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UNIVERSIDADE PAULISTA Instituto de Cieˆncias Exatas e Tecnologia (ICET) Redes de Bipolos e Leis de Kirchhoff: Mo´dulo 2 Alexandre B. de Lima Direto´rio • Tabela de Conteu´do • Inicie o Artigo Copyright c© 2009 ablima@ablima.pro.br Atualizado em: 2 de fevereiro de 2009 Versa˜o 1.0 Tabela de Conteu´do 1. Redes de Bipolos e Grafos 2. Primeira Lei de Kirchhoff 2.1. Generalizac¸a˜o 2.2. Matriz de Incideˆncia 3. Segunda Lei de Kirchhoff 3.1. Expressa˜o Matricial da Segunda Lei 3.2. Tenso˜es Nodais 3 1. Redes de Bipolos e Grafos Os bipolos podem ser associados interligando seus terminais por con- dutores perfeitos (equipotenciais). Uma associac¸a˜o qualquer de bipo- los sera´ designada por rede de bipolos. Os pontos em que se juntam os terminais de va´rios bipolos sera˜o designados por no´s da rede, e os bipolos sera˜o os seus ramos. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 4 As interconexo˜es dos bipolos de uma rede podem ser indicadas geometricamente pelo seu grafo 1, em que cada bipolo e´ representado por um arco de curva. Estas curvas sera˜o os ramos ou arestas do grafo. Os pontos de encontro dos terminais dos bipolos sera˜o representados por pontos, designados como no´s ou ve´rtices do grafo. Definic¸a˜o 1. Um grafo e´ um conjunto de no´s e ramos, tais que os ramos interligam exatamente dois no´s. Um grafo orientado ou d´ıgrafo orienta a colocac¸a˜o dos amper´ımetros. Note que os sentidos de refereˆncia positivos das correntes nos ramos do grafo sa˜o arbitra´rios. 1A Teoria dos Grafos foi iniciada por Euler em 1736 ao resolver o problema de Ko¨nigsberg. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 5 Um grafo pode ser conexo ou na˜o conexo. Um grafo e´ conexo quando e´ poss´ıvel determinar pelo menos um caminho entre dois no´s quaisquer. Um grafo na˜o conexo tem pelo menos duas partes separa- das. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 6 Subgrafo de um grafo dado e´ qualquer conjunto de no´s e ramos dele extra´ıdo. Um subgrafo constitu´ıdo por um u´nico no´ e´ dito degenerado. A a´rvore de um grafo conexo e´ qualquer subgrafo, tambe´m conexo, que conte´m todos os no´s do grafo original e um nu´mero de ramos apenas suficiente para interligar todos os no´s. Consequentemente, na˜o existe um percurso fechado numa a´rvore. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 7 Num grafo com nt no´s e com um so´ ramo entre cada par de no´s podem-se extrair nnt−2t a´rvores distintas. Cada uma das a´rvores teˆm o mesmo nu´mero n = nt − 1 de ramos. Definida uma a´rvore num grafo , os ramos desse grafo se dividem em duas classes: • ramos de a´rvore, pertencentes a` a´rvore; • ramos de ligac¸a˜o (ou elos), na˜o pertencentes a` a´rvore. Considere que um grafo tenha r ramos e nt no´s. Sendo n o nu´mero de ramos de a´rvore e l o nu´mero de ramos de ligac¸a˜o, vale a relac¸a˜o Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 8 l + n = r. Logo l = r − n = r − nt + 1 (1) Lac¸o de um grafo e´ qualquer subgrafo conexo tal que dois, e ape- nas dois, de seus ramos incidem em cada no´ e precisamente dois no´s pertencem a cada ramo. Intuitivamente, um lac¸o e´ uma trajeto´ria fechada que passa uma so´ vez em cada no´. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 9 Note que a´rvores na˜o possuem lac¸os. Por outro lado, se colocarmos um so´ ramo de ligac¸a˜o numa a´rvore criamos uma e so´ uma trajeto´ria fechada, correspondente a um u´nico lac¸o. Este lac¸o sera´ chamado de lac¸o fundamental, associado ao ramo de ligac¸a˜o introduzido. A cada a´rvore correspondem l lac¸os fundamentais. Conjunto de corte ou corte de um grafo conexo e´ um conjunto de ramos tal que: a) a remoc¸a˜o de todos os ramos do corte faz com que o grafo se decomponha em duas partes separadas; b) removendo todos os ramos do corte, menos um, o grafo continua conexo. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 10 Teorema 1 (Teorema Ba´sico das A´rvores). Uma a´rvore qualquer de um grafo conexo de nt no´s e r ramos tem as seguintes propriedades: 1. ha´ sobre a a´rvore um caminho u´nico entre qualquer par de no´s Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 11 a ela pertencentes; 2. ha´ nt − 1 ramos de a´rvore e r − nt + 1 ramos de ligac¸a˜o; 3. cada ramo de ligac¸a˜o determina um u´nico lac¸o fundamental, constitu´ıdo pelo ramo de ligac¸a˜o e pelos ramos de a´rvore que compo˜em uma trajeto´ria u´nica entre os no´s do ramo de ligac¸a˜o; 4. cada ramo de a´rvore determina um u´nico corte fundamental, constitu´ıdo pelo ramo de a´rvore e alguns ramos de ligac¸a˜o. Sec¸a˜o 1: Redes de Bipolos e Grafos 12 Observe que ha´ outros cortes que na˜o sa˜o fundamentais. Um grafo conexo e´ dito planar quando for poss´ıvel desenha´-lo num plano (ou numa superf´ıcie esfe´rica) de modo que seus ramos na˜o se cruzem em nenhum ponto que na˜o seja um no´ do grafo. 13 2. Primeira Lei de Kirchhoff A Primeira Lei de Kirchhoff (1845) aplica-se aos no´s e afirma que, em cada instante, a soma das correntes ele´tricas que entram ou saem de um no´ e´ igual a zero:∑ k ±ik(t) = 0, ∀t (2) Note que as correntes aparecem com um sinal positivo ou negativo. Este sinal dependera´ de uma convenc¸a˜o (arbitra´ria) de sinal, como, por exemplo, fixar que as correntes que saem do no´ sa˜o positivas e as que entram no no´ sa˜o negativas. Na˜o haveria qualquer problema se adota´ssemos a regra contra´ria. Passos para aplicar a primeira lei: 1. orientar os ramos do circuito (lembre que os sentidos de re- fereˆncia fornecem uma regra para ligar os amper´ımetros aos ra- mos: a flecha de refereˆncia deve entrar pelo terminal “+” do aparelho); 2. estabelecer uma regra para escolher em (2) os sinais positivos ou Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 14 negativos de acordo com a orientac¸a˜o adotada para os ramos. Aplicando a Primeira Lei de Kirchhoff ao no´ da figura acima ob- temos −i1 − i2 + i3 + i4 − i5 = 0, que mostra que na˜o ha´ acumulac¸a˜o de cargas ele´tricas nos no´s das redes. De fato, a Primeira Lei e´ baseada na Lei da conservac¸a˜o da carga ele´trica. Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 15 2.1. Generalizac¸a˜o A Primeira Lei pode ser aplicada aos ramos que constituem um con- junto de corte qualquer da rede. Para fazer esta aplicac¸a˜o e´ necessa´rio orientar o corte. i1 − i2 + i3 = 0 Note que podemos chegar ao mesmo resultado aplicando a Pri- meira Lei aos no´s 1 e 2: −i1 − i4 = 0 (no´ 1) i4 + i2 − i3 = 0 (no´ 2) Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 16 Multiplicando as duas equac¸o˜es por -1 e fazendo a combinac¸a˜o linear obtemos i1 − i2 + i3 = 0, o que confirma a validade da Primeira Lei Generalizada de Kirchhoff. Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 17 2.2. Matriz de Incideˆncia Considere o circuito da figura abaixo e o seu respectivo grafo. Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 18 A sua matriz de incideˆncia aumentadaAa esta´ representada abaixo. Dada uma rede cujo grafo tenha nt no´s e r ramos, sua matriz de incideˆncia aumentada Aa caracteriza-se por: 1. a matriz tera´ nt linhas e r colunas; Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 19 2. o elemento gene´rico aij de Aa sera´ definido por: (a) aij = +1, se o ramo j incidir no no´ i e sua orientac¸a˜o for sainte ou eferente; (b) aij = −1, se o ramo j incidir no no´ i e sua orientac¸a˜o for entrante ou aferente; (c) aij = 0, se o ramo j na˜o incidir no no´ i. A matrizAa e´ uma maneira alternativa de apresentar a informac¸a˜o das interconexo˜es do grafo orientado, adequada para ca´lculos compu- tacionais. Observe que a soma por colunas de todas as linhas de Aa da´ zero, o que indica que estas linhas na˜o sa˜o linearmente independentes (LI). A informac¸a˜o contida numa so´ linha pode assim ser obtida das demais linhas. A matriz que se obte´m suprimindo uma linha qualquer e´ chamada matriz de incideˆncia (reduzida) e sera´ indicada porA. Retirando, por exemplo, a 5a linha da matriz anterior obtemos a matriz de incideˆncia Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 20 A = +1 +1 0 0 0 0 −1 0 +1 −1 0 0 0 0 0 +1 −1 0 0 0 0 0 +1 +1 O no´ correspondente a` linha suprimida e´ designado por no´ de refereˆncia. Normalmente, corresponde ao no´ terra do circuito. O nu´mero n de linhas da matriz de incideˆncia reduzida e´ igual ao nu´mero de ramos de a´rvore do grafo do circuito, ou seja n = nt − 1, (3) que, na˜o por mero acaso, e´ igual ao nu´mero de linhas (ou equac¸o˜es) LI da matriz Aa. Indicando por i1, i2, . . . , ir as va´rias correntes da rede, podemos compor o vetor de correntes Sec¸a˜o 2: Primeira Lei de Kirchhoff 21 i = i1 i2 i3 ... ir E a´ı temos a Primeira Lei na sua forma matricial A i = 0 (4) onde 0 e´ o vetor nulo. Considerando o exemplo dado e efetuando o produto indicado por (4), resulta o sistema de equac¸o˜es ia + ib = 0 −ia + ic − id = 0 id − ie = 0 ie + if = 0 (5) 22 que sa˜o as equac¸o˜es da Primeira Lei para os no´s na˜o de refereˆncia da rede. Obtivemos 4 equac¸o˜es LI porque o posto (ou caracter´ıstica) da matriz A e´ igual a n = nt − 1 = 4. Voceˆ podera´ verificar que a equac¸a˜o −ib − ic − if = 0 e´ uma combinac¸a˜o linear das Eqs. (5). 3. Segunda Lei de Kirchhoff Considere um lac¸o qualquer de uma rede ele´trica, o qual e´ constitu´ıdo por l bipolos. A Segunda Lei de Kirchhoff afirma que l∑ i=1 ±vi(t) = 0, ∀t (6) A Segunda Lei nos diz que o trabalho l´ıquido necessa´rio para que uma carga ele´trica percorra um caminho fechado e´ nulo. Esta lei esta´ relacionada a` lei f´ısica de Conservac¸a˜o da Energia. Aplicac¸a˜o: Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 23 1. fixar todos os sentidos de refereˆncia de tensa˜o nos bipolos que compo˜em o lac¸o (com isso estabelecemos uma regra para a ligac¸a˜o dos volt´ımetros para a medida das tenso˜es de ramos); 2. orientar o lac¸o (arbitra´rio), estabelecendo um sentido positivo de percurso; 3. estabelecer uma convenc¸a˜o para os sinais das tenso˜es. Por exem- plo: adotar sinal positivo para tensa˜o discordante da orientac¸a˜o do lac¸o e negativo para tensa˜o concordante da orientac¸a˜o do lac¸o. Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 24 Aplicando a Segunda Lei ao circuito da Fig. anterior obtemos v1 − v2 + v3 − v4 = 0 (+) p/ tensa˜o discordante ou −v1 + v2 − v3 + v4 = 0 (+) p/ tensa˜o concordante 3.1. Expressa˜o Matricial da Segunda Lei Uma possibilidade de obter uma expressa˜o matricial que contenha o maior nu´mero poss´ıvel de equac¸o˜es LI decorre da aplicac¸a˜o da Segunda Lei a todos os lac¸os fundamentais correspondentes a uma dada a´rvore do grafo da rede; assim, cada equac¸a˜o difere das demais ao menos por uma tensa˜o de ramo de ligac¸a˜o, o que torna o conjunto de equac¸o˜es LI. Vamos assumir que os lac¸os fundamentais foram orientados e que o sentido positivo de circulac¸a˜o coincide com a orientac¸a˜o do ramo de ligac¸a˜o que define o lac¸o fundamental. Suponhamos enta˜o escolhida uma a´rvore da rede dada, suposta com grafo conexo, e vamos definir a matriz B, matriz dos lac¸os fun- damentais associados a` a´rvore Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 25 1. a matriz B tem um nu´mero de linhas igual ao nu´mero de lac¸os fundamentais e tantas colunas quantos forem os ramos da rede. Assim, a cada linha de B correspondera´ um lac¸o e a cada coluna correspondera´ um ramo; 2. o elemento gene´rico bij de B sera´ definido por: (a) bij = +1, se o ramo j pertencer ao lac¸o i e sua orientac¸a˜o for concordante com o lac¸o; (b) bij = −1, se o ramo j pertencer ao lac¸o i e sua orientac¸a˜o for discordante com o lac¸o; (c) bij = 0, se o ramo j na˜o pertencer ao lac¸o i. Por esta construc¸a˜o resulta que o posto (ou caracter´ıstica) da ma- triz B e´ igual ao nu´mero l de ramos de ligac¸a˜o. Seja o vetor das tenso˜es de ramo v = [v1v2 . . . vr]T onde os vi, i = 1, 2, . . . , r, sa˜o as tenso˜es de ramo e o expoente T denota a operac¸a˜o de transposic¸a˜o do vetor. E´ fa´cil enta˜o verificar que as equac¸o˜es da 2a Lei para os lac¸os fundamentais esta˜o contidas na equac¸a˜o matricial Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 26 B v = 0 (7) onde 0 e´ o vetor nulo. Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 27 B v = +1 0 0 +1 −1 00 +1 0 0 +1 −1 0 0 +1 −1 0 +1 v1 v2 v3 v4 v5 v6 = 0 (8) 3.2. Tenso˜es Nodais Considere o grafo orientado e conexo de uma rede. Escolha um no´ como no´ de refereˆncia (que, pode ser o terra do circuito). As tenso˜es nodais ek da rede sera˜o as tenso˜es medidas entre cada um dos no´s e o no´ de refereˆncia, com o “-” do volt´ımetro ligado ao no´ de refereˆncia. Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 28 Aplicando a Segunda Lei a uma curva fechada que passa pelo no´ de refereˆncia e pelo ramo d, obtemos e1 + vd − e3 = 0 → vd = e3 − e1. As relac¸o˜es entre as tenso˜es nodais e as tenso˜es de ramos de uma rede podem se exprimir por uma relac¸a˜o matricial que envolve a matriz Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 29 de incideˆncia reduzida do grafo da rede. Deve-se tomar o mesmo no´ de refereˆncia para construir a matriz e para definir as tenso˜es nodais. Dada uma rede com n+1 no´s, definimos o vetor das tenso˜es nodais por e = [e1e2 . . . en]T . Sendo v o vetor das tenso˜es de ramo, vale a relac¸a˜o AT e = v. (9) No circuito com o grafo da figura anterior temos: A = 1 0 1 −1 0 0−1 1 0 0 −1 0 0 0 0 1 1 1 Sec¸a˜o 3: Segunda Lei de Kirchhoff 30 Portanto, a relac¸a˜o entre as tenso˜es de ramo e as tenso˜es nodais sera´ AT e = 1 −1 0 0 1 0 1 0 0 −1 0 1 0 −1 1 0 0 1 e1e2 e3 = e1 − e2 e2 e1 −e1 + e3 −e2 + e3 e3 = vd vb vc vd ve vf Refereˆncias [1] L. Q. Orsini, D. Consoni, Curso de Circuitos Ele´tricos - Volume 1. 2a ed., Editora Edgard Blu¨cher Ltda, 2002. Tabela de Conteúdo 1 Redes de Bipolos e Grafos 2 Primeira Lei de Kirchhoff 2.1 Generalização 2.2 Matriz de Incidência 3 Segunda Lei de Kirchhoff 3.1 Expressão Matricial da Segunda Lei 3.2 Tensões Nodais
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