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VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ITABUNA-BA MAIO - 2020 Adriel Macedo dos Santos Ana Carolina Oliveira Sousa André Luiz Almeida Barbosa Brandão Bruna Nathaly Paraguai Ramos Chanandra Santos Fernandes Diego Moreira Costa Emanuel Dalmar Martins Cordeiro Esaú da Silva Fernanda dos Santos Pereira de Jesus Jaine Daniela Romeira Jeová Amaro Benjoino Neto Jéssica de Souza Santos João Vitor Costa Joilson de Jesus Santos Laryssa Salles Maickson Guimarães Alves Samantha Carvalho de Oliveira Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Tecnologia e Ciências, como atividade parcial para a conclusão da disciplina de Direito da Criança e do Adolescente, ministrada e orientada pela Docente Adélia Fernanda Souza Oliveira. ITABUNA-BA MAIO - 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................04 2. CONCEITUAÇÃO .......................................................................................... 04 3. HISTÓRIA/CONSTITUIÇÃO .......................................................................... 05 4. COMPETÊNCIA ............................................................................................ 07 5. DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS .................................................................................................................................. 09 6. A DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL E A VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ............................................................................................................. 13 7. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ......................................................................... 15 8. PRINCÍPIOS PROCEDIMENTAIS ....................................................................... 16 9. A VARA DA INFÂNCIA É JUVENTUDE EM NÚMEROS .................................... 20 10. ATOS INFRACIONAIS ....................................................................................... 23 10.1 ATOS INFRACIONAIS ........................................................................... 26 10.2 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.............................................................35 11. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 37 12. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 38 4 1. INTRODUÇÃO Inicialmente cumpre enaltecer a grande assertividade e relevância no que tange ao tema delimitado para análise, não somente pelo historicismo, mas também como uma maneira de entender a evolução e competências da vara da infância e da juventude no Brasil. Competente para resolução de demandas onde se encontram seres altamente vulneráveis e contexto atrelado à subjetividade e individualidade, a vara da infância e da juventude é competente à resolução de demandas sensíveis, colocando a colher em uma sociedade milenar que é a família, inicialmente por necessidade posteriormente mantida pela afetividade. Neste sentido, preconiza Russeau: A mais antiga de todas as sociedades, e a única natural, é a da família, ainda assim só se prendem os filhos ao pai enquanto dele necessitam para a própria conservação. Desde que tal necessidade cessa, desfaz- se o liame natural. Os filhos, isentos da obediência que devem ao pai, e este, isento dos cuidados que deve aos filhos, voltam todos a ser igualmente independentes. Se continuam unidos, já não é natural, mas voluntariamente, e a própria família só se mantém por convenção. (ROSSEAU, 1978, p.23) Desta maneira, a família, bem como os valores elencados como basilares anos após ano foram sedimentados e soterrados por valores cada vez mais contemporâneos. Então, concretizando a frase milenar “ubi societas ibi jus” (Onde está a sociedade está o direito), o Direito teve de se adaptar à sociedade que necessitava de regramento, então passemos à dissecação do presente tema para uma melhor compreensão acerca do regramento que atualmente nos norteia. 2. CONCEITUAÇÃO A Vara da Infância e Juventude, anteriormente denominados de Juizados da Infância e Juventude ou, antes disso, Juizados de Menores, são órgãos do judiciário estadual brasileiro que julgam causas de interesse das crianças e adolescentes em situação de risco e dos procedimentos de apuração de atos infracionais cometidos por adolescentes. Processam, ainda, os pedidos de colocação em família substituta, como a adoção. São regidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 5 Os antecedentes dos Juizados da Infância e Juventude, os Juizados de Menores, antecedem as primeiras legislações de tutela das crianças e adolescentes, sendo datados de 1924. Somente em 1927 foi editado o primeiro Código de Menores. 3. HISTÓRIA/CONSTITUIÇÃO A denominada Justiça da Infância e Juventude constitui, na verdade, uma especialização da Justiça Estadual, conforme dispõe expressamente o art. 145 do Estatuto da Criança e do Adolescente e se constituía, até poucos anos, de apenas dois tipos: as Criminais, dedicadas a processos em que os adolescentes fossem considerados autores de atos infracionais, e as Cíveis voltadas para questões como suspensão e perda do poder familiar, adoção, guarda, tutela, autorizações de viagens de crianças e adolescentes e outros temas pertinentes. A essas se acresceram as chamadas Varas Especializadas em Crimes Contra Crianças e Adolescentes, com competência anteriormente afeta às varas criminais comuns. Trata-se de experiência das mais inovadoras, que teve seu início na cidade de Recife, em 1992. Até então, as Varas Judiciais sé eram concebidas pelo Poder Judiciário com base na natureza do crime. Ao ser instituída em razão da vítima, a Vara Privativa de Recife passa a cumprir a prioridade absoluta prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. O disposto no art. 145 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece um critério quantitativo para a instalação de novas varas especializadas, determinando que caberá ao Poder Judiciário estabelecer a sua proporcionalidade por número de habitantes. A realidade demonstra, entretanto, que somente em um pequeno percentual de comarcas se encontram instaladas varas especializadas da infância e juventude. A lacuna quantitativa somente traz prejuízos ao atendimento dos direitos dos quais crianças e adolescentes passaram a serem sujeitos. Não restam dúvidas de que as varas da infância e da juventude, com suas peculiares características, constituem o espaço privilegiado e ideal para o trato dos problemas e conflitos que envolvem esta 6 população que tem tão peculiar condição. O auxílio diferencial de uma equipe interprofissional composta de profissionais com formação em serviço social, psicologia, pedagogia e educação permite que a autoridade judiciária faça uma análise mais real do caso “sub judice” (art. 150 e 151 do ECA). A ausência de Varas Especializadas da Infância e Juventude faz com que se acresça à competência das Varas de Família as questões que tratem de Direito da Criança e do Adolescente. Tendo em vista o previsto no art. 28, no sentido de que a colocação em família substituta, mediante guarda, tutela ou adoção será feita independentemente da situação jurídica da criança e do adolescente, não há como, em princípio, deixar de reconhecer a competência do Juízo da Infância e Juventude para todas as hipóteses que envolvam crianças ou adolescentes. No entanto, este nem sempre tem sido o entendimentodos juízes e tribunais, que insistem, em uma interpretação sistemática parcial do Estatuto da Criança e do Adolescente, atribuindo a competência das Varas da Infância e Juventude para as questões cíveis somente para as crianças e adolescentes em situação reveladora de ameaça ou violação de direito, que, na maior parte das vezes, se caracteriza pela “ falta” dos pais ou responsável, estando as demais sob a responsabilidade das Varas de Família. O Juiz da Infância e da Juventude possui uma diversidade de funções que o diferenciam dos demais. Não possui apenas competência para conhecer e julgar todos conflitos de interesses que cheguem às portas do Poder Judiciário, possuindo atribuições que fogem da esfera judicial de atuação. Ao Juiz da Infância e Juventude caberá, também, o julgamento das ações civis públicas fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente. Para o exercício do cargo