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FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 1 lHormônios Adrenocorticais As adrenais estão localizadas nos polos superiores dos rins; elas são divididas em duas partes: • Medula adrenal: funcionalmente relacionado ao sistema nervoso simpático e secreta epinefrina e norepinefrina • Córtex adrenal: secretam os corticosteroides, principalmente os mineralocorticoides e os glicocorticoides, bem como alguns hormônios sexuais semelhantes à testosterona CORTICOSTEROIDES Os mineralocorticoides afetam principalmente os eletrólitos dos líquidos extracelulares (LEC), o seu principal representante com função hormonal importante é a aldosterona; já os glicocorticoides aumentam a concentração sanguínea de glicose, sendo o seu principal representante o cortisol. A histologia do córtex adrenal é importante de ser revisada para essa parte → Rever “Histologia das Adrenais” A secreção de aldosterona é estimulada pela angiotensina II, enquanto o cortisol e androgênios adrenais são estimulados pelo ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Os hormônios adrenocorticais são derivados do colesterol, sendo que a maior parte dessa matéria-prima (80%) é oriunda de LDL do plasma circulante. O LDL difunde-se para o líquido intersticial das adrenais e liga-se a receptores específicos nas depressões revestidas das células corticais. Então, ocorre a internalização do LDL por endocitose, a qual as vesículas formadas se fundem aos lisossomos, liberando o colesterol que pode ser usado. O colesterol livre é clivado na mitocôndria pela enzima colesterol desmolase, formando a pregnenolona (etapa limitante), o qual, por meio de cascatas enzimáticas, formam os seus produtos finais. Uma característica importante dos hormônios adrenocorticais é a ligação com proteínas plasmáticas. • Cortisol: cerca de 90% se liga a proteínas plasmáticas quando secretada (principalmente a transcortina, mas também a albumina) → isso aumenta a meia vida do cortisol (60 a 90 min) • Aldosterona: cerca de apenas 60% se liga a proteínas plasmáticas → meia vida menor (20 min) A importância da ligação desses hormônios a proteínas plasmáticas é de que isso serve como reservatório para diminuir as rápidas flutuações nas concentrações de hormônios livres e para permitir a distribuição desses compostos pelo organismo. Esses hormônios são metabolizados no fígado, formando ácido glicurônico e sulfatos, os quais são excretados pela bile, e o restante é excretado na urina. Mineralocorticoides → Aldosterona Função A aldosterona, o principal mineralocorticoide, ↑ (aumenta) a reabsorção de sódio e a secreção de potássio pelas células epiteliais tubulares renais, especialmente nas células principais dos túbulos renais, nos túbulos distais e nos ductos coletores. Portanto, esse hormônio faz um ↑ da quantidade total de sódio na LEC, bem como a ↓ (diminuição) da quantidade de potássio no LEC, por meio da excreção e transporte para o meio intracelular. OBS! Nesse resumo, serão utilizadas as setas para evitar repetições: ↑ (indica: aumento) e ↓ (indica: diminuição). Todavia, apesar de ocorrer um ↑ da absorção de Na+ com a secreção de aldosterona, a concentração desse íon no LEC varia muito pouco, pois junto com ele, ocorre uma maior absorção de água. Logo, a aldosterona também causa uma maior quantidade de LEC. Além disso, o ↑ da [Na+] na LEC também estimula a sede e favorece a secreção do ADH (reabsorve mais água pelos túbulos distais e coletores dos rins), o que também contribui para a não alteração das concentrações de Na+ no LEC. Sendo assim, com o ↑ do LEC, ocorre maior captação linfática e, assim, maior retorno venoso ao coração. Dessa forma, devido ao mecanismo de Frank Starling (o coração bombeia todo o sangue a que ele chega), ocorre o aumento da PA pelo maior volume sanguíneo. Por conseguinte, com o aumento da PA, ocorre o ↑ da excreção renal de sódio e água, o que ↓ o volume sanguíneo e, consequentemente, a PA; esse processo é chamado de escape de aldosterona. A partir de então, a incorporação de sódio e água pelo organismo é nula, e é mantido o equilíbrio entre a ingestão e a eliminação de sódio e água pelos rins, apesar do excesso contínuo de aldosterona. O excesso de aldosterona provoca intensa redução da [K+] na LEC (a hipocalemia). Esse processo causa fraqueza muscular grave, pois ocorre