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RENATO BRASILEIRO DE LIMA
Código de
PROCESSO
Comentado
Mais de 200 Súmulas Criminais do STF e do STJ Comentadas
CONFORME
- Lei 13.105/2015 - Novo Código de Processo Civil
Lei 13.245/2016 - Assistência de advogado na investigação preliminar
- Lei 13.254/2016 - Repatriação de valores licitos não declarados
remetidos ao exterior
- Lei 13.257/2016 - Novas hipóteses de prisão domiciliar
- Lei 13.260/2016 - Terrorismo
- Lei 13.285/2016 - Art. 394-A do CPP - Tramitação de processos
de crimes hediondos
- Lei 13.344/2016 - Arts. 13-A e 13-B do CPP - Dados cadastrais
e estações rádio-base
- HC 126.292 - Nova orientação do STF acerca da execução provisória da pena
1*1
www.editorajuspodivm.com.br
2.- edição
Revista e atualizada
EDITORA
m po d iv m
http://www.editorajuspodivm.com.br
RENATO BRASILEIRO DE LIMA
Ex-Defensor Público da União. Ex-Professor 
da Universidade Federal de Ju iz de Fora. 
Ex-Professor de Processo Penal da Rede LFG 
e do CERS. P rom otor da J u s tiç a M ilita r da União 
em São Paulo. P rofessor de Processo Penal e 
Legislação Crim inal Especial do G7 Juríd ico.
Código de
PROCESSO
PENAL
Comentado e
Respeite o direito autora!
RENATO BRASILEIRO DE LIMA
Código de
PROCESSO
PENAL
Comentado Sufi'!- 2 \i o.; ‘Vtcv,ule;i v rr.Mi. c ... c /;
CON FORME
CPC
2a edição
Revista e atualizada
2017
EDITORA
^PODIVM
www.editorajuspodivm.com.br
http://www.editorajuspodivm.com.br
EDITORA
>PODIVM
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Rua M ato Grosso, 175 - Pituba, CEP: 41830-151 - Salvador - Bahia
Tel: (71) 3363-8617 / Fax: (71) 3363-5050 • E-mail: fale@editorajuspodivm.com.br
Copyright: Edições JusPO D IVM
Conselho Editorial: Dirley da Cunha Jr„ Leonardo de M edeiros Garcia, Fredie Didier Jr„ José Flenrique Mouta, 
José Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Júnior, NestorTávora, Robério N unes Filho, Roberval Rocha Ferreira Filho, 
Rodolfo Pam plona Filho, Rodrigo Reis Mazzei e Rogério Sanches Cunha.
Capa: Marcelo S. Brandão (santibrando@gmail.com)
Diagramação: Linotec Fotocom posição e Fotolito Ltda. (www.linotec.com.br)
L732c Lima, Renato Brasileiro de
Código de Processo Penal comentado / Renato Brasileiro de Lima - 2. ed. rev. e atual. - 
Salvador: Juspodivm, 2017.
1.936 p.
Bibliografia.
ISBN 978-85-442-1211-0.
1. Direito processual. 2. Direito processual penal. I. Título.
CDD341.43
Todos os direitos desta edição reservados à Edições JusPODIVM.
É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a 
expressa autorização do autor e da Edições JusPODIVM. A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito 
na legislação em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
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mailto:fale@editorajuspodivm.com.br
mailto:santibrando@gmail.com
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Dedico este trabalho ao meu querido filho João Pedro.
“JP", não há, nesta vida, alegria maior que compartilhar 
seus primeiros olhares, suas primeiras gargalhadas, 
seus primeiros passos. Só posso agradecer a Deus por 
ter me dado a oportunidade de ter você em minha vida.
Código de Processo Penal - Decreto-lei 3.689, de 3 de outubro de 1941................ 13
Súmulas Criminais do STF e do STJ Comentadas.............................................. 1645
índice Alfabético-Remissivo.......................................................................... 1905
Bibliografia............................................................................................... 1923
DECRETO-LEI 3.689,
DE 3 DE OUTUBRO DE 1941
Livro I
Do Processo em Geral
TÍTULO I - D ISPOSIÇÕES PRELIM INARES...................................................... 15
Arts. 1o a 3o.............................................................................................. 15
TÍTULO II - DO INQUÉRITO POLICIAL........................................................... 39
Arts. 4o a 23............................................................................................. 39
TÍTULO III - DA AÇÃO PENAL..................................................................... 115
Arts. 24 a 62 ............................................................................................. 115
TÍTULO I V - D A AÇÃO C IVIL........................................................................ 225
Arts. 63 a 68 ............................................................................................. 225
TÍTULO V - D A COMPETÊNCIA.................................................................... 243
Art. 69.................................................................................................... 243
O
CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
Capítulo I - Da competência pelo lugar da infração (arts. 70 e 71).... 265
Capítulo II - Da competência pelo domicílio ou residência do réu (arts. 72 e 73)..... 277
Capítulo III - Da competência pela natureza da infração (art. 74)........ 279
Capítulo IV - Da competência por distribuição (art. 75).................... 286
Capítulo V - Da competência por conexão ou continência (arts. 76 a 82). 288
Capítulo VI - Da competência por prevenção (art. 83)..................... 310
Capítulo VII - Da competência pela prerrogativa de função (arts. 84 a 87). 315
Capítulo VIII - Disposições especiais (arts. 88 a 91)........................................... 340
TÍTULO VI - DAS QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES.................................. 347
Capítulo I - Das questões prejudiciais (arts. 92 a 94)....................................... 347
Capítulo II - Das exceções (arts. 95 a 111)..................................................... 360
Capítulo III - Das incompatibilidades e impedimentos (art. 112)....................... 381
Capítulo IV - Do conflito de jurisdição (arts. 113a 117).................................. 382
Capítulo V - Da restituição das coisas apreendidas (arts. 118 a 124).................. 394
Capítulo VI - Das medidas assecuratórias (arts. 125 a 144-A).............................. 405
Capítulo VII - Do incidente de falsidade (arts. 145 a 148).................................. 443
Capítulo VIII - Da insanidade mental do acusado (arts. 149 a 154)....................... 449
TÍTULO VII - DA PROVA............................................................................. 463
Capítulo I - Disposições gerais (arts. 155 a 157)............................................ 463
Capítulo II - Do exame do corpo de delito, e das perícias em geral (arts. 158 a
184)................................................................................... 552
Capítulo III - Do interrogatório do acusado (arts. 185 a 196).............................. 588
Capítulo IV - Da confissão (arts. 197 a 200)................................................... 612
Capítulo V - Do ofendido (art. 201)............................................................ 641
Capítulo VI - Das testemunhas (arts. 202 a 225)............................................ 644
Capítulo VII - Do reconhecimento de pessoas e coisas (arts. 226 a 228)................ 668
Capítulo VIII - Da acareação (arts. 229 e 230)................................................. 671
Capítulo IX - Dos documentos (arts. 231 a 238).............................................. 673
Capítulo X - Dos indícios (art. 239).............................................................. 678
Capítulo XI - Da busca e da apreensão (arts. 240 a 250)................................. 680
TÍTULO VIII - DO JUIZ, DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DO ACUSADO E DEFENSOR, DOS 
ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUST IÇA...................................................... 699
Capítulo I - Do juiz (arts. 251 a 256).......................................................... 699
Capítulo II - Do Ministério Público (arts. 257 e 258)....................................... 714
Capítulo III - Do acusado e seu defensor (arts. 259 a 267)................................. 730Capítulo IV - Dos assistentes (arts. 268 a 273)................................................ 749
Capítulo V - Dos funcionários da justiça (art. 274)........................................... 760
Capítulo VI - Dos peritos e intérpretes (arts. 275 a 281).................................... 760
O
ÍNDICE SISTEMÁTICO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
TÍTULO IX - DA PRISÃO, DAS M ED ID AS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓ­
R IA ........................................................................................................ 763
Capítulo I - Disposições gerais (arts. 282 a 300)............................................ 763
Capítulo II - Da prisão em flagrante (arts. 301 a 310)...................................... 827
Capítulo III - Da prisão preventiva (arts. 311 a 316)......................................... 871
Capítulo IV - Da prisão domiciliar (arts. 317 e 318)......................................... 915
Capítulo V - Das outras medidas cautelares (arts. 319 e 320)............................ 924
Capítulo VI - Da liberdade provisória, com ou sem fiança (arts. 321 a 350)............ 946
TÍTULO X - DAS CITAÇÕES E INTIMAÇÕES..................................................... 985
Capítulo I - Das citações (arts. 351 a 369).................................................... 985
Capítulo II - Das intimações (arts. 370 a 372)................................................ 1009
TÍTULO XI - DA APLICAÇÃO PROVISÓRIA DE INTERDIÇÕES DE DIREITOS E MEDIDAS DE 
SEGURANÇA_________________________________________ ______________________
Arts. 373 a 380.........................................................................................
1015
1015
TÍTULO XII - DA SENTENÇA........................................................................ 1017
Arts. 381 a 393......................................................................................... 1017
L ivro II
Dos Processos em Espécie
TÍTULO I - DO PROCESSO C O M U M .............................................................. 1093
Capítulo I - Da instrução criminal (arts. 394 a 405)........................................ 1093
Capítulo II - Do procedimento relativo aos processos da competência do Tribunal
do Júri (arts. 406 a 497)........................................................... 1138
Seção I - Da acusação e da instrução preliminar (arts. 406 a 412).................. 1138
Seção II - Da pronúncia, da impronúncia e da absolvição sumária (arts. 413 a
421)................................................................................... 1151
Seção III - Da preparação do processo para julgamento em plenário (arts. 422 a
424)........................................... 1180
Seção IV - Do alistamento dos jurados (arts. 425 e 426)................................ 1183
Seção V - Do desaforamento (arts. 427 e 428)............................................ 1185
Seção VI - Da organização da pauta (arts. 429 a 431)................................... 1191
Seção VII - Do sorteio e da convocação dos jurados (arts. 432 a 435)............... 1192
Seção VIII - Da função do jurado (arts. 436 a 446)......................................... 1194
Seção IX - Da composição do Tribunal do Júri e da formação do Conselho de
Sentença (arts. 447 a 452)........................................................ 1200
Seção X - Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri (arts. 453 a 472)........... 1204
Seção XI - Da instrução em Plenário (arts. 473 a 475).................................... 1219
c*
GUTO&DINHA
Destacar
CPP COMENTADO • Renato Brasileiro oe L ima
Seção XII - Dos debates (arts. 476 a 481).................................................... 1224
Seção XIII - Do questionário e sua votação (arts. 482 a 491)............................ 1234
Seção XIV - Da sentença (arts. 492 e 493).................................................... 1251
Seção XV - Da ata dos trabalhos (arts. 494 a 496)......................................... 1257
Seção XVI - Das atribuições do presidente do Tribunal do Júri (art. 497)............. 1259
Capítulo III - Do processo e do julgamento dos crimes da competência do juiz sin­
gular (arts. 498 a 502) (Revogados pela Lei 11.719/2008) 1264
TÍTULO II - DOS PROCESSOS ESPECIA IS....................................................... 1265
Capítulo I - Do processo e do julgamento dos crimes de falência (arts. 503 a 512)
(Revogados pela Lei 11.101/2005)................................................ 1265
Capítulo II - Do processo e do julgamento dos crimes de responsabilidade dos
funcionários públicos (arts. 513 a 518)........................................ 1265
Capítulo III - Do processo e do julgamento dos crimes de calúnia e injúria, de com­
petência do juiz singular (arts. 519 a 523).................................... 1276
Capítulo IV - Do processo e do julgamento dos crimes contra a propriedade imaterial
(arts. 524 a 530-1)................................................................... 1280
Capítulo V - Do processo sumário (arts. 531 a 540)........................................ 1293
Capítulo VI - Do processo de restauração de autos extraviados ou destruídos (arts.
541 a 548)........................................................................... 1296
Capítulo VII - Do processo de aplicação de medida de segurança por fato não crimi­
noso (arts. 549 a 555)............................................................. 1301
TÍTULO III - DOS PROCESSOS DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
EDOSTRIBUNAIS DE APELAÇÃO................................................................. 1303
Capítulo I - Da instrução (arts. 556 a 560) (Revogados pela Lei 8.658/1993)........... 1303
Capítulo II - Do julgamento (arts. 561 e 562) (Revogados pela Lei 8.658/1993)........ 1303
Livro III
D as N ulidades e dos Recursos em G eral
TÍTULO I - DAS N U LIDADES....................................................................... 1305
Arts. 563 a 573......................................................................................... 1305
TÍTULO II - DOS RECURSOS EM GERAL......................................................... 1361
Capítulo I - Disposições gerais (arts. 574 a 580)............................................ 1361
Capítulo II - Do recurso em sentido estrito (arts. 581 a 592).............................. 1413
Capítulo III - Da apelação (arts. 593 a 606).................................................... 1437
Capítulo IV - Do protesto por novo júri (arts. 607 e 608) (Revogados pela Lei
11.689/2008)........................................................................ 1462
Capítulo V - Do processo e do julgamento dos recursos em sentido estrito e das
apelações, nos Tribunais de Apelação (arts. 609 a 618)................... 1467
Capítulo VI - Dos embargos (arts. 619 e 620)................................................. 1490
» D
ÍNDICE SISTEMÁTICO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Capítulo VII - Da revisão (arts. 621 a 631)...................................................... 1491
Capítulo VIII - Do recurso extraordinário (arts. 632 a 638)................................... 1520
Capítulo IX - Da carta testemunhável (arts. 639 a 646)...................... 1522
Capítulo X - Do habeas corpus e seu processo (arts. 647 a 667)............... 1526
Livro IV 
D a Execução
TÍTULO I-D ISPO S IÇ Õ ES G ERA IS................................................................ 1579
Arts. 668 a 673......................................................................................... 1579
TÍTULO II - DA EXECUÇÃO DAS PENAS EM ESPÉCIE......................................... 1581
Capítulo I - Das penas privativas de liberdade (arts. 674 a 685)......................... 1581
Capítulo II - Das penas pecuniárias (arts. 686 a 690)....................................... 1582
Capítulo III - Das penas acessórias (arts. 691 a 695).........................................1584
TÍTULO III - DOS INCIDENTES DA EXECUÇÃO................................................. 1585
Capítulo I - Da suspensão condicional da pena (arts. 696 a 709)....................... 1585
Capítulo II - Do livramento condicional (arts. 710 a 733).................................. 1587
TÍTULO IV - DA GRAÇA, DO INDULTO, DA ANISTIA E DA REABILITAÇÃO.............. 1593
Capítulo I - Da graça, do indulto e da anistia (arts. 734 a 742).......................... 1593
Capítulo II - Da reabilitação (arts. 743 a 750)................................................. 1594
TÍTULO V - DA EXECUÇÃO DAS M ED IDAS DE SEGURANÇA.............................. 1603
Arts. 751a 779......................................................................................... 1603
Livro V
D as Relações Jurisdicionais 
com A utoridade Estrangeira
TÍTULO ÚN ICO ........................................................................................ 1607
Capítulo I - Disposições gerais (arts. 780 a 782)............................................ 1607
Capítulo II - Das cartas rogatórias (arts. 783 a 786)......................................... 1611
Capítulo III - Da homologação das sentenças estrangeiras (arts. 787 a 790)........... 1617
L ivro VI
D isposições G erais
Arts. 791 a 811......................................................................................... 1623
C"
Decreto-lei 3.689, de 
3 de outubro de 1941
O Presidente da República, usando da 
atribuição que lhe confere o art. 180 da 
Constituição, decreta a seguinte Lei:
DO PROCESSO EM GERAL 1-2
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1 ° O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por 
este Código,3 ressalvados:4"6
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;7
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos mi­
nistros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e 
dos ministros do SupremoTribunal Federal, nos crimes de responsabilidade 
(Constituição, arts. 86,89, §2°, e 100);8
III - os processos da competência da Justiça Militar;9
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, 
art. 122, n°17);'°
V - os processos por crimes de imprensa." (vide ADPF n. 130)
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos
referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dis­
puserem de modo diverso.12
1. Processo penal e o Estado Democrático 
de Direito: quando o Estado, por intermédio 
do Poder Legislativo, elabora as leis penais, 
cominando sanções àqueles que vierem a 
praticar a conduta delituosa, surge para ele 
o direito de punir os infratores num plano 
abstrato e, para o particular, o dever de se 
abster de praticar a infração penal. No entanto, 
a partir do momento em que alguém pratica 
a conduta delituosa prevista no tipo penal, 
este direito de punir desce do plano abstrato 
e se transforma no jus puniendi in concreto. O 
Estado, que até então tinha um poder abstrato,
O
genérico e impessoal, passa a ter uma preten­
são concreta de punir o suposto autor do fato 
delituoso. Surge, então, a pretensão punitiva, a 
ser compreendida como o poder do Estado de 
exigir de quem comete um delito a submissão 
à sanção penal. Através da pretensão punitiva, 
o Estado procura tornar efetivo o ius puniendi, 
exigindo do autor do delito, que está obrigado 
a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento 
dessa obrigação, que consiste em sofrer as 
consequências do crime e se concretiza no 
dever de abster-se ele de qualquer resistência 
contra os órgãos estatais a que cumpre executar
Art. I o ■x CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
a pena. Todavia, esta pretensão punitiva não 
pode ser voluntariamente resolvida sem um 
processo, não podendo nem o Estado impor a 
sanção penal, nem o infrator sujeitar-se à pena. 
Em outras palavras, essa pretensão já nasce 
insatisfeita. Afinal, o Direito Penal não é um 
direito de coação direta. Apesar de o Estado ser 
o titular do direito de punir, não se admite a 
imposição imediata da sanção sem que haja um 
processo regular, assegurando-se, assim, a apli­
cação da lei penal ao caso concreto, consoante 
as formalidades prescritas em lei, e sempre por 
meio dos órgãos jurisdicionais (nulla poena 
sine judicio). Aliás, até mesmo nas hipóteses 
de infrações de menor potencial ofensivo, em 
que se admite a transação penal, com a ime­
diata aplicação de penas restritivas de direitos 
ou multas, não se trata de imposição direta de 
pena. Utiliza-se, na verdade, de forma distinta 
da tradicional para a resolução da causa, sendo 
admitida a solução consensual em infrações 
de menor gravidade, mediante supervisão ju- 
risdicional, privilegiando-se, assim, a vontade 
das partes e, principalmente, do autor do fato 
que pretende evitar os dissabores do processo 
e o risco da condenação. É daí que sobressai a 
importância do processo penal, pois funciona 
como instrumento do qual se vale o Estado 
para a imposição de sanção penal ao possível 
autor do fato delituoso. Mas o Estado não 
pode punir de qualquer maneira. Com efeito, 
considerando-se que, da aplicação do direito 
penal pode resultar a privação da liberdade de 
locomoção do agente, entre outras penas, não 
se pode descurar do necessário e indispensável 
respeito a direitos e liberdades individuais que 
tão caro custaram para serem reconhecidos e 
que, em verdade, condicionam a legitimidade 
da atuação do próprio aparato estatal em um 
Estado Democrático de Direito. Na medida 
em que a liberdade de locomoção do cidadão 
funciona como um dos dogmas do Estado de 
Direito, é intuitivo que a própria Constitui­
ção Federal estabeleça regras de observância 
obrigatória em um processo penal. É a boa 
aplicação (ou não) desses direitos e garantias 
que permite, assim, avaliar a real observância 
dos elementos materiais do Estado de Direito 
e distinguir a civilização da barbárie. De fato,
como adverte Norberto Bobbio, a proteção 
do cidadão no âmbito dos processos estatais é 
justamente o que diferencia um regime demo­
crático daquele de índole totalitária. Na dicção 
do autor ((As ideologias e o poder em crise. 
Tradução de João Ferreira; revisão técnica 
Gilson César Cardoso. 4a ed. Brasília: Editora 
Universidade de Brasília, 1999, p. 96-97), “a 
diferença fundamental entre as duas formas 
antitéticas de regime político, entre a demo­
cracia e a ditadura, está no fato de que somente 
num regime democrático as relações de mera 
força que subsistem, e não podem deixar de 
subsistir onde não existe Estado ou existe um 
Estado despótico fundado sobre o direito do 
mais forte, são transformadas em relações de 
direito, ou seja, em relações reguladas por nor­
mas gerais, certas e constantes, e, o que mais 
conta, preestabelecidas, de tal forma que não 
podem valer nunca retroativamente. A conse­
quência principal dessa transformação é que 
nas relações entre cidadãos e Estado, ou entre 
cidadãos entre si, o direito de guerra fundado 
sobre a autotutela e sobre a máxima ‘Tem razão 
quem vence é substituído pelo direito de paz 
fundado sobre a heterotutela e sobre a máxima 
‘Vence quem tem razão’; e o direito público 
externo, que se rege pela supremacia da força, 
é substituído pelo direito público interno, 
inspirado no princípio da ‘supremacia da lei’ 
(rule o f law)”. É esse, pois, o grande dilema 
do processo penal: de um lado, o necessário e 
indispensável respeito aos direitos fundamen­
tais; do outro, o atingimento de um sistema 
criminal mais operante e eficiente. Na linha do 
ensinamento de Antônio Scarance Fernandes, 
o vocábulo eficiência aqui empregado “é usado 
de forma ampla, sendo afastada, contudo, a 
ideia de eficiência medida pelo número de 
condenações. Será eficiente o procedimento 
que, em tempo razoável, permita atingir um 
resultado justo, seja possibilitando aos órgãos 
da persecução penal agir para fazer atuar o di­
reito punitivo, seja assegurando ao acusado as 
garantias do processolegal”. (Sigilo no processo 
penal: eficiência e garantismo. Coordenação 
Antônio Scarance Fernandes, José Raul Gavião 
de Almeida, Maurício Zanoide de Moraes. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p.
/
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES , -| o
10). Há de se buscar, portanto, um ponto de 
equilíbrio entre a exigência de se assegurar ao 
investigado e ao acusado a aplicação das garan­
tias fundamentais do devido processo legal e 
a necessidade de maior efetividade do sistema 
persecutório para a segurança da coletividade. 
É dentro desse dilema existencial do processo 
penal - efetividade da coerção penal versus 
observância dos direitos fundamentais - que se 
buscará, ao longo da presente obra, um ponto 
de equilíbrio no estudo do processo penal, pois 
somente assim serão evitados os extremos do 
hipergarantismo e de movimentos como o do 
Direito Penal do Inimigo ou do Direito Penal 
da Lei e da Ordem.
2. Sistemas processuais penais: histori­
camente, sempre existiram dois sistemas ou 
modelos processuais, quais sejam, o acusatório 
e o inquisitório. Também houve uma tentativa 
de fundir os dois sistemas, dando origem ao 
sistema misto. Nos dias de hoje, não existem 
sistemas acusatórios ou inquisitórios “puros”. 
Na verdade, ora o processo penal é predomi­
nantemente acusatório, ora apresenta caracte­
rísticas peculiares dos sistemas inquisitoriais. 
Quando o nosso Código de Processo Penal 
entrou em vigor no dia I o de janeiro de 1942, 
prevalecia o entendimento de que o sistema 
nele previsto era misto. A fase inicial da perse- 
cução penal, caracterizada pelo inquérito poli­
cial, era inquisitorial. Porém, uma vez iniciado 
o processo, tínhamos uma fase acusatória. 
Porém, com o advento da Constituição Fede­
ral, que prevê de maneira expressa a separação 
das funções de acusar, defender e julgar (art. 
129,1), estando assegurado o contraditório e a 
ampla defesa, além do princípio da presunção 
de não culpabilidade, estamos diante de um 
sistema acusatório. É bem verdade que não se 
trata de um sistema acusatório puro. De fato, 
há de se ter em mente que o Código de Pro­
cesso Penal tem nítida inspiração no modelo 
fascista italiano. Torna-se imperioso, portanto, 
que a legislação infraconstitucional seja relida 
diante da nova ordem constitucional. Dito de 
outro modo, não se pode admitir que se pro­
cure delimitar o sistema brasileiro a partir do 
Código de Processo Penal. Pelo contrário. São 
as leis que devem ser interpretadas à luz dos
direitos, garantias e princípios introduzidos 
pela Carta Constitucional de 1988.
2.1. Sistema inquisitorial: adotado pelo 
Direito canônico a partir do século X III, o 
sistema inquisitorial posteriormente se pro­
pagou por toda a Europa, sendo empregado 
inclusive pelos tribunais civis até o século 
XVIII. Tem como característica principal o 
fato de as funções de acusar, defender e julgar 
encontrarem-se concentradas em uma única 
pessoa, que assume assim as vestes de um juiz 
acusador, chamado de juiz inquisidor. Essa 
concentração de poderes nas mãos do juiz 
compromete, invariavelmente, sua imparciali­
dade. De fato, há uma nítida incompatibilidade 
entre as funções de acusar e julgar. Afinal, 
o juiz que atua como acusador fica ligado 
psicologicamente ao resultado da demanda, 
perdendo a objetividade e a imparcialidade no 
julgamento. Em virtude dessa concentração de 
poderes nas mãos do juiz, não há falar em con­
traditório, o qual nem sequer seria concebível 
em virtude da falta de contraposição entre acu­
sação e defesa. Ademais, geralmente o acusado 
permanecia encarcerado preventivamente, 
sendo mantido incomunicável. No processo 
inquisitório, o juiz inquisidor é dotado de 
ampla iniciativa probatória, tendo liberdade 
para determinar de ofício a colheita de provas, 
seja no curso das investigações, seja no curso 
do processo penal, independentemente de sua 
proposição pela acusação ou pelo acusado. A 
gestão das provas estava concentrada, assim, 
nas mãos do juiz, que, a partir da prova do 
fato e tomando como parâmetro a lei, podia 
chegar à conclusão que desejasse. Trabalha o 
sistema inquisitório, assim, com a premissa de 
que a atividade probatória tem por objetivo 
uma completa e ampla reconstrução dos fa­
tos, com vistas ao descobrimento da verdade. 
Considera-se possível a descoberta de uma 
verdade absoluta, por isso admite uma ampla 
atividade probatória, quer em relação ao ob­
jeto do processo, quer em relação aos meios e 
métodos para a descoberta da verdade. Dotado 
de amplos poderes instrutórios, o magistrado 
pode proceder a uma completa investigação 
do fato delituoso. No sistema inquisitorial, o 
acusado é mero objeto do processo, não sendo
Art. I o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
considerado sujeito de direitos. Na busca da 
verdade material, admitia-se que o acusado 
fosse torturado para que uma confissão fosse 
obtida. O processo inquisitivo era, em regra, 
escrito e sigiloso, mas essas formas não lhe 
eram essenciais. Pode se conceber o processo 
inquisitivo com as formas orais e públicas. 
Como se percebe, há uma nítida conexão entre 
o processo penal e a natureza do Estado que o 
institui. A característica fundamental do pro­
cesso inquisitório é a concentração de poderes 
nas mãos do juiz, aí chamado de inquisidor, à 
semelhança da reunião de poderes de adminis­
trar, legislar e julgar nas mãos de uma única 
pessoa, de acordo com o regime político do 
absolutismo. Em síntese, podemos afirmar que 
o sistema inquisitorial é um sistema rigoroso, 
secreto, que adota ilimitadamente a tortura 
como meio de atingir o esclarecimento dos 
fatos e de concretizar a finalidade do processo 
penal. Nele, não há falar em contraditório, pois 
as funções de acusar, defender e julgar estão 
reunidas nas mãos do juiz inquisidor, sendo o 
acusado considerado mero objeto do processo, 
e não sujeito de direitos. O magistrado, cha­
mado de inquisidor, era a figura do acusador 
e do juiz ao mesmo tempo, possuindo amplos 
poderes de investigação e de produção de 
provas, seja no curso da fase investigatória, 
seja durante a instrução processual. Por essas 
características, fica evidente que o processo 
inquisitório é incompatível com os direitos 
e garantias individuais, violando os mais ele­
mentares princípios processuais penais. Sem 
a presença de um julgador equidistante das 
partes, não há falar em imparcialidade, do 
que resulta evidente violação à Constituição 
Federal e à própria Convenção Americana 
sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8o, n. 1).
2.2. Sistema acusatório: de maneira dis­
tinta, o sistema acusatório caracteriza-se pela 
presença de partes distintas, contrapondo-se 
acusação e defesa em igualdade de condições, 
e a ambas se sobrepondo um juiz, de maneira 
equidistante e imparcial. Aqui, há uma separa­
ção das funções de acusar, defender e julgar. O 
processo caracteriza-se, assim, como legítimo 
actum trium personarum. Nesse sentido: PRA­
DO, Geraldo. Sistema acusatório: a conformi­
dade constitucional das leis processuais penais. 
3a ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 
2005. p. 114. Historicamente, o processo acusa­
tório tem como suas características a oralidade 
e a publicidade, nele se aplicando o princípio 
da presunção de inocência. Logo, a regra era 
que o acusado permanecesse solto durante o 
processo. Não obstante, em várias fases do Di­
reito Romano, o sistema acusatório foi escrito 
e sigiloso. Quanto à iniciativa probatória, o 
juiz não era dotado do poder de determinar 
de ofício a produção de provas, já que estas 
deveriam ser fornecidas pelas partes, preva­
lecendo o exame direto das testemunhas e do 
acusado. Portanto, sob o ponto de vista pro­
batório, aspira-se uma posição de passividade 
do juiz quanto à reconstrução dos fatos. Com 
o objetivo de preservar sua imparcialidade, o 
magistrado deve deixar a atividade probatória 
para as partes. Ainda que se admita que o juiz 
tenha poderes instrutórios, essa iniciativa deve 
ser possível apenas no curso do processo,em 
caráter excepcional, como atividade subsidi­
ária da atuação das partes. No sistema acusa­
tório, a gestão das provas é função das partes, 
cabendo ao juiz um papel de garante das regras 
do jogo, salvaguardando direitos e liberdades 
fundamentais. Diversamente do sistema inqui­
sitorial, o sistema acusatório caracteriza-se por 
gerar um processo de partes, em que autor e 
réu constroem através do confronto a solução 
justa do caso penal. A separação das funções 
processuais de acusar, defender e julgar entre 
sujeitos processuais distintos, o reconhecimen­
to dos direitos fundamentais ao acusado, que 
passa a ser sujeito de direitos e a construção 
dialética da solução do caso pelas partes, em 
igualdade de condições, são, assim, as prin­
cipais características desse modelo. Segundo 
Ferrajoli (Direito e razão: teoria dogarantismo 
penal. 2a ed. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2006. p. 518), são características do 
sistema acusatório a separação rígida entre o 
juiz e acusação, a paridade entre acusação e 
defesa, e a publicidade e a oralidade do julga­
mento. Lado outro, são tipicamente próprios 
do sistema inquisitório a iniciativa do juiz em 
campo probatório, a disparidade de poderes 
entre acusação e defesa e o caráter escrito e
TITULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. I o
secreto da instrução. O sistema acusatório 
vigorou durante quase toda a Antiguidade 
grega e romana, bem como na Idade Média, 
nos domínios do direito germano. A partir do 
século XIII entra em declínio, passando a ter 
prevalência o sistema inquisitivo. Atualmente, 
o processo penal inglês é aquele que mais se 
aproxima de um sistema acusatório puro. Pelo 
sistema acusatório, acolhido de forma explícita 
pela Constituição Federal de 1988 (CF, art. 129, 
inciso I), que tornou privativa do Ministério 
Público a propositura da ação penal pública, 
a relação processual somente tem início me­
diante a provocação de pessoa encarregada 
de deduzir a pretensão punitiva (ne procedat 
judex ex officio), e, conquanto não retire do 
juiz o poder de gerenciar o processo mediante 
o exercício do poder de impulso processual, 
impede que o magistrado tome iniciativas 
que não se alinham com a equidistância que 
ele deve tomar quanto ao interesse das partes. 
Deve o magistrado, portanto, abster-se de 
promover atos de ofício na fase investigató- 
ria, atribuição esta que deve ficar a cargo das 
autoridades policiais e do Ministério Público. 
Como se percebe, o que efetivamente diferen­
cia o sistema inquisitorial do acusatório é a 
posição dos sujeitos processuais e a gestão da 
prova. O modelo acusatório reflete a posição 
de igualdade dos sujeitos, cabendo exclusiva­
mente às partes a produção do material pro­
batório e sempre observando os princípios do 
contraditório, da ampla defesa, da publicidade 
e do dever de motivação das decisões judiciais. 
Portanto, além da separação das funções de 
acusar, defender e julgar, o traço peculiar mais 
importante do sistema acusatório é que o juiz 
não é, por excelência, o gestor da prova.
2.3. Sistema misto ou francês: após se dis­
seminar por toda a Europa a partir do século 
XIII, o sistema inquisitorial passa a sofrer al­
terações com a modificação napoleônica, que 
instituiu o denominado sistema misto. Trata-se 
de um modelo novo, funcionando como uma 
fusão dos dois modelos anteriores, que surge 
com o Code d ’Instruction Criminelle francês, 
de 1808. Por isso, também é denominado de 
sistema francês. É chamado de sistema misto 
porquanto o processo se desdobra em duas
fases distintas: a primeira fase é tipicamente 
inquisitorial, com instrução escrita e secreta, 
sem acusação e, por isso, sem contraditório. 
Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a 
autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de 
caráter acusatório, o órgão acusador apresenta 
a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vi­
gorando, em regra, a publicidade e a oralidade.
3. Lei processual penal no espaço (prin­
cípio da territorialidade): enquanto à lei 
penal aplica-se o princípio da territorialida­
de (CP, art. 5o) e da extraterritorialidade in- 
condicionada e condicionada (CP, art. 7o), o 
Código de Processo Penal adota o princípio 
da territorialidade ou da lexfori. E isso por 
um motivo óbvio: a atividade jurisdicional é 
um dos aspectos da soberania nacional, logo, 
não pode ser exercida além das fronteiras do 
respectivo Estado. Assim, mesmo que um ato 
processual tenha que ser praticado no exterior, 
v.g., citação, intimação, interrogatório, oitiva 
de testemunha, etc., a lei processual penal a 
ser aplicada é a do país onde tais atos venham 
a ser realizados. Na mesma linha, aplica-se a 
lei processual brasileira aos atos referentes às 
relações jurisdicionais com autoridades es­
trangeiras que devam ser praticados em nosso 
país, tais como os de cumprimento de carta 
rogatória (CPP, arts. 783 e seguintes), homolo­
gação de sentença estrangeira (CPP, arts. 787 e 
seguintes), procedimento de extradição (Lei n. 
6.815/80, arts. 76 e seguintes), etc. Todavia, há 
situações em que a lei processual penal de um 
Estado pode ser aplicada fora de seus limites 
territoriais: a) aplicação da lei processual penal 
de um Estado em território nullius; b) quando 
houver autorização do Estado onde deva ser 
praticado o ato processual; c) em caso de guer­
ra, em território ocupado. Confirmando a ado­
ção do princípio da territorialidade, o art. Io do 
CPP dispõe que o processo penal reger-se-á, 
em todo o território brasileiro, pelo Código de 
Processo Penal, ressalvados: I - os tratados, as 
convenções e regras de direito internacional; 
II - as prerrogativas constitucionais do Presi­
dente da República, dos ministros de Estado, 
nos crimes conexos com os do Presidente da 
República, e dos ministros do Supremo Tribu­
nal Federal, nos crimes de responsabilidade;
\,
Aft. 1 ° \ cpp COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
III - os processos da competência da Justiça 
Militar; IV - os processos da competência do 
tribunal especial; V - os processos por crimes 
de imprensa. Portanto, como se percebe, a 
regra é que todo e qualquer processo penal 
que surgir no território nacional deva ser so­
lucionado consoante as regras do Código de 
Processo Penal (locus regitactum). Há, todavia, 
exceções.
4. Tribunal Penal Internacional: além das 
ressalvas listadas nos incisos do art. I o do CPP, 
especial atenção também deve ser dispensada 
ao art. 5o, §4°, da Constituição Federal, que 
prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de 
Tribunal Penal Internacional a cuja criação 
tenha manifestado adesão”. Tem-se aí mais 
uma hipótese de não aplicação da lei proces­
sual penal brasileira aos crimes praticados no 
país, nas restritas situações em que o Estado 
brasileiro reconhecer a necessidade do exercí­
cio da jurisdição penal internacional. Com as 
inúmeras violações de direitos humanos ocor­
ridas a partir das primeiras décadas do século 
XX, notadamente com as duas grandes guerras 
mundiais, surgiu a ideia de um ius puniendi 
em nível global, buscando a instituição de uma 
moderna Justiça Penal Internacional. Como 
anota Mazzuoli (O Tribunal Penal Internacio­
nal e o direito brasileiro. 2a ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 20-21), 
essa expressão Justiça Penal Internacional pode 
ser compreendida como “o aparato jurídico e 
o conjunto de normas instituídas pelo Direito 
Internacional, voltados à persecução e à re­
pressão dos crimes perpetrados contra o pró­
prio Direito Internacional, cuja ilicitude está 
prevista nas normas ou princípios do ordena­
mento jurídico internacional e cuja gravidade 
é de tal ordem e de tal dimensão, em decor­
rência do horror e da barbárie que determinam 
ou pela vastidão do perigo que provocam no 
mundo, que passam a interessar a toda a so­
ciedade dos Estados concomitantemente”. Um 
sensível incremento ao movimento de inter­
nacionalização e proteção dos direitos huma­
nos teve início com os Tribunais de Nuremberg 
e de Tóquio. Por meio do Acordo deLondres, 
de 8 de agosto de 1945, e em evidente reação 
às barbáries do Holocausto, foi criado pelas
nações vencedoras o Tribunal Militar Interna­
cional de Nuremberg, com o objetivo de pro­
cessar e julgar os criminosos de guerra do Eixo 
europeu, acusados de colaboração direta com 
o regime nazista. Também foi criado o Tribu­
nal Militar Internacional de Tóquio, com a 
finalidade precípua de julgar os crimes de 
guerra e os crimes contra a humanidade per­
petrados pelas autoridades políticas e militares 
do Japão Imperial. Algum tempo depois, em 
virtude de deliberações do Conselho de Segu­
rança das Nações Unidas, dois tribunais inter­
nacionais de caráter não-permanente também 
foram criados: o primeiro, com sede na Ho­
landa, para julgar as barbáries cometidos no 
território da antiga Iugoslávia; o segundo, se­
diado na Tanzânia, para processar e julgar as 
violações de direitos humanos perpetradas em 
Ruanda. Várias críticas recaíram sobre esses 
tribunais, dentre elas a de que tais tribunais 
teriam sido criados por resoluções do Conse­
lho de Segurança da ONU, e não por tratados 
internacionais multilaterais, como se deu com 
o Tribunal Penal Internacional. Outra crítica 
era no sentido de que a criação desses tribunais 
após a prática dos fatos delituosos (ex post 
facto), com o objetivo único e exclusivo de 
julgá-los, configuraria flagrante violação ao 
princípio do juiz natural. Surgiu daí a necessi­
dade de criação de uma instância penal inter­
nacional, de caráter permanente e imparcial, 
instituída para processar e julgar os acusados 
pela prática dos crimes mais graves que afetas­
sem a comunidade internacional no seu con­
junto. Assim é que, em julho de 1998, foi 
aprovado na Conferência Diplomática de Ple- 
nipotenciários das Nações Unidas o Estatuto 
de Roma do Tribunal Penal Internacional, 
constituindo um tribunal internacional com 
jurisdição criminal permanente sobre as pes­
soas responsáveis pelos crimes de maior gra­
vidade com alcance internacional, dotado de 
personalidade jurídica própria, com sede na 
Haia (Holanda). No âmbito internacional, o 
Tribunal Penal Internacional entrou em vigor 
em data de 1° de julho de 2002, data esta que 
corresponde ao primeiro dia do mês seguinte 
ao termo do período de 60 dias após a data do 
depósito do sexagésimo instrumento de rati­
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES j Art. I o
ficação, nos termos do art. 126, §1°, do Esta­
tuto do Tribunal. O governo brasileiro assinou 
o tratado internacional do Estatuto de Roma 
do Tribunal Penal Internacional em 7 de feve­
reiro de 2000, sendo o mesmo posteriormente 
aprovado pelo Congresso Nacional, por meio 
do Decreto Legislativo n. 112, de 6 de junho 
de 2002, e promulgado pelo Presidente da 
República através do Decreto n. 4.388, de 25 
de setembro de 2002. A carta de ratificação 
brasileira foi depositada em data de 20 de ju ­
nho de 2002, razão pela qual, em virtude da 
regra constante do art. 126, n. 2, do Dec. 
4.388/2002, tem-se que o Estatuto de Roma 
entrou em vigor no Brasil em data de I o de 
setembro de 2002. Em 8 de dezembro de 2004, 
entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 
45, reconhecendo formalmente a jurisdição do 
Tribunal Penal Internacional, por intermédio 
do acréscimo do §4° ao art. 5o da Magna Car­
ta, segundo o qual O Brasil se submete à juris­
dição de Tribunal Penal Internacional a cuja 
criação tenha manifestado adesão. Como ob­
serva Mazzuoli (op. cit. p. 45), a jurisdição do 
Tribunal não é estrangeira, mas sim interna­
cional, podendo afetar todo e qualquer Estado- 
-parte da Organização das Nações Unidas. Não 
se confunde com a chamada jurisdição uni­
versal, que consiste na possibilidade de o Poder 
Judiciário de determinado país julgar crimes 
de guerra ou crimes contra a humanidade 
cometidos em territórios alheios, tal qual ocor­
re nos casos de extraterritorialidade da lei 
penal brasileira admitidos expressamente pelo 
art. 7o, incisos I e II, do Código Penal. Como 
se percebe pela leitura do art. I o do Decreto n. 
4.388/02, o Tribunal Penal Internacional será 
complementar às jurisdições penais nacionais, 
sendo chamado a intervir somente se e quando 
a justiça repressiva interna não funcionar. Ado- 
tou-se, pois, o denominado princípio da com- 
plementariedade. Daí a observação de Flávia 
Piovesan (Direitos Humanos e o Direito Cons­
titucional Internacional. 9a ed.. São Paulo: Sa­
raiva, 2008. p. 223-224), que, após acentuar a 
responsabilidade primária dos Estados nacio­
nais quanto ao julgamento de transgressões 
aos direitos humanos, assinala as condições 
em que se legitima o exercício, sempre em
caráter subsidiário, da jurisdição pelo Tribunal 
Penal Internacional: “Surge o Tribunal Penal 
Internacional como aparato complementar às 
cortes nacionais, com o objetivo de assegurar 
o fim da impunidade para os mais graves cri­
mes internacionais, considerando que, por 
vezes, na ocorrência de tais crimes, as institui­
ções nacionais se mostram falhas ou omissas 
na realização da justiça. Afirm a-se, desse 
modo, a responsabilidade primária do Estado 
com relação ao julgamento de violações de 
direitos humanos, tendo a comunidade inter­
nacional a responsabilidade subsidiária. Vale 
dizer, a jurisdição do Tribunal Internacional é 
adicional e complementar à do Estado, ficando, 
pois, condicionada à incapacidade ou à omis­
são do sistema judicial interno. O Estado tem, 
assim, o dever de exercer sua jurisdição penal 
contra os responsáveis por crimes internacio­
nais, tendo a comunidade internacional a res­
ponsabilidade subsidiária. Como enuncia o 
art. Io do Estatuto de Roma, a jurisdição do 
Tribunal é adicional e complementar à do 
Estado, ficando condicionada à incapacidade 
ou à omissão do sistema judicial interno. Des­
sa forma, o Estatuto busca equacionar a garan­
tia do direito à justiça, o fim da impunidade e 
a soberania do Estado, à luz do princípio da 
complementaridade e do princípio da coope­
ração.” Esse caráter complementar do Tribu­
nal Penal Internacional pode ser extraído do 
art. 17 do Estatuto. Segundo o referido dispo­
sitivo (art. 17, §1°), o Tribunal decidirá sobre 
a não admissibilidade de um caso se: a) o caso 
for objeto de inquérito ou de procedimento 
criminal por parte de um Estado que tenha 
jurisdição sobre o mesmo, salvo se este não 
tiver vontade de levar a cabo o inquérito ou o 
procedimento ou, não tenha capacidade para 
o fazer; b) o caso tiver sido objeto de inquéri­
to por um Estado com jurisdição sobre ele e 
tal Estado tenha decidido não dar seguimento 
ao procedimento criminal contra a pessoa em 
causa, a menos que esta decisão resulte do fato 
de esse Estado não ter vontade de proceder 
criminalmente ou da sua incapacidade real 
para o fazer; c) a pessoa em causa já tiver sido 
julgada pela conduta a que se refere a denúncia, 
e não puder ser julgada pelo Tribunal em vir-
c»
Art. I o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
tude do disposto no parágrafo 3o do artigo 20; 
d) o caso não for suficientemente grave para 
justificar a ulterior intervenção do Tribunal. 
Por outro lado, segundo o art. 17, §2°, do Es­
tatuto, a fim de determinar se há ou não von­
tade de agir num determinado caso, o Tribunal, 
tendo em consideração as garantias de um 
processo equitativo reconhecidas pelo direito 
internacional, verificará a existência de uma 
ou mais das seguintes circunstâncias: a) o 
processo ter sido instaurado ou estar penden­
te ou a decisão ter sido proferida no Estado 
com o propósito de subtrair a pessoa em cau­
sa à sua responsabilidade criminal por crimes 
da competência do Tribunal, nos termos do 
disposto no artigo 5o; b) ter havido demora 
injustificada no processamento, a qual, dadas 
as circunstâncias, se mostra incompatível com 
a intenção de fazer responder a pessoa em 
causa perante a justiça; c) o processo não ter 
sido ou não estar sendo conduzido de manei­
ra independente ou imparcial, e ter estado ou 
estar sendo conduzido de uma maneira que, 
dadas as circunstâncias, seja incompatívelcom 
a intenção de levar a pessoa em causa perante 
a justiça. Por fim, de acordo com o art. 17, §3°, 
do Estatuto, a fim de determinar se há incapa­
cidade de agir num determinado caso, o Tri­
bunal verificará se o Estado, por colapso total 
ou substancial da respectiva administração da 
justiça ou por indisponibilidade desta, não 
estará em condições de fazer comparecer o 
acusado, de reunir os meios de prova e depoi­
mentos necessários ou não estará, por outros 
motivos, em condições de concluir o processo. 
Quanto à competência do TPI, dispõe o art. 5o 
do Estatuto que está restrita aos crimes mais 
graves, que afetam a comunidade internacional 
no seu conjunto. Detém o Tribunal competên­
cia para o processo e julgamento dos seguintes 
crimes: a) crime de genocídio; b) crimes con­
tra a humanidade; c) crimes de guerra; d) 
crime de agressão. Registre-se que o Tribunal 
somente é dotado de competência em relação 
aos crimes cometidos após a sua instituição, 
ou seja, depois de Io de julho de 2002, data em 
que seu Estatuto entrou em vigor internacio­
nal. Ademais, nos termos de seu art. 11, §2°, 
se um estado se tornar parte depois da entrada
em vigor do Estatuto, o Tribunal só poderá 
exercer a sua competência em relação a crimes 
cometidos depois da entrada em vigor do Es­
tatuto relativamente a esse Estado, a menos 
que este tenha feito uma declaração específica 
em sentido contrário. Desde a vigência do 
Estatuto de Roma para o Brasil em Io de se­
tembro de 2002, faz-se necessária a regulamen­
tação dos tipos penais criados pelo Estatuto de 
Roma e ainda não previstos em nosso ordena­
mento jurídico interno. De fato, com exceção 
do crime de genocídio, já tipificado em lei 
própria (Lei n. 2.889/56), os crimes de guerra, 
contra a humanidade e de agressão ainda não 
estão previstos em nossa legislação e deman­
dam regulamentação legal. Tendo-se presente 
a perspectiva da autoria dos crimes submetidos 
à competência jurisdicional do Tribunal Penal 
Internacional, convém destacar que o Estatuto 
de Roma submete à jurisdição dessa Alta Cor­
te judiciária qualquer pessoa que haja incidido 
na prática de crimes de genocídio, de guerra, 
contra a humanidade ou de agressão, indepen­
dentemente de sua qualidade oficial (Art. 27). 