de Juiz de Direito da Infância e Juventude é necessário, assim, não somente conhecimento teórico e prático, mas sensibilidade para lidar com a problemática específica dessa população, formada por sujeitos mais frágeis, merecedores de maiores cuidados pelo legislador. Ao juiz que atua na vara especializada é requerida, ainda, uma postura ativa e voltada ao cumprimento dos preceitos constantes da Constituição Federal, já regulamentadas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 7 4. COMPETÊNCIA Competência Territorial: Competência trata-se da qualidade legítima de jurisdição ou autoridade, conferidas a um juiz ou a um tribunal, para conhecer e julgar certo feito submetido à sua deliberação dentro de determinada circunscrição judiciária. A determinação da competência, em casos de disputa judicial sobre a guarda - ou mesmo a adoção - de infante deve garantir primazia ao melhor interesse da criança, mesmo que isso implique em flexibilização de outras normas. O princípio do juízo imediato estabelece que a competência para apreciar e julgar medidas, ações e procedimentos que tutelam interesses, direitos e garantias positivados no ECA é determinada pelo lugar onde a criança ou o adolescente exerce, com regularidade, seu direito à convivência familiar e comunitária. Embora seja compreendido como regra de competência territorial, o art. 147, I e II, do ECA apresenta natureza de competência absoluta. Isso porque a necessidade de assegurar ao infante a convivência familiar e comunitária, bem como de lhe ofertar a prestação jurisdicional de forma prioritária, conferem caráter imperativo à determinação da competência. O princípio do juízo imediato, previsto no art. 147, I e II, do ECA, desde que firmemente atrelado ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, sobrepõe-se às regras gerais de competência do CPC. “Art. 147. A competência será determinada: I - pelo domicílio dos pais ou responsável; II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável. § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção. 8 § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente. § 3º Em caso de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado” A regra da perpetuatio jurisdictionis cede lugar à solução que oferece tutela jurisdicional mais ágil, eficaz e segura ao infante, permitindo, desse modo, a modificação da competência no curso do processo, sempre consideradas as peculiaridades da lide. Competência Material Com fulcro no art. 148 do ECA, podemos afirmar que a Vara da Infância e da Juventude possui as seguintes competências materiais: Conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis; Conceder remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; Conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente; Conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando medidas cabíveis; Aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; Conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. O parágrafo único do referido artigo traz a hipótese de quando se tratar de crianças ou adolescentes que se enquadrem nas seguintes hipóteses disciplinadas pelo art. 98: Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. A vara da Infância e da Juventude também terá competência para o fim de conhecer de pedidos de guarda e tutela; conhecer de ações de destituição do poder 9 familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda; suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do pátrio poder poder familiar; conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; conhecer de ações de alimentos; determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito. Dessa forma, quando houver crianças ou adolescentes no processo, ainda que demandando outras normas sobre competência, deve-se flexibilizá-las e correr o processo segundo as normas no Estatuto da Criança e a do adolescente, pois o melhor interesse da criança é causa de competência absoluta. 5. DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Primeiramente, é interessante definir o que são os direitos fundamentais: São os direitos básicos individuais, sociais, políticos e jurídicos que são previstos nas normas legais de uma nação. Por norma, os princípios fundamentais são baseados nos princípios dos Direitos Humanos. Vale ressaltar que os direitos fundamentais são diferentes dos direitos humanos. Enquanto os Direitos Humanos possuem caráter universal e atemporal, valendo para todas as pessoas no mundo, independente da sua nacionalidade, cultura, etnia etc. Geralmente são estabelecidos pela ONU, através de suas assembleias onde os países são convidados para serem signatários dessas deliberações; Os Direitos Fundamentais estão intrinsecamente relacionados com as garantias fornecidas por determinado Estado aos seus cidadãos, ou seja, possuem caráter Nacional. Adentrando nos Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente, a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, 10 concede a crianças e adolescentes uma série de direitos básicos que ainda não tinham sido instituídos até o momento, e menciona em seu artigo 227: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Posteriormente, houve a promulgação do Estatuto da Criança e do adolescente, que tratou de implantar medidas protetivas, e fortalecer direitos fundamentais de crianças e adolescentes que já haviam sido mencionados na CF/88. Os direitos fundamentais estabelecidos pelo ECA se encontram inicialmente nas disposições preliminares, especificamente no Art. 4º. Posteriormente tais direitos são destrinchados em 5 capítulos, indo do ART. 7º ao 69. Do direito à Vida e à saúde: O primeiro capítulo traz, do art. 7º ao 14, garantias sobre o direito à vida e à saúde da criança e do adolescente, direito basilar necessário para garantir os demais, visto que são decorrentes deste. O art. 7º do ECA traz o seguinte texto: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.” Para que tais direitos sejam efetivados, os demais artigos trazem detalhadamente quais as medidas que devem ser tomadas. Podemos elencar alguns dos direitos: O art. 8º assegura as mulheres acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e planejamento reprodutivo e assegura para as gestantes nutrição adequada, o atendimento pré e perinatal, pelo Sistema Único de Saúde; O art. 9º traz o direito de aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. Do direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade: 11 O direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade encontram-se previstos no art. 15 ao 18-b do ECA. É importante garantir esses direitos para que o jovem e o adolescente cresçam com a concepção de que ter opinião é importante, que são livres e detentores do direito de serem tratados com dignidade. O art. 15 nos traz o seguinte: A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. O art. 16 nos traz quais aspectos o direito a liberdade abrange, que são os seguintes: Ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; Opinião e expressão; Crença e culto religioso; Brincar, praticar esportes e divertir-se; Participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; Participar da vida política, na forma da lei; Buscar refúgio, auxílio e orientação. Com base no art. 17, o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. E com relação a Dignidade, o art. 18 nos traz que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Do direito à Convivência Familiar e Comunitária: Crianças e adolescentes têm o direito de possuir uma convivência saudável com suas famílias, vizinhos e as comunidades em que vivem. Embora cada família tenha seu próprio estilo de vida e status financeiro diferente, também é importante manter um ambiente saudável e respeitoso. Encontra-se disciplinado nos arts. 19 ao 52-d do ECA. O Art. 19. disciplina que é direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Os demais artigos trazem uma série de situações que podem ocorrer e como será a manutenção desse direito. 