-anastomose objetivam remover o segmento intestinal inviável restaurando a continuidade intestinal com uma anastomose de extremidade com extremidade, preservando o diâmetro luminal e o suprimento sangüíneo tecidual (Orsher & Rosin, 1998). As anastomoses podem ser do tipo término-terminal, término-lateral ou látero-lateral cabendo ao cirurgião escolher a técnica mais adequada a ser empregada, analisando principalmente a incompatibilidade ou não entre os diâmetros (Stainki, 2004). - Pós-operatório e Complicações No pós-operatório deve-se manter o paciente em fluidoterapia I.V. até que retorne a ingestão de água espontaneamente. A suspensão de alimentos e água por 24h e o monitoramento quanto a uma possível peritonite, são condutas a serem seguidas nestes pacientes. Sinais de depressão, febre alta, sensibilidade abdominal excessiva, vômito e íleo paralítico podem ser consideradas intercorrências preocupantes (Fossum, 2002). Stainki (2004) recomendou como cuidados pós-operatórios, jejum total por 24h, jejum de sólidos por 72h, além de curativos locais e antibioticoterapia parenteral. Recomendou também, a remoção dos pontos de pele após decorridos dez dias do procedimento cirúrgico. Ellison (1996) recomendou a terapia de reposição I.V. hídrica e eletrolítica no período pós-operatório até que se estabilize a desidratação e as anormalidades ácido-básicas e eletrolíticas. Continuam-se por mais 24 a 48h os antibióticos parenterais que foram utilizados profilaticamente. Na ausência de vômito, oferece-se uma pequena quantidade de dieta inicial comercial suave T.I.D., 24h após a realização do procedimento cirúrgico. Para o autor, a introdução precoce do alimento teria a função de estimular a contração intestinal, reduzindo a probabilidade de formação de aderências ou de um íleo paralítico por ocasião do pós-operatório. O vômito, a febre e a leucocitose persistentes na presença de uma sensibilidade abdominal podem ser indicativos de peritonite. Nestes casos, recomenda-se, a realização de exames laboratoriais no intuito de se diagnosticar qualquer complicação pós-operatória. Caso se encontre exsudato, indica-se uma nova abordagem com exploração da cavidade. Outras complicações também podem ser observadas tais como, extravasamento de conteúdo para a cavidade, íleo paralítico, deiscência, perfuração, síndrome do intestino curto, recorrência, choque e óbito (Fossum, 2002). 5.1.9 Prognóstico Quando a obstrução intestinal é simples o prognóstico geralmente é favorável, desde que não se evidencie presença de peritonite séptica além de não haver necessidade de se realizar uma ressecção intestinal maciça. Se houver uma obstrução intestinal completa o prognóstico já se torna reservado, sendo necessário o rápido reconhecimento, bem como a pronta intervenção cirúrgica na tentativa de se evitar que o paciente venha a óbito (Burrows et al., 2004). 5.1.10 Profilaxia Devem-se adotar diversas medidas estratégicas na tentativa de se evitar que recidivas de obstrução intestinal venham a ocorrer. Os animais devem ser desverminados periodicamente para evitar parasitoses intestinais maciças que podem culminar em obstrução intestinal. O contato dos animais com lixos, caroços de frutas, objetos pequenos, pontiagudos, dentre outros, também devem ser evitados (Birchard & Sherding, 2003). O preparo criterioso da alimentação, evitando-se que os animais venham a ingerir grandes quantidades de gordura e alimentos de difícil digestibilidade também são condutas recomendadas, dando preferência para dietas balanceadas e ricas em fibras, contribuindo para o melhor trânsito intestinal (Birchard & Sherding, 2003). 