alteração da excitabilidade das fibras nervosas e musculares. Sem os mineralocorticoides, a concentração de íons potássio, no líquido extracelular, eleva-se acentuadamente, sódio e cloreto são rapidamente eliminados do organismo, e os volumes totais do líquido extracelular e do sangue são muito reduzidos. Rapidamente se desenvolve redução do débito cardíaco, que evolui para um estado semelhante ao choque, seguido de morte. FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 2 Outrossim, a aldosterona apresenta os mesmos efeitos nas glândulas sudoríparas e salivares como nos túbulos renais (↑[Na+] e ↓[K+] no LEC). Esse efeito nas glândulas sudoríparas é importante para conservar o sal corporal em ambientes quentes; já nas salivares, é importante para conservar o sal quando se perde muita saliva. A aldosterona também estimula intensamente a absorção intestinal de sódio, especialmente no cólon, o que impede a perda de sódio nas fezes. Ao contrário, na ausência de aldosterona, a absorção de sódio pode ser insuficiente, levando à incapacidade de absorver cloreto e outros ânions além da água. O cloreto de sódio e a água não absorvidos geram, então, diarreia, resultando em perda ainda maior de sal pelo organismo. Então, resumindo, a aldosterona tem ação nos seguintes órgãos: • Rins • Glândulas salivares e sudoríparas • Cólon Mecanismo celular de ação 1. Aldosterona se difunde facilmente para o interior das células epiteliais tubulares pela sua lipossolubilidade 2. No citoplasma, a aldosterona se combina com receptores mineralocorticoides (MR) 3. O complexo aldosterona-MR se difunde para o núcleo, onde passa por mais alterações e acaba induzindo a formação de um ou mais tipos de mRNA, relacionados ao processo de transporte sódio-potássio 4. Formação de proteínas a partir dos mRNAs, como: a. adenosina trifosfatase de sódio-potássio: bomba de Na e K nas membranas basolaterais das células tubulares renais, que jogam o Na para o LEC e absorvem o K para o meio intracelular (o qual é difundido para o lúmen renal) b. proteínas dos canais epiteliais de sódio: inseridos na membrana luminal e permitem a rápida difusão dos íons sódio do lúmen tubular para o interior da célula Então, devido a todo esse processo descrito, o efeito da aldosterona não é imediato, ocorrendo apenas cerca de várias horas após sua secreção. Regulação da secreção A secreção da aldosterona pela zona glomerulosa do córtex adrenal é independente da regulação do cortisol e dos androgênios. A sua regulação é feita por 4 fatores, sendo os 2 primeiros os principais: 1. O ↑ da [K+] no LEC, ↑ a secreção de aldosterona 2. O ↑ da [angiotensina II] no LEC, ↑ a secreção de aldosterona 3. O ↑ da [Na+] no LEC, ↓ muito pouco a secreção de aldosterona 4. O ACTH formado pela hipófise anterior é necessário para a secreção de aldosterona, mas tem pequeno efeito no controle da secreção. OBS! Para ver mais detalhadamente sobre o sistema Renina-angiotensina-aldosterona na secreção de aldosterona, revisar o resumo “Rins no Controle a Longo Prazo da Pressão Arterial” Glicocorticoides → Cortisol O principal glicocorticoide liberado é o cortisol. Esse hormônio cria diversos efeitos nas rotas metabólicas do organismo. Os principais efeitos do cortisol no metabolismo de carboidratos são: • Estímulo da gliconeogênese: é a produção de glicose feito a partir de substância aglicanas, ocorre no fígado. Para isso, o cortisol faz os seguintes processos: o as enzimas necessárias para a conversão de aa. em glicose nos hepatócitos → ativaçãoda transcrição do DNA dos genes de tais enzimas o Mobilização de aa. para os hepatócitos a partir dos tecidos extra-hepáticos, principalmente dos músculos, fazendo o catabolismo de proteínas. o Antagonização dos efeitos insulínicos para inibir a glicogênese no fígado → a insulina estimula a síntese de glicogênio no fígado, inibindo as enzimas envolvidas na produção de glicose pelo fígado. • Redução da utilização celular de glicose pelas células do organismo: ocorre principalmente pelo fato de o cortisol diminuir a quantidade de GLUT4 (transportadores de glicose) na membrana celular, criando uma resistência à insulina. • dá [glicose] sanguínea: a gliconeogênese aumentada, junto com a diminuição do consumo de glicose causa essa ↑ concentração; consequentemente, isso estimula a secreção de insulina, que não é tão efetivo devido ao cortisol (reduz