12 Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer: O direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer encontram-se previstos do art. 53 ao 59 do ECA. Garantir o acesso a esses direitos é de suma importância, visto que o adolescente e o jovem estão em fase de desenvolvimento e necessitam constantemente de estímulos, importantes inclusive para a formação do caráter. Com relação a educação, o Art. 54. traz em seus incisos que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; Atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Partindo para a Cultura, o Esporte e o Lazer, o art. 59, os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho: Ao adentrar na adolescência há a adição do direito à profissionalização e à proteção no trabalho, elencados do art. 60 ao 69 do ECA. Para garantir que eles desfrutem de direitos profissionais básicos, a ordem estabelece um sistema de trabalho especial, que traz uma série de direitos e restrições. Com fulcro na Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98, o trabalho é restringido somente aos adolescentes que possuam 16 anos ou mais, trazendo a exceção aos que tenham de 14 a 16 anos incompletos, enquadrados na característica de jovem aprendiz. 13 O art. 63 do ECA traz três princípios que a formação técnico-profissional deve obedecer, sendo os seguintes: Garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; Atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; Horário especial para o exercício das atividades. Garantir o acesso a esses direitos é de suma importância, pois está diretamente ligada à formação de cada um e os prepara para futuramente ingressar no mercado de trabalho. 6. A DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL E A VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE Com a incorporação da Doutrina da Proteção Integral, a Justiça teve suas funções diretamente impactadas pelas mudanças operadas no marco legal, que, identificando-se como a “nova Justiça da infância e juventude”, exigiu um novo modelo de atuação. Constata-se que a aprovação da Convenção sobre os Direitos da Criança, em 1989, deflagrou um amplo processo de reordenamento legal e institucional em relação aos Estados signatários, a fim de promover as medidas internas para a efetivação da sua proteção especial, consubstanciando todos os direitos e instrumentos para o seu pleno desenvolvimento e realização do seu interesse superior. O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeito de direitos, aliado à proibição taxativa de detenções ilegais ou arbitrárias, produziram um impacto fundamental na forma como as políticas para a infância vinham sendo concebidas desde a implantação dos Tribunais de Menores, dirigidas, exclusivamente, ao controle social daqueles em situação de suposto abandono ou delinquência. Além disso, no ordenamento jurídico brasileiro, a incorporação da doutrina da proteção integral, foi consagrada no texto constitucional de 1988 e, especificamente, na Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) que, ao regulamentar o dispositivo constitucional em consonância com os princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança, substituiu o modelo jurídico anterior de 14proteção aos “menores”, fundado na Doutrina da Situação Irregular, estabelecendo “uma nova concepção de infância, atrelada à nova concepção de cidadania”. (VERONESE, 2011, p. 27). A partir da Convenção sobre os Direitos da Criança, os novos Sistemas de Justiça da infância e juventude tiveram que produzir um aparato jurídico e ideológico que sustentasse esse modelo tutelar, substituindo-o por um sistema garantista e de intervenção mínima no aspecto punitivo, indo muito mais além do simples reconhecimento das garantias que gozam os adultos, para construção de um modelo de responsabilidade do adolescente que considere as suas especificidades, a partir da proteção integral dos seus direitos, efetivados por meio de políticas sociais. Dessa forma, a Justiça da Infância e Juventude, passa “a ser concebida como parte integrante do processo de desenvolvimento nacional de cada país, devendo ser administrada de maneira a contribuir para a manutenção da paz e da ordem na sociedade”, como prescreve o princípio 1.4 das Regras de Beijing. A especialização do Sistema de Justiça no âmbito da normativa internacional, com enfoque no bem-estar do jovem e a necessária prioridade para os atos judiciais que diziam respeito aos interesses das crianças, foram, para Cunha, Lépore e Rossato (2011, p. 63), os fatores que estenderam a competência da Justiça da Infância e Juventude para além das condutas contrárias à lei penal praticadas por crianças e adolescentes, “consolidando-se como juízo privativo das causas que tenham por objetivo a promoção de seus direitos”. Dessa forma a tutela dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, pressupõe um Sistema de Justiça especializado, composto por diversas instituições responsáveis pela sua efetivação, incluindo a Vara da Infância e Juventude, o Ministério Público, a Defensoria Pública, além dos órgãos de Segurança Pública e outros responsáveis pelo acesso à Justiça. Diferentemente da Justiça comum, a atuação da Justiça da Infância e da Juventude assume peculiaridades que se incorporam com a Doutrina da Proteção Integral, orientando-se por princípios e regras procedimentais próprios no intuito de instrumentalizar a realização da prestação jurisdicional para garantia da efetividade de seus direitos. 15 7. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS É notório que os princípios representam as fontes fundamentais do Direito, servindo de parâmetro, limitando as regras e preenchendo as lacunas existentes em nosso ordenamento. Segundo Celso Bandeira de Mello: Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. Desta forma, o Estatuto da Criança e Adolescente juntamente com a Constituição Federal de 1988 apresentaram princípios fundamentais em relação à proteção da Criança e do Adolescente. Dois princípios são conhecidos como os basilares para a criação deste Estatuto, que são: a doutrina da proteção integral e o princípio do melhor interesse da criança. A doutrina da proteção integral está presente no artigo 227 da CF/88, dispondo que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurarem à criança e ao adolescente dando prioridade absoluta a eles, o direito à vida, à saúde, à alimentação, educação, lazer, profissionalização, à cultura, dignidade, respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los à salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Há a necessidade de proteger a criança e ao adolescente diante da explícita fragilidade e da condição de ser uma pessoa em pleno desenvolvimento, requerendo cuidados especiais, e demandando todos os esforços possíveis para sua concretização. A inclusão deste artigo à Constituição representou um enorme avanço em alguns aspectos, sendo posteriormente regulamentado com o artigo 4º ao Estatuto da Criança e Adolescente. 16 Um outro princípio basilar, é do melhor interesse da criança, que se tornou uma espécie de orientador, tanto para o legislador, quanto para o aplicador da norma, que visa garantir que acima de qualquer interesse, de qualquer decisão, prevaleça o interesse do menor. Assim, todas as situações, problemas, decisões que envolvam criança e adolescente, este princípio irá assegurar que seja buscada a alternativa que satisfaça os direitos do menor, fazendo com que seus interesses sejam tratados sempre como prioridade absoluta. Além destes dois princípios que são tratados como os basilares para o Estatuto da Criança e Adolescente, existem outros princípios, como o da Sigilosidade, que garante que qualquer ato policial, jurídico ou administrativo que seja relativo a criança e adolescente, é vedada a sua divulgação, garantindo a privacidade dos registros de jovens infratores, sendo somente permitido o acesso a pessoas devidamente autorizadas. Um outro princípio é o da Gratuidade, garantindo que toda criança e adolescente terá acesso à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. Um quinto princípio, é da Convivência Familiar, respaldado no artigo 227 da Constituição Federal e assegurado pelo artigo 19 do ECA, garante a toda criança e adolescente o direito de ter uma família, valorizando as relações familiares, uma vez que é na família que o menor possui seu refúgio e apoio, e nesse mesmo ambiente familiar é formada e estruturada a personalidade do mesmo. Um último princípio, é da municipalização, trazendo a importância de que os municípios prestem apoio à criança e ao adolescente, objetivando facilitar o atendimento destes, a programas assistenciais, para que as necessidades juvenis sejam de fato tutelados e resguardados. Diante do apresentado acima, entendemos o objetivo geral deste Estatuto e da Legislação Brasileiro no geral, que é o de preservar a criança e adolescente, protegê- los, ajudar no seu desenvolvimento em geral e resguardá-los de qualquer mal que venha a surgir no meio da sociedade. 