5.2 RELATO DE CASO – RUPTURA INTESTINAL 5.2.1 Resenha 5.2.2 Anamnese O animal apresentado na Figura 1 foi atendido no Ambulatório Clínico do HV/EV/UFG apresentando tenesmo e hematoquesia há três dias, sendo que no dia anterior a consulta, passou a apresentar concomitantemente, anorexia, embora com normodipsia. O proprietário relatou que o animal iniciou o quadro apresentando episódios eméticos que foram contornados com a aplicação do antiemético Metoclopramida (T.I.D., V.O.), utilizado sem prescrição médico- Data: 19/09/06 Proprietário(a): Osvaldo Rodrigues Paciente: Júpiter Espécie: Canina Raça: Sem raça definida (S.R.D.) Sexo: Macho Idade: 11 anos e cinco meses Pelagem: Amarela Porte: Médio Peso: 12 kg FIGURA 1 - Júpiter, animal atendido no HV/EV/UFG com Obstrução Intestinal. veterinária. Também fez uso da antibioticoterapia com Ampicilina 500 mg (Q.I.D., V.O.) realizado aleatoriamente pelo proprietário. O proprietário também foi questionado quanto ao estado geral e comportamento do animal previamente a consulta, vacinações, vermifugações, ambiente, acesso à rua, alimentação, presença de ectoparasitas, alterações e doenças concomitantes. O proprietário mencionou que o animal foi submetido a um procedimento de orquiectomia há aproximadamente dois meses, em função de um tumor testicular. Relatou ainda aumento de peso corporal após a realização deste procedimento. O animal apresentava calendário vacinal regular, sendo vacinado anualmente com óctupla e anti-rábica (AR), além do mesmo ser desverminado semestralmente. O ambiente que o animal coabitava era constituído de cimento e terra e um canil de madeira com colchão de espuma. Não possuía acesso à rua e não havia presença de outros contactantes na residência. A alimentação do animal baseava-se em comida caseira e petiscos (queijo, leite, pão-de-queijo, bolacha, rosca, doces e outros). O animal apresentou quadro semelhante, há aproximadamente dois anos atrás, porém, o mesmo apresentou melhora clínica espontânea. 5.2.3 Exame Físico Ao exame físico os sinais vitais do animal foram: T - 39ºC; F.C. – 170bpm e F.R. 80mpm. As mucosas conjuntival, oral e peniana apresentavam-se ligeiramente hipocoradas. O cão apresentava grau de desidratação de 7%, taquipnéia, auscultação cardiopulmonar sem alterações e à palpação o abdômen apresentava-se tenso e abaulado. À avaliação do sistema tegumentar do animal não foram observadas alterações dignas de nota nem presença de ectoparasitas. 5.2.4 Suspeita Clínica Babesiose, Erliquiose, Constipação Intestinal. 5.2.5 Exames Complementares Foram solicitados exames laboratoriais, incluindo hemograma com pesquisa de hematozoários e bioquímica sérica para avaliação da função hepática e renal. 5.2.6 Prognóstico Reservado. 5.2.7 Terapêutica Sintomática Soro caseiro. O proprietário foi convidado a comparecer no HV/EV/UFG no dia seguinte para buscar o resultado dos exames laboratoriais e posterior reavaliação do animal. Data: 20/09/06 5.2.8 Interpretação dos Exames Complementares No dia 20/09/06 após nova avaliação do estado geral do animal constatou-se aumento do grau de desidratação (8-9%) e prostração do animal. Os resultados dos exames laboratoriais estão descritos a seguir: a) Hemograma e Bioquímicas Sérica As figuras 2 e 3 contêm informações referentes aos resultados dos exames laboratoriais efetuados. Após interpretação dos mesmos, observou-se apenas leve aumento nas concentrações séricas de Uréia e Alaninoaminotransferase (ALT). RESULTADO DE HEMOGRAMA Nº. Ficha Clínica:____________ Nome:____ Júpiter ____ Data:_19_/_09_/_06_ Espécie: CAN FEL Raça:___ S.R.D. ___ Sexo:M F Idade:11a5m_ Proprietário(a): _Osvaldo Rodrigues________________________________________________ Médico Veterinário: __Ygor Carvalho_______________________________________________ VALORES DE REFERÊNCIA ERITROGRAMA RESULTADO CAN FEL UND Hemácias 6,84 5,5-8,5 5,5-1,0 tera/L* Hematócrito 48,4 36-54 24-45 % Hemoglobina 15,4 12-18 8-15 g/dL VCM 71 60-77 39-55 fL HCM 22,6 19-23 13-17 g/dL CHCM 31,9 32-36 30-36 Pg Eritroblastos 0 0-1,5 0-1 /100 leucóc. Plaquetas 298 200-900 200- 500 giga/L* Obs.: ------------------ VALORES DE REFERÊNCIA LEUCOGRAMA RESULTADO CAN FEL UND REL ABS REL ABS REL ABS REL ABS Leucócitos 100 11,10 100 6-17 100 5,5-19,5 % X 103/mm3 Mielócitos 0 0 0 0 0 % /mm3 Metamielócitos 0 0 0 0 0 % /mm3 Bastonetes 07 0-3 0-510 0-3 0-580 % /mm3 Segmentados 69 60-77 3600-13090 35-75 1925-14625 % /mm3 Eosinófilos 02 2-10 120-1700 2-10 110-1950 % /mm3 Basófilos 0 raro raro raro raro % /mm3 Linfócitos 14 12-30 720-5100 20-55 1100-10725 % /mm3 Linfócitos Atípicos 0 0 0 0 0 % /mm3 Monócitos 08 3-10 180-1700 1-4 55-780 % /mm3 Plasmócitos 0 0 0 0 0 % /mm3 PESQUISA RESULTADO Hematozoários:___AUSENTES_______________________________ Inclusão Viral: ____________________________________________ Fibrinogênio: ___________________ mg/dL Observações: ____________________________________________ Unidade “tera” corresponde à 1012; unidade “giga” corresponde à 10 FIGURA 2- Resultado de Hemograma com pesquisa de Hematozoários do cão Júpiter, portador de obstrução intestinal (19/09/06) UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA HOSPITAL VETERINÁRIO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA RESULTADO DE BIOQUIMICA SANGÜÍNEA Nº. Ficha Clínica:____________ Nome:___Júpiter___ Data:__19__/_09__/_06__ Espécie: CAN FEL Raça:__S.R.D.___ Sexo: M F Idade: _11a5m__ Proprietário(a): _Osvaldo Rodrigues________________________________________________ Médico Veterinário: _Ygor Carvalho________________________________________________ Amostra (espécime clínico): _Soro Sangüíneo_____________________________________ VALORES DE REFERÊNCIA TESTES RESULTADO CAN FEL UND Uréia 37,0 5-35 14-32 mg/dL Creatinina 0,8 0,5-1,5 0,8-1,8 mg/dL AST ----- 13-40 26-43 UI/L ALT 62,0 10-50 10-80 UI/L Fosfatase Alcalina 20-150 25-93 UI/L GGT 1,2-6,4 1,3-5,1 UI/L CK 1,2-256 7,2-28,2 UI/L Observações ---------------- FIGURA 3- Resultado da Bioquímica Sérica do cão Júpiter, portador de obstrução intestinal (19/09/06) b) Raios – X Solicitou-se exame de raios-X de abdômen da posição latero-lateral. A interpretação da imagem radiográfica sugeriu presença de fecalomas compactos no I.G. do animal, localizados mais especificamente no cólon e reto. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA HOSPITAL VETERINÁRIO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA 5.2.9 Internação Diante da presença dos fecalomas e do quadro clínico do animal recomendou-se que o mesmo permanecesse internado no HV/EV/UFG para receber fluidoterapia com solução de Ringer com lactato (60 mL/kg), acrescido de 12 mL de solução hipertônica de glicose a 50% por via I.V. e antibioticoterapia a base de Ampicilina (25 mg/kg, T.I.D.), durante o dia em que o animal permaneceu internado. Paralelamente, instituiu-se lavagem colorretal com 500 mL de solução de Ringer simples misturada a óleo mineral duas vezes durante o dia em que o cão permaneceu internado, sendo uma aplicação do enema na parte da manhã, logo após internação do animal e o segundo enema, efetuado, ao final do dia. Porém, não se observou melhora considerável do paciente, pois, embora o animal tivesse recebido hidratação e nutrientes por via I.V., não houve sucesso com o protocolo adotado para a constipação que o animal apresentava, não sendo observada, portanto, evacuação do conteúdo intestinal. Mesmo diante desse quadro, protelou-se a intervenção cirúrgica do animal e ao final do dia o cão recebeu alta, sendo prescrita a utilização de óleo mineral (1 mL/Kg, V.O., B.I.D.), supositório de glicerina, soro caseiro à vontade e dieta à base de ameixa com mamão, afim de obter êxito na lubrificação e