Ao assim dispor, o Estatuto de Roma proclama 
a absoluta irrelevância da qualidade oficial do 
autor dos crimes submetidos, por referida 
convenção multilateral, à esfera de jurisdição 
e competência do Tribunal Penal Internacio­
nal. Isso significa, portanto, em face do que 
estabelece o Estatuto de Roma em seu Artigo 
27, que a condição política de Chefe de Estado 
não se qualifica como causa excludente da 
responsabilidade penal do agente nem fator 
que legitime a redução da pena cominada aos 
crimes de genocídio, contra a humanidade, de 
guerra e de agressão. Nesse ponto, enquanto 
parte da doutrina sustenta a tese do caráter 
absoluto da soberania estatal, parte considerá­
vel da doutrina prefere conferir dimensão re­
lativa à noção de soberania do Estado, justifi­
cando a cláusula convencional do Estatuto (art. 
27) a partir da idéia de prevalência dos direitos 
humanos, positivada no art. 4o, II, da Magna 
Carta. Quanto à discussão, Carlos Eduardo 
Adriano Japiassú (O Direito Penal Internacio­
nal. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009, p. 
115-116) pondera que “os crimes de compe­
tência do Tribunal Penal Internacional, de
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES / f̂ rt . 1 o
maneira geral, são cometidos por indivíduos 
que exercem determinada função estatal. Des­
ta forma, a regra do Artigo 27 do Estatuto de 
Roma busca evitar que aqueles se utilizem dos 
privilégios e das imunidades que lhes são 
conferidos pelos ordenamentos internos como 
escudo para impedir a responsabilização em 
face dos crimes internacionais. Por fim, enten- 
de-se que o princípio da prevalência dos direi­
tos humanos, insculpido no Artigo 4o, II, da 
Constituição Federal, permite implicitamente 
que haja restrições às imunidades usualmente 
concedidas a funcionários no exercício de sua 
atividade funcional em casos de violações a 
direitos humanos, não colidindo, por conse­
guinte, com o artigo 27 do Estatuto de Roma?’ 
Do ponto de vista pessoal, a jurisdição do 
Tribunal Penal Internacional não alcança pes­
soas menores de 18 (dezoito) anos (vide art. 
26 do Estatuto). Por fim, ressalte-se que o 
pedido de entrega (‘surrender’) não se confun­
de com a demanda extradicional. Com efeito, 
o próprio Estatuto de Roma estabelece, em seu 
texto, clara distinção entre os referidos insti­
tutos - o da entrega (“surrender”/”remise”) e 
o da extradição -, fazendo-o, de modo preciso, 
nos seguintes termos: “Artigo 102 Termos 
Usados Para os fins do presente Estatuto: a) 
Por ‘entrega’, entende-se a entrega de uma 
pessoa por um Estado ao Tribunal, nos termos 
do presente Estatuto, b) Por extradição’, enten­
de-se a entrega de uma pessoa por um Estado 
a outro Estado, conforme previsto em um 
tratado, em uma convenção ou no direito in­
terno.” Vê-se, daí, que, embora a entrega de 
determinada pessoa constitua resultado co­
mum a ambos os institutos, considerado o 
contexto da cooperação internacional na re­
pressão aos delitos, há, dentre outros, um 
elemento de relevo que os diferencia no plano 
conceituai, eis que a extradição somente pode 
ter por autor um Estado soberano, e não orga­
nismos internacionais, ainda que revestidos de 
personalidade jurídica de direito internacional 
público, como o Tribunal Penal Internacional 
(Estatuto de Roma, Artigo 4o, n. 1).
5. Crimes eleitorais: apesar de os incisos do 
art. Io do Código de Processo Penal não faze­
rem expressa referência aos processos crimi­
nais da competência da Justiça Eleitoral, isso se 
justifica pelo fato de, à época da elaboração do 
CPP, estar em vigor a Constituição de 1937, que 
não tratava da Justiça Eleitoral, e muito menos 
dos crimes eleitorais, já que, vigia, então, um 
regime de exceção. Todavia, a Constituição 
Federal de 1988 dispõe em seu art. 121 que Lei 
complementar disporá sobre a organização e 
competência dos tribunais, dos juizes de di­
reito e das juntas eleitorais. Destarte, embora 
editado como lei ordinária, o Código Eleitoral 
(Lei n. 4.737/65) foi recepcionado pela Cons­
tituição Federal como Lei complementar, mas 
tão somente no que tange à organização judi­
ciária e competência eleitoral, tal qual prevê a 
Carta Magna (CF, art. 121, caput). Portanto, 
no tocante à definição dos crimes eleitorais, as 
normas postas no Código Eleitoral mantêm o 
status de lei ordinária. A competência criminal 
da Justiça Eleitoral é fixada em razão da maté­
ria, cabendo a ela o processo e julgamento dos 
crimes eleitorais. Mas o que se deve entender 
por crimes eleitorais? Somente podem ser 
considerados crimes eleitorais os previstos no 
Código Eleitoral (v.g., crimes contra a honra, 
praticados durante a propaganda eleitoral) e 
os que a lei, eventual e expressamente, defi­
na como eleitorais. Todos eles referem-se a 
atentados ao processo eleitoral, que vai desde 
o alistamento do eleitor (ex: falsificação de 
título de eleitor para fins eleitorais - art. 348 do 
Código Eleitoral) até a diplomação dos eleitos. 
Crime que não esteja no Código Eleitoral ou 
que não tenha a expressa definição legal como 
eleitoral, salvo o caso de conexão, jamais será 
de competência da Justiça Eleitoral. A motiva­
ção política ou mesmo eleitoral não é suficiente 
para definir a competência da Justiça Especial 
de que estamos tratando. Da mesma forma, a 
existência de campanha eleitoral é irrelevante, 
pois, de per si, não é suficiente para caracte­
rizar os crimes eleitorais à falta de tipificação 
legal no Código Eleitoral ou em leis eleitorais 
extravagantes. Assim, por exemplo, a prática 
de um homicídio, ainda que no período que 
antecede as eleições, e mesmo que por moti­
vos político-eleitorais, será julgado pelo Júri 
comum, porquanto tal delito não é elencado 
como crime eleitoral.
Art. 1 ° V CPP COMENTADO • Renato Brasileirode Lima
6. Outras exceções: o art. I o do CPP faz
menção expressa apenas às ressalvas listadas 
em seus incisos. Todavia, face a existência de 
diversas leis especiais, editadas após a vigência 
do CPP ( I o de janeiro de 1942), com previsão 
expressa de procedimento distinto, conclui-se 
que, por força do princípio da especialidade, 
a tais infrações será aplicável a respectiva le­
gislação, aplicando-se o Código de Processo 
Penal apenas subsidiariamente (CPP, art. I o, 
parágrafo único). Vários exemplos podem ser 
lembrados: 1) O processo e julgamento dos 
crimes de abuso de autoridade é regulado pela 
Lei n. 4.898/65; 2) Os crimes da competência 
originária dos Tribunais possuem procedi­
mento específico previsto na Lei n. 8.038/90;
3) As infrações de menor potencial ofensivo, 
assim compreendidas as contravenções penais 
e crimes cuja pena máxima não seja superior a 
02 (dois) anos, cumulada ou não com multa, 
submetidos ou não a procedimento especial, 
ressalvadas as hipóteses de violência doméstica 
e familiar contra a mulher, devem ser pro­
cessadas e julgadas pelos Juizados Especiais 
Criminais, pelo menos em regra, com proce­
dimento regulamentado pela Lei n. 9.099/95;
4) Os crimes falimentares também possuem 
procedimento especial disciplinado na Lei n. 
11.101/05 (arts. 183 a 188); 5) O Estatuto do 
Idoso (Lei n. 10.741/03, art. 94) também possui 
dispositivos expressos acerca do procedimento 
a ser aplicado aos crimes ali previstos; 6) A 
Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06) tam­
bém estabelece dispositivos processuais penais 
específicos quanto às hipóteses de violência 
doméstica e familiar contra a mulher; 7) A Lei 
de drogas (Lei n. 11.343/06) traz em seu bojo 
um capítulo inteiro dedicado ao procedimento 
penal, prevendo expressamente a possibilidade 
de aplicação, subsidiária, do Código de Proces­
so Penal e da Lei de Execução Penal (art. 48, 
caput).
7. Tratados, convenções e regras de direito 
internacional: Chefes de Governo estrangei­
ro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e 
membros das comitivas, embaixadores e suas 
famílias, funcionários estrangeiros do corpo 
diplomático e suas família, assim como fun­
cionários de organizações internacionais em
serviço (ONU, OEA, etc.) gozam de imunidade 
diplomática, que consiste na prerrogativa de 
responder no seu país de origem pelo deli­
to praticado no Brasil (Convenção de Viena 
sobre Relações Diplomáticas, aprovada pelo 
Decreto Legislativo 103/1964, e promulgada 
pelo Decreto n° 56.435, de 08/06/1965). Como 
se percebe, por conta de tratados ou conven­
ções que o Brasil haja firmado, ou mesmo em 
virtude de regras de Direito Internacional, a 
lei processual penal deixa de ser aplicada aos 
crimes praticados por tais agentes no território 
nacional, criando-se, assim, verdadeiro obstá­
culo processual à aplicação da lei processual 
penal brasileira. Destarte, tais pessoas não po­
dem ser presas e nem julgadas pela autoridade 
do país onde exercem suas funções, seja qual 
for o crime praticado (CPP, art. I o, inciso I). 
Em caso de falecimento de um diplomata, os 
membros de sua família “continuarão no gozo 
dos privilégios e imunidades a que têm direito, 
até a expiração de um prazo razoável que lhes 
permita deixar o território do Estado acredita­
do” (art. 39, §3°, da Convenção de Viena sobre 
relações diplomáticas). Admite-se renúncia 
expressa à garantia da imunidade pelo Estado 
acreditante, ou seja, aquele que envia o Chefe 
de Estado ou representante. Tal imunidade não 
é extensiva aos empregados particulares dos 
agentes diplomáticos. Quanto ao cônsul, este 
só goza de imunidade em relação aos crimes 
funcionais (Convenção de Viena de 1963 so­
bre Relações Consulares - Decreto n. 61.078, 
de 26/07/1967). Esse o motivo pelo qual, ao 
apreciar habeas corpus referente a crime de 
pedofilia supostamente praticado pelo Cônsul 
de Israel no Rio de Janeiro, posicionou-se a 
Suprema Corte pela inexistência de obstáculo 
à prisão preventiva, nos termos do art. 41 da 
Convenção de Viena, pois os fatos imputados 
ao paciente não guardavam pertinência com 
o desempenho das funções consulares.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Prisão preventiva. Fundamentos. Acusado 
que exercia as funções de Cônsul de Israel no Rio de 
Janeiro. Crime previsto no art. 241 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90). Pena de 
reclusão, cujo início deve se dar em estabelecimento 
de segurança máxima ou média (regime fechado).
Art. I oTlTULO I* DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
/
/
Circunstância que, som ada ao disposto no art. 61, 
II, 'h', do Cód igo Penal, enfatiza o caráter grave do 
crime, o que é realçado pela existência de diversos 
diplomas protetivos da infância subscritos pelo Brasil: 
Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959), 
Convenção dos Direitos da Criança (1989), 45a Sessão 
da Assembléia Geral das Nações Unidas, Declaração 
pelo Direito da Criança à sobrevivência, à proteção e 
ao desenvolvimento, Convenção de Nova York sobre 
os direitos da criança e Convenção Interamericana 
sobre tráfico internacional de menores. Inexistência 
de obstáculo à prisão preventiva, nos termos do que 
dispõe o art. 41 da Convenção de Viena sobre Relações 
Consulares. Atos im putados ao paciente que não 
guardam pertinência com o desempenho de funções 
consulares. Necessidade da prisão preventiva para 
garantiar a aplicação da lei penal. Ordem indeferida". 
(STF, I a Turma, HC 81.158/RJ, Relatora Ministra Ellen 
Gracie,DJ 19/12/2002).
STJ:"(...) A competência internacional é regulada ou 
pelo direito internacional ou pelas regras internas de 
determinado país acerca da matéria, tendo porfontes 
os costumes, os tratados normativos e outras regras de 
direito internacional. Em matéria penal adota-se, em 
regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se 
na justiça pátria o processo e os respectivos inciden­
tes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais 
tratados ou outras normas internacionais a que o país 
tenha aderido, nos termos dos artigos 1 ° do Código de 
Processo Penal e 5°, caput, do Código Penal. Doutrina. 
No caso dos autos, inexiste qualquer ilegalidade na 
quebra do sigilo bancário dos acusados, uma vez que 
a medida foi realizada para a obtenção de provas em 
investigação em curso nos Estados Unidos da América, 
tendo sido implementada de acordo com as normas 
do ordenamento jurídico lá vigente, sendo certo que 
a documentação referente ao resultado da medida 
invasiva foi posteriormente com partilhada com o 
Brasil por meio de acordo existente entre os países. (...)". 
(STJ, 5aTurma, HC 231.633/PR, Rei. Min. Jorge Mussi, j. 
25/11/2014, DJe 3/12/2014).
8. Prerrogativas constitucionais do Presi­
dente da República e de outras autorida­
des: refere-se o inciso II do art. 1° do CPP às 
prerrogativas constitucionais do Presidente da 
República e de outras autoridades, em relação 
aos crimes de responsabilidade. A denominada 
Justiça Política (ou Jurisdição Extraordinária) 
corresponde à atividade jurisdicional exercida 
por órgãos políticos, alheios ao Poder Judici­
ário, apresentando como objetivo precípuo 
o afastamento do agente público que comete 
crimes de responsabilidade de suas funções. 
A título de exemplo, de acordo com o art. 52, 
incisos I e II, da Constituição Federal, compete
privativamente ao Senado Federal processar e 
julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re­
pública nos crimes de responsabilidade, assim 
como os Ministros de Estado e os Comandan­
tes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica 
nos crimes da mesma natureza conexos com 
aqueles, bem como os Ministros do Supremo 
Tribunal Federal, os membros do Conselho 
Nacional de Justiça e do Conselho Nacional 
do Ministério Público, o Procurador-Geral 
da República e o Advogado-Geral da União 
nos crimes de responsabilidade, observando- 
-se, em relação ao Presidente da República e 
aos Ministros de Estado, a competência da 
Câmara dos Deputados para a admissibili­
dade e a formalização da acusação (CF,art. 
51, I; CF, art. 86; Lei n. 1.079/50, art. 20 e 
seguintes). Por sua vez, compete a um Tribu­
nal Especial, composto por cinco Deputados, 
escolhidos pela Assembléia, e cinco Desembar­
gadores, sorteados pelo Presidente do Tribunal 
de Justiça, que também o presidirá (Lei n. 
1.079/50, art. 78, §3°), processar e julgar, nos 
crimes de responsabilidade, o Governador, o 
Vice-Governador, e os Secretários de Estado, 
nos crimes da mesma natureza conexos com 
aqueles, assim como o Procurador-Geral de 
Justiça e o Procurador-Geral do Estado. No 
caso de crimes de responsabilidade praticados 
por Prefeitos Municipais (infrações político- 
-administrativas), que são os tipificados no 
art. 4o do Decreto-lei n. 201/67, a competência 
para julgamento é da Câmara Municipal. O 
processo pressupõe que o Prefeito Municipal 
esteja no exercício do mandato, na medida em 
que a única sanção prevista é a cassação do 
mandato. Conquanto a Constituição Federal 
e a legislação ordinária acima referida (Lei n. 
1.079/50 e Decreto-lei n. 201/67) se refiram 
à prática de crimes de responsabilidade, atri­
buindo ao Senado Federal, ao Tribunal Espe­
cial e à Câmara Municipal o exercício dessa 
atividade jurisdicional atípica, tecnicamente 
não há falar em crime, mas sim no julgamento 
de uma infração político-administrativa. Ali­
ás, segundo Pacelli (op. cit. p. 188), “mesmo 
quando a Constituição atribui a órgãos do 
Judiciário a competência para o julgamento 
de crimes de responsabilidade (art. 1 0 5 ,1, a,
O
Art. I o
' \
CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
por exemplo), não se estará exercendo outro 
tipo de jurisdição que não seja a de natureza 
política, diante da natureza igualmente política 
das infrações”. Nesse cenário, é indispensável 
diferenciarmos crimes de responsabilidade em 
sentido amplo de crimes de responsabilidade 
em sentido estrito. Crimes de responsabilidade 
em sentido amplo são aqueles cuja qualidade 
de funcionário público (CP, art. 327) funciona 
como elementar do delito. É o que ocorre com 
os crimes praticados por funcionários públicos 
contra a administração pública (CP, arts. 312 
a 326). Esses crimes de responsabilidade em 
sentido amplo estão inseridos naquilo que 
a Constituição Federal denomina de crimes 
comuns ou infrações penais comuns. Por seu 
turno, crimes de responsabilidade em sentido 
estrito são aqueles que somente podem ser 
praticados por determinados agentes políticos. 
Prevalece o entendimento de que não têm 
natureza jurídica de infração penal, mas sim 
de infração político-administrativa, passível de 
sanções político-administrativas, aplicadas por 
órgãos jurisdicionais políticos (normalmente 
órgãos mistos, compostos por parlamentares 
ou por parlamentares e magistrados). A título 
de exemplo, de acordo com o art. 2o da Lei n. 
1.079/50, os crimes definidos nesta Lei, ainda 
quando simplesmente tentados, são passíveis 
da pena de perda do cargo, com inabilitação, 
até 5 (cinco) anos, para o exercício de qual­
quer função pública, imposta pelo Senado 
Federal nos processos contra o Presidente 
da República ou ministros de Estado, contra 
os ministros do Supremo Tribunal Federal 
ou contra o Procurador-Geral da República. 
Além disso, “a imposição da pena referida no 
artigo anterior (art. 2o) não exclui o processo 
e julgamento do acusado por crime comum, 
na justiça ordinária, nos termos das leis de 
processo penal” (Lei n. 1.079/50, art. 3°).Como 
desses crimes de responsabilidade não decorre 
sanção criminal, não podem ser qualificados 
como infrações penais, figurando, pois, como 
infrações políticas da alçada do Direito Cons­
titucional.
9. Processos da competência da Justiça 
Militar (da União ou dos Estados): outra 
ressalva feita pelo art. Io do CPP diz respeito
aos processos da competência da Justiça Mili­
tar. De acordo com o art. 124 da Constituição 
Federal, à Justiça Militar da União compete 
processar e julgar os crimes militares definidos 
em lei. Lado outro, segundo o art. 125, §4°, 
da Carta Magna, compete à Justiça Militar 
estadual processar e julgar os militares dos 
Estados, nos crimes militares definidos em 
lei e as ações judiciais contra atos discipli­
nares militares, ressalvada a competência do 
júri quando a vítima for civil, cabendo ao 
tribunal competente decidir sobre a perda do 
posto e da patente dos oficiais e da graduação 
das praças. A inaplicabilidade do Código de 
Processo Penal no âmbito da Justiça Militar 
justifica-se pelo fato de ser aplicável, na Justiça 
Castrense, o Código Penal Militar (Decreto- 
-Lei n. 1.001/69) e o Código de Processo Penal 
Militar (Decreto-Lei n. 1.002/69). Entretanto, 
é importante destacar que o próprio estatuto 
processual penal militar prevê a possibilidade 
de os casos omissos serem supridos pela le­
gislação de processo penal comum, quando 
aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da 
índole do processo penal militar (CPPM, art. 
3o, alínea “a”). Para mais detalhes acerca da 
competência da Justiça Militar, remetemos 
o leitor ao nosso Manual de Processo Penal e 
ao nosso Manual de Competência Criminal, 
ambos editados pela Juspodivm.
10. Processos da competência do tribunal 
especial: o art. I o, inciso IV, do CPP, faz men­
ção aos processos da competência do tribunal 
especial (Constituição, art. 122, n. 17). Os 
artigos citados referem-se à Constituição de 
1937, sendo que esse tribunal especial a que 
faz menção o inciso IV é o antigo Tribunal de 
Segurança Nacional, que já não existe mais, 
visto que foi extinto pela Constituição de 1946. 
O art. 122, n. 17 da Carta de 1937 previa que 
“os crimes que atentarem contra a existência, 
a segurança e a integridade do Estado, a guar­
da e o emprego da economia popular serão 
submetidos a processo e julgamento perante 
tribunal especial, na forma que a lei instituir”. 
Hoje, os crimes contra a segurança nacional 
estão definidos na Lei n. 7.170/83. Apesar 
de o art. 30 da Lei n. 7.170/83 dispor que os 
crimes nela previstos são da competência da
TlTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES y \r t # 2 o
Justiça Militar, referido dispositivo não foi 
recepcionado pela Constituição Federal de 
1988, porquanto, segundo o art. 109, inciso IV, 
compete à Justiça Federal processar e julgar os 
crimes políticos, com recurso ordinário para 
o Supremo (CF, art. 102, II, “b”).
11. Crimes de imprensa: outra ressalva 
constante do art. I o do CPP diz respeito aos 
processos penais por crimes de imprensa. 
Referidos delitos estavam previstos na Lei 
n.5.250/67. Dizemos que estavam previstos 
na Lei n. 5.250/67 porque, no julgamento da 
arguição de descumprimento de preceito fun­
damental n. 130 (Pleno, Rei. Min. Carlos Britto, 
30/04/2009), o Supremo Tribunal Federal jul­
gou procedente o pedido ali formulado para 
o efeito de declarar como não recepcionado 
pela Constituição Federal todo o conjunto de 
dispositivos da Lei 5.250/67. Como decidiu 
a própria Suprema Corte, a não recepção da 
Lei de Imprensa não impede o curso regular
dos processos fundamentados nos disposi­
tivos legais da referida lei, nem tampouco a 
instauração de novos processos, aplicando-se 
lhes, contudo, as normas da legislação comum, 
notadamente, o Código Civil, o Código Penal, 
o Código de Processo Civil e o Código de 
Processo Penal.
12. Aplicação subsidiária do Código de 
Processo Penal: quando houver previsão 
legal de procedimento diverso pela legisla­
ção especial, tal rito procedimental deve ser 
aplicado em detrimento daquele estabelecido 
no Código de Processo Penal (princípio da 
especialidade). É o que ocorre, a título de 
exemplo, com os crimes de tráfico de drogas, 
que contam com um procedimento especial 
regulamentado pela Lei n. 11.343/06. Isso, no 
entanto, não impede a aplicação subsidiária 
do Código de Processo Penal, sempre que 
não houver dispositivo especial em sentido 
diverso.
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da 
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.1'2 3 4
1. Lei processual penal notempo: a legis­
lação processual penal tem sofrido inúmeras 
alterações nos últimos anos. Diante da su­
cessão de leis no tempo, apresenta-se de vital 
importância o estudo do direito intertemporal.
2. Direito intertemporal e normas de Direi­
to Penal: no âmbito do Direito Penal, o tema 
não apresenta maiores controvérsias. Afinal, 
por força da Constituição Federal (art. 5o, XL), 
a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar 
o réu. Logo, cuidando-se de norma penal mais 
gravosa, vige o princípio da irretroatividade. 
Para mais detalhes acerca do assunto, consultar 
comentários à súmula n. 711 do STF (“A lei 
penal mais grave aplica-se ao crime continua­
do ou ao crime permanente, se a sua vigência 
é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência”).
3. Direito intertemporal e normas de Di­
reito Processual Penal: de acordo com o 
art. 2o do CPP, que consagra o denominado
princípio tempus regit actum, “a lei processual 
penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da 
validade dos atos realizados sob a vigência da 
lei anterior”. Incide no processo penal o prin­
cípio da aplicabilidade imediata, no sentido 
de que a norma processual aplica-se tão logo 
entre em vigor, sem prejuízo da validade dos 
atos já praticados anteriormente. O funda­
mento da aplicação imediata da lei processual 
é que se presume seja ela mais perfeita do que 
a anterior, por atentar mais aos interesses da 
Justiça, salvaguardar melhor o direito das par­
tes, garantir defesa mais ampla ao acusado, etc. 
Portanto, ao contrário da lei penal, que leva em 
conta o momento da prática delituosa (tempus 
delictí), a aplicação imediata da lei processual 
leva em consideração o momento da prática do 
ato processual (tempus regit actum). Do prin­
cípio tempus regit actum derivam dois efeitos: 
a) os atos processuais praticados sob a vigência 
da lei anterior são considerados válidos; b) as 
normas processuais têm aplicação imediata,
Art. 2o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
regulando o desenrolar restante do processo. 
Apesar de o art. 2o do CPP não estabelecer 
qualquer distinção entre as normas processu­
ais, doutrina e jurisprudência têm trabalhado 
crescentemente com uma subdivisão dessas 
regras: a) normas genuinamente processuais: 
são aquelas que cuidam de procedimentos, 
atos processuais, técnicas do processo. A elas 
se aplica o art. 2o do CPP; b) normas pro­
cessuais m ateriais ou m istas: são aquelas 
que abrigam naturezas diversas, de caráter 
penal e de caráter processual penal. Normas 
penais são aquelas que cuidam do crime, da 
pena, da medida de segurança, dos efeitos da 
condenação e do direito de punir do Estado 
(v.g., causas extintivas da punibilidade). De 
sua vez, normas processuais penais são aque­
las que versam sobre o processo desde o seu 
início até o final da execução ou extinção da 
punibilidade. Assim, se um dispositivo legal, 
embora inserido em lei processual, versa sobre 
regra penal, de direito material, a ele serão 
aplicáveis os princípios que regem a lei penal, 
de ultratividade e retroatividade da lei mais 
benigna. Não há consenso na doutrina acerca 
do conceito de normas processuais materiais 
ou mistas. Uma primeira corrente sustenta 
que normas processuais materiais ou mistas 
são aquelas que, apesar de disciplinadas em 
diplomas processuais penais, dispõem sobre 
o conteúdo da pretensão punitiva, tais como 
aquelas relativas ao direito de queixa, ao de 
representação, à prescrição e à decadência, 
ao perdão, à perempção, etc. Uma segunda 
corrente, de caráter ampliativo, sustenta que 
normas processuais materiais são aquelas que 
estabelecem condições de procedibilidade, 
meios de prova, liberdade condicional, prisão 
preventiva, fiança, modalidade de execução da 
pena e todas as demais normas que produzam 
reflexos no direito de liberdade do agente 
- , ou seja, todas as normas que tenham por 
conteúdo matéria que seja direito ou garan­
tia constitucional do cidadão. Independen- 
temente da corrente que se queira adotar, é 
certo que às normas processuais materiais se 
aplica o mesmo critério do direito penal, isto 
é, tratando-se de norma benéfica ao agente, 
mesmo depois de sua revogação, referida lei
continuará a regular os fatos ocorridos durante 
a sua vigência (ultratividade da lei processual 
penal mista mais benéfica); na hipótese de 
novatio legis in mellius, referida norma será 
dotada de caráter retroativo, a ela se confe­
rindo o poder de retroagir no tempo, a fim de 
regular os fatos ocorridos anteriormente a sua 
vigência. São inúmeros os exemplos de normas 
processuais materiais que têm se sucedido no 
tempo. Vejamos alguns deles.
3.1. Lei n. 9.099/95 e seu caráter (ir) retro­
ativo: consoante disposto no art. 90 da Lei n. 
9.099/95, as disposições da Lei dos Juizados 
Especiais Criminais não seriam aplicáveis aos 
processos penais cuja instrução já estivesse 
iniciada. Discutiu-se, à época, se seria possível 
que o art. 90 da Lei n. 9.099/95 restringisse 
a aplicação da referida lei aos processos pe­
nais cuja instrução já estivesse em curso. Sem 
dúvida alguma, trata-se a Lei n. 9.099/95 de 
norma processual híbrida ou mista, porquanto 
reúne dispositivos de natureza genuinamente 
processual e de natureza material. De fato, 
no tocante ao procedimento sumaríssimo ali 
previsto, fica evidente que se aplica o art. 2o 
do CPP, já que se trata de norma genuina­
mente processual. Não obstante, não se pode 
perder de vista que a Lei n. 9.099/95 também 
introduziu no ordenamento jurídico institutos 
despenalizadores que produzem nítidos refle­
xos no exercício do jus puniendi, tais como a 
composição civil dos danos, a transação penal, 
a exigência de representação para os crimes de 
lesão corporal leve e lesão corporal culposa e 
a suspensão condicional do processo. A título 
de exemplo, basta pensar que o cumprimento 
das condições fixadas na proposta de sus­
pensão condicional do processo acarreta a 
extinção da punibilidade (Lei n. 9.099/95, art. 
89, §5°). Na mesma linha, a composição civil 
dos danos é causa de renúncia ao direito de 
queixa ou representação (Lei n. 9.099/95, art. 
74, parágrafo único), ensejando a extinção da 
punibilidade. Diante dessa natureza mista da 
Lei n. 9.099/95, o Supremo Tribunal Federal 
acabou por concluir que as normas de direito 
penal nela inseridas que tenham conteúdo 
mais benéfico aos réus devem retroagir para 
beneficiá-los, à luz do que determina o art.
O
TITULO I- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2o
5o, XL, da Constituição federal. Assim, con­
feriu interpretação conforme ao art. 90 da Lei 
9.099/1995 para excluir de sua abrangência as 
normas de direito penal mais favoráveis ao réu 
contidas na citada lei. Seguindo essa linha de 
raciocínio, não se pode querer emprestar ca­
ráter retroativo ao art. 90-A da Lei n. 9.099/95. 
Explica-se: por força da Lei n. 9.839/99, foi 
inserido o art. 90-A à Lei n. 9.099/95, que 
passou a dispor: “As disposições da Lei dos 
Juizados Especiais Criminais não se aplicam 
no âmbito da Justiça Militar”. Ao suprimir a 
aplicação dos institutos despenalizadores da 
Lei dos Juizados no âmbito da Justiça Mili­
tar, fica evidente que a Lei n. 9.839/99 tem 
natureza processual material, ou seja, cuida- 
-se de norma que, embora disciplinada em 
diploma processual penal, produz reflexos no 
ius libertatis do agente, pois priva o agente do 
gozo de institutos despenalizadores como a 
composição civil dos danos, a transação penal, 
a representação nos crimes de lesão corporal 
leve e culposa e a suspensão condicional do 
processo. Como consequência, o critério de 
direito intertemporal a ser aplicado não é o 
da aplicação imediata da norma processual 
(tempus regit actum), constante do art. 2° do 
CPP, mas sim o critério da irretroatividade da 
lei penal mais gravosa. Assim, como a lei tem 
natureza nitidamente gravosa, pois priva o 
autor de crime militar da incidência dos ins­
titutos despenalizadores da Lei dos Juizados, 
há de se concluir que o art. 90-A só se aplica 
aos crimesmilitares cometidos a partir do dia 
28 de setembro de 1999, data da vigência da 
Lei n. 9.839/99.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) O art. 90 da lei 9.099/1995 determina que 
as disposições da lei dos Juizados Especiais não são 
aplicáveis aos processos penais nos quais a fase de ins­
trução já tenha sido iniciada. Em se tratando de normas 
de natureza processual, a exceção estabelecida por lei 
à regra geral contida no art. 2° do CPP não padece de 
vício de inconstitucionalidade. Contudo, as normas de 
direito penal que tenham conteúdo mais benéfico aos 
réus devem retroagir para beneficiá-los, à luz do que 
determina o art. 5o, XL da Constituição federal. Inter­
pretação conforme ao art. 90 da Lei 9.099/1995 para 
excluir de sua abrangência as normas de direito penal 
mais favoráveis ao réus contidas nessa lei". (STF, Pleno,
AD11.719-9, Rei. Min. Joaquim Barbosa, j. 18/06/2007, 
DJe 72 02/08/2007).
STF:"(...) O SupremoTribunal Federal firmou entendi­
mento no sentido da aplicação aos crimes de lesões 
corporais leves e lesões corporais culposas de com ­
petência da Justiça Militar (CPM, art. 209 e 210) da lei 
em tela, que exige a representação do ofendido para 
a instauração de processo-crime. Deixando o ofendido 
de ofertar a representação, operou-se a decadência a 
ensejar a extinção da punibilidade. A Lei n° 9.839, de 
27.09.99, que acrescentou o art. 90-A à Lei n° 9.099/95, 
e afastou a aplicação das suas disposições no âmbito 
da Justiça Militar, embora consubstancie disposição 
processual, seus efeitos são de direito material, na me­
dida em que afasta a aplicação de normas despenali- 
zadoras de caráter preponderantemente penal. Sendo 
manifestamente prejudicial ao paciente, uma vez que 
afasta causa extintiva da punibilidade pelo decurso de 
prazo fixado em lei, não pode incidir no caso dos autos. 
Habeas corpus deferido". (STF, 1aTurma, HC 79.390/RJ, 
Rei. Min. limar Galvão, j. 19/10/1999, DJ 19/11/1999). 
STJ:"(...) O entendimento do SuperiorTribunal é o de 
que a Lei n° 9.839/99 - que acrescentou o art. 90-A à 
Lei n° 9.099/95, cujas disposições, a partir daí, não se 
aplicam mais no âmbito da Justiça Militar - somente 
deve alcançar os processos que tenham por objeto o 
julgamento de delitos praticados após a sua entrada 
em vigor. Essa é a hipótese dos autos, uma vez que 
o fato ocorreu em 28.1.05, após o advento da Lei 
n° 9.839/99. Agravo regimental improvido". (STJ, 6a 
Turma, AgRg no HC 60.081/SP, Rei. Min. Nilson Naves, 
DJe 26/05/2008).
3.2. Lei n. 9.271/96 e nova redação do art. 
366 (suspensão do processo e da prescri­
ção): de modo a evitarmos repetições desne­
cessárias, remetemos o leitor aos comentários 
ao art. 366 do CPP.
3.3. Leis 11.689/08 e 11.719/08 e sua 
aplicabilidade imediata aos processos em 
andamento: com a reforma processual de 
2008, houve profundas alterações quanto ao 
procedimento do júri e quanto ao procedimen­
to comum, produzidas pelas Leis 11.689/08 e 
11.719/08, respectivamente. Essas leis novas, 
de caráter genuinamente processual, não fo­
ram aplicadas aos processos já concluídos, 
respeitando-se, assim, os atos processuais 
praticados sob a vigência da lei anterior. De 
seu turno, é evidente que as leis novas foram 
aplicadas aos processos que se iniciaram após 
sua entrada em vigor. A discussão guarda re­
levância quanto aos processos que já estavam
Art. 2o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
em andamento quando do início da vigência 
da Lei n. 11.689/08 (09 de agosto de 2008) e 
11.719/08 (22 de agosto de 2008): continua­
riam eles sendo regidos pela legislação preté­
rita, que vigorava no início do procedimento, 
ou passariam a ter o seu curso regido pelas 
novas leis? A fim de solucionar o problema, 
três sistemas distintos são apontados pela 
doutrina: a) Sistema da unidade processual: 
apesar de se desdobrar em uma série de atos 
distintos, o processo apresenta uma unidade. 
Portanto, somente pode ser regulamentado 
por uma única lei. Essa lei deve ser a lei antiga, 
já que, fosse possível a aplicação da lei nova, 
esta teria efeitos retroativos. Assim, por esse 
sistema, a lei antiga tem caráter ultrativo; b) 
Sistema das fases processuais: por força desse 
sistema, cada fase processual pode ser regulada 
por uma lei diferente. Supondo, assim, a exis­
tência de sucessivas leis processuais no tempo, 
as fases postulatória, ordinatória, instrutória, 
decisória e recursal poderíam ser disciplinadas 
por leis distintas; c) Sistema do isolamento 
dos atos processuais: a lei nova não atinge os 
atos processuais praticados sob a vigência da 
lei anterior, porém é aplicável aos atos proces­
suais que ainda não foram praticados, pouco 
importando a fase processual em que o feito 
se encontrar. Como se percebe pela leitura 
do art. 2o do CPP, é esse o sistema adotado 
pelo ordenamento processual penal. Afinal de 
contas, de acordo com o art. 2o do CPP, “a lei 
processual penal aplicar-se-á desde logo, sem 
prejuízo da validade dos atos realizados sob 
a vigência da lei anterior”. Considerando-se, 
então, que o sistema adotado pelo CPP é o do 
isolamento dos atos processuais, conclui-se 
que as novas leis do procedimento comum e 
do procedimento do júri não foram aplicadas 
aos atos processuais anteriormente realizados, 
regendo-se, por elas, todavia, os atos proces­
suais que ainda não haviam sido praticados 
quando de sua vigência. Logo, ainda que o 
recebimento da denúncia tivesse ocorrido 
antes do advento das Leis 11.689 e 11.719, 
não há constrangimento ilegal na adoção dos 
ritos introduzidos por estes diplomas, tendo 
em vista que, no âmbito do direito processual 
penal, a aplicação da lei no tempo é regrada
pelo princípio do efeito imediato, representado 
pelo brocardo tempus regit actum, conforme 
estabelece o art. 2° do CPP.
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ: "(...) No âm bito do direito processual penal a 
aplicação da lei penal do tem po é regrada pelo prin­
cípio do efeito imediato, representado pelo brocardo 
tempus regit actum, conforme estabelece o artigo 2o do 
Código de Processo Penal. Ainda que o recebimento 
da denúncia tenha ocorrido antes do advento da Lei n. 
11.689/2008, não há constrangimento ilegal na adoção 
do rito por esta introduzido no ordenamento jurídico, 
tendo em vista a impossibilidade da prática de todos 
os atos de acordo com a disciplina anterior. De acordo 
com o sistema da instrumentalidade das formas, ado­
tado pela jurisprudência dosTribunais Superiores, não 
se declara a nulidade do ato sem a demonstração do 
efetivo prejuízo para a parte em razão da inobservância 
da formalidade prevista em lei. Precedentes. Verificada 
a regularidade da instrução realizada de acordo com a 
Lei n. 11.689/2008, quedando-se a defesa a demonstrar 
eventual prejuízo suportado pelo paciente, imperiosa 
a m anutenção do ato im pugnado. Habeas corpus 
parcialmente conhecido, e, nesta parte, denegada a 
ordem". (STJ, 5a Turma, H C 123.492/MG, Rei. Min. Jorge 
Mussi,j. 17/09/2009, DJe 13/10/2009).
3.4. Lei n. 12.403/11 e o novo regramento 
quanto às medidas cautelares de natureza 
pessoal: vários dispositivos legais modificados 
pela Lei n. 12.403/11, que serão objeto de es­
tudo detalhado no Título relativo às Medidas 
Cautelares de natureza pessoal (arts. 282 a 350), 
repercutem diretamente no ius libertatis do 
agente, ora para beneficiar, ora para prejudicá- 
-lo. Exemplificando, suponha-se que, em data 
de 04 de julho de 2011, data da vigência da Lei 
n. 12.403/11, determinado indivíduo estivesse 
preso preventivamente por conveniência da 
instrução criminal pela prática de suposto 
crime de furto simples, cuja pena é de re­
clusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Com a entrada em vigor da Lei n. 12.403/11, 
esta prisão preventiva tornou-se ilegal, pois 
desprovida de fundamento legal, já que a nova 
redação do art. 313, inciso I, do CPP, norma 
processual material de caráter benéfico, per­
mite a decretação da prisão preventiva apenas 
em relação a crimes dolosos punidoscom pena 
máxima superior a 4 (quatro) anos, ressalvadas 
as hipóteses de reincidente em crimes dolosos,
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2o
casos de violência doméstica e familiar contra 
a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo 
ou pessoa com deficiência, ou quando houver 
dúvida sobre a identidade civil da pessoa e esta 
não fornecer elementos suficientes para escla- 
recê-la. Impõe-se, pois, o reconhecimento da 
ilegalidade de tal prisão preventiva, o que, no 
entanto, não impede a decretação de medida 
cautelar diversa da prisão, desde que presentes 
ofumus comissi delicti e o periculum libertatis, 
já que, em relação a estas, basta que à infração 
penal seja cominada pena privativa de liber­
dade (CPP, art. 283, §1°). Lado outro, quando 
nos deparamos com uma mudança gravosa, o 
caminho será o inverso. É o que ocorre com a 
nova redação do art. 310, parágrafo único, do 
CPP. Antes das mudanças, referido dispositivo 
permitia a concessão de liberdade provisória 
sem fiança quando o juiz verificasse, pelo 
auto de prisão em flagrante, a inocorrência de 
qualquer das hipóteses que autorizam a prisão 
preventiva. Com a entrada em vigor da Lei 
n. 12.403/11, e seu propósito de revitalizar a 
fiança, tal espécie de liberdade provisória sem 
fiança foi suprimida do Código de Processo 
Penal, já que a nova redação do art. 310, pará­
grafo único, permite a concessão do benefício 
apenas quando verificada a presença de causas 
excludentes da ilicitude. Ora, se foi suprimida 
hipótese de liberdade provisória sem fiança, 
não restam dúvidas que se trata de novatio 
legis in pejus, logo, a norma anterior mais be­
néfica ao agente continuará a regular os fatos 
delituosos ocorridos durante a sua vigência, 
mesmo depois de sua revogação (ultratividade 
da lei processual penal mista mais benéfica). 
Portanto, em relação aos crimes praticados 
até o dia 03 de julho de 2011, data anterior à 
entrada em vigor da Lei n. 12.403/11, ainda que 
a persecução penal tenha início após esta data, 
o agente continuará a fazer jus à antiga liber­
dade provisória sem fiança quando verificada 
a inocorrência das hipóteses que autorizam a 
prisão preventiva.
3.5. Normas processuais heterotópicas: há
determinadas regras que, não obstante previs­
tas em diplomas processuais penais, possuem 
conteúdo material, devendo, pois, retroagir 
para beneficiar o acusado. Outras, no entanto,
inseridas em leis materiais, são dotadas de 
conteúdo processual, a elas sendo aplicável o 
critério da aplicação imediata (tempus regit ac- 
tum). É aí que surge o fenômeno denominado 
de heterotopia, ou seja, situação em que, apesar 
de o conteúdo da norma conferir-lhe uma 
determinada natureza, encontra-se ela pre­
vista em diploma de natureza distinta. Como 
observa Norberto Avena (Processo penal: es- 
quematizado. 2a ed. Rio de Janeiro: Editora 
Método, 2010. p. 65), a heterotopia “consiste 
na intromissão ou superposição de conteúdos 
materiais no âmbito de incidência de uma 
norma de natureza processual, ou vice-versa, 
produzindo efeitos em aspectos relacionados à 
ultratividade, retroatividade ou aplicação ime­
diata (tempus regit actum) da lei”. Tais normas 
não se confundem com as normas processuais 
materiais. Enquanto a heterotópica possui uma 
determinada natureza (material ou processu­
al), em que pese estar incorporada a diploma 
de caráter distinto, a norma processual mista 
ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, 
material em uma determinada parte e proces­
sual em outra. Como exemplos de disposições 
heterotópicas, o referido autor cita o direito ao 
silêncio assegurado ao acusado em seu interro­
gatório, o qual, apesar de previsto no CPP (art. 
186), possui caráter nitidamente assecuratório 
de direitos (material), assim como as normas 
gerais que trataram da competência da Justiça 
Federal, que, conquanto previstas no art. 109 
da Carta Magna, que é um diploma material, 
são dotadas de natureza evidentemente pro­
cessual.
4. Vigência, validade, revogação, derroga­
ção e ab-rogação da lei processual penal: a
lei processual penal nasce como todas as de­
mais leis, ou seja, deve ser proposta, discutida, 
votada e aprovada pelo Congresso Nacional. 
Após ser aprovada, a lei processual penal deve 
ser promulgada (ato legislativo pelo qual se 
atesta a existência de uma lei), sancionada 
pelo Presidente da República e publicada. A 
vigência da lei processual penal também segue 
o mesmo regramento das demais leis, isto é, a 
lei entra em vigor na data de sua publicação 
ou no dia posterior à vacância, quando assim 
o estabelecer o legislador. Sobre o assunto, o
Art. 3o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
art. 8o, caput, da Lei Complementar n. 95/98, 
com redação dada pela LC n. 107/2001, dispõe 
que a vigência da lei será indicada de forma ex­
pressa e de modo a contemplar prazo razoável 
para que dela se tenha amplo conhecimento, 
reservada a cláusula “entra em vigor na data de 
sua publicação” para as leis de pequena reper­
cussão. Ademais, segundo o art. 8o, §1°, da LC 
n. 95/98, “a contagem do prazo para entrada 
em vigor das leis que estabeleçam período de 
vacância far-se-á com a inclusão da data da 
publicação e do último dia do prazo, entrando 
em vigor no dia subsequente à sua consumação 
integral”. Se a lei nada disser sobre sua vigência, 
entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após 
sua publicação. Nessa hipótese, a vacatio legis 
(período próprio para o conhecimento do con­
teúdo de uma norma pela sociedade em geral, 
antes de entrar em vigor) será de 45 (quarenta e 
cinco) dias, nos exatos termos do art. Io da Lei 
de Introdução às normas do Direito Brasileiro 
(Decreto-Lei n. 4.657/42, com redação dada 
pela Lei n. 12.376/10). Uma vez em vigor, a 
lei processual penal vigora formalmente até 
que seja revogada por outra. Assim, revogação 
significa a cessação da vigência formal da lei, 
ou seja, a norma processual penal deixa de 
integrar o ordenamento jurídico. Quanto a
sua abrangência, a revogação compreende a 
ab-rogação (revogação total) e a derrogação 
(revogação parcial). Essa revogação pode ser 
expressa ou tácita. Será expressa quando a lei 
nova retirar a força da lei precedente de modo 
categórico: é o que aconteceu com a nova lei de 
identificação criminal (Lei n. 12.037/09), cujo 
art. 9o revogou expressamente a antiga lei de 
identificação (Lei n. 10.054/00). A revogação 
é tácita quando a lei nova se mostrar incom­
patível com a lei anterior. Exemplificando, foi 
o que aconteceu em face do advento do art. 
5o do Código Civil, que fixou a maioridade a 
partir dos 18 (dezoito) anos completos, do que 
resultou a revogação tácita dos dispositivos 
processuais penais que previam privilégios 
para o acusado maior de 18 (dezoito) e menor 
de 21 (vinte e um) anos. Por fim, não se pode 
confundir vigência com validade. Para que 
uma lei processual penal entre em vigor, basta 
que seja aprovada pelo Congresso Nacional, 
sancionada pelo Presidente da República e 
pubbcada no Diário Oficial: superado eventual 
período de vacatio legis, inicia-se sua vigência. 