8. PRINCÍPIOS PROCEDIMENTAIS 17 Visando orientar as atividades de todos os poderes e órgãos do Estado para a concretização do ECA a Constituição Federal de 88 estabeleceu diversos instrumentos que protegem a liberdade e o Direito dos indivíduos. Vale destacar-se que o ART 228 da CF/88 enuncia a necessidade da existência da legislação especial ou tutelar específica, como vista a proteção especial da Criança e do adolescente. São os elementos jurídicos que define e norteiam o modo como a atividade processual deverá ser compreendida e aplicada vinculando a prestação jurisdicional ao conjunto de valores da constituição. A isonomia do tratamento entre as partes exige uma tutela jurisdicional diferenciada, que constituem os princípios que podem ser destacados como garantias constitucionais aplicáveis a todos os processos judiciais e aqueles que versem sobre o ECA, são eles: - O contraditório de a ampla defesa - O acesso à justiça e ao Juiz natural - A motivação das decisões - A publicidade - O duplo grau de Jurisdição - A vedação de provas obtidas por meio ilícito - Efetividade e tempestividade da tutela jurisdicional Quando a lei especial não estabelecer regras especificas, o art. 152 irá prevr a aplicação subsidiária das normais gerais previstas na legislação processual pertinente, abrangendo os Códigos de processo Civil e Penal, assim como outras legislações, como a lei que regula ação civil pública, a que instituimandado de segurança, além do próprio CDC. As regras processuais no âmbito da justiça especializada, se adaptam de acordo com o caso concreto, à principiologia que caracteriza outros microssistemas 18 processuais, como forma de integração naquilo que o ECA não dispuser de forma contrária. Oitiva obrigatória, participação e o direito à informação O direito segundo o qual a criança deve ser ouvida em qualquer procedimento judicial ou administrativo que lhe diga respeito, previsto no art. 12.2 da Convenção sobre os Direitos da Criança, insere-se no contexto dos direitos de liberdade de opinião (art.12.1), expressão (art. 13), pensamento, consciência e religião (art. 14), associação e reunião (art. 15) e informação (art. 17). Reconhecendo expressamente que a titularidade de direitos pressupõe as noções de liberdade e autonomia para o seu exercício, como fundamento e conteúdo da própria dignidade da pessoa humana, a admissão da criança e do adolescente como sujeitos de direito, implica incluir sua participação nos processos de decisão, constituindo-se como o princípio que reflete a essência da Doutrina da Proteção Integral e a principal inovação da Convenção sobre os Direitos da Criança, rompendo com a ideia de que caberia apenas ao adulto definir o que deva ser o seu superior interesse, já que a própria criança está legitimada a falar por si, compreendendo-a a partir de seus próprios interesses. Desta forma, o direito de crianças e adolescente de expressar livremente suas opiniões, e de que as mesmas sejam efetivamente consideradas, estabelece a condição para sua participação ativa em todas as questões que lhe dizem respeito, no âmbito individual ou coletivo, em especial dentro da família, na escola e nas suas comunidades, consolidando a ideia do protagonismo. Intervenção precoce e mínima A violação dos direitos da criança e do adolescente, por ação, omissão ou abuso da família, da sociedade e do Estado, ou mesmo em razão de sua conduta, como prevê o artigo 98, autoriza e legitima a atuação positiva do Poder Público no sentido de adotar todas as medidas necessárias para sua proteção, a fim de cessar a situação que lhe deu origem e restabelecer o direito fundamental atingido, de forma a evitar danos e consequências que afetem ou comprometam o seu desenvolvimento. 19 Privacidade A garantia da publicidade dos atos processuais expressa nos artigos 5º, inciso LX e 93, inciso IX da C.F/88, como salvaguarda do devido processo legal, com o fim de promover a transparência e a fiscalização dos atos estatais, é excepcionada para garantia da intimidade ou do interesse público nas hipóteses identificadas como segredo de Justiça, nas quais o acesso aos autos é limitado às partes e aos profissionais diretamente envolvidos, conforme dispõe a legislação infraconstitucional171 . O direito à intimidade também se encontra no rol dos direitos humanos, prevendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo XII, que “ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques”. O Estatuto da Criança e do Adolescente, prevendo, no artigo 17, que o direito ao respeito consiste na inviolabilidade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem e da identidade, estabelece a regra geral de limitação que fundamenta o princípio da privacidade expresso no artigo 100, parágrafo único, inciso V. O artigo 18 determina ainda que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento vexatório ou constrangedor. Por isso, em vários dispositivos, o Estatuto da Criança e do Adolescente se refere expressamente às ações que devem tramitar em segredo de Justiça, previstas no artigo 27, que trata do estado de filiação; nos artigos 143 e 144, referente à divulgação de notícia relacionada à prática de atos infracionais e no artigo 206, que dispõe sobre a possibilidade de intervenção no processo por quem tenha legítimo interesse. A divulgação por qualquer meio de comunicação, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo à criança e ao adolescente a que se atribua ato infracional, caracteriza a infração administrativa prevista no artigo 247, punida com multa. Por força da Lei n. 10.764, de 12 de novembro de 2003, que alterou o artigo 143, parágrafo único, a proibição da publicidade dos atos, estende-se às autoridades policiais ou administrativas referentes aos procedimentos respectivos, vedando-se qualquer referência que possa conduzir à sua identificação, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. 20 9. A VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE EM NÚMEROS Em uma matéria publicada pelo portal de notícias da Globo – G1, na data de 24/05/2014, houve a informação de que, até a data informada, com base em dados obtidos do CNJ, apenas 159 das 1.303 Varas da Infância e Juventude operavam no país de maneira exclusiva, número que equivalia à 12,2% do montante total. Estes números justificam parte da morosidade que acomete às Varas da Infância, que, devendo dividir espaço com outros tipos de ações (geralmente Vara Penal e Vara do Tribunal do Júri), não dispõem da atenção necessária que pode permitir um modus operandi mais eficiente. Ainda de acordo com a referida pesquisa, possuíamos a seguinte distribuição: ESTADO VARAS CONJUNTAS VARAS EXCLUSIVAS Maranhão 39 1 Mato Grosso do Sul 55 2 Amazonas 21 1 Minas Gerais 136 8 Mato Grosso 30 2 Bahia 84 6 Santa Catarina 61 5 21 Alagoas 12 1 Sergipe 11 1 Tocatins 29 3 Ceará 55 6 Paraná 98 11 São Paulo 183 26 Rondônia 13 2 Paraíba 26 4 Rio de Janeiro 84 13 Rio Grande do Sul 68 12 Goiás 35 7 Rio Grande do Norte 15 4 Piauí 7 2 Pará 21 6 Espírito Santo 25 10 22 Pernambuco 28 14 Acre 6 3 Roraima 1 1 Distrito Federal 3 3 Embora funcionais, o modelo combinado trás um sentimento de defasagem ao trabalho realizado pelos tribunais. Ainda que legalmente prioritários, a concorrência com outros processos que também gozam de tal benefício apenas amplia o acúmulo de ações sem uma decisão definitiva, fazendo com que haja uma demora excessiva na tramitação dos processos. As consequências dessa demora quase sempre são negativas, principalmente quando damos destaque às ações de destituição do poder familiar (o que pode significar que a criança permanecerá lesada até que o Estado intervenha) e adoção (o que pode causar, inclusive, o rompimento de um vínculo que já poderia estar se formando entre o adotante e o adotando). No que tange ao número de processos distribuídos, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ publicou, em seu canal “Justiça Números”, a ocorrência de 870.403 (oitocentos e setenta mil, quatrocentos e três) novos casos referentes à área da Infância e Juventude no ano de 2019. Dentro desses números, 864.839 (oitocentos e sessenta e quatro mil, oitocentos e trinta e nove) casos foram de ações no 1º grau de jurisdição; 2.935 (dois mil, novecentos e trinta e cinco) no 2º grau; e 2.629 (dois mil, seiscentos e vinte e nove) em sede de Juizado Especial. Quando checados os assuntos referentes às ações, temos boa variedade no tipo de casos que foram distribuídos, como exemplos: ação de alimentos, adoção, emancipação, guarda, advertência, liberdade assistida, auto de infração etc. Por fim, o relatório também informa que há, em média, 80 milhões de processos correntes no país (referente ao sistema de justiça como um todo). Infelizmente, o portal não chega 23 a detalhar a quantidade média de processos que tramitam apenas na Vara da Infância e Juventude (apenas a variação de novos casos, que circulam entre os 600 (seiscentos)a 800 (oitocentos) mil por ano), consequência da falta de exclusividade cartorária acima mencionada. 