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DIRETO DA COISAS (ART. 1.196 A 1.510) PROF. RICARDO CALADO DIREITO CIVIL IV DA POSSE 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1.1 Da origem da posse: (divergência) a) Teoria de Niebuhr (adotada por Savigny): o instituto surge com a distribuição, a titulo precário, das terras conquistadas pelos romanos (possessiones), passando a ser um estado de fato protegido pelo interdito possessório. b) Teoria de Ihering: a posse teria surgido em consequência do processo reivindicatório, inicialmente a partir de decisões arbitrária do pretor, depois a quem lhe apresentasse melhores provas na fase inicial do processo. DA POSSE 2 – TEORIAS SOBRE A POSSE 2.1 Teoria SUBJETIVA de SAVIGNY: (corpus + animus) A posse caracteriza-se pela conjugação do elemento objetivo corpus (detenção física) e o elemento subjetivo animus (vontade de ser proprietário) OBS: Para esta teoria são meros detentores: o locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário, etc DA POSSE 2.2 Teoria OBJETIVA de IHERING: (corpus) Esta teoria dá ênfase ao elemento objetivo corpus, considerando o elemento anímico/subjetivo incluído no corpus formando uma coisa só. Segundo esta teoria a posse é representada pela CONDUTA DE DONO, exteriorizando-se como o exercício dos poderes de fato da propriedade. OBS: exceção é a usucapião DA POSSE 2.3 Teoria da Função Social da Posse : Posse é função social (posse-social/posse- trabalho). Trata-se de uma tendência contemporânea (constitucionalização do direito civil), inclusive como direito autônomo da propriedade. A função social da posse advém da função social da propriedade (art. 5º, XXIII, CF) c/c o principio da isonomia (art. 5º, caput, CF) É adotada implicitamente pelo CC/2002, nos §§ únicos dos art. 1.238 e 1.242; e nos §§ 4º e 5º, do art. 1.228. DA POSSE Enunciado nº 492 V Jornada de Direito Civil/2012 “A posse constitui direito autônomo em relação da propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela.” DA POSSE “O princípio da função social da posse encontra-se implícito no Código Civil, principalmente pela valorização da posse- trabalho, conforme estipulam os seus art. 1.238, parágrafo único; 1.242, parágrafo único , e 1.228, §§ 4º e 5º.” (TJDF, Recurso 2006.05.1.001936-7, Acórdão 350.544, 4ª Turma Cível, Rel. Des. Alfeu Machado, DJDFTE 22.04.2009, p. 149) “A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existências, econômicos e sociais merecedores de tutela.” (Enunciado nº 494 do CJF – V Jornada de Direito Civil – 2011) DA POSSE 3 – CONCEITO Posse é o domínio fático da coisa. O exercício de um dos atributos da propriedade. (TARTUCE, Flávio, 2015), É a conduta de dono. (Ihering) Ex.: comodatário e locatário DA POSSE CC/2002 Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. DA POSSE 4. DISTINÇÃO ENTRE POSSE E DETENÇÃO 4.1. Detenção é aquela situação em que alguém conserva a coisa em nome de outro e em cumprimento às suas ordens e instruções. (há dependência econômica ou vínculo de subordinação) A detenção não é posse, portanto não confere ao detentor direitos decorrentes desta. DA POSSE OBS: O detentor (fâmulo/servo da posse) pode defender posse alheia por meio da autotutela (desforço imediato), tratada pelo art. 1.210, §1º, CC, conforme Enunciado nº 493 do CJF: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a auto defesa do bem sob o seu poder.” Ex.: caseiro em relação ao imóvel, empregada doméstica em relação aos utensílios, do soldado em relação às armas, etc. DA POSSE CC/2002 Art. 1.198, CC. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. DA POSSE Art. 1.208, CC: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.” OBS: trata-se de situações efêmeras que não geram relação entre o possuidor e o detentor. Mera permissã0 = anuência expressa ou concessão do dono. Tolerância = indulgência DA POSSE 5. NATUREZA JURÍDICA DA POSSE Existem 3 correntes: a posse é um fato (Clóvis Beviláqua) a posse é um direito (Ihering) a posse é um direito e um fato (Savigny) DA POSSE a) a posse é um “fato” (BEVILÁQUA) A posse é não é um direito, mas um simples fato que é protegido e atenção à propriedade da qual ela é manifestação exterior. Não tem autonomia, não tem valor jurídico próprio. b) a posse é um “direito” (IHERING): Apoia-se o jurista em sua própria definição do que viria a ser direito: “interesses legalmente protegidos”. DA POSSE c) a posse é um “fato e um direito”(SAVIGNY) Admite que a posse seja tanto um fato como um direito, pois se considerada em si mesma, a posse é um “fato”; considerada, por outro lado, pelos efeitos que produz – a usucapião e os interditos possessórios – a posse é um “direito”. DA POSSE OBS: Para a maioria dos nossos civilistas a posse é um direito. Indaga-se: se é um direito, qual direito se trata? Pessoal ou Real? Responda. DA POSSE 6 – OBJETO DA POSSE E POSSE DE DIREITOS (controvérsia) Em regra, tudo que puder ser objeto de propriedade pode ser objeto de posse. Assim, somente coisas podem ser objeto de posse. É inadmissível a posse de direitos pessoais Conferir a Súmula 228 do STJ sobre a posse de direitos autorais. DA POSSE 7 – MODALIDADES/CLASSIFICAÇÃO A posse é um instituto jurídico unitário, mas o ordenamento jurídico estabelece várias modalidades pela qual a relação jurídica possessória se apresenta. (caráter da posse) A classificação da posse tem importância prática no que concerne aos seus efeitos jurídicos. Princípio da continuidade do caráter da posse. (art. 1.203) DA POSSE 7.1 Quanto à relação pessoa- coisa/desdobramentos (art. 1.197) a) Direta ou imediata: Exercida por quem tem a coisa materialmente, havendo um poder físico imediato. Ex.: a posse do locatário, exercida por concessão do locador. b) Indireta ou imediata: exercida por meio de outra pessoa, havendo mero exercício de direito, geralmente decorrente da propriedade. Ex.: nu-proprietário. DA POSSE 7.2 Quanto à simultaneidade do exercício da posse (art. 1.199): Da Composse a) Pro indiviso: O possuidor tem fração ideal da posse. Ex.: dois irmão tem a posse de uma fazenda e ambos exercem-na sobre todo imóvel. b) Pro diviso: O possuidor tem a fração real da posse. Ex.: dois irmão tem a posse de uma fazenda que é divida ao meio por uma cerca. DA POSSE 7.3 Quanto à presença de vícios (art. 1.200) a) Posse Justa (limpa): É a que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade. b) Posse Injusta: É a que apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade. (art. 1.200) DA POSSE Posse Violenta: obtida por meio de esbulho, por força física ou violência moral. (É assemelhada ao crime de roubo)Ex.: invasão de uma fazenda, como destruição de obstáculos. Posse Clandestina: é a obtida de forma oculta, à surdina, com a intenção de escondê-la de quem tem o interesse de conhecê-la. (É assemelhada ao crime de furto): Ex.: invasão de uma fazenda, sem destruição de obstáculos. Posse Precária: é obtida com abuso de direito ou confiança (É assemelhada ao crime de estelionato ou apropriação indébita ). Ex.: locatário de um veículo que não o devolve ao final do contrato. DA POSSE OBS1: A posse ainda que injusta pode ser defendida através dos interditos proibitórios contra terceiro. OBS2: As posses injustas por violência e clandestinidade podem ser convalidadas (art. 1.208) OBS3: Posse injusta não configura posse usucapível (ad usucapionem)DA POSSE AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. SITUAÇÃO JURIDICA MANTIDA EM DECORRÊNCIA DE CONTRATO DE TRABALHO POSTERIORMENTE RESCINDIDO. POSSE QUE PASSA A SER PRECÁRIA E PORTANTO INSUSCETÍVEL DE CONVALIDAÇÃO. PRECEDENTES DA JURISPRUDÊNCIA. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJSP. AC 7134177-0) DA POSSE 7.4 Quanto à Subjetividade (boa-fé) a) Posse de boa-fé (art. 1.201, § único): Quando o possuidor ignora os vícios ou obstáculos que impediam a aquisição ou quando possui um justo título que fundamente a sua posse. Ex.: um contrato que fundamente a posse do locatário ou comodatário; compromisso de compra e venda, registrado ou não na matrícula do imóvel b) Posse de má-fé (art. 1.202) Situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre ela. Nunca haverá justo título. Ex.: uso da força para desapossar o dono do imóvel. DA POSSE OBS1: O possuidor de boa-fé terá direito à indenização pelas benfeitoria úteis e necessárias, inclusive com direito de retenção, enquanto o possuidor de má-fé terá apenas direito de indenização pela benfeitorias necessárias sem direito de retenção (art. 1.219) OBS2: O possuidor de má-fé não perde o direito de ajuizar ação possessória contra terceiros. OBS3: A posse pode ser injusta mas de boa-fé. Ex.: compra de um bem roubado DA POSSE 7.5 Quanto à presença de título a) Posse com Título Situação em que há uma causa representativa da transmissão da posse. Ex.: um contrato de locação ou comodato. b) Posse sem Titulo: Situação em que não há uma causa representativa da transmissão da posse. Ex.: alguém que acha um tesouro, depósito de coisas preciosas sem intenção de fazê-lo. DA POSSE 7.6 Quanto ao tempo/idade a) Posse nova: É aquela que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela até um ano. b) Posse velha: É aquela que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, é aquela com um ano e um dia ou mais. OBS: Cfr. o art. 558 do CPC DA POSSE 7.7 Quanto aos efeitos a) Posse ad interdicta (regra): É aquela que pode ser defendida pelas ações possessórias/interditos, caso seja ameaçada, turbada ou esbulhada, mas não conduz ao usucapião. Ex.: a do locador ou locatário. b) Posse ad usucapionem (exceção): É aquela que se prolonga por determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade por usucapião, desde que obedecidos os requisitos legais. DA POSSE 8. MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE Pode ser: ORIGINÁRIA E DERIVADA. Efeito Prático: Se originária, a posse sendo nova, apresenta-se sem os vícios que a maculavam em mão do antecessor; por outro lado, se derivada, o adquirente a receberá com todos os vícios (art. 1.203 e 1.206) DA POSSE 8.1. Originária. (art. 1.204) a) Conceito e características É aquela que se realiza a) sem translatividade, em regra de b) forma unilateral, ou seja, efetiva-se sem c) anuência do antigo possuidor. DA POSSE b) Modos b.1) a apropriação do bem: é a apropriação do bem pela qual o possuidor passa a ter condições de dispor dele livremente, excluindo a ação de terceiros e exteriorizando, assim, seu domínio. Ex.: Coisas abandonadas ou sem dono, ou ainda sobre bens de outrem, sem consentimento deste, por meio de violência ou clandestinidade, desde que cessados a mais de ano e dia. OBS: Ocupação (móveis)/Uso (imóveis) DA POSSE b) Modos b.2) o exercício do direito (art. 1.196 e 1.204) : objetiva a sua utilização econômica, consistindo na manifestação externa do direito que pode ser objeto da relação possessória Ex.: servidão de um aqueduto em terreno alheio; uma pessoa que dá em comodato coisa pertencente a outrem. DA POSSE 8.2 Derivada a) Conceito e características: É aquela que requer a a) existência de uma posse anterior, que é b) transmitida ao adquirente, em virtude de um c) título jurídico, com a anuência do possuidor primitivo, sendo, portando, d) bilateral; Pode-se adquirir a posse por atos jurídicos gratuitos ou onerosos, inter vivos ou causa mortis. DA POSSE b) Modos: b.1) Tradição: é a entrega ou transferência da coisa, sendo que, para tanto, não há necessidade de uma expressa declaração de vontade; basta que haja a intenção do tradens (o que opera a tradição) e do accipiens (o que recebe a coisa) e efetivar tal transmissão. Pode ser: efetiva ou material, simbólica ou ficta e consensual (traditio longa manu e traditio brevi manu). DA POSSE 1 - Efetiva ou Material: Há a tradição real da coisa. Ex.: a entrega (real) do bem pelo vendedor ao comprador; 2 - Simbólica ou Ficta: ocorre mediante atos indicativos de transmissão da posse: Ex.: a entrega das chaves de um apartamento. 3 – Consensual: Traditio longa manu: quando a coisa é posta à disposição do adquirente, por ser impossível a entrega manual . Ex.: Uma máquina de grande porte Traditio brevi manu: quando a pessoa possuía em nome alheio e passa a possuir em nome próprio. Ex.: Locatário que adquire o domínio. b.2) Constituto Possessório/ Cláusula Constituti (art. 1.267, § único): Ocorre quando o possuidor de um bem (móvel, imóvel ou semovente) que o possui em nome próprio, passa a possuí-lo em nome alheio. Ex.: A vende a casa para B, mas fica convencionado que A permanecerá na posse, não mais como proprietário, mas como locador. Nota: traditio brevi manu x constituto possessório Traditio brevi manu: o possuidor possui a coisa em nome alheio, e passa a possuí-la em nome próprio. Constituto possessório: o possuidor possui a coisa em nome próprio, e passa a possuí-la em nome alheio. DA POSSE b.3) Acessão: pela acessão, a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores; essa conjunção de posse abrange a sucessão e a união. 1 – Sucessão (art. 1.206 e 1.207, 1ª parte, 1.784): ocorre quando o objeto da transferência é uma universalidade, como um patrimônio. Ex.: Herança 2 – União: (art. 1.207, 2ª parte): se dá na hipótese da sucessão singular, ou melhor, quando o objeto adquirido constitui coisa certa ou determinada. Ex.: Compra e venda; doação; dação, legado. DA POSSE 9 – SUJEITOS DA AQUISIÇÃO (art. 1.205, I e II) A própria pessoa que a pretende desde que se encontre no pleno gozo de sua capacidade de exercício ou de fato e que pratique o ato gerador da relação possessória, instituindo a exteriorização do domínio. Por representante legal (pais, tutor ou curador) ou procurador (representante convencional munido de mandato com poderes especiais) daquele que quer ser possuidor, caso em que se requer a concorrência de duas vontades: a do representante e a do representado. Por terceiro sem procuração, caso em que a aquisição da posse fica na dependência da ratificação da pessoa em cujo interesse foi praticado o ato. DA POSSE 10 – PERDA DA POSSE (Arts. 1.223 e 1.224) 10.1. Da coisa a) Pelo Abandono Quando o possuidor abandona intencionalmente a coisa, com o intuito de se privar de sua disponibilidade física e não exercer mais atos possessórios. Ex.: Alguém que põe no lixo um bem que não quer mais. OBS.: nem sempre o abandono da posse acarreta abandono de propriedade. DA POSSE b) Pela Tradição É a perda por transferência, pois a tradição é ao mesmo tempo meio aquisitivo e de perda da posse. Ex.: Registro no cartório de imóveis. c) Pela perda da própria coisa (derrelição) Se dá quando for impossível encontrar a coisa perdida, de modo que não se possa mais utilizá-la economicamente. A privação da posse ocorre “sem querer”. Ex.: Um pássaro que escapa da gaiola; a perda de uma jóia na rua, etc. DA POSSE d) Pela destruição da coisa (deterioração) A destruição pode ser por evento natural ou fortuito, por ato do próprio possuidor ou de terceiro, mas a inutilização deve ser definitiva de modo a impossibilitar o exercício do poder de utilização econômica do bem. Ex.: a morte e um animal, o incêndio de um carro, imóvel ocupado pelo mar ainda que temporariamente, etc. e) Pela inalienabilidade Quando o bem é colocadofora do comércio por motivo de ordem pública, de moralidade, higiene ou segurança coletiva. Ex.: um imóvel interditado por risco de desabamento. DA POSSE f) Pela posse de outrem Quando houver apossamento da coisa por parte de outrem, ainda que contra a vontade do possuidor e desde que não for manutenido ou reintegrado a tempo. (ano e dia) g) Pelo constituto possessório (§ único, art. 1.267) É meio aquisitivo e de perda da posse. Ocorre em razão da cláusula constituti, onde o possuidor perde a posse, passando a possuir em nome alheio aquilo que possuía em nome próprio. DA POSSE 10.2 Do Direito a) Da impossibilidade de seu exercício (art. 1.196) A impossibilidade física ou jurídica de um bem leva à impossibilidade de exercer sobre ele os poderes inerentes ao domínio. (art. 1.223). Ex.: quando se perde o direito da posse sobre servidão de passagem em razão de destruição do prédio dominante ou serviente, renúncia da servidão. b) Pelo Desuso Não se exercer a posse dentro de um determinado prazo. Ex.: Desuso da servidão predial por 10 anos (art. 1.389, III). DA POSSE 10.3 Para o Possuidor que não presenciou o esbulho (art. 1.224) a) Quando tendo a notícia do esbulho, se abstém de retomar a coisa. O possuidor abandona o seu direito, pois não se mostra visível como proprietário em razão de seu desinteresse. b) Quando tentando recuperar a sua posse é violentamente repelido Apesar de frustrada a tentativa de recuperação, que acarretará a sua perda, o esbulhado poderá valer-se da reintegração de posse para recupera-lá. DA POSSE 11. EFEITOS DA POSSE (DIVERGÊNCIA) Adotar-se-á o critério de Clóvis Beviláqua: I – O direito ao uso dos interditos; II – A Percepção dos frutos; III – O direito de retenção por benfeitorias; IV – A responsabilidade pelas deteriorações; V – A posse conduz ao usucapião (ad usucapionem); VI – Se o direito do possuidor é contestado, o ônus da prova é do adversário; VII – O possuidor goza de posição mais favorável em atenção à propriedade, cuja defesa se completa pela posse. DA POSSE 11.1. O direito de invocar os interditos possessórios a) Interdito Proibitório (art. 1.210, 2ª parte, CC c/o art. 567 do CPC): É cabível para a proteção preventiva da posse, no caso de ameaça/perigo iminente de turbação ou esbulho (risco de atentado à posse). Ex.: acampamento de integrantes de movimento popular às margens de uma fazenda, sem que ela esteja invadida. DA POSSE b) Ação de Manutenção de Posse (art. 1.210, CC c/c o art. 560 e ss. do CPC): É cabível no caso de turbação (atentados fracionados à posse /todo ato que embaraça o livre exercício da posse, mas sem perdê-la), Ex.: integrantes do mesmo movimento popular que levam o cavalos para pastar na fazenda que será invadida, sem ainda adentrá-la definitivamente; Rompimento de cercas, corte de árvores ou implantação de marcos, etc.. DA POSSE c) Ação de Reintegração de Posse (art. 1.210, §§ 1º e 2º e 1.212 CC c/c o art. 560 e ss. do CPC): É cabível no caso de esbulho (atentado consolidado à posse /todo ato que despoja injustamente o possuidor, por violência, clandestinidade ou precariedade) Ex.: Os integrantes do mesmo movimento popular que adentram a fazenda e lá se estabelece; comodatário que deixa de restituir a coisa dada em comodato, etc. DA POSSE d) Ação de Nunciação de Obra Nova (Atualmente