Para que seja considerada válida, todavia, 
referida lei deve se mostrar compatível com 
a Constituição Federal e com as Convenções 
Internacionais sobre Direitos Humanos.
Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação1 extensiva2 * *e apli­
cação analógica,3J*bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.5
1. Interpretação da lei processual penal:
interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da 
norma, ou seja, descobrir o seu significado, o 
seu sentido, a sua exata extensão normativa. 
É procurar descobrir aquilo que ela tem a nos 
dizer com a maior precisão possível. Toda lei 
necessita de interpretação, ainda que seja clara.
O in claris nonfit interpretativo é uma falácia, 
até mesmo porque para se concluir que a lei 
é clara já se faz necessária uma interpretação.
Como se percebe, o que se procura com a in­
terpretação é o conteúdo da lei, a inteligência 
e a vontade da lei (mens legis), não aintenção 
do legislador (mens legislatoris), embora esta
última constitua um dos critérios de interpre­
tação, porquanto, uma vez em vigor, a lei passa
a gozar de existência autônoma. Em princípio, 
a interpretação da lei processual penal está 
sujeita às mesmas regras de hermenêutica que 
disciplinam a interpretação das leis em geral. 
O que pretende o legislador com o art. 3o do 
CPP é simplesmente demarcar a distinção 
entre o direito penal e o processo penal. Como 
é cediço, naquele não se admite qualquer for­
ma de ampliação hermenêutica dos preceitos 
incriminadores, muito menos do emprego da 
analogia em prejuízo do acusado (in malam 
partem). No processo penal, todavia, o art. 
3o do CPP dispõe que é possível não apenas a 
interpretação extensiva e a aplicação analógi­
ca, mas também o suplemento dos princípios 
gerais de direito.
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 3o
2. Interpretação extensiva: quanto ao re­
sultado, a interpretação pode ser declaratória, 
restritiva, extensiva ou progressiva. Na inter­
pretação declaratória o intérprete não amplia 
nem restringe o alcance da norma porquanto 
o significado ou sentido da lei corresponde 
exatamente à sua literalidade. Limita-se, pois, 
a declarar a vontade da lei. Interpretação res­
tritiva é aquela em que o intérprete diminui, 
restringe o alcance da lei, uma vez que a norma 
disse mais do que efetivamente pretendia di­
zer. De seu turno, na interpretação extensiva, 
expressamente admitida pelo art. 3o do CPP, 
a lei disse menos do que deveria dizer. Por 
consequência, para que se possa conhecer a 
exata amplitude da lei, o intérprete necessita 
ampliar o seu campo de incidência. É o que 
ocorre, a título de exemplo, com as hipóteses 
de cabimento do RESE previstas no art. 581 do 
CPP. Conquanto parte minoritária da doutrina 
ainda procure sustentar que a enumeração das 
hipóteses de cabimento do recurso em sentido 
estrito prevista no art. 581 é taxativa, não ad­
mitindo ampliação para contemplar outras hi­
póteses, prevalece, no entanto, o entendimento 
no sentido da possibilidade de interpretação 
extensiva das hipóteses de cabimento do recur­
so em sentido estrito, notadamente diante das 
inúmeras mudanças sofridas pela legislação 
processual penal nos últimos anos (v.g., Leis 
11.689/08,11.690/08,11.719/08 e 12.403/11). 
Na verdade, o que não se admite é a amplia­
ção para casos em que a lei evidentemente 
quis excluir. Exemplificando, na hipótese de 
recebimento da peça acusatória, não se pode 
cogitar do cabimento do RESE, já que ficou 
clara a intenção do legislador de só admitir o 
recurso quando houver o não recebimento da 
inicial acusatória. Porém, como a lei prevê o 
cabimento de RESE contra a decisão que não 
receber a denúncia ou a queixa (CPP, art. 581, 
I), não há razão lógica para não se admitir o 
cabimento do recurso também para a hipótese 
de rejeição do aditamento. Cuida-se, na verda­
de, de omissão involuntária do legislador, que 
pode ser suprida pela interpretação extensiva. 
Por fim, considera-se interpretação progressi­
va (adaptativa ou evolutiva) como aquela que 
busca ajustar a lei às transformações sociais,
jurídicas, científicas e até mesmo morais que se 
sucedem no tempo e que acabam por interferir 
na efetividade que buscou o legislador com 
a edição de determinada norma processual 
penal. Vejamos um exemplo: com o advento 
da Constituição Federal, outorgando ao M i­
nistério Público a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e 
individuais indisponíveis (CF, art. 127, caput), 
e à Defensoria Pública a orientação jurídica e 
a defesa, em todos os graus, dos necessitados 
(CF, art. 134), houve forte discussão quanto à 
recepção do art. 68 do CPP, já que, ao promo­
ver a ação civil ex delicto em favor de vítima 
pobre, o Ministério Público estaria agindo em 
nome próprio na defesa de interesse alheio, de 
natureza patrimonial e, portanto, disponível. 
Chamado a se pronunciar a respeito do assun­
to, o Supremo entendeu que o dispositivo seria 
dotado de inconstitucionalidade progressiva 
(ou temporária), ou seja, de modo a viabilizar 
o direito à assistência jurídica e judiciária dos 
necessitados, assegurado pela Constituição 
Federal de 1988 (art. 5o, LXXIV), enquanto não 
houvesse a criação de Defensoria Pública na 
Comarca ou no Estado, subsistiría, tempora­
riamente, a legitimidade do Ministério Público 
para a ação de ressarcimento e de execução 
prevista no art. 68 do CPP, sendo irrelevante 
o fato de a assistência vir sendo prestada por 
órgão da Procuradoria Geral do Estado, em 
face de não lhe competir, constitucionalmente, 
a defesa daqueles que não possam demandar, 
contratando diretamente profissional da ad­
vocacia, sem prejuízo do próprio sustento.
3. Analogia (aplicação analógica): pode 
ser definida como uma forma de autointe- 
gração da norma, consistente em aplicar a 
uma hipótese não prevista em lei a disposição 
legal relativa a um caso semelhante. Afinal, 
onde impera a mesma razão, deve imperar o 
mesmo direito. Não se trata, portanto, de mé­
todo de interpretação, mas sim de integração. 
Em outras palavras, como ao juiz não é dado 
deixar de julgar determinada demanda sob 
o argumento de que não há norma expressa 
regulamentando-a, há de fazer uso dos méto­
dos de integração, dentre eles a analogia, com 
o objetivo de suprir eventuais lacunas encon­
33
Art. 3o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
tradas no ordenamento jurídico. Diferencia-se 
a analogia da interpretação extensiva porque 
naquela o caso a ser solucionado não está com­
preendido na hipótese de incidência da regra 
a ser aplicada, daí porque se fala em aplicação 
analógica, e não em interpretação analógica. A 
título de exemplo, diante do silêncio do Código 
de Processo Penal acerca do procedimento a 
ser utilizado para fins de produção antecipa­
da de provas (CPP, arts. 225 e 366), doutrina 
e jurisprudência admitema a aplicação, por 
analogia, do novo Código de Processo Civil 
(2015), que trata da matéria expressamente nos 
arts. 381 a 383. Quando o art. 3o do CPP dispõe 
que a lei processual penal admite o emprego 
da analogia, há de se ficar atento à verdadeira 
natureza da norma, ou seja, se se trata de nor­
ma genuinamente processual penal ou se, na 
verdade, estamos diante de norma processual 
mista dispondo sobre a pretensão punitiva e 
produzindo reflexos no direito de liberdade do 
agente. Afinal, na hipótese de estarmos diante 
de norma processual mista versando sobre 
a pretensão punitiva, não se pode admitir o 
emprego da analogia em prejuízo do acusado, 
sob pena de violação ao princípio da legalida­
de. Bom exemplo disso diz respeito à sucessão 
processual prevista no art. 31 do CPP. Segundo 
o referido dispositivo, no caso de morte do 
ofendido ou quando declarado ausente por 
decisão judicial, o direito de oferecer queixa 
ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão. Por força 
do disposto no art. 226, §3°, da Constituição 
Federal (“Para efeito da proteção do Estado, é 
reconhecida a união estável entre o homem e a 
mulher como entidade familiar, devendo a lei 
facilitar sua conversão em casamento”), grande 
parte da doutrina insere no rol dos sucessores 
o companheiro. Logo, a ordem seria cônjuge 
(ou companheiro), ascendente, descendente 
ou irmão. A nosso ver, todavia, não se pode 
incluir o companheiro nesse rol, sob pena de 
indevida analogia in malam partem. A inclusão 
do companheiro ou da companheira nesse rol 
de sucessores produz reflexos no direito de 
punir do Estado, já que, quanto menos suces­
sores existirem, maior é a possibilidade de que 
o não exercício do direito de representação ou
de queixa no prazo legal acarrete a extinção 
da punibilidade pela decadência. Portanto, 
cuidando-se de regra de direito material, não 
se pode querer incluir o companheiro, sob 
pena de indevida analogia in malam partem, 
malferindo o princípio da legalidade (CF, art. 
5o, XXXIX).
3.1. Distinção entre analogia(aplicação 
analógica) e interpretação analógica: como 
o legislador não pode prever todas as situações 
que poderíam ocorrer na vida em socieda­
de e que seriam similares àquelas por ele já 
elencadas, a interpretação analógica permite, 
expressamente, a ampliação do alcance da 
norma. Atento ao princípio da legalidade, o 
legislador detalha as situações que pretende 
regular, estabelecendo fórmulas casuísticas, 
para, na sequência, por meio de uma fórmula 
genérica, permitir que tudo aquilo que a elas 
for semelhante também possa ser abrangido 
pelo mesmo dispositivo legal. Em síntese, a 
uma fórmula casuística, que servirá de norte 
ao intérprete, segue-se uma fórmula genérica. 
A título de exemplo, ao inserir no art. 185, §2°, 
do CPP a possibilidade de utilização da video­
conferência, a Lei n. 11.900/09 teve o cuidado 
de autorizar a realização do interrogatório por 
outro recurso tecnológico de transmissão de sons 
e imagens em tempo real. Como se percebe, 
atento aos avanços da tecnologia, o próprio 
dispositivo legal admite a utilização de outras 
modalidades de transmissão de sons e imagens 
em tempo real que porventura venham a sur­
gir, desde que semelhantes à videoconferência. 
Diversamente da analogia, que é método de 
integração, a interpretação analógica, como o 
próprio nome já sugere, funciona como méto­
do de interpretação. Logo, neste caso, apesar de 
não ser explícita, a hipótese em que a norma 
será aplicada está prevista no seu âmbito de 
incidência, já que o próprio dispositivo legal 
faz referência à possibilidade de aplicação de 
seu regramento a casos semelhantes aos por 
ele regulamentados.
4. Aplicação supletiva e subsidiária do 
novo Código de Processo Civil ao processo 
penal: de acordo com o art. 15 do novo CPC, 
na ausência de normas que regulem processos
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 3o
eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as 
disposições deste Código lhes serão aplicadas 
supletiva e subsidiariamente. Interpretação 
literal do referido dispositivo pode nos levar à 
conclusão (equivocada) de que o novo Código 
de Processo Civil só pode ser aplicado supleti­
va e subsidiariamente aos processos eleitorais, 
trabalhistas ou administrativos, ou seja, como 
o dispositivo não faz qualquer menção aos 
processos criminais, ter-se-ia como inviável a 
aplicação residual do novo CPC aos processos 
de natureza criminal. No entanto, não há ne­
nhuma razão lógica para se afastar a aplicação 
supletiva e subsidiária do novo CPC ao proces­
so penal, até mesmo porque tal prática já era - e 
continuará sendo - recorrente na vigência do 
antigo (e do novo) CPC. Exemplificativamente, 
como a legislação processual penal nada diz 
acerca do procedimento a ser utilizado para 
a produção da prova antecipada prevista no 
art. 225 do CPP, a doutrina sempre sustentou 
a possibilidade de aplicação subsidiária dos 
arts. 846 a 851 do antigo CPC (arts. 381 a 383 
do novo CPC). Portanto, quando o art. 15 do 
novo CPC faz referência apenas aos processos 
eleitorais, trabalhistas ou administrativos, hou­
ve uma omissão involuntária do legislador, que 
deve ser suprida pela interpretação extensiva 
para fins de ser reconhecida a possibilidade 
de aplicação supletiva e subsidiária do novo 
diploma processual civil ao processo penal (co­
mum e militar). Etimologicamente, existe uma 
diferença entre aplicação supletiva e aplicação 
subsidiária. A primeira se destina a suprir algo 
que não existe em uma determinada legislação, 
enquanto a subsidiária serve de ajuda ou de 
subsidio para a interpretação de alguma norma 
ou mesmo um instituto, operando como que 
a dar sentido a uma disposição legal menos 
precisa. Ambas as figuras, de algum modo, 
acabam englobadas pela analogia. Nessa linha: 
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de 
Processo Civil comentado: com remissões e notas 
comparativas ao CPC/1973. 3a ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 72.
4.1. Impossibilidade de aplicação da ana­
logia para fins de derrogação do Código de 
Processo Penal: com a entrada em vigor do 
novo Código de Processo Civil em 2016, há
de se ter extrema cautela com a sua aplicação 
ao processo penal. Como se trata de diploma 
processual muito mais moderno que o nosso 
Código de Processo Penal, que entrou em vigor 
em 1° de janeiro de 1942, não temos dúvidas 
em afirmar que haverá grande euforia e en­
tusiasmo com a possibilidade de aplicação de 
seus institutos ao processo penal brasileiro. No 
entanto, a aplicação do novo CPC ao processo 
penal só pode ocorrer de maneira supletiva e 
subsidiária. O emprego da analogia permitido 
pelo art. 3° do CPP pressupõe a inexistência 
de lei disciplinando matéria específica, consta­
tando-se, pois, a lacuna involuntária da lei. Por 
ser a analogia recurso de autointegração (Lei 
de Introdução às normas do Direito Brasileiro, 
art. 4°), e não instrumento de derrogação de 
texto ou de procedimento legal, o emprego da 
analogia só pode ser admitido quando a lei for 
omissa. Vejamos alguns exemplos. Consoante 
disposto no art. 219 do novel diploma proces­
sual civil, na contagem de prazos processuais 
em dias, computar-se-ão somente os dias úteis. 
Sem dúvida alguma, se no âmbito processual 
civil a contagem dos prazos processuais leva 
em consideração apenas os dias úteis, o ideal 
seria estender esse mesmo raciocínio ao pro­
cesso penal, até mesmo para uniformizarmos a 
contagem de prazos processuais, independen­
temente da natureza do feito (cível, criminal, 
trabalhista, eleitoral,, etc). No entanto, o art. 
798, caput, do CPP, é categórico ao afirmar que 
todos os prazos serão contínuos e peremptórios, 
não se interrompendo por férias, domingo ou 
dia feriado. Logo, como a lei processual não foi 
omissa em relação ao assunto, parece-nos invi­
ável sustentar a aplicação do art. 219 do novo 
CPC ao processo penal, até mesmo porque a 
analogia pressupõe a omissão do legislador, o 
que, in casu, não teria ocorrido. Pelo contrário. 
A lei processual penal é expressa no sentido 
de que os prazos processuais são contínuos 
e peremptórios, leia-se, são computados dias 
úteis e não úteis, com a ressalva de que, na 
hipótese de o prazo terminar em domingo ou 
feriado, considera-se prorrogado até o dia útil 
imediato (CPP, art. 798, §3°). Por ser a analogia 
recurso de autointegração (Lei de Introdução 
às normas do Direito Brasileiro, art. 4°), e não
Aft. 3o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
instrumento de derrogação de texto ou de 
procedimento legal, seu emprego só pode ser 
admitido quando a lei for omissa. Tendo em 
conta que o CPP não é omisso em relação ao 
computo dos dias úteis para a contagem de 
prazos processuais, e considerando que não 
consta das disposições finais e transitórias 
do novo CPC (arts. 1045 a 1072) qualquer 
referência à revogação do art. 798 do CPP, 
nem tampouco quanto à aplicação da regra do 
art. 219 ao processo penal, revela-se inviável 
estender a referida regra aos feitos criminais. 
No sentido de que não se aplica ao processo 
penal a regra do art. 219 do novo CPC: STF, 
2a Turma, HC 134.554 Rcon/SP, Rei. Min. 
Celso de Mello, DIe 123 14/06/2016; STJ, 3a 
Seção, AgRg na Rcl 30.714/PB, Rei. Min. Rey- 
naldo Soares da Fonseca, j. 27/04/2016, DJe 
04/05/2016. Noutro giro, ante o silêncio do 
CPP em relação ao assunto, é perfeitamente 
possível a aplicação subsidiária ao processo 
penal do incidente de resolução de demandas 
repetitivas (arts. 976 a 987 do novo CPC), que, 
doravante, poderá ser instaurado em qualquer 
Tribunal, inclusive nos Tribunais de Justiça dos 
Estados e nos Tribunais Regionais Federais. A 
instauração desse incidente é cabível quando 
houver, simultaneamente: a) efetiva repetição 
de processos que contenham controvérsia 
sobre a mesma questão unicamente de direito; 
b) risco de ofensa à isonomia e à segurança 
jurídica. Admitido o incidente, o relator deter­
minará a suspensão dos processos pendentes 
que tramitam no Estado ou na Região, confor­
me o caso. Julgado o incidente,a tese jurídica 
será aplicada: a) a todos os processos que 
versem sobre idêntida questão de direito e que 
tramitem na área de jurisdição do respectivo 
tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos 
juizados especiais do respectivo Estado ou Re­
gião; b) aos casos futuros que versem idêntica 
questão de direito e que venham a tramitar no 
território de competência do tribunal, salvo se 
houver a revisão da tese jurídica firmada no 
incidente. Como se percebe, a aplicação desse 
incidente ao processo penal vem ao encontro 
do princípio da celeridade e da garantia da 
razoável duração do processo, contribuindo 
para diminuir a carga de recursos pendentes de 
julgamento pelos Tribunais. Logo, desde que a
controvérsia em diversos processos criminais 
não esteja relacionada à matéria de fato ou pro­
batória, mas sim à questão de direito - a título 
de exemplo, a possibilidade de aplicação da 
causa de aumento de pena do furto praticado 
durante o repouso noturno (CP, art. 155, §1°) 
ao furto qualificado (CP, art. 155, §4°) - , esse 
incidente poderá ser suscitado com o objetivo 
de evitar decisões contraditórias entre os juízos 
subordinados àquele Tribunal, preservando-se, 
assim, a isonomia e a segurança jurídica.
5. Princípios gerais de direito: o vocábulo 
princípio é dotado de uma imensa variedade 
de significações. Sem nos olvidar da distinção 
feita pela doutrina entre princípios, normas, 
regras e postulados - para ampla análise dessa 
distinção, sugerimos a leitura da obra de Ro- 
bert Alexy (Teoria dos direitos fundamentais. 
Trad. Vírgilio Afonso da Silva. São Paulo: Edi­
tora Malheiros, 2008) - , trabalharemos com a 
noção de princípios como mandamentos nu­
cleares de um sistema. A Constituição Federal 
de 1988 elencou vários princípios processuais 
penais, porém, no contexto de funcionamento 
integrado e complementar das garantias pro­
cessuais penais, não se pode perder de vista 
que os Tratados Internacionais de Direitos 
Humanos firmados pelo Brasil também inclu­
íram diversas garantias ao modelo processual 
penal brasileiro. Nessa ordem, a Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto 
de São José da Costa Rica), prevê diversos 
direitos relacionados à tutela da liberdade 
pessoal (Decreto 678/92, art. 7°), além de 
inúmeras garantias judiciais (Decreto 678/92, 
art. 8o). Embora seja polêmica a discussão 
em torno do status normativo dos Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos, a partir 
do julgamento do RE 466.343, tem prevalecido 
no Supremo Tribunal Federal a tese do status 
de supralegalidade da Convenção America­
na sobre Direitos Humanos. Não por outro 
motivo, a despeito do teor do art. 5o, LXVII, 
da Constituição Federal, que prevê, em tese, 
a possibilidade de prisão civil do devedor de 
alimentos e do depositário infiel, a Suprema 
Corte entendeu que a circunstância de o Brasil 
haver subscrito o Pacto de São José da Costa 
Rica, que restringe a prisão civil por dívida
TÍTULO I • DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 3o
ao descumprimento inescusável de prestação 
alimentícia (art. 7o, 7), conduz à inexistência 
de balizas visando à eficácia do art. 5o, LXVII, 
da Carta Magna. Logo, com a introdução 
do aludido Pacto no ordenamento jurídico 
nacional, restaram derrogadas as normas es­
tritamente legais definidoras da custódia do 
depositário infiel. Seguindo esse raciocínio, 
o Supremo Tribunal Federal averbou expres­
samente a revogação da Súmula 619 do STF. 
Além disso, a fim de por um fim à controvérsia 
em torno da prisão civil do depositário infiel, o 
plenário do Supremo Tribunal Federal aprovou 
no dia 16 de dezembro de 2009 a edição da 
súmula vinculante n. 25, com o seguinte teor: 
“É ilícita a prisão civil de depositário infiel, 
qualquer que seja a modalidade do depósito”. 
No mesmo caminho, o STJ editou a súmula 
n. 419, que dispõe: “descabe a prisão civil do 
depositário judicial infiel”. Logo, subentende- 
-se que deixaram de ter validade a súmula n. 
304 do STJ (“É ilegal a decretação da prisão 
civil daquele que não assume expressamente 
o encargo de depositário judicial”) e a súmula 
n. 305 do STJ (“É descabida a prisão civil do 
depositário quando, decretada a falência da
empresa, sobrevêm a arrecadação do bem 
pelo síndico”). Hoje, portanto, já não há mais 
espaço para a decretação da prisão civil do 
depositário infiel, seja nos casos de alienação 
fiduciária, seja em contratos de depósito ou 
nos casos de depósito judicial, na medida 
em que a Convenção Americana de Direitos 
Humanos, cujo status normativo supralegal a 
coloca abaixo da Constituição, porém acima da 
legislação interna, produziu a invalidade das 
normas infraconstitucionais que dispunham 
sobre tal espécie de prisão civil.
5.1. Nota ao leitor: por razões didáticas, 
optamos por tratar dos diversos princípios 
processuais penais ao longo dos comentários 
aos artigos do Código de Processo Penal. Por 
exemplo, por ocasião do estudo da competên­
cia criminal (arts. 69 a 91), será analisado o 
princípio do juiz natural nos comentários ao 
art. 69 do CPP. Por sua vez, nos comentários 
às Disposições Gerais em que está inserido o 
art. 155 do CPP, faremos minucioso estudo de 
princípios como o da presunção de inocência, 
ampla defesa, contraditório, nemo tenetur se 
detegere, proporcionalidade, etc.
3 Of.iZPPJ
TÍTULO II
DO INQUÉRITO POLICIAL1 5
Art. 4o A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais 
no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração 
das infrações penais e da sua autoria.6 (Redação dada pela Lei n. 9.043, de 
9.5.1995)
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de 
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.7
1. Conceito de inquérito policial: proce­
dimento administrativo inquisitório e prepa­
ratório, presidido pela autoridade policial, o 
inquérito policial consiste em um conjunto de 
diligências realizadas pela polícia investigativa 
objetivando a identificação das fontes de pro­
va e a colheita de elementos de informação 
quanto à autoria e materialidade da infração 
penal, a fim de possibilitar que o titular da 
ação penal possa ingressar em juízo. Trata- 
-se de um procedimento de natureza instru­
mental, porquanto se destina a esclarecer os 
fatos delituosos relatados na notícia de crime, 
fornecendo subsídios para o prosseguimento 
ou o arquivamento da persecução penal. De 
seu caráter instrumental sobressai sua dupla 
função: a) preservadora: a existência prévia 
de um inquérito policial inibe a instauração 
de um processo penal infundado, temerário, 
resguardando a liberdade do inocente e evi­
tando custos desnecessários para o Estado; b) 
preparatória: fornece elementos de informação 
para que o titular da ação penal ingresse em 
juízo, além de acautelar meios de prova que po­
deríam desaparecer com o decurso do tempo.
2. Natureza jurídica do inquérito policial:
trata-se de procedimento de natureza adminis­
trativa. Não se trata, pois, de processo judicial, 
nem tampouco de processo administrativo, 
porquanto dele não resulta a imposição direta 
de nenhuma sanção. Nesse momento, ainda 
não há o exercício de pretensão acusatória. 
Logo, não se pode falar em partes stricto sensu, 
já que não existe uma estrutura processual 
dialética, sob a garantia do contraditório e da 
ampla defesa. Apesar de o inquérito policial 
não obedecer a uma ordem legal rígida para 
a realização dos atos, isso não lhe retira a 
característica de procedimento, já que o legis­
lador estabelece uma sequência lógica para 
sua instauração, desenvolvimento e conclusão. 
Por sua própria natureza, o procedimento do 
inquérito policial deve ser flexível. Não há falar, 
em sede de investigação policial, em obediên­
cia a uma ordem predeterminada, rígida, o que 
não infirma sua natureza de procedimento, 
já que o procedimento pode seguir tanto um 
esquema rígido quanto flexível. Logo, como 
o inquérito policial é mera peça informativa, 
eventuais vícios dele constantes não têm ocondão de contaminar o processo penal a que
c-
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
der origem. Havendo, assim, eventual irregula­
ridade em ato praticado no curso do inquérito, 
mostra-se inviável a anulação do processo 
penal subsequente. Afinal, as nulidades proces­
suais concernem, tão somente, aos defeitos de 
ordem jurídica que afetam os atos praticados 
ao longo do processo penal condenatório. 
Logicamente, caso uma determinada prova te­
nha sido produzida com violação a normas de 
direito material, há de ser reconhecida sua ilici- 
tude (CF, art. 5o, LVI), com o seu consequente 
desentranhamento dos autos, bem como de 
todas as demais provas que com ela guardem 
certo nexo causai (teoria dos frutos da árvore 
envenenada). Isso, todavia, não significa dizer 
que todo o inquérito será considerado nulo. 
Afinal, é possível que constem da investigação 
policial elementos de informação que não 
foram contaminados pela ilicitude originária 
(teoria da fonte independente).
♦ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) O s vícios existentes no inquérito policial 
não repercutem na ação penal, que tem instrução 
probatória própria. Decisão fundada em outras provas 
constantes dos autos, e não somente na prova que se 
alega obtida por meio ilícito. É inviável, em habeas 
corpus, o exame aprofundado de provas, conforme 
reiterados precedentes do Supremo Tribunal Federal. 
Recurso em habeas corpus a que se nega provimento". 
(STF, 2aTurma, HC 85.286/SP, Rei. Min. Joaquim Barbo­
sa, j. 29/11 /2005, DJ 24/03/2006). No sentido de não ser 
cabível a anulação de processo penal em razão de su­
posta irregularidade verificada em inquérito policial, in 
casu, em virtude de o procedimento ter sido presidido 
por delegado alegadamente suspeito: STF, 2a Turma, 
R H C 131.450/DF, Rei. Min. Cármen Lúcia, j. 03/05/2016.
STJ:"(...) É entendimento dominante neste Superior 
Tribunal de Justiça que eventual nulidade do inquérito 
policial não contamina a ação penal superveniente, 
vez que aquele é mera peça informativa, produzida 
sem o crivo do contraditório. Recurso a que se nega 
provimento". (STJ, 6a Turma, RHC 21.170/RS, Rei. Min. 
Carlos Fernando Mathias - Juiz convocado doTRF I a 
Região -, j. 04/09/2007, DJ 08/10/2007 p. 368).
3. Finalidade do inquérito policial: a par­
tir do momento em que determinado delito é 
praticado, surge para o Estado o poder-dever 
de punir o suposto autor do ilícito. Para que o
Estado possa deflagrar a persecução criminal em 
juízo, é indispensável a presença de elementos de 
informação quanto à autoria e quanto à mate­
rialidade da infração penal. De fato, para que se 
possa dar início a um processo criminal contra 
alguém, faz-se necessária a presença de um lastro 
probatório mínimo apontando no sentido da 
prática de uma infração penal e da probabilidade 
de o acusado ser o seu autor. Aliás, o próprio 
CPP, em seu art. 395, inciso III, com redação 
dada pela Lei n. 11.719/08, aponta a ausência de 
justa causa para o exercício da ação penal como 
uma das causas de rejeição da peça acusatória. 
Daí a importância da identificação das fontes 
de prova e ulterior registro dos elementos de 
informação pela autoridade policial.
3.1. Fontes de prova: cometida uma infração 
penal, tudo aquilo que possa servir para a sua 
elucidação pode ser conceituada como fonte de 
prova. Derivam do fato delituoso em si, inde­
pendentemente da existência do processo, ou 
seja, são anteriores ao processo, sendo que sua 
introdução no inquérito policial se dá através 
dos elementos de informação. Exemplificando, 
suponha-se que determinado crime de homi­
cídio tenha sido praticado em uma rua pouco 
movimentada. O primeiro passo da investiga­
ção é exatamente buscar pessoas ou coisas que 
possam contribuir para o esclarecimento do 
fato delituoso e de sua autoria. Caberá, então, 
à autoridade policial diligenciar no sentido de 
localizar o cadáver, a arma usada para a prática 
do crime, pessoas que tenham visto o provável 
autor do delito, etc.
3.2. Elementos de informação: trata-se, o 
inquérito policial, do instrumento geralmente 
usado pelo Estado para a colheita desses ele­
mentos de informação, viabilizando o ofereci­
mento da peça acusatória quando houver justa 
causa para o processo (fumus comissi delicti), 
mas também contribuindo para que pessoas 
inocentes não sejam injustamente submetidas 
às cerimônias degradantes do processo crimi­
nal. Esses elementos de informação colhidos 
no inquérito policial são decisivos para a for­
mação da convicção do titular da ação penal 
sobre a viabilidade da acusação, mas tam ­
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL 4 0
bém exercem papel fundamental em relação 
à decretação de medidas cautelares pessoais, 
patrimoniais ou probatórias no curso da in­
vestigação policial. De fato, para que medidas 
cautelares como a prisão preventiva ou uma 
interceptação telefônica sejam determinadas, 
é necessário um mínimo de elementos quanto 
à materialidade e autoria do delito. Além disso, 
também são úteis para fundamentar eventual 
absolvição sumária (CPP, art. 397). Diferencia- 
-se o inquérito policial da instrução proces­
sual por esse motivo: enquanto a investigação 
criminal tem por objetivo a obtenção de da­
dos informativos para que o órgão acusatório 
examine a viabilidade de propositura da ação 
penal, a instrução em juízo tem como escopo 
colher provas para demonstrar a legitimidade 
da pretensão punitiva ou do direito de defesa.
3.2.1. Distinção entre elementos infor­
mativos e provas: perceba-se que insistimos 
na assertiva de que a finalidade precípua do 
inquérito policial é a colheita de elementos de 
informação quanto à autoria e materialidade do 
delito. Mas por que elementos de informação e 
não prova? Com as alterações produzidas pela 
Lei n 11.690/08, passou a constar expressamen­
te do CPP a distinção entre prova e elementos 
informativos. De fato, eis a nova redação do art. 
155 do CPP: “O juiz formará sua convicção pela 
livre apreciação da prova produzida em contra­
ditório judicial, não podendo fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informa­
tivos colhidos na investigação, ressalvadas as 
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. 
(nosso grifo). Diante da nova redação do art. 
155 do CPP, elementos de informação são 
aqueles colhidos na fase investigatória, sem 
a necessária participação dialética das partes. 
Dito de outro modo, em relação a eles, não se 
impõe a obrigatória observância do contraditó­
rio e da ampla defesa, vez que nesse momento 
ainda não há falar em acusados em geral na 
dicção do inciso LV do art. 5o da Constituição 
Federal. Apesar de não serem produzidos sob 
o manto do contraditório e da ampla defesa, 
tais elementos informativos são de vital impor­
tância para a persecução penal, pois, além de 
auxiliar na formação da opinio delicti do órgão
da acusação, podem subsidiar a decretação de 
medidas cautelares pelo magistrado ou fun­
damentar uma decisão de absolvição sumária 
(CPP, art. 397). De seu turno, a palavra prova 
só pode ser usada para se referir aos elementos 
 ̂de convicção produzidos, em regra, no curso 
do processo judicial, e, por conseguinte, com a 
necessária participação dialética das partes, sob 
o manto do contraditório (ainda que diferido) 
e da ampla defesa. O contraditório funciona, 
pois, como verdadeira condição de existência 
e validade das provas, de modo que, caso não 
sejam produzidas em contraditório, exigência 
impostergável em todos os momentos da ativi­
dade instrutória, não lhe caberá a designação de 
prova. A participação do acusador, do acusado 
e de seu advogado é condição sine qua non para 
a escorreita produção da prova, assim como 
também o é a direta e constante supervisão 
do órgão julgador, sendo que, com a inserção 
do princípio da identidade física do juiz no 
processo penal, o juiz que presidir a instrução 
deverá proferir a sentença (CPP, art. 399, §2°). 
Funcionando a observância do contraditório 
como verdadeira condição de existênciada 
prova, só podem ser considerados como prova, 
portanto, os dados de conhecimento introdu­
zidos no processo na presença do juiz e com 
a participação dialética das partes. Para mais 
detalhes acerca dos conceitos de provas caute­
lares, não repetíveis e antecipadas, remetemos 
o leitor aos comentários ao art. 155 do CPP.
4. Valor probatório do inquérito policial:
como visto anteriormente, a finalidade do in­
quérito policial é a colheita de elementos de 
informação quanto à autoria e materialidade 
do delito. Tendo em conta que esses elementos 
de informação não são colhidos sob a égide 
do contraditório e da ampla defesa, deduz-se 
que o inquérito policial tem valor probatório 
relativo. Se esses elementos de informação são 
colhidos na fase investigatória, sem a necessá­
ria participação dialética das partes, ou seja, 
sem a obrigatória observância do contraditó­
rio e da ampla defesa, questiona-se acerca da 
possibilidade de sua utilização para formar a 
convicção do juiz em sede processual. Ao longo 
dos anos, sempre prevaleceu nos Tribunais o
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
entendimento de que, de modo isolado, ele­
mentos produzidos na fase investigatória não 
podem servir de fundamento para um decreto 
condenatório, sob pena de violação ao preceito 
constitucional do art 5o, inciso LV, que assegura 
aos acusados em geral o contraditório e a ampla 
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. 
De fato, pudesse um decreto condenatório estar 
lastreado única e exclusivamente em elementos 
informativos colhidos na fase investigatória, 
sem a necessária observância do contraditório 
e da ampla defesa, haveria flagrante desrespeito 
ao preceito do art. 5o, LV, da Carta Magna. No 
entanto, tais elementos podem ser usados de 
maneira subsidiária, complementando a prova 
produzida em juízo sob o crivo do contraditório. 
Ao inserir o advérbio exclusivamente no corpo 
do art. 155, caput, do CPP, a Lei n. 11.690/08 
acaba por confirmar a posição jurisprudencial 
que vinha prevalecendo. Destarte, pode-se dizer 
que, isoladamente considerados, elementos in­
formativos não são idôneos para fundamentar 
uma condenação. Todavia, não devem ser com­
pletamente desprezados, podendo se somar à 
prova produzida em juízo e, assim, servir como 
mais um elemento na formação da convicção do 
órgão julgador. Tanto é verdade que a nova lei 
não previu a exclusão física do inquérito policial 
dos autos do processo (CPP, art. 12).
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Ao contrário do que alegado pelos ora agra­
vantes, o conjunto probatório que ensejou a conde­
nação dos recorrentes não vem embasado apenas nas 
declarações prestadas em sede policial, tendo suporte, 
também, em outras provas colhidas na fase judicial. 
Confirmação em juízo dos testemunhos prestados na 
fase inquisitorial. O s elementos do inquérito podem 
influir na formação do livre convencimento do juiz para 
a decisão da causa quando complementam outros 
indícios e provas que passam pelo crivo do contradi­
tório em juízo. Agravo regimental improvido". (STF, 2a 
Turma, RE-AgR 425.734/MG, Rei. Min. Ellen Gracie, DJ 
28/10/2005 p. 57).
STF:"(...) Padece de falta de justa causa a condenação 
que se funde exclusivamente em elementos informa­
tivos do inquérito policial. Garantia do contraditório: 
inteligência. Ofende a garantia constitucional do con­
traditório fundar-se a condenação exclusivamente 
em testemunhos prestados no inquérito policial, sob
o pretexto de não se haver provado, em juízo, que 
tivessem sido obtidos mediante coação”. (STF, I a Tur­
ma, RE 287.658/MG, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 
03/10/2003 p. 22).
STF:"(...) Condenação baseada exclusivamente nas 
declarações colhidas em sede de inquérito policial. 
Inocorrência. Confirmação em juízo dos depoimentos 
prestados. Validade de indícios com o meio de prova 
(CPP, art. 239). Análise conjunta de todas as provas pro­
duzidas. Não-conhecimento da ordem impetrada. Con­
denação mantida". (STF, I a Turma, HC 83.348/SP, Rei. 
Min. Joaquim Barbosa, j. 21/10/2003, DJ 28/11/2003).
5. Características do inquérito policial:
são inúmeras as características do inquérito 
policial.
5.1. Procedimento escrito: vide comentá­
rios ao art. 9o do CPP.
5.2. Procedimento dispensável: como dito 
acima, o inquérito policial é peça meramente 
informativa, funcionando como importante 
instrumento na apuração de infrações penais e 
de sua respectiva autoria, possibilitando que o 
titular da ação penal possa exercer o jus perse- 
quendi in judicio, ou seja, que possa dar início 
ao processo penal. Se a finalidade do inquérito 
policial é a colheita de elementos de informa­
ção quanto à infração penal e sua autoria, é 
forçoso concluir que, desde que o titular da 
ação penal (Ministério Público ou ofendido) 
disponha desse substrato mínimo necessário 
para o oferecimento da peça acusatória, o 
inquérito policial será perfeitamente dispen­
sável. O próprio Código de Processo Penal, 
em diversos dispositivos, deixa claro o caráter 
dispensável do inquérito policial. De acordo 
com o art. 12 do CPP, “o inquérito policial 
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre 
que servir de base a uma ou outra”. A contrario 
sensu, se o inquérito policial não servir de base 
à denúncia ou queixa, não há necessidade de a 
peça acusatória ser acompanhada dos autos do 
procedimento investigatório. Por sua vez, o art. 
27 do CPP dispõe que qualquer pessoa do povo 
poderá provocar a iniciativa do Ministério 
Público, nos casos em que caiba a ação pública, 
fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre 
o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar
TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
e os elementos de convicção. Ora, se qualquer 
pessoa do povo for capaz de trazer ao órgão do 
Ministério Público os elementos necessários 
para o oferecimento da denúncia, não haverá 
necessidade de se requisitar a instauração de 
inquérito policial. De seu turno, o art. 39, §5°, 
do CPP, estabelece que o órgão do Ministério 
Público dispensará o inquérito, se com a re­
presentação forem oferecidos elementos que 
o habilitem a promover a ação penal, e, neste 
caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 
(quinze) dias. Por fim, o art. 46, §1°, do CPP, 
acentua que quando o Ministério Público 
dispensar o inquérito policial, o prazo para o 
oferecimento da denúncia contar-se-á da data 
em que tiver recebido as peças de informações 
ou a representação.
53. Procedimento sigiloso: vide comentá­
rios ao art. 20 do CPP.
5.4. Procedimento inquisitorial (Lei n. 
13345/16): aprovada em regime de urgência 
pelo Congresso Nacional, quiçá devido ao 
incômodo causado a diversos parlamentares 
federais pelas investigações levadas a efeito 
pela Polícia Federal e pelo Ministério Público 
Federal no curso da operação “Lava-Jato”, a Lei 
n. 13.245 (vigência em 13 de janeiro de 2016) 
deverá acirrar ainda mais as discussões quanto 
à verdadeira natureza jurídica das investiga­
ções preliminares. Isso porque, para além de 
reforçar o direito de o advogado ter acesso a 
qualquer procedimento investigatório - não 
apenas o inquérito policial (Lei n. 8.906/94, 
art. 7o, XIV, com redação dada pela Lei n. 
13.245/16) - referida Lei também introduziu 
no Estatuto da Ordem dos Advogados do Bra­
sil o direito de o advogado assistir a seus clientes 
investigados durante a apuração de infrações, 
sob pena de nulidade absoluta do respectivo 
interrogatório ou depoimento e, subsequente­
mente, de todos os elementos investigatórios 
e probatórios dele decorrentes ou derivados, 
direta ou indiretamente, podendo inclusive 
apresentar razões e quesitos no curso da res­
pectiva apuração (Lei n. 8.906/94, art. 7o, XXI, 
“a”). Diante da nova redação conferida à Lei n. 
8.906/94, qual a verdadeira natureza jurídica
das investigações preliminares? Procedimento 
sujeito ao contraditório diferido e à ampla 
defesa? Ou de natureza inquisitorial? Vejamos, 
separadamente, as duas correntes acerca do 
assunto, e seus respectivos argumentos.5.4.1. Investigação preliminar como pro­
cedimento sujeito ao contraditório diferido 
e à ampla defesa: de um lado, parte da dou­
trina sustenta que as investigações prelimina­
res - não apenas o inquérito policial, mas 
também procedimentos investigatórios diver­
sos, como, por exemplo, um procedimento 
investigatório criminal presidido pelo Minis­
tério Público - estão sujeitas ao contraditório 
diferido e à ampla defesa, ainda que com um 
alcance mais limitado que aquele reconhecido 
na fase processual. Isso não apenas por conta 
das mudanças introduzidas pela Lei n. 
13.245/16, mas notadamente devido à própria 
Constituição Federal, que assegura aos litigan­
tes, em processo judicial ou administrativo, e 
aos acusados em geral o contraditório e a ampla 
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes 
(art. 5o, LV), assim como a assistência de ad­
vogado (art. 5o, LXIII). O inciso LV do art. 
5o da Constituição Federal não pode ser obje­
to de interpretação restritiva para fins de se 
concluir que a expressão processo administra­
tivo ali utilizada não abrange as investigações 
preliminares, que têm natureza jurídica de 
procedimento administrativo, nem tampouco 
para se alegar que o fato de mencionar acusa­
dos, e não investigados ou indiciados, seja um 
impedimento para sua aplicação na fase pré- 
-processual. O simples fato de figurar como 
suposto autor ou partícipe da infração penal 
em uma investigação criminal, por si só, já 
deve ser tratada como uma imputação em 
sentido amplo, porquanto o investigado fica 
sujeito a uma série de medidas coercitivas já 
na fase investigatória, como, por exemplo, 
medidas cautelares pessoais, patrimoniais, 
diligências policiais, etc. Logo, com o objetivo 
de se extrair a máxima eficácia do referido 
dispositivo constitucional, o ideal é concluir 
que qualquer forma de imputação determina­
da representa uma acusação em sentido amplo. 
Por isso, o constituinte empregou a expressão
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
acusados em geral, abrangendo não apenas 
aquele contra quem foi instaurado um proces­
so penal, mas também o indivíduo que figura 
como provável autor (ou partícipe) do fato 
delituoso, é dizer, o sujeito passivo da investi­
gação preliminar. Em síntese, a observância do 
contraditório - ainda que de maneira diferida 
e restrita aos elementos informativos já docu­
mentados - e da ampla defesa não pode ficar 
restrita à fase processual da persecução penal. 
A observância do contraditório diferido e da 
ampla defesa na investigação preliminar tam­
bém pode ser extraída do inciso LXIII do art. 
5o da Constituição Federal. Por mais que o 
Código de Processo Penal, com seus viés niti­
damente autoritário, silencie acerca do direito 
de o investigado ser cientificado de que há uma 
investigação em andamento, na qual ele figura 
na condição de imputado, não se pode negar 
a existência desse direito. A partir do momen­
to em que a própria Constituição Federal as­
segura ao preso o direito de permanecer cala­
do (CF, art. 5o, LXIII), subentende-se que o 
preso, aí compreendido o suspeito, investigado 
ou indiciado, preso ou em liberdade, tem o 
direito de ser ouvido pela autoridade respon­
sável pelas investigações. Afinal, alguém só 
pode permanecer calado se lhe for assegurado 
o direito de ser ouvido. Logicamente, o inves­
tigado poderá se valer de seu direito ao silên­
cio, permanecendo calado, mas daí não se pode 
admitir que um inquérito seja concluído sem 
que lhe seja franqueada a possibilidade de 
apresentar sua versão sobre os fatos sob inves­
tigação. É direito, pois, do investigado, ser 
ouvido pela autoridade competente antes da 
conclusão das investigações preliminares. Lo­
gicamente, na hipótese de se tratar de investi­
gado foragido, não será possível a realização 
de seu interrogatório, mas aí se entende que 
foi o próprio indivíduo que abriu mão do 
exercício da autodefesa (direito de audiência). 