extração dos fecalomas pelo próprio organismo do animal. Data: 22/09/06 No dia 22/09/06, o proprietário compareceu com o paciente no HV/EV/UFG estando o mesmo debilitado, prostrado e com o abdômen apresentando-se abaulado e tenso. Após análise do quadro clínico, efetuou-se novamente lavagem colorretal com Ringer simples e óleo mineral. Foram utilizados cerca de 750 mL de solução de Ringer simples e óleo mineral, sendo esta difundida com grande facilidade pelo reto do cão. Porém, mesmo com a adoção do procedimento não se obteve resultado satisfatório. Diante do quadro da facilidade de difusão do enema e não resolução do caso clínico encaminhou-se o animal para cirurgia de emergência com suspeita de Ruptura Intestinal. 5.2.10 Tratamento Cirúrgico a) Pré- Operatório Como se tratava de um procedimento emergencial estando o paciente clinicamente instável, canulou-se a veia cefálica, por meio de cateter, instituindo- se fluidoterapia com solução de Ringer com Lactato. Posteriormente efetuou-se a tricotomia da região ventral do animal e antissepsia com iodopovine. - Anestesia Efetuou-se pré-anestesia com Sulfato de Atropina (0,04 mg/kg/I.M.) e após dez minutos promoveu-se a indução anestésica com Propofol em infusão contínua na dosagem de 0,4 mg/kg/h/I.V. b) Trans – Operatório Com o animal devidamente contido em decúbito dorsal, efetuou-se incisão cutânea retro umbilical na linha mediana. Após acesso a cavidade observou-se extravasamento de líquido de coloração esverdeada, sendo necessário uma abertura ampla da cavidade para melhor visualização do campo cirúrgico. Também se pôde constatar que parte deste líquido oriundo da cavidade constituía-se de fezes misturado com óleo mineral. Este achado implicou na necessidade de se efetuar a retirada deste conteúdo, sendo utilizado um sugador cirúrgico, retirando-se aproximadamente 1000 mL de conteúdo, conforme demonstram as Figuras 4 e 5, respectivamente. FIGURA 4 - Sugador cirúrgico utilizado para retirada de líquido intestinal presente no interior da cavidade abdominal. FIGURA 5 - Quantidade e aspecto do líquido retirado com auxílio do sugador na cavidade abdominal. Após a retirada do conteúdo efetuou-se sucessivas lavagens da cavidade abdominal com solução fisiológica 0,9% adicionada de clorexidine. Após esta manobra, promoveu-se a inspeção das alças intestinais com auxílio de afastadores de Farabeuf, no intuito de se localizar o local exato da ruptura intestinal. Durante a inspeção do trato entérico, observou intensa hiperemia de todo segmento intestinal. À medida que as alças intestinais iam sendo exteriorizadas, constantemente eram realizadas lavagens das mesmas com solução de cloreto de sódio a 0,9% a fim de se evitar o ressecamento e desvitalização. Após cautelosa inspeção diagnosticou-se o ponto de rompimento sendo ainda verificado um fecaloma na luz intestinal de aspecto rígido, sendo este removido, conforme observado na Figura 6. FIGURA 6 - Presença de fecaloma no interior do I.G., no local onde ocorreu a ruptura intestinal. Após exteriorização do segmento rompido, isolou-se o mesmo utilizando compressas e campos esterilizados a fim de se evitar um novo extravasamento de conteúdo para a cavidade (Figura 7). Seqüencialmente, removeu-se partes necrosadas das bordas intestinais rompidas, tendo em vista a coloração escurecidacompreendida neste foco, conforme observado na Figura 8. FIGURA 7 - Compressas esterilizadas protegendo a cavidade abdominal e pinçamento de segmento intestinal com pinça hemostática. FIGURA 8- Segmento intestinal congesto, hemorrágico e isquêmico devido ao tempo de ruptura intestinal e contaminação fecal. Após a ressecção, promoveu-se a enteroanastomose tipo término- terminal utilizando-se fio de sutura não absorvível a base de poliamida 