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Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 1 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda Miomas Uterinos ORIGENS DOS MIOMAS UTERINOS Os miomas são tumores monoclonais benignos das células musculares lisas do miométrio e contêm grandes agregados de matriz extracelular constituídos de colágeno, elastina, fibronectina e proteoglicanos. Também são conhecidos como: leiomiomas ou fibromas/ fibromiomas uterinos. INCIDÊNCIA Os miomas são muito comuns. A coleta aleatória de amostras de mulheres de 35 a 49 anos – submetidas a exame de rastreamento por declaração da própria paciente, análise do prontuário e US – constatou a incidência de mioma de 60% nas mulheres negras com idade aproximada de 35 anos e maior que 80% aos 50 anos. A incidência em mulheres brancas foi de 40% aos 35 anos e quase 70% aos 50 anos. ETIOLOGIA Embora não se conheçam as causas precisas do aparecimento dos miomas, houve avanços na compreensão da biologia molecular desses tumores benignos e de seus fatores hormonais, genéticos e de seu crescimento. GENÉTICA Os miomas são monoclonais, e cerca de 40% apresentam anormalidades cromossômicas que incluem translocações entre os cromossomos 12 e 14, deleções do cromossomo 7 e trissomia do cromossomo 12. As anormalidades cromossômicas são mais prováveis em miomas multicelulares, atípicos e grandes. Os outros 60% podem ter mutações ainda não detectadas. Mais de 100 genes têm a atividade aumentada ou diminuída em células de miomas. Muitos desses genes parecem regular o crescimento, a diferenciação, a proliferação e a mitogênese das células. As fibras de colágeno tipos I e III são abundantes, mas encontram-se desorganizadas, muito semelhante ao colágeno encontrado em queloides. As diferenças genéticas entre miomas e leiomiossarcomas (LMS) indicam que os LMS não são causados por degeneração maligna de miomas. A análise de agrupamentos de 146 genes constatou que a maioria tem a expressão diminuída em LMS, mas não em miomas ou no miométrio normal. A hibridização genômica comparativa não constatou anomalias específicas comuns a miomas e LMS. HORMÔNIOS Tanto o estrogênio quanto a progesterona parecem promover o surgimento de mioma. Os miomas raramente são observados antes da puberdade, são mais prevalentes durante a idade reprodutiva e regridem após a menopausa. Fatores que aumentam a exposição geral ao estrogênio ao longo da vida, como obesidade e menarca precoce, elevam a incidência. A menor exposição ao estrogênio, observada nas mulheres tabagistas, que se exercitam e que possuem maior número de filhos, tem efeito protetor. Os níveis séricos de estrogênio e progesterona são semelhantes em mulheres com e sem miomas detectáveis ao exame clínico. No entanto, em razão dos elevados níveis de aromatase nos miomas, a produção de “novo” estradiol é maior que no miométrio normal. A progesterona é importante na patogenia dos miomas, que têm maior concentração de receptores da progesterona A e B que o miométrio normal. O maior número de mitoses é encontrado em miomas no pico de produção de progesterona. Os agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) diminuem o tamanho dos miomas, mas a administração concomitante de um progestágeno e GnRH impede essa diminuição. FATORES DE CRESCIMENTO Fatores de crescimento, proteínas ou polipeptídios, produzidos no próprio local por células musculares lisas e fibroblastos, parecem estimular o crescimento do mioma basicamente por aumento da matriz extracelular. Muitos desses fatores de crescimento têm a expressão aumentada em miomas e intensificam a proliferação de músculo liso (fator transformador de crescimento-β [TGF-β], fator básico de crescimento de fibroblastos [bFGF]), aumentam a síntese de DNA (fator de crescimento epidérmico [EGF], fator de crescimento derivado das plaquetas [PDGF]), estimulam a síntese de Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 2 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda matriz extracelular (TGF-β), promovem a mitogênese (TGF-β, EGF, fator de crescimento similar à insulina [IGF], prolactina [PRL]) ou promovem a angiogênese (bFGF, fator de crescimento endotelial vascular [VEGF]). FATORES DE RISCO Embora o viés de seleção possa limitar estudos epidemiológicos, consideram-se os fatores de risco adiante. IDADE A incidência de mioma eleva-se com a idade: 4,3 por 1.000 mulheres-ano de 25 a 29 anos e 22,5 de 40 a 44 anos. Os miomas surgem mais cedo em mulheres negras que em brancas. FATORES HORMONAIS ENDÓGENOS A maior exposição aos hormônios endógenos, como a que ocorre na menarca precoce (antes de 10 anos), aumenta a probabilidade de mioma, e a menarca tardia diminui essa probabilidade. Os miomas são menores, menos numerosos e têm células menores em amostras de histerectomia de mulheres na pós- menopausa, quando os níveis endógenos de estrogênio são baixos. HISTÓRIA FAMILIAR O risco de ter mioma é 2,5 vezes maior nas mulheres com alguma parente em primeiro grau com mioma. Segundo relatos, gêmeas monozigóticas são hospitalizadas para tratamento de mioma com maior frequência que gêmeas heterozigotas, mas esses achados podem ser consequência de viés de relato. RAÇA O risco de ter mioma é 2,9 vezes maior em mulheres negras que em brancas, sem relação a outros fatores de risco conhecidos. Nas mulheres negras, os miomas ocorrem mais cedo e são mais numerosos, maiores e mais sintomáticos. Não está claro se essas diferenças são genéticas ou consequência de diferenças conhecidas dos níveis circulantes de estrogênio, do metabolismo do estrogênio ou de fatores ambientais. PESO Um estudo prospectivo observou aumento de 21% do risco de ter mioma a cada 10 kg de aumento de peso e associado à elevação do índice de massa corporal (IMC). A obesidade aumenta a conversão de androgênios suprarrenais em estrona e diminui a globulina de ligação de hormônios sexuais. O resultado é a elevação do nível de estrogênio biologicamente ativo, o que pode explicar o aumento da prevalência e/ou crescimento de miomas. ALIMENTAÇÃO A dieta rica em carne bovina, outras carnes vermelhas e presunto elevou a incidência de mioma, ao passo que a alimentação rica em folhas verdes diminuiu esse risco. No entanto, é difícil interpretar esses achados, uma vez que não se avaliou a ingestão de calorias e gordura. EXERCÍCIO FÍSICO Ter mioma foi bem menos provável em mulheres que realizavam mais atividade física (cerca de 7 h por semana) que nas mulheres que se exercitavam menos (em período inferior a 2 h por semana). CONTRACEPTIVOS ORAIS Não há relação definida entre CO e mioma. Houve relato de aumento do risco de ter mioma com o uso de CO; no entanto, um estudo subsequente não observou aumento do risco associado ao uso nem à duração de uso. Pesquisas em mulheres com mioma e usuárias de CO não mostraram maior crescimento dos mesmos. A formação de novos miomas e o crescimento não parece ser influenciada pelo uso de CO. TERAPIA HORMONAL NA MENOPAUSA Na maioria das mulheres pós-menopausa com mioma, a terapia hormonal não estimula o crescimento dele. Se os miomas crescerem, a progesterona é a provável causa. Um estudo avaliou mulheres na pós-menopausa com mioma tratadas com 2 mg/dia de estradiol oral e selecionadas de maneira aleatória para tratamento com 2,5 ou 5 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona (AMP). Um ano após o início do tratamento, 77% das mulheres tratadas com 2,5 mg de AMP não apresentavam alteração ou apresentavam diminuição do diâmetro dos miomas, ao passo que, em 23%, notou-se pequeno aumento. No entanto, 50% das mulheres tratadas com 5 mg de AMP apresentavam aumento do tamanho do mioma (aumento médio do diâmetro de 3,2 cm). Mulheres na pós-menopausa com mioma tratadas com 0,625mg de estrogênio equino conjugado (EEC) e 5 mg de AMP foram comparadas Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 3 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda durante 3 anos a um grupo semelhante de mulheres que não recebiam terapia hormonal.33 Ao fim do terceiro ano, apenas 3 de 34 (8%) mulheres tratadas e 1 de 34 (3%) não tratadas tiveram algum aumento do volume do mioma em relação ao volume inicial. As mulheres na pós-menopausa com mioma, acompanhadas por US, tiveram aumento médio de 0,5 cm de diâmetro do mioma após o uso de adesivos de estrogênio transdérmicos associado a progesterona oral durante 12 meses. As mulheres tratadas com estrogênio e progesterona oral não tiveram aumento do tamanho do mioma. GRAVIDEZ O aumento da paridade diminui a incidência e o número de miomas. O processo de remodelagem do miométrio após o parto, consequência de apoptose e desdiferenciação, pode ser responsável pela involução de miomas Segundo outra teoria, os vasos que irrigam os miomas regridem durante a involução do útero, fazendo com que estes sejam privados de sua fonte de nutrição. TABAGISMO O tabagismo reduz a incidência de miomas. A diminuição da conversão de androgênios em estrona, causada por inibição da aromatase pela nicotina, o aumento da 2-hidroxilação de estradiol e a estimulação de maiores níveis de globulina de ligação dos hormônios sexuais (SHBG) reduzem a biodisponibilidade de estrogênio. LESÃO TECIDUAL A lesão celular ou inflamação decorrente da ação de agente ambiental, infecção ou hipoxia foi proposta como mecanismo de início da formação de miomas. A lesão tecidual repetitiva do endométrio e do endotélio poderia