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Resenha Crítica - Introdução Engenharia de Segurança do Trabalho

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO
Resenha Crítica – Segurança do Trabalho na Alcoa (B)
Renata Da Cruz Pereira
Trabalho da Disciplina: Introdução à Engenharia Segurança do Trabalho
Tutor: Carlos Alberto Martins Ferreira
Campo Grande – MS
2021
RESENHA CRÍTICA – SEGURANÇA DO TRABALHO NA ALCOA (B)
O texto “Segurança do Trabalho na Alcoa” (2000) foi um estudo de caso escrito pelo professor Steven J. Spear, da Escola de Negócios de Harvard. A Segurança do Trabalho é uma área de conhecimento responsável por encontrar formas de minimizar a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e, assim, preservar a integridade e a capacidade de trabalho dos indivíduos. O autor inicia o texto mencionando uma das reuniões anuais da Alcoa, realizada em 1996, em que o CEO Paul O’Neill se mostrava muito contente pela melhoria contínua nas medidas de segurança da empresa e pelos altos lucros desta. O’Neill se mostrava muito interessado na área da Segurança do Trabalho, e tinha o ambicioso “objetivo declarado de zero dias de trabalho perdidos por qualquer doença ou lesão”. E, quanto menos dias de trabalho os funcionários de uma empresa perdem mais altos tende a ser a produtividade dos mesmos e, conseqüentemente, mais altos são os lucros da empresa. Mas, embora, Paul O’Neill fosse visto como alguém que tinha a saúde e a segurança dos trabalhadores como absoluta prioridade, essa reputação foi desafiada na reunião de 1996, quando a Irmã Mary Margaret, uma freira beneditina cuja ordem religiosa possuía ações da Alcoa, contestou as práticas da empresa no México. Segundo a freira, existiam indícios de que a empresa não estaria de acordo com os regulamentos locais nem com os valores que defendia. Após a introdução ao problema a ser estudado, o texto segue com a menção de diversas medidas de segurança adotadas pela Alcoa e com a apresentação de depoimentos de pessoas ligadas à empresa, reforçando a identidade destae do CEO Paul O’Neill enquanto grandes defensores da Segurança do Trabalho. Segundo José Taragano, diretor de Meio Ambiente, Saúde e Segurança, a preservação da vida é de extrema importância para a Alcoa, e a segurança não seria um detrator para os lucros, e sim um adicionador. O autor então traz uma questão de extrema importância para o caso: a dificuldade dos gerentes em cumprir os parâmetros de segurança de Paul O’Neill. Eles são “confrontados com as pressões diárias de se fazer vendas e cumprir as metas de produção”. E, inevitavelmente, adotar medidas para melhorar a saúde e a segurança dos trabalhadores implica em investimentos financeiros. Para muitas pessoas, esses investimentos podem ser considerados gastos secundários ao objetivo principal, que é gerar lucro, pois a idéia de usar dinheiro para algo pode parecer contrária à ideia de ganhar dinheiro. Em seguida, é retomada a questão das alegações da Irmã Mary Margaret, que foram consideradas exageradas pelos gestores da divisão mexicana da Alcoa e pelo presidente da unidade de negócios. Apesar disso, O’Neill decidiu investigar a situação. Ele enviou uma equipe de especialistas em Saúde e Segurança para visitar as fábricas do México e, posteriormente, viajou para fazer também uma avaliação por conta própria. As fábricas em questão faziam parte da unidade de negócios Alcoa Fujikura (AFL), que, apesar de ser apenas uma de 21 unidades da Alcoa, desde sua criação havia gerado mais de um décimo das vendas da empresa. Estranhamente (considerando as alegações da Irmã Mary Margaret), o registro de segurança da AFL era um dos melhores da Alcoa, com uma taxa baixíssima de dias de trabalho perdidos e até mesmo menor que a taxa da DuPont, empresa considerada líder em segurança industrial. Mas, apesar do aparente êxito da AFL no âmbito da Segurança do Trabalho, a equipe de investigação enviada para o México descobriu um conjunto de eventos que não foram relatados à sede da empresa. No texto, são apresentados em particular incidentes de 1994, muito antes da reunião em que a Irmã Mary Margaret contestou o CEO Paul O’Neill. Descobriu-se que vários funcionários apresentaram desmaios e muitos outros sintomas preocupantes, e em muitos casos precisaram ser mandados para o hospital. Um higienista