10. ATOS INFRACIONAIS Segundo o Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude, Jeferson Moreira de Carvalho (1997, p. 9), “[...] considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção.” Assim podemos afirmar então, que a criança ou adolescente não cometem crime, mas sim cometem ato infracional. Diante do exposto para crianças e adolescentes, ato infracional seria a infração penal. O art. 103, do ECA, afirma que ato infracional é a conduta considerada como crime ou contravenção penal, praticada por criança (indivíduo até 12 anos incompletos) e adolescente (pessoa entre 12 e 18 anos de idade incompleto). A atual situação do Brasil é sinalizada pela concentração de renda, pelas empresas publicas que estão sendo privatizada, elevação pra pobreza, falta de emprego, principalmente nas classes menos favorecidas, na qual as pessoas sequer têm expectativa para um trabalho. Segundo Costa, as situações sociais da vida a qual o adolescente está inserido colaboram para ocorrência do exercício de atos infracionias. A desigualdade social e de oportunidades, a falta de 24 expectativas sociais, a desestruturação das instituições públicas e as facilidades oriundas do crime organizado. Todas essas causas não podem ser encaradas de forma deterministas, não considerando a participação ativa dos sujeitos envolvidos e suas vontades. No entanto, esses fatores contribuem para a ocorrência de delinqüência e estão relacionados à observação da maior ou menor incidência de violência em grupos sociais, que vivem em determinadas circunstâncias sociais. (COSTA, 2005, p.76).. Ato infracional praticado por criança Como já citado no artigo 2º do Estatuto, considera-se criança a pessoa com até 12 (doze) anos de idade. Se a criança vier a cometer algum ato infracional, ela irá receber as medidas previstas do art. 101 (medidas de proteção). Prevê o artigo 101, do Estatuto: Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocação em família substituta. 25 Fica claro que o legislador tem a preocupação em atingir tanto a criança quanto sua família, porque levando-se em conta que a criança praticou um ato infracional, é porque a base familiar não está bem, ou seja, não estão conseguindo manter a criança dentro da sociedade, com uma relação social comum. Ato infracional praticado por adolescente. Ainda no art. 2º do ECA, onde diz que quem é criança, estabelece também a idade do adolescente entre 12 e 18 anos. Tanto a criança como o adolescente são inimputáveis, no entanto as medidas aplicadas são distintas para aqueles que cometeram o ato infracional. São as medidas socioeducativas previstas no art 112, que irão ser aplicadas para aquele adolescente que praticou um ato infracional. Como já citado acima, o adolescente que cometeu algum ato infracional estará subordinado a receber medidas socioeducativas. O processo se fundamenta em audiências, sendo a de apresentação e a de instrução. Para se propor ação socioeducativa não é preciso que haja prova formada da autoria e da materialidade do ato. As provas, geralmente serão recebidas pelo Juiz. Quando o adolescente comete um ato infracional, ocorrerá a ação sócioeducativa. Essa ação é de natureza pública incondicionada, ou seja, não depende da vontade do ofendido ou de seu representante legal. A ação sócio- educativa terá essa natureza, independentemente do ato infracional praticado. Com essa ação visa-se que o adolescente, ao alcançar a imputabilidade, não venha a cometer novos delitos, ou seja, busca-se a ressocialização do adolescente. Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos dessa Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato. 26 O artigo citado relata sobre os adolescentes, estando exclusas as crianças. O parágrafo único revela que deve ser considerada a idade do adolescente na data que praticou o ato infracional. Independente do adolescente ter chegado a maioridade penal, serão oportunas as medidas que estão previstas no ECA. É necessário que pensemos no adolescente como pessoa em condição especial de desenvolvimento, não havendo muitas vezes, capacidade de discernimento. 10.1 PROCESSO DE APURAÇÃO A Constituição Federal estabelece que os menores de dezoito anos são inimputáveis, e que os adolescentes autores de atos infracionais, crimes ou contravenções penais, se sujeitam às normas da legislação especial. Tal regramento legal é o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual disciplina o procedimento para a apuração de ato infracional atribuído adolescente, em seus artigos 171 a 190. Ao adolescente, o Estado, a família e a sociedade devem assegurar direitos mínimos para que aquela pessoa que se encontra em situação peculiar de desenvolvimento possa obter uma formação capaz de torná-la um adulto profissional, livre, educado, saudável, culto, digno e respeitoso, salvaguardando- o de toda forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão. O alcance desses direitos se obtém com a proteção especial de algumas garantias, dentre as quais a do pleno conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica prestada por profissional habilitado, visando a evitar a exposição temerária do adolescente e eventual prejuízo para a sua formação psicossocial. Diante dessas garantias oferecidas ao adolescente, deve o Estado observar, de forma estrita, para a aplicação de qualquer medida sócio-educativa, o princípio maior esculpido na Constituição Federal: o devido processo legal. O adolescente apreendido em flagrante deverá ser cientificado de seus direitos (art. 106, par. único do ECA) e encaminhado à autoridade policial competente (art. 27 172 do ECA), com comunicação incontinenti ao Juiz da Infância e da Juventude e sua família ou pessoa por ele indicada art. 107 do ECA. Caso haja DP especializada para adolescentes, deverá o adolescente ser a esta encaminhado, mesmo quando o ato for praticado em companhia de imputável. A falta da imediata comunicação da apreensão de criança ou adolescente à autoridade judiciária competente, à família ou pessoa indicada pelo adolescente importa, em tese, na prática do crime do art. 231 do ECA, assim como se constitui crime proceder à apreensão de criança ou adolescente sem que haja flagrante ou ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente ou sem a observância das formalidades legais (art. 230, caput e par. único do ECA). Caso o ato infracional seja praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa, deverá ser lavrado auto de apreensão, com a oitiva de testemunhas, do adolescente, apreensão do produto e instrumentos da infração e requisição de exames ou perícias necessárias à comprovação da materialidade do ato, art. 173 do ECA). Se o ato infracional for de natureza leve, basta a lavratura de boletim de ocorrência circunstanciado art. 173, par. único do ECA. Necessário jamais perderde vista que na forma do disposto no art. 114 do ECA, a imposição de medidas socioeducativas tem como pressuposto a comprovação da autoria e materialidade da infração. Com o comparecimento dos pais ou responsável (pode ser o dirigente da entidade de abrigo se o adolescente está em atendimento - vide art. 92, par. único do ECA) e o caso não comporte internação provisória, deverá ocorrer a liberação do adolescente (independentemente de ordem judicial) com assinatura de termo de compromisso de apresentação ao MP (art. 174, primeira parte do ECA). A regra será a liberação imediata do adolescente, seja qual for o ato infracional