é processada pelo rito comum – art. art. 319 e ss. do CPC): Impedira a continuação de obras no terreno vizinho que prejudicassem o possuidor ou proprietário, ou que estivessem em desacordo com regulamentos civis ou administrativos. Ex.: abrir na construção vizinha janela a menos de um metro e meio (art. 1.301, CC), etc. DA POSSE e) Ação de Dano Infecto (art. art. 1.280, CC c/c 319 e ss. do CPC – rito comum): Trata-se de medida preventiva utilizada pelo possuidor, baseada no receio de que o vizinho, em demolição, ruína ou vício de construção, lhe cause prejuízo, visando, obter por sentença, caução que garanta a indenização de danos futuros. DA POSSE f) Ação de Imissão de Posse (art. art. 1.228, CC c/c 319 e ss. do CPC – rito comum): Trata-se de ação petitória fundada em título de propriedade, sem que o interessado tenha tido a posse. Tem o escopo de aquisição da posse por via judicial. Ex.: Imóvel adquirido em leilão, cujo proprietário quer adentrar no imóvel. DA POSSE g) Embargos de Terceiro (art. 674 a 681 do CPC – rito especial): Trata-se de remédio processual para a defesa da posse (e da propriedade), por aquele que for turbado ou esbulhado por atos de apreensão judicial. Ex.: Penhora de bens particulares ou de meação do cônjuge. DA POSSE 11.2 Da percepção dos frutos RELEMBRANDO!!! São bens acessórios/utilidades que se destacam do principal sem detrimento de sua substância. Naturais, industriais e civis Pendentes (unidos à coisa principal); percebidos (quando colhidos); estantes (quando armazenados); percipiendos (quando deveriam ter sido colhidos e não o foram) e consumidos (quando colhidos e utilizados pelo possuidor) DA POSSE a)Possuidor de Boa-fé (art. 1.214 e 1.215) Direito aos frutos percebidos, mas não tem direito sobre os pendentes e aos colhidos antecipadamente (art. 1.214) Direitos às despesas de produção e custeio do frutos pendentes e dos colhidos antecipadamente que deverão ser restituídos (§ único, art. 1.214) DA POSSE b) Possuidor de má-fé (art. 1.216) Não tem direito aos frutos Responde por todos os prejuízos que causou em razão dos frutos colhidos e percebidos e que por culpa sua deixou de perceber Tem direito às despesas de produção e custeio dos frutos. DA POSSE 11.3 Direito à indenização e retenção das benfeitorias RELEMBRANDO!!!! São bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel visando a sua conservação ou melhoria de sua utilidade. Necessárias (conservação e evitar deterioração); úteis (aumentam ou facilitam o uso da coisa) e voluptuárias (ornam, enfeitam , tornam mais agradável o uso da coisa) DA POSSE a) Possuidor de boa-fé (1.219 e 1.222) Indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis Levantamento das voluptuárias Direito de retenção pelas necessárias e úteis b) Possuidor de má-fé (art. 1.220 e 1.222) Indenização pelas benfeitorias necessárias Não pode levantar as voluptuárias Não tem direito à retenção DA POSSE 11.4 Responsabilidades pela perda ou deterioração da coisa a) Possuidor de boa-fé (art. 1.217) Não responde pela perda ou deterioração da coisa a que não der causa (responsabilidade subjetiva) b) Possuidor de má-fé (art. 1.218) Responde pela perda ou deterioração da coisa ainda que acidentais, salvo se provar que ocorreriam estando na posse do reivindicante. (responsabilidade objetiva) DA POSSE 11.5 Direito à usucapião a) Propriedade imóvel usucapião ordinária (art. 1.242) usucapião extraordinário (art. 1.238) usucapião especial rural (art. 1.239) usucapião especial urbana (art. 1.240) usucapião familiar (art. 1.240-A) b) Propriedade Móvel usucapião ordinária (art. 1.260) usucapião extraordinária (art. 1.261) DA POSSE
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