4-0, por meio de sutura com pontos separados simples. Posteriormente, promoveu-se a omentalização. Realizou-se novamente lavagem da cavidade abdominal com solução fisiológica 0,9% adicionada de clorexidine (2,5%) e em seguida celiorrafia com fio de poliamida 2-0 em padrão separado tipo “X”, redução de espaço morto com poliamida 2-0 em padrão contínuo com pontos tipo Cushing e dermorrafia com fio de poliamida 4-0 e sutura em padrão contínuo, intradérmica. c) Pós-Operatório Após o procedimento cirúrgico o animal apresentava estado geral regular, com 37ºC de temperatura corporal. Porém, ainda na sala de recuperação o quadro clínico se tornou instável e o animal passou a apresentar queda de temperatura corporal e não retornava do plano anestésico. Realizou-se antissepsia da região da ferida cirúrgica com solução de iodopovidine 0,5% e curativos locais com bandagem de esparadrapo microfibra. Quando o animal apresentou estabilização da temperatura corporal em torno de 35,5ºC o mesmo foi colocado em uma baia na enfermaria, permanecendo internado e recebendo fluidoterapia a base de Ringer com Lactato, antibioticoterapia a base de Gentamicina (2 mg/kg/B.I.D./I.V.), Cefalotina (20 mg/kg/B.I.D./I.V.) e Metronidazol (20 mg/kg/B.I.D./I.V.); antiinflamatório - Flunixina Meglumina (1 mg/kg/B.I.D./I.M.); antiemético - Metoclopramida (0,2 mg/kg/B.I.D./I.V.); protetor de mucosa - Ranitidina (1 mg/kg/B.I.D./I.V.) e analgésico de ação central - Cloridrato de Tramadol (1 mg/kg/B.I.D./I.V.). Data: 23/09/2006 - Óbito No dia 23/09/06 o animal veio a óbito durante a noite em que fora realizado o procedimento (sexta para sábado). No plantão do fim de semana não foi possível realizar necropsia do animal para determinar de modo mais seguro a causa morte, devido já ter ultrapassado um período de 12h, estando o mesmo em autólise. O laudo apresentado para o óbito do animal foi de Choque Endotóxico. 5.3 DISCUSSÃO As alterações evidenciadas pelo proprietário, relatadas durante a anamnese, associadas ao exame clínico, revelaram como sinais predominantes anorexia, mucosas hipocoradas, êmese, tenesmo e hematoquesia. De acordo com Colomé et al. (2006) estes achados podem ser evidenciados em pacientes portadores de moléstias gastrintestinais, como em casos de obstrução intestinal, hemoparasitoses e neoplasias. Para os mesmos autores, a anorexia pode ser caracterizada por perda de apetite, geralmente associada a uma enfermidade. Willard (1998) relataram que eventos patogênicos, como a ingestão ou a produção endógena de toxinas, desidratação, hiperdistensão gástrica e a produção de ocitocinas durante a inflamação podem inibir a ingestão de alimentos via neurônios produtores de ocitocina ou vasopressina no hipotálamo. Estas informações estão de acordo com o referido caso clínico e podem explicar a anorexia relatada pelo proprietário por ocasião do atendimento do referido cão, tendo em vista que o paciente em questão apresentava-se com intensa desidratação aliada a uma considerável sensibilidade e distensão abdominal. Fenner (1982) relatou que a êmese envolve três estágios, sendo a náusea, ânsia de vômito e vômito. Em cada um destes estágios, ocorrem alterações na motilidade gastrintestinal. As conseqüências podem ser pneumonia por aspiração, depleção de volume e eletrólitos e desequilíbrio ácido-básico. Apesar do paciente não apresentar, por ocasião do exame clínico, sinais característicos de pneumonia, o vômito foi considerado um sinal importante no direcionamento das suspeitas clínicas. Burrows et al. (2004) também associaram o vômito aos sinais de obstrução intestinal. Para Willard (1998) o tenesmo alimentar caracteriza-se por tentativas freqüentes e muitas vezes improdutivas de defecar, sendo a hematoquesia um achado comum em casos de