praticado, independentemente do recolhimento de fiança (ou seja, a apreensão em flagrante, por si só, não autoriza a manutenção da privação de liberdade do adolescente), ressalvada a "imperiosa necessidade" do decreto de sua internação provisória conforme arts. 107 par. único e 108, par. único, do ECA. 28 Se o caso reclama o decreto da internação provisória do adolescente (cujos requisitos são: a) gravidade do ato, b) repercussão social, c) necessidade de garantia da segurança pessoal do adolescente ou d) manutenção da ordem pública - art. 174, in fine, do ECA) ou não comparecem os pais ou responsável, deve ser aquele imediatamente encaminhado ao MP, com cópia de auto de apreensão. Se não é possível a apresentação imediata, encaminha-se o adolescente à entidade apropriada de internação provisória e, em 24 horas, apresenta-se o adolescente ao MP art. 175 e §1º do ECA. Onde não houver entidade apropriada, o adolescente deverá aguardar a apresentação ao MP em dependência da DP separada da destinada a imputáveis (art. 175, §2º do ECA), onde em qualquer hipótese não poderá permanecer por mais de 05 (CINCO) DIAS, sob pena de responsabilidade arts. 5º e 185, §2º c/c art. 235, do ECA. O adolescente não poderá ser transportado em compartimento fechado de viatura policial (camburão), em condições atentatórias à sua dignidade ou que impliquem em risco à sua integridade física ou mental (art. 178 do ECA), o que importa, em tese, na prática do crime previsto no art. 232 do ECA Não há proibição expressa ao uso de algemas, porém, em especial com o advento da Súmula Vinculante nº 11, do STF, estas somente devem ser empregadas quando houver real justificativa para tanto, de modo a evitar que o adolescente seja submetido a um constrangimento maior que o estritamente necessário vide art. 232, do ECA. Se não há flagrante, autoridade policial deverá realizar as diligências necessárias à apuração do fato, encaminhando ao MP, com a maior celeridade possível, o relatório das investigações e outras peças informativas (art. 177 do ECA). O MP procede à oitiva informal do adolescente e, se possível, dos pais, testemunhas e vítimas art. 179 do ECA. Caso, após liberado, o adolescente não compareça na data designada para o ato, o MP notificará os pais ou responsável para apresentação daquele e, caso persista a ausência, expedirá ordem de condução coercitiva, podendo para tanto requisitar o concurso das polícias civil e militar art. 179, par. único, do ECA. 29 A audiência perante o MP será realizada com as peças autuadas no cartório e com certidão de antecedentes. Quando da oitiva informal deve-se colher, tanto junto ao adolescente, quanto a seus pais ou responsável, informes acerca da conduta pessoal, familiar e social daquele (se estuda, trabalha, é obediente, respeitador etc.), elementos que irão influenciar tanto na tomada de decisão acerca de que providência deverá o MP adotar no caso (ato que deverá ser fundamentado - art. 205, do ECA), quanto, ao final do procedimento (se oferecida a representação), na indicação da(s) medida(s) a ser(em) aplicada(s). A princípio, não é necessária a presença de advogado quando da realização da oitiva informal (a obrigatoriedade se dá apenas após a audiência de apresentação - art. 186, §§2º e 3º c/c art. 207 e §1º do ECA), mas se o adolescente tiver defensor constituído, a assistência deste deve ser garantida. Após a oitiva informal, o MP poderá tomar uma das seguintes providências (art. 180 do ECA): ARQUIVAMENTO: fato inexistente, atipicidade do fato, autoria não é do adolescente, pessoa tem mais de 21 anos no momento da oitiva informal etc.; REPRESENTAÇÃO: dedução da pretensão socioeducativa em Juízo pelo MP (art. 182 do ECA); Toda ação socioeducativa é pública incondicionada, e o MP é o seu titular exclusivo, não havendo que se falar em "ação socioeducativa privada" ainda que em caráter "subsidiário" (ou seja, não se aplicam as disposições do art. 29 do CPP e art. 5º, inciso LIX, da CF). A propósito, não foi fixado qualquer prazo para o oferecimento da representação (embora, se for o caso, este deva ocorrer da forma mais célere possível, havendo inclusive a previsão de sua dedução oral, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária - art. 182, §1º, 2º parte do ECA), sendo que, neste aspecto, a atuação do MP não está sujeita ao princípio da obrigatoriedade, mas sim ao princípio da oportunidade, sendo sempre preferível a concessão da remissão como forma de exclusão do processo (inteligência do art. 182, caput do ECA). 30 Formalmente, a representação socioeducativa se assemelha a uma denúncia- crime, contendo como elementos: o endereçamento (sempre ao Juiz da Infância e Juventude); a qualificação das partes; a narrativa do fato e sua capitulação jurídica; o pedido de procedência e aplicação da medida socioeducativa que se entender mais adequada (não há pedido de "condenação" nem deve haver a prévia indicação de qualquer medida) e, por fim, o rol de testemunhas, se houver. Tendo em vista a celeridade do procedimento, não se exige, quando do oferecimento da representação, prova pré-constituída de autoria e materialidade da infração (art. 182, §2º do ECA), que somente será necessária ao término daquele, para que possa ser imposta alguma medida socioeducativa ao adolescente (conforme art. 114 do ECA). Isto não significa deva o MP oferecer a representação (em especial quando acompanhada de um pedido de decreto de internação provisória) sem que existam ao menos fortes indícios de autoria e materialidade da infração, sob pena de dano grave e irreparável ao adolescente acusado. Em caso de dúvida, é preferível a devolução dos autos à D.P. de origem para realização de diligências complementares. Vale destacar que, embora seja desejável, e deva ocorrer, sempre que possível, a oitiva informal do adolescente não é conditio sine qua non ao oferecimento da representação socioeducativa, sendo possível que isto ocorra sem aquela, como na hipótese em que o adolescente se encontra foragido. REMISSÃO: Quando concedida pelo MP, constitui-se numa forma de exclusão do processo. Pode ser concedida em sua modalidade de perdão puro e simples (caso em que independe do consentimento do adolescente) ou vir acompanhada de MSE não privativa de liberdade (devendo ser esta ajustada pelo representante do MP e adolescente - arts. 126, caput e 127, ambos do ECA - maiores detalhes adiante). Promovido o arquivamento ou concedida a remissão, mediante termo fundamentado (vide art. 205 do ECA), os autos deverão ser encaminhados à autoridade judiciária, para homologação (art. 181, caput, do ECA). Mesmo tendo sido o adolescente apreendido em flagrante, após concedida a remissão ou promovido o arquivamento, ou mesmo quando, oferecida a representação, não estiverem presentes os elementos que autorizam o decreto da internação provisória, ou apontam no sentido na "necessidade imperiosa" da medida 31 (cf. art. 108, do ECA), o Ministério Público poderá entregar o adolescente diretamente aos pais, mediante termo, independentemente de ordem judicial (valendo lembrar que a regra será sempre a liberação imediata do adolescente - cf. art. 108, par. único, do ECA. Homologadoo arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária deverá determinar, conforme o caso, o cumprimento da medida eventualmente ajustada (vide art. 126, caput c/c art.127 e art. 181, §1º, todos do ECA). Caso discorde do arquivamento/remissão e/ou da medida ajustada, a autoridade judiciária não terá alternativa outra além de encaminhar os autos, mediante despacho fundamentado, ao Procurador Geral de Justiça, que oferecerá representação, designará outro membro do MP para fazê-lo ou ratificará o arquivamento/remissão, que então ficará a autoridade judiciária obrigada a homologar (art. 181, §2º do ECA - procedimento similar ao contido no art. 28 do CPP). A autoridade judiciária, portanto, neste momento não pode homologar a remissão sem a inclusão da medida eventualmente ajustada entre o MP e o adolescente/responsável, sendo-lhe vedado modificá-la de ofício (vide art. 128 do ECA). Uma vez oferecida (e formalmente recebida) a representação, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação, com a notificação (citação) do adolescente E seus pais ou responsável, para que compareçam ao ato acompanhados de advogado, dando-lhe ciência da imputação de ato infracional efetuada (art. 184, caput e §1º, e art. 111, inciso I, do ECA). Se os pais ou responsável não forem localizados, o Juiz designa curador especial ao adolescente (art. 184, §2º, do ECA). Se não é localizado o adolescente, expede- se mandado de busca e apreensão e susta-se o processo até sua localização - ou seja, o adolescente não pode ser processado à revelia (art. 184, §3º do ECA). Estando o adolescente internado, será requisitada sua apresentação, sem prejuízo da notificação de seus pais ou responsável, que deverão estar presentes ao ato (art. 111, VI c/c art. 184, §4º, do ECA). Se o adolescente, apesar de citado, não comparece ao ato, é este resignado, determinando a autoridade judiciária sua condução coercitiva, expedindo-se o mandado respectivo (art. 187, do ECA). 