a sensibilidade insulínica); bem como os FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 3 altos níveis de ácidos graxos, causado pelo efeito dos glicocorticoides, podem prejudicar as ações da insulina nos tecidos Já os efeitos do cortisol no metabolismo de proteínas são: • Redução das proteínas celulares: causado pela ↓ da síntese de proteínas (reduz a formação de RNA) e pelo ↑ do catabolismo das proteínas já existentes. Apenas o fígado não sofre com esse efeito. • ↑ [proteínas] plasmáticas e dos hepatócitos: esses aumentos são exceções à depleção citada anteriormente. • ↑ dos aa. sanguíneos: o cortisol faz uma ↓ do transporte de aa. para o meio intracelular das células extra-hepáticas, bem como também o catabolismo de proteínas libera mais aa. para o meio extracelular. Sendo assim, o cortisol ↓ as reservas teciduais de proteínas. A função disso é para levar os aa. dos tecidos periféricos para os hepatócitos, que também passam a captar mais dessas substâncias; assim, o fígado consegue ↑ a sua produção hepática de enzimas. Efeitos do cortisol no metabolismo da gordura: • Mobilização de ácidos graxos: ocorre a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, o que ↑ a [ácidos graxos] livres no plasma, sendo utilizados na geração de energia (cortisol parece exercer efeito no ↑ da oxidação de ác. graxos). Então o organismo passa a diminuir a sua utilização de glicose para a geração de energia e utiliza mais ácidos graxos. Cortisol no estresse Qualquer tipo de estresse provoca aumento imediato da secreção de ACTH pela hipófise anterior, que, consequentemente, estimula a secreção adrenocortical de cortisol. Os tipos de estresse que ↑ a liberação de cortisol são: trauma, infecção, calor ou frio intensos, injeção de norepinefrina e outros fármacos simpatomiméticos, cirurgia, injeção de substâncias necrosantes sob a pele, restrição dos movimentos, doenças debilitantes e estresse mental (cansaço, fadiga, ansiedade etc.). A importância da liberação do cortisol nas situações de estresse está ligada à hipótese de que os glicocorticoides causam rápida mobilização de aminoácidos e gorduras a partir de suas reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia e para a síntese de novos compostos, como glicose e proteínas essenciais, necessários aos diferentes tecidos do organismo Cortisol na inflamação O cortisol tem efeitos de prevenir a inflamação e reverter seus efeitos. Antes de explicar esses fatores é importante relembrar basicamente o processo inflamatório, o qual é seguido pelas determinadas etapas: 1. liberação por células de tecidos lesados de substâncias químicas que ativam o processo inflamatório, histamina, bradicinina, enzimas proteolíticas, prostaglandinas e leucotrienos 2. aumento do fluxo sanguíneo na área inflamada, causado por alguns dos produtos liberados pelos tecidos, que é chamado eritema 3. extravasamento de grande quantidade de plasma quase puro dos capilares para as áreas lesadas, devido ao aumento da permeabilidade capilar, seguido pela coagulação do líquido tecidual, provocando, assim, edema não deprimível 4. infiltração da área por leucócitos 5. após dias ou semanas, o crescimento de tecido fibroso Portanto, os efeitos do cortisol na prevenção da inflamação são: • Estabiliza as membranas dos lisossomos: torna a ruptura dos lisossomos mais difícil; logo, a maior parte das enzimas proteolíticas liberadas por células lesadas que provocam inflamação, principalmente armazenadas nos lisossomos, é liberada em quantidades muito reduzidas • Reduz a permeabilidade dos capilares: impede a perda de fluxo sanguíneo para os tecidos, o que a quantidade de anticorpos que extravasa para o meio extracelular e de leucócitos que fariam a diapedese, os quais atuariam na promoção do processo inflamatório • Reduz a migração de leucócitos para a área inflamada e a fagocitose das células lesadas: o cortisol tem essa ação por meio da ↓ da formação de prostaglandinas e leucotrienos, os quais atuam na vasodilatação, a permeabilidade capilar e a mobilidade dos leucócitos. • Suprime o sistema imunológico: linfócitos T são suprimidos (isso pode levar a uma redução muito grande da imunidade, deixando o organismo suscetível a infecções) • Atenua a febre: faz isso pois reduz a liberação de interleucina 1 a partir dos leucócitos, que é um dos principais estimuladores do sistema de controle hipotalâmicos de temperatura. A diminuição da temperatura, por sua vez, reduz o grau de vasodilatação Assim, o cortisol apresenta um efeito praticamente global na redução de todos os aspectos do processo inflamatório. Além disso, como já citado, o cortisol ajuda na no bloqueio e resolução da inflamação já iniciada; os motivos FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 4 disso ainda não são bem elucidados, mas as principais hipóteses são: • Grande mobilização de aminoácidos e do uso destes para reparar os tecidos lesados • O estímulo da gliconeogênese disponibiliza maior quantidade de glicose nos sistemas metabólicos essenciais • Maior disponibilidade de ácidos graxos para a produção de energia celular • Algum outro efeito do cortisol na inativação ou remoção de produtos inflamatórios OBS! O cortisol desempenha um papel importante no combate a certos tipos de doença, tais como artrite reumatoide, febre reumática e glomerulonefrite aguda. Todas essas doenças se caracterizam por intensa inflamação local, e os efeitos danosos no organismo são causados, principalmente, pela própria inflamação, e não por outros aspectos da doença. Mecanismo de ação celular do cortisol O cortisol se difunde facilmente através das membranas celulares; no citoplasma, ele se liga ao seu receptor proteico; esse complexo vai para o núcleo e interage com sequências regulatórias específicas do DNA, chamadas de elementos de resposta a glicocorticoides, alterando a transcrição de muitos genes → parecido com o mecanismo da aldosterona. Regulação da secreção de cortisol e seu feedback O ACTH (liberado pela hipófise anterior) estimula a secreção de cortisol e a produção de androgênios adrenais. Já a secreção de ACTH é controlado pelo fator liberador de corticotrofina (FLC ou CRH), liberado pelo hipotálamo. Esse fator é secretado no plexo capilar primário do sistema portal hipofisário, na eminência mediana do hipotálamo e, então, transportado para a hipófise anterior. A regulação de FLC é feita a partir de conexões nervosas do sistema límbico e do tronco cerebral inferior, que estimulam a secreção de FLC com estímulos dolorosos ou estressantes. O ACTH nas células adrenocorticais ativam a Adenil ciclase da membrana, induzindo a formação de AMPc no citoplasma; esse composto, por sua vez, ativa enzimas que causam a formação dos hormônios adrenocorticais. O cortisol secretado, por sua vez, apresenta efeitos de feedback negativo no hipotálamo (reduz a formação de FLC) e na hipófise anterior (reduz a formação de ACTH), regulando a [cortisol] plasmática. FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS5 Fisiologia Do Estresse O estresse é um fator de risco para diversas doenças e alterações fisiológicas. Definição O estresse, seja de natureza física, psicológica ou social, é composto de um conjunto de reações fisiológicas em resposta a estímulos aversivos que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio do organismo. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas. Esse comportamento é marcado por evitação ou esquiva, ↑ vigilância e ativação simpática e suprarrenal. Então, uma situação de estresse é um estado de homeostase ameaçada. Logo, esse estresse é uma forma de adaptação e proteção do corpo contra agentes externos ou internos, chamados de estressores, sendo divididos em: • Sensoriais ou físicos: contato direto com o organismo (ex: subir escadas, correr maratona, mudanças na temperatura e etc) • Psicológicos: ativação SNC através de mecanismos puramente cognitivos (brigas, falar em público, luto, provas, doenças degenerativas, etc.) • Infecciosos: citocinas e ativação do sistema imune Alostase É o processo da manutenção da estabilidade nas modificações comportamentais, a partir de ajustes em relação aos estressores, ou seja, o reconhecimento dos estressores pelo organismo, fazendo um ajuste nos mecanismos metabólicos-energéticos para vencer esse estressor. Todavia, esses ajustes causam um custo cumulativo de estresse ao organismo, chamado de carga alostática. Quando o estresse perdura, ocorre condições patológicas chamada de sobrecarga alostática. Tipos de estresse • Físico: mudanças drásticas de temperatura ambiente, lesões • Psíquico ou emocional: acontecimentos marcantes. A amígdala é o órgão que percebe essas variações e faz conexões com o hipotálamo, por meio de duas vias, direta (projeções diretas ao