promover o surgimento de proliferações monoclonais de músculo liso na parede muscular. A lesão frequente da mucosa com reparo do estroma (menstruação) pode liberar fatores de crescimento que promovem a alta frequência de miomas. Não se observou aumento da incidência em mulheres com antecedentes de infecções sexualmente transmissíveis, uso prévio de dispositivo intrauterino (DIU) ou exposição anterior a talco. Não se encontraram herpes- vírus simples (HSV) I ou II, citomegalovírus (CMV), vírus Epstein-Barr (EBV) e Chlamydia em miomas. SINTOMAS Os miomas quase nunca estão associados à mortalidade, mas podem causar morbidade e afetar bastante a qualidade de vida. Mulheres submetidas a histerectomia em razão de sintomas relacionados com mioma têm pontuação bem pior nos questionários de qualidade de vida SF-36 que aquelas com diagnóstico de hipertensão, cardiopatia, doença pulmonar crônica ou artrite. SANGRAMENTO ANORMAL A associação de miomas e menorragia não é claramente estabelecida. Portanto, outras causas possíveis – entre elas coagulopatias, como a doença de Willebrand – devem ser consideradas em mulheres com sangramento menstrual intenso. Uma amostra aleatória de mulheres de 35 a 49 anos foi avaliada por relato dos padrões de sangramento pela própria mulher e por US abdominal e transvaginal para identificar a presença, o tamanho e a localização de miomas. Das 878 mulheres examinadas, 564 (64%) tinham miomas, e 314 (36%) não. Quarenta e seis por cento das mulheres por mioma relataram que o “sangue jorrava” durante o período menstrual em comparação com 28% das mulheres sem mioma. O alto fluxo de sangue e a duração do período menstrual foram relacionados com o tamanho dos miomas, mas não à presença de miomas submucosos ou de miomas múltiplos. Outro estudo constatou que mulheres com mioma usavam 7,5 absorventes no dia de sangramento mais intenso em comparação com 6,1 absorventes usados por mulheres sem mioma. Aquelas com miomas maiores que 5 cm tinham sangramento um pouco mais intenso e usavam três absorventes a mais no dia de sangramento mais intenso que as mulheres com miomas menores. DOR A probabilidade de dor pélvica é apenas um pouco maior em mulheres com mioma que em mulheres sem. A US transvaginal foi realizada em um grupo populacional de 635 mulheres que não buscaram tratamento e tinham útero intacto com a finalidade de identificar a presença de miomas. A dispareunia, a dismenorreia ou a dor pélvica acíclica foram medidas por escalas visuais analógicas. As 96 mulheres com diagnóstico de miomas foram apenas um pouco mais propensas a relatar dispareunia moderada ou intensa ou dor pélvica acíclica e não tiveram maior incidência Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 4 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda de dismenorreia moderada ou intensa que as mulheres sem mioma. Nem o número nem o volume total de miomas foi relacionado com a dor. No entanto, as mulheres que procuram avaliação clínica por dor associada ao mioma podem ser diferentes das mulheres da população em geral. A degeneração dos miomas pode causar dor pélvica. À medida que eles aumentam, podem tornar-se grandes demais para seu suprimento sanguíneo, o que acarreta morte celular. Os tipos de degeneração verificados por exame macroscópico e microscópico são calcificação, degeneração hialina, degeneração cística e degeneração hemorrágica. Não parece haver relação entre o tipo de degeneração e os sintomas clínicos. O tratamento da dor causada por degeneração de miomas com analgésicos e observação costuma ser eficaz. A torção de um mioma subseroso pediculado pode causar dor pélvica aguda, que requer intervenção cirúrgica. SINTOMAS URINÁRIOS Os miomas podem causar sintomas urinários, embora poucos estudos tenham avaliado essa associação. Depois da EAU (embolização da artéria uterina) com redução de 35% do volume uterino médio, houve melhora acentuada ou moderada da polaciúria e da urgência em 68% das mulheres, pequena melhora em 18% e não houve alteração ou houve agravamento em apenas 14%. Esse achado sugere que o aumento do volume uterino associado a mioma está relacionado com sintomas urinários. Quatorze mulheres com grandes miomas e sintomas urinários foram tratadas com seis injeções mensais de agonista do GnRH (GnRH- a), com consequente diminuição de 55% do volume uterino. Após o tratamento, houve diminuição da polaciúria, da noctúria e da urgência. Não houve alterações na incontinência de urgência ou de esforço, avaliada por sintomas ou estudos urodinâmicos. Não está claro se esses achados estão relacionados com a diminuição do volume uterino ou a outros efeitos do tratamento com GnRH. EVOLUÇÃO NATURAL DOS MIOMAS A maioria dos miomas cresce lentamente. Um estudo longitudinal prospectivo de 72 mulheres na pré- menopausa (38 negras, 34 brancas), o qual usou análise digital de RM seriadas, constatou que a taxa média de crescimento foi de 9% durante 12 meses. No entanto, vários miomas na mesma mulher apresentaram taxas de crescimento muito variadas, sugerindo que o crescimento é consequência de outros fatores além dos níveis hormonais. Depois de 35 anos, as taxas de crescimento caíram com a idade nas mulheres brancas, mas não nas negras, o que provavelmente explica o aumento dos sintomas relacionados com miomas observado em mulheres negras. Sete por cento dos miomas regrediram ao longo do estudo. Planeja-se o acompanhamento contínuo dessas mulheres, o que deve proporcionar melhor compreensão dessa importante questão. CRESCIMENTO RÁPIDO DE MIOMAS Antes da menopausa, o “crescimento uterino rápido” quase nunca é devido a um sarcoma uterino (miosarcoma). Um estudo encontrou apenas um sarcoma em 371 mulheres (0,26%) submetidas a cirurgia por crescimento rápido de supostos miomas. SARCOMA UTERINO Com frequência, as mulheres com sarcoma uterino estão sob suspeita clínica de neoplasia maligna pélvica. Mulheres com dor e sangramento e que estão mais próximas da menopausa ou da pós- menopausa podem apresentar raramente um sarcoma. Das nove mulherescom sarcomas uterinos, todas estavam na pós- menopausa, e oito foram internadas com dor abdominal e sangramento vaginal. Todas as oito apresentavam cânceres ginecológicos presumidos: sarcoma uterino em quatro, carcinoma do endométrio em três e câncer ovariano em uma. Outra mulher foi submetida a cirurgia de prolapso e houve diagnóstico incidental de sarcoma. Entre 1989 e 1999, o banco de dados do Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) descreveu 2.098 mulheres com sarcomas uterinos com idade média de 63 anos, enquanto uma análise da literatura constatou a idade média de 36 anos em mulheres submetidas à miomectomia. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 1 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda DIAGNÓSTICO EXAME PÉLVICO De modo geral, os miomas subserosos e intramurais importantes do ponto de vista clínico podem ser diagnosticados por exame pélvico com base nos achados de um útero aumentado, irregular, firme e indolor. Há boa correlação entre o tamanho do útero avaliado por exame bimanual, mesmo na maioria das mulheres com IMC maior que 30, e o tamanho e o peso do útero ao exame patológico. Não há necessidade de US de rotina quando o diagnóstico é quase certo. No entanto, um diagnóstico definido de mioma submucoso geralmente requer US com infusão de solução salina, histeroscopia ou RM. LOCALIZAÇÃO DO MIOMA O sistema de classificação de miomas da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) classifica os miomas submucoso, intramural e subseroso. Tipo 0 – Intracavitário (p. ex., mioma submucoso pediculado, totalmente dentro da cavidade) Tipo 1 – Menos de 50% do diâmetro do mioma está no miométrio Tipo 2 – 50% ou mais do diâmetro do mioma está no miométrio Tipo 3 – Toca o endométrio sem nenhum componente intracavitário Tipo 4 – Intramural e totalmente dentro do miométrio, sem extensão para a superfície endometrial nem para a serosa Tipo 5 – Subseroso, no mínimo 50% intramural Tipo 6 – Subseroso, menos de 50% intramural Tipo 7 – Subseroso, fixado na serosa por um pedículo Tipo 8 – Ausência de acometimento do miométrio; inclui localização cervical, nos ligamentos redondo ou largo sem fixação direta no útero e miomas “parasitos”. Os miomas intramurais são classificados por sua relação com as superfícies endometrial e serosa, observando-se primeiro a relação endometrial, por exemplo, tipo 2-3. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 2 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 3 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda EXAMES DE IMAGEM Nas mulheres sintomáticas, a escolha de tratamento clínico, procedimentos não invasivos ou cirurgia costuma depender da avaliação precisa do tamanho, do número e da posição dos miomas. US transvaginal, US com infusão de solução salina, histeroscopia e RM foram realizadas em 106 mulheres que seriam submetidas à histerectomia, e os achados foram comparados aos do exame histopatológico. A RM foi a técnica que melhor identificou os miomas submucosos (100% de sensibilidade, 91% de especificidade). A identificação foi aproximadamente igual com a US transvaginal (sensibilidade de 83%, especificidade de 90%), US com infusão de solução salina (sensibilidade de 90%, especificidade de 89%) e histeroscopia (sensibilidade de 82%, especificidade de 87%). A RM não depende da técnica e tem baixa variabilidade interobservadora para diagnóstico de miomas submucosos, miomas intramurais e adenomiose em comparação com a US transvaginal, a US com infusão de solução salina e a histeroscopia. A adenomiose está associada à espessura da zona juncional acima de 15 mm (ou 12 mm quando a zona juncional não é uniforme). Há correlação entre as áreas focais, mal delimitadas e de alta ou baixa intensidade no miométrio e a adenomiose. A RM possibilita a avaliação do número, do tamanho e da posição de miomas submucosos, intramurais e subserosos e pode avaliar sua proximidade com a bexiga, o reto e a cavidade endometrial. A RM ajuda a definir o que esperar na cirurgia e pode evitar que miomas não sejam detectados durante a operação. No caso das mulheres que desejam preservar a fertilidade, a RM para documentar a localização e a posição em relação ao endométrio pode ser útil antes da miomectomia histeroscópica, laparoscópica ou abdominal. A US é a técnica de imagem mais acessível e de menor custo para se diferenciar miomas de outras doenças pélvicas e é, de certo modo, confiável para avaliação do volume uterino menor que 375 cc e quando há quatro ou menos miomas. A aparência dos miomas à US pode variar, mas, com frequência, eles se apresentam como massas simétricas, bem definidas, hipoecoicas e heterogêneas. Áreas de calcificação ou hemorragia podem ser hiperecoicas, enquanto a degeneração cística pode ser anecoica. A US com infusão de solução salina é feita com a introdução desse tipo de solução na cavidade uterina para produzir contraste e definir melhor os miomas submucosos. EXAME POR IMAGEM DOS SARCOMAS UTERINOS Pode ser possível fazer o diagnóstico pré-operatório de sarcomas. O diagnóstico com dosagem do nível sérico total de desidrogenase láctica (LDH) e da isoenzima 3 da LDH junto com RM dinâmica com um complexo de gadolínio com ácido dietilenotriamina penta-acético (Gd-DTPA) foi considerado de alta acurácia. As imagens de RM são feitas durante a fase arterial, entre 40 e 60 s após a infusão de gadolínio. Os sarcomas apresentam aumento da vascularização e do realce com gadolínio, enquanto os miomas em degeneração têm diminuição da perfusão e do realce. Usando dosagens de LDH e Gd-DTPA, um estudo de 87 mulheres com mioma, 10 com LMS e 130 com mioma em degeneração relatou especificidade de 100%, valor preditivo positivo de 100%, valor preditivo negativo de 100% e acurácia diagnóstica de 100% para LMS. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 4 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda 2 imagens do Tratado de Ginecologia da FEBRASGO: Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 1 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda FERTILIDADE A presença de miomas submucosos diminui as taxas de fertilidade, que aumentam com sua retirada. Os miomas subserosos não afetam as taxas de fertilidade, mas a retirada deles as aumenta. Os miomas intramurais podem reduzir ligeiramente a fertilidade, mas ela não aumenta com a retirada deles. Uma metanálise do efeito dos miomas sobre a fertilidade e do efeito da miomectomia sobre a fertilidade constatou que miomas submucosos que distorcem a cavidade uterina parecem reduzir a fertilidade, com queda aproximada de 70% das taxas de gravidez em curso/nascidos vivos. A ressecção de miomas submucosos aumentou levemente a fertilidade em relação a controles inférteis sem mioma. A análise de estudos com uso rotineiro de histeroscopia para confirmar que não há distorção da cavidade por mioma intramurais constatou que as taxas de gravidez em curso/nascidos vivos não eram muito diferentes das encontradas em controles. É importante notar que a retirada de miomas intramurais ou subserosos não melhorou as taxas de gravidez em curso/nascidos vivos. A miomectomia pode implicar riscos operatórios e anestésicos, riscos de infecção ou aderências pós-operatórias, um pequeno risco de ruptura uterina durante a gravidez, o aumento da probabilidade de recomendação de uma cesariana para o parto, além do custo da cirurgia e do tempo de recuperação. Portanto, até que se demonstre que os miomas intramurais diminuem e a miomectomia aumenta as taxas de fertilidade, a indicação da cirurgia deve ser feita com prudência. São necessários estudos randomizados para se esclarecerem os riscos e benefícios relativosda intervenção cirúrgica. MIOMAS E GRAVIDEZ INCIDÊNCIA DE MIOMAS DURANTE A GRAVIDEZ A prevalência de mioma em gestantes é de 18% em mulheres negras, 8% em brancas e 10% em hispânicas, de acordo com a US no primeiro trimestre. O tamanho médio dos miomas foi de 2,5 cm. O exame clínico detecta 42% dos miomas maiores que 5 cm durante a gravidez, mas apenas 12,5% quando têm menos de 5 cm. EFEITO DA GRAVIDEZ SOBRE MIOMAS A maioria dos miomas não aumenta de tamanho durante a gravidez. A gravidez tem efeito variável e imprevisível sobre o crescimento de miomas, provavelmente dependente de diferenças individuais na sua expressão gênica, nos fatores do crescimento circulantes e nos receptores. Um estudo prospectivo de 36 gestantes com apenas um mioma detectado durante US de rotina no primeiro trimestre e examinadas por US a intervalos de 2 a 4 semanas constatou que não houve aumento do volume do mioma durante a gravidez em 69% das mulheres. Nos 31% das mulheres em que houve aumento do volume, o crescimento máximo ocorreu antes da 10a semana de gestação. Não houve relação entre o volume inicial do mioma e seu crescimento durante o período gestacional. Observou-se redução do mioma em direção às medidas iniciais 4 semanas após parto. DEGENERAÇÃO DE MIOMA DURANTE A GRAVIDEZ Cerca de 5% das mulheres com diagnóstico de mioma durante a gravidez têm sintomas clínicos e sinais ultrassonográficos de degeneração do mioma. Entre 113 mulheres acompanhadas durante a gravidez por US seriada, dez (9%) desenvolveram espaços anecoicos ou padrões heterogêneos grosseiros, compatíveis com degeneração do mioma. Sete das dez mulheres tiveram dor abdominal intensa com necessidade de hospitalização, compatível com sintomas clínicos de degeneração. Não se observaram alterações ultrassonográficas nas outras 103 mulheres, e apenas 11,7% tiveram dor abdominal semelhante. Um pequeno estudo de mulheres com dor associada a mioma durante a gravidez constatou que a administração de ibuprofeno reduzia o período de internação e a taxa de reinternação. INFLUÊNCIA DOS MIOMAS NA GRAVIDEZ Em casos muito raros, a presença de um mioma durante a gravidez tem desfecho adverso. Uma pesquisa foi feita com grandes populações de gestantes examinadas por US de rotina no segundo trimestre com acompanhamento e parto na mesma instituição. Em uma pesquisa com 12.600 gestantes, os resultados de 167 mulheres com mioma não foram diferentes no que diz respeito à incidência de parto pré-termo, ruptura prematura de membranas, restrição do crescimento fetal, placenta prévia, Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 2 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda descolamento prematuro da placenta, hemorragia puerperal ou placenta retida. A cesariana foi mais comum nas mulheres com mioma (23% vs. 12%). O outro estudo – de 15.104 gestantes, que incluía 401 mulheres com mioma – não constatou aumento do risco de ruptura prematura das membranas, parto vaginal operatório, corioamnionite ou endometrite.73 No entanto, houve elevação dos riscos de parto pré- termo (19,2% vs. 12,7%), placenta prévia (3,5% vs. 1,8%) e hemorragia pós-parto (8,3% vs. 2,9%). Novamente, a cesariana foi mais comum (49,1% vs. 21,4%). A lesão fetal atribuída à compressão mecânica por mioma é incomum. Uma pesquisa no banco de dados PubMed de 1980 a 2010 mostrou um caso de anomalia da cabeça fetal com restrição do crescimento fetal, um caso de deformidade postural, um caso de redução de um membro e um caso de deformação da cabeça fetal com torcicolo. Qualquer decisão de proceder à miomectomia para evitar problemas durante a gravidez deve levar em conta os riscos da cirurgia, anestesia, aderências pós- operatórias e aumento da probabilidade de cesariana subsequente, além de preocupações com desconforto, custo e tempo de afastamento do trabalho ou da família. RUPTURA DE CICATRIZ DE MIOMECTOMIA A ruptura uterina durante a gravidez após miomectomia abdominal parece ser rara. As técnicas operatórias, os instrumentos e as fontes de energia usados durante a miomectomia laparoscópica podem ser diferentes dos empregados durante a laparotomia. Uma pesquisa de 19 casos publicados e não publicados de ruptura uterina durante a gravidez após miomectomia laparoscópica constatou que em quase todos os casos havia desvios da técnica cirúrgica tradicional descrita para miomectomia abdominal. Em sete casos, não houve reparo do defeito uterino; em três, o reparo foi feito com apenas uma sutura; em quatro, com apenas uma camada de sutura; e, em um caso, somente a serosa foi fechada. Em apenas três casos houve fechamento em várias camadas. Em 16 casos, a hemostasia foi feita com eletrocoagulação monopolar ou bipolar. Embora conclusões e recomendações definitivas acerca da técnica apropriada de miomectomia laparoscópica tenham de aguardar o estudo apropriado da cicatrização de feridas no miométrio, parece prudente recomendar que os cirurgiões sigam as técnicas consagradas de miomectomia abdominal, entre elas o fechamento do miométrio em várias camadas (nos defeitos não superficiais do útero) e o uso limitado de eletrocirurgia para hemostasia. Todavia, mesmo com