tenesmo. Burrows et al. (2004) associaram o tenesmo alimentar a moléstia colorretal, podendo ser causada por obstruções, afecções inflamatórias no cólon, reto e ânus, ou constipação intestinal. Estas informações também se mostraram importantes na conjectura da suspeita clínica do referido caso. Por ocasião do atendimento foi relatado pelo proprietário, que o animal era submetido à dieta desbalanceada e inapropriada, consistindo de comida caseira e petiscos. Estas informações foram importantes, tendo em vista a etiologia dos distúrbios que acometem o segmento digestivo dos cães. Concordando com o raciocínio desenvolvido no atendimento deste paciente, Birchard & Sherding (2003) também citaram que a dieta pode ser considerada um fator predisponente nos casos de obstrução intestinal, principalmente quando há relatos de nutrição desbalanceada, altos níveis de gordura e carboidratos. Tal fato determinaria maior tempo de trânsito intestinal, maior nível de absorção de água do bolo fecal, com conseqüente ressecamento excessivo das fezes, podendo culminar em possível obstrução intestinal. Os sinais vitais do cão estavam alterados por ocasião do exame físico. Observou-se aumento da temperatura corporal, mucosas hipocoradas, taquipnéia e taquicardia. Burrows et al. (2004) comentaram ser estes achados comuns em animais submetidos a exercícios físicos, dor e ansiedade. O animal em questão além de apresentar comportamento irracivo, demonstrava considerável sensibilidade durante a palpação abdominal. Estes fatores provavelmente contribuíram para as alterações observadas na avaliação do paciente. Devido a não conclusão do caso clínico, mesmo após efetuada a anamnese e exame físico, recorreu-se ao auxílio dos exames complementares, tais como o hemograma com pesquisa de hematozoários, bioquímica sérica com dosagem de uréia, creatinina, ALT e aspartatoaminotransferase (AST) e radiografia. Colomé et al. (2006) preconizaram em casos de suspeita de distúrbios intestinais a realização de exames complementares, tais como hemograma, radiografias e ultrassonografia. Willard (1998), porém, relataram que o exame radiográfico possui custo benefício baixo se o abdômen puder ser palpado com precisão. As suspeitas clínicas de hemoparasitoses levantadas por ocasião do primeiro dia de atendimento, baseadas na análise das mucosas conjuntival, oral e peniana, foram desconsideradas após a realização dos exames laboratoriais e posterior acompanhamento do caso clínico. No hemograma não se evidenciou sinais de anemia e não se encontrou hemoparasitas na pesquisa de hematozoários. Para Burrows et al. (2004) a avaliação da coloração das mucosas pode ser considerado um bom indicativo para a presença de hemoparasitas, porém para a conclusão do diagnóstico o hemograma e a pesquisa de hematozoários são essenciais. A interpretação dos exames laboratoriais sugeriu leve aumento relativo nos bastonetes e nos níveis de uréia e ALT sérica, o que não contribuiu para o diagnóstico do referido caso. De acordo com Silveira (1988) e Burrows et al. (2004) o aumento da uréia e ALT sérica isoladamente trás poucas informações e, portanto não desperta maiores preocupações. No caso clínico em questão a radiografia simples tornou-se elucidativa demonstrando presença de fecalomas no interior do I.G., principalmente no cólon distal e reto. Estas informações associadas ao histórico clínico do animal, anamnese e aos achados do exame físico foram essenciaisna confirmação da obstrução intestinal, como diagnóstico definitivo. Colomé et al. (2006) também fizeram referência as radiografias como método de diagnóstico elucidativo nos casos de obstrução intestinal. Os procedimentos adotados após confirmação do diagnóstico, incluíram fluidoterapia com Ringer com Lactato (60 mL/kg), solução