À luz do art. 5o, inciso LV, da Constituição 
Federal, e em estrita harmonia com uma ten­
dência crescente de jurisdicionalização do 
processo administrativo, assim compreendida 
a inserção das garantias do devido processo 
legal no âmbito processual administrativo, a 
garantia do contraditório deve, sim, ser inse­
rida na investigação criminal, ainda que de 
maneira diferida e restrita, dando-se ciência 
ao investigado - e a seu defensor - exclusiva­
mente dos elementos informativos documen­
tados, resguardando-se, logicamente, o sigilo 
quanto aos atos investigatórios ainda em an­
damento, tanto na deliberação quanto na sua 
prática, quando o direito à informação ineren­
te ao contraditório puder colocar em risco a 
própria eficácia da diligência investigatória 
(Lei n. 8.906/94, art. 7o, §11, incluído pela Lei 
n. 13.245/16). Em qualquer sistema minima­
mente garantista e democrático, é direito bá­
sico do indivíduo ser cientificado quanto à 
existência e quanto ao conteúdo de uma im- 
putação contra a sua pessoa, oriunda de uma 
simples notícia-crime ou de uma investigação 
preliminar em andamento. Impõe-se, pois, a 
observância do contraditório, pelo menos em 
relação ao direito à informação, a fim de que 
o imputado, assistido pela defesa técnica (v.g., 
requerendo diligências, apresentando razões e 
quesitos), possa exercer a autodefesa por meio 
do interrogatório policial, oferecendo resistên­
cia à pretensão investigatória e coercitiva es­
tatal, atuando no sentido de identificar fontes 
de prova favoráveis à defesa ou, ao menos, 
capazes de atenuar a pena que eventualmente 
venha a ser imposta ao final do processo. A 
propósito, o acesso do advogado aos autos da 
investigação preliminar consagrado pela sú­
mula vinculante n. 14 funciona como eviden­
te exemplo de manifestação do direito de in­
form ação que constitui o primeiro momento 
do contraditório. Sem dúvida alguma, essa 
corrente ganha corpo com as mudanças pro­
duzidas pela Lei n. 13.245/16, notadamente 
diante da positivação do direito de o advogado 
assistir a seus clientes durante a apuração de 
infrações (Lei n. 8.906, art. 7o, XX I). Aliás, 
firmada a premissa de que o exercício do di­
reito de defesa é de observância obrigatória já 
na fase preliminar de investigações, da mudan­
ça introduzida no Estatuto da OAB poder-se- 
-ia concluir que a presença de um advogado 
seria cogente inclusive no interrogatório poli­
cial, funcionando, o inciso XXI do art. 7o da 
Lei n. 8.906/94, não apenas como um direito 
do advogado, mas sobretudo como uma ga­
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
rantia de proteção do próprio investigado, que 
teria resguardada a proteção a sua integridade 
física e moral, ao direito ao silêncio, etc., por 
um profissional da advocacia ao longo de toda 
a persecução penal, e não mais apenas duran­
te a fase judicial propriamente dita. Ficariam 
resguardados, assim, direitos e garantias fun­
damentais da pessoa humana sujeita à inves­
tigação, funcionando, a presença obrigatória 
de um defensor já num interrogatório policial, 
como importante fator de dissuasão à adoção 
de práticas probatórias ilegais. A experiência 
do cotidiano policial (e ministerial) demonstra 
inexoravelmente que a simples entrega de uma 
nota de culpa ou de um termo de ciência das 
garantias constitucionais ao investigado (indi­
ciado ou preso em flagrante) não tem se mos­
trado suficiente para a tutela de seus diversos 
direitos fundamentais. O sujeito passivo da 
investigação preliminar não tem conhecimen­
tos necessários e suficientes para resistir à 
pretensão estatal. Agravada pela posição de 
inferioridade ante o poder da autoridade esta­
tal encarnada pelo Delegado de Polícia ou pelo 
Promotor de Justiça, esta hipossuficiência deve 
ser suprida com a presença de um defensor já 
na fase pré-processual, presença esta que deve 
ser concebida como um instrumento de con­
trole da atuação do Estado e de seus órgãos 
persecutórios, garantindo-se, assim, o respei­
to ao devido processo legal. À primeira vista, 
poder-se-ia pensar queo exercício do direito 
de defesa nas investigações preliminares, in­
clusive com a obrigatória presença de advoga­
do no interrogatório policial, poderia funcio­
nar como obstáculo à eficácia das investiga­
ções. Pelo co n trário . C om o exposto 
anteriormente, as investigações preliminares 
não têm como finalidade única a obtenção de 
elementos de informação para que o titular da 
ação penal possa ingressar em juízo. Também 
visam inibir a instauração de um processo 
penal infundado, temerário. Logo, o exercício 
do direito de defesa na investigação preliminar 
não depõe contra a eficácia do trabalho inves- 
tigatório. Depõe, sim, a favor dessa suposta 
eficiência, evitando que possíveis inocentes 
sejam processados criminalmente. Na verdade, 
superada uma reação contrária inicial que a
Lei n. 13.245/16 deve provavelmente despertar 
em Delegados de Polícia e membros do Minis­
tério Público, protagonistas na investigação 
preliminar, é inegável que, a longo prazo, o 
referido diploma normativo também deverá 
contribuir para o aprimoramento das investi­
gações. Explica-se: apesar de o sistema da 
prova tarifada ter sido deixado de lado há anos, 
a busca incansável pela confissão ainda é uma 
rotina em Delegacias de Polícia e Promotorias 
Criminais. Aliás, em algumas raras ocasiões, 
essa busca incansável pela confissão ainda é 
feita de maneira ilegal, quer por meio de cons­
trangimentos físicos e morais, quer por inob­
servância do dever de advertência quanto ao 
direito ao silêncio. Isso acaba prejudicando a 
qualidade do trabalho investigatório. De fato, 
uma vez obtida a confissão do crime, é comum 
haver um relaxamento natural das autoridades 
persecutórias em relação à busca de outras 
fontes de prova e elementos informativos, haja 
vista a crença equivocada de que a confissão 
ainda é tida como a rainha das provas. Portan­
to, a partir do momento em que as autoridades 
responsáveis pela investigação preliminar se 
conscientizarem de que o investigado não é 
mais um mero objeto de prova, que tem direi­
to ao silêncio e à assistência de um advogado, 
enfim, que o interrogatório é meio de defesa 
- e não meio de prova - , seja ele judicial ou 
policial, é provável que se dê maior ênfase à 
busca de outras fontes de prova, otimizando a 
eficácia das investigações por meio da produ­
ção de provas científicas, juntada de documen­
tos, colheita de depoimentos de testemunhas 
presenciais, etc. De mais a mais, como é extre­
mamente comum a alegação do acusado, por 
ocasião de seu interrogatório judicial, no sen­
tido de que sofreu agressões, torturas ou seví- 
cias na fase investigatória para que confessas­
se o fato delituoso, a presença obrigatória de 
advogado no interrogatório policial também 
terá o condão de resguardar a própria autori­
dade policial (ou ministerial) contra questio­
namentos dessa natureza.
5.4.1.1. Exercício do direito de defesa na 
investigação preliminar: a) exercício exó- 
geno: é aquele efetivado fora dos autos do
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
inquérito policial, por meio de algum remédio 
constitucional (habeas corpus ou mandado de 
segurança) ou por requerimentos endereçados 
ao juiz ou ao promotor de justiça; b) exercício 
endógeno: é aquele praticado nos autos da 
investigação preliminar, por meio da oitiva do 
imputado (autodefesa - direito de audiência), 
de diligências porventura solicitadas - jamais 
requisitadas - à autoridade policial (CPP, art. 
14), ou através da apresentação de razões e 
quesitos (Lei n. 8.906/94, art. 7o, XXI, “a”, com 
redação dada pela Lei n. 13.245/16). Consoante 
disposto no art. 7o, XXI, alínea “a”, da Lei n. 
8.906/94, com redação determinada pela Lei 
n. 13.245/16, é direito do advogado, ainda no 
curso das investigações preliminares, apresen­
tar: a) razões: devem ser compreendidas como 
um arrazoado que pode ser apresentado pela 
defesa técnica de modo a tentar influenciar o 
convencimento da autoridade policial no sen­
tido da inexistência de elementos informativos 
em detrimento do investigado, seja para fins de 
evitar iminente pedido de medidas cautelares, 
seja de modo a evitar possível indiciamento 
pelo Delegado de Polícia em um inquérito 
policial (Lei n. 12.830/13, art. 2o, §6°); quesitos: 
são indagações direcionadas aos peritos, que 
devem ser respondidas quando da elaboração 
do laudo pericial. Levando-se em consideração 
que dificilmente é possível a repetição dos exa­
mes periciais realizados na fase investigatória 
após a instauração do processo penal, a Lei 
n. 13.245/16 passa a permitir a apresentação 
facultativa de quesitos pela Defesa. Importante 
registrar que a apresentação dessas razões e 
quesitos não é condição sitie qua non para a 
validade do procedimento investigatório, nem 
tampouco do exame pericial, é dizer, cuida- 
-se de mera faculdade da defesa, que pode 
ser exercida de acordo com a conveniência 
dos interesses do cliente investigado. Logo, 
em situações de urgência (v.g., exame de ne- 
cropsia), a não apresentação de quesitos pela 
defesa não será óbice à imediata realização 
do exame pericial, o que, no entanto, não 
impede a apresentação de eventuais pedidos 
de esclarecimentos pela defesa aos peritos 
em momento posterior, nos termos do art. 
159, §5°, I, do CPP. O Projeto de Lei aprovado
pelo Congresso Nacional (PL 78/2015 - PL 
6.705/13 na Câmara dos Deputados) também 
permitia aos advogados requisitar diligências 
no curso da investigação preliminar (Lei n. 
8.906/94, art. 7o, XXI, alínea “b”). No entanto, 
esta alínea acabou sendo vetada pela Presiden­
te da República. Entendeu-se - a nosso juízo, 
acertadamente - que, da forma como redigido, 
o dispositivo poderia levar à interpretação 
equivocada de que a requisição em questão 
seria mandatória, resultando em embaraços 
no âmbito de investigações e consequentes 
prejuízos à administração da justiça. Interpre­
tação semelhante já fora afastada pelo próprio 
Supremo Tribunal Federal em sede de Ação 
Direta de Inconstitucionalidade de dispositivos 
da própria Lei n. 8.906/94 (ADI 1.127). Sem 
embargo do veto, fato é que subsiste o direito 
de petição ao Ministério Público e ao Poder 
Judiciário em defesa de direitos ou contra ile­
galidade ou abuso de poder, nos termos do art. 
5o, XXXIV, alínea “a”, da Constituição Federal.
5.4.2. Investigação preliminar como pro­
cedimento inquisitorial (nossa posição):
cuida-se, a investigação preliminar, de mero 
procedimento de natureza administrativa, com 
caráter instrumental, e não de processo judicial 
ou administrativo. Dessa fase pré-processual 
não resulta a aplicação de uma sanção, desti- 
nando-se tão somente a fornecer elementos 
para que o titular da ação penal possa dar 
início ao processo penal. Logo, ante a impos­
sibilidade de aplicação de uma sanção como 
resultado imediato das investigações criminais, 
como ocorre, por exemplo, em um processo 
administrativo disciplinar, não se pode exigir 
a observância do contraditório e da ampla 
defesa nesse momento inicial da persecução 
penal. As atividades investigatórias estão con­
centradas nas mãos de uma única autoridade 
- Delegado de Polícia, no caso do inquérito 
policial (Lei n. 12.830/13, art. 2o, §1°); Minis­
tério Público, em se tratando de um procedi­
mento investigatório criminal (art. Io da Re­
solução n. 13/2006 do CNMP) - , que deve 
conduzir a apuração de maneira discricionária 
(e não arbitrária) de modo a colher elementos 
quanto à autoria e materialidade do fato deli-
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
cassa Logo, não há oportunidade para o exer­
cício do contraditório ou da ampla defesa. Não 
ha como negar que essa característica está 
chretamente relacionada à busca da eficácia 
das diligências levadas a efeito no curso de 
qualquer procedimento investigatório. Deve­
ras, esse caráter inquisitivo confere às investi­
gações maior agilidade, otimizando a identi­
ficação das fontes de prova e a colheita de 
ekmentos informativos. Fossem os atos inves- 
úgatórios precedidosde prévia comunicação 
a parte contrária (contraditório), seria inviável 
a localização de fontes de prova acerca do 
delito, em verdadeiro obstáculo à boa atuação 
do aparato policial. Funciona o elemento da 
surpresa, portanto, como importante traço 
peculiar de toda e qualquer investigação pre­
liminar. É uma ilusão - e até mesmo ingênuo 
- imaginar que o exercício do contraditório 
direrido e a ampla defesa na fase investigatória 
possa colaborar com as investigações, pois esta 
não é a regra que se nota no cotidiano policial. 
Na prática, a falta de contraditório e ampla 
defesa nessa fase pré-processual acaba sendo 
compensada por mecanismos legislativos ten­
dentes a evitar que o juiz julgue a imputação 
valendo-se exclusivamente dos elementos in­
formativos colhidos na fase investigatória, 
excetuando-se as provas antecipadas, não re- 
petíveis e cautelares. Deveras, se os elementos 
informativos colhidos na fase investigatória 
são produzidos sem a necessária participação 
dialética do investigado, ter-se-ia evidente 
violação ao contraditório e à ampla defesa se 
acaso fosse admitida a sua utilização como 
fundamento exclusivo para uma possível con­
denação do acusado. Daí a importância da 
regra constante do art. 155, caput, do CPP, que 
admite a utilização dos elementos informativos 
colhidos na fase pré-processual apenas subsi- 
diariamente. Outra prova do caráter inquisi- 
torial da investigação preliminar é o quanto 
disposto no art. 107 do CPP, segundo o qual 
não se poderá opor suspeição às autoridades 
policiais nos atos do inquérito, mas deverão 
elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer 
motivo legal. Some-se a isso o quanto dispos­
to no art. 306, §1°, do CPP, que passou a exigir 
a remessa do auto de prisão em flagrante à
Defensoria Pública em 24 (vinte e quatro) 
horas após a prisão, caso o autuado não infor­
me o nome de seu advogado. Ora, se o CPP 
exige a remessa do APF em até 24 (vinte e 
quatro) horas após a captura, silenciando quan­
to à presença da Defensoria durante o interro­
gatório, denota-se que a presença do advogado 
não é obrigatória no momento da lavratura do 
auto de prisão em flagrante delito. As mudan­
ças legislativas produzidas pela Lei n. 13.245/16 
não têm o condão de afastar a natureza inqui- 
sitorial das investigações preliminares, nem 
tampouco de tornar obrigatória a presença de 
advogado durante o interrogatório policial. Na 
verdade, preservada esta natureza, o que hou­
ve foi a outorga de um viés mais garantista à 
investigação preliminar, buscando-se garantir 
os direitos fundamentais do investigado. De 
um lado, a nova redação conferida ao inciso 
XIV do art. 7o da Lei n. 8.906/94 não introdu­
ziu nenhuma novidade concreta. O acesso do 
advogado aos autos das investigações prelimi­
nares - não apenas o inquérito policial - já 
podia ser extraído a partir de uma interpreta­
ção extensiva da redação original do inciso 
XIV do art. 7o. Com efeito, firmada a premis­
sa de que a Polícia Judiciária não tem exclusi­
vidade na apuração de infrações penais, é de 
todo evidente que o advogado poderá ter aces­
so não apenas aos autos de inquéritos policiais, 
mas também a todo e qualquer procedimento 
investigatório em andamento. Isso, aliás, já 
havia sido reconhecido pelo próprio Supremo 
Tribunal Federal por ocasião do reconheci­
mento do poder investigatório criminal do 
Ministério Público (STF, Pleno, RE 593.727/ 
MG, Rei. Min. Gilmar Mendes, j. 14/05/2015, 
DJe 175 04/09/2015). De outro, apesar de a Lei 
n. 13.245/16 ter positivado o direito de o ad­
vogado assistir a seus clientes investigados du­
rante a apuração de infrações (Lei n. 8.906/94, 
art. 7o, XXI), daí não se pode concluir que a 
presença de advogado passaria a ser obrigató­
ria para fins de realização de interrogatórios 
policiais, sob pena de transformarmos a inves­
tigação preliminar em um verdadeiro juizado 
de instrução, porém sem a presença do Minis­
tério Público, no caso de inquéritos policiais 
presididos por Delegados de Polícia, e da au­
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
toridade judiciária competente. Nesse ponto, 
a Lei n. 13.245/16 não introduziu nenhuma 
novidade no ordenamento jurídico pátrio. Na 
verdade, simplesmente positivou o que a Cons­
tituição Federal sempre assegurou, a saber, a 
assistência de advogado a qualquer pessoa a 
quem seja imputada a prática de uma infração 
penal, seja ele suspeito, investigado, acusado 
ou condenado, preso ou em liberdade (CF, art. 
5o, LXIII). Ora, se a força normativa do refe­
rido preceito constitucional jamais foi suficien­
te para tornar cogente a presença de advogado 
por ocasião da realização de interrogatórios 
policiais, é no mínimo estranho que a simples 
reprodução desse mesmo preceito em uma lei 
ordinária teria o condão de passar a exigir sua 
presença. De mais a mais, fosse necessária a 
presença de advogado no interrogatório poli­
cial, referida mudança legislativa deveria ter 
sido introduzida no âmbito do Código de 
Processo Penal, diploma normativo que regu­
lamenta o interrogatório policial, e não no 
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. 
Para que se possa compreender a exata ampli­
tude do novel inciso XX I do art. 7o do Estatu­
to da OAB, com redação dada pela Lei n. 
13.245/16, há de se ter em mente o exato 
contexto fático em que essa alteração legisla­
tiva foi concebida. Sob o argumento de que a 
investigação preliminar é um procedimento 
inquisitorial, ainda é relativamente comum que 
seja negado aos advogados o direito de acom­
panhar interrogatórios realizados em sede 
policial (ou ministerial). Ora, se o advogado 
está presente por ocasião do interrogatório 
policial, a ele não se pode negar o direito de 
assistir a seu cliente, sob pena de evidente 
violação à garantia fundamental do art. 5o, 
LXIII, da CF. Nesse caso, é dizer, presente o 
advogado, e negado o seu direito de assistir a 
seu cliente investigado, aí sim restará caracte­
rizada a ilegalidade do interrogatório policial 
e, por consequência, de todos os elementos 
informativos e probatórios dele derivados, 
direta ou indiretamente (teoria dos frutos da 
árvore envenenada - CPP, art. 157, §1°). O art. 
7o, XXI, da Lei n. 8.906/94, com redação de­
terminada pela Lei n. 13.245/16, dispõe que a 
não observância desse direito acarretará a
nulidade absoluta do respectivo interrogatório 
ou depoimento e, subsequentemente, de todos 
os elementos investigatórios e probatórios dele 
decorrentes ou derivados, direta ou indireta­
mente. Sem embargo da terminologia utiliza­
da pela Lei n. 13.245/16, parece-nos incorreto 
referir-se à inobservância desse direito como 
causa de nulidade absoluta, porquanto a nuli­
dade funciona como uma sanção processual 
aplicada ao ato processual defeituoso, privan- 
do-o da aptidão de produzir seus efeitos regu­
lares. Logo, como o art. 7o, XXI, do Estatuto 
da OAB, faz referência à inobservância de um 
direito do advogado durante o curso da fase 
preliminar de investigações, tecnicamente soa 
mais correto dizer que há, in casu, uma ilega­
lidade, que pode contaminar os demais ele­
mentos informativos e probatórios daí deriva­
dos (teoria dos frutos da árvore envenenada). 
Ainda que se queira objetar que se trata de 
verdadeira nulidade, o fato de a Lei n. 13.245/16 
tê-la rotulado de absoluta não acarreta, de per 
si, a invalidação do referido ato, salvo se com­
provado o prejuízo causado ao investigado. 
Afinal, conforme recentes decisões do Supre­
mo Tribunal Federal (v.g., STF, 2a Turma, HC 
117.102/SP, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, 
j. 25/06/2013), o reconhecimento de uma nu­
lidade, ainda que absoluta, também pressupõe 
a comprovação do prejuízo. Por conseguinte, 
ainda que não seja franqueado ao advogado 
presente o direito de assistir a seu cliente in­
vestigado durante a realização do interrogató­
rio policial, não há falar em invalidação do 
procedimento investigatório se este permane­
cer em silêncio. Se o próprio Supremo Tribunal 
Federal entende que a falta de defesatécnica 
por advogado no processo administrativo 
disciplinar não ofende a Constituição (súmu­
la vinculante n. 5), é no mínimo contraditório 
concluir que, a partir da vigência da Lei n. 
13.245/16, o interrogatório policial seja consi­
derado válido tão somente quando o investi­
gado estiver assistido por profissional da ad­
vocacia. Em outras palavras, se não há neces­
sidade de um defensor no curso de um 
processo administrativo disciplinar, do qual 
pode resultar a aplicação de sanções relativa­
mente severas (v.g., suspensão, exoneração,
TITULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
perda de função, etc.), é de se estranhar a 
obrigatoriedade de defensor durante a realiza­
ção de um interrogatório policial, do qual ja ­
mais será possível a aplicação imediata de uma 
sanção. É nesse sentido que deve ser feita a 
correta interpretação do inciso XXI do art. 7o 
da Lei n. 8.906/94: a investigação preliminar 
não perdeu a sua natureza inquisitiva. Ganhou, 
na verdade, um viés garantista. Doravante, 
presente o advogado, se não lhe for assegurado 
o direito de assistir a seu cliente investigado 
durante a realização de seu interrogatório 
policial, inclusive com a observância do direi­
to à entrevista prévia e reservada, para que 
possa instrui-lo acerca de quais perguntas deve 
responder, ou se deve simplesmente permane­
cer em silêncio, ter-se-á manifesta ilegalidade, 
daí por que eventual confissão nessas circuns­
tâncias deve ser considerada ilícita, assim 
como as demais provas dela derivadas (CPP, 
art. 157, caput e §1°). De todo modo, apesar 
de o contraditório diferido e a ampla defesa 
não serem aplicáveis ao inquérito policial, que 
não é processo, não se pode perder de vista que 
o suspeito, investigado ou indiciado possui 
direitos fundamentais que devem ser observa­
dos mesmo no curso da investigação policial, 
entre os quais o direito ao silêncio, o de ser 
assistido por advogado, etc. Aliás, do plexo de 
direitos dos quais o investigado é titular, é 
corolário e instrumento a prerrogativa do 
advogado de acesso aos autos do inquérito 
policial (Lei n. 8.906/94, art. 7o, XIV), tal qual 
preceitua a súmula vinculante n. 14 do Supre­
mo. Logo, se houver, no curso do inquérito, 
momentos de violência e coação ilegal, há de 
se assegurar a ampla defesa ao investigado.
+ Jurisprudência selecionada - note o leitor 
que todos os julgados são anteriores à Lei n. 
13.245/16:
STJ: "(...) a ausência de ad vogad o por ocasião da 
lavratura do flagrante não nulifica o ato quando o 
paciente é informado de seus direitos constitucionais 
e expressamente declara que se reserva no direito de 
só falar em juízo. Ordem denegada". (STJ, 5aTurma, HC 
24.510/MG, Rei. Min. Jorge Scartezzini, j. 06/03/2003, 
DJ 02/06/2003 p. 310).
STF:"(...) A documentação do flagrante prescinde da 
presença do defensor técnico do conduzido, sendo 
suficiente a lembrança, pela autoridade policial, dos 
direitos constitucionais do preso de ser assistido, 
comunicando-se com a família e com profissional da 
advocacia, e de permanecer calado". (STF, Pleno, HC 
102.732/DF, Rei. Min. Marco Aurélio, j. 04/03/2010, DJe 
81 06/05/2010).
STJ:"(...) É pacífico o entendimento do SuperiorTribu- 
nal de Justiça no sentido de que o inquérito policial é 
procedimento inquisitivo e não sujeito ao contraditó­
rio, razão pela qual a realização de interrogatório sem a 
presença de advogado não é causa de nulidade. Ordem 
parcialmente concedida para garantir à paciente o 
direito de aguardar em liberdade o trânsito em julgado 
da condenação”. (STJ, 6a Turma, HC 139.412/SC, Rei. 
Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 09/02/2010, DJe 
22/03/2010).
TRF/4a Região:"/..) Os direitos de entrevista prévia, da 
presença do advogado e de perguntas complementa­
res, no interrogatório judicial, foram criados pela Lei 
n° 10.792, de 1°.12.2003. Embora o auto de flagrante 
e o inquérito policial tenham normas de remessa que 
informem deva ser o preso ou indiciado ouvido nos 
moldes do interrogatório judicial, necessário é que se 
tenha em conta estar-se em fase onde permanece o 
modelo inquisitório, pelo que não é caso de distorcida 
interpretação que pretenda inserir o contraditório 
(com a presença de advogado no interrogatório) 
nesta fase investigatória. Imprescindível é o alerta e 
o cumprimento aos constitucionais direitos do preso, 
na forma do inciso LXIII, do art. 5° da Constituição 
Federal/88: o preso será informado de seus direitos, 
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe 
assegurada a assistência da família e de advogado". 
(TRF4, HC 2005.04.01.002056-0, Sétima Turma, Relator 
Néfi Cordeiro, DJ 23/03/2005).
STF:"(...) Inaplicabilidade da garantia constitucional do 
contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, 
que não é processo, porque não destinado a deci­
dir litígio algum, ainda que na esfera administrativa; 
existência, não obstante, de direitos fundamentais do 
indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de 
fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar 
e o de manter-se em silêncio. (...). Habeas corpus de 
ofício deferido, para que aos advogados constituídos 
pelo paciente se faculte a consulta aos autos do in­
quérito policial e a obtenção de cópias pertinentes, 
com as ressalvas mencionadas". (STF, 1a Turma, HC 
90.232, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, j. 18/12/2006, 
DJ 02/03/2007).
STJ:"(...) Embora seja o inquérito policial procedimento 
preparatório da ação penal (HCs 36.813, de 2005, e 
44.305, de 2006), é ele garantia "contra apressados e 
errôneos juízos” (Exposição de motivos de 1941). Se 
bem que, tecnicamente, ainda não haja p rocesso -daí
49
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
que não haveríam de vir a pêlo princípios segundo os 
quais ninguém será privado de liberdade sem processo 
legal e a todos são assegurados o contraditório e a 
ampla defesa é lícito admitir possa haver, no curso do 
inquérito, m om entos de violência ou de coação ilegal 
(HC-44.165, de 2007). A lei processual, aliás, permite o 
requerimento de diligências. Decerto fica a diligência 
a juízo da autoridade policial, mas isso, obviamente, 
não impede possa o indiciado bater a outras portas. 
Se, tecnicamente, inexiste processo, tal não haverá 
de constituir em peço a que se garantam direitos 
sensíveis - do ofendido, do indiciado, etc. Cabimento 
do habeas corpus (Constituição, art. 105,1, c). Ordem 
concedida a fim de se determinar à autoridade policial 
que atenda as diligências requeridas". (STJ, 6a Turma, 
HC 69.405/SP, Rei. Min. Nilson Naves, j. 23/10/2007, DJ 
25/02/2008 p. 362).
STJ:"(...) Há, no nosso ordenamento jurídico, normas 
sobre sigilo, bem com o norm as sobre informação; 
enfim, normas sobre segurança e normas sobre li­
berdade. Havendo normas de opostas inspirações 
ideológicas - antinomia de princípio -, a solução do 
conflito (aparente) há de privilegiar a liberdade. Afinal, 
somente se considera alguém culpado após o trânsito 
em julgado de sentença penal condenatória. A defesa 
é de ordem pública primária (Carrara); sua função 
consiste em ser a voz dos direitos legais - inocente 
ou criminoso o acusado. De mais a mais, é direito do 
advogado examinar autos de flagrante e de inquéri­
to, findos ou em andamento (Lei n° 8.906/94, art. 7°, 
inciso XIV). A Turma ratificou a liminar - de caráter 
unipessoal - e concedeu a ordem a fim de permitir ao 
advogado vista, em cartório, dos autos de inquérito". 
(STJ, 6a Turma, HC 44.165/RS, Rei. Min. Nilson Naves, j. 
18/12/2006, DJ 18/12/2006).
5.4.3. Inquérito para fins de expulsão de 
estrangeiro: a observância do contraditório é 
obrigatória em relação ao inquérito objetivan­
do a expulsão de estrangeiro. Regulamentando 
o Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80), o 
Decreto n. 86.715/81 estabelece uma sequên­
cia de etapas que devem ser observadas para 
que seja concretizado o ato de expulsão, aí 
abrangida a possibilidade de ampla defesa e 
contraditório.
5.5. Procedimento discricionário: ao con­trário da fase judicial, em que há um rigor 
procedimental a ser observado, a fase prelimi­
nar de investigações é conduzida de maneira 
discricionária pela autoridade policial, que 
deve determinar o rumo das diligências de 
acordo com as peculiaridades do caso con­
creto. Os arts. 6o e 7o do CPP contemplam um 
rol exemplificativo de diligências que podem 
ser determinadas pela autoridade policial, logo 
que tiver conhecimento da prática da infração 
penal: conservação do local do fato delituoso, 
até a chegada dos peritos criminais; apreensão 
dos instrumentos e objetos que tiverem relação 
com o fato; colheita de todas as provas que 
servirem para o esclarecimento do fato e suas 
circunstâncias; oitiva do ofendido; oitiva do 
indiciado; reconhecimento de pessoas e coi­
sas e a acareações; exame de corpo de delito 
e quaisquer outras perícias; identificação do 
indiciado; averiguação da vida pregressa do 
indiciado; e reconstituição do fato delituoso. 
Conquanto tais dispositivos enumerem várias 
diligências que podem ser determinadas pela 
autoridade policial, daí não se pode concluir 
que o Delegado de Polícia esteja obrigado a 
seguir uma marcha procedimental preestabe- 
lecida. Tem-se, nos arts. 6o e 7o do CPP, apenas 
uma sugestão das principais medidas a serem 
adotadas pela autoridade policial, o que não 
impede que outras diligências também sejam 
realizadas. Discricionariedade implica liberda­
de de atuação nos limites traçados pela lei. Se 
a autoridade policial ultrapassa esses limites, 
sua atuação passa a ser arbitrária, ou seja, con­
trária à lei. Logo, não se permite à autoridade 
policial a adoção de diligências investigatórias 
contrárias à Constituição Federal e à legislação 
infraconstitucional. Portanto, quando o art. 
2o, §2°, da Lei n. 12.830/13, dispõe que cabe 
ao delegado de polícia a requisição de perícia, 
informações, documentos e dados que interes­
sem à apuração dos fatos, não se pode perder 
de vista que certas diligências investigatórias 
demandam prévia autorização judicial, sujeitas 
que estão à denominada cláusula de reserva 
de jurisdição (v.g., prisão temporária, man­
dado de busca domiciliar). Assim, apesar de 
o delegado de polícia ter discricionariedade 
para avaliar a necessidade de interceptação 
telefônica, não poderá fazê-lo sem autorização 
judicial. Nos mesmos moldes, por ocasião do 
interrogatório policial do investigado, deverá 
adverti-lo quanto ao direito ao silêncio (CF, 
art. 5o, LXIII).
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
5.6. Procedimento oficial: incumbe ao De­
legado de Polícia (civil ou federal) a presidên­
cia do inquérito policial. Vê-se, pois, que o 
inquérito policial fica a cargo de órgão oficial 
do Estado, nos termos do art. 144, §1°, I, c/c 
art. 144, §4°, da Constituição Federal.
5.7. Procedimento oficioso: ao tomar co­
nhecimento de notícia de crime de ação penal 
ixiblica incondicionada, a autoridade policial é 
obrigada a agir de ofício, independentemente 
de provocação da vítima e/ou qualquer outra 
pessoa. Deve, pois, instaurar o inquérito po­
licial de ofício, nos exatos termos do art. 5o, 
L, do CPP, procedendo, então, às diligências 
investigatórias no sentido de obter elemen­
tos de informação quanto à infração penal e 
sua autoria. Para a instauração do inquérito 
policial, basta a notícia de fato formalmente 
típico, devendo a autoridade policial abster-se 
de fazer qualquer análise quanto à presença 
de causas excludentes da ilicitude ou da cul­
pabilidade. No caso de crimes de ação penal 
pública condicionada à representação e de 
ação penal de iniciativa privada, a instauração 
do inquérito policial está condicionada à ma­
nifestação da vítima ou de seu representante 
legaL Porém, uma vez demonstrado o interesse 
do ofendido na persecução penal, a autoridade 
policial é obrigada a agir de ofício, determi­
nando as diligências necessárias à apuração 
do delito. Essa característica da oficiosidade 
do inquérito policial não é incompatível com 
a discricionariedade de que tratamos acima. A 
oficiosidade está relacionada à obrigatoriedade 
de instauração de inquérito policial quando 
a autoridade policial toma conhecimento de 
infração penal de ação penal pública incondi­
cionada; a discricionariedade guarda relação 
com a forma de condução das investigações, 
seja no tocante à natureza dos atos investiga- 
tórios (provas periciais, acareações, oitiva de 
testemunhas, etc.), seja em relação à ordem de 
sua realização.
5.8. Procedim ento ind isponível: para 
evitarmos repetições desnecessárias, reme­
temos o leitor aos comentários ao art. 17 do 
CPP.
5.9. Procedimento temporário: diz o Có­
digo de Processo Penal, em seu art. 10, §3°, 
que, quando o fato for de difícil elucidação, e 
o indiciado estiver solto, a autoridade policial 
poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, 
para ulteriores diligências, que serão realiza­
das no prazo marcado pelo juiz. No dia-a-dia 
de fóruns criminais e delegacias, o que se vê 
é a existência de um número incontável de 
inquéritos em relação a investigados soltos 
que tem seu prazo de conclusão prorrogado 
ad eternum. Mas seria possível, então, que 
alguém fosse objeto de investigação em um 
inquérito policial por 10, 15 anos? A nosso 
ver, diante da inserção do direito à razoável 
duração do processo na Constituição Federal 
(art. 5o, LXXVIII), já não há mais dúvidas de 
que um inquérito policial não pode ter seu 
prazo de conclusão prorrogado indefinida­
mente. As diligências devem ser realizadas 
pela autoridade policial enquanto houver 
necessidade. Evidentemente, em situações 
mais complexas, envolvendo vários acusa­
dos, é lógico que o prazo para a conclusão 
das investigações deverá ser sucessivamente 
prorrogado. Porém, uma vez verificada a 
impossibilidade de colheita de elementos que 
autorizem o oferecimento de denúncia, deve 
o Promotor de Justiça requerer o arquiva­
mento dos autos. Não obstante o silêncio da 
legislação brasileira quanto às consequências 
de eventual dilação indevida referente a per- 
secuções criminais em que o acusado esteja 
em liberdade, em pioneiro julgado acerca 
do assunto, a 5a Turma do STJ (HC 96.666/ 
MA, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 
j. 04/09/2008, DJe 22/09/2008) concedeu a 
ordem para determinar o trancamento de 
inquérito policial em andamento em relação 
a suspeitos que estavam em liberdade, por en­
tender que, no caso concreto, passados mais 
de sete anos desde a instauração do inquérito, 
ainda não teria havido o oferecimento da 
denúncia contra os pacientes.
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ: "(...) No caso, passados mais de 7 anos desde 
a instauração do Inquérito pela Polícia Federal do 
Maranhão, não houve o oferecimento de denúncia
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
contra os pacientes. É certo que existe jurisprudência, 
inclusive desta Corte, que afirma inexistir constran­
gim ento ilegal pela simples instauração de Inquérito 
Policial, mormente quando o investigado está solto, 
diante da ausência de constrição em sua liberdade 
de locom oção (HC 44.649/SP, Rei. Min. LAURITA VAZ, 
DJU 08.10.07); entretanto, não se pode admitir que 
alguém seja objeto de investigação eterna, porque 
essa situação, por si só, enseja evidente constran­
gimento, abalo moral e, muitas vezes, econôm ico 
e financeiro, principalm ente q uando se trata de 
grandes empresas e empresários e os fatos já foram 
objeto de Inquérito Policial arquivado a pedido do 
Parquet Federal. Ordem concedida, para determinar o 
trancamento do Inquérito Policial 2001.37.00.005023- 
0 (IPL 521/2001), em que pese o parecer ministerial 
em sentido contrário". (STJ, 5a Turma, HC 96.666/MA, 
Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 04/09/2008, 
DJe 22/09/2008).
6. Funções de polícia judiciária: segundo a 
doutrina majoritária, à Polícia são atribuídas 
duas funções precípuas: a) Polícia Admi­
nistrativa; trata-se de atividade de cunho 
preventivo, ligada à segurança, visando im­
pedir a prática de atos lesivos à sociedade;b) 
Polícia Judiciária; cuida-se de função de ca­
ráter repressivo, auxiliando o Poder Judiciário. 
Sua atuação ocorre depois da prática de uma 
infração penal e tem como objetivo precípuo 
colher elementos de informação relativos à ma­
terialidade e à autoria do delito, propiciando 
que o titular da ação penal possa dar início à 
persecução penal em juízo. Nessa linha, dispõe 
o art. 4o, caput, do CPP, que a polícia judiciária 
será exercida pelas autoridades policiais no 
território de suas respectivas circunscrições e 
terá por fim a apuração das infrações penais e 
da sua autoria.
6.1. Distinção entre funções de polícia ju­
diciária e funções de polícia investigativa:
conquanto a doutrina, em sua maioria, faça 
referência à Polícia Judiciária como aquela 
à qual é atribuída a função de apurar as in­
frações penais e sua autoria, comungamos 
do entendimento de que funções de polícia 
judiciária não se confundem com funções de 
polícia investigativa. A despeito do teor do 
art. 4o, caput, do CPP, a Constituição Federal 
deixa clara a diferença entre funções de polícia 
judiciária e funções de polícia investigativa.
Basta perceber que, ao se referir às atribuições 
da Polícia Federal, a Carta Magna diferencia 
as funções de polícia investigativa, previstas 
no art. 144, §1°, I e II, das funções de polícia 
judiciária (CF, art. 144, §1°, inciso IV). Com 
efeito, enquanto os incisos I e II do §1° do 
art. 144 da Carta Magna outorgam à Polícia 
Federal atribuições para apurar infrações p e­
nais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da 
União ou de suas entidades autárquicas e em­
presas públicas, assim como outras infrações 
cuja prática tenha repercussão interestadual 
ou internacional e exija repressão uniforme, 
segundo se dispuser em lei, bem como preve­
nir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes 
e drogas afins, o contrabando e descaminho, 
o inciso IV estabelece que a Polícia Federal 
destina-se a exercer, com exclusividade, as 
funções de Polícia Judiciária da União. Ora, 
veja-se que a função investigativa está descrita 
nos dois primeiros incisos, de maneira distinta 
das funções de polícia judiciária. Seguindo a 
mesma linha, o art. 144, §4°, da Constituição 
Federal, prevê que a Polícia Civil tem funções 
de polícia judiciária e de apuração de infrações 
penais. Veja-se que há uma clara distinção 
entre funções de polícia judiciária e funções de 
apuração de infrações penais. Como se perce­
be, a própria Constituição Federal estabelece 
uma distinção entre as funções de polícia 
judiciária e as funções de polícia investigativa. 
Destarte, por funções de polícia investigati­
va devem ser compreendidas as atribuições 
ligadas à colheita de elementos informativos 
quanto à autoria e materialidade das infra­
ções penais. A expressão polícia judiciária 
está relacionada às atribuições de auxiliar o 
Poder Judiciário, cumprindo as ordens judi­
ciárias relativas à execução de mandados de 
prisão, busca e apreensão, condução coercitiva 
de testemunhas, etc. Por se tratar de norma 
hierarquicamente superior, deve, então, a 
Constituição Federal, prevalecer sobre o teor 
do Código de Processo Penal (art. 4o, caput). 
A Lei n. 12.830/13, que dispõe sobre a inves­
tigação criminal conduzida pelo Delegado 
de Polícia, parece acolher essa terminologia 
ao dispor em seu art. 2, caput: “As funções de
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4°
polícia judiciária e a apuração de infrações 
penais exercidas pelo delegado de polícia são 
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas 
de Estado”. Veja-se, então, que uma mesma 
Polícia pode exercer diversas funções. A título 
de exemplo, quando um Policial Militar anda 
fardado pelas ruas, age no exercício de funções 
de polícia administrativa, já que atua com o 
objetivo de evitar a prática de delitos. Por sua 
vez, supondo a prática de um crime militar por 
um policial militar do Estado de São Paulo, 
as investigações do delito ficarão a cargo da 
própria Polícia Militar em questão, cujo en­
carregado do Inquérito Policial Militar agirá 
no exercício de função de polícia investigativa. 
Por último, segundo o art. 8o, “c”, do CPPM, 
incumbe à polícia judiciária militar cumprir 
os mandados de prisão expedidos pela Justiça 
Militar, atribuição esta inerente às funções de 
polícia judiciária militar. Apesar de acredi­
tarmos que a Constituição Federal estabelece 
uma distinção entre polícia judiciária e polícia 
investigativa, somos obrigados a admitir que 
prevalece na doutrina e na jurisprudência 
a utilização da expressão polícia judiciária 
para se referir ao exercício de atividades rela­
cionadas à apuração da infração penal. Basta 
atentar para o teor da súmula vinculante n. 
14 do Supremo: “É direito do defensor, no 
interesse do representado, ter acesso amplo 
aos elementos de prova que, já documentados 
em procedimento investigatório realizado por 
órgão com competência de polícia judiciária, 
digam respeito ao exercício do direito de 
defesa”. Independentemente dessa discussão, 
é certo dizer que as atividades investigatórias 
devem ser exercidas precipuamente por auto­
ridades policiais, sendo vedada a participação 
de agentes estranhos à autoridade policial, 
sob pena de violação do art. 144, § Io, IV, da 
CF/1988, da Lei n. 9.883/1999, e dos arts. 
4o e 157 e parágrafos do CPP. Por isso, os 
Tribunais vêm considerando que a execução 
de atos típicos de polícia investigativa como 
monitoramento eletrônico e telemático, bem 
como ação controlada, por agentes de órgão 
de inteligência (v.g., ABIN) sem autorização 
judicial, acarreta a ilicitude da provas assim 
obtidas.
4- Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) Diversamente do que se tem procurado 
sustentar, com o resulta da letra do seu artigo 144, 
a Constituição da República não fez da investigação 
criminal uma função exclusiva da Polícia, restringindo- 
-se, com o se restringiu, tão-somente a fazer exclusivo, 
sim, da Polícia Federal o exercício da função de polí­
cia judiciária da União (parágrafo I o, inciso IV). Essa 
função de polícia judiciária - qual seja, a de auxiliar 
do Poder Judiciário -, não se identifica com a função 
investigatória, isto é, a de apurar infrações penais, bem 
distinguidas no verbo constitucional, com o exsurge, 
entre outras disposições, do preceituado no parágrafo 
4o do artigo 144 da Constituição Federal, verbis:"§ 4o 
às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia 
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da 
União, as funções de polícia judiciária e a apuração 
de infrações penais, exceto as militares."Tal norma 
constitucional, por fim, define, é certo, as funções das 
polícias civis, mas sem estabelecer qualquer cláusula 
de exclusividade. O exercício do poder investigatório 
do Ministério Público não é, por óbvio, estranho ao 
Direito, subordinando-se, à falta de norma legal par­
ticular, no que couber, analogicamente, ao Código de 
Processo Penal, sobretudo na perspectiva da proteção 
dos direitos fundamentais e da satisfação do interesse 
social, que, primeiro, impede a reprodução simultânea 
de investigações; segundo, determina o ajuizamento 
tempestivo dos feitos inquisitoriais e, por último, faz 
obrigatória oitiva do indiciado autor do crime e a ob ­
servância das normas legais relativas ao impedimento, 
à suspeição, e à prova e sua produção. De qualquer 
modo, não há confundir investigação criminal com 
os atos investigatório-inquisitoriais complementares 
de que trata o artigo 47 do Código de Processo Penal. 
"A participação de m em bro do Ministério Público 
na fase investigatória criminal não acarreta o seu 
impedimento ou suspeição para o oferecimento da 
denúncia."(Súmula do STJ, Enunciado n°234) Recurso 
parcialmente conhecido e improvido". (STJ, 6a Turma, 
REsp 332.172/ES, Rei. Min. Hamilton Carvalhido, Dje 
04/08/2008).
STJ: “(...) No caso em exame, é inquestionável o pre­
juízo acarretado pelas investigações realizadas em 
desconformidade com as normaslegais, e não con­
valescem, sob qualquer ângu lo que seja analisada 
a questão, porquanto é manifesta a nulidade das 
diligências perpetradas pelos agentes da ABIN e um 
ex-agente do SNI, ao arrepio da lei.
Insta assinalar, por oportuno, que o juiz deve estrita 
fidelidade à lei penal, dela não podendo se afastar a 
não ser que imprudentemente se arrisque a percorrer, 
de forma isolada, o caminho tortuoso da subjetividade 
que, não poucas vezes, desemboca na odiosa perda da 
imparcialidade. Ele não deve, jamais, perder de vista a 
importância da democracia e do Estado Democrático 
de Direito. Portanto, inexistem dúvidas de que tais
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
provas estão irremediavelmente maculadas, devendo 
ser consideradas ilícitas e inadmissíveis, circunstân­
cias que as tornam destituídas de qualquer eficácia 
jurídica, consoante entendimento já cristalizado pela 
doutrina pacífica e lastreado na torrencial jurispru­
dência dos nossos tribunais. Pelo exposto, concedo 
a ordem para anular, todas as provas produzidas, em 
especial a dos procedimentos n° 2007.61.81.010208-7 
(monitoramento telefônico), n° 2007.61.81.011419-3 
(monitoramento telefônico), e n° 2008.61.81.008291-3 
(ação controlada), e dos demais correlatos, anulando 
também, desde o início, a ação penal, na mesma es­
teira do bem elaborado parecer exarado pela douta 
Procuradoria da República". (STJ, 5aTurma, HC 149.250/ 
SP, Rei. Min. Adilson Vieira Macabu - Desembargador 
convocado doTJ/RJ -, j. 07/06/2011, DJe 05/09/2011).
6.2. Da atribuição em face da natureza 
da infração penal: estabelecida a distinção 
entre funções de polícia ostensiva, judiciária 
e investigativa, cumpre analisar a quem é atri­
buída a presidência do inquérito policial. Em 
regra, à autoridade policial, sendo a atribuição 
determinada, a princípio, pela natureza da 
infração penal praticada, valendo lembrar que 
eventual investigação policial em andamento 
somente poderá ser avocada ou redistribuída 
por superior hierárquico, mediante despacho 
fundamentado, por motivo de interesse pú­
blico ou nas hipóteses de inobservância dos 
procedimentos previstos em regulamento da 
corporação que prejudique a eficácia da inves­
tigação (Lei n. 12.830/13, art. 2o, §4°).
6.2.1. Crimes militares: em se tratando de 
crime militar, a atribuição para as investigações 
recai sobre a autoridade de polícia judiciária 
militar, a quem compete determinar a ins­
tauração de inquérito policial militar (IPM), 
seja no âmbito das Polícias Militares ou dos 
Corpos de Bombeiros, nos crimes da alçada 
da Justiça Militar Estadual, seja no âmbito do 
Exército, da Marinha ou da Aeronáutica, em 
relação aos crimes militares de competência da 
Justiça Militar da União. No caso de militares 
federais de corporações distintas, mas sujeitos 
à Justiça Militar da União (v.g., crime militar 
praticado em coautoria por um militar do 
Exército e outro da Aeronáutica), afigura-se 
possível uma interpretação extensiva do art. 
97, parágrafo único, do CPPM, concluindo-se, 
então, que a atribuição para a presidência do
IPM será determinada pela prevenção. Caso, 
todavia, o crime tenha sido cometido por um 
oficial da ativa do Exército e um soldado da 
Marinha, prevalece a atribuição da corporação 
à qual pertence o oficial da ativa, daí porque, 
nessa hipótese, o IPM deveria ser instaurado 
no âmbito do Exército.
6.2.2. Crimes da competência da Justiça 
Federal: no caso de infrações penais de com­
petência da Justiça Federal, a atribuição para a 
realização das investigações incide sobre a Po­
lícia Federal. Afinal, de acordo com o art. 144, 
§ 1 °, I, primeira parte, da Constituição Federal, 
à Polícia Federal incumbe a apuração de infra­
ções penais contra a ordem política e social ou 
em detrimento de bens, serviços e interesses 
da União ou de suas entidades autárquicas e 
empresas públicas. Ademais, de acordo com o 
art. 144, §1°, IV, da Carta Magna, cabe à Polícia 
Federal exercer, com exclusividade, as funções 
de polícia judiciária da União.
6.2.3. Crimes eleitorais: na hipótese de cri­
mes da competência da Justiça Eleitoral, a qual 
é tida como uma Justiça da União, a atribuição 
para a realização das investigações é, precipu- 
amente, da Polícia Federal. Todavia, como já 
se pronunciou o próprio Tribunal Superior 
Eleitoral, verificando-se a prática de crime 
eleitoral em município onde não haja órgão 
da Polícia Federal, nada impede que sua inves­
tigação seja levada a efeito pela Polícia Civil. 
Portanto, a atribuição legal da Polícia Federal 
para a instauração de inquéritos policiais de 
apuração da prática de crimes eleitorais não 
exclui a atribuição subsidiária da autoridade 
policial estadual, quando se verificar a ausência 
de órgão da Polícia Federal no local da prática 
delituosa.
♦ Jurisprudência selecionada:
TSE:"(...) Na investigação de crime eleitoral, não há 
óbice para a atuação da polícia estadual quando no 
local do crime não existir órgão da polícia federal. 
Ausência de constrangimento ilegal do paciente, em 
razão de oferecimento da denúncia, quando presentes 
a tipicidade da conduta e indícios de autoria. Não se 
presta o processo de habeas-corpus ao exame apro­
fundado das provas. Ordem denegada". (TSE, HC 439, 
Rei. Min. Carlos Mário da Silva Velloso, DJ 27/06/2003).
Art. 4oTlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL
6-2.4. Crimes da competência da Justiça 
Estadual: nesse caso, as investigações devem 
ser presididas, em regra, pela Polícia Civil. No 
entanto, por força da própria Constituição 
Federal, também é possível a atuação da Po­
lida Federal. Deveras, de acordo com o art. 
144, §1°, I, in fine, da Constituição Federal, à 
Polida Federal também incumbe a apuração de 
infrações penais cuja prática tenha repercussão 
interestadual ou internacional e exija repressão 
uniforme, segundo se dispuser em lei. A lei a 
que se refere o dispositivo é a Lei n. 10.446/02, 
ano art Io preceitua que, quando houver reper­
cussão interestadual ou internacional que exija 
repressão uniforme, poderá o Departamento 
de Polícia Federal do Ministério da Justiça, 
sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos 
de segurança pública arrolados no art. 144 da 
Constituição Federal, em especial das Polícias 
Militares e Civis dos Estados, proceder à inves­
tigação, dentre outras, das seguintes infrações 
penais: I - sequestro, cárcere privado e extorsão 
mediante sequestro, se o agente foi impelido 
por motivação política ou quando praticado em 
razão da função pública exercida pela vítima; 
II - formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII 
do art 4o da Lei n. 8.137/90); III - relativas à 
violação a direitos humanos, que a República 
Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir 
em decorrência de tratados internacionais de 
que seja parte; IV - furto, roubo ou receptação 
de cargas, inclusive bens e valores, transpor­
tadas em operação interestadual ou interna­
cional, quando houver indícios da atuação de 
quadrilha ou bando em mais de um Estado da 
Federação (de se notar que o antigo crime de 
quadrilha foi substituído pela Lei n. 12.850/13 
pelo novel delito de associação criminosa); V 
- falsificação, corrupção, adulteração ou alte­
ração de produto destinado a fins terapêuticos 
ou medicinais e venda, inclusive pela internet, 
depósito ou distribuição do produto falsificado, 
corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do 
Código Penal) - este inciso V foi incluído pela 
Lei n. 12.894/13; VI - furto, roubo ou dano con­
tra instituições financeiras, incluindo agências 
bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver 
indícios da atuação de associação criminosa em 
mais de um Estado da Federação (Incluído pela
Lei n. 13.124/15). Ademais, segundo o art. Io, 
parágrafo único, da Lei n. 10.446/02, verificada 
a repercussão interestadual ou internacional que 
exija repressão uniforme, o Departamento de 
Polícia Federal procederá à apuração de outros 
casos, desde que tal providência seja autorizada 
ou determinada pelo Ministro de Estadoda 
Justiça. Por fim, importante não perder de vista 
que, por força do art. 11 da Lei Antiterrorismo 
(Lei n. 13.260/16), a Polícia Federal também 
passou a ter atribuições investigatórias para 
apurar os delitos previstos no referido diploma 
normativo: terrorismo propriamente dito (art. 
2o), organização terrorista (art. 3o), preparação 
de terrorismo (art. 5o) e financiamento ao ter­
rorismo (art. 6o).
6.3. Da atribuição em face do local da 
consumação da infração penahvide comen­
tários ao art. 22 do CPP.
7. Instrumentos investigatórios diversos 
do inquérito policial: a atividade investigató- 
ria não é exclusiva da Polícia Judiciária. Com 
efeito, o próprio Código de Processo Penal, 
em seu art. 4o, parágrafo único, acentua que a 
atribuição para a apuração das infrações penais 
e de sua autoria não excluirá a de autoridades 
administrativas, a quem por lei seja cometida 
a mesma função.
7.1. Comissões Parlamentares de Inquérito 
(inquéritos parlamentares): de acordo com o 
art. 58, §3°, da Carta Magna, as comissões par­
lamentares de inquérito, que terão poderes de 
investigação próprios das autoridades judiciais, 
além de outros previstos nos regimentos das res­
pectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos 
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto 
ou separadamente, mediante requerimento de 
um terço de seus membros, para a apuração 
de fato determinado e por prazo certo, sendo 
suas conclusões, se for o caso, encaminhadas 
ao Ministério Público, para que promova a res­
ponsabilidade civil ou criminal dos infratores. 
As comissões parlamentares de inquérito são 
órgãos que instauram procedimento adminis­
trativo de feição política, de cunho meramente 
investigatório, semelhante ao inquérito poli­
cial e ao inquérito civil público. Diferenciam-
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
-se destes, no entanto, não só em virtude dos 
poderes de investigação de que são dotados 
seus membros, equiparados aos poderes de 
investigação dos juizes, como também pelo fato 
de as CPIs não assumirem, obrigatoriamente, 
natureza preparatória de ações judiciais. Não 
se destinam a apurar crimes nem a puni-los, o 
que é da competência dos Poderes Executivo e 
Judiciário; entretanto, se no curso de uma in­
vestigação, vem a deparar com fato criminoso, 
dele dará ciência ao Ministério Público, para 
os fins de direito, como qualquer autoridade, e 
mesmo como qualquer do povo. As Comissões 
Parlamentares de Inquérito não são dotadas 
de poderes gerais de investigação. Só podem 
investigar fatos precisos e determinados, mesmo 
que relacionados a particulares, porém desde 
que sejam de interesse público. Esses fatos espe­
cíficos podem ter qualquer natureza, inclusive 
criminosa, independentemente de quem esteja 
envolvido. Em relação aos poderes e limitações 
a que estão sujeitas às comissões parlamentares 
de inquérito, pode-se dizer que; a) a atuação das 
comissões parlamentares de inquérito está sujei­
ta à cláusula de reserva de jurisdição, segundo a 
qual, por expressa previsão constitucional, com­
pete exclusivamente aos órgãos do Poder Judici­
ário, com total exclusão de qualquer outro órgão 
estatal, a prática de determinadas restrições a 
direitos e garantias individuais: a.l) violação ao 
domicílio durante o dia (CF, art. 5o, inciso XI); 
a.2) prisão, salvo o flagrante delito (CF, art. 5o, 
inciso LXI); a.3) interceptação telefônica (CF, 
art. 5o, inciso XII); a.4) afastamento de sigilo de 
processos judiciais; b) o princípio constitucio­
nal da reserva de jurisdição não se estende ao 
tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, 
e por efeito de expressa autorização dada pela 
própria Constituição da República (CF, art. 58, 
§ 3o), assiste competência à Comissão Parla­
mentar de Inquérito, para decretar, sempre em 
ato necessariamente motivado, a excepcional 
ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas; 
c) uma comissão parlamentar de inquérito 
tem poderes para colher depoimentos, ouvir 
indiciados, inquirir testemunhas, notificando- 
-as a comparecer perante ela e a depor; d) se as 
comissões parlamentares de inquérito detêm o 
poder instrutório das autoridades judiciais - e
não maior que o dessas - a elas se poderão opor 
os mesmos limites formais e substancias opo- 
níveis aos juizes, dentre os quais os derivados 
das garantias constitucionais contra a autoin- 
criminação, que tem sua manifestação mais 
eloquente no direito ao silêncio dos acusados; 
e) não é dado a uma Comissão Parlamentar de 
Inquérito querer controlar a regularidade ou 
a legalidade de atos jurisdicionais, obrigando 
magistrado a dar, além daquelas que constam 
dos autos do processo judicial, outras razões 
de sua prática, ou a revelar as cobertas por 
segredo de justiça, sob pena de violação frontal 
ao princípio da separação e independência dos 
poderes; f) Comissão Parlamentar de Inquérito 
não tem competência para expedir decreto de 
indisponibilidade de bens de particular, que não 
é medida de instrução - a cujo âmbito se res­
tringem os poderes de autoridade judicial a elas 
conferidos no art. 58, § 3° - mas de provimento 
cautelar de eventual sentença futura, que só 
pode caber ao Juiz competente para proferi-la. 
As Casas Legislativas dos Estados-membros, do 
Distrito Federal e dos Municípios também são 
dotadas de função fiscalizadora, mas só poderão 
investigar os fatos que se inserirem no âmbito 
de suas respectivas competências legislativas e 
materiais. Daí porque concluiu o Supremo que, 
ainda que seja omissa a Lei Complementar n. 
105/01, é possível que uma CPI estadual deter­
mine a quebra de sigilo de dados bancários, com 
base no art. 58, § 3.°, da Constituição. Para além 
dos poderes investigatórios de que são dotadas 
as Comissões Parlamentares de inquérito, vale 
ressaltar que, segundo a súmula n. 397 do Su­
premo, “o poder de polícia da Câmara dos De­
putados e do Senado Federal, em caso de crime 
cometido nas suas dependências, compreende, 
consoante o regimento, a prisão em flagrante do 
acusado e a realização do inquérito”.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Com issão Parlamentar de Inquérito não tem 
poder jurídico de, mediante requisição, a operadoras 
de telefonia, de cópias de decisão nem de mandado 
judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo 
imposto a processo sujeito a segredo de justiça. Este 
é oponível a Com issão Parlamentar de Inquérito, re­
presentando expressiva limitação aos seus poderes
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
constitucionais". (STF, Pleno, M S 27.483 REF-MC/DF, Rei. 
V ivC e z a r Peluso, j. 14/08/2008, DJe 192 09/10/2008). 
STF;"(_) A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico 
oe qualquer pessoa sujeita a investigação legislativa 
pode ser legitim am ente decretada pela Com issão 
-aríamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal 
c^aça mediante deliberação adequadamente funda­
mentada e na qual indique a necessidade objetiva da 
aooção dessa medida extraordinária. (...) O princípio 
constitucional da reserva de jurisdição - que incide 
score as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5o, XI), 
de nrerceptação telefônica (CF, art. 5o, XII) e de decreta­
ção da prisão, ressalvada a situação de flagrância penal 
<F, art 5o, LXI) - não se estende ao tema da quebra de 
sáaflo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa 
autorização dada pela própria Constituição da Repú- 
cãca (CF, art 58, § 3o), assiste competência à Comissão 
^aríamentar de Inquérito, para decretar, sempre em ato 
necessariamente motivado, a excepcional ruptura des­
sa esfera de privacidade das pessoas. (...) O inquérito 
oadamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se 
com o procedimento jurídico-constitucional revestido 
de autonomia e dotado de finalidade própria, circuns­
tância esta que permite à Comissão legislativa - sem­
pre respeitados os limites inerentes à competência 
— aterial do Poder Legislativo e observados os fatos 
determinados que ditaram a sua constituição - pro­
mover a pertinente investigação, aindaque os atos 
investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre 
aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inqué­
ritos policiais ou a processos judiciais que guardem 
conexão com o evento principal objeto da apuração 
congressual. Doutrina". (STF, Pleno, M S 23.639/DF, Rei. 
V ia Celso de Mello, j. 16/11 /2000, D J 16/02/2001). Com 
entendimento semelhante: STF, Pleno, M S 23.652/DF, 
Rei. Min. Celso de Mello, DJ 16/02/2001.
ST F :'(...) A comissão parlamentar de inquérito, desti­
nada a investigar fatos relacionados com as atribuições 
congressuais, tem poderes imanentes ao natural exer­
cício de suas atribuições, como de colher depoimentos, 
ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as 
a comparecer perante ela e a depor; a este poder cor­
responde o dever de, comparecendo a pessoa perante 
a comissão, prestar-lhe depoimento, não podendo 
calar a verdade. Comete crime a testemunha que o 
fizer. A Constituição, art. 58, § 3o, a Lei 1579, art. 4o, 
e a jurisprudência são nesse sentido. Também pode 
requisitar docum entos e buscar todos os meios de 
provas legalmente admitidos. Ao poder de investigar 
corresponde, necessariamente, a posse dos meios 
coercitivos adequados para o bom desem penho de 
suas finalidades; eles são diretos, até onde se revelam 
eficazes, e indiretos, quando falharem aqueles, caso em 
que se servirá da colaboração do aparelho judiciário. 
Os poderes congressuais, de legislar e fiscalizar, hão 
de estar investidos dos meios apropriados e efica­
zes ao seu normal desempenho. (...) N inguém pode 
escusar-se de comparecer a com issão parlamentar
de inquérito para depor. N inguém pode recusar-se 
a depor. Contudo, a testemunha pode escusar-se a 
prestar depoim ento se este colidir com o dever de 
guardar sigilo. O sigilo profissional tem alcance geral e 
se aplica a qualquer juízo, cível, criminal, administrativo 
ou parlamentar. Não basta invocar sigilo profissional 
para que a pessoa fique isenta de prestar depoimento. 
É preciso haver um mínimo de credibilidade na alega­
ção e só a posteriori pode ser apreciado caso a caso. A 
testemunha, não pode prever todas as perguntas que 
lhe serão feitas. (...) Prisão decretada pelo presidente da 
CPI que extravasa claramente os limites legais."Habeas 
Corpus" concedido para cassar o decreto ilegal, sem 
prejuízo do dever de seu comparecimento à Comissão, 
para ser inquirido com o testemunha ou ouvido com o 
indiciado". (STF, Pleno, HC 71.039/RJ, Rei. Min. Paulo 
Brossard, j. 07/04/1994, DJ 06/12/1996).
STF:"(...) CPI: nemo tenetur se detegere: direito ao si­
lêncio. Se, conforme o art. 58, § 3o, da Constituição, as 
comissões parlamentares de inquérito detêm o poder 
instrutório das autoridades judiciais - e não maior que 
o dessas - a elas se poderão opor os mesmos limites 
formais e susbstanciais oponíveis aos juizes, dentre os 
quais os derivados das garantias constitucionais contra 
a auto-incriminação, que tem sua manifestação mais 
eloqüente no direito ao silêncio dos acusados. Não im­
porta que, na CPI - que tem poderes de instrução, mas 
nenhum poder de processar nem de julgar-a rigor não 
haja acusados: a garantia contra a auto-incriminação se 
estende a qualquer indagação por autoridade pública 
de cuja resposta possa advir à imputação ao dedarante 
da prática de crime, ainda que em procedimento eforo 
diversos. Se o objeto da CPI é mais amplo do que os 
fatos em relação aos quais o cidadão intimado a depor 
tem sido objeto de suspeitas, do direito ao silêncio não 
decorre o de recusar-se de logo a depor, mas sim o de 
não responder às perguntas cujas repostas entenda 
possam vir a incriminá-lo: liminar deferida para que, 
comparecendo à CPI, nesses termos, possa o paciente 
exercê-lo, sem novamente ser preso ou ameaçado de 
prisão. Habeas corpus prejudicado, uma vez observada 
a liminar na volta do paciente à CPI e já encerrados os 
trabalhos dessa". (STF, Pleno, HC 79.244/DF, Rei. Min. 
Sepúlveda Pertence, j. 23/02/2000, DJ 24/03/2000).
STF:"(...) Configura constrangimento ilegal, com evi­
dente ofensa ao princípio da separação dos Poderes, 
a convocação de m agistrado a fim de que preste 
depoimento em razão de decisões de conteúdo juris- 
dicional atinentes ao fato investigado pela Comissão 
Parlamentarde Inquérito. Precedentes. Habeas-corpus 
deferido". (STF, Pleno, HC 80.539/PA, Rei. Min. Maurício 
Corrêa,j.21/03/2001, DJ 01/08/2003).
STF:"(...) Incompetência da Com issão Parlamentar de 
Inquérito para expedir decreto de indisponibilidade de 
bens de particular, que não é medida de instrução - a 
cujo âmbito se restringem os poderes de autoridade 
judicial a elas conferidos no art. 58, § 3o - mas de pro­
vimento cautelar de eventual sentença futura, que só
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
pode caber ao Juiz competente para proferi-la. Quebra 
ou transferência de sigilos bancário, fiscal e de registros 
telefônicos que, ainda quando se admita, em tese, 
susceptível de ser objeto de decreto de CPI - porque 
não coberta pela reserva absoluta de jurisdição que 
resguarda outras garantias constitucionais -, há de ser 
adequadamente fundamentada: aplicação no exercí­
cio pela CPI dos poderes instrutórios das autoridades 
judiciárias da exigência de motivação do art. 93, IX, da 
Constituição da República. Sustados, pela concessão 
liminar, os efeitos da decisão questionada da CPI, a 
dissolução desta prejudica o pedido de mandado de 
segurança". (STF, Pleno, M S 23.466/DF, Rei. Min. Sepúl- 
veda Pertence, j. 04/05/2000, DJ 06/04/2001).
STF:"(...) Função fiscalizadora exercida pelo Poder 
Legislativo. Mecanismo essencial do sistema de checks- 
-and-counterchecks adotado pela Constituição federal 
de 1988. Vedação da utilização desse mecanismo de 
controle pelos órgãos legislativos dos estados-mem- 
bros. Impossibilidade. Violação do equilíbrio federativo 
e da separação de Poderes. Poderes de CPI estadual: 
ainda que seja omissa a Lei Complementar 105/2001, 
podem essas comissões estaduais requerer quebra de 
sigilo de dados bancários, com base no art. 58, § 3o, 
da Constituição. M andado de segurança conhecido e 
parcialmente provido". (STF, ACO 730/RJ, Pleno, rei. Min. 
Joaquim Barbosa, DJ 11.11.2005, p. 5).
7.2. Conselho de Controle de atividades fi­
nanceiras (COAF): foi criado pela Lei n. 9.613/98 
no âmbito do Ministério da Fazenda, com a 
finalidade de disciplinar, aplicar penas admi­
nistrativas, receber, examinar e identificar as 
ocorrências suspeitas de atividades ilícitas rela­
cionadas à lavagem de capitais, sem prejuízo da 
atribuição de outros órgãos e entidades. Tendo 
em conta que o processo de lavagem de capitais 
envolve, obrigatoriamente, a movimentação de 
bens, valores ou direitos, estabeleceram-se me­
canismos de controle dos registros de operações 
consideradas suspeitas. Determinou a Lei n. 
9.613/98, em seu art. 9o, as espécies de atividades 
sujeitas à fiscalização permanente por parte da 
correspondente pessoa jurídica ou física, que 
se vê obrigada a comunicar ao Conselho de 
Controle de Atividades Financeiras (COAF) 
a relação de operações suspeitas, de forma a 
viabilizar uma investigação mais detalhada. A 
maior parte dos encargos é dirigida às pessoas 
jurídicas que mantenham atividades ligadas aos 
sistemas financeiros e econômicos, compelindo- 
-as a identificar seus clientes, manter registros 
das operações com eles realizadas e comunicar
reservadamente as transações suspeitas que 
ultrapassem o valor-limite fixado pela autorida­
de. No entanto, o art. 9o também abarca outras 
instituições, e inclusive pessoas físicas (inciso 
XII acrescentado pela Lei 10.701/2003) que, 
por terem como atividade principal ou acessó­
ria, o giro de médias e grandes quantidades de 
dinheiro, podem ser utilizadas como canais para 
a lavagem de capitais. O art. 10 da Lei 9.613/98 
consagra a chamada política do knowyour costu- 
mer, uma das armas mais poderosas no combate 
à lavagem de capitais, segundo a qual é dever da 
instituição financeiraconhecer o perfil de seu 
correntista de forma que seja possível a defini­
ção de um padrão de movimentação financeira 
compatível com seus rendimentos declarados. 
Existindo incompatibilidade de movimentação, 
a notícia dessa operação suspeita deve ser enca­
minhada à autoridade administrativa responsá­
vel que adotará as providências cabíveis quanto à 
verificação da legalidade da operação. O COAF 
comunicará às autoridades competentes para a 
instauração dos procedimentos cabíveis, quando 
concluir pela existência de crimes previstos na 
Lei de lavagem de capitais, de fundados indícios 
de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.
7.3. Poder investigatório do Ministério Pú­
blico: grande parte da doutrina tem admitido 
a possibilidade de investigação pelo Ministério 
Público, sob os seguintes argumentos: 1) Não 
há falar em violação ao sistema acusatório, nem 
tampouco à paridade de armas, porquanto os 
elementos colhidos pelo Ministério Público 
terão o mesmo tratamento dispensado àqueles 
colhidos em investigações policias: serão de 
mera informação preliminar, apenas a servir de 
base para a denúncia, devendo ser ratificados 
judicialmente sob crivo do contraditório e da 
ampla defesa, para embasamento da eventual 
condenação de alguém; 2) Teoria dos poderes 
implícitos: segundo essa teoria, nascida na 
Suprema Corte dos EUA, no precedente Mc 
CulloCh vs. Maryland (1819), a Constituição, 
ao conceder uma atividade-fim a determinado 
órgão ou instituição, culmina por, implici­
tamente e simultaneamente, a ele também 
conceder todos os meios necessários para a 
consecução daquele objetivo. Portanto, se a 
última palavra acerca de um fato criminoso
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
cabe ao Ministério Público, porquanto é ele 
o titular da ação penal pública (CF, art. 129, 
inc. I), deve-se outorgar a ele todos os meios 
para firmar seu convencimento, aí incluída a 
possibilidade de realizar investigações crimi­
nais, sob pena de não se lhe garantir o meio 
idôneo para realizar a persecução criminal, ao 
menos em relação a certos tipos de delito; 3) 
A Constituição Federal confere à Polícia Fe­
deral a exclusividade do exercício das funções 
de Polícia Judiciária da União, mas fúnções 
de polícia judiciária não se confundem com 
funções de polícia investigativa. Por polícia 
investigativa compreendem-se as atribuições 
ligadas à colheita de elementos informativos 
quanto à autoria e materialidade das infrações 
penais. A expressão polícia judiciária está re­
lacionada às atribuições de auxiliar o Poder 
Judiciário, cumprindo as ordens judiciárias 
relativas à execução de mandado de prisão/ 
busca e apreensão, à condução coercitiva de 
testemunhas, etc. Apesar do teor do art. 4o do 
CPP, segundo o qual a polícia judiciária tem 
por objeto a apuração das infrações penais 
e da autoria, essa terminologia não foi re­
cepcionada pela Constituição Federal. Basta 
perceber que a própria Constituição Federal, 
ao se referir às atribuições da Polícia Federal, 
diferencia as funções de polícia investigativa 
(CF, art. 144, §1°, incisos I e II) das fúnções 
de polícia judiciária (CF, art. 144, §1°, inciso 
IV), o que também se dá quando se refere às 
polícias civis, às quais incumbem as funções 
de polícia judiciária e a apuração de infrações 
penais. Portanto, estabelecida a distinção en­
tre fúnções de polícia judiciária e funções de 
polícia investigativa, fica claro que apenas a 
primeira foi conferida com exclusividade à 
Polícia Federal e à Polícia Civil. As atribuições 
investigatórias, todavia, poderão ser exerci­
das por outras autoridades administrativas, a 
quem por lei seja cometida a mesma função, 
tal qual dispõe o art. 4o, parágrafo único, do 
CPP; 4) A possibilidade de o Ministério Pú­
blico investigar pode ser extraída de diversos 
dispositivos constitucionais e legais. No âmbito 
da Constituição Federal, além da titularidade 
da ação penal pública (art. 129,1), convém res­
saltar que também se estabelece como função
institucional do Ministério Público expedir 
notificações nos procedimentos administra­
tivos de sua competência, requisitando infor­
mações e documentos para instruí-los, assim 
como requisitar diligências investigatórias e a 
instauração de inquérito policial, indicados os 
fundamentos jurídicos de suas manifestações 
processuais (art. 129, VI e VIII). Por sua vez, 
a Lei Complementar n. 75/93, nos arts. 7o e 8o, 
enumera diversas atribuições do Ministério 
Público da União, destacando-se, dentre elas, 
a possibilidade de instaurar inquérito civil e 
outros procedimentos administrativos corre- 
latos, requisitar diligências investigatórias e a 
instauração de inquérito policial e de inqué­
rito policial militar, podendo acompanhá-los 
e apresentar provas, requisitar à autoridade 
competente a instauração de procedimentos 
administrativos, notificar testemunhas e re­
quisitar sua condução coercitiva, no caso de 
ausência injustificada, requisitar informações, 
exames, perícias e documentos de autoridades 
da Administração Pública direta ou indireta, 
requisitar da Administração Pública servi­
ços temporários de seus servidores e meios 
materiais necessários para a realização de ati­
vidades específicas, requisitar informações 
e documentos a entidades privadas, realizar 
inspeções e diligências investigatórias, etc. No 
mesmo rumo, a Lei da Ação Civil Pública (Lei 
n. 7.347/85) prevê que o Ministério Público 
poderá instaurar, sob sua presidência, inqué­
rito civil, ou requisitar, de qualquer organismo 
público ou particular, certidões, informações, 
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o 
qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias 
úteis. De seu turno, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente dispõe que compete ao Ministério 
Público instaurar sindicâncias, requisitar dili­
gências investigatórias e determinar a instau­
ração de inquérito policial, para apuração de 
ilícitos ou infrações às normas de proteção à 
infância e à juventude (Lei n. 8.069/90, art. 201, 
VII). Dispositivo semelhante a este também 
pode ser encontrado no Estatuto do Idoso (Lei 
n. 10.741/03, art. 74). Em julgamento histórico 
ocorrido em data de 14 de maio de 2015 (RE 
593.727), o Plenário do Supremo reconheceu, 
enfim, que o Ministério Público dispõe de
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
competência para promover, por autoridade 
própria, e por prazo razoável, investigações de 
natureza penal, desde que respeitados os direi­
tos e garantias que assistem a qualquer indicia­
do ou a qualquer pessoa sob investigação do 
Estado, observadas, sempre, por seus agentes, 
as hipóteses de reserva constitucional de juris­
dição e, também, as prerrogativas profissionais 
de que se acham investidos, em nosso País, 
os advogados, sem prejuízo da possibilidade 
- sempre presente no Estado democrático de 
Direito - do permanente controle jurisdicio- 
nal dos atos, necessariamente documentados 
(Enunciado 14 da Súmula Vinculante), prati­
cados pelos membros do Parquet. Nesse caso, 
é imperioso observar: a) ritos claros quanto à 
pertinência do sujeito investigado; b) forma­
lização do ato investigativo; c) comunicação 
imediata ao Procurador-Chefe ou ao Procura­
dor-Geral; d) autuação, numeração, controle, 
distribuição e publicidade dos atos; e) pleno 
conhecimento da atividade de investigação à 
parte; f) princípios e regras que orientariam o 
inquérito e os procedimentos administrativos 
sancionatórios; g) ampla defesa, contraditório, 
prazo para a conclusão e controle judicial. A 
função investigatória do Ministério Público 
não se convertería em atividade ordinária, 
mas excepcional a legitimar a sua atuação em 
casos de abuso de autoridade, prática de delito 
por policiais, crimes contra a Administração 
Pública, inércia dos organismos policiais, ou 
procrastinação indevida no desempenho de 
investigação penal, situações que exemplificati- 
vamente justificariam a intervenção subsidiária 
do órgão ministerial.
4- Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Poderes deinvestigação do Ministério Pú­
blico. Os artigos 5o, incisos LIV e LV, 129, incisos III 
e VIII, e 144, inciso IV, § 4o, da Constituição Federal, 
não tornam a investigação criminal exclusividade 
da polícia, nem afastam os poderes de investigação 
do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral, 
tese assim sum ulada:"0 Ministério Público dispõe de 
competência para promover, por autoridade própria, 
e por prazo razoável, investigações de natureza penal, 
desde que respeitados os direitos e garantias que 
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa 
sob investigação do Estado, observadas, sempre, por 
seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional
de jurisdição e, também, as prerrogativas profissio­
nais de que se acham investidos, em nosso País, os 
Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7o, notadamente os 
incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da pos­
sibilidade - sempre presente no Estado democrático 
de Direito - do permanente controle jurisdicional dos 
atos, necessariamente documentados (Súmula Vincu­
lante 14), praticados pelos membros dessa instituição". 
Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade 
de prefeito. Deixar de cumprir ordem judicial (art. I o, 
inciso XIV, do Decreto-Lei n° 201/67). Procedimento 
instaurado pelo Ministério Público a partir de docu­
mentos oriundos de autos de processo judicial e de 
precatório, para colher informações do próprio suspei­
to, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato 
imputado. Ausência de vício. Negado provimento ao 
recurso extraordinário. Maioria". (STF, Pleno, RE 593.727, 
Rei. Min. Gilmar Mendes, j. 14 de maio de 2015, DJe 175 
4 de setembro de 2015).
STJ:"(...) Na esteira de precedentes desta Corte, mal­
grado seja defeso ao Ministério Público presidir o 
inquérito policial propriamente dito, não lhe é vedado, 
com o titular da ação penal, proceder investigações. 
A ordem jurídica, aliás, confere explicitamente po ­
deres de investigação ao M inistério Público - art. 
129, incisos VI, VIII, da Constituição Federal, e art. 8o, 
incisos II e IV, e § 2°, e art. 26 da Lei n° 8.625/1993 
(Precedentes). Por outro lado, o inquérito policial, por 
ser peça meramente informativa, não é pressuposto 
necessário à propositura da ação penal, podendo essa 
ser embasada em outros elementos hábeis a formar a 
opinio delicti de seu titular. Se até o particular pode 
juntar peças, obter declarações, etc., é evidente que 
o Parquet também pode. Além do mais, até mesmo 
uma investigação administrativa pode, eventualmente, 
supedanear uma denúncia. Writ conhecido em parte 
e, nesta parte, denegado". (STJ, 5a Turma, HC 47.752/ 
PE, Rei. Min. Felix Fischer, DJ 06/03/2006).
STF:"(...) Sendo o paciente membro do Ministério Pú­
blico Estadual, a investigação pelo seu envolvimento 
em suposta prática de crime não é atribuição da polícia 
judiciária, mas do Procurador-Geral de Justiça [artigo 
18, parágrafo único, da LC 73/95 e artigo 41, parágrafo 
único, da Lei n. 8.625/93]. (...) Ordem denegada". (STF, 2a 
Turma, HC 93.224/SP, Rei. Min. Eras Grau, j. 13/05/2008, 
DJe 167 04/09/2008).
STF:"(...) É perfeitamente possível que o órgão do M i­
nistério Público promova a colheita de determinados 
elementos de prova que demonstrem a existência da 
autoria e da materialidade de determinado delito. Tal 
conclusão não significa retirar da Polícia Judiciária as 
atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas 
harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) 
de m odo a compatibilizá-las para permitir não apenas 
a correta e regular apuração dos fatos supostamente 
delituosos, mas também a formação da opinio delicti. 
O art. 129, inciso I, da Constituição Federal, atribui ao 
parquet a privatividade na promoção da ação penal
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL j 4 0
n.irwca- Do seu turno, o Cód igo de Processo Penal 
S3c>5-«sce que o inquérito policial é dispensável, já 
xue o Mnistério Público pode embasar seu pedido em 
aec2s de informação que concretizem justa causa para 
x x r x n õ a . Ora, é princípio basilar da hermenêutica 
c ir-g r n jõona l o dos "poderes implícitos", segundo 
r 3 -at. quando a Constituição Federal concede os 
ir s . da os meios. Se a atividade fim - promoção da 
sçsc penal pública - foi outorgada ao parquet em 
fe n x privatividade, não se concebe com o não lhe 
oportim zar a colheita de prova para tanto, já que o 
C * autoriza que 'peças de informação" embasem a 
aerúnda- Cabe ressaltar, que, no presente caso, os 
ae itas descritos na denúncia teriam sido praticados 
ocr pcfidais, o que, também, justifica a colheita dos 
a e so mentos das vítimas pelo Ministério Público. Ante 
e exposto, denego a ordem de habeas corpus". (STF, 2a 
~ j~ -a. HC 91.661, Rei. Min. Ellen Gracie, j. 10/03/2009, 
ZJe 54 02/04/2009).
STFrtj a outorga constitucional de funções de polícia 
c o c a r ia á instituição policial não impede nem exclui 
* pcsibtlidade de o Ministério Público, que é o"dom i- 
•ls rcs", determinar a abertura de inquéritos policiais, 
•eousítar esclarecimentos e diligências investigatórias, 
es2r presente e acompanhar, junto a órgãos e agentes 
ooicars, quaisquer atos de investigação penal, mesmo 
aoueíes sob regime de sigilo, sem prejuízo de outras 
r e í d a s que lhe pareçam indispensáveis à formação 
pa sua ‘opinio delicti", sendo-lhe vedado, no entanto, 
ass-m íra presidência do inquérito policial, que traduz 
a rcu íç ã o privativa da autoridade policial. (...) Ainda 
que imexista qualquer investigação penal promovida 
p ea Policia Judiciária, o Ministério Público, m esmo 
assim, pode fazer instaurar, validamente, a pertinente 
'persecutio criminis in judicio", desde que disponha, 
para tanto, de elementos m ínim os de informação, 
pj-dados em base empírica idônea, que o habilitem 
a deduzir, perante juizes eTribunais, a acusação penal. 
U A cláusula de exclusividade inscrita no art. 144, § 1 °, 
rc iso IV, da Constituição da República - que não inibe a 
sãridade de investigação criminal do Ministério Públi­
co - tem por única finalidade conferir à Polícia Federal, 
dentre os diversos organismos policiais que compõem 
o aparato repressivo da União Federal (polícia federal, 
policia rodoviária federal e polícia ferroviária federal), 
primazia investigatória na apuração dos crimes pre­
vistos no próprio texto da Lei Fundamental ou, ainda, 
em tratados ou convenções internacionais. - Incumbe, 
à Polícia Civil dos Estados-m em bros e do Distrito 
Federal, ressalvada a competência da União Federal e 
excetuada a apuração dos crimes militares, a função 
de proceder à investigação dos ilícitos penais (crimes e 
contravenções), sem prejuízo do poder investigatório 
de que dispõe, como atividade subsidiária, o Ministério 
Público. - Função de polícia judiciária e função de in­
vestigação penal: uma distinção conceituai relevante, 
que também justifica o reconhecimento, ao Ministério 
Público, do poder investigatório em matéria penal. (...)
O poder de investigar compõe, em sede penal, o com ­
plexo de funções institucionais do Ministério Público, 
que dispõe, na condição de"dom inus litis"e, também, 
com o expressão de sua competência para exercer o 
controle externo da atividade policial, da atribuição 
de fazer instaurar, ainda que em caráter subsidiário, 
mas por autoridade própria e sob sua direção, proce­
dimentos de investigação penal destinados a viabilizar 
a obtenção de dados informativos, de subsídios proba­
tórios e de elementos de convicção que lhe permitam 
formar a"opinio delicti", em ordem a propiciar eventual 
ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. (...) O 
Ministério Público, sem prejuízo da fiscalização intra- 
-orgânica e daquela desem penhada pelo Conselho 
Nacional do Ministério Público, está permanentemente 
sujeito ao controle jurisdicional dos atos que pratique 
no âm bito das investigações penais que promova 
"ex própria auctoritate", não podendo, dentre outras 
limitações de ordem jurídica, desrespeitar o direitodo investigado ao silêncio ("nemo tenetur se dete- 
gere"), nem lhe ordenar a condução coercitiva, nem 
constrangê-lo a produzir prova contra si próprio, nem 
lhe recusar o conhecimento das razões motivadoras 
do procedimento investigatório, nem submetê-lo a 
medidas sujeitas à reserva constitucional de jurisdição, 
nem impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advogado, 
nem impor, a este, indevidas restrições ao regular 
desempenho de suas prerrogativas profissionais (Lei 
n° 8.906/94, art. 7°, v.g.). - O procedimento investiga­
tório instaurado pelo Ministério Público deverá conter 
todas as peças, termos de declarações ou depoimen­
tos, laudos periciais e demais subsídios probatórios 
coligidos no curso da investigação, não podendo, o 
"Parquet", sonegar, selecionar ou deixar de juntar, aos 
autos, quaisquer desses elementos de informação, 
cujo conteúdo, por referir-se ao objeto da apuração 
penal, deve ser tornado acessível tanto à pessoa sob 
investigação quanto ao seu Advogado. O regime de 
sigilo, sempre excepcional, eventualmente prevale- 
cente no contexto de investigação penal promovida 
pelo Ministério Público, não se revelará oponível ao 
investigado e ao Advogado por este constituído, que 
terão direito de acesso - considerado o princípio da 
comunhão das provas - a todos os elementos de infor­
mação que já tenham sido formalmente incorporados 
aos autos do respectivo procedimento investigatório". 
(STF, 2aTurma, HC 89.837/DF, Rei. Min. Celso de Mello, 
j. 20/10/2009, DJe 20/11/2009).
7.3.1. Procedimento investigatório cri­
minal: firmada a possibilidade de o Ministé­
rio Público presidir investigações criminais, 
e tendo em conta que o órgão do Ministério 
Público não pode presidir inquéritos policiais, 
discute-se acerca do instrumento a ser utilizado 
para a realização das investigações pelo órgão 
ministerial. O meio a ser usado pelo Parquet
Art. 4o v CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
para a realização das investigações é o proce­
dimento investigatório criminal (PIC), o qual 
não exclui a possibilidade de formalização de 
investigação por outros órgãos legitimados da 
Administração Pública. Consiste o procedi­
mento investigatório criminal no instrumento 
de natureza administrativa e inquisitorial, ins­
taurado e presidido por um membro do MP, 
com atribuição criminal, e terá como finalidade 
apurar a ocorrência de infrações penais, de 
natureza pública, fornecendo elementos para 
o oferecimento ou não da denúncia, estando 
regulamentado pela Resolução n. 13 do Con­
selho Nacional do Ministério Público. Esse 
procedimento poderá ser instaurado de ofício, 
por membro do Ministério Público, no âmbito 
de suas atribuições criminais, ao tomar conhe­
cimento de infração penal, por qualquer meio, 
ainda que informal, ou mediante provocação. 
Também poderá ser instaurado por grupo de 
atuação especial composto por membros do 
Ministério Público. Essa instauração deve se 
dar por portaria fundamentada, devidamente 
registrada e autuada, com a indicação dos fatos 
a serem investigados e deverá conter, sempre 
que possível, o nome e a qualificação do autor 
da representação e a determinação das dili­
gências iniciais. A par de outras providências 
que poderão ser adotadas, na condução das 
investigações, o órgão do Ministério Públi­
co poderá: I - fazer ou determinar vistorias, 
inspeções e quaisquer outras diligências; II
- requisitar informações, exames, perícias e 
documentos de autoridades, órgãos e entidades 
da Administração Pública direta e indireta, da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios; III - requisitar informações e do­
cumentos de entidades privadas, inclusive de 
natureza cadastral; IV - notificar testemunhas 
e vítimas e requisitar sua condução coercitiva, 
nos casos de ausência injustificada, ressalva­
das as prerrogativas legais; V - acompanhar 
buscas e apreensões deferidas pela autoridade 
judiciária; VI - acompanhar cumprimento de 
mandados de prisão preventiva ou temporária 
deferidas pela autoridade judiciária; VII - expe­
dir notificações e intimações necessárias; VIII
- realizar oitivas para colheita de informações 
e esclarecimentos; IX - ter acesso incondicional
a qualquer banco de dados de caráter público 
ou relativo a serviço de relevância pública; X - 
requisitar auxilio de força policial. O prazo para 
a conclusão desse procedimento investigatório 
criminal é de 90 (noventa) dias, sendo permiti­
das, por igual período, sucessivas prorrogações, 
por decisão fundamentada do Ministério Pú­
blico responsável pela sua condução. Quanto 
à conclusão deste procedimento investigatório 
criminal, são 3 (três) as providências que pode­
rão ser adotadas pelo órgão ministerial, a saber: 
a) oferecimento de denúncia; b) declinação das 
atribuições para atuar em favor de outro órgão 
do Ministério Público; c) arquivamento dos 
autos, caso o membro do Ministério Público 
se convença da inexistência de fundamento 
para o oferecimento de denúncia, devendo 
essa promoção ser apresentada ao juízo com­
petente, nos moldes do art. 28 do CPP, ou ao 
órgão superior interno responsável por sua 
apreciação (Procurador-Geral de Justiça, no 
âmbito do Ministério Público dos Estados ou 
Câmara de Coordenação e Revisão, no âmbito 
do Ministério Público Federal). Admitida a 
possibilidade de o Ministério Público presidir 
investigações criminais através do procedi­
mento investigatório criminal, é certo dizer 
que, da mesma forma que se assegura ao ad­
vogado acesso aos autos do inquérito policial, 
também se deve a ele assegurar o acesso aos 
autos desse procedimento, sob pena de violação 
ao preceito do art. 5o, LXIII, da Constituição 
Federal. Dentre outras limitações, não pode 
o Ministério Público desrespeitar o direito do 
investigado ao silêncio (nemo tenetur se dete- 
gere), nem lhe ordenar a condução coercitiva, 
nem constrangê-lo a produzir prova contra si 
próprio, nem lhe recusar o conhecimento das 
razões motivadoras do procedimento inves­
tigatório, nem submetê-lo a medidas sujeitas 
à reserva constitucional de jurisdição, nem 
impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advo­
gado, nem impor, a este, indevidas restrições 
ao regular desempenho de suas prerrogativas 
profissionais. O Ministério Público também 
não está autorizado a requisitar documentos 
fiscais e bancários sigilosos diretamente ao 
Fisco e às instituições financeiras, sob pena de 
violar os direitos e garantias constitucionais de
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 4o
intimidade da vida privada dos cidadãos, já que 
tal medida somente é válida quando precedida 
da devida autorização judicial.
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ: "(...) Considerando o artigo 129, inciso VI, da 
Constituição Federal, e o artigo 8o, incisos II, IV e § 2°, 
da Lei Complementar 75/1993, há quem sustente ser 
possível ao Ministério Público requerer, diretamente, 
sem prévia autorização judicial, a quebra de sigilo 
bancário ou fiscal. No entanto, numa interpretação 
consentânea com o Estado Democrático de Direito, 
esta concepção não se mostra a mais acertada, uma 
vez que o M inistério Público é parte no processo 
penal, e embora seja entidade vocacionada à defesa 
da ordem jurídica, representando a sociedade com o 
um todo, não atua de forma totalmente imparcial, 
ou seja, não possui a necessária isenção para decidir 
sobre a imprescindibilidade ou não da medida que 
excepciona os sigilos fiscal e bancário. A mesma Lei 
Complementar 75/1993 - apontada por alguns como 
a fonte da legitimação para a requisição direta pelo 
Ministério Público de informações contidas na esfera 
de privacidade dos cidadãos - dispõe, na alínea "a" do 
inciso XVIII do artigo 6o, competir ao órgão ministerial 
representar pela quebra do sigilo de dados. O sigilo 
fiscal se insere no direito à privacidade protegido 
constitucionalmente nos incisos X e XII do artigo 5o 
da Carta Federal, cuja quebra configura restrição a 
uma liberdade pública, razão pela qual, para que se 
mostre legítima, se exigea demonstração ao Poder 
Judiciário da existência de fundados e excepcionais 
motivos que justifiquem a sua adoção. É evidente a 
ilicitude da requisição feita diretamente pelo órgão 
ministerial à Secretaria de Receita Federal, por meio 
da qual foram encaminhadas cópias das declarações 
de rendimentos do paciente e dos demais investiga­
dos no feito. (...) Ordem concedida para determinar o 
desentranhamento das provas decorrentes da quebra 
do sigilo fiscal realizada pelo Ministério Público sem 
autorização judicial, cabendo ao magistrado de ori­
gem verificar quais outros elementos de convicção e 
decisões proferidas na ação penal em tela e na medida 
cautelar de sequestro estão contaminados pela ilicitu­
de ora reconhecida". (STJ, 5aTurma, H C 160.646/SP, Rei. 
Min. Jorge Mussi,j. 1°/9/2011).
7.4. Inquérito civil: dentre as funções insti­
tucionais do Ministério Público está a de pro­
mover o inquérito civil e a ação civil pública, 
para a proteção do patrimônio público e so­
cial, do meio ambiente e de outros interesses 
difusos e coletivos (CF, art. 129). Daí dispor o 
art. 8o, §1°, da Lei da Ação Civil Pública (Lei 
n. 7.347/85), que o Ministério Público poderá
instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, 
ou requisitar, de qualquer organismo publico 
ou particular, certidões, informações, exames 
ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não 
poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. Fun­
ciona como um procedimento de natureza 
administrativa (não jurisdicional), de caráter 
pré-processual, não obrigatório, presidido 
pelo representante do Ministério Público, que 
se destina à colheita de elementos prévios e 
indispensáveis ao exercício responsável da 
ação civil pública. São duas as finalidades do 
inquérito civil: a) possibilitar a obtenção de 
dados e elementos visando instruir eventual 
ação civil pública; b) evitar o ajuizamento 
de demandas sem qualquer embasamento 
fático e/ou jurídico. Como destacam Fredie 
Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. (Curso de direito 
processual civil: processo coletivo. Volume 4 .3a 
edição. Salvador: Editora Juspodivm, 2008, p. 
242-243), diferencia-se do inquérito policial 
pelos seguintes motivos: a) o inquérito civil se 
destina precipuamente para a área cível lato 
sensu, enquanto o inquérito policial volta-se 
sempre para a área criminal; b) no inquéri­
to civil é o próprio Ministério Público que 
preside as investigações, enquanto que, no 
inquérito policial, em geral, é a polícia que 
atua no inquérito; c) no inquérito civil o ar­
quivamento é controlado pelo próprio Minis­
tério Público, que determina o arquivamento 
(com obrigatória remessa de ofício para o 
Conselho Superior do Ministério Público); no 
inquérito policial, o controle do arquivamen­
to é efetuado pelo juiz, o MP apenas requer 
o arquivamento (art. 28 do CPP). Apesar 
de o inquérito civil não estar direcionado a 
investigações criminais, descobertos dados 
relativos à determinada infração penal (v.g., 
crimes contra o meio ambiente), nada impede 
que o órgão do Ministério Público ofereça 
denúncia com amparo em tais elementos.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Denúncia oferecida com base em elementos 
colhidos no bojo de Inquérito Civil Público destinado 
à apuração de danos ao meio ambiente. Viabilidade. 
O Ministério Público pode oferecer denúncia inde­
pendentemente de investigação policial, desde que 
possua os elementos mínimos de convicção quanto
Art. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de L ima
à materialidade e aos indícios de autoria, com o no 
caso (artigo 46, §1°, do CPP). Recurso a que se nega 
provimento". (STF, 2a Turma, RE 464.893/GO, Rei. Min. 
Joaquim Barbosa, j. 20/05/2008, DJe 31/07/2008).
7.5. Termo circunstanciado de ocorrên­
cia: se o processo perante o Juizado Especial 
se orienta pelos critérios da informalidade, 
economia processual e celeridade, nada mais 
lógico do que se prever a substituição do auto 
de prisão em flagrante e do inquérito policial 
pela inicial lavratura de termo circunstanciado 
a respeito da ocorrência de infração de menor 
potencial ofensivo, a cargo da autoridade poli­
cial. Portanto, no âmbito do Juizado Especial 
Criminal, não há necessidade de instauração 
de inquéritos policiais, pelo menos em regra. 
Prevê o art. 69, da Lei n. 9.099/95, que a au­
toridade policial que tomar conhecimento da 
ocorrência lavrará termo circunstanciado e o 
encaminhará imediatamente ao Juizado, com 
o autor do fato e a vítima, providenciando as 
requisições dos exames periciais necessários. 
O inquérito policial, portanto, se vê substitu­
ído pela elaboração de um relatório sumário, 
contendo a identificação das partes envolvidas, 
a menção à infração praticada, bem como 
todos os dados básicos e fundamentais que 
possibilitem a perfeita individualização dos 
fatos, a indicação das provas, com o rol de 
testemunhas, quando houver, e, se possível, um 
croqui, na hipótese de acidente de trânsito. Tal 
documento é denominado termo circunstan­
ciado. Apesar de assemelhar-se a um boletim 
de ocorrência em virtude da simplicidade de 
sua elaboração, o termo circunstanciado dele 
se diferencia porque, com os elementos que o 
instruem, constitui a própria informatio delicti, 
ou seja, o instrumento necessário destinado a 
fornecer elementos de informação para que o 
titular da ação penal possa ingressar em juízo. 
Apesar de ter sido lavrado termo circuns­
tanciado, nada impede que, posteriormente, 
seja determinada a instauração de inquérito 
policial para apuração da mesma conduta deli­
tuosa. Basta supor hipótese em que a transação 
penal não tenha sido celebrada, cuidando-se 
de caso complexo que demande a realização de 
várias diligências complementares. Além dessa 
hipótese, caso haja conexão ou continência
de infração de menor potencial ofensivo com 
infração que não o seja, deve ser determinada 
a instauração de inquérito policial para apurar 
ambos os delitos, aplicando-se, por analogia, 
o quanto disposto no art. 60, parágrafo único, 
da Lei n. 9.099/95.
7.5.1. Atribuição para a lavratura: quanto 
à atribuição para a lavratura dessa peça de 
informação, é evidente que o particular não 
pode elaborar um termo circunstanciado, já 
que o art. 69, caput, da Lei n. 9.099/95, faz 
expressa menção à autoridade policial. Po­
rém, muito se discute acerca da autoridade 
policial que teria legitimidade para tanto. Na 
doutrina, ainda prevalece o entendimento de 
que, cuidando-se de procedimento de caráter 
investigatório, sua realização só pode ficar a 
cargo da autoridade de polícia investigativa (ou 
polícia judiciária, como prefere a maioria da 
doutrina) - Polícia Federal e Polícias Civis - , 
nos termos do art. 144, §1°, I, e §4°, da Cons­
tituição Federal. Afinal, somente o Delegado 
de Polícia possui, em tese, formação técnica 
profissional para classificar infrações penais, 
requisito indispensável para que o ilícito seja 
incluído (ou não) como infração de menor 
potencial ofensivo. Logo, a Polícia Militar 
não pode lavrar termo circunstanciado, pois 
tal função não está inserida dentre aquelas 
inerentes ao policiamento ostensivo e à preser­
vação da ordem pública. A despeito da posição 
majoritária da doutrina, preferimos entender 
que, em razão da baixa complexidade da peça, 
nada impede que sua lavratura fique a cargo 
da Polícia Militar. Na expressão autoridade 
policial constante do caput do art. 69 da Lei n. 
9.099/95 estão compreendidos todos os órgãos 
encarregados da segurança pública, na forma 
do art. 144 da Constituição Federal, aí incluí­
dos não apenas as polícias federal e civil, com 
função institucional de polícia investigativa da 
União e dos Estados, respectivamente, como 
também a polícia rodoviária federal, a polícia 
ferroviária federal e as polícias militares. O 
art. 69, caput, da Lei n. 9.099/95, refere-se, 
portanto, a todos os órgãos encarregados pela 
Constituição Federal da defesa da segurança 
pública, para que exerçam plenamente sua 
função de restabelecer a ordem e garantir a
TlTULO II• DO INQUÉRITO POLICIAL , /^r j < 40
boa execução da administração, bem como do 
mandamento constitucional de preservação 
da ordem pública. Somente essa interpretação 
está de acordo com os princípios da celeridade 
e da informalidade. Afinal, não faz sentido que 
o policial militar se veja obrigado a se deslocar 
até o distrito policial para que o delegado de 
polícia subscreva o termo ou lavre outro idên­
tico, até porque se trata de peça meramente 
informativa, cujos eventuais vícios em nada 
anulam o procedimento judicial.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) POLÍCIA MILITAR. ATRIBUIÇÃO PARA LAVRAR 
TERMO CIRCUNSTANCIADO. LEI 9.099/95. ATIVIDADE 
DE POLÍCIA JUDICIÁRIA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM 
HARMONIA CO M O ENTENDIMENTO DO SUPREMO. (...) 
O controle de constitucionalidade da Lei n° 3.514/10 foi 
realizado pelo Colegiado a quo tendo como parâmetro 
as normas dos artigos 115 e 116 da Constituição do Es­
tado do Amazonas que, por sua vez, repetem as regras 
estabelecidas no artigo 144 da Constituição Federal, 
razão porque não há se falar em ilegalidade, mas sim 
em inconstitucionalidade. Agravo Regimental a que se 
nega provimento". (STF, 1 aTurma, RE 702.617 AgR/AM, 
Rei. Min. Luiz Fux, j. 26/02/2013, DJe 54 20/03/2013).
STJ:"(...) Nos casos de prática de infração penal de 
menor potencial ofensivo, a providência prevista no 
art. 69 da Lei 9.099/95 é da competência da autoridade 
policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade 
a circunstância de utilizar o Estado o contingente da 
Polícia Militar, em face da deficiência dos quadros da 
Polícia Civil". (STJ, 6a Turma, HC 7.199/PR, Rei. Min. 
Vicente Leal, j. 01/07/1998, DJ 28/09/1998 p. 115).
7.6. Investigação criminal pela autori­
dade judiciária: em um sistema acusatório 
como o nosso, especial atenção deve ser dis­
pensada à (im) possibilidade de a investigação 
criminal ser presidida pela própria autoridade 
judiciária.
7.6.1. Inquérito judicial: estava previsto na 
antiga Lei de Falência (Dec.-lei n° 7.661/45, 
arts. 103 e seguintes), funcionando como um 
procedimento preparatório para a ação penal, 
presidido por um juiz de direito, no qual era 
assegurado o contraditório e a ampla defesa. 
A nova lei de falências (Lei n. 11.101/05), 
no entanto, além de revogar o diploma ante­
rior, não tratou do assunto, razão pela qual se 
conclui que já não existe mais o denomina­
do inquérito judicial. Atualmente, se houver 
prova da ocorrência de crime falimentar, o 
Ministério Público deve apresentar denúncia, 
se possuir elementos para tanto, ou requisitar 
a instauração de inquérito policial, nos termos 
do art. 187, caput, da Lei n. 11.101/05.0 novo 
regramento vem ao encontro do sistema acu­
satório, impondo ao juiz um distanciamento 
das funções investigatórias, reservando-lhe 
o papel de acudir à fase preliminar apenas 
quando necessário para a tutela das liberdades 
fundamentais.
7.6.2. Revogada Lei das organizações 
criminosas: quando entrou em vigor, a Lei n. 
9.034/95 (hoje revogada expressamente pela 
Lei n. 12.850/13) previa em seu art. 3o que a 
quebra do sigilo de dados fiscais, bancários, 
financeiros e eleitorais podería ser decretada 
de ofício pelo juiz, ainda na fa se investigató- 
ria. Referido dispositivo foi alvo de duras 
críticas por parte da doutrina, por possibili­
tar que o magistrado passasse a agir na fase 
investigatória (juiz inquisidor), auxiliando o 
trabalho investigatório da Polícia Judiciária 
e do Ministério Público, o que caracterizava 
evidente violação ao sistema acusatório e ao 
princípio da imparcialidade. Deveras, deve o 
juiz manter-se afastado da investigação preli­
minar, atuando somente quando provocado 
nas hipóteses em que houver possibilidade de 
restrição a direitos fundamentais do inves­
tigado (v.g., interceptação telefônica, busca 
domiciliar, etc.), ou em casos de eventual 
abuso de autoridade praticado pelo Minis­
tério Público ou pelas autoridades policiais. 
Em um sistema acusatório, a investigação de 
fatos e a gestão das provas não deve ficar nas 
mãos do juiz: somente assim, afastando-o da 
fase investigatória, será possível preservar 
sua imparcialidade, princípio fundamen­
tal do devido processo penal. O Supremo 
Tribunal Federal foi chamado a analisar a 
constitucionalidade do referido dispositivo, 
tendo concluído que, em relação aos sigi­
los bancário e financeiro, o art. 3o da Lei n. 
9.034/95 teria sido parcialmente revogado 
em face do advento da Lei Complementar n. 
105/01, que passou a regulamentar a matéria 
em seu art. I o, §4°, IX. Quanto aos dados fis­
■
Aft. 4o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
cais e eleitorais, a Suprema Corte declarou a 
inconstitucionalidade do referido dispositivo, 
por violar o princípio da imparcialidade e o 
devido processo legal. Nas palavras do Rela­
tor, observa-se que o art. 3o da Lei n. 9.034/95 
efetivamente cria procedimento excepcional, 
não contemplado na sistemática processual 
contemporânea, dado que permite ao juiz 
colher pessoalmente as provas que poderão 
servir, mais tarde, como fundamento fático- 
-jurídico de sua própria decisão. Indaga-se, 
por isso mesmo, se o magistrado está imune 
de influências psicológicas, de tal sorte que o 
dinamismo de seu raciocínio lógico-jurídico 
fique comprometido por idéias preconcebi­
das, pondo em risco a imparcialidade de sua 
decisão?! Penso que não. Evidente que não há 
como evitar a relação de causa e efeito entre 
as provas coligidas contra o suposto autor do 
crime e a decisão a ser proferida pelo juiz. 
Ninguém pode negar que o magistrado, pelo 
simples fato de ser humano, após realizar 
pessoalmente as diligências, fique envolvido 
psicologicamente com a causa, contaminando 
sua imparcialidade”. Atento à controvérsia 
decorrente do juiz inquisidor previsto na re­
vogada Lei n. 9.034/95, o legislador da Lei n. 
12.850/13 teve o cuidado de afastar qualquer 
possibilidade de iniciativa acusatória por 
parte do juiz, preservando, assim, sua impar­
cialidade. Não por outro motivo, ao tratar da 
colaboração premiada, o art. 4o, §6°, dispõe 
que o ju iz não participará das negociações 
realizadas entre as partes para a form alização 
do acordo de colaboração. Na mesma linha, 
consoante disposto no art. 10, caput, a in­
filtração de agentes de polícia em tarefas de 
investigação, representada pelo Delegado de 
Polícia ou requerida pelo Ministério Público, 
após manifestação técnica do Delegado de 
Polícia quando solicitada no curso de inquéri­
to policial, será precedida de circunstanciada, 
motivada e sigilosa autorização judicial, que 
estabelecerá seus limites. Como se percebe, 
em fiel observância ao sistema acusatório, a 
nova Lei das Organizações Criminosas afasta 
qualquer atuação ex ojficio do magistrado 
durante a fase investigatória, reservando-lhe 
poderes para atuar apenas quando provocado 
pelos órgãos responsáveis pelas investigações.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Lei 9034/95. Superveniência da Lei Com ple­
mentar 105/01. Revogação da disciplina contida na 
legislação antecedente em relação aos sigilos bancário 
e financeiro na apuração das ações praticadas por or­
ganizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos 
procedimentos que incidem sobre o acesso a dados, 
docum entos e informações bancárias e financeiras. 
Busca e apreensão de documentos relacionados ao 
pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente 
pelo magistrado. Comprometimento do princípio da 
imparcialidade e consequente violação ao devido 
processo legal. Funções de investigador e inquisidor. 
Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polí­
cias Federal e Civil (CF, artigo 129,1 e VIII e § 2o; e 144, § 
1 o, I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que 
a Constituição reserva à polícia. Precedentes. Ação jul­
gada procedente, em parte". (STF, Pleno, AD11.570, Rei. 
Min. Maurício Corrêa, j. 12/02/2004, DJ 22/10/2004).
7.6.3. Infrações penais praticadas por ma­
gistrados: quando, no curso de investigação, 
houver indício da prática decrime por parte 
do Magistrado, a autoridade policial, civil ou 
militar, remeterá os respectivos autos ao Tribu­
nal ou Órgão Especial competente para o julga­
mento, a fim de que se prossiga na investigação 
(LC 35/79, art. 33, parágrafo único). A nosso 
juízo, referido dispositivo deve ser lido à luz 
da Constituição Federal, que adotou o sistema 
acusatório em seu art. 1 2 9 ,1, do qual deriva 
a separação das funções de acusar, defender 
e julgar, além de reservar ao magistrado, na 
fase investigatória, o papel de mero garante 
das regras do jogo, devendo intervir apenas 
quando provocado para resguardar a proteção 
a direitos e garantias fundamentais. Ou seja, 
na fase investigatória, o juiz deve permanecer 
absolutamente alheio à qualidade da prova em 
curso, somente intervindo para tutelar viola­
ções ou ameaça de lesões a direitos e garantias 
individuais das partes, ou para resguardar a 
efetividade da função jurisdicional, quando, 
então, exercerá atos de natureza jurisdicional. 
Não se pode, pois, querer atribuir ao próprio 
Tribunal de Justiça ou ao órgão Especial que 
irá julgar o magistrado a tarefa de investigar 
infrações penais por ele praticadas, sob pena 
de evidente violação à imparcialidade e ao 
devido processo legal. Na verdade, em tais 
situações, ao Tribunal de Justiça ou ao órgão 
especial deve ser reservada apenas a atividade
TITULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL , 40
de supervisão judicial durante toda a trami­
tação das investigações, desde a abertura dos 
procedimentos investigatórios até o eventual 
oferecimento, ou não, de denúncia pelo titular 
da ação penal. Não se pode, pois, interpretar 
o art. 33, parágrafo único, da LC 35/79, no 
sentido de que o Tribunal de Justiça irá de­
sempenhar, na fase investigatória, funções 
equivalentes às de um delegado de polícia ou 
de um membro do Ministério Público. Afinal, 
no Brasil, não foi adotado o instituto acolhido 
por outros países do juizado de instrução, no 
qual o magistrado exerce, grosso modo, as 
competências de polícia judiciária. Portanto, o 
art. 33, parágrafo único, da LC n. 35/79, deve 
ser interpretado conforme a Constituição no 
sentido de que o Tribunal de Justiça ou órgão 
especial, ao presidir o inquérito, apenas atua 
como um administrador, um supervisor, um 
coordenador, no que tange à montagem do 
acervo probatório e às providências acautela- 
tórias, agindo sempre por provocação, e nun­
ca de ofício, detendo as mesmas atribuições 
que a legislação processual confere aos juizes 
singulares (Lei n. 8.038/90, art. 2o). Portanto, 
não exterioriza nenhum juízo de valor sobre 
os fatos ou as questões de direito, emergentes 
nessa fase preliminar, que o impeça de pro­
ceder com imparcialidade no curso da ação 
penal. Assim, o Judiciário, em nosso sistema 
processual penal, atua no inquérito para asse­
gurar a observância dos direitos e liberdades 
fúndamentais e dos princípios sobre os quais 
se assenta o Estado Democrático de Direito.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF: "(...) As hipóteses de im pedim ento elencadas 
no art. 252 do Código de Processo Penal constituem 
um numerus clausus. Não é possível, pois, interpretar- 
-se extensivamente os seus incisos I e II de m odo a 
entender que o juiz que atua em fase pré-processual 
desempenha funções equivalentes ao de um delegado 
de polícia ou membro do Ministério Público. Prece­
dentes. Não se adotou, no Brasil, o instituto acolhido 
por outros países do juizado de instrução, no qual o 
magistrado exerce, grosso modo, as competências 
da polícia judiciária. O juiz, ao presidir o inquérito, 
apenas atua com o um administrador, um supervisor, 
não exteriorizando qualquer juízo de valor sobre 
fatos ou questões de direito que o impeça de atuar 
com imparcialidade no curso da ação penal. O art.
75 do CPP, que adotou a regra da prevenção da ação 
penal do magistrado que tiver autorizado diligências 
antes da denúncia ou da queixa não viola nenhum 
dispositivo constitucional. Ordem denegada". (STF, 
Pleno, HC 92.893/ES, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, 
j. 02/10/2008, DJe 236 11/12/2008).
STJ:"(...) Havendo indícios da prática de crime por 
parte de Magistrado, desloca-se a competência para 
o Tribunal competente para julgar a causa, prosse- 
guindo-se na investigação. Trata-se, pois, de regra de 
competência. No Tribunal, o inquérito é distribuído 
ao Relator, a quem cabe determinar as diligências que 
entender cabíveis para realizara apuração. Desneces­
sidade de prévia autorização do colegiado (Órgão 
Especial). Inteligência do parágrafo único do art. 33 
da LOMAN. Nulidade dos atos de instrução presididos 
pelo Relator, noTribunal Regional Federal da 1a Região 
que não prospera. Ordem denegada". (STJ,6aTurma, HC 
208.657/MG, Rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 
22/4/2014, DJe 13/05/2014).
7.7. Investigação criminal defensiva: de
acordo com o Projeto do novo Código de 
Processo Penal (Projeto de Lei n. 156/09, art. 
13), passará a ser facultado ao investigado, 
por meio de seu advogado, de defensor pú­
blico ou de outros mandatários com poderes 
expressos, tomar a iniciativa de identificar fon ­
tes de prova em favor de sua defesa, podendo 
inclusive entrevistar pessoas. Tais entrevistas 
deverão ser precedidas de esclarecimentos 
sobre seus objetivos e do consentimento das 
pessoas ouvidas. Como se percebe, como 
forma de se assegurar a efetiva isonomia entre 
as partes na persecução penal e o direito de 
defesa do imputado, o projeto do novo CPP 
passa a prever a possibilidade de investigação 
crim inal defensiva. Mas o que se entende 
por tal espécie de investigação? Segundo 
André Boiani e Azevedo e Édson Luís Bal- 
dan (A preservação do devido processo legal 
pela investigação defensiva - ou do direito de 
defender-se provando Boletim do IBCCrim, 
n. 137, p. 07), a investigação defensiva pode 
ser definida como “o complexo de atividades 
de natureza investigatória desenvolvido, em 
qualquer fase da persecução criminal, inclu­
sive na ante judicial, pelo defensor, com ou 
sem assistência de consulente técnico e/ou 
investigador privado autorizado, tendente 
à coleta de elementos objetivos, subjetivos 
e documentais de convicção, no escopo de
\
Art. 5o ' cpp COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
construção de acervo probatório lícito que, no 
gozo da parcialidade constitucional deferida, 
empregará para pleno exercício da ampla 
defesa do imputado em contraponto a investi­
gação ou acusações oficiais”. Essa investigação 
defensiva não se confunde com a participação 
do defensor nos autos do inquérito policial, 
a qual inclusive já é prevista pelo atual CPP 
no art. 14. Apesar de em ambas ser concre­
tizado o direito de defesa, ao participar do 
inquérito policial, o advogado está delimitado 
aos rumos dados à investigação pela autori­
dade policial. Na investigação defensiva, que 
se desenvolve de maneira independente do 
inquérito policial, incumbe ao defensor deli­
mitar a estratégia investigatória, não estando 
vinculado às autoridades públicas, devendo 
apenas respeitar os critérios constitucionais e 
legais pertinentes à obtenção da prova. Dentre 
os principais objetivos dessa investigação 
defensiva, pode-se citar: a) comprovação do 
álibi, ou seja, a comprovação da presença de 
uma pessoa em local diferente daquele em que 
se suponha que ela estivesse, para efeito de 
escusa de ato criminoso, ou de outras razões 
demonstrativas da inocência do imputado; 
b) desresponsabilização do imputado em 
virtude da ação de terceiros; c) exploração 
de fatos que revelam a ocorrência de causas 
excludentes de ilicitude ou de culpabilidade; 
d) eliminação de possíveis erros de raciocínio 
a quem possam induzir determinados fatos; e) 
revelação da vulnerabilidade técnica ou ma­
terial de determinadas diligências realizadas 
na investigação pública; f) exame do local e 
a reconstituição do crime para demonstrar 
a impropriedade das teses acusatórias; g) 
identificação e localização de possíveis pe­
ritos e testemunhas. Perceba-se, então,que 
a atividade probatória desenvolvida nessa 
investigação não pode obstruir a investigação 
policial nem tampouco danificar fontes de
prova, sob pena, aliás, de tipificação de figuras 
delituosas, tais como a fraude processual (CP, 
art. 347). Os elementos obtidos através dessa 
investigação criminal defensiva costumam 
ser introduzidos nos autos da persecução 
penal sob a forma documentada. Quanto ao 
momento da introdução desses elementos, há 
de se verificar qual é a estratégia da defesa: se 
o objetivo é o arquivamento do feito, a juntada 
deve ocorrer ainda na fase preliminar; se o 
escopo é a absolvição sumária do acusado, 
devem ser juntados no momento da resposta 
à acusação (CPP, art. 396-A); se se pretende a 
absolvição em sentença de mérito ao final do 
processo, devem ser introduzidos no curso do 
feito. Como dito acima, a despeito da impor­
tância desse instrumento investigatório como 
forma de se assegurar o respeito à paridade 
de armas, não há, no direito processual penal 
brasileiro, pelo menos por ora, a possibilidade 
de investigação crim inal pela defesa. Não 
obstante, enquanto não aprovado o projeto 
do novo CPP, deve-se considerar ser possível 
a investigação pela defesa como espécie de 
investigação por particular.
7.8. Investigação por particular: foi insti­
tuída pela Lei n. 3.099, de 24/02/1957, e regu­
lamentada pelo Dec. 50.532, de 03/05/1961. É 
permitido o trabalho de investigador particu­
lar, desde que não invada a competência pri­
vativa da Polícia Judiciária, nem atente contra 
a inviolabilidade domiciliar, a vida privada 
e a boa fama das pessoas. O traço peculiar 
dessas investigações privadas é, basicamente, 
a ausência de imperatividade, ou seja, de po­
der de coerção. Assim, quando o particular 
investiga por conta própria, conta apenas com 
seus esforços pessoais e com a colaboração de 
outras pessoas e de entes públicos ou privados. 
Falta poder de polícia, ou seja, não goza de 
imperatividade.
Art. 5° Nos crimes de açâo pública o inquérito policial será iniciado:1 2
I - de ofício;3
II - mediante requisição da autoridade judiciária4 ou do Ministério 
Público,5 ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para 
representá-lo.6
68 )
TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 5o
§10 O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:7
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as 
razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os 
motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e 
residência.
§2° Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito 
caberá recurso para o chefe de Polícia.8
§3° Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência 
de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por 
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência 
das informações, mandará instaurar inquérito.9
§4° O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de repre­
sentação, não poderá sem ela ser iniciado.10
§5° Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente pode­
rá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para 
intentá-la.11
1. Notitia criminis: é o conhecimento, espon­
tâneo ou provocado, por parte da autoridade 
policial, acerca de um fato delituoso. Subdi- 
vide-se em: a) notitia criminis de cognição 
imediata (ou espontânea): ocorre quando a 
autoridade policial toma conhecimento do fato 
delituoso por meio de suas atividades rotinei­
ras. É o que acontece, por exemplo, quando 
o delegado de polícia toma conhecimento da 
prática de um crime por meio da imprensa; b) 
notitia criminis de cognição mediata (ou pro­
vocada): ocorre quando a autoridade policial 
toma conhecimento da infração penal através 
de um expediente escrito. É o que acontece, 
por exemplo, nas hipóteses de requisição do 
Ministério Público, representação do ofendido, 
etc; c) notitia criminis de cognição coercitiva: 
ocorre quando a autoridade policial toma 
conhecimento do fato delituoso através da 
apresentação do indivíduo preso em flagrante.
1.1. Delatio criminis: é uma espécie de notitia 
criminis, consubstanciada na comunicação de 
uma infração penal feita por qualquer pessoa 
do povo à autoridade policial, e não pela vítima 
ou seu representante legal. A depender do caso 
concreto, pode funcionar como uma notitia 
criminis de cognição imediata, quando a co­
municação à autoridade policial é feita durante
suas atividades rotineiras, ou como notitia 
criminis de cognição mediata, na hipótese em 
que a comunicação à autoridade policial feita 
por terceiro se dá através de expediente escrito.
1.2. Notitia criminis inqualificada: mui­
to se discute quanto à possibilidade de um 
inquérito policial ter início a partir de uma 
notitia criminis inqualificada, vulgarmente 
conhecida como denúncia anônima (v.g., dis- 
que-denúncia). Não se pode negar a grande 
importância da denúncia anônima no combate 
à criminalidade. Porém, não se pode olvidar 
que a própria Constituição Federal estabelece 
que é vedado o anonimato (CF, art. 5o, IV). 
Como, então, conciliar-se a denúncia anôni­
ma com a vedação do anonimato? Diante de 
uma denúncia anônima, deve a autoridade 
policial, antes de instaurar o inquérito poli­
cial, verificar a procedência e veracidade das 
informações por ela veiculadas. Recomenda- 
-se, pois, que a autoridade policial, antes de 
proceder à instauração formal do inquérito 
policial, realize uma investigação preliminar a 
fim de constatar a plausibilidade da denúncia 
anônima. Afigura-se impossível a instauração 
de procedimento criminal baseado única e 
exclusivamente em denúncia anônima, haja 
vista a vedação constitucional do anonimato
Art. 5o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
e a necessidade de haver parâmetros próprios 
à responsabilidade, nos campos cível e penal. 
Na dicção da Suprema Corte, a instauração de 
procedimento criminal originada apenas em 
documento apócrifo seria contrária à ordem 
jurídica constitucional, que veda expressamen­
te o anonimato. Diante da necessidade de se 
preservar a dignidade da pessoa humana, o 
acolhimento da delação anônima permitiría 
a prática do denuncismo inescrupuloso, vol­
tado a prejudicar desafetos, impossibilitando 
eventual indenização por danos morais ou ma­
teriais, assim como eventual responsabilização 
criminal pelo delito de denunciação caluniosa 
(CP, art. 339), o que ofendería os princípios 
consagrados nos incisos V e X do art. 5o da 
CF. Em síntese, pode-se dizer que a denúncia 
anônima, por si só, não serve para fundamen­
tar a instauração de inquérito policial, mas, a 
partir dela, pode a polícia realizar diligências 
preliminares para apurar a veracidade das 
informações obtidas anonimamente e, então, 
instaurar o procedimento investigatório pro­
priamente dito.
+ Jurisprudência selecionada:
STF: "(...) Não serve à persecução criminal notícia 
de prática crim inosa sem identificação da autoria, 
consideradas a vedação constitucional do anon i­
mato e a necessidade de haver parâmetros próprios 
à responsabilidade, nos cam pos cível e penal, de 
quem a implemente". (STF, I a Turma, HC 84.827/ 
TO, Rei. Min. M arco Aurélio, j. 07/08/2007, DJe 147 
22/11/2007).
STF: “(...) Firmou-se a orientação de que a autoridade 
policial, ao receber uma denúncia anônima, deve an­
tes realizar diligências preliminares para averiguar se 
os fatos narrados nessa "denúncia"são materialmente 
verdadeiros, para, só então, iniciar as investigações. 
No caso concreto, ainda sem instaurar inquérito 
policial, policiais federais diligenciaram no sentido 
de apurar as identidades dos investigados e a vera­
cidade das respectivas ocupações funcionais, tendo 
eles confirmado tratar-se de oficiais de justiça lotados 
naquela comarca, cujos nom es eram os m esm os 
fornecidos pelos "denunciantes". Portanto, os proce­
dim entostom ados pelos policiais federais estão em 
perfeita consonância com o entendimento firmado 
no precedente supracitado, no que tange à realização 
de diligências preliminares para apurar a veracidade 
das informações obtidas anonimamente e, então, ins­
taurar o procedimento investigatório propriamente 
dito. Fiabeas corpus denegado". (STF, I a Turma, HC
95.244/PE, Rei. Min. Dias Toffoli, j. 23/03/2010, DJe 
76 29/04/2010). Com entendimento semelhante: STF, 
2a Turma, HC 99.490/SP, Rei. Min. Joaquim Barbosa, 
23.11.2010; STF, 2a Turma, HC 99.490/SP, Rei. Min. 
Joaquim Barbosa, j. 23/11/2010.
2. Formas de instauração do inquérito 
policial nos crimes de ação penal pública 
incondicionada: pelo menos em regra, os cri­
mes são de ação penal pública incondicionada. 
Em outras palavras, se a lei não dispuser que 
“se procede mediante queixa” (crimes de ação 
penal de iniciativa privada) ou que “se procede 
mediante representação ou requisição do M i­
nistro da Justiça” (crimes de ação penal pública 
condicionada), subentende-se que o crime é 
de ação penal pública incondicionada. Nos 
crimes de ação penal pública incondicionada, 
o inquérito policial pode ser instaurado das 
seguintes formas: a) de ofício; b) requisição do 
Ministério Público; c) requerimento do ofen­
dido ou de seu representante legal; d) notícia 
oferecida por qualquer pessoa do povo; e) auto 
de prisão em flagrante delito (vide comentários 
ao art. 8o do CPP).
3. Instauração do inquérito policial de 
ofício: por força do princípio da obrigato­
riedade, que também se estende à fase in- 
vestigatória, caso a autoridade policial tome 
conhecimento do fato delituoso a partir de 
suas atividades rotineiras (v.g., notícia veicu­
lada na imprensa, registro de ocorrência, etc.), 
deve instaurar o inquérito policial de ofício, 
ou seja, independentemente da provocação de 
qualquer pessoa (CPP, art. 5o, I). Nesse caso, a 
peça inaugural do inquérito policial será uma 
portaria, que deve ser subscrita pelo Delegado 
de Polícia e conter o objeto da investigação, as 
circunstâncias já conhecidas quanto ao fato 
delituoso, assim como as diligências iniciais 
a serem cumpridas.
4. Requisição da autoridade judiciária:
diz o art. 5°, inciso II, I a parte, do CPP, que 
o inquérito também poderá ser iniciado, nos 
crimes de ação pública, mediante requisição 
da autoridade judiciária. Apesar de o CPP 
fazer menção à possibilidade de a autoridade 
judiciária requisitar a instauração de inqué­
rito policial, pensamos que tal possibilidade
TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL j 50
não se coaduna com a adoção do sistema 
acusatório pela Constituição Federal. Na ver­
dade, tal dispositivo só guarda pertinência 
com a ordem jurídica anterior à Constituição 
Federal, na qual se permitia aos magistrados 
até mesmo a iniciativa da ação penal, tal qual 
dispunha o revogado art. 531 do CPP, nos 
casos de homicídio e lesões corporais culpo­
sas. Num sistema acusatório, onde há nítida 
separação das funções de acusar, defender e 
julgar (CF, art. 1 2 9 ,1), não se pode permitir 
que o juiz requisite a instauração de inquérito 
policial, sob pena de evidente prejuízo a sua 
imparcialidade. Portanto, deparando-se com 
informações acerca da prática de ilícito penal, 
deve o magistrado encaminhá-las ao órgão do 
Ministério Público, nos exatos termos do art. 
40 do CPP.
5. Requisição do Ministério Público: o art. 
129, VIII, da Constituição Federal, determina 
que são funções institucionais do Ministério 
Público requisitar diligências investigatórias e 
a instauração de inquérito policial, indicados 
os fundamentos jurídicos de suas manifes­
tações processuais. Na mesma linha, o art. 
13, inciso II, do CPP, dispõe que incumbe 
à autoridade policial realizar as diligências 
requisitadas pelo M inistério Público (vide 
também art. 26, inciso IV, da Lei n. 8.625/93). 
Diante de requisição do Ministério Público, 
pensamos que a autoridade policial está obri­
gada a instaurar o inquérito policial: não que 
haja hierarquia entre promotores e delegados, 
mas sim por força do princípio da obrigato­
riedade, que impõe às autoridades o dever de 
agir diante da notícia da prática de infração 
penal. Logicamente, em se tratando de requi­
sição ministerial manifestamente ilegal (v.g., 
para investigar crime prescrito ou conduta 
atípica), deve a autoridade policial abster-se 
de instaurar o inquérito policial, comunican­
do sua decisão, justificadamente, ao órgão do 
Ministério Público responsável pela requisição, 
assim como as autoridades correcionais.
6. Requerimento do ofendido ou de seu 
representante legal: também é possível a 
instauração de inquérito policial a partir de
requerimento do ofendido ou de quem tenha 
qualidade para representá-lo.
7. Conteúdo do requerimento do ofendi­
do: esse requerimento conterá, sempre que 
possível: a) a narração do fato, com todas 
as suas circunstâncias; b) a individualização 
do indiciado ou seus sinais característicos e 
as razões de convicção ou de presunção de 
ser ele o autor da infração, ou os motivos de 
impossibilidade de fazê-lo; c) a nomeação das 
testemunhas, com indicação de sua profissão 
e residência.
8. Recurso adequado contra o indeferi­
mento de instauração do inquérito poli­
cial: nessa hipótese de requerimento do ofen­
dido ou de seu representante legal, discute-se 
na doutrina e na jurisprudência se o delegado 
é obrigado a instaurar o inquérito policial. 
Prevalece o entendimento no sentido de que 
ao delegado incumbe verificar a procedência 
das informações a ele trazidas, evitando-se, 
assim, a instauração de investigações temerá­
rias e abusivas. Convencendo-se que a notitia 
criminis é totalmente descabida, sem respaldo 
jurídico ou material, como, por exemplo, 
quando entender que o fato é manifestamente 
atípico, ou que a punibilidade esteja extinta, 
deve a autoridade policial indeferir o reque­
rimento do ofendido para instauração de 
inquérito policial. Indeferido o requerimento 
do ofendido de abertura do inquérito, surge 
a possibilidade de recurso inominado para 
o chefe de Polícia (CPP, art. 5o, §2°). Esse 
Chefe de Polícia pode ser o Delegado-Geral 
da Polícia Civil ou o Secretário de Segurança 
Pública, a depender do estado da Federação. 
Nas hipóteses de atribuição da Polícia Federal, 
esse Chefe de Polícia é o Superintendente da 
Polícia Federal. A previsão desse recurso não 
impede que o ofendido faça o requerimento 
diretamente ao Ministério Público. Caso a au­
toridade policial, justificadamente, se recuse a 
instaurar inquérito policial, sob o argumento 
de que os fatos levados a seu conhecimento 
são atípicos, não há falar em violação a direito 
líquido e certo a dar ensejo à impetração de 
mandado de segurança, sobretudo se consi­
derarmos que há previsão legal de recurso 
inominado ao Chefe de Polícia.
Art. 5o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) M andado de segurança. Inquérito Policial. 
Pedido de instauração. Recusa. Ausência de direito 
líquido e certo. Se a autoridade policial recusa, justifi- 
cadamente, instaurar inquérito policial, por entender 
que os fatos levados a seu conhecimento são atípicos, 
inexiste direito líquido e certo a ser preservado pela 
via do writ. Recurso desprovido". (STJ, 6a Turma, RMS 
7.598/RJ, Rei. Min. William Patterson, j. 09/04/1997, 
DJ 12/05/1997).
9. Notícia oferecida por qualquer do povo:
de acordo com o art. 5o, §3°, do CPP, qualquer 
pessoa do povo que tiver conhecimento da 
existência de infração penal em que caiba ação 
pública poderá, verbalmente ou por escrito, 
comunicá-la à autoridade policial, e esta, ve­
rificada a procedência das informações, man­
dará instaurar inquérito. Cuida-se da chamada 
delatio criminis simples, comumente realizada 
através de uma ocorrência policial. Mais uma 
vez, verificada a procedência e veracidade das 
informações, deve o delegado determinar a 
instauração do inquérito policial. Trata-se, 
portanto, de mera faculdade do cidadão, não 
tendo ele o deverde noticiar a prática de in­
fração penal. Excepcionalmente, no entanto, 
a notícia de crime é obrigatória, como deixa 
entrever o art. 66 do Dec.-lei 3.688/41, segundo 
o qual constitui contravenção penal deixar de 
comunicar à autoridade competente: a) crime 
de ação pública, de que teve conhecimento no 
exercício de função pública, desde que a ação 
penal não dependa de representação; b) crime 
de ação pública, de que teve conhecimento no 
exercício da medicina ou outra profissão sani­
tária, desde que a ação penal não dependa de 
representação e a comunicação não exponha o 
cliente a procedimento criminal. De seu turno, 
as autoridades públicas, notadamente aquelas 
envolvidas na persecução penal, por força do 
princípio da obrigatoriedade, têm o dever de 
noticiar fatos possivelmente criminosos, sob 
pena de responderem administrativamente e 
de incorrerem no delito de prevaricação, caso 
comprovado que a inércia se deu para satisfazer 
interesse ou sentimento pessoal (CP, art. 319). 10
10. Instauração do inquérito policial nos 
crimes de ação penal pública condiciona­
da: nesses casos, a deflagração da persecutio
criminis está subordinada à representação do 
ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça 
(CPP, art. 5o, §4°). Por representação, também 
denominada de delatio criminis postulatória, 
entende-se a manifestação da vítima ou de seu 
representante legal no sentido de que possuem 
interesse na persecução penal, não havendo 
necessidade de qualquer formalismo. Supon­
do-se, assim, a prática de um crime de estupro, 
hoje considerado, em regra, crime de ação 
penal pública condicionada à representação 
(CP, art. 225, com redação determinada pela 
Lei n. 12.015/09), a instauração do inquérito 
policial estará vinculada à manifestação da 
vítima ou de seu representante legal, de onde se 
possa extrair que têm intenção de ver apurada 
a responsabilidade penal do autor da infração. 
Para mais detalhes acerca da representação, 
remetemos o leitor aos comentários aos arts. 
24 e 25 do CPP.
11. Instauração do inquérito policial nos 
crimes de ação penal de iniciativa privada:
à semelhança da hipótese anterior, em se tra­
tando de crime de ação penal privada (v.g., pelo 
menos em regra, crimes contra a honra são 
de ação penal privada), a atuação do aparato 
estatal envolvido na persecução penal também 
fica condicionada ao requerimento do ofendi­
do ou de seu representante legal. Nessa linha, 
dispõe o art. 5o, §5°, do CPP, que a autoridade 
policial somente poderá proceder a inquérito 
nos crimes de ação privada a requerimento de 
quem tenha qualidade para intentá-la. No caso 
de morte ou ausência do ofendido, o requeri­
mento poderá ser formulado por seu cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 
31). Como se vê, esse requerimento é condição 
de procedibilidade do próprio inquérito poli­
cial, sem o qual a investigação sequer poderá 
ter início. Esse requerimento deve ser formula­
do pelo ofendido dentro do prazo decadencial 
de 6 (seis) meses, contado, em regra, do dia 
em que vier a saber quem é o autor do crime. 
Portanto, verificando a autoridade policial que 
o requerimento do ofendido foi formulado 
após o decurso do prazo decadencial de 6 (seis) 
meses, deve se abster de instaurar o inquérito 
policial, porquanto extinta a punibilidade (CP, 
art. 107, IV). A propósito, vale lembrar que
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 6o
o requerimento de instauração do inquérito 
policial nos crimes de ação penal de iniciativa 
privada não tem o condão de interromper nem 
tampouco de suspender a fluência do prazo 
decadencial.
11.1. Auto de prisão em flagrante delito:
em relação aos crimes de ação penal pública 
condicionada e de ação penal de iniciativa pri­
vada, a instauração do inquérito policial tam­
bém poderá se dar em virtude de auto de prisão 
em flagrante, o qual deverá ser precedido de 
requerimento da vítima ou de seu representante
legal. No tocante a tais delitos, é plenamente 
possível a captura e a condução coercitiva 
daquele que for encontrado em situação de 
flagrância, fazendo-se cessar a agressão com o 
escopo de manter a paz e a tranquilidade social. 
No entanto, a lavratura do auto de prisão em 
flagrante estará condicionada à manifestação 
do ofendido ou de seu representante legal. Se a 
vítima não puder imediatamente ir à delegacia 
para se manifestar, por ter sido conduzida ao 
hospital ou por qualquer motivo relevante, 
poderá fazê-lo no prazo de entrega da nota de 
culpa, que é de 24 (vinte e quatro) horas.
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a 
autoridade policial deverá:'
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado 
e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;1 2
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados 
pelos peritos criminais;3
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato 
e suas circunstâncias;4
IV - ouvir o ofendido;5
V - ouvir o indiciado,6 com observância, no que for aplicável, do disposto 
no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser 
assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas7 e a acareações;8
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito 
e a quaisquer outras perícias;9
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, 
se possível,'0-" e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;'2
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista indi­
vidual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de 
ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos 
que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.'3
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades 
e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual res­
ponsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído 
pela Lei n. 13.257/16).'4
1. D iligências investigatórias: em seus
arts. 6° e 7o, o Código de Processo Penal
traz um rol exemplificativo de diligências
investigatórias que poderão ser adotadas pela
autoridade policial ao tomar conhecimento
de um fato delituoso. Algumas são de caráter
obrigatório, como, por exemplo, a realização
de exame pericial quando a infração deixar 
vestígios; outras, no entanto, têm sua reali­
zação condicionada à discricionariedade da 
autoridade policial, que deve determinar sua 
realização de acordo com as peculiaridades 
do caso concreto (v.g., reconstituição do fato 
delituoso). Várias diligências investigatórias
Art. 6o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
listadas no art. 6o do CPP serão estudadas 
com mais detalhes no Título atinente às pro­
vas (v.g., oitiva do ofendido, reconhecimento 
de pessoas e coisas, acareações, exame de 
corpo de delito, etc.). Por isso, sugerimos ao 
leitor que o presente tópico seja estudado em 
conjunto com a leitura dos arts. 158 a 250 do 
CPP.
2. Preservação do local do crime: a preser­
vação do local do crime tem um objetivo precí- 
puo, qual seja, preservar os vestígios deixados 
pela infração penal (corpo de delito), a fim de 
não prejudicar o trabalho a ser desenvolvido 
pelos peritos criminais. Um dos requisitos 
básicos para que os peritos criminais possam 
realizar um exame pericial satisfatório é que 
o local esteja adequadamente isolado e pre­
servado, a fim de que não se perca qualquer 
vestígio que tenha sido produzido pelos sujei­
tos ativos na cena do crime. Daí dispor o art. 
169 do CPP que, para o efeito de exame do 
local onde houver sido praticada a infração, 
a autoridade providenciará imediatamente 
para que não se altere o estado das coisas até a 
chegada dos peritos, que poderão instruir seus 
laudos com fotografias, desenhos ou esquemas 
elucidativos. Ós peritos registrarão, no laudo, 
as alterações do estado das coisas e discutirão, 
no relatório, as consequênciasdessas alterações 
na dinâmica dos fatos. A investigação terá mais 
probabilidade de sucesso caso sejam obser­
vados dois fatores básicos: a) inicie imediata­
mente as investigações a partir do local onde 
ocorreu o crime, pois será ali que haverá mais 
possibilidades de se encontrar alguma infor­
mação, tanto sob o aspecto da prova pericial, 
quanto das demais investigações subjetivas, 
tais como testemunhas, relatos diversos de 
observadores ocasionais, visualização da área 
para avaliação de possíveis informações de 
suspeitos, etc.; b) o tempo é fator que trabalha 
contra investigadores de polícia e peritos cri­
minais no esclarecimento de qualquer crime, 
uma vez que, quanto mais tempo se gasta para 
iniciar determinada investigação, fatalmente 
informações valiosas serão perdidas, que, em 
muitos casos, poderiam ser essenciais para o 
resultado final da investigação.
2.1. Acidentes de trânsito: nesses casos, a 
autoridade ou agente policial que primeiro 
tomar conhecimento do fato poderá autorizar, 
independentemente de exame do local, a ime­
diata remoção das pessoas que tenham sofrido 
lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, 
se estiverem no leito da via pública e prejudi­
carem o tráfego. Para autorizar a remoção, a 
autoridade ou agente policial lavrará boletim 
da ocorrência, nele consignando o fato, as 
testemunhas que o presenciaram e todas as 
demais circunstâncias necessárias ao esclare­
cimento da verdade (Lei n. 5.970/83, art. Io).
3. Apreensão de objetos: outra diligência 
que deve ser adotada pela autoridade policial 
é a apreensão dos objetos que tiverem relação 
com o fato, após liberados pelos peritos cri­
minais. A apreensão dos objetos relacionados 
ao fato delituoso tem os seguintes objetivos: a) 
futura exibição do instrumento utilizado para 
a prática do delito, como, por exemplo, durante 
o plenário do Tribunal do Júri; b) necessidade 
de contraprova; c) eventual perda em favor da 
União como efeito da condenação (confisco). É 
possível a apreensão de quaisquer objetos que 
guardem relação com o fato delituoso, pouco 
importando sua origem lícita ou ilícita. Esses 
objetos apreendidos deverão acompanhar os 
autos do inquérito policial, nos termos do art. 
11 do CPP. Por força dos arts. 118,119 e 120 do 
CPP, não poderão ser restituídas: a) as coisas 
apreendidas, enquanto interessarem ao pro­
cesso; b) os instrumentos do crime, desde que 
consistam em coisas cujo fabrico, alienação, 
uso, porte ou detenção constitua fato ilícito 
produto do crime; c) qualquer bem ou valor 
que constitua proveito auferido pelo agente 
com a prática do fato criminoso; d) objetos 
em relação aos quais haja dúvida quanto ao 
direito do reclamante. Para que a apreensão 
seja considerada lícita, há de se ficar atento aos 
requisitos da medida cautelar de busca pessoal 
e de busca domiciliar. A busca pessoal inde­
pende de prévia autorização judicial quando 
realizada sobre o indivíduo que está sendo 
preso, quando houver fundada suspeita de que 
a pessoa esteja na posse de arma proibida ou 
de objetos ou papéis que constituam o corpo 
de delito, assim como na hipótese de cumpri­
TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 6o
mento de mandado de busca domiciliar (CPP, 
art. 244). A busca domiciliar está condicionada 
à observância do art. 5o, XI, da Constituição 
Federal, segundo o qual a casa é asilo inviolável 
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 
sem consentimento do morador, salvo em caso 
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar 
socorro, ou, durante o dia, por determinação 
judicial. Para mais detalhes acerca da busca - 
pessoal, ou domiciliar - , remetemos o leitor 
aos comentários aos arts. 244 e 245 do CPP.
4. Colheita de outras provas: confirmando 
a discricionariedade dispensada ao trabalho 
investigatório da autoridade policial no curso 
do inquérito policial, o CPP dispõe que a au­
toridade policial deve colher todas as provas 
que sirvam para o esclarecimento do fato e suas 
circunstâncias (art. 6o, III).
4.1. Violência doméstica e familiar contra 
a mulher: a título de exemplo de outras provas 
que devem ser colhidas de imediato, nos casos 
de violência doméstica e familiar contra a 
mulher (Lei n. 11.340/06, art. 11), a autoridade 
policial deverá, entre outras providências: I 
- garantir proteção policial, quando necessá­
rio, comunicando de imediato ao Ministério 
Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar 
a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao 
Instituto Médico Legal; III - fornecer trans­
porte para a ofendida e seus dependentes para 
abrigo ou local seguro, quando houver risco de 
vida; IV - se necessário, acompanhar a ofendi­
da para assegurar a retirada de seus pertences 
do local da ocorrência ou do domicílio fami­
liar; V - informar à ofendida os direitos a ela 
conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. 
Em todos os casos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, feito o registro da 
ocorrência, deverá a autoridade policial ado­
tar, de imediato, os seguintes procedimentos, 
sem prejuízo daqueles previstos no Código de 
Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o 
boletim de ocorrência e tomar a representação 
a termo, se apresentada; II - colher todas as 
provas que servirem para o esclarecimento do 
fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no 
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente 
apartado ao juiz com o pedido da ofendida,
para a concessão de medidas protetivas de 
urgência; IV - determinar que se proceda ao 
exame de corpo de delito da ofendida e re­
quisitar outros exames periciais necessários; 
V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI 
- ordenar a identificação do agressor e fazer 
juntar aos autos sua folha de antecedentes 
criminais, indicando a existência de mandado 
de prisão ou registro de outras ocorrências 
policiais contra ele; VII - remeter, no prazo 
legal, os autos do inquérito policial ao juiz e 
ao Ministério Público. O pedido da ofendida 
será tomado a termo pela autoridade policial e 
deverá conter: I - qualificação da ofendida e do 
agressor; II - nome e idade dos dependentes; 
III - descrição sucinta do fato e das medidas 
protetivas solicitadas pela ofendida. A autori­
dade policial deverá anexar a esse pedido da 
ofendida o boletim de ocorrência e cópia de 
todos os documentos disponíveis em posse da 
ofendida. Ademais, nesses casos de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, serão 
admitidos como meios de prova os laudos ou 
prontuários médicos fornecidos por hospitais 
e postos de saúde.
5. Oitiva do ofendido: se possível, o De­
legado de Polícia também deve proceder à 
oitiva do ofendido. Conquanto o depoimento 
da vítima deva ser colhido com certa reserva, 
haja vista seu envolvimento emocional com 
o fato delituoso e o consequente interesse 
no deslinde da investigação, as informações 
por ela prestadas poderão ser muito úteis na 
busca de fontes de provas, contribuindo para 
o êxito das investigações. Como aduz Antônio 
Scarance Fernandes (O papel da vítima no 
processo criminal. São Paulo: Malheiros, 1995. 
p. 59-60), “o próprio sucesso da investigação 
e, consequentemente, o bom resultado final 
do processo dependem muito do interesse 
da vítima em colaborar. É ela quase sempre 
quem comunica o crime e indica as principais 
testemunhas. O seu retorno para prestar ou 
fornecer novos esclarecimentos é de máxima 
importância. A sua participação é necessária 
para a realização de diligências relevantes, 
tais como os reconhecimentos de pessoas e 
coisas e a elaboração do exame de corpo de 
delito”. De acordo com o art. 201, §1°, do CPP,
Art. 6o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
se, intimado para esse fim, o ofendido deixar 
de comparecer, é possível que a autoridade 
policial determine sua condução coercitiva.
6. Interrogatório do investigado: consoante 
disposto no art. 6o, inciso V, do CPP, a auto­
ridade policial deverá ouvir o indiciado, com 
observância, no que fo r aplicável, do disposto 
no Capítulo III do Título V II, deste Livro, 
devendoo respectivo termo ser assinado por 
duas testemunhas que lhe tenham ouvido a 
leitura. Apesar de o interrogatório judicial ser 
subdividido em duas fases, a primeira relati­
va à pessoa do acusado, e a segunda quanto 
aos fatos que lhe são imputados (CPP, art. 
187), o interrogatório policial deve ficar res­
trito à infração penal sob investigação. Afinal, 
esse interrogatório judicial sobre a pessoa do 
acusado foi inserido no texto do art. 187 do 
CPP pela Lei n. 10.792/03 apenas para que o 
magistrado tivesse conhecimento acerca de 
sua personalidade, de sua culpabilidade e de 
seus antecedentes, para fins de avaliação das 
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
6.1. Obrigatoriedade de assistência de 
advogado no interrogatório policial: para 
mais detalhes acerca do assunto, remetemos 
o leitor aos comentários ao art. 4o do CPP, 
mais precisamente ao item “5.4. Procedimento 
inquisitorial (Lei n. 13.245/16)”.
6.2. Direito à não autoincriminação: por
força do princípio do nemo tenetur se detegere, 
o suspeito, investigado, indiciado ou acusado 
não é obrigado a produzir prova contra si 
mesmo. Portanto, deve o investigado ser for­
malmente advertido pela autoridade policial 
que tem direito ao silêncio, e que do exercício 
desse direito não poderá decorrer qualquer 
prejuízo a sua pessoa.
7. Reconhecimento de pessoas e coisas:
quando houver necessidade de se fazer o reco­
nhecimento de pessoa no curso do inquérito 
policial, proceder-se-á pela forma prevista no 
art. 226 do CPP. O reconhecimento de coisas 
é ato ligado à identificação dos instrumentos 
empregados na prática delituosa (faca, revól­
ver, etc.), dos objetos utilizados para auxiliar
no delito (v.g., uma motocicleta usada em um 
crime de furto) e dos objetos que constituem 
o produto do crime (automóvel subtraído, 
celular roubado, etc.). Ao reconhecimento de 
coisas aplica-se o mesmo procedimento do 
reconhecimento de pessoas, no que for possível 
(CPP, art 227). Por força do princípio da busca 
da verdade e da liberdade das provas, tem- 
-se admitido a utilização do reconhecimento 
fotográfico, observando-se, por analogia, o 
procedimento previsto no CPP para o reco­
nhecimento pessoal.
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) Ajurisprudência do SuperiorTribunal de Justiça 
admite a possibilidade de reconhecimento do acusado 
por meio fotográfico desde que observadas as formali­
dades contidas no art. 226 do Código de Processo Penal. 
Eventual irregularidade cometida no inquérito policial 
restou sanada na fase judicial, porquanto o juiz proces- 
sante, ao realizar o reconhecimento pessoal do acusado 
na audiência de inquirição de testemunhas, o fez sob 
o crivo do contraditório e da ampla defesa. (...) Ordem 
parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada". 
(STJ, 5 ■> Turma, H C 136.147/SP, Rei. Min. Arnaldo Esteves 
Lima, j. 06/10/2009, DJe 03/11 /2009).
7.1. Direito à não autoincriminação: por
força do princípio do nemo tenetur se detegere, 
o investigado tem o direito de não colaborar 
na produção da prova sempre que se lhe exigir 
um comportamento ativo, um facere, daí por­
que não é obrigado a participar da acareação. 
Todavia, em relação às provas que demandam 
apenas que o acusado tolere a sua realização, 
ou seja, aquelas que exijam uma cooperação 
meramente passiva, não se há falar em violação 
ao nemo tenetur se detegere. O direito de não 
produzir prova contra si mesmo não persiste, 
portanto, quando o acusado for mero objeto 
de verificação. Assim, em se tratando de reco­
nhecimento pessoal, ainda que o acusado não 
queira voluntariamente participar, admite-se 
sua execução coercitiva. Em sentido diverso: 
FIORI, ArianeTrevisan. Aprova e a intervenção 
corporal: sua valoração no processo penal. Rio 
de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008. p. 94.
8. Acareações: a acareação será admitida 
entre investigados, entre investigado e teste­
munha, entre testemunhas, entre investigado
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 6o
ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as 
pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em 
suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias 
relevantes. Os acareados serão reperguntados, 
para que expliquem os pontos de divergências, 
reduzindo-se a termo o ato de acareação. Para 
mais detalhes acerca de seu procedimento, 
remetemos o leitor aos comentários aos arts. 
229 e 230 do CPP.
9. Determinação de realização de exa­
me de corpo de delito e quaisquer outras 
perícias: dentre as várias diligências a serem 
determinadas pela autoridade policial, prevê 
o Código a determinação de exame de corpo 
de delito e quaisquer outras perícias (CPP, art. 
6o, VII). Relembre-se que, por força do art. 158 
do CPP, quando a infração deixar vestígios, 
será indispensável o exame de corpo de deli­
to, direito ou indireto, não podendo supri-lo 
a confissão do acusado. Para mais detalhes 
acerca dos exames periciais, remetemos o leitor 
aos comentários aos arts. 158 a 184 do CPP.
10. Identificação do indiciado: consta do 
art. 6o, VIII, I a parte, do CPP, que a autori­
dade policial deve ordenar a identificação 
do indiciado pelo processo datiloscópico, se 
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de 
antecedentes. A primeira parte desse preceito 
do CPP, que entrou em vigor antes da Consti­
tuição Federal, deve ser lida em cotejo com o 
art. 5o, LVIII, da Carta Magna, que prevê que 
o civilmente identificado não será submetido 
à identificação criminal, salvo nas hipóteses 
previstas em lei. Por isso, grande parte da 
doutrina advoga que a norma constante do art. 
6o, VIII, do CPP, é incompatível com a Carta 
Magna, visto que referido dispositivo legal não 
pode ser considerado como a exceção prevista 
no texto constitucional. Portanto, para que 
seja possível a identificação criminal, mister 
se faz analisar a lei específica que versa sobre o 
assunto - Lei n. 12.037/09 - , objeto de estudo 
na sequência. 11
11. Identificação criminal: para que o Es­
tado possa punir o autor do delito, é indispen­
sável o conhecimento efetivo e seguro de sua 
correta identidade, sobretudo se considerar­
mos que a própria Constituição Federal prevê 
que nenhuma pena pode passar da pessoa do 
condenado (art. 5o, XLV, I a parte). De fato, 
ainda que não haja qualquer dúvida quanto à 
autoria do fato delituoso, há situações em que 
pode haver certa incerteza quanto à verdadeira 
identidade do autor do crime: afinal, durante 
a coleta de dados de identificação, é bastante 
comum que o autor do delito omita seus da­
dos pessoais, apresente informações inexatas, 
mentindo, usando documento falsos, ou atri­
buindo-se falsa identidade. Daí a importância 
da identificação criminal, que desempenha 
papel fundamental no auxílio da aplicação do 
direito penal, porquanto, através dela, é feito 
o registro dos dados identificadores da pessoa 
que praticou a infração penal sob investigação, 
possibilitando o conhecimento ou a confirma­
ção de sua identidade, a fim de que, ao término 
da persecução penal, lhe sejam impostas as 
sanções decorrentes do delito praticado.
11.1. Espécies de identificação criminal:
a identificação criminal é o gênero do qual são 
espécies a identificação datiloscópica - feita 
com base nas saliências papilares da pessoa 
- , a identificação fotográfica e a novel iden­
tificação do perfil genético, introduzida pela 
Lei n. 12.654/12. A propósito, dispõe o art. 
5o da Lei n. 12.037/09, que a identificação 
criminal incluirá o processo datiloscópico 
e o fotográfico, que serão juntados aos au­
tos da comunicação da prisão em flagran­
te, ou do inquérito policial ou outra forma 
de investigação. A identificação crim inal 
abrange, portanto, uma sessão fotográfica, a 
coleta de impressões digitais do indivíduo e, 
em algumas hipóteses que serão estudadas 
mais adiante, a coleta de material biológico 
para a obtenção do perfil genético. Diante da 
mutabilidade da fisionomia das pessoas e a 
impossibilidade da formação de um cadastro 
fotográfico acessível, a fotografia deve ser 
usada comométodo auxiliar de identificação, 
não sendo possível que a autoridade policial 
a utilize de maneira exclusiva, dispensando a 
identificação datiloscópica. Para tanto, deve 
ser seguido o padrão fotográfico exigido para 
a cédula de identidade civil, ou seja, a foto de 
frente, tamanho três por quatro centímetros,
O
\
Art. 6o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
prevista na Lei n. 7.116/83. As vantagens da 
identificação datiloscópica são destacadas 
pela doutrina: o desenho digital é perene, 
acompanhando o homem durante toda a 
vida, sendo notada a formação de pontos 
característicos a partir do 3o mês de vida 
fetal, os quais se consolidam, ainda na fase 
intrauterina, por volta do 6o mês de gestação, 
podendo ser encontrados, mesmo depois 
da morte, até a desagregação da matéria. A 
imutabilidade é a propriedade da inalterabili- 
dade do desenho digital, desde sua formação 
até a putrefação cadavérica. Ademais, não é 
possível a localização de digitais idênticas nos 
diferentes dedos de um mesmo indivíduo ou 
entre duas pessoas diferentes.
11.2. Distinção entre identificação crimi­
nal e qualificação do investigado: a identifi­
cação criminal diz respeito à identificação dati­
loscópica, fotográfica e genética, e só é possível 
nos casos previstos em lei (CF, art. 5o, LVIII). 
A qualificação do investigado deve ser com­
preendida como sua individualização, através 
da obtenção de dados como nome completo, 
naturalidade, filiação, nacionalidade, estado ci­
vil, domicílio, etc. A qualificação do investigado 
não traz qualquer forma de constrangimento, 
tipificando o art. 68 da Lei de Contravenções 
Penais (Dec.-lei 3.688/41) a conduta de recusar 
à autoridade, quando por esta justificadamente 
solicitados ou exigidos, dados ou indicações 
concernentes à própria identidade, estado, pro­
fissão, domicílio e residência.
11.3. Distinção entre identificação crimi­
nal e reconhecimento de pessoas: na identi­
ficação criminal, notadamente nas hipóteses de 
identificação datiloscópica e do perfil genético, 
há o emprego de técnica científica, sendo que o 
ato de identificação pressupõe conhecimentos 
técnicos por parte do identificador. No reco­
nhecimento de pessoas (CPP, art. 226), não se 
exige habilidade específica, cuidando-se de 
mera comparação leiga feita com a finalidade 
de se encontrar semelhanças entre pessoas ou 
coisas. Assim, pode-se dizer que, enquanto o 
reconhecimento é feito por uma pessoa leiga, 
a identificação é feita por um técnico.
11.4. Leis relativas à identificação crimi­
nal: antes da Constituição Federal de 1988, a 
identificação criminal era tida como a regra, 
ainda que o indivíduo tivesse se identificado 
civilmente. Era esse, aliás, o teor do enuncia­
do da súmula n. 568 do Supremo Tribunal 
Federal: a identificação criminal não constitui 
constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já 
tenha sido identificado civilmente. No entanto, 
sob o argumento de que a persecução penal 
poderia ser levada adiante sem que fosse acom­
panhada da obrigatória identificação criminal, 
a Constituição Federal passou a dispor em seu 
art. 5o, LVIII, que o civilmente identificado não 
será submetido à identificação criminal, salvo 
nas hipóteses previstas em lei. Como se percebe, 
o que antes era a regra passou a ser a exceção, 
estando a identificação criminal do civilmente 
identificado condicionada à previsão em lei. 
Daí a importância de verificarmos os disposi­
tivos legais que, ao longo dos anos, passaram 
a dispor sobre a identificação criminal: 1) art. 
109 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
o adolescente civilmente identificado não será 
submetido a identificação compulsória pelos ór­
gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para 
efeito de confrontação, havendo dúvida funda­
da; 2) art. 5o da revogada Lei n. 9.034/95: a 
identificação criminal de pessoas envolvidas 
com a ação praticada por organizações crimi­
nosas será realizada independentemente da 
identificação civil. Tinha-se, pois, hipótese de 
identificação criminal compulsória de pessoas 
envolvidas com o crime organizado, indepen­
dentemente da existência de identificação civil. 
Todavia, em data de 19 de setembro de 2013, 
a Lei n. 9.034/95 foi expressamente revogada 
pela nova Lei das Organizações Criminosas 
(Lei n. 12.850/13), da qual não consta nenhum 
dispositivo expresso acerca da obrigatoriedade 
de identificação criminal; 3) Lei n. 10.054/00: 
posteriormente revogada pela Lei n. 12.037/09, 
a Lei n. 10.054/00 passou a regulamentar de 
maneira específica a identificação criminal no 
ordenamento pátrio. Como o art. 3o, inciso I, 
da revogada Lei n. 10.054/00, enumerava, de 
forma incisiva, determinados crimes em que 
a identificação criminal seria compulsória - 
homicídio doloso, crimes contra o patrimônio
TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 6o
praticados com violência ou grave ameaça, 
receptação qualificada, crimes contra a liber­
dade sexual ou crime de falsificação de docu­
mento público - , não constando, dentre eles, 
a hipótese em que o acusado se envolve com 
a ação praticada por organizações criminosas, 
concluiu a 5a Turma do STJ que o preceito do 
art. 5° da Lei n. 9.034/95 (hoje revogada ex­
pressamente pela Lei n. 12.850/13) já teria sido 
tacitamente revogado pela Lei n. 10.054/00; 4) 
Lei n. 12.037/09: de acordo com seu art. 1°, 
o civilmente identificado não será submetido 
à identificação criminal, salvo nos casos pre­
vistos nesta lei. Ora, se a Lei n. 10.054/00 foi 
expressamente revogada pelo art. 9° da Lei n. 
12.037/09, e se o art. 1° da Lei n. 12.037/09 
preceitua que a identificação criminal só po­
derá ocorrer nos casos previstos nesta lei, há de 
se concluir pela revogação tácita do art. 5° da 
Lei n. 9.034/95 (hoje revogada expressamente 
pela Lei n. 12.850/13), que, inclusive, já se 
tinha como revogado pelo advento da Lei n. 
10.054/00. Raciocínio semelhante há de ser 
aplicado também ao art. 109 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente. Portanto, doravante, 
a identificação criminal somente será possível 
nas hipóteses estabelecidas na Lei n. 12.037/09; 
5) Lei n. 12.654/12: esta Lei introduziu no 
ordenamento pátrio a possibilidade de cole­
ta de material biológico para a obtenção do 
perfil genético. Também introduziu na Lei de 
Execução Penal o art. 9°-A, que dispõe que 
“os condenados por crime praticado, dolosa­
mente, com violência de natureza grave contra 
pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos 
no art. Io da Lei n. 8.072/90 serão submetidos, 
obrigatoriamente, à identificação do perfil 
genético, mediante extração de DNA - ácido 
desoxirribonucleico, por técnica adequada e 
indolor”. Diversamente da hipótese prevista 
no art. 3°, IV, da Lei n. 12.037/09, em que a 
identificação do perfil genético é feita para ser 
utilizada como prova em relação a um crime já 
ocorrido - pode ser qualquer delito, já que o 
dispositivo não faz qualquer restrição quanto 
à espécie de infração penal - , no caso do art. 
9°-A da LEP, a coleta do material genético será 
feita apenas em relação aos condenados por 
sentença transitada em julgado pela prática 
de certos delitos, sendo que a identificação irá
para um banco de dados de modo a ser usada 
como prova em relação a fatos futuros. Ade­
mais, neste caso, não há necessidade de prévia 
autorização judicial para a coleta do material 
biológico, vez que esta autorização é necessária 
apenas para ulterior acesso ao banco de dados 
por parte da autoridade policial (LEP, art. 9°-A, 
§2°, com redação dada pela Lei n. 12.654/12).
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) O art. 3°, caput e incisos, da Lei n° 10.054/2000, 
enumerou, de forma incisiva, os casos nos quais o civil­
mente identificado deve, necessariamente, sujeitar-se 
à identificação criminal, não constando, entre eles, a 
hipótese em que o acusado se envolve com a ação 
praticada por organizações criminosas. Com efeito, 
restou revogado o preceito contido no art. 5° da Lei 
n° 9.034/95, o qual exige que a identificação criminalde pessoas envolvidas com o crime organizado seja 
realizada independentemente da existência de iden­
tificação civil. Recurso provido". (STJ, 5a Turma, RHC 
12.965/DF, Rei. Min. Felix Fischer, j. 07/10/2003, DJ 
10/11/2003 p. 197).
11.5. Documentos atestadores da identi­
ficação civil: de acordo com o art. 1° da Lei n. 
12.037/09, o civilmente identificado não será 
submetido a identificação criminal, salvo nos 
casos previstos nesta Lei. Interpretando-se a 
contrario sensu o referido dispositivo, conclui- 
-se que, se acaso o indivíduo não se identificar 
civilmente, com a apresentação de um dos do­
cumentos listados no art. 2° da referida lei, será 
possível sua identificação criminal, quando se 
envolver com alguma prática delituosa. O art. 
2° da Lei n. 12.037/09 dispõe sobre o rol de 
documentos que podem atestar a identifica­
ção civil das pessoas, o que, por consequên­
cia, impede a identificação criminal. São eles: 
carteira de identidade, carteira de trabalho, 
carteira profissional, passaporte, carteira de 
identificação funcional, ou outro documento 
público que permita a identificação do indicia­
do (v.g., carteira nacional de habilitação, cujo 
atual layout permite a identificação civil da 
pessoa). Para as finalidades da Lei n. 12.037/09, 
equiparam-se aos documentos de identificação 
civis os documentos de identificação militares. 
As carteiras expedidas por órgãos fiscalizado- 
res do exercício profissional, criados por lei 
federal, têm o mesmo valor do documento de
Aft. 6o ' CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
identidade, diante do teor da Lei n. 6.206/75, 
servindo, portanto, como forma de comprova­
ção da identidade das pessoas. Ademais, aos 
advogados e membros do Ministério Público, 
é assegurado que o documento de identidade 
profissional ou a carteira funcional sirvam 
como prova de identidade civil ou cédula de 
identidade, ex vi do art. 13 da Lei n. 8.906/94 e 
do art. 42 da Lei n. 8.625/93. Apesar de o art. 2o, 
inciso VI, da Lei n. 12.037/09, fazer menção a 
qualquer outro documento público que permita 
a identificação do indiciado, queremos crer que 
uma certidão de nascimento, por si só, não é 
capaz de identificar civilmente o indivíduo, 
haja vista não ser dotada de fotografia. Aliás, o 
próprio art. 3o, II, da Lei n. 12.037/09, autoriza 
a identificação criminal quando o documento 
apresentado for insuficiente para identificar 
cabalmente o indiciado. A Lei n. 10.054/00 
dispunha que o civilmente identificado por 
documento original não seria submetido à 
identificação criminal, exceto nas hipóteses 
discriminadas no art. 3o. A Lei n. 12.037/09, 
em seu art. 3o, fala apenas em apresentação 
de documento de identificação, sem dizer se 
tal documento teria que ser o original ou se 
bastaria uma cópia. A nosso ver, esse silêncio 
eloquente demonstra que a cópia de documen­
to de identificação, desde que devidamente 
autenticada, é capaz de suprir a ausência do 
original, sobretudo se considerarmos que o 
próprio art. 232, parágrafo único, do CPP, 
dispõe que a fotocópia do documento devi­
damente autenticada tem o mesmo valor que 
o original.
11.6. Hipóteses autorizadoras da identi­
ficação criminal: segundo o art. 3o da Lei n. 
12.037/09, embora apresentado documento 
de identificação, poderá ocorrer identificação 
criminal quando: I - o documento apresentar 
rasura ou tiver indício de falsificação; II - o 
documento apresentado for insuficiente para 
identificar cabalmente o indiciado: é o que 
acontece, por exemplo, com documentos pú­
blicos que não são dotados de fotografia, como 
a certidão de nascimento; III - o indiciado por­
tar documentos de identidade distintos, com 
informações conflitantes entre si; IV - a iden­
tificação criminal for essencial às investigações
policiais, segundo despacho da autoridade ju ­
diciária competente, que decidirá de ofício ou 
mediante representação da autoridade policial, 
do Ministério Público ou da defesa: diversa­
mente das hipóteses anteriores e seguintes, esta 
hipótese de identificação criminal depende 
de prévia autorização judicial. Apesar de o 
legislador referir-se apenas à representação da 
autoridade policial, do Ministério Público ou 
da defesa, pensamos que não se pode excluir 
a possibilidade de o ofendido representar pela 
identificação criminal nas hipóteses de crimes 
de ação penal privada. Isso porque, caso não 
seja determinada a identificação criminal, 
estar-se-á a inviabilizar o exercício do direito 
de queixa, já que o ofendido não terá elementos 
precisos acerca da pessoa em relação à qual o 
processo criminal deva ser deflagrado. Noutro 
giro, a despeito de a Lei n. 12.037/09 não se 
referir ao cabimento de recurso contra essa de­
cisão judicial relativa à identificação criminal, 
há de se admitir a possibilidade de impetração 
de habeas corpus, em prol do investigado, e de 
mandado de segurança, no caso da acusação. 
Outra diferença importante em relação a este 
inciso IV do art. 3o é que, nesta hipótese, a 
identificação criminal poderá incluir a co­
leta de material biológico para a obtenção 
do perfil genético (Lei n. 12.037/09, art. 5o, 
parágrafo único, com redação dada pela Lei 
n. 12.654/12). Como o inciso IV faz menção 
à identificação para auxiliar as investigações, 
é de se concluir que, nesse caso, o código ge­
nético será confrontado com as amostras de 
sangue, saliva, sêmen, pelos, etc., encontradas 
no local do crime, no corpo da vítima, para 
fins de comprovação da autoria do delito. A 
título de exemplo, basta pensar na realização 
de exame de DNA feito a partir da comparação 
do material genético de determinado acusado 
com os vestígios de esperma encontrados no 
corpo da vítima. A partir da comparação, será 
elaborado laudo pericial firmado por perito 
oficial devidamente habilitado que analisará 
a coincidência (ou não) do perfil genético. 
Ante a gravidade da intervenção corporal, à 
autoridade judiciária incumbe demonstrar a 
impossibilidade de se obter a prova da autoria 
por método menos invasivo, funcionando a
Art. 6oTITULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL
coleta de material genético como medida de 
ultima ratio, evitando-se, assim, sua banali- 
zação; V - constar de registros policiais o uso 
de outros nomes ou diferentes qualificações; 
VI - o estado de conservação ou a distância 
temporal ou da localidade da expedição do do­
cumento apresentado impossibilite a completa 
identificação dos caracteres essenciais: parece 
ter havido um equivoco do legislador ao dis­
por que será possível a identificação criminal 
quando a localidade distante da expedição do 
documento impossibilitar a completa identifi­
cação dos caracteres essenciais. Ora, o fato de 
alguém identificar-se civilmente na cidade de 
Pacaraima/RR com uma carteira de identidade 
em perfeitas condições expedida em Santa Ma- 
ria/RS, por si só, não é fundamento suficiente 
para sua identificação criminal, a não ser que 
presente uma das hipóteses anteriores. Ao 
contrário da lei anterior (Lei n. 10.054/00), que 
estabelecia um rol taxativo de delitos onde a 
identificação criminal seria obrigatória, ainda 
que o investigado se identificasse civilmente, a 
Lei n. 12.037/09 deixou de estabelecer a espécie 
de crime como critério para a determinação 
da identificação criminal. Presente uma das 
hipóteses do art. 3o da Lei n. 12.037/09, e 
recusando-se o investigado a colaborar, é per- 
feitamente possível sua condução coercitiva, 
sem prejuízo de eventual responsabilidade 
criminal pelo delito de desobediência. Nesse 
sentido, aliás, dispõe o art. 260 do CPP que se o 
acusado não atender à intimação para o inter­
rogatório, reconhecimento ou qualquer outro 
ato que, sem ele, não possa ser realizado - é o 
caso da identificação criminal - a autoridade 
poderá mandar conduzi-lo à sua presença. A 
nosso juízo, não se pode objetar que a identifi­
cação criminal importa em violação ao direito 
à não autoincriminação, previsto no art. 5o, 
LXIII, da Constituição Federal, e na Conven­
ção Americana sobreDireitos Humanos (Dec. 
678/92, art. 8o, n. 2, “g”). Afinal, a mesma 
Constituição Federal que assegura o direito 
ao silêncio também prevê que o civilmente 
identificado não será submetido à identifica­
ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em 
lei (art. 5o, LVIII). Portanto, pelo princípio da 
concordância prática ou da harmonização, não
se pode querer emprestar valor absoluto ao 
direito de não produzir prova contra si mesmo, 
inviabilizando que o Estado possa colher as im­
pressões digitais com a finalidade de registrar 
os dados da identidade física do provável autor 
do delito. Objetivando preservar a imagem da 
pessoa identificada criminalmente, a Lei n. 
12.037 prevê que, no caso de não oferecimento 
da denúncia, ou sua rejeição, ou absolvição, é 
facultado ao indiciado ou ao réu, após o arqui­
vamento definitivo do inquérito, ou trânsito 
em julgado da sentença, requerer a retirada 
da identificação fotográfica do inquérito ou 
processo, desde que apresente provas de sua 
identificação civil (art. 7o). Perceba-se que a 
lei previu apenas a retirada da identificação 
fotográfica. Logo, a identificação datiloscópica 
deve permanecer nos autos do inquérito ou 
processo criminal. Na mesma linha, segundo 
o art. 7o-A da Lei n. 12.037/09, com redação 
dada pela Lei n. 12.654/12, a exclusão dos 
perfis genéticos dos bancos de dados ocorrerá 
no término do prazo estabelecido em lei para 
a prescrição do delito.
11.7. Identificação do perfil genético (Lei 
n. 12.654/12): com o crescente desenvol­
vimento de outras técnicas de identificação 
biométrica, tais como a identificação por voz, 
a identificação através da íris, da retina, da 
face, entre outros, sempre se discutiu se se­
ria possível a utilização de outras formas de 
identificação. A partir do momento em que a 
própria Constituição Federal determinou que 
o civilmente identificado não será submetido 
à identificação criminal, salvo nas hipóteses 
previstas em lei (art. 5o, LVIII), parece-nos 
que, pelo menos enquanto a legislação vigente 
delimitava as formas de identificação criminal 
apenas à datiloscópica e fotográfica (reda­
ção original da Lei n. 12.037/09), revelava-se 
inaceitável, à época, a utilização de outros 
métodos de identificação. Evidentemente, a 
partir do momento que sobrevêm mudança 
legislativa autorizando a utilização de novas 
formas de identificação criminal, o panorama 
é alterado. Daí a importância do estudo da Lei 
n. 12.654/12, que passou a permitir a possi­
bilidade de coleta de material biológico para 
obtenção de perfil genético como forma de
A r t . 6 o CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
identificação criminal. Consoante disposto no 
art. 5°-A da Lei n. 12.037/09, acrescentado pela 
Lei n. 12.654/12, os dados relacionados à coleta 
do perfil genético deverão ser armazenados em 
banco de dados de perfis genéticos, gerenciado 
por unidade oficial de perícia criminal. As 
informações genéticas contidas nos bancos 
de dados de perfis genéticos não poderão 
revelar traços somáticos ou comportamentais 
das pessoas, exceto determinação genética de 
gênero, consoante as normas constitucionais e 
internacionais sobre direitos humanos, geno- 
ma humano e dados genéticos. Os dados cons­
tantes dos bancos de dados de perfis genéticos 
terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal 
e administrativamente aquele que permitir 
ou promover sua utilização para fins diversos 
dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial. 
Ademais, as informações obtidas a partir da 
coincidência de perfis genéticos deverão ser 
consignadas em laudo pericial firmado por 
perito oficial devidamente habilitado.
11.7.1. Direito à não autoincriminação:
a novel identificação do perfil genético irá 
provocar muita controvérsia à luz do princípio 
que veda a autoincriminação. Evidentemente, 
se acaso a defesa solicitar esta forma de iden­
tificação, com o objetivo de, eventualmente, 
excluir sua responsabilidade, não haverá qual­
quer ilegalidade. Por isso, o cerne da questão 
diz respeito às hipóteses em que o acusado 
se negar a fornecer material biológico para a 
obtenção de seu perfil genético. Certamente, 
haverá quem diga que não se pode obrigar o 
investigado a contribuir com as investigações, 
e qualquer decisão judicial que lhe obrigue a 
fornecer material biológico para fins probató­
rios (Lei n. 12.037/09, art. 3o, IV) - e não de 
sua identidade - será afrontoso ao princípio 
constitucional que veda a autoincriminação. 
Afinal, não se pode impor ao investigado que 
contribua ativamente com as investigações, 
sobretudo mediante o fornecimento de ma­
terial biológico que possa vir a incriminá-lo 
em ulterior exame de DNA. Sem embargo 
desse entendimento, parece-nos que a validade 
dessa identificação do perfil genético estará 
condicionada à forma de coleta do material 
biológico. Como o acusado não é obrigado a
praticar nenhum comportamento ativo capaz 
de incriminá-lo, nem tampouco a se submeter 
a provas invasivas sem o seu consentimento, 
de modo algum pode ser obrigado a fornecer 
material biológico para a obtenção de seu per­
fil genético. Todavia, se estivermos diante de 
amostras de sangue, urina, cabelo, ou de outros 
tecidos orgânicos, descartadas voluntária ou 
involuntariamente pelo investigado na cena 
do crime ou em outros locais, parece-nos que 
não há qualquer óbice a sua coleta, sem que 
se possa arguir eventual violação ao princípio 
do nemo tenetur se detegere. Aos olhos dos 
Tribunais, referido princípio impede que o 
acusado seja compelido a produzir qualquer 
prova incriminadora invasiva. Por isso, em 
diversos julgados, o STF já se manifestou no 
sentido de que o acusado não é obrigado a 
fornecer material para realização de exame 
de DNA. Todavia, o mesmo Supremo também 
tem precedentes no sentido de que a produção 
dessa prova será válida se a coleta do material 
for feita de forma não invasiva (v.g., exame 
de DNA realizado a partir de fio de cabelo 
encontrado no chão). Idêntico raciocínio deve 
ser empregado quanto à identificação do perfil 
genético: desde que o acusado não seja com­
pelido a praticar qualquer comportamento 
ativo que possa incriminá-lo, nem tampouco 
a se sujeitar à produção de prova invasiva, há 
de ser considerada válida a coleta de material 
biológico para a obtenção de seu perfil gené­
tico.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF: "INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - EXAME DNA 
- CO N DU ÇÃO DO RÉU "DEBAIXO DE VARA". Discrepa, 
a mais não poder, de garantias constitucionais implí­
citas e explícitas - preservação da dignidade humana, 
da intimidade, da intangibilidade do corpo humano, 
do império da lei e da inexecução específica e direta 
de obrigação de fazer - provimento judicial que, em 
ação civil de investigação de paternidade, implique 
determinação no sentido de o réu ser conduzido ao 
laboratório, "debaixo de vara", para coleta do mate­
rial indispensável à feitura do exame DNA. A recusa 
resolve-se no plano jurídico-instrumental, conside­
radas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no 
que voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova 
dos fatos". (STF, Pleno, HC 71.373/RS, Rei. Min. Marco 
Aurélio, j. 10/11 / I 994, DJ 22/11/1996).
TlTULOII. DO INQUÉRITO POLICIAL j Art. 7o
STF:"(...) Coleta de material biológico da placenta, com 
propósito de se fazer exame de DNA, para averigüação 
de paternidade do nascituro, embora a oposição da 
extraditanda. Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5o, 
da CF/88. (...) Bens jurídicos constitucionais com o "m o­
ralidade administrativa","persecução penal pública"e 
"segurança pública"que se acrescem, - com o bens da 
comunidade, na expressão de Canotilho, - ao direito 
fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim direito 
à honra e à im agem de policiais federais acusados de 
estupro da extraditanda, nas dependências da Polícia 
Federal, e direito à im agem da própria instituição, 
em confronto com o alegado direito da reclamante 
à intim idade e a preservar a identidade do pai de 
seu filho. (...)Mérito do pedido do Ministério Público 
Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para 
autorizar a realização do exame de DNA do filho da 
reclamante, com a utilização da placenta recolhida, 
sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à 
Polícia Federal do"prontuário médico"da reclamante". 
(STF, Pleno, Rcl-QO 2.040/DF, Rei. Min. Néri da Silveira, 
DJ 27/06/2003, p. 31).
12. Folha de antecedentes: é a ficha que 
contém a vida pregressa criminal do investi­
gado, de onde constam dados como a relação 
dos inquéritos policiais já instaurados contra 
sua pessoa e sua respectiva destinação. Atente- 
-se, neste ponto, à nova redação conferida ao 
art. 20, parágrafo único, do CPP, pela Lei n. 
12.681/12: “nos atestados de antecedentes que 
lhe forem solicitados, a autoridade policial 
não poderá mencionar quaisquer anotações 
referentes à instauração de inquérito contra os 
requerentes”. Em sua redação anterior, o dis­
positivo ressalvava a possibilidade de constar 
da folha de antecedentes eventual condenação 
anterior.
13. Averiguação da vida pregressa do 
investigado: também incumbe à autoridade 
policial averiguar a vida pregressa do indicia­
do, sob o ponto de vista individual, familiar e 
social, sua condição econômica, sua atitude 
e estado de ânimo antes e depois do crime 
e durante ele, e quaisquer outros elementos 
capazes de contribuir para a apreciação do seu 
temperamento e caráter.
14. Colheita de informações sobre a exis­
tência de filhos: o Marco Civil da Primeira 
Infância acrescentou uma nova diligência po­
licial ao rol exemplificativo do art. 6o do CPP, 
qual seja, a colheita de informações sobre a 
existência de filhos, respectivas idades e se 
possuem alguma deficiência e o nome e o 
contato de eventual responsável pelos cuidados 
dos filhos, indicado pela pessoa presa. Ques­
tionamento semelhante a este também deve 
ser feito por ocasião do interrogatório judicial 
e da lavratura do auto de prisão em flagrante 
(CPP, arts. 185, §10, e 304, §4°, incluídos pela 
Lei n. 13.257/16). O objetivo do legislador 
é conferir ao magistrado informações mais 
completas acerca da pessoa presa para fins de 
possível concessão de prisão domiciliar (CPP, 
art. 318, III,V ,e V I).
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada 
de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução 
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem 
pública.1'2
1. Reconstituição do fato delituoso: a de­
pender do crime investigado, a exemplo de 
homicídios consumados ou tentados, o Dele­
gado de Polícia pode determinar a realização
da reconstituição do crime, que funciona como 
importante meio de prova, notadamente para 
esclarecer a dinâmica do fato delituoso, auxi­
liando na formação do convencimento do juiz 
ou dos jurados. Na hipótese de a reprodução 
simulada dos fatos contrariar a moralidade 
ou a ordem pública, como, por exemplo, em 
crimes contra a dignidade sexual, deve o De­
legado de Polícia se valer de outros meios de 
prova.
2. Participação da defesa: tratando-se o 
inquérito policial de procedimento de natureza 
inquisitorial, a participação do investigado ou 
de seu advogado não é condição sine qua non 
para a validade da reconstituição do fato deli­
tuoso, conquanto realizada em sede de investi­
gação policial. Obviamente, caso a reprodução 
simulada dos fatos ocorra na fase judicial, a 
validade dessa prova estará condicionada à
Art. 8o , CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
observância do contraditório e da ampla defesa 
(CF, art. 5o, LV).
3. Direito à não autoincriminação: por for­
ça do direito de não produzir prova contra si 
mesmo, doutrina e jurisprudência têm adotado 
o entendimento de que não se pode exigir um 
comportamento ativo do acusado, caso desse fa - 
cere possa resultar a autoincriminação. Assim, 
sempre que a produção da prova tiver como 
pressuposto uma ação por parte do acusado 
(v.g., acareação, reconstituição do crime, exa­
me grafotécnico, bafômetro, etc.), será indis­
pensável seu consentimento. Cuidando-se do 
exercício de um direito, não se admitem medi­
das coercitivas contra o acusado para obrigá-lo 
a cooperar na produção de provas que dele 
demandem um comportamento ativo. Além 
disso, a recusa do acusado em se submeter a 
tais provas não configura o crime de desobe­
diência nem tampouco o de desacato, e dela 
não pode ser extraída nenhuma presunção de 
culpabilidade, pelo menos no processo penal. 
Portanto, se o investigado não é obrigado a 
participar da reconstituição do crime, pensa­
mos não ser possível sua condução coercitiva 
para tanto. Acerca do assunto, o Supremo 
Tribunal Federal já se manifestou no sentido 
de que configura constrangimento ilegal a 
decretação de prisão preventiva de indiciados 
diante da recusa destes em participarem de 
reconstituição do crime. Afinal, cuidando-se 
de prova que depende da colaboração ativa do 
acusado, não se pode exigir sua participação, 
sob pena de violação ao nemo tenetur se dete- 
gere.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Reconstituição de crime (reprodução simu­
lada de delito de homicídio) Art. 7o do CPP. Diligência
requerida pelo Ministério Público, deferida pelo juiz, 
na fase do inquérito policial, e a cuja realização os 
indiciados se teriam negado a comparecer. Prisão 
preventiva decretada com base apenas nessa recusa 
dos indiciados. Constrangimento ilegal. Habeascorpus 
deferido para revogação a prisão preventiva, como 
decretada, sem prejuízo de eventual decretação de 
outra, se caracterizada qualquer das situações do art. 
312 do CPP e com adequada fundamentação. Inter­
pretação dos arts. 7o, 260 e 312 do CPP. Se a prisão 
preventiva dos pacientes foi decretada apenas e tão 
somente porque não se teriam disposto a participar 
da diligência de reprodução simulada do delito de ho­
micídio (reconstituição do crime), ficou caracterizado 
constrangimento ilegal reparável com habeas corpus". 
(STF, Tribunal Pleno, HC 64.354/SP, Rei. Min. Sydney 
Sanches, j. 01/07/1987, DJ 14/08/1987).
STF:"(...) A reconstituição do crime configura ato de 
caráter essencialmente probatório, pois destina-se - 
pela reprodução simulada dos fatos - a demonstrar 
o modus faciendi de prática delituosa (CPP, art. 7o). 
O suposto autor do ilícito penal não pode ser com ­
pelido, sob pena de caracterização de injusto cons­
trangimento, a participar da reprodução simulada 
do fato delituoso. O magistério doutrinário, atento 
ao princípio que concede a qualquer indiciado ou 
réu o privilégio contra a autoincriminação, ressalta 
a circunstância de que é essencialmente voluntária 
a participação do im putado no ato - provido de 
indiscutível eficácia probatória - concretizador da 
reprodução simulada do fato delituoso. A reconsti­
tuição do crime, especialmente quando realizada na 
fase judicial da persecução penal, deve fidelidade ao 
princípio constitucional do contraditório, ensejando 
ao réu, desse modo, a possibilidade de a ela estar 
presente e de, assim, im pedir eventuais abusos, 
descaracterizadores da verdade real, praticados pela 
autoridade pública ou por seus agentes. Não gera 
nulidade processual a realização da reconstituição da 
cena delituosa quando, embora ausente o defensor 
técnico por falta de intimação, dela não participou 
o próprio acusado que, ag in d o conscientem ente 
e com plena liberdade, recusou-se, não obstante 
comparecendo ao ato, a colaborar com as autoridades 
públicas na produção dessa prova. (...)". (STF, 1aTurma, 
HC 69.026/DF, Rei. Min. Celso de Mello, j. 10/12/1991, 
DJ 04/09/1992).
Art. 8o Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto no 
Capítulo II do Título IX deste Livro.''2
1. Auto de prisão em flagrante como peça 
inaugural do inquérito policial: nos comen­
tários ao art. 5o do CPP, vimos que uma das 
espécies de notitia criminis é a coercitiva, que
ocorre quando a autoridade policial toma co­
nhecimento do fato delituoso através da apre­
sentaçãodo indivíduo preso em flagrante. A 
despeito de não constar expressamente do art.
84
TÍTULO II-D O INQUÉRITO POLICIAL Art. 10
5o do CPP, o auto de prisão em flagrante não 
deixa de ser uma das formas de instauração 
do inquérito policial, funcionando o próprio 
auto como a peça inaugural da investigação. Ao 
invés de regulamentar o procedimento do auto 
de prisão em flagrante no Título referente ao 
inquérito policial, o art. 8o do CPP optou por 
fazer referência ao Capítulo II do Título IX do 
Livro I do CPP (arts. 301 a 310), onde o tema 
encontra-se devidamente regulamentado.
2. Suficiência do auto de prisão em fla­
grante e dispensa do inquérito policial: no
âmbito processual penal militar, se o auto de 
prisão em flagrante delito, por si só, for sufi­
ciente para a elucidação do fato e sua autoria, 
constituirá o inquérito, dispensando outras 
diligências, salvo o exame de corpo de delito
no crime que deixe vestígios, a identificação 
da coisa e a sua avaliação, quando o seu valor 
influir na aplicação da pena (CPPM, art. 27). 
A despeito do silêncio do CPP acerca do as­
sunto, pensamos ser perfeitamente possível a 
aplicação subsidiária do art. 27 do CPPM no 
âmbito processual penal comum, ex vi do art. 
3o do CPP. Ora, supondo que o auto de prisão 
em flagrante lavrado pela autoridade de Po­
lícia Civil já contenha todos os elementos de 
informação necessários para o oferecimento 
da denúncia (v.g., prisão em flagrante no caso 
de tráfico de drogas), e tendo em conta que o 
inquérito policial é peça dispensável para o 
início da persecução penal em juízo, qual seria 
a utilidade de se determinar a instauração de 
um inquérito policial? Nenhuma.
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, 
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela auto- 
ridade.1-2
1. Procedimento escrito: o art. 9o do CPP 
deixa claro que todas as peças do inquérito 
policial deverão ser reduzidas a escrito.
2. Gravações audiovisuais: diante do teor
do art. 9o do CPP, discute-se, na doutrina,
acerca da possibilidade de se utilizar de re­
cursos de gravação audiovisual no curso das 
investigações policiais. A nosso juízo, apesar 
de o CPP não fazer menção à gravação au­
diovisual de diligências realizadas no curso 
do inquérito policial, deve-se atentar para 
a data em que o referido Codex entrou em
vigor ( I o de janeiro de 1942). Destarte, seja 
por força de uma interpretação progressiva, 
seja por conta de uma aplicação subsidiária 
do art. 405, §1°, do CPP, há de se admitir a 
utilização desses novos meios tecnológicos 
no curso do inquérito. Portanto, sempre 
que possível, o registro dos depoimentos do 
investigado, do indiciado, ofendido e teste­
munhas será feito pelos meios ou recursos 
de gravação magnética, estenotipia, digital 
ou técnica similar, inclusive audiovisual, 
destinada a obter maior fidelidade das in­
formações.
Art. 10 . O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado 
tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o 
prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, 
ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.1
§1°A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado2 * * e 
enviará autos ao juiz competente.3-4
§2° No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tive­
rem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.5
A r t . 1 0 V cpp COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
§3° Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a 
autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores 
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.6
1. Prazo para a conclusão do inquérito 
policial: em relação ao agente que está solto, 
o prazo prorrogável para a conclusão do 
inquérito é de 30 (trinta) dias, ao passo que, 
estando preso o indiciado, esse prazo será de 
10 (dez) dias.
1.1. Natureza do prazo para a conclusão 
do inquérito policial: se o prazo é de
natureza material, significa que o dia do co­
meço inclui-se no computo do prazo (CP, art. 
10). Ademais, tal prazo não se prorroga até o 
primeiro dia útil subsequente, não estando 
sujeito a causas interruptivas nem suspensi- 
vas. De outro lado, cuidando-se de prazo de 
natureza processual, exclui-se o dia do começo 
e inclui-se o dia do final, ou seja, significa 
dizer que o prazo começa a fluir a partir do 
primeiro dia útil subsequente. Além disso, o 
prazo que terminar em domingo ou dia feriado 
considerar-se-á prorrogado até o dia útil ime­
diato (CPP, art. 798, §§1° e 3o). Em relação ao 
prazo para a conclusão de inquérito policial 
relativo a investigado solto, não há maiores 
controvérsias: trata-se de prazo de natureza 
processual. A divergência fica por conta da 
natureza do prazo para a conclusão do inqué­
rito quando o agente estiver preso: pensamos 
que se trata de prazo de natureza processual. 
Não se deve confundir a contagem do prazo 
da prisão, que deve observar o art. 10 do Có­
digo Penal, incluindo-se o dia do começo no 
computo do prazo, com a contagem do prazo 
para a conclusão do inquérito policial, que 
tem natureza processual. Conta-se o prazo, 
pois, a partir do primeiro dia útil após a prisão, 
sendo que, caso o prazo termine em sábado, 
domingo ou feriado, estará automaticamente 
prorrogado até o primeiro dia útil. Todavia, 
como a atividade policial é exercida durante 
todos os dias da semana, entendemos que não 
se aplica a regra de que o prazo que se inicia 
na sexta-feira somente começaria a correr no 
primeiro dia útil subsequente.
1.2. Consequências decorrentes da ino­
bservância do prazo para a conclusão do 
inquérito policial: no caso de investigado 
solto, esse prazo de 30 (trinta) dias é impró­
prio, tendo em vista que sua inobservância não 
produz qualquer consequência, pelo menos em 
regra. Já no caso de investigado preso, even­
tual atraso de poucos dias não gera qualquer 
ilegalidade, já que tem prevalecido a tese de 
que a contagem do prazo para a conclusão 
do processo é global, e não individualizada. 
Assim, mesmo que haja um pequeno excesso 
nessa fase investigatória, é possível que haja 
tuna compensação na fase processual. Todavia, 
se restar caracterizado um excesso abusivo, 
não respaldado pelas circunstâncias do caso 
concreto (complexidade das investigações e 
pluralidade de investigados), impõe-se o re­
laxamento da prisão, sem prejuízo da conti­
nuidade da persecução criminal.
4- Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) a prisão ilegal, que há de ser relaxada pela au­
toridade judiciária, em cumprimento de dever-poder 
insculpido no artigo 5o, inciso LXV, da Constituição da 
República, compreende, por certo, aquela que, afora 
perdurar por prazo superior ao prescrito em lei, ofende 
de forma manifesta o princípio da razoabilidade. É 
induvidosa a caracterização de constrangimento ilegal, 
quando perdura a constrição cautelar por mais de seis 
meses, sem oferecimento da denúncia, fazendo-se 
invocável a razoabilidade". (STJ, 6a Turma, HC 44.604/ 
RN, Rei. Min. Hamilton Carvalhido, j. 09/12/2005, DJ 
06/02/2006 p. 356).
1.3. Prazos para a conclusão do inquérito 
policial previstos na legislação especial:
consoante dispõe o art. 66 da Lei n. 5.010/66 
(Lei que organiza a Justiça Federal de primeira 
instância), o prazo para conclusão do inquérito 
policial será de quinze dias, quando o indicia­
do estiver preso, podendo ser prorrogado por 
mais quinze dias, a pedido, devidamente fun­
damentado, da autoridade policial e deferido 
pelo Juiz a que competir o conhecimento do 
processo. Silenciando a Lei n. 5.010/66 quanto
TÍTULO I I . DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 10
ao prazo para a conclusão do inquérito de 
investigado solto, entende-se aplicável o prazo 
de 30 dias previsto no CPP (art. 10, caput). De 
acordo com o art. 20 do CPPM, o inquérito 
deverá terminar dentro em 20 (vinte) dias, se 
o indiciado estiver preso, contado esse prazoa partir do dia em que se executar a ordem 
de prisão; ou no prazo de 40 (quarenta) dias, 
quando o indiciado estiver solto, contados a 
partir da data em que se instaurar o inquérito. 
Este último prazo poderá ser prorrogado por 
mais 20 (vinte) dias pela autoridade militar 
superior, desde que não estejam concluídos 
exames ou perícias já iniciados, ou haja ne­
cessidade de diligência, indispensáveis à elu­
cidação do fato. O pedido de prorrogação 
deve ser feito em tempo oportuno, de modo 
a ser atendido antes da terminação do prazo 
(CPPM, art. 20, §1°). A Lei n. 11.343/06 (lei 
de drogas), prevê que o inquérito policial será 
concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o 
indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, 
quando solto. Esses prazos podem ser dupli­
cados pelo Juiz, ouvido o Ministério Público, 
mediante pedido justificado da autoridade de 
polícia judiciária (art. 51, parágrafo único). 
A Lei n. 1.521/51 (crimes contra a economia 
popular) prevê que o inquérito policial deva 
ser concluído no prazo de 10 (dez) dias, esteja 
o indivíduo solto ou preso. Por fim, não se 
pode esquecer do prazo para a conclusão das 
investigações quando tiver sido decretada a 
prisão temporária do investigado. Como se 
sabe, a prisão temporária foi instituída por 
legislação especial após a entrada em vigor do 
CPP, e possui o prazo de 5 (cinco) dias, pror­
rogável por igual período, em caso de extrema 
e comprovada necessidade (Lei n. 7.960/89, art. 
2o, caput). Na hipótese de crimes hediondos e 
equiparados, o prazo da prisão temporária é de 
30 (trinta) dias, prorrogável por igual período 
em caso de extrema e comprovada necessida­
de (Lei n. 8.072/90, art. 2o, §4°). Em relação 
ao prazo disposto no art. 2o, caput, da Lei n. 
7.960/89, não há maiores controvérsias. Isso 
porque, nessa hipótese, o prazo máximo para 
a prisão temporária será de 10 (dez) dias, prazo 
esse que coincide com o prazo previsto no CPP 
para as hipóteses em que o investigado está
preso (art. 10, caput). O tema ganha relevância 
ao se analisar a hipótese de investigação poli­
cial em relação a autor de crimes hediondos e 
equiparados, cuja prisão temporária tenha sido 
decretada por até 60 (sessenta) dias. A nosso 
ver, se a prisão temporária foi decretada para 
auxiliar nas investigações em relação a crimes 
hediondos e equiparados, tem-se que o prazo 
máximo para a conclusão das investigações é 
de 60 (sessenta) dias, sendo inviável que, após 
esse interstício de 60 (sessenta) dias, a autori­
dade policial disponha de mais 10 (dez) dias 
para finalizar o inquérito policial.
2. Relatório da autoridade policial: cuida- 
-se, o relatório, de peça elaborada pela auto­
ridade policial, de conteúdo eminentemente 
descritivo, onde deve ser feito um esboço das 
principais diligências levadas a efeito na fase 
investigatória, justificando-se até mesmo a 
razão pela qual algumas não tenham sido re­
alizadas, como, por exemplo, a juntada de um 
laudo pericial, que ainda não foi concluído pela 
Polícia Científica. Apesar de a elaboração do 
relatório ser um dever funcional da autoridade 
policial, não se trata de peça obrigatória para o 
oferecimento da denúncia, ainda mais se consi­
derarmos que nem mesmo o inquérito policial 
é peça indispensável para o início do processo 
criminal, desde que a imputação esteja res­
paldada por outros elementos de convicção. 
Todavia, demonstrada a desídia da autoridade 
policial no cumprimento de seu mister, a res­
pectiva corregedoria deve ser comunicada, a 
fim de adotar eventuais sanções disciplinares. 
Deve a autoridade policial abster-se de fazer 
qualquer juízo de valor no relatório, já que a 
opinio delicti deve ser formada pelo titular da 
ação penal: Ministério Público, nos crimes de 
ação penal pública; ofendido ou seu repre­
sentante legal, nos crimes de ação penal de 
iniciativa privada. Atente-se, no entanto, para 
a Lei de Drogas, que prevê expressamente que 
a autoridade policial relatará sumariamente as 
circunstâncias do fato, justificando as razões 
que a levaram à classificação do delito, indican­
do a quantidade e natureza da substância ou 
do produto apreendido, o local e as condições 
em que se desenvolveu a ação criminosa, as 
circunstâncias da prisão, a conduta, a qua­
Art. 10 CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
lificação e os antecedentes do agente (Lei n. 
11.343/06, art. 52, I). Mesmo nesse caso de 
drogas, é de bom alvitre esclarecer que o Minis­
tério Público não fica vinculado à classificação 
provisória formulada pela autoridade policial, 
pois é ele o titular da ação penal. Para fins de 
análise quanto à possibilidade de concessão 
de liberdade provisória, o juiz também não se 
encontra vinculado à classificação formulada 
pela autoridade policial em seu relatório, nem 
tampouco àquela constante da peça acusatória, 
podendo corrigir a adequação do juízo de 
subsunção feita pelo Delegado ou pelo Pro­
motor, embora o faça de maneira incidental 
e provisória, apenas para decidir quanto ao 
cabimento da liberdade provisória. Não faria 
sentido manter o acusado preso ao longo de 
toda a instrução processual penal para, ao final, 
desclassificar a imputação para porte de drogas 
para consumo pessoal e, somente então, poder 
colocá-lo em liberdade.
3. Destinatário dos autos do inquérito po­
licial: pela leitura do art. 10, §1°, do CPP, per­
cebe-se que, uma vez concluída a investigação 
policial, os autos do inquérito policial devem 
ser encaminhados primeiramente ao Poder 
Judiciário e, somente depois, ao Ministério 
Público. A despeito do teor referido dispositi­
vo, por conta da adoção do sistema acusatório 
pela Constituição Federal, outorgando ao M i­
nistério Público a titularidade da ação penal 
pública, não há como se admitir que ainda 
subsista essa necessidade de remessa inicial 
dos autos ao Poder Judiciário. Há de se enten­
der que essa tramitação judicial do inquérito 
policial prevista nos arts. 10, §1°, e 23, do 
CPP, não foi recepcionada pela Constituição 
Federal. Ora, tendo em conta ser o Ministério 
Público o dominus litis da ação penal pública, 
nos termos do art. 129 ,1, da Carta Magna, e, 
portanto, o destinatário final das investigações 
levadas a cabo no curso do inquérito policial, 
considerando que o procedimento investiga- 
tório é destinado, precipuamente, a subsidiar 
a atuação persecutória do órgão ministerial, e 
diante da desnecessidade de controle judicial 
de atos que não afetam diretos e garantias 
fundamentais do indivíduo, deve-se concluir 
que os autos da investigação policial devem
tramitar diretamente entre a Polícia Judiciária 
e o Ministério Público, sem necessidade de 
intermediação do Poder Judiciário, a não ser 
para o exame de medidas cautelares (v.g., pri­
são preventiva, interceptação telefônica, busca 
domiciliar, etc.). Essa tramitação direta dos 
autos entre a Polícia e o Ministério Público, 
ressalvada a hipótese em que sejam formu­
lados pedidos cautelares, além de assegurar 
um procedimento mais célere, em respeito ao 
direito à razoável duração do processo (CF, 
art. 5o, LXXVIII), contribuindo para o fim da 
morosidade da persecução penal, também é 
de fundamental importância na preservação 
da imparcialidade do órgão jurisdicional, 
porquanto afasta o magistrado de qualquer 
atividade investigatória que implique for­
mação de convencimento prévio a respeito 
do fato noticiado e sob investigação. Valores 
importantes como a celeridade, a eficiência, 
a desburocratização e a diminuição dos riscos 
da prescrição recomendam, pois, que as peças 
investigatórias sejam remetidas diretamente 
ao titular da ação penal, salvo se houver neces­
sidade de medidas cautelares, eliminando-se, 
assim, o intermediário que não tem competên­
cia ou atribuição para interferir na produção 
de diligências inquisitoriais. Daí porque já 
há diversas portarias de Tribunais de Justiça 
determinando que os autos da investigação 
policial devam ser remetidos diretamente ao 
órgão ministerial (centrais de inquéritos).
3.1. Resoluçãon. 63/2009 do Conselho da 
Justiça Federal: de acordo com a referida Re­
solução, os autos de inquérito policial somente 
serão admitidos para registro, inserção no sis­
tema processual informatizado e distribuição 
às Varas Federais com competência criminal 
quando houver: a) comunicação de prisão em 
flagrante efetuada ou qualquer outra forma de 
constrangimento aos direitos fundamentais 
previstos na Constituição da República; b) 
representação ou requerimento da autoridade 
policial ou do Ministério Público Federal para 
a decretação de prisões de natureza cautelar; 
c) requerimento da autoridade policial ou 
do Ministério Público Federal de medidas 
constritivas ou de natureza acautelatória; d) 
oferta de denúncia pelo Ministério Público
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL ^ 7^ -| Q
Federal ou apresentação de queixa crime pelo 
ofendido ou seu representante legal; e) pedido 
de arquivamento deduzido pelo Ministério 
Público Federal; f) requerimento de extinção 
da punibilidade com fulcro em qualquer das 
hipóteses previstas no art. 107 do Código 
Penal ou na legislação penal extravagante. 
Ainda segundo a Resolução n. 63 do Conselho 
da Justiça Federal, afora as hipóteses acima 
mencionadas, os autos de inquérito policial, 
concluídos ou com requerimento de pror­
rogação de prazo para o seu encerramento, 
quando da primeira remessa ao Ministério 
Público Federal, serão previamente levados 
ao Poder Judiciário tão-somente para o seu 
registro, que será efetuado respeitando-se a 
numeração de origem atribuída na Polícia 
Federal. A Justiça Federal deverá criar rotina 
que permita apenas o registro desses inquéritos 
policiais, sem a necessidade de atribuição de 
numeração própria e distribuição ao órgão 
jurisdicional com competência criminal. Após 
o registro do inquérito policial na Justiça Fe­
deral, os autos serão automaticamente enca­
minhados ao Ministério Público Federal, sem 
a necessidade de determinação judicial nesse 
sentido, bastando a certificação, pelo servidor 
responsável, da prática aqui mencionada. Os 
autos de inquérito já registrados, na hipóte­
se de novos requerimentos de prorrogação 
de prazo para a conclusão das investigações 
policiais, serão encaminhados pela Polícia 
Federal diretamente ao Ministério Público 
Federal. Por sua vez, os autos de inquérito 
policial que contiverem requerimentos mera e 
exclusivamente de prorrogação de prazo para 
a sua conclusão, efetuados pela autoridade 
policial, serão encaminhados pela Delegacia 
de Polícia Federal diretamente ao Ministério 
Público Federal para ciência e manifestação, 
sem a necessidade de intervenção do órgão 
do Poder Judiciário Federal competente para 
a análise da matéria. A mesma Resolução 
prevê em seu art. 5o que os advogados e os 
estagiários de Direito regularmente inscritos 
na OAB terão direito de examinar os autos 
do inquérito, devendo, no caso de extração 
de cópias, apresentar o seu requerimento por 
escrito à autoridade competente. Sem embargo
da relevância da tramitação direta dos autos 
dos inquéritos policiais entre a Polícia e o M i­
nistério Público, há precedentes de Tribunais 
Regionais Federais no sentido de que meras 
resoluções administrativas não têm o condão 
de afastar a aplicação dos dispositivos legais 
do CPP que preveem a necessária tramitação 
dos autos perante o Poder Judiciário.
♦ Jurisprudência selecionada:
TRF/4" Região: "(...) INQUÉRITO POLICIAL. TRAMITA­
ÇÃO DIRETA ENTRE POLÍCIA E M INISTÉRIO PÚBLICO 
FEDERAL. INDEFERIMENTO PELO JUÍZO. ART. 10, § 3o, 
DO CPP. RESOLUÇÃO 063/09 DO CJF. RESOLUÇÕES 01 
E 02/09 DO TRF-4R. AUSÊNCIA DE INVERSÃO TUMUL- 
TUÁRIA DO S ATOS E FÓRMULAS DA O RDEM LEGAL DO 
PROCESSO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. INDENDÊNCIA 
JURISDICIONAL. CORREIÇÃO PARCIAL INDEFERIDA. 
1. Estando o ato judicial im pugnado lastreado nos 
expressos termos do parágrafo 3o do artigo 10 do 
Código de Processo Penal, o qual prevê que requeri­
mentos de prorrogação de prazo de inquérito policial 
serão requeridos ao juiz e por este decididos, a decisão 
esta a seguir o rito procedimental estabelecido em 
lei. Assim eventual contrariedade a disposições de 
atos administrativos, normas de nível infralegal, não é 
capaz de converter a decisão em inversão tumultuária 
dos atos e fórmulas legais da ordem do processo. 2. 
Embora seja juridicamente possível que o magistrado, 
no livre exercício da atividade jurisdicional, sopesando 
princípios com o economia processual, instrumentali- 
dade, eficiência e celeridade, determine a tramitação 
direta de inquéritos sob sua jurisdição entre a polícia 
e o parquet, tal não pode ser imposto por resoluções 
administrativas, atos infralegais. 3. Inexistindo na lei 
determinação de que o Juiz estabeleça a tramitação 
direta de inquérito policial entre Autoridade Policial 
e o Ministério Público Federal, e sendo certo que 
resoluções administrativas não tem o condão de ar­
redar disposição legal e interferir no livre exercício da 
jurisdição, não se caracteriza inversão tumultuária dos 
atos efórmulas legais da ordem do processo no indefe­
rimento de tal tramitação direta, indeferindo-se a cor- 
reição parcial". (TRF4, COR 2009.04.00.044743-5, Oitava 
Turma, Relator Guilherme Beltrami, D.E. 03/02/2010) 
STF:"(...) A legislação que disciplina o inquérito policial 
não se inclui no âmbito estrito do processo penal, cuja 
competência é privativa da União (art. 22 ,1, CF), pois 
o inquérito é procedimento subsum ido nos limites da 
competência legislativa concorrente, a teor do art. 24, 
XI, da Constituição Federal de 1988, tal com o já decidi­
do reiteradamente pelo Supremo Tribunal Federal. O 
procedimento do inquérito policial, conforme previsto 
pelo Código de Processo Penal, torna desnecessária a 
intermediação judicial quando ausente a necessidade 
de adoção de m edidas constritivas de direitos dos
A f t . 1 0 CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
investigados, razão por que projetos de reforma do 
CPP propõem a remessa direta dos autos ao Ministério 
Público. No entanto, apesar de o disposto no inc. IV do 
art. 35 da LC 106/2003 se coadunar com a exigência 
de maior coerência no ordenamento jurídico, a sua 
inconstitucionalidade formal não está afastada, pois 
insuscetível de superação com base em avaliações per­
tinentes à preferência do julgador sobre a correção da 
opção feita pelo legislador dentro do espaço que lhe é 
dado para livre conformação. Assim, o art. 35, IV, da Lei 
Complementar estadual n° 106/2003, é inconstitucio­
nal ante a existência de vício formal, pois extrapolada 
a competência suplementar delineada no art. 24, §1°, 
da Constituição Federal de 1988. Já em relação ao 
inciso V, do art. 35, da Lei complementar estadual n° 
106/2003, inexiste infração à competência para que o 
estado-membro legisle, de forma suplementar à União, 
pois o texto apenas reproduz norma sobre o trâmite 
do inquérito policial já extraída da interpretação do 
art. 16 do Código de Processo Penal. Ademais, não há 
desrespeito ao art. 128, §5°, da Constituição Federal 
de 1988, porque, além de o dispositivo im pugnado 
ter sido incluído em lei complementar estadual, o seu 
conteúdo não destoou do art. 129, VIII, da Constituição 
Federal de 1988, e do art. 26, IV, da Lei n° 8.625/93, 
que já haviam previsto que o Ministério Público pode 
requisitar diligências investigatórias e a instauração 
de inquérito policial. Ação direta julgada parcialmen­
te procedente para declarar a inconstitucionalidade 
somente do inciso IV do art. 35 da Lei Complementar 
n° 106/2003, do Estado do Rio de Janeiro". (STF, Pleno, 
ADI 2.886/RJ, Rei. Min. Joaquim Barbosa, j. 03/04/2014).
STJ:"(...) A tramitação direta de inquéritos entre a 
polícia judiciária e o órgão de persecução criminal 
traduz expediente que, longe de violar preceitos cons­
titucionais, atende à garantia da duração razoável 
do processo, assegurando célere tramitação, bem 
com o aos postulados da economia processual e da 
eficiência. Essa constataçãonão afasta a necessidade 
de observância, no bojo de feitos investigativos, da 
cham ada cláusula de reserva de jurisdição. Não se 
mostra ilegal a portaria que determina o trâmite do 
inquérito policial diretamente entre polícia e órgão 
da acusação, encontrando o ato indicado como coator 
fundamento na Resolução n. 63/2009 do Conselho da 
Justiça Federal. Estando expressamente previsto, na 
Resolução do CJF, que os advogados e os estagiários 
de Direito regularmente inscritos na Ordem dos Ad­
vogados do Brasil terão direito de examinar os autos 
do inquérito, devendo, no caso de extração de cópias, 
apresentar o seu requerimento por escrito à autoridade 
competente, não há a configuração de ofensa ao prin­
cípio do contraditório, ao da ampla defesa e tampouco 
ao exercício da advocacia. Recurso desprovido". (STJ, 
5a Turma, RM S 46.165/SP, Rei. Min. Gurgel de Faria, j. 
19/11/2015, DJe 04/12/2015).
4. Providências a serem adotadas após a 
remessa dos autos do inquérito policial: em
se tratando de crime de ação penal privada, os 
autos devem permanecer em cartório aguar­
dando-se a iniciativa do ofendido. Para mais 
detalhes acerca do assunto, vide comentários ao 
art. 19 do CPP. Cuidando-se de crime de ação 
penal pública, os autos do inquérito policial são 
remetidos ao Ministério Público. Com os autos 
em mãos, ao órgão do Ministério Público se 
abrem 5 (cinco) possibilidades: a) oferecimento 
de denúncia: vide comentários ao art. 41 do 
CPP; b) arquivamento dos autos do inquérito 
policial: vide comentários ao art. 28 do CPP; c) 
requisição de diligências: remetemos o leitor 
aos comentários ao art. 16 do CPP; d) dedina- 
ção de competência: caso o Promotor de Justiça 
entenda que o juízo perante o qual atua não é 
dotado de competência para o julgamento do 
feito, deve requerer ao juiz que remeta os autos 
ao juiz natural. Suponha-se, assim, que inquéri­
to policial relativo ao crime de moeda falsa seja 
remetido à Justiça Estadual. Verificando tratar- 
-se de crime de competência da Justiça Federal, 
haja vista o interesse da União (CF, art. 109, 
IV, c/c art. 21, VII), deve o Promotor requerer 
a remessa dos autos ao juízo federal compe­
tente para o julgamento do feito; e) conflito de 
competência: essa hipótese não se confunde 
com a anterior. Na hipótese anterior, nenhum 
outro órgão jurisdicional havia se manifestado 
quanto à competência. Quando se fala em 
conflito de competência, significa dizer que 
já houve prévia manifestação de outro órgão 
jurisdicional, daí porque não se pode requerer 
o retorno dos autos àquele juízo - deve-se, 
sim, suscitar conflito de competência. Usando 
o mesmo exemplo anterior, suponha-se que 
autos de inquérito policial federal, que estavam 
tramitando perante a Justiça Federal, tenham 
sido remetidos à Justiça Estadual, porquanto 
o juiz federal concluiu que não se tratava de 
crime de moeda falsa, mas sim de estelionato, 
já que a falsificação seria grosseira (súmula 
n. 73 do STJ). Ora, supondo que o Promotor 
de Justiça e o juiz estadual discordem dessa 
conclusão, entendendo, sim, que a falsificação 
seria de boa qualidade, não poderão declinar 
da competência em favor da Justiça Federal, já
Art. 10TlTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL
que o juiz federal já se manifestou no sentido 
de sua incompetência. Deve-se, pois, suscitar 
conflito negativo de competência, a ser diri­
mido pelo STJ, nos exatos termos do art. 105, 
I, “d”, da Constituição Federal. A depender do 
caso concreto, essas 05 (cinco) providências - 
oferecimento de denúncia, arquivamento do 
inquérito policial, requisição de diligências, 
declinação de competência ou a arguição de 
conflito de competência - podem ser adotadas 
pelo Ministério Público isoladamente, ou em 
conjunto. A título de exemplo, suponha-se 
que, com os autos de inquérito policial em 
mãos, verifique o Promotor de Justiça que há 
elementos que autorizam o oferecimento de de­
núncia quanto a um fato delituoso (v.g., estupro 
praticado por agente que está preso), havendo, 
todavia, a necessidade de se aprofundar as in­
vestigações quanto a outro indivíduo, que está 
em liberdade, também constando dos autos 
elementos de informação atinentes à suposta 
prática de crime militar. Ora, em uma situação 
como essa, deve o Promotor de Justiça ofere­
cer denúncia quanto ao crime de estupro, na 
medida em que há, quanto a este delito, lastro 
probatório suficiente, tratando-se, ademais, de 
acusado preso; requisitar à autoridade policial o 
cumprimento de diligências complementares, 
a fim de poder aferir o grau de envolvimento 
do outro agente com o fato delituoso, para 
fins de eventual aditamento à denúncia; e, por 
fim, solicitar, por meio de cota, a declinação de 
competência quanto ao crime militar. 5 * * * * 10
5. Indicação de testemunhas não inqui­
ridas: quando se trata de investigado solto,
não há motivos para o Delegado de Polícia
concluir a investigação sem antes proceder à
oitiva de todas as testemunhas. Afinal, nesse 
caso, é perfeitamente possível a prorrogação do 
prazo para a conclusão do inquérito (CPP, art.
10, §3°). Por isso, se não houver tempo hábil 
para a colheita de todos os depoimentos, o 
Delegado deve remeter os autos ao Poder Ju­
diciário solicitando prorrogação do prazo para 
a oitiva de todas as testemunhas. Em sentido 
diverso, quando se trata de investigado preso, é 
dominante o entendimento no sentido de que 
não se admite a prorrogação do prazo para a 
conclusão do inquérito. Logo, se o exíguo pra­
zo de 10 (dez) inviabilizar a oitiva de todas as 
pessoas capazes de trazer elementos quanto à 
autoria e materialidade do fato delituoso, resta 
ao Delegado apenas indicar em seu relatório os 
nomes das testemunhas que não foram inqui­
ridas, mencionando o lugar onde podem ser 
encontradas para que, uma vez arroladas pelas 
partes, sejam ouvidas em juízo no momento 
procedimental adequado.
6. Prorrogação do prazo para a conclu­
são do inquérito policial: segundo o art. 
10, §3°, do CPP, quando o fato for de difícil 
elucidação, e o indiciado estiver solto, a au­
toridade poderá requerer ao juiz a devolução 
dos autos, para ulteriores diligências, que 
serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. 
Portanto, caso o indiciado esteja solto, é per­
feitamente possível a prorrogação do prazo 
para a conclusão do inquérito policial. Apesar 
de o CPP referir-se apenas à oitiva do juiz 
(CPP, art. 10, §3°), pensamos ser obrigatória 
a oitiva do órgão Ministerial. Afinal, como o 
inquérito policial destina-se exclusivamente 
à form ação da opinio delicti, ou seja, do 
convencimento do órgão responsável pela 
acusação, é possível que o M inistério Pú­
blico se dê por satisfeito com os elementos 
de informação já produzidos nos autos da 
investigação policial, entendendo desneces­
sário o prosseguimento do inquérito policial. 
No tocante ao indiciado preso, a maioria da 
doutrina entende que se há elementos para 
a segregação cautelar do agente (prova da 
materialidade e indícios de autoria), também 
há elementos para o oferecimento da peça 
acusatória, sendo inviável, por conseguinte, 
a devolução dos autos do inquérito policial 
à autoridade policial para realização de dili­
gências complementares. Apesar de ser esse 
o entendimento que prevalece na doutrina, 
comungamos de entendimento diverso. Ex­
plica-se: se presentes os requisitos legais do 
art. 312 do CPP, a prisão preventiva deve ser 
decretada. Porém, mesmo após a decretação 
da preventiva, caso subsista a necessidade de 
realização de diligência imprescindível para 
a formação da opinio delicti, os autos podem 
retornar à autoridade policial. No entanto, 
o prazo total para a conclusão do processo,
A f t . 11 CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
que começa a contar a partir da prisão, estará excesso de prazo, autorizando o relaxamento
correndo, o que pode dar ensejo a eventual da prisão.
Art. 11 . Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interes­
sarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.'
1.Instrumentos do crime e objetos que 
interessem à prova: instrumentos do cri­
me são todos os objetos ou aparelhos usados 
pelo agente para cometer o delito, a exemplo 
de armas de fogo, chaves falsas, petrechos 
para falsificação de moeda, etc. Objetos de 
interesse da prova, por sua vez, são todas as 
coisas capazes de ministrar alguma informação 
relevante sobre a autoria ou materialidade do 
fato delituoso, a exemplo de uma roupa suja 
com o sangue da vítima que foi apreendida 
na casa do investigado, um aparelho celular 
contendo fotos ou vídeos do crime, etc. Com 
a conclusão das investigações, tanto os ins­
trumentos do crime quanto esses objetos de 
interesse da prova devem ser encaminhados 
ao Poder Judiciário, acompanhando os autos 
do inquérito policial. Afinal, sua exibição aos 
destinatários da prova - juiz ou jurados - 
pode ser de fundamental importância para a 
formação do convencimento do juiz natural 
no sentido da condenação ou absolvição do 
acusado. De mais a mais, na hipótese de im­
pugnação à determinada diligência realizada 
na fase investigatória, esses instrumentos e 
objetos também podem ser utilizados para a 
produção de eventual contraprova requerida 
pelas partes.
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, 
sempre que servir de base a uma ou outra.'
1. Inquérito policial como justa causa
para o início do processo penal: como ex­
posto anteriormente, não se admite a instau­
ração de um processo penal contra alguém
sem que a acusação esteja lastreada por um
mínimo de elementos de informação quanto
à autoridade e materialidade da infração
penal. Pelo menos em regra, essa justa causa 
necessária à deflagração da persecutio cri- 
minis in iudicio é fornecida pelo inquérito 
policial Por isso, o art. 12 do CPP deter­
mina expressamente que, na hipótese de o 
inquérito policial servir de base para a peça
acusatória, esta deverá estar acompanhada 
pelos autos do procedimento investigatório. 
Interpretado a contrario sensu, o referido 
dispositivo legal também deixa evidente que 
o inquérito policial não funciona como con­
dição sine qua non para o oferecimento da 
peça acusatória, porquanto a acusação pode 
estar lastreada em elementos de informação 
obtidos em procedimento investigatório di­
verso do inquérito policial, a exemplo dos 
autos de uma sindicância, de um procedi­
mento investigatório criminal presidido pelo 
Ministério Público, etc.
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:1'2
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à 
instrução e julgamento dos processos;3
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz4 ou pelo Ministério 
Público;5
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades ju­
diciárias;6
IV - representar acerca da prisão preventiva.7'8
92
Art. 13TlTUL.0 II • DO INQUÉRITO POLICIAL
1. Indiciamento: indiciar é atribuir a autoria 
(ou participação) de uma infração penal a uma 
pessoa. É apontar uma pessoa como provável 
autora ou partícipe de um delito. Possui caráter 
ambíguo, constituindo-se, ao mesmo tempo, 
fonte de direitos, prerrogativas e garantias pro­
cessuais (CF, art. 5o, LVII e LXIII), e fonte de 
ônus e deveres que representam alguma forma 
de constrangimento, além da inegável estigma- 
tização social que a publicidade lhe imprime. 
Produz efeitos extraprocessuais, pois aponta à 
sociedade a pessoa considerada pela autoridade 
policial como a provável autora do delito, ao 
mesmo passo que produz efeitos endopro- 
cessuais, representados pela probabilidade de 
ser o indiciado o autor do delito, considerado 
antecedente lógico, mas não necessário, do 
oferecimento da peça acusatória. O indiciado, 
então, não se confunde com um mero suspeito 
(ou investigado), nem tampouco com o acusa­
do. Suspeito ou investigado é aquele em relação 
ao qual há frágeis indícios, ou seja, há mero juízo 
de possibilidade de autoria; indiciado é aquele 
que tem contra si indícios convergentes que o 
apontam como provável autor da infração penal, 
isto é, há juízo de probabilidade de autoria; re­
cebida a peça acusatória pelo magistrado, surge 
a figura do acusado.
1.1. (Im) possibilidade de indiciamento no 
âmbito dos Juizados Especiais Criminais:
por força da simplicidade que norteia a própria 
investigação das infrações de menor potencial 
ofensivo, é inviável o indiciamento em sede 
de termo circunstanciado. De mais a mais, 
considerando a possibilidade de incidência 
das medidas despenalizadoras previstas na 
Lei 9.099/95 (composição civil dos danos, 
transação penal, suspensão condicional do 
processo e representação nos crimes de lesão 
corporal leve e culposa) e, tendo em conta que 
a imposição de pena restritiva de direitos ou 
multa nas hipóteses de transação penal não 
constará de certidão de antecedentes criminais 
(Lei n. 9.099/95, art. 76, §6°), revela-se inviá­
vel o indiciamento, já que tal ato acarretaria 
o registro da imputação nos assentamentos 
pessoais do indivíduo.
1.2. Momento adequado para o indicia­
mento: a condição de indiciado poderá ser 
atribuída já no auto de prisão em flagrante 
ou até o relatório final do delegado de polícia. 
Logo, uma vez recebida a peça acusatória, não 
será mais possível o indiciamento, já que se 
trata de ato próprio da fase investigatória. Os 
Tribunais Superiores têm considerado que o 
indiciamento formal após o recebimento da 
denúncia é causa de ilegal e desnecessário 
constrangimento à liberdade de locomoção, 
visto que não se justifica mais tal procedimen­
to, próprio da fase inquisitorial.
♦ Jurisprudência selecionada:
STJ: “(...) Esta Corte Superior de Justiça, reiteradamente, 
vem decidindo que o indiciamento formal dos acu­
sados, após o recebimento da denúncia, submete os 
pacientes a constrangimento ilegal e desnecessário, 
uma vez que tal procedimento, que é próprio da fase 
inquisitorial, não mais se justifica quando a ação penal 
já se encontra em curso. Habeas corpus concedido 
para cassar a decisão que determinou o indiciamento 
formal dos pacientes, excluindo-se todos os registros 
e anotações, relativos ao processo de que aqui se 
cuida, sem prejuízo do regular andamento da ação 
penal". (STJ, 6aTurma, H C 182.45S/SP, Rei. Min. Haroldo 
Rodrigues - Desembargador convocado doTJ/CE -, j. 
05/05/2011).
STJ:"(...) Este Superior Tribunal de Justiça, em reitera­
dos julgados, vem afirmando seu posicionamento no 
sentido de que caracteriza constrangimento ilegal o 
formal indiciamento do paciente que já teve contra si 
oferecida denúncia e até mesmo já foi recebida pelo 
Juízo a quo. Uma vez oferecida a exordial acusatória, 
encontra-se encerrada a fase investigatória e o indicia­
mento do réu, neste momento, configura-se coação 
desnecessária e ilegal. Ordem concedida, nos termos 
do voto do Relator". (STJ, 5a Turma, HC 179.951/SP,
Rei. Min. Gilson Dipp,j. 10/05/2011). Na mesma linha:
STJ, 5a Turma, HC 174.576/SP, Rei. Min. Gilson Dipp, j. 
28/09/2010, DJe 18/10/2010.
1.3. Espécies de indiciamento: o indicia­
mento direto ocorre quando o indiciado está 
presente; o indiciamento indireto ocorre quan­
do o indiciado está ausente (v.g., indiciado 
foragido). A regra é que o indiciamento seja 
feito na presença do investigado. No entanto, 
na hipótese de o investigado não ser localizado, 
por se encontrar em local incerto e não sabido, 
ou quando, regularmente intimado para o ato,
O
A r t . 1 3 \ cpp COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
deixar de comparecer injustificadamente, é 
possível a realização do indiciamento indireto.
1.4. Pressupostos: dada a importância do 
indiciamento como condição para o exercício 
do direito de defesa na fase investigatória e a 
possibilidade do advento de prejuízos à pes­
soa do indiciado, afigura-se indispensável a 
presença de elementos informativos acerca da 
materialidade e da autoria do delito. Destarte, 
o indiciamento só pode ocorrer a partir do 
momento em que reunidos elementos sufi­
cientes que apontem para a autoria da infração 
penal, quando, então,o delegado de polícia 
deve cientificar o investigado, atribuindo- 
-lhe, fundamentadamente, a condição jurídica 
de “indiciado”, respeitadas todas as garantias 
constitucionais e legais. Não se trata, pois, de 
ato arbitrário nem discricionário, já que, pre­
sentes elementos informativos apontando na 
direção do investigado, não resta à autoridade 
policial outra opção senão seu indiciamento. 
Apesar de não previsto pelo CPP, o indicia­
mento deve ser objeto de um ato formal, ante 
as implicações jurídicas que ocasiona para o 
status do indivíduo. Assim, o indiciamento 
funciona como um poder-dever da autoridade 
policial, uma vez convencida da concorrência 
dos seus pressupostos. Com a vigência 
da Lei n. 12.830/13, que dispõe sobre a in­
vestigação criminal conduzida pelo Delegado 
de Polícia, parece não haver mais dúvidas 
quanto à necessidade de fundamentação do 
indiciamento. Deveras, consoante disposto 
no art. 2o, §6°, da referida Lei, o indiciamento, 
privativo do Delegado de Polícia, dar-se-ápor 
ato fundamentado, mediante análise técnico- 
- jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, 
materialidade e suas circunstâncias.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Indiciamento. Ato penalmente relevante. 
Lesividade téorica. Indeferimento. Inexistência de 
fatos capazes de justificar o registro. Constrangimento 
ilegal caracterizado. Liminar confirmada. Concessão 
parcial de habeas corpus para esse fim. Precedentes. 
Não havendo elementos que o justifiquem, constitui 
constrangim ento ilegal o ato de indiciamento em 
inquérito policial". (STF, 2aTurma, HC 85.541,2aTurma, 
Rei. Min. Cezar Peluso, Dje 157 21/08/2008).
9D
1.5. Desindiciamento: ausente qualquer 
elemento de informação quanto ao envolvi­
mento do agente na prática delituosa, ou se 
feito em momento extemporâneo (v.g., após 
o recebimento da denúncia), a jurisprudência 
tem admitido a possibilidade de impetração 
de habeas corpus a fim de sanar o constran­
gimento ilegal daí decorrente, buscando-se o 
desindiciamento.
-f Jurisprudência selecionada:
STJ:"(...) O indiciamento configura constrangimento 
quando a autoridade policial, sem elementos mínimos 
de materialidade delitiva, lavra o termo respectivo 
e nega ao investigado o direito de ser ouvido e de 
apresentar documentos. Ordem CONCEDIDA em parte, 
para possibilitar ao paciente que preste seus escla­
recimentos acerca do fato, em termo de declaração; 
junte documentos e indique providências no caderno 
investigatório". (STJ, 6aTurma, HC 43.599/SP, Rei. Paulo 
Medina, j. 09/12/2005, DJe 04/08/2008).
1.6. Atribuição: o indiciamento é o ato re­
sultante das investigações policiais por meio 
do qual alguém é apontado como provável 
autor de um fato delituoso. Cuida-se, pois, de 
ato privativo do Delegado de Polícia que, para 
tanto, deverá fundamentar-se em elementos de 
informação que ministrem certeza quanto à 
materialidade e indícios razoáveis de autoria. 
Portanto, se a atribuição para efetuar o indi­
ciamento é privativa da autoridade policial 
(Lei n. 12.830/13, art. 2o, §6°), não se afigura 
possível que o juiz, o Ministério Público ou 
uma Comissão Parlamentar de Inquérito re­
quisitem ao delegado de polícia o indiciamento 
de determinada pessoa.
+ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Sendo o ato de indiciamento de atribuição 
exclusiva da autoridade policial, não existe fundamen­
to jurídico que autorize o magistrado, após receber a 
denúncia, requisitar ao Delegado de Polícia o indi­
ciamento de determinada pessoa. A rigor, requisição 
dessa natureza é incompatível com o sistema acusa- 
tório, que impõe a separação orgânica das funções 
concernentes à persecução penal, de m odo a impedir 
que o juiz adote qualquer postura inerente à função 
investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. Ordem con­
cedida". (STF, 2a Turma, HC 115.015/SP, Rei. Min.Teori 
Zavascki,j. 27/08/2013).
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL j A r t . 1 3
1.7. Sujeito passivo: pelo menos em regra, 
qualquer pessoa pode ser indiciada. Todavia, 
de acordo com o art. 41, inciso II, e parágrafo 
único, da Lei n. 8.625/93, constitui prerroga­
tiva dos membros do Ministério Público, no 
exercício de sua função, a de não ser indiciado 
em inquérito policial, sendo que, quando, no 
curso de investigação, houver indício da prática 
de infração penal por parte de membro do 
Ministério Público, deve a autoridade policial, 
civil ou militar remeter, imediatamente, sob 
pena de responsabilidade, os respectivos autos 
ao Procurador-Geral de Justiça, a quem com­
petirá dar prosseguimento à apuração. Regra 
semelhante é encontrada no art. 18, II, alínea 
“f ”, e parágrafo único, da Lei Complementar 
n. 75/93, aplicável no âmbito do Ministério 
Público da União, com a diferença de que, 
neste caso, os autos devem ser encaminhados 
ao Procurador-Geral da República. De modo 
semelhante, quando, no curso de investiga­
ção, houver indício da prática de crime por 
parte do magistrado, a autoridade policial, 
civil ou militar, remeterá os respectivos au­
tos ao Tribunal ou órgão especial competente 
para o julgamento, a fim de que prossiga na 
investigação (LC n. 35/79, art. 33, parágrafo 
único). Quanto às demais pessoas com foro 
por prerrogativa de função (v.g., senadores, 
deputados federais, etc.), não há dispositivo 
legal que vede o indiciamento, razão pela qual 
sempre prevaleceu o entendimento de que 
seria possível tanto a abertura das investiga­
ções quanto, no curso delas, o indiciamento 
formal por parte da autoridade que presidisse 
o inquérito, a qual, no entanto, deveria ter a 
cautela de remeter os autos ao tribunal que 
tivesse a competência especial pela prerrogativa 
de função. Ocorre que, em Questão de Ordem 
suscitada no Inq. 2.411, esse entendimento foi 
modificado pelo plenário do STF, que passou 
a entender que a autoridade policial não pode 
indiciar parlamentares sem prévia autorização 
do ministro-relator do inquérito, ficando a 
abertura do próprio procedimento investigató- 
rio (inquérito penal originário) condicionada 
à autorização do Relator. Nos casos de com­
petência originária dos Tribunais, a atividade 
de supervisão judicial deve ser desempenhada
durante toda a tramitação das investigações, 
desde a abertura dos procedimentos investi- 
gatórios até o eventual oferecimento, ou não, 
de denúncia pelo titular da ação. Daí por que 
foi anulado o ato de indiciamento promovido 
pela autoridade policial em face de parlamentar 
federal sem prévia autorização do Ministro 
Relator. Portanto, a partir do momento em 
que determinado titular de foro por prerroga­
tiva de função passe a figurar como suspeito 
em procedimento investigatório, impõe-se a 
autorização do Tribunal (por meio do Rela­
tor) para o prosseguimento das investigações. 
Assim, caso a autoridade policial que preside 
determinada investigação pretenda intimar 
autoridade que possui foro por prerrogativa de 
função, em razão de outro depoente ter afirma­
do que o mesmo teria cometido fato criminoso, 
deve o feito ser encaminhado previamente ao 
respectivo Tribunal, por estar caracterizado 
procedimento de natureza investigatória con­
tra titular de foro por prerrogativa de função. 
Agora, se houver simples menção ao nome de 
um parlamentar federal, em depoimentos pres­
tados por investigados, sem maiores elementos 
acerca de seu envolvimento no fato delituoso, 
não há falar em necessidade de remessa dos 
autos ao Supremo Tribunal Federal para o 
processamento do inquérito. Se é essa a nova 
posição do Supremo quanto à necessidade de 
autorização de Ministro Relator do Supremo 
para a abertura de investigações ou para o in­
diciamento de parlamentares federais, mutatis 
mutandis, deve se aplicar o mesmo raciocínio 
às demais hipóteses de competência especial 
por prerrogativa de função em inquéritos ori­
ginários de competência de outros Tribunais, 
como, por exemplo, o Superior Tribunal de 
Justiça, os Tribunais Regionais Federais e os 
Tribunais de Justiça. A propósito, com expressa 
menção ao nossoManual de Processo Penal, 
o Supremo Tribunal Federal admitiu o indi­
ciamento do Governador do Estado de Minas 
Gerais F. D. P„ porquanto teria havido prévia 
autorização do relator do inquérito originário 
no tribunal competente (in casu, o STJ): STF, 2a 
Turma, HC 133.835 MC/DF, Rei. Min. Celso de 
Mello, j. 18;04;2016, DJe 25/04/2016. Por fim, 
conquanto a Suprema Corte tenha entendido 
que a supervisão do inquérito penal originário
Art. 13 CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
deva ficar a cargo de um Ministro-Relator, vale 
ressaltar que o recebimento da peça acusatória 
não pode ser deliberado monocraticamente por 
esse Relator: a denúncia ou queixa devem ser 
submetidas à apreciação do colegiado respecti­
vo, reputando-se nula a decisão de Relator que, 
monocraticamente, receba peça acusatória con­
tra titular de foro por prerrogativa de função.
♦ Jurisprudência selecionada:
STF:"(...) Antes da intimação para prestar depoimento 
sobre os fatos objeto deste inquérito, o Senador foi 
previamente indiciado por ato da autoridade policial 
encarregada do cumprimento da diligência. Conside­
rações doutrinárias ejurisprudenciais acerca do tema 
da instauração de inquéritos em geral e dos inquéritos 
originários de competência do STF: i) a jurisprudência 
do STF é pacífica no sentido de que, nos inquéritos 
policiais em geral, não cabe a juiz ou a Tribunal inves­
tigar, de ofício, o titular de prerrogativa de foro; (...) 
Se a Constituição estabelece que os agentes políticos 
respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 
102,1, b), não há razão constitucional plausível para que 
as atividades diretamente relacionadas à supervisão 
judicial (abertura de procedim ento investigatório) 
sejam retiradas do controle judicial do STF. A iniciativa 
do procedimento investigatório deve ser confiada ao 
MPF contando com a supervisão do Ministro-Relator 
do STF. A Polícia Federal não está autorizada a abrir 
de ofício inquérito policial para apurar a conduta de 
parlamentares federais ou do próprio Presidente da 
República (no caso do STF). No exercício de com pe­
tência penal originária do STF (CF, art. 102,1, "b" c/c 
Lei n° 8.038/1990, art. 2o e RI/STF, arts. 230 a 234), a 
atividade de supervisão judicial deve ser constitucio­
nalmente desempenhada durante toda a tramitação 
das investigações desde a abertura dos procedimentos 
investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, 
de denúncia pelo dominus litis. Questão de ordem 
resolvida no sentido de anular o ato formal de indi- 
ciamento promovido pela autoridade policial em face 
do parlamentar investigado". (STF, Pleno, Inq. 2.411 
QO/MT, Rei. Min. Gilmar Mendes, DJe 74 24/04/2008).
STF:"(...) A remessa dos autos do inquérito ao Superior 
Tribunal de Justiça deu-se por estrito cumprimento à 
regra de competência originária, prevista na Consti­
tuição Federal (art. 105, inc. I, alínea "a"), em virtude 
da suposta participação do paciente, Juiz Federal do 
Tribunal Regional Federal da 3a Região, nