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A Revolução Cubana, segundo Theda Skocpol

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Alice Duarte e Cassiana Alves
Relações Internacionais – PA05
Professor Gabriel Adam
A Revolução Cubana, segundo Theda Skocpol
	A Revolução Cubana foi, segundo diversos historiadores, a revolução mais exitosa da América Latina. Tal revolução ocorreu em 1959, teve como líderes principais Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, e transformou a ilha caribenha em um pequeno país comunista, dentro da área de influência norte-americana, nos tempos de Guerra Fria. Cuba causou, durante muito tempo, aflição ao governo dos Estados Unidos, já que poderia servir de exemplo para que demais Estados da região – Américas Central e do Sul – também virassem para o “lado vermelho” da disputa ideológica vigente.
	O conceito de “revolução” ainda é inexato, diversos autores já o definiram de diversas maneiras. Ted Gurr, por exemplo, citou que as revoluções ocorrem quando a população está insatisfeita, já Charles Tilly disse que as revoluções são ações coletivas e premeditadas. Theda Skocpol, entretanto, tem uma definição variada para “revolução”, que deriva, principalmente, da concepção marxista da palavra, que se baseia, basicamente, em questões de classes sociais oprimidas, que, com as revoluções, emergem a diferentes posições na sociedade.
	 A Revolução Cubana teve início em meados dos anos 1950, com a insatisfação popular frente à ditadura de Fulgêncio Batista, que era considerado por muitos compatriotas como “entreguista”. Fulgêncio era, portanto, aliado dos Estados Unidos e permitia que a potência capitalista intervisse na ilha quando julgasse necessário, além de ter uma legislação muito branda, que permitia que os criminosos e mafiosos norte-americanos se instalassem no país. Os índices sociais eram péssimos, mais da metade da população vivia na parte rural do país e 1 em cada 4 cubanos era analfabeto. Isso gerou descontentamento em grande parte da população pobre, porém tal parcela da sociedade, por vezes, não sabe exatamente o que deve ser feito para “modificar” a situação e, então, existem líderes que, mesmo não sendo das classes sociais mais baixas, tomam causas para si e lideram as revoluções.
	Foi o caso de Fidel Castro, que não pertencia às camadas baixas da sociedade, mas liderou a causa revolucionária – a partir do Movimento Revolucionário 26 de Julho. Após ser exilado no México, por tentativa de golpe em Cuba, anteriormente, o revolucionário conseguiu voltar ao seu país e, após mais de um ano de guerrilhas no interior de Cuba, em 1º de janeiro de 1959, o Movimento Revolucionário marchou pelas ruas de Havana, tomando, então, o poder do país. 
	Um dos principais requisitos, citados por Theda, em seu livro, é o fato de que, para ser uma verdadeira revolução, deve ser um movimento bem-sucedido, o que ocorreu, de fato, em Cuba, já que Fidel Castro e seus aliados chegaram ao poder e lá estão, até hoje. Além disso, deve haver uma conjuntura histórica favorável para a realização de revoluções – como a Russa e a Francesa, citadas pela autora, em seu livro “States and Social Revolutions” – e, no caso da Revolução Cubana, havia, de fato, um contexto internacional que facilitaria o sucesso de uma revolução. Eram tempos de Guerra Fria e de bipolaridade, portanto quando uma das potências não reconhecia um novo governo, a outra tendia, então, a reconhecer e apoiar.
	Outro ponto principal da autora, para que a revolta realmente seja considerada uma revolução, é de que deve haver luta de classes. No caso cubano havia, sim, uma opressão da população mais pobre – tanto urbana quanto rural – pelas elites do país. Tais elites que, em grande maioria, saíram do país quando os revolucionários conseguiram chegar ao poder. Ademais, a classe social oprimida não passou, com o decorrer dos anos, a ser opressora. Com a instauração, após pressões externas norte-americanas – para tentar derrubar o regime democrático, instalado pelos revolucionários – de um regime ditatorial socialista-marxista, que obteve o apoio da maior parte da população – que anteriormente era oprimida pelo governo de Fulgêncio Batista – para a construção de uma “Cuba melhor para todos”.
	Ocorreu, portanto, outro tópico considerado como fundamental por Skocpol, que é uma mudança radical na sociedade. Com o regime de caráter marxista, Cuba tentou – e ainda tenta – construir um país sem classes sociais e com níveis de igualdade social elevados. Essa transformação social viria, conjuntamente, com uma mudança política – que de fato, como já explicitado anteriormente, ocorreu, com a mudança de um regime totalitário aliado aos Estados Unidos para um socialista. Mais um fator de extrema relevância são as circunstâncias das revoluções, que, por vezes, não terminam da maneira como foi pensada inicialmente – como é, também, o caso da Revolução Cubana, em que os revolucionários não pretendiam instaurar um governo comunista, mas o fizeram por consequências externas.
	A revolução liderada por Fidel Castro foi, essencialmente, nacionalista. O revolucionário, seus seguidores e a população mais pobre não concordavam com as interferências dos Estados Unidos no país e desejavam uma identidade nacional mais forte para Cuba. Tal ideia de que a visão de “Estado-nação” do governo pode ser diferenciada da dos demais pode, segundo Theda Skocpol, acarretar em revoluções nacionalistas – o que aconteceu, exatamente, na ilha caribenha. Cuba não contou com exemplos externos que obtiveram êxitos, mas fora exemplo, nos anos seguintes à revolução e a instauração do governo comunista, para demais países – principalmente o Chile e a Nicarágua – que tentaram fazer – sem sucesso – suas próprias revoluções. 
	O último requisito citado por Theda, em seu livro, que é base para a elaboração desta análise, é o de “autonomia do Estado”. A autora difere de demais segmentos teóricos – tanto dos liberais quanto dos marxistas – no que diz respeito à autonomia estatal, ela considera que o Estado é uma macroestrutura que extrai recursos da sociedade e que não necessariamente é controlado pela classe dominante e não apenas uma arena de disputas. É, portanto, essencial que haja mudanças na esfera estatal – a substituição de antigas instituições para novas instituições, após a instauração de um novo regime. Isso, de fato, ocorreu em Cuba, que modificou as instituições depois da mudança de governo – hoje há um governo executivo, um congresso de parlamentares do Partido Comunista e demais Assembleias Populares em cada região do país.
	Pode-se dizer, então, que a Revolução Cubana se encaixa nos padrões de Theda Skocpol e que, portanto, fora uma revolução verídica. O fato de haver luta de classes e mudanças radicais no governo, na sociedade e na organização do Estado provam que Cuba foi um exemplo de sucesso – assim como as revoluções da França, Rússia e China. Apesar de não ter sido pensado desde o início, o regime comunista de Cuba foi, também, exitoso, visto que os indicadores sociais foram elevados significativamente – hoje, Cuba tem apenas 0,1% de analfabetos no país e possui a melhor medicina preventiva do mundo – e que grande parte da população se encontra satisfeita. A revolução, então, não conseguiu êxito apenas para a autora, mas nos padrões gerais – dado o aumento dos índices citados anteriormente e de outros – obteve, também, sucesso. 
Referências
CORMIER, Jean. Che Guevara: El espíritu de la Revolución. Traduccíon: CAPELLA, Josep Florit. Barcelona: Blume, 2011.
HISTÓRIA ILUSTRADA. Che Guevara: Paixão em Vermelho. Ano 2, n4, 2013
LAW, Jonathan; WRIGHT, Edmund. Dicionário de História do Mundo. Tradução: ANTUNES, Cristina. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
PORTELA, Carine. Retratos de la Revolución. Revista História: BBC, ano 1, n7, 2012.
SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: Socialismo na América Latina. São Paulo: Atual, 1992.
SKOCPOL, Theda. States and Social Revolutions: a comparative analysis of France, Russia and China. New York: Cambridge, 1979. 
VISENTINI, Paulo G. Fagundes. Revoluções e Regimes Marxistas: Rupturas, Experiências e Impacto Internacional. Porto Alegre: Leitura XXI/NERINT/UFRGS,2013.

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