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Unidade II ESTUDOS DISCIPLINARES MICHEL FOUCAULT: PODER, DISCIPLINA E BIOPOLÍTICA Profa. Sofia Osório Poder pastoral As técnicas e os procedimentos que compõem o exercício do poder de Estado podem ser lidos como redimensionamentos da técnica cristã do poder pastoral. Governo das almas e das condutas: problema da pastoral católica e protestante. Poder pastoral: objetiva a salvação da alma após a morte; o pastor ordena, mas também está pronto para o sacrifício pela salvação do rebanho (oposição à soberania); preocupa-se com o conjunto da comunidade (rebanho) e com cada indivíduo particularmente; necessita da confissão: o pastor precisa conhecer a consciência do indivíduo para poder dirigi-la. Poder pastoral “Não basta saber em que estado encontra-se o rebanho. Também é preciso conhecer o estado de cada ovelha [...]: o pastor tem que estar informado sobre as necessidades materiais de cada membro de seu rebanho e atendê-las sempre que necessário. Tem que saber o que está acontecendo, o que faz cada ovelha – seus pecados públicos. Finalmente, mas não menos importante, tem que saber o que se passa na alma de cada uma delas, ou seja, conhecer seus pecados secretos, seus progressos na estrada da santidade.” Poder pastoral Na concepção de poder político da Grécia Antiga, a sobrevivência da cidade dependia do sacrifício de seus cidadãos. O pastorado cristão introduz a ideia de “mortificação” nesse mundo com vistas à vida no outro mundo: o indivíduo renuncia ao mundo terreno e a si mesmo em nome da salvação de sua alma. “Nossas sociedades [...] conseguiram combinar esses dois jogos – o da cidade-cidadão e o do pastor-rebanho – naquilo que convencionamos chamar Estados modernos.” Poder pastoral Estado moderno: novo poder pastoral Salvação neste mundo: saúde, bem-estar, segurança etc. Funções pastorais são exercidas por diferentes instituições (polícia, hospitais, escolas, medicina, família etc.). Saber sobre o homem é ao mesmo tempo globalizante/ quantitativo (população) e analítico (indivíduo). Poder pastoral “O poder pastoral, que tinha sido ligado, durante séculos, a uma instituição religiosa bem particular, estendeu-se, de repente, ao conjunto do corpo social; ele encontrou apoio em uma multidão de instituições. E, em vez de ter um poder pastoral e um poder político mais ou menos rivais, viu-se desenrolar uma tática individualizante, característica de toda uma série de poderes múltiplos: o da família, da medicina, da educação, dos empregados etc.” Estado moderno A emergência do Estado moderno e seu exercício de poder como atualização do poder pastoral cristão também se relaciona com a passagem (não necessariamente substituição) da sociedade de soberania para a sociedade disciplinar. Interatividade Identifique a alternativa incorreta: a) Para Foucault, o exercício de poder de Estado é composto pelo redimensionamento da técnica cristã do poder pastoral. b) O poder pastoral se volta simultaneamente ao rebanho todo e a cada indivíduo em particular. c) O poder pastoral cristão tem como objetivo a salvação da alma após a morte. d) O novo poder pastoral (tecnologia de governo exercido no Estado moderno) objetiva a salvação neste mundo. e) As funções pastorais no Estado moderno são exercidas por uma única instituição. Resposta Identifique a alternativa incorreta: a) Para Foucault, o exercício de poder de Estado é composto pelo redimensionamento da técnica cristã do poder pastoral. b) O poder pastoral se volta simultaneamente ao rebanho todo e a cada indivíduo em particular. c) O poder pastoral cristão tem como objetivo a salvação da alma após a morte. d) O novo poder pastoral (tecnologia de governo exercido no Estado moderno) objetiva a salvação neste mundo. e) As funções pastorais no Estado moderno são exercidas por uma única instituição. Sociedade de soberania O poder soberano se volta à terra e aos seus produtos (sociedade feudal). Exerce-se descontinuamente, por meio de sistemas de taxas e obrigações. “O poder era, antes de tudo, nesse tipo de sociedade, direito de apreensão das coisas, do tempo, dos corpos e, finalmente, da vida; culminava com o privilégio de se apoderar da vida para suprimi-la.” Fazer morrer e deixar viver – o soberano tem direito de vida e morte sobre seus súditos, podendo determinar sua execução quando houver risco à soberania. Manter a existência jurídica do soberano. Sociedade de soberania “A finalidade da soberania é circular, isto é, remete ao próprio exercício da soberania. O bem é a obediência à lei, portanto, o bem a que se propõe a soberania é que as pessoas obedeçam a ela.” Sociedade disciplinar O poder disciplinar se volta aos corpos e aos seus atos. Exerce-se de maneira contínua por meio da vigilância. É uma das grandes invenções da sociedade burguesa (efeito das revoluções liberais). Poder disciplinar Instrumentos do poder disciplinar: 1. Vigilância hierárquica: distribuição dos corpos no espaço que torna possível um poder do “ver sem ser visto” – panoptismo (séc. XVIII). 