32 Estando apreendido o adolescente, deve a autoridade judiciária decidir acerca da necessidade ou não da manutenção de sua internação provisória, observado o disposto no art. 108, caput e parágrafo único e art. 174, do ECA (a internação provisória somente pode ser decretada em se tratando de ato infracional de natureza grave, após cabal demonstração de sua necessidade imperiosa, nas hipóteses previstas em lei - art. 174, do ECA, devendo ser o adolescente encaminhado para estabelecimento adequado, onde será obrigatória a realização de atividades pedagógicas). O prazo máximo de permanência em estabelecimento prisional (enquanto aguarda a remoção para estabelecimento adequado) é de 05 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade, inclusive criminal (arts. 5º e 185, §2º c/c 235, do ECA). Comparecendo adolescente e seus pais ou responsável, serão colhidas as declarações de todos (conforme art. 186, caput do ECA - a audiência de apresentação não pode ser confundida com o singelo "interrogatório" do acusado previsto no CPP, indo muito além), podendo ser solicitada a ouvida de profissionais habilitados (se disponível, a própria equipe técnica Inter profissional a serviço do Juizado da Infância - cf. art. 151, do ECA, ou os técnicos da unidade onde o adolescente estiver internado). Neste momento, o Juiz, ouvido o MP, pode conceder a remissão judicial, como forma de extinção ou suspensão do processo (arts. 186, §1° e 126, par. único, ambos do ECA). Se não conceder remissão judicial, o Juiz designa audiência em continuação e pode determinar a realização de diligências e de estudo psicossocial (art. 186, §2º do ECA), providência que se mostra imprescindível caso se vislumbre a possibilidade da aplicação de medida privativa de liberdade, dado princípio constitucional da excepcionalidade da internação. A partir da audiência de apresentação, se o adolescente ainda não tiver advogado constituído, a autoridade judiciária deverá lhe nomear um defensor (art. 111, inciso III e art. 186, §2º c/c art. 207, caput e §1º do ECA). O advogado constituído ou nomeado deverá apresentar defesa prévia no prazo de 03 (três) dias (art. 186, §3º do ECA), arrolando as testemunhas que tiver e pedindo a realização das diligências que entender necessárias. Como no procedimento para 33 apuração de ato infracional é fundamental a aferição das condições pessoais, familiares e sociais do adolescente, a oitiva de pessoas que o conhecem, ainda que não tenham testemunhado o ato, assume maior relevância que no processo penal. Na audiência em continuação (verdadeira audiência de instrução e julgamento), são ouvidas as testemunhas da representação, da defesa prévia, juntado relatório (estudo psicossocial) de equipe interprofissional, dando-se a seguir a palavra ao MP e ao advogado para razões finais orais, por 20 minutos, prorrogáveis por mais 10, decidindo em seguida o Magistrado (art. 186, §4º do ECA). Estando o adolescente em internação provisória, o prazo máximo e improrrogável para conclusão de todo o procedimento é de 45 (quarenta e cinco) dias, computados da data da apreensão (inclusive) - arts. 108, caput e 183, do ECA. Tecnicamente não há que se falar em "condenação" ou "absolvição" do adolescente acusado da prática de ato infracional, devendo a sentença acolher ou não a pretensão socioeducativa. No primeiro caso, julga-se procedente a representação e aplica-se a(s) medida(s) socioeducativa(s) mais adequadas, de acordo com as necessidades pedagógicas específicas do adolescente e demais normas e princípios próprios do Direito da Criança e do Adolescente (observando-se o disposto nos arts. 112, §1º e 113 c/c 99 e 100, todos do ECA), com fundamentação quanto prova de autoria e materialidade e adequação da (s) medida(s) aplicada(s) - com especial enfoque acerca da eventual pertinência das medidas privativas de liberdade (dadas as restrições e princípios que norteiam - e visam restringir - sua aplicação mesmo diante de infrações consideradas de natureza grave). Como dito anteriormente, apenas para aplicação da MSE de advertência, bastam "indícios suficientes" de autoria e prova de materialidade (art. 114 do ECA). No segundo caso, julga-se improcedente a representação, não sendo possível a aplicação de qualquer medida (art. 189 do ECA - não configuração do ato infracional - conduta atípica ou acobertada pelas excludentes de antijuridicidade; inexistência do fato ou de provas quanto ao fato; ausência de provas quanto à materialidade; inexistência de provas quanto à autoria). 34 Mesmo improcedente a representação, em havendo necessidade, a autoridade judiciária pode aplicar ao adolescente medidas unicamente protetivas (sem carga coercitiva, portanto), nos moldes do art. 101 estatutário, ou encaminhar o caso para atendimento pelo Conselho Tutelar. Intimação da sentença que reconhece a prática infracional e aplica MSE: Se a autoridade judiciária impõe ao adolescente medida socioeducativa privativa de liberdade (semiliberdade ou internação), a intimação da sentença deve ser feita pessoalmente ao adolescente e ao defensor, sendo que na hipótese do primeiro não ser encontrado, aos pais ou responsável, bem como e ao defensor (art. 190, incisos I e II, do ECA). Recaindo intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da decisão (art. 190, §2º, do ECA). Mesmo que o adolescente diga que não deseja recorrer, o defensor não está impedido de fazê-lo, porém se a manifestação do adolescente for afirmativa, desde logo se considera interposto o recurso, devendo o defensor ser intimado a oferecer as razões respectivas. Aqui vale abrir um parêntese para destacar o fato de tal permissivo se constituir numa peculiaridade em relação à sistemática estabelecida para o processamento dos recursos interpostos contra decisões proferidas pela Justiça da Infância e Juventude. Comefeito, por força do disposto no art. 198, do ECA, em todos os procedimentos afetos à Justiça da Infância e Juventude (inclusive é claro os procedimentos para apuração de ato infracional praticado por adolescente), adota-se o sistema recursal do Código de Processo Civil, com algumas adaptações. Como sabemos, por força do disposto nos arts. 506, par. único c/c 514, ambos do CPC, a petição na qual a apelação é interposta já deve vir acompanhada das respectivas razões, não sendo o caso de abrir novo prazo (ou um prazo específico, como ocorre na Lei Processual Penal), para apresentação destas. 35 Uma vez que o sistema recursal adotado pela Lei nº 8.069/90 é o previsto no Código de Processo Civil, a princípio não seria admissível interpor o recurso para, somente após, promover a juntada de suas razões. Ocorre que o disposto no citado art. 190, §2º, do ECA se constitui em mais uma "adaptação" ao sistema recursal do Código de Processo Civil introduzida pelo legislador estatutário, que em última análise visa submeter à análise de uma instância superior toda e qualquer decisão impositiva de medida privativa de liberdade a um adolescente acusado da prática de ato infracional, pois via de regra, ao ser indagado se deseja recorrer de tal decisão, a resposta em tais casos será afirmativa. Por fim, resta mencionar que caso a medida socioeducativa aplicada for de natureza diversa das privativas de liberdade (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida ou medidas de proteção), a intimação pode ser feita apenas na pessoa do defensor (art. 190 do ECA). 