hipotálamo) e indireta (ligação com o núcleo rubro pela estria terminal); então, o hipotálamo ativa respostas autonômicas (ativação do simpático) e hormonais (liberação de serotonina, catecolaminas e etc.), bem como ele leva a informação até o córtex pré-frontal, que cria a consciência desse estresse. • Misto: conjugação dos outros tipos → é um sentimento de medo, pânico ou ansiedade pela ameaça Reação do organismo aos agentes estressores O organismo tem respostas complexas e coordenadas aos agentes estressores (luta x fuga), sendo chamada de síndrome geral de adaptação, que parte de uma programação genética (produção de neurotransmissores e enzimas) e uma constitucional (aquilo que a gente vai agregando ao longo da vida, principalmente relacionado com os mecanismos de recompensa). As duas programações vão ser mediadas por circuitos centrais específicos (amígdala, hipocampo, hipotálamo), sendo moduladas por fatores ambientais, que criam uma resposta adaptativa do organismo frente aquele estresse. Essa resposta adaptativa é criada em 3 estágios: 1. Alarme: o indivíduo entra em contato com o agente estressor 2. Adaptação ou resistência: o corpo tenta voltar ao seu equilíbrio; o organismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo 3. Exaustão ou descompensação: nessa fase podem surgir diversos comprometimentos físicos em forma de doença → sobrecarga alostática Fase 1 Ocorre o reconhecimento do estressor, fazendo a ativação neuroendócrina (amígdala → hipotálamo → córtex pré-frontal), que leva à ativação do simpático e secreção de dopamina, norepinefrina, epinefrina (adrenalina) e CRH (hormônio estimulador da corticotrofina ou FLC → secreta cortisol, mais tarde). Essa descarga em massa de ativação causa diversos efeitos no organismo, como: • ↑ PA FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 6 • ↑ fluxo sanguíneo nos tecidos relacionados ao estresse (músculos) e ↓ do fluxo nos órgãos sem rápida resposta motora • ↑ metabolismo celular no corpo todo • ↑ [glicose] sangue • ↑ glicólise hepática e muscular • ↑ força muscular • ↑ atividade mental • ↑ da velocidade/intensidade coagulação sanguínea (devido ao ↑ da PA) • Dilatação pupilar (midríase) A adrenalina atua em diversos tecidos e em diversos receptores, tendo várias reações fisiológicas diferentes; a seguir tem uma tabela com os principais subtipos de receptores (R) de adrenalina: Então, a liberação de catecolaminas (80% adrenalina e 20% noradrenalina) faz principalmente a primeira regulação (cortisol vai fazer essa atuação mais tardiamente) do metabolismo intermediário, permitindo a adaptação ao estresse, tendo as seguintes ações: • Fígado: ↑ glicose → ↑ gliconeogênese (produção de glicose) + ↑ glicogenólise hepáticas (quebra de glicogênio) • Músculo: ↑ glicogenólise → ↑ lactato (câimbras) • Pâncreas: ↓ insulina e ↑ glucagon → ↑ [glicose] no sangue • Tecido adiposo: ↑ lipólise → ↑ ácidos graxos livres • Coração: ↑ força de contração e frequência cardíaca • Outros: excitação do SNC, sudorese e piloereção OBS! Diferenças entre epinefrina e norepinefrina: • Epinefrina: o Atua em receptores beta → ↑ estímulo cardíaco o Pouca vasoconstrição o ↑ do débito cardíaco o ↑ da atividade metabólica (5 a 10x), pelo ↑ glicogenólise hepática e muscular → ↑ [glicose] sanguínea • Norepinefrina o ↑ vasoconstrição → ↑ PA Fase 2 É uma fase de resposta principalmente humoral, em que ocorre o reparo dos danos ocorridos com a reação de alarme, feito com a modificação dos níveis humorais. Então, mantendo as mudanças que ocorreram na fase 1, o CRH hipotalâmico estimula a secreção de ACTH pela adeno-hipófise, bem como ↑ a produção de outros hormônios, como a prolactina, GH, TSG e ADH (na neuro- hipófise). O cortisol produzido faz uma regulação negativa no hipotálamo e na hipófise anterior, ↓ a produção de CRH e ACTH. O cortisol tem ligação com áreas do hipocampo relacionados à busca de memorias para a identificação do agentes estressantes, tendo atuação na neuroplasticidade, alterando o comportamento, humor, percepção, aprendizado e memória. O cortisol tem essa ação por meio da alteração nos níveis enzimáticos de: tirosina hidroxilase, triptofano hidroxilase, monoamina oxidase, dopamina- beta-hidroxilase e etc. No SNC, o cortisol faz alterações na produção de mRNAs que traduzem: somatostatina (função de inibir o GH), CRF, ACTH, proteína G e beta-endorfina → isso causa alterações nos receptores de serotonina (↓ dos receptores) e catecolaminas (↑), permitindo uma maior excitação do cérebro. Além disso, o cortisol também faz todas aquelas outras atuações no metabolismo já citadas. Então, demonstra-se que o hipotálamo é extremamente importante às respostas ao estresse, principalmente o núcleo para-ventricular, pois tem ações: • Neuroendócrinas: produção de CRH • Comportamentais: sua relação com o sistema límbico • Autonômicas: através do controle do SNA FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 7 OBS! A prolactina tem atuação na ativação cerebral na resposta ao agentes estressores O cortisol tem ações: • Moduladoras permissivas: preparação ao estresse • Moduladoras supressivas: evita resposta excessiva (horas após o início do estresse → ↑ do feedback -) • Moduladoras estimulantes: intensificação das respostas hormonais da 1ºonda → estimula hipotálamo a continuar estimulando o simpático, que libera mais catecolaminas pelas adrenais • Ações preparativas: modulação da resposta estressora subsequente As respostas ocorridas nesse estágio são parecidas às que ocorreram na 1ª fase, mas são mais fracas e moduladas principalmente pelo cortisol: • ↑ dos batimentos cardíacos • Dilatação das pupilas • ↑ sudorese • ↑ [glicose] no sangue • ↓ digestão, do crescimento e do interesse sexual • Contração do baço: expulsa as hemácias paro o sangue, ↑ a oxigenação dos tecidos • Imunossupressão • ↑ cognição • ↑ metabolismo Funções psíquicas no estado de estresse Em uma situação estressante, ocorre ampliação da acuidade sensorial → ↑nº de informações → ↑ armazenamento de dados, que vai permitir uma mais adequada compreensão da nova situação, o qual leva à adaptação. Nesse processo, ocorre o envolvimento do córtex somatossensorial com arquivos corticais (informações pregressas) e de áreas subcorticais, como hipotálamo, amígdala, causando o ↑ receptividade de estímulos sensoriais desses órgãos. Na situação estressante, o hipocampo associa características afetivas e sinais sensoriais ao estresse atual. Todo esse processo permite a adaptação por meio da compreensão e aprendizagem, criada pela formação de novas sinapses e reorganização de antigas → isso tem uma carga alostática (síntese de proteínas e neurotransmissores). Se esse 2º estágio não conseguir chegar a fase de adaptação e mantiver a continuidade do estímulo estressor, entra o 3º estágio Fase 3 É o estágio de exaustão ou descompensação do organismo, no qual, acontece surgimento de doenças aliadas à condição estressante. Essa fase ocorre pelas falhas nos mecanismos de adaptação e o déficit de reservas energéticas. Nessa fase, devido às descompensações neurológicas (perda de controle, falta de previsibilidade, ausência de escape para a frustração, ameaça crônica e subordinação social), ocorre ↑ no CRF → secreção crônica e excessiva de cortisol, que leva à degeneração hipocampal (morte de neurônios hipocampais), oscilações na pressão e hiperglicemia. A desregulação do eixo Hipotálamo-Hipófise- Aldosterona causa: • ↑ recaptura e degradação da serotonina • ↑ degradação do triptofano FISIOLOGIA: HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS 8 • ↓ produção de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) → relacionado com a plasticidade e neurogênese do hipocampo Então, o estresse crônico (exposição contínua ao cortisol) leva a problemas de sobrevivência neuronal, de excitabilidade e neurogênese, levando à morte dos neurônios, o qual pode levar à depressão. Com relação ao sistema imune, o estresse crônico causa: • Imunossupressão • Alteração na produção de citoninas e anticorpos • Desequilíbrio no balanço de Th1/Th2 • ↓ de IL-1beta, IL-6, TNF-alfa (pró-inflamatórias) • ↓ efetividade da resposta imune • ↑ tempo de cicatrização de feridas Uma outra característica presente no estresse crônico é o aumento excessivo de serotonina e inibição dos receptores GABAa (que modularia a quantidade de serotonina); isso leva à maior estimulação de neurônios, o que causa a irritabilidade do sistema límbico. Exercício físico moderado regular O exercício físico tem efeitos anti-inflamatórios e imunoestimulatórios, que causa a: • ↓ sinais/sintomas do estresse • ↓ a liberação de cortisol • Estimula a neuroplasticidade • Estimula a produção de serotonina • Melhora a cognição
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