2. Sanção normalizadora: “Para a disciplina não se trata nem de expiar a culpa nem de reprimir, mas de referir as condutas do indivíduo a um conjunto comparativo, em diferenciar os indivíduos, medir capacidades, impor uma ‘medida’, traçar a fronteira entre o normal e o anormal. [...] Enquanto a lei separa e divide, a norma, por sua vez, pretende homogeneizar. [...] para ela, castigar é corrigir” (Edgardo Castro) 3. Exame: “Técnica que combina o olhar hierárquico que vigia com a sanção normalizadora” (Edgardo Castro). Interatividade Indique alternativa incorreta: a) O poder soberano se volta à terra e aos seus produtos. b) O poder soberano culmina com o privilégio do soberano em se apoderar da vida dos súditos. c) Na sociedade de soberania está em jogo manter a existência jurídica do soberano. d) O poder disciplinar se exerce de forma descontínua por meio de um sistema de taxas e obrigações. e) Os instrumentos do poder disciplinar são a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o exame. Resposta Indique alternativa incorreta: a) O poder soberano se volta à terra e aos seus produtos. b) O poder soberano culmina com o privilégio do soberano em se apoderar da vida dos súditos. c) Na sociedade de soberania está em jogo manter a existência jurídica do soberano. d) O poder disciplinar se exerce de forma descontínua por meio de um sistema de taxas e obrigações. e) Os instrumentos do poder disciplinar são a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o exame. Sociedade disciplinar Fazer viver e deixar morrer – investimentos em saúde, bem-estar e segurança objetivam garantir a vida dos sujeitos tanto quanto possível. Garantir a existência biológica da população. Disciplina e biopolítica Na sociedade disciplinar, o poder de morte “apresenta-se agora como o complemento de um poder que se exerce, positivamente, sobre a vida, que empreende sua gestão, sua majoração, sua multiplicação, o exercício, sobre ela, de controles precisos e regulações de conjunto. As guerras já não se travam em nome do soberano a ser defendido; travam-se em nome da existência de todos; populações inteiras são levadas à destruição mútua em nome da necessidade de viver”. Disciplina e biopolítica “Agora é sobre a vida e ao longo de todo o seu desenrolar que o poder estabelece seus pontos de fixação; a morte é o limite, o momento que lhe escapa.” A emergência da noção de população e da instituição polícia. Administração dos corpos e gestão calculista da vida. A entrada da vida no campo das técnicas políticas; a existência biológica se reflete no político: emergência da biopolítica. Polícia Séculos XVI e XVII: polícia – conjunto de novos domínios em que o poder político poderia intervir (religião,saúde, provisões, segurança pública, artes liberais, fábricas, comércio...). “A polícia vela por tudo que regulamenta a sociedade (as relações sociais). [...] vela por tudo que é vivo. [...] A vida é o objeto da polícia: o indispensável, o útil e o supérfluo. Cabe à polícia fazer os homens sobreviver, viver e fazer melhor ainda.” Polícia “A polícia engloba tudo. Só que de um ponto de vista muito específico. Os homens e as coisas são considerados a partir de suas relações: a coexistência dos homens num determinado território, suas relações do ponto de vista da propriedade; o que produzem; o que é trocado no mercado. Ela também leva em conta o modo como eles vivem, as enfermidades e acidentes que os ameaçam. A polícia zela por um homem vivo, ativo e produtivo.” Trata-se de governar a vida dos cidadãos e, com isso, favorecer a saúde do Estado. Interatividade Identifique a alternativa incorreta: a) Na sociedade disciplinar interessa garantir a existência biológica da população. b) O poder disciplinar volta-se à morte do indivíduo. c) A noção de população emerge na sociedade disciplinar. d) A emergência da biopolítica diz respeito à entrada da vida no campo das técnicas políticas. e) Investimentos em saúde, segurança e bem-estar são