a técnica cirúrgica ideal, características individuais de cicatrização podem predispor à ruptura uterina. TRATAMENTO O desenvolvimento de novos tratamentos para mioma é lento, talvez em razão de muitas mulheres com mioma serem assintomáticas, os miomas serem benignos e a mortalidade, muito baixa. Se a histerectomia for oferecida como primeira e, às vezes, única opção de tratamento, algumas mulheres preferem conviver com os sintomas e deixam de procurar tratamento. Tal atitude, no entanto, pode levar os médicos a subestimarem o verdadeiro impacto do problema, apesar do fato de que as mulheres submetidas a histerectomia por sintomas relacionados com o mioma têm pontuação bem pior nos questionários de qualidade de vida SF-36 que as mulheres com diagnóstico de hipertensão, cardiopatia, doença pulmonar crônica ou artrite. Não existem respostas satisfatórias para questões fundamentais sobre os tratamentos do mioma. As mulheres e os seus médicos necessitam de informações nas quais se basearão as decisões relativas a possíveis tratamentos. Esta seção resume a literatura acerca da conduta nos miomas. As opções de tratamento incluem observação, acompanhamento clínico, miomectomia histeroscópica, miomectomia laparoscópica, histerectomia, EAU e ultrassom focalizado. CONDUTA EXPECTANTE Não tratar o mioma raramente causa danos, exceto nas mulheres com anemia grave por menorragia relacionada com ele ou hidronefrose decorrente da obstrução ureteral provocada pelo útero muito aumentado pelo mioma. Não é possível prever o crescimento dos miomas nem o surgimento de novos sintomas no futuro. Um estudo não randomizado de mulheres com tamanho uterino de 8 semanas ou mais que preferiram a conduta expectante constatou que 77% não Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 3 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda apresentavam alterações relevantes da quantidade de sangramento, dor ou grau de sintomas incômodos relatados por elas ao fim de 1 ano. Além disso, o bem- estar, a saúde geral e os índices de atividade também não se modificaram. Das 106 mulheres que, a princípio, escolheram a conduta expectante, 23% optaram pela histerectomia no intervalo de 1 ano. Portanto, nas mulheres com mioma e sintomas leves ou moderados, a conduta expectante possibilita adiar o tratamento, talvez indefinidamente. À medida que as mulheres se aproximam da menopausa, a conduta expectante pode ser considerada, pois o tempo é limitado para o surgimento de novos sintomas e, depois da menopausa, o sangramento cessa e os miomas regridemde tamanho. Embora não seja especificamente estudada, a incidência de histerectomia para retirada de miomas diminui bastante após a menopausa, sugerindo o declínio considerável dos sintomas. TRATAMENTO CLÍNICO ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) não se mostraram eficazes no tratamento da menorragia em mulheres com mioma. Um estudo duplo-cego controlado em 25 mulheres com menorragia, 11 das quais também apresentando mioma, constatou diminuição de 36% da perda de sangue em mulheres com menorragia idiopática, mas não houve diminuição em mulheres com mioma. Não houve outros estudos de avaliação desse tratamento. AGONISTAS DO HORMÔNIO DE LIBERAÇÃO DA GONADOTROFINA O tratamento com GnRH-a reduz o volume do útero, o volume do mioma e o sangramento. No entanto, os benefícios do GnRH-a são limitados por efeitos colaterais e riscos associados ao uso prolongado. A administração mensal de análogos de GnRH-a durante 6 meses reduziu em 30% o volume do mioma e em 35% o volume uterino total. A diminuição do tamanho do útero ocorre sobretudo nos primeiros 3 meses de tratamento. A menorragia responde bem ao análogo; 37 de 38 mulheres tiveram resolução em 6 meses. Após a interrupção do tratamento com análogo, a menstruação normaliza-se em 4 a 8 semanas, e o tamanho do útero volta aos níveis pré-tratamento em 4 a 6 meses. Nesse estudo, 64% das mulheres permaneceram assintomáticas 8 a 12 meses depois do tratamento. Há efeitos colaterais em 95% das mulheres tratadas com análogo, como: fogachos, ressecamento vaginal e cefaleia frontal transitória. Há relatos de artralgia, mialgia, insônia, edema, labilidade emocional, depressão e diminuição da libido. O estado hipoestrogênico induzido por análogo causa perda óssea considerável após 6 meses de tratamento. Na tentativa de se reduzirem os efeitos colaterais, inibir a perda óssea e possibilitar o uso prolongado de análogo, baixas doses de estrogênio e progestágenos podem ser acrescentadas durante o tratamento com análogo. TAIS AGONISTAS COMO TRATAMENTO TEMPORÁRIO DAS MULHERES NA PERIMENOPAUSA As mulheres na perimenopausa avançada com miomas sintomáticos podem considerar o uso de análogo por curto período. Trinta e quatro mulheres na perimenopausa com miomas sintomáticos foram tratadas com análogo durante 6 meses, e 12 delas necessitaram de repetição do tratamento 6 meses após a interrupção do medicamento. Trinta e uma mulheres evitaram a cirurgia; 15 tiveram menopausa natural. Embora não haja algum estudo específico, a terapia de acréscimo (add-back therapy) poderia ser considerada nessa situação. ANTAGONISTA DO HORMÔNIO DE LIBERAÇÃO DA GONADOTROFINA A supressão imediata do GnRH endógeno por injeção subcutânea diária de ganirelix, antagonista do GnRH, diminui em 29% o volume do mioma dentro de 3 semanas. O tratamento é acompanhado por sintomas hipoestrogênicos. Quando há substâncias de ação prolongada disponíveis, pode-se considerar a administração de um antagonista do GnRH para tratamento clínico antes da operação. TRATAMENTO CLÍNICO MEDIADO POR PROGESTERONA A diminuição do tamanho uterino após tratamento com mifepristona, um bloqueador da progesterona, é semelhante à constatada com os agonistas. Um estudo controlado, randomizado, prospectivo do tratamento com mifepristona observou diminuição de 48% do volume uterino médio depois de 6 meses. A mifepristona bloqueia a progesterona, e a exposição do endométrio ao estrogênio sem oposição pode causar hiperplasia do endométrio. Uma revisão sistemática observou hiperplasia do endométrio em Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 4 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda 10 de 36 mulheres (28%) examinadas com biopsias do endométrio. DISPOSITIVO INTRAUTERINO LIBERADOR DE PROGESTERONA O sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIL-LNG) pode ser um tratamento razoável para mulheres selecionadas com menorragia associada a mioma. Em mulheres com mioma, tamanho do útero equivalente a, no máximo, 12 semanas de gravidez e cavidade uterina normal, o SIL-LNG reduz de modo considerável o sangramento menstrual.Vinte e duas de 26 (85%) mulheres com menorragia documentada relacionada com mioma voltaram a ter sangramento normal em 3 meses. Após 12 meses, 40% mulheres tinham amenorreia, e 66 mulheres apresentavam níveis de hemoglobina acima de 12 g/dl. Um estudo examinou 32 mulheres com pelo menos um mioma com tamanho inferior a 5 cm de diâmetro e projeção de menos de 50% do volume tumoral para a cavidade endometrial (tipo II) que foram tratadas com SIL-LNG. Após 12 meses, a perda sanguínea média estimada, avaliada por método visual, caiu de 392 para 37 ml com aumento associado dos níveis de hemoglobina. Não houve mudança do volume uterino durante o estudo. Algumas pesquisas mostram que as taxas de expulsão com SIL-LNG são maiores em mulheres com mioma que naquelas sem ele. TRATAMENTO PELA MEDICINA ALTERNATIVA Um estudo não randomizado e não duplo-cego comparou o crescimento do mioma em 37 mulheres tratadas com medicina chinesa, terapia corporal e visualização criativa guiada com 37 controles tratados com anti-inflamatórios não esteroides, progestágenos ou CO. Depois de 6 meses, a avaliação por US mostrou interrupção do crescimento dos miomas ou diminuição em 22 de 37 (59%) mulheres tratadas com Medicina Chinesa em comparação aos outros tratamentos. Embora a resposta dos sintomas tenha sido igualmente boa nos dois grupos, a satisfação foi maior no grupo tratado com Medicina Chinesa. No entanto, as participantes buscaram ativamente a terapia alternativa, e a avaliação da satisfação pode ser um reflexo do viés de seleção. TRATAMENTO CIRÚRGICO As opções de tratamento cirúrgico são miomectomia abdominal, miomectomia laparoscópica, miomectomia histeroscópica, ablação do endométrio e histerectomia abdominal, vaginal ou laparoscópica. Afecções clínicas graves, como anemia grave ou obstrução ureteral, geralmente necessitam de tratamento cirúrgico. O tratamento da dor causada por degeneração de miomas com analgésicos costuma ser eficaz, mas a paciente pode optar pela cirurgia quando os sintomas são intensos. A torção de um mioma subseroso pediculado pode causar dor aguda com necessidade de intervenção cirúrgica. A cirurgia também pode ser indicada em mulheres com mioma associados a menorragia, dor ou pressão pélvica, polaciúria ou incontinência com prejuízo da qualidade de vida.A miomectomia abdominal foi empregada durante muito tempo como tratamento conservador de miomas uterinos, e grande parte da literatura precede o uso de estudos controlados randomizados prospectivos. Embora se afirme que a miomectomia alivia os sintomas em 80% das mulheres, a literatura sobre sua eficácia é escassa, e muitas grandes séries de casos não relataram dados de alívio dos sintomas após a cirurgia.Uma pesquisa prospectiva não randomizada comparativa da miomectomia