industrial foi convocado para identificar possíveis causas, e relatou que os sintomas condiziam com envenenamento por monóxido de carbono. Após o segundo incidente envolvendo o adoecimento coletivo dos funcionários por aparente envenenamento, provavelmente causado por empilhadeiras movidas a gás butano, teriam sido instalados alguns ventiladores e alguns dos veículos movidos a butano teriam sido substituídos por empilhadeiras elétricas. Esses casos nunca haviam sido reportados à sede da Alcoa, e, por isso, não eram do conhecimento de Paul O’Neill. Quando Paul O’Neill assumiu o comando da Alcoa, em 1987, ele se apresentou para um grupo de investidores e analistas da bolsa de valores de Wall Street em uma grande reunião. Em vez de falar sobre lucros, o novo CEO surpreendeu a todos falando sobre segurança no trabalho, manifestando preocupação em relação aos funcionários da empresa que sofrem danos físicos em serviço e declarando seu objetivo de alcançar um índice de zero acidente. Possivelmente seguindo a lógica dos gerentes mencionados por Steven J. Spear, que se sentem pressionados de tal forma que estão dispostos a priorizar o lucro em detrimento das condições de trabalho dos funcionários, um dos investidores presentes imediatamente ligou para seus maiores clientes após o discurso de apresentação de O’Neill. O investidor disse-lhes que a diretoria havia colocado um “hippie maluco” no comando e que ele iria afundar a empresa, e que por isso eles deveriam vender suas ações imediatamente (DUHIGG, 2012). Segundo o mesmo investidor, esse foi o pior conselho que ele deu em sua carreira. “Em menos de um ano após o discurso de O’Neill, os lucros da Alcoa atingiram uma alta recorde” (DUHIGG, 2012). Os resultados da Alcoa, portanto, indicam que, ao contrário do que muitos administradores possam pensar, investir em Saúde e Segurança Organizacional não é diminuir os lucros, e sim potencializá-los. No caso da unidade em que houve o adoecimento dos funcionários, é nítido que houve negligência por parte da administração, já que somente após a segunda onda de adoecimentos foram adotadas medidas. Também houve omissão desses eventos, que deveriam ter sido reportados à sede da empresa e não o foram. Não se pode afirmar com certeza o motivo disso, mas é plausível pensar que o responsável pela unidade estava lidando com a mesma questão que foi mencionada anteriormente como algo comum aos gerentes: o receio de não ter lucro ou ter um lucro menor por utilizar capital para adotar medidas referentes à saúde e à segurança dos trabalhadores. Se ele reportasse o ocorrido para a sede, seria pressionado a investir nas condições de trabalho de seus funcionários usando um capital que provavelmente preferia manter intacto. É possível que só tenha tomado alguma atitude após a segunda ocorrência para evitar que o problema viesse à tona. Esse tipo de situação, em que o bem-estar do trabalhador é sacrificado em prol do lucro, é muito comum. Em uma sociedade dominada pelo capitalismo, a vida muitas vezes é tida como menos importante que a economia. Mas, como já foi provado por Paul O’Neill, a saúde e a segurança do trabalhador podem ser aliadas do lucro. Isso faz total sentido quando pensamos que, se um funcionário tem condições ideais de trabalho, ele tende a adoecer menos e, conseqüentemente, perder menos dias de trabalho e ter um desempenho geral melhor. Além disso, tende a ter mais motivação e, conseqüentemente, maior produtividade. Dessa forma, é natural que o resultado seja o aumento do lucro. Seria ideal que a saúde e a segurança do trabalhador fossem priorizadas pelo que são: condições mínimas necessárias para a dignidade humana e para a qualidade de vida. Que o bem-estar do trabalhador fosse sempre o objetivo dos administradores de empresas, semoutras motivações por trás. Como o próprio O’Neill disse, “ninguém deveria ter medo de morrer sustentando a família” (DUHIGG, 2012). Mas, no contexto em que vivemos, é utópico pensar que essa argumentação basta. Inegavelmente, o argumento mais forte é: investir em Saúde e Segurança Organizacional é uma excelente estratégia para aumentar a produtividade e, assim, obter um lucro maior.
REFERÊNCIA
Revista – Escola de Negócios de Harvard, 30 de Março de 2000. – Segurança do Trabalho na Alcoa (B).

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