hipertônica de glicose a 50% por via I.V. (12 mL) e antibioticoterapia a base de Ampicilina (25 mg/kg/T.I.D.). Para Willard (1998) a fluidoterapia se faz necessária nos casos em que o animal encontra-se desidratado e anoréxico. Viana (2003) mencionou as mesmas dosagens e vias de aplicação para cada medicamento adotado na internação do animal do caso clínico em questão. O uso da Ampicilina pôde ser justificado por este antibiótico corresponder a uma penicilina de 2ª geração e estender seu espectro de ação às bactérias gram-negativas, além das gram- positivas (Spinosa, 1996). Gomes (2007) relatou, porém que ao se instituir antibioticoterapia esta deve ser introduzida por certo período de tempo, porque ao uso abusivo de antimicrobianos contribui para a pressão seletiva dessas drogas, criando ambiente favorável às bactérias resistentes, além da indicação indiscriminada também estar incluída como fator que propicia a resistência bacteriana. Portanto no caso clínico em questão a antibioticoterapia deveria ter sido prescrita no momento da alta do animal e não ter sido utilizada no momento em que o animal permaneceu internado. Diniz et al. (2003) utilizaram no tratamento sintomático e de suporte em cão com suspeita de intussuscepção intestinal, apenas fluidoterapia a base de solução de Ringer com Lactato (60 mL/kg), acrescido de solução hipertônica de glicose a 50%, além de Omeprazol (0,7 mg/kg, uma vez ao dia), não fazendo referência a adoção de antibioticoterapia como terapêutica sintomática. Paralelamente realizou-se lavagem colorretal com 500 mL solução de Ringer simples e óleo mineral a fim de lubrificar a fezes e desfazer os fecalomas. Willard (1998) descreveram para animais de médio porte que sejam efetuadas entre 200 e 500 mL de enema em casos de obstrução intestinal. Ferreira & Pachaly (2000) citaram que os laxantes emolientes podem ser utilizados em casos de fecalomas, objetivando facilitar o trânsito e a eliminação das fezes. Estas informações dão respaldo a este último protocolo adotado durante o atendimento. Por ocasião do segundo dia de atendimento, após a adoção dos procedimentos clínicos e terapêuticos, o paciente recebeu alta, sendo indicado ao proprietário a administração de um supositório de glicerina por via retal com o intuito de auxiliar na eliminação do fecaloma, tendo em vista o insucesso da lavagem colorretal. Willard (1998) também citaram a introdução de supositório de glicerina ou palito de fósforo lubrificado no reto do animal com o intuito de estimular a defecação do mesmo. A dieta de ameixa com mamão prescrita para o animal está de acordo com os dados descritos por Izac (2006) mencionando a ação benéfica desses alimentos para o trato gastrintestinal, contendo boa quantidade de fibras, estimulando assim, o trânsito intestinal. Já no terceiro dia, após retorno do animal ao HV/EV/UFG estando o mesmo apático e prostrado, efetuou-se novamente a lavagem colorretal, utilizando o mesmo protocolo acima descrito. Porém, após administração de cerca de 750 mL de solução de Ringer simples e óleo mineral por via retal, não notou-se refluxo do mesmo. Por ocasião de nova introdução do enema a quantidade indicada para animais de médio porte foi estrapolada conforme já anteriormente mencionado por Willard (1998), podendo ocorrer, nesses casos, ruptura intestinal devido a grande compressão efetuada na parede intestinal fragilizada. De acordo com os mesmos autores, o enema passa a ser difundido com facilidade pelo organismo do animal, além de não ser observado refluxo do mesmo. Portanto baseado nos relatos dos autores e na evolução do quadro clínico do animal encaminhou o mesmo para a cirurgia com suspeita de ruptura intestinal. Quadro semelhante foi descrito por Carvalho (2005) trabalhando com