com a EAU relatou que 75% das mulheres no grupo de miomectomia tiveram diminuição relevante das pontuações dos sintomas depois de 6 meses. Em certas ocasiões, a dor nas costas pode estar relacionada com a presença de mioma, mas devem-se considerar outras possíveis causas. A incapacidade de se avaliarem os ovários ao exame pélvico não é indicação de cirurgia. Não há evidências de que o exame pélvico aumente a detecção precoce ou diminua a mortalidade relacionada com o câncer ovariano, e a US pode ser usada para se avaliarem os anexos caso surjam sintomas. TRATAMENTO DA ANEMIA PRÉ-OPERATÓRIA ERITROPOETINA RECOMBINANTE A anemia grave pode ser rapidamente corrigida com as formas recombinantes de eritropoetina e suplementos de ferro. A eritropoetina alfa e a epoietina são usadas com frequênciapara que se aumente a concentração pré-operatória de hemoglobina na cirurgia cardíaca, ortopédica e neurológica. Um estudo randomizado mostrou que o Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 5 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda uso de epoietina na dose de 250 UI/kg (cerca de 15.000 U) por semana durante 3 semanas antes da cirurgia ortopédica ou cardíaca aumentou de 1,6 g/dl a concentração de hemoglobina e reduziu de modo considerável as taxas de transfusão em comparação com controles. Não houve efeitos colaterais. Uma pesquisa não randomizada prospectiva da administração pré- operatória de epoietina constatou aumento considerável dos teores de hemoglobina antes e depois da cirurgia ginecológica. Para que se obtenham melhores resultados, é recomendável aumentar as reservas de ferro com suplementos. A vitamina C, na dose de 1.000 UI/dia, eleva a absorção intestinal de ferro. AGONISTA DO HORMÔNIO DE LIBERAÇÃO DA GONADOTROFINA O agonista do GnRH pode ser usado no período pré- operatório para diminuir o sangramento anormal, com consequente aumento da concentração de hemoglobina. As mulheres com mioma e concentração inicial média de hemoglobina de 10,2 g foram randomizadas no período pré-operatório para tratamento com análogo associado a ferro oral ou placebo mais ferro oral. Após 12 semanas, 74% das mulheres tratadas com análogo e ferro apresentavam nível de hemoglobina acima de 12 g em comparação com 46% das mulheres tratadas apenas com ferro. Uma revisão Cochrane constatou que mulheres com mioma tratadas no período pré-operatório com análogo durante 3 a 4 meses demonstraram melhora do nível pré-operatório de hemoglobina. Embora a perda de sangue durante a operação tenha sido menor em pacientes submetidas à miomectomia abdominal tratadas com análogo, não houve diferença considerável das taxas de transfusão em comparação com mulheres não tratadas. MIOMECTOMIA ABDOMINAL A miomectomia deve ser considerada uma opção segura e preferível em relação a histerectomia. Estudos de caso-controle sugerem que o risco de lesão intraoperatória pode ser menor na miomectomia que na histerectomia. Uma análise retrospectiva de 197 mulheres submetidas a miomectomia e 197 mulheres submetidas a histerectomia com tamanho uterino semelhante (14 vs. 15 semanas) constatou que os tempos de operação foram maiores no grupo de miomectomia, mas a perda de sangue estimada foi maior no grupo de histerectomia. Os riscos de hemorragia, febre, procedimento cirúrgico não planejado, ocorrências com risco de vida e re-hospitalização não foram diferentes entre os grupos. No entanto, 13% mulheres no grupo de histerectomia tiveram complicações, tais como lesão vesical, lesão ureteral, lesões intestinais, íleo paralítico e abscessos pélvicos. Por outro lado, houve complicações em 5% pacientes submetidas à miomectomia, entre elas lesão vesical, mulheres submetidas a reoperação por obstrução do intestino delgado e algumas mulheres com íleo paralítico. A miomectomia pode ser considerada mesmo nas mulheres com grandes miomas e que desejam preservar o útero. Um estudo de 91 mulheres com útero maior que 16 cm (variação de 16 a 36 cm) relatou uma lesão intestinal, uma lesão vesical e uma reoperação por obstrução intestinal, mas não houve necessidade de histerectomia. CESARIANA E MIOMECTOMIA CONCOMITANTES Em mulheres cuidadosamente selecionadas, cirurgiões experientes podem fazer com segurança a miomectomia junto com a cesariana. Uma série de casos descreveu 25 mulheres submetidas à retirada de 84 miomas (medindo de 2 a 10 cm) por ocasião da cesariana sem necessidade de histerectomia com a cesariana. A perda de sangue estimada foi de 876 ml (variação de 400 a 1.700 ml), e cinco mulheres necessitaram de transfusão sanguínea. Outro estudo comparou 111 mulheres submetidas à miomectomia por ocasião de cesariana a 257 mulheres com mioma não submetidas à miomectomia durante cesariana. Apenas uma das mulheres no grupo de miomectomia necessitou de transfusão, e nenhuma necessitou de histerectomia ou embolização. Não houve diferenças do tempo operatório médio, incidência de febre ou tempo de hospitalização entre os dois grupos. Ainda que os casos provavelmente tenham sido selecionados com cuidado, os autores concluíram que, em mãos experientes, a miomectomia pode ser feita com segurança em mulheres selecionadas durante a cesariana. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 6 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda TÉCNICA CIRÚRGICA PARA MIOMECTOMIA ABDOMINAL CONDUTA NA PERDA DE SANGUE Com as técnicas cirúrgicas disponíveis, é possível remover com segurança até mesmo grandes miomas. Podem-se usar torniquetes ou vasoconstritores para limitar a perda sanguínea. A vasopressina, um hormônio antidiurético, causa a constrição de músculo liso nas paredes dos capilares, pequenas arteríolas e vênulas. A vasopressina sintética reduz a perda de sangue durante a miomectomia e, em um estudo randomizado prospectivo, foi tão eficaz quanto a oclusão mecânica dos vasos uterinos e ovarianos. Casos raros de bradicardia e choque cardiovascular foram descritos; portanto, é preciso cuidado para evitar a injeção intravascular, e as pacientes devem ser monitoradas com atenção. O uso de vasopressina para reduzir a perda de sangue durante a miomectomia é um uso extraoficial (off- label) desse fármaco. O uso de cell savers pode ser considerado durante miomectomia. O uso do cell saver evita os riscos de infecção e reação transfusional, a capacidade de transporte de oxigênio das hemácias recuperadas é igual ou melhor que a de hemácias alogênicas armazenadas, e a sobrevivência das hemácias parece ser no mínimo tão boa quanto a das hemácias alogênicas transfundidas. O aparelho aspira sangue do campo operatório, mistura com solução salina heparinizada e armazena o sangue em um recipiente. Se a paciente necessitar de reinfusão, o sangue armazenado é lavado com solução salina, filtrado, centrifugado até um hematócrito aproximado de 50% e reinfundido por via intravenosa. Consequentemente, muitas vezes é possível evitar a necessidade de doação de sangue autólogo pré- operatória ou de transfusão sanguínea heteróloga. Não se estudou o custo do cell saver em comparação com a doação de sangue autólogo na miomectomia abdominal. No entanto, modelos econômicos sugerem que tem bom custo-efetividade. A maioria dos hospitais cobra uma taxa mínima para manter o cell saver à disposição e uma taxa adicional se for usado. Considerando-se que a maioria das mulheres que doam sangue autólogo antes da miomectomia não necessita de transfusão sanguínea, a disponibilidade do cell saver deve poupar muitas mulheres do tempo e do custo relativos à doação, ao armazenamento e ao processamento de sangue autólogo. Quando há previsão de sangramento intenso ou quando se encontra sangramento abundante, pode-se fazer a ligadura das duas artérias uterinas. A ligadura das artérias uterinas foi usada com sucesso para controlar o sangramento durante ou após a miomectomia. Em vista da recanalização das artérias uterinas, não deve haver comprometimento da fertilidade no futuro. Essas técnicas costumam evitar a necessidade de histerectomia. As incisões uterinas podem ser verticais ou transversais, pois os miomas distorcem a arquitetura vascular normal, frustrando as tentativas de evitar os vasos arqueados. No entanto, o cuidado no planejamento e na posição das incisões uterinas evita a extensão acidental da incisão até os cornos uterinos ou os vasos uterinos ascendentes. De acordo com um molde da corrosão vascular e exame por microscopia eletrônica, os miomas são totalmente circundados por suprimento sanguíneo denso e não há pedículovascular distinto na base deles. A extensão das incisões uterinas através do miométrio e de toda a pseudocápsula até distinguir de modo claro o mioma identifica um plano cirúrgico menos vascularizado, o qual é mais profundo do que se reconhece habitualmente. Sugeriu-se que o número de incisões uterinas fosse limitado para diminuir o risco de aderências à serosa uterina. No entanto, isso exige a criação de túneis no miométrio para que se extraiam os miomas distantes, o que dificulta ainda mais a hemostasia nesses locais. A hemostasia é importante para que se evite o surgimento de aderências, e a fibrina, os leucócitos e as plaquetas na presença de hemácias levam ao surgimento de aderências. Se forem evitadas as incisões em túnel e obtida hemostasia imediata, o risco de aderências deve ser menor. Portanto, se as incisões forem feitas diretamente sobre os miomas e forem retirados apenas aqueles que se encontram em local de fácil acesso, é possível fechar imediatamente as incisões com hemostasia imediata. Podem ser necessárias várias incisões uterinas, e as barreiras antiaderência podem ajudar a limitar o surgimento de aderências. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 7 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA Os instrumentos disponíveis atualmente tornam viável a miomectomia laparoscópica, embora o tamanho e o número admissível de miomas limitem a aplicação em larga escala desse método em razão da dificuldade técnica tanto do procedimento quanto da sutura laparoscópica. Embora a miomectomia assistida por microprocessador (robótica) possa evitar alguns desses problemas técnicos, é essencial levar em conta o aumento do custo e do tempo operatório associados a essa conduta. A revisão sistemática de estudos controlados randomizados de miomectomia laparoscópica ou aberta incluiu seis estudos com um total de 576 pacientes. A miomectomia laparoscópica foi associada a maiores tempos operatórios, mas com menor perda de sangue, menor declínio dos níveis de hemoglobina no pós-operatório, diminuição da dor pós-operatória, maior número de pacientes totalmente recuperadas no 15o dia e menos problemas. Séries de casos sem controles mostram a viabilidade da cirurgia laparoscópica em mulheres com grandes miomas. Em uma série de 144 mulheres com diâmetro médio do mioma de 7,8 cm (variação de 5 a 18 cm), apenas duas necessitaram de conversão para laparotomia. Em outra série de 332 mulheres consecutivas submetidas a miomectomia laparoscópica por miomas sintomáticos de até 15 cm, apenas três necessitaram de conversão para laparotomia. TÉCNICA CIRÚRGICA NA MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA O local da abertura depende da posição e do tamanho dos miomas a serem removidos. A sutura laparoscópica pode ser mais ergonômica se houver duas aberturas no lado direito da paciente, para cirurgiões destros, ou no lado esquerdo, no caso de cirurgiões canhotos; uma abertura de 12 mm em posição cerca de 2 cm medial à crista ilíaca de acesso para sutura e outra abertura lateral de 5 mm perto do nível do umbigo. Pode-se fazer o acesso inicial no quadrante superior esquerdo do abdome quando o tamanho do útero está perto ou acima do umbigo. Injeta-se pitressina no mioma. Faz-se uma incisão diretamente sobre o mioma, aprofundada até encontrar o tecido do mioma, e observa-se o plano cirúrgico avascular. As incisões transversais possibilitam sutura mais ergonômica. O mioma é apreendido com pinça para tração, e o plano entre o miométrio e o mioma é dissecado até seu desprendimento. Os vasos miometriais hemorrágicos são coagulados com eletrodos bipolares, tendo o cuidado de não desvascularizar o miométrio e interferir na cicatrização. Suturas com fio de absorção tardia são feitas em uma, duas ou três camadas, de acordo com a necessidade, seguindo a técnica cirúrgica aceita para laparotomia. A morcelação do mioma com aparelho eletromecânico é feita sob visão direta. A pelve e o abdome são irrigados, o líquido é aspirado, e pode-se aplicar uma barreira antiaderência. MIÓLISE E CRIOMIÓLISE Várias fontes de energia, entre elas a eletrocirurgia bipolar, laser de Nd:YAG e sondas criogênicas, guiadas por laparoscopia, foram usadas para reduzir o tamanho do mioma por meio da destruição e interferência com o suprimento vascular local.Embora os volumes do útero e do mioma tenham diminuído em cerca de 50%, houve aderências densas à serosa uterina em 53% mulheres. A miólise não é recomendada nas mulheres que desejam engravidar. MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA Os miomas submucosos, às vezes associados ao aumento do sangramento menstrual ou à infertilidade, frequentemente podem ser removidos por histeroscopia. Uma metanálise do efeito dos miomas sobre a fertilidade constatou que os submucosos que distorcem a cavidade uterina reduziram em 70% as taxas de gravidez em curso/nascidos vivos e aumentaram as taxas de ressecção de gravidez em curso/nascidos vivos. Não se fez uma metanálise da associação de miomas submucosos e sangramento uterino anormal. A maioria dos estudos, porém, mostra redução do sangramento após ressecção. Um estudo de 285 mulheres com menorragia ou metrorragia submetidas a ressecção histeroscópica de mioma submucoso constatou que 9,5% necessitaram de outra cirurgia em 2 anos, 10,8% em 5 anos e 26,7% em 8 anos. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 8 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda TÉCNICA CIRÚRGICA PARA MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA A ressecção histeroscópica de um mioma submucoso pode ser feita sob controle visual com um histeroscópio e fluxo contínuo de líquido de distensão através da cavidade uterina. O elemento eletrocirúrgico usa eletrodos monopolares ou bipolares. Os eletrodos monopolares exigem o uso de solução de distensão não condutora (sorbitol a 5%, sorbitol a 3% com manitol a 0,5% ou glicina a 1,5%), enquanto os eletrodos bipolares podem ser usados com solução salina. Em geral, há necessidade de dilatação cervical antes da inserção do histeroscópio. O misoprostol pode facilitar a dilatação. A alça de ressecção é introduzida além do mioma, e a função de corte só é ativada durante o movimento da alça em direção ao cirurgião e sob visão direta. Os miomas devem ser ressecados até o nível do miométrio adjacente, e, se a paciente desejar engravidar, deve- se ter cuidado para evitar a lesão térmica excessiva do miométrio normal. Muitas vezes, a porção remanescente do mioma é empurrada em direção à cavidade por contrações uterinas, o que possibilita a ressecção complementar. Os fragmentos de miomas são removidos da cavidade com uma pinça de preensão ou por captura com a alça e retirada do histeroscópio. Os miomas G0 e G1 com tamanho até cerca de 5 cm podem ser ressecados por histeroscopia. Os miomas G2 exigem cuidadosa avaliação pré- operatória por US com infusão de solução salina ou RM para medir a espessura de miométrio normal entre o mioma e a serosa, a fim de que se identifique o possível risco de perfuração uterina com o eletrodo de alça. O risco de perfuração aumenta com a maior profundidade do acometimento miometrial pelo mioma. Em certos casos, pode ser necessário repetir a ressecção em algumas semanas, quando a porção remanescente do mioma for empurrada em direção à cavidade do útero por contrações uterinas. RISCOS ESPECÍFICOS DO PROCEDIMENTO A dilatação cervical ou inserção do conjunto de histeroscopia pode perfurar o útero, assim como a ressecção miometrial profunda. Com frequência, o primeiro sinal de perfuração é o rápido aumento do consumo do líquido de distensão. Deve-se fazer exame meticuloso da cavidade uterina à procura de sangramento ativo ou lesão intestinal. Se não houver dano visível, deve-seinterromper o procedimento e observar a paciente, que pode receber alta se sua condição for estável. Se houver perfuração durante a ativação do eletrodo, deve-se proceder à laparoscopia para procurar com cuidado uma possível lesão intestinal ou vesical. ABSORÇÃO DE LÍQUIDO E DESEQUILÍBRIO HIDRELETROLÍTICO A absorção intravascular de meios de distensão é uma complicação perigosa que pode causar edema pulmonar, hiponatremia, insuficiência cardíaca, edema cerebral e até mesmo morte. O monitoramento meticuloso do consumo de líquido é importante, e o consumo de 750 ml durante a cirurgia deve ser sinal de alerta, com interrupção planejada do procedimento. Muitos autores sugerem que o procedimento seja interrompido quando o consumo de líquido for maior que 1.000 ml, embora outros sugiram a interrupção após a administração de 1.500 ml de uma solução não eletrolítica ou 2.000 m i de uma solução eletrolítica. Devem-se avaliar e corrigir os níveis de eletrólitos sanguíneos, se necessário, e considerar a administração de diuréticos. Os fatores Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 9 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda de risco de sobrecarga de líquidos são ressecção de miomas com extensão intramural profunda ou tempo operatório longo. O uso de soro fisiológico associado à energia bipolar diminui o risco de hiponatremia (redução na concentração plasmática de sódio), mas o consumo de líquido superior a 1.500 ml é capaz de causar sobrecarga cardíaca. ABLAÇÃO DO ENDOMÉTRIO NO SANGRAMENTO ANORMAL ASSOCIADO A MIOMAS Em mulheres selecionadas que não desejam mais engravidar, a ablação do endométrio com ou sem a miomectomia histeroscópica pode ser eficaz. Um estudo de 62 mulheres acompanhadas em média durante 29 meses (variação de 12 a 60 meses) constatou que 74% tinham hipomenorreia ou amenorreia, e apenas 12% necessitaram de histerectomia. Ablação: remoção, vaporização, lascamento ou destruição. SURGIMENTO DE NOVOS MIOMAS Embora, em alguns casos, possam surgir novos miomas após a miomectomia, a maioria das mulheres não necessita de tratamento complementar. Se houver apenas um mioma por ocasião da primeira operação, apenas 11% das mulheres necessitam de cirurgia posterior. Caso sejam removidos vários miomas na cirurgia inicial, apenas 26% necessitarão de cirurgia posterior. Os miomas, uma vez retirados, não voltam a crescer; já os detectados após miomectomia, “miomas de recorrência”, são miomas não retirados durante a cirurgia ou miomas novos. Talvez a melhor designação para essa situação seja “surgimento de novos” miomas. O acompanhamento incompleto, o tempo insuficiente de acompanhamento, o uso de US transabdominal ou transvaginal (com sensibilidades diferentes), a detecção de miomas muito pequenos e sem repercussão clínica ou o uso de outros métodos que não a análise da tabela de mortalidade confundiram muitos estudos sobre o surgimento de novos miomas. Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 10 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda EMBOLIZAÇÃO DA ARTÉRIA UTERINA A EAU é um tratamento eficaz para mulheres selecionadas com miomas. Os efeitos da EAU sobre a insuficiência ovariana primária (IOP), a fertilidade e a gravidez não são claros. Portanto, muitos radiologistas intervencionistas são contrários ao procedimento nas mulheres que desejam engravidar. As candidatas apropriadas para EAU são mulheres com sintomas suficientemente incômodos para indicar histerectomia ou miomectomia. Embora extremamente raras, as complicações da EAU podem exigir histerectomia para salvar a paciente, e as mulheres que não aceitariam uma histerectomia nem mesmo no caso de uma complicação com risco de vida não devem ser submetidas à EAU. As contraindicações ao tratamento dos miomas por EAU incluem mulheres com infecção genital ativa, neoplasia maligna do sistema genital, diminuição da imunidade e doença vascular acentuada que limita o acesso às artérias uterinas, alergia ao contraste ou comprometimento da função renal. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomenda que as mulheres que consideram a possibilidade de EAU sejam submetidas a avaliação completa por um ginecologista com o objetivo de facilitar a colaboração com o radiologista intervencionista e que as informações dadas para a paciente sejam claras. TÉCNICA DE EMBOLIZAÇÃO DA ARTÉRIA UTERINA A canulação percutânea da artéria femoral é feita por um radiologista intervencionista com treinamento apropriado e experiente. A EAU e de seus ramos é feita por injeção de esponjas de gelatina, partículas de álcool polivinílico (APV) ou microsferas de gelatina Trisacryl através do cateter até que se observe oclusão ou fluxo lento do vaso. A exposição total à radiação (aproximadamente 15 cGy) é comparável a um ou dois exames de tomografia computadorizada (TC) ou clister opaco. A hipoxia tecidual secundária à EAU causa dor após o procedimento, que, na maioria dos casos, requer controle no hospital durante um dia. Em geral, administram-se AINE por 1 ou semanas, e muitas mulheres voltam à atividade normal em 1 a 3 semanas. Cerca de 5 a 10% das mulheres têm dor por mais de 2 semanas. 10% das mulheres são reinternadas com síndrome pós-embolização, caracterizada por dor abdominal difusa, náuseas, Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 11 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda vômito, febre baixa, mal-estar, anorexia e leucocitose. O tratamento com líquidos intravenosos, AINE e analgésicos costuma levar à resolução dos sintomas em 2 a 3 dias. A febre persistente deve ser tratada com antibióticos. A ausência de resposta aos antibióticos pode indicar sepse, que exige tratamento radical com histerectomia. DESFECHOS DA EMBOLIZAÇÃO DA ARTÉRIA UTERINA O maior estudo prospectivo descrito até hoje inclui 555 mulheres de 18 a 59 anos, 80% das quais apresentavam sangramento intenso, 75% tinham dor pélvica, 73% tinham polaciúria ou urgência e 40% precisaram afastar-se do trabalho por sintomas relacionados com o miomas. 3 meses após a EAU, foi constatada a melhora da menorragia em 83% das mulheres, bem como da dismenorreia em 77% e da polaciúria em 86%. A diminuição média do volume do miomas dominante foi de 33% em 3 meses, mas não houve relação entre a melhora da menorragia e o volume do útero antes do procedimento (mesmo quando > 1.000 cm3) ou o grau de redução do volume. É importante notar que duas mulheres (0,4%) apresentaram crescimento uterino contínuo e agravamento da dor, com diagnóstico de sarcoma. A taxa de histerectomia por complicações foi de 1,5%. Um estudo randomizado prospectivo comparativo entre histerectomia e EAU em 177 mulheres com miomas sintomáticos constatou que as complicações importantes eram raras. A internação hospitalar foi bem mais curta na EAU (2 vs. 5 dias), mas a EAU foi associada a mais reinternações (9 vs. 0) por dor e/ou febre no período de 6 semanas após o procedimento. As complicações importantes incluíram uma mulher que necessitou de ressecção de um mioma submucoso e outra que teve sepse no grupo de EAU e uma mulher que apresentou uma fístula vesicovaginal após histerectomia. As estimativas sugerem que já foram realizados mais de 100.000 procedimentos de EAU no mundo todo, com 12 mortes. INSUFICIÊNCIA OVARIANA PREMATURA O risco de insuficiência ovariana prematura (IOP) após EAU requer estudo complementar. Há relato de amenorreia transitória em até 15% das mulheres. A perfusão arterial ovariana medida por US Doppler logo após EAU mostra que 35% das mulheres apresentavam diminuição da perfusão ovariana, e 54% tinham perda total da perfusão. Os níveis basaisde hormônio foliculoestimulante (FSH) e de hormônio antimülleriano indicaram diminuição da reserva ovariana em todas as mulheres em um estudo. Embora tenham sido observados níveis normais de FSH, estradiol, volume ovariano e número de folículos antrais na maioria das mulheres após EAU, tais exames não são capazes de prever o início prematuro da menopausa. Mulheres jovens, cujos ovários contêm um grande número de folículos, tendem a manter nível normal de FSH apesar da destruição de um número relevante de folículos, mas não está claro se haverá comprometimento da fertilidade no futuro. A perda de folículos pode causar menopausa antes do que seria esperado. Para responder a essa importante pergunta, será necessário o acompanhamento a longo prazo de mulheres submetidas a EAU. FERTILIDADE E GRAVIDEZ APÓS EAU Em vista da possibilidade de diminuição da função ovariana e de aumento das complicações da gravidez, a EAU não é recomendável em mulheres que desejam conceber. Embora o risco pareça ser baixo nas mulheres com menos de 40 anos, a IOP seria devastadora. A fertilidade após EAU é incerta. Um estudo prospectivo de mulheres com miomas intramurais com mais de 4 cm, designadas de modo aleatório para EAU ou miomectomia, relatou maior número de gestações e menos abortos após a cirurgia que após a EAU. Os resultados obstétricos e perinatais foram similares. Nas 34 gestações subsequentes à EAU, 32% das mulheres sofreram aborto espontâneo. Um estudo mostrou que 6% das mulheres que engravidaram tiveram hemorragia puerperal, 16% tiveram parto prematuro, e 11%, apresentação anômala do feto. Outro estudo relatou casos placenta prévia e placenta membranácea. Não está claro se essa alta incidência de anormalidades está relacionada com um efeito da EAU sobre o endométrio ou a um problema placentário inerente de mulheres com miomas. Logo, alguns autores recomendam a US no início da gravidez para verificar se há acretismo placentário. Há relatos de defeitos, necrose e fístulas da parede uterina após EAU, e a integridade da parede uterina durante a gravidez e o parto ainda é desconhecida. Oclusão da artéria uterina Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 12 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda Desenvolveram-se outros métodos de oclusão da artéria uterina, mais e menos invasivos que a EAU, entre eles a oclusão laparoscópica da artéria uterina e a oclusão transvaginal da artéria uterina sem incisão. A oclusão laparoscópica exige anestesia geral, é invasiva e requer um cirurgião laparoscópico experiente. A oclusão transvaginal é feita com um clampe especial nos fórnices da vagina, que, guiado pela Dopplerfluxometria, é posicionado de maneira a ocluir as artérias uterinas. O clampe é mantido no lugar por 6 h e, em seguida, retirado. Os resultados dessa técnica ainda são desconhecidos. ULTRASSOM FOCAL GUIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A energia do ultrassom focalizada produz calor local suficiente para provocar desnaturação das proteínas e morte celular. A RM concomitante possibilita precisão e monitoramento da terapia mediante avaliação da temperatura do tecido tratado. As vantagens desse procedimento são morbidade muito baixa e recuperação muito rápida, com retorno às atividades normais em um dia. O procedimento não é recomendado para as mulheres que desejam engravidar no futuro.Estudos iniciais tiveram o tratamento limitado a aproximadamente 10% do volume do mioma pela Food and Drug Administration (FDA), e, embora haja relato de redução de 15% do mioma 6 meses após o tratamento, observou-se redução de apenas 4% em 24 meses. Estudos mais recentes com números maiores de tratamento relataram melhores resultados; 6 meses após o tratamento, a diminuição média de volume foi de 31% (± 28%). A avaliação dos desfechos clínicos 6 meses após o tratamento constatou que 71% das mulheres apresentavam diminuição relevante dos sintomas, e essa redução persistia em cerca de 50% delas após 12 meses. As mulheres buscaram ativamente o tratamento com ultrassom focal guiado por ressonância magnética (USFgRM), e não foi incluído grupo de controle (simulação de USFgRM); portanto, não é possível excluir o efeito placebo. Uma mulher teve lesão do nervo isquiático causada pela energia do ultrassom, e 5% apresentaram queimaduras cutâneas superficiais. Ainda não se sabe se haverá elevação dos riscos com o aumento dos volumes de tratamento. À medida que a tecnologia avançar, serão necessários outros estudos para se avaliarem os riscos e a eficácia da USFgRM no tratamento dos miomas. IMAGEM: TÉCNICA DE EMBOLIZAÇÃO DA ARTÉRIA UTERINA (EAU). Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 13 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda ACOMPANHAMENTO CLÍNICO PÓS-CIRURGIA O diagnóstico baseado em questionários de sintomas tem correlação razoável com a confirmação ultrassonográfica ou patológica de miomas relevantes e pode ser o método mais adequado para a avaliação de evidências clínicas de surgimento de um novo mioma. ACOMPANHAMENTO POR ULTRASSONOGRAFIA O acompanhamento por US de rotina apresenta boa sensibilidade, mas detecta muitos miomas sem importância clínica. NECESSIDADE DE CIRURGIA POSTERIOR Uma informação importante para uma mulher que avalia o tratamento de miomas é o risco aproximado de surgimento de sintomas que exigiriam tratamento complementar. Um estudo de 125 mulheres acompanhadas com avaliação de sintomas e exame clínico após uma primeira miomectomia abdominal constatou necessidade de segunda cirurgia durante o período de acompanhamento (média de 7,6 anos) em 11% das mulheres que tiveram um mioma removido inicialmente e em 26% das mulheres que tiveram vários miomas removidos. FATORES PROGNÓSTICOS RELACIONADOS COM O SURGIMENTO DE NOVOS MIOMAS IDADE Dado o fato de que a incidência de miomas aumenta com a idade, é esperado o surgimento de novos miomas, mesmo após miomectomia. PROCRIAÇÃO SUBSEQUENTE (GESTAÇÃO APÓS CIRURGIA) Menor incidência de novos miomas. A taxa clínica de surgimento de novos miomas em 10 anos nas mulheres que deram à luz depois da primeira cirurgia foi de 16% em comparação com 28% nas demais. NÚMERO DE MIOMAS REMOVIDOS INICIALMENTE Depois de, no mínimo, 5 anos de acompanhamento, detectaram-se novos miomas em 27% das mulheres que tiveram apenas um mioma desse tipo removido e em 59% das mulheres que tiveram vários deles removidos. Quanto maior o número de miomas removidos inicialmente, maior será o risco (e também e números maiores) de aparecimento de novos miomas posteriormente. AGONISTAS DO HORMÔNIO DE LIBERAÇÃO DA GONADOTROFINA O tratamento pré-operatório com agonistas de GnRH reduz o volume do miomas e pode dificultar a identificação daqueles que são menores durante a cirurgia. MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA O surgimento de novos miomas não é mais comum após miomectomia laparoscópica em comparação com a miomectomia abdominal. Oitenta e uma mulheres randomizadas para miomectomia laparoscópica ou abdominal foram acompanhadas por US transvaginal a cada 6 meses durante, no mínimo, 40 meses. Miomas maiores que 1 cm foram detectados em 27% das mulheres após miomectomia laparoscópica em comparação com 23% no grupo submetido à miomectomia abdominal, e nenhuma mulher em nenhum grupo necessitou de outra intervenção. RESUMO DO TRATAMENTO Quando se analisam possíveis tratamentos, é preciso levar em conta a situação específica da mulher, inclusive os sintomas relacionados com o mioma e seu impacto na qualidade de vida, o desejo (ou não) de preservar a fertilidade e sua vontade em relação às opções de tratamento. Em geral, existem várias opções de tratamento, e podem ser levados em conta os pontos a seguir. Em uma mulherassintomática com diagnóstico de mioma que deseja preservar a fertilidade no futuro próximo, a avaliação da cavidade uterina por US com infusão de solução salina, a histeroscopia ou a RM oferecem informações úteis acerca da presença de miomas submucosos e seu possível impacto sobre a fertilidade. Se a cavidade não estiver deformada, não é preciso tratá-los, e a paciente pode tentar engravidar. Se, porém, a cavidade estiver deformada, pode-se considerar a miomectomia (histeroscópica ou abdominal). Um cirurgião laparoscópico experiente pode oferecer a miomectomia laparoscópica, com fechamento do miométrio em várias camadas. Na Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 14 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda mulher assintomática que não deseja mais engravidar, deve-se considerar a observação (conduta expectante). É recomendável fazer uma análise periódica dos sintomas da paciente e um exame pélvico para verificar o tamanho do útero. Quando houver miomas muito grandes, a US ou a TC do rim são opções para a exclusão de uma hidronefrose importante. Em uma mulher sintomática que deseja preservar a fertilidade e cujo principal sintoma é o sangramento anormal, deve-se considerar a dosagem de hemoglobina já que pode haver adaptação à anemia. Se houver indicação, pode-se fazer avaliação complementar do endométrio por biopsia. A avaliação da cavidade uterina por US com infusão de solução salina, histeroscopia ou RM ajuda a identificar as opções de tratamento apropriadas. Se a cavidade estiver deformada, deve-se considerar a miomectomia (histeroscópica ou abdominal). Um cirurgião laparoscópico experiente pode oferecer a miomectomia laparoscópica. Caso haja sintomas de dor ou pressão (sintomas expansivos) e a cavidade do útero não esteja deformada, pode-se cogitar a miomectomia (abdominal ou laparoscópica). Na mulher sintomática que não deseja mais engravidar, pode-se considerar a observação (conduta expectante) se o tratamento não for desejado nesse momento. É possível que mulheres sintomáticas na perimenopausa prefiram a observação até entrarem na menopausa, quando os sintomas costumam diminuir. Deve-se fazer a dosagem inicial da hemoglobina e, em caso de anemia importante, considerar o tratamento. Se houver metrorragia, deve-se considerar a avaliação do endométrio por US ou biopsia do endométrio. Se o endométrio for normal, o SIL com levonorgestrel ou a ablação do endométrio podem ser tratamentos adequados. A miomectomia (histeroscópica, abdominal ou laparoscópica), a histerectomia (vaginal, laparoscópica ou abdominal) ou a EAU são outras opções a serem consideradas. No caso de uma mulher com sintomas de dor ou pressão relacionados principalmente ao mioma (sintomas expansivos), podem-se considerar miomectomia, histerectomia e EAU ou ultrassom focal (atualmente limitado pelo tamanho e número de miomas). Módulo X – Saúde da Mulher, Sexualidade Humana e Planejamento Familiar 15 Trio Help Med – Ana Luísa Uzêda RESUMÃO - SHORT TOPICS • Os miomas uterinos são muito comuns, e a maioria deles é assintomática e pode ser tratada de maneira conservadora. • Não há relação definida entre contraceptivos orais (CO) e miomas. • O risco de ter mioma é 2,5 vezes maior nas mulheres que tenham alguma parente em primeiro grau com mioma. • O risco de ter mioma é 2,9 vezes maior em mulheres negras que brancas. • A probabilidade de dor pélvica é apenas um pouco maior em mulheres com mioma que em mulheres sem mioma. • O crescimento rápido de um mioma ainda não está bem definido e quase nunca indica sarcoma antes da menopausa; os sarcomas são raros e mais prováveis em mulheres após a menopausa com sintomas de dor e sangramento. • A ultrassonografia (US) é a técnica de imagem de maior disponibilidade e menor custo para diferenciar mioma de outras doenças pélvicas; porém, a ressonância magnética (RM), além de possibilitar avaliação mais precisa do número, do tamanho e da posição dos miomas, pode avaliar melhor a proximidade da cavidade endometrial. • A presença de miomas submucosos diminui a fertilidade, e a sua retirada pode tornar a mulher mais fértil; os miomas subserosos não afetam a fertilidade, e sua retirada não aumenta a fertilidade; os miomas intramurais, por sua vez, são capazes de reduzir levemente a fertilidade, mas a retirada deles não aumenta a fertilidade. • A maioria dos miomas não aumenta de tamanho durante a gravidez. • Nas mulheres com mioma e sintomas leves ou moderados, a conduta expectante possibilita adiar o tratamento definitivo, talvez indefinidamente. • À medida que as mulheres se aproximam da menopausa, pode-se considerar a conduta expectante, pois o tempo para o surgimento de novos sintomas é limitado, e, depois da menopausa, o sangramento cessa e os miomas diminuem de tamanho. • As opções de tratamento cirúrgico são: miomectomia abdominal, laparoscópica ou histeroscópica; ablação do endométrio; e histerectomia abdominal, vaginal ou laparoscópica. • Não tratar o mioma raramente causa danos, exceto nas mulheres com anemia grave por menorragia relacionada com ele ou hidronefrose decorrente da obstrução ureteral provocada pelo útero muito aumentado pelo mioma. Não é possível prever o crescimento dos miomas nem o surgimento de novos sintomas no futuro. • A incapacidade de se avaliarem os ovários ao exame não é indicação de cirurgia. • A miomectomia deve ser considerada uma opção segura à histerectomia, mesmo nas mulheres com grandes miomas e que desejam preservar o útero. • Os miomas submucosos, às vezes associados ao aumento do sangramento menstrual ou à infertilidade, frequentemente podem ser removidos por histeroscopia. • O acompanhamento por US de rotina é factível, mas pode detectar muitos miomas sem importância clínica. • A embolização da artéria uterina (EAU) é um tratamento eficaz em mulheres selecionadas com mioma. Os efeitos da EAU sobre a insuficiência ovariana prematura (IOP), a fertilidade e a gravidez não são claros. • Os miomas representam importante problema da atenção à saúde, pois são a indicação mais frequente de histerectomia.
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