característicos da sociedade disciplinar. Resposta Identifique a alternativa incorreta: a) Na sociedade disciplinar interessa garantir a existência biológica da população. b) O poder disciplinar volta-se à morte do indivíduo. c) A noção de população emerge na sociedade disciplinar. d) A emergência da biopolítica diz respeito à entrada da vida no campo das técnicas políticas. e) Investimentos em saúde, segurança e bem-estar são característicos da sociedade disciplinar. Biopoder O biopoder: esse poder que se volta para a vida se desenvolveu em duas formas principais: Corpo-máquina: o investimento no corpo de cada indivíduo para extrair o máximo de sua força com vistas à produção de bens e riquezas, deixando pouca energia para o engajamento político – corpo útil e dócil. Isso é “assegurado por procedimentos de poder que caracterizam as disciplinas” (século XVII). “A disciplina tenta reger a multiplicidade dos homens na medida em que essa multiplicidade pode e deve redundar em corpos individuais que devem ser vigiados, treinados, utilizados, eventualmente punidos”. Biopoder Corpo-espécie: a emergência da estatística para auferir dados sobre natalidade, mortalidade, proliferação de doenças. O objetivo é controlar e regular a população (século XVIII). Essa tecnologia de poder “se dirige à multiplicidade dos homens, não na medida em que eles se resumem em corpos, mas na medida em que ela forma, ao contrário, uma massa global, afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, que são processos como o nascimento, a morte, a produção, a doença etc.” Paradoxos do biopoder Poder atômico – excesso de poder soberano sobre o biopoder: “[...] no poder de fabricar a utilizar a bomba atômica, temos a entrada em cena de um poder de soberania que mata, mas, igualmente, de um poder que é o de matar a própria vida”. Fabricação de vida – excesso de biopoder sobre o direito soberano: “aparece quando a possibilidade técnica e politicamente é dada ao homem , não só de organizar a vida, mas de fazer a vida proliferar, de fabricar algo vivo, de fabricar algo monstruoso, de fabricar – no limite – vírus incontroláveis e universalmente destruidores”. Racismo de Estado Que é o racismo? Um meio de introduzir esse domínio da vida um corte: “um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”. “Tirar a vida, o imperativo da morte, só é admissível, no sistema do biopoder, se tende não à vitória sobre os adversários políticos, mas à eliminação do perigo biológico e ao fortalecimento, diretamente ligado a essa eliminação, da própria espécie ou da raça.” “Tirar a vida não entende simplesmente o assassínio direto, mas também tudo o que pode ser assassínio indireto: o fato de expor à morte, de multiplicar para alguns riscos de morte ou, pura e simplesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição.” Também o genocídio colonizador. Biopolítica As análises de Foucault mostram como o ponto máximo dessa biopolítica se apresenta justamente no nazismo. Por meio de suas políticas eugenistas, o nazismo levou à máxima potência o objetivo do Estado como garantidor da vida de sua população. Assim, entendemos que o nazismo não foi simplesmente uma aberração histórica inventada por Hitler, mas a expressão do paroxismo da biopolítica: em nome da vida da população ariana e seu aperfeiçoamento como raça, operou-se a execução de milhares de pessoas (não só pelo pertencimento a determinado grupo étnico, mas também por que era considerado como desvios anatômicos, biológicos, psicológicos e psiquiátricos). Sujeito e poder A sociedade disciplinar é aquilo que já não somos. Interatividade Identifique a alternativa correta: a) O biopoder se volta à consciência do indivíduo. b) Por meio da disciplina, objetiva-se a constituição de corpos úteis e dóceis. c) A estatística surge para entender os processos biológicos que afetam cada indivíduo particularmente. d) Segundo Foucault, o nazismo foi a negação da biopolítica. e) O biopoder se volta, principalmente, ao corpo-máquina e ao ecossistema. Resposta Identifique a alternativa correta: a) O biopoder se volta à consciência do indivíduo. b) Por meio da disciplina, objetiva-se a constituição de corpos úteis e dóceis. c) A estatística surge para entender os processos biológicos que afetam cada indivíduo particularmente. d) Segundo Foucault, o nazismo foi a negação da biopolítica. e) O biopoder se volta, principalmente, ao corpo-máquina e ao ecossistema. ATÉ A PRÓXIMA!
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