um cão de três meses da raça boxer portador de obstrução seguida de ruptura intestinal. Após esta avaliação, o paciente foi encaminhado, em caráter de urgência, para procedimento cirúrgico. Willard (1998) citaram que nos casos de obstrução intestinal simples, a estabilização do paciente e a reidratação são condutas a serem adotadas previamente ao ato cirúrgico, desde que não se trate de casos emergenciais, como nos casos de rupturas intestinais. Efetuou-se pré-anestesia com Sulfato de Atropina (0,04 mg/kg/I.M.) e indução anestésica com Propofol em infusão contínua (0,4 mg/kg/h/I.V.), seguindo as recomendações de Massone (2003) e Viana (2003) para as dosagens anestésicas e as vias de aplicação. Ellison (1996) e Fossum (2002) também descreveram os mesmo protocolos anestésicos para cirurgias intestinais, porém citaram o Propofol na indução anestésica, efetuando-se manutenção com Isoflurano (1,5-2,5%) ou Halotano (0,5-1,5%). Ao efetuar a incisão mediana retro-umbilical na linha alba observou-se extravasamento de líquido de coloração esverdeada oriundo da cavidade abdominal, concluindo a suspeita de ruptura intestinal. A fim de permitir a visualização do segmento danificado, utilizou-se um sugador cirúrgico na remoção deste líquido. Com a adoção deste método removeu-se, aproximadamente, 1000 mL de líquido intrabdominal misturado a fezes e óleo mineral. Burrows et al. (2004) relataram que o encontro de líquido na cavidade abdominal advinda de perfuração do trato alimentar, lesões causadas por neoplasias, intussuscepção, corpos estranhos e deiscência do fio de sutura podem resultar em uma peritonite séptica. Concordando com Orsher & Rosin (1998) que descreveram à importância de incisão ampla em casos de ruptura intestinal, hemorragias, deiscência de suturas, facilitando a visualização do campo cirúrgico para solucionar com maior eficácia e ter menores riscos de complicações, no caso clínico em questão a incisão precisou ser ampliada para que fosse possível visualizar exatamente o local onde ocorreu a ruptura intestinal. Esta manobra permitiu não só a melhor visualização do campo cirúrgico como a correção cirúrgica. Após promovida a retirada do líquido da cavidade abdominal efetuou- se o isolamento do segmento lesionado. Seqüencialmente, sucessivas lavagens intrabdominais foram realizadas utilizando-se solução fisiológica a 0,9% e clorexidine (2,5%). Silva et al. (2001) relataram que a lavagem da cavidade abdominal com solução salina 0,9% é uma prática comum em cirurgia geral do trato gastrintestinal, porém chamaram a atenção para o aquecimento da solução utilizada, fato este não efetuado no presente atendimento. Carvalho (2005) deparando-se com quadro semelhante de ruptura intestinal, também realizou lavagem da cavidade abdominal com solução fisiológica a 0,9% adicionada a solução de clorexidine. Após as manobras descritas, protegeu-se a cavidade utilizando compressas e campos cirúrgicos esterilizados. Posteriormente, efetuou-se a ressecção das bordas intestinais desvitalizadas e anfractuosas. Ellison (1996), Orsher & Rosin (1998) e Fossum (2002) descreveram a importância do isolamento do intestino por meio de compressas esterilizadas e tampões de laparotomia, evitando contaminação adicional e o surgimento de intercorrências pós-operatórias. Levit & Bauer (1992) e Orsher & Rosin (1998) mencionaram a enterectomia seguida da entero-anastomose quando não houver viabilidade do segmento intestinal acometido. A anastomose foi do tipo término-terminal utilizando-se a poliamida 4-0 como fio de sutura em padrão separado simples. Após a síntese do segmento danificado, promoveu-se a fixação do omento sobre a linha de sutura. Porém, Goffi (1997) analisando anastomoses
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