10.2 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS As medidas socioeducativas são medidas repressivas previstas no Estatuto, cabíveis para jovens de 12 a 18 anos que cometerem ato infracional. Tendo previsões nos arts. 103 a 128, e também na Seção V, do art. 171 ao art. 190 do ECA. Além do ECA, a Lei 12.594 de 2012 veio criar o Sinase, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, tendo a intenção de regulamentar o funcionamento das unidades de internação. A elucidação de ato infracional está prevista no art. 103 do Estatuto: Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. As medidas previstas, a ser empregada pelo juiz considerando inúmeros aspectos, principalmente a graveza do ato infracional, são: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 36 I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. Não impedindo as inúmeras garantias previstas no ECA, a aplicação das Medidas Socioeducativas na prática transformou-se em um Direito Penal Juvenil, com todas os problemas do sistema prisional para adultos. No que tange as medidas protetivas e medidas socioeducativas a respectiva Lei 12.594, no fito de estabelecer o desempenho dos milhares de estabelecimentos educacionais, transformou-se em verdadeira LEP para jovens internos, com presciência de visita íntima e regime disciplinar para os internos que cometerem faltas: Art. 71. Todas as entidades de atendimento socioeducativo deverão, em seus respectivos regimentos, realizar a previsão de regime disciplinar que obedeça aos seguintes princípios: I - tipificação explícita das infrações como leves, médias e graves e determinação das correspondentes sanções; II - exigência da instauração formal de processo disciplinar para a aplicação de qualquer sanção, garantidos a ampla defesa e o contraditório; III - obrigatoriedade de audiência do socioeducando nos casos em que seja necessária a instauração de processo disciplinar; IV - sanção de duração determinada; V - enumeração das causas ou circunstâncias que eximam, atenuem ou agravem a sanção a ser imposta ao socioeducando, bem como os requisitos para a extinção dessa; VI - enumeração explícita das garantias de defesa; VII - garantia de solicitação e rito de apreciação dos recursos cabíveis; e 37 VIII - apuração da falta disciplinar por comissão composta por, no mínimo, 3 (três) integrantes, sendo 1 (um), obrigatoriamente, oriundo da equipe técnica. Art. 72. O regime disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal que advenha do ato cometido. Art. 73. Nenhum socioeducando poderá desempenhar função ou tarefa de apuração disciplinar ou aplicação de sanção nas entidades de atendimento socioeducativo. Art. 74. Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar e o devido processo administrativo. Art. 75. Não será aplicada sanção disciplinar ao socioeducando que tenha praticado a falta: I - por coação irresistível ou por motivo de força maior; II - em legítima defesa, própria ou de outrem. Há pouco tempo, foi notícia a decisão do STF de conceder Habeas Corpus coletivo aos internos de uma unidade no Espírito Santo. Dada a superlotação de uma unidade, a Defensoria Pública impetrou o Habeas Corpus coletivo, e a matéria chegou ao Supremo, que fez história com a excelente decisão. A interpretação concentrada do ECA demonstra que o legislador não pretendia reaver os erros do ultrapassado Código de Menores, no que diz respeito à punição de jovens infratores. A realidade mostra que mudam as legislações e permanecem os mesmos erros. As arcaicas Febens, sigla para Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor, conduziram-se igualmente criadas a fim de dar um acolhimento institucional a crianças e jovens em situação de rua. Na prática, eram verdadeiros presídios para crianças e jovens em situação de miséria, com maus-tratos, violência física, psicológica e sexual entre os internos. A realidade mostrou que não há muita diferença entre as antigas Febens e as atuais unidades de internação para jovens infratores. 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 Com base nas premissas analisadas e nos estudos desenvolvidos, foi possível se perceber uma evolução nos conhecimentos afetos à infância e juventude no Brasil, notadamente no que tange aos trabalhos desenvolvidos nas Varas da Infância e Juventude. Sendo regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a Vara da Infância e Juventude é o órgão do Judiciário brasileiro que se ocupa dos casos de interesse das crianças e adolescentes em situação de risco bem como a apuração de Atos infracionais dos adolescentes, bem como sua inserção em famílias substitutas. A administração da justiça, com resultados efetivos e eficientes na sociedade, é uma meta a ser alcançada, trabalho esse que somente será conseguido com muito trabalho e dedicação daqueles que vivenciam rotineiramente os dilemas e as dificuldades em se laborar numa Vara da Infância e Juventude. Conclui-se que com promulgação da Constituição Federal de 1988 e desde a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, é visível o momento de mudanças e de fortalecimento dos princípios e direitos, sempre voltados a garantir e assegurar uma melhor qualidade de vida ao futuro de nossas gerações. 12 REFERÊNCIAS De Assis, Carlos Augusto, Vieira, Claudia Maria Carvalho do Amaral. Acesso à justiça, varas especializadas e proteção à infância e juventude. 2010. Wikipédia. Juizados da Infância e Juventude. 2019 Guedes, Ivan. Justiça da Infância e da Juventude – Estatuto da Criança e do Adolescente – Video 15/22. YouTube Brasil. MULLER, Crisna Maria. Direitos Fundamentais: a proteção integral de crianças e adolescentes no Brasil. Âmbito Jurídico, 01 de junho de 2011. Disponível em: 39 https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-89/direitos-fundamentais-a-protecao- integral-de-criancas-e-adolescentes-no-brasil/.Acesso em 25 de maio de 2020. Cinco direitos fundamentais da criança e do adolescente: você sabe quais são? Pequeno Príncipe, 12 de outubro de 2016. Disponível em: http://pequenoprincipe.org.br/noticia/cinco-direitos-fundamentais-da-crianca-e-do- adolescente-voce-sabe-quais-sao/. Acesso em 25 de maio de 2020. ECA - introdução e direitos fundamentais da criança e adolescente. Foco Educação Profissional, 27 de junho de 2018. Disponível em: https://www.focoeducacaoprofissional.com.br/blog/assistencia-criancas- adolescentes-situacao-risco-curso-online. Acesso em 26 de maio de 2020. VERONESE, Josiane Rose Petry; SILVEIRA, Mayra. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. Doutrina e Jurisprudência. São Paulo: Conceito Editorial, 2011; ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2011; SANCHES, Helen Crystine Corrêa. DA VARA DE MENORES À VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE: DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO INTEGRAL DOS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO. Orientador: Josiane Rose Petry Veronese. 2014. Tese (Pós- graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Jurídicas, Florianópolis - SC, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/132599/333185.pdf? sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 de maio de 2020. D’AGOSTINO, Rosanne. Só 12% das Varas da Infância no país são exclusivas, segundo CNJ. G1 – O portal de notícias da Globo. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/05/so-12-das-varas-da-infancia-no-pais-sao- exclusivas-segundo-cnj.html. Acesso em: 26 de maio de 2020. CNJ. Justiça em Números. Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=qvw_l%2FPainelCNJ.q vw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT. Acesso em: 26 de maio de 2020. LIBERATI, Wilson Donizeti, Adolescente e ato Infracional, Medida sócio- educativa é pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p104 LIBERATI, Wilson Donizete, O Estatuto da Criança e do Adolescente/comentários. Rio de Janeiro IBPS 1991 p. 30 40 CARVALHO, Jeferson Moreira de. Estatuto da Criança e do Adolescente: Manual Funcional. 1ª ed.; São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1997 SALES. Mione Apolinário. (In) visibilidade perversa: adolescentes infratores como metáfora da violência. São Paulo: Cortez, 2007. JUSBRASIL. As medidas socioeducativas previstas no ECA. Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/628629974/as-medidas- socioeducativas-previstas-no-eca. Acesso em: 26 de maio de 2020. PLANALTO. Estatuto Da Criança e Do Adolescente . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069compilado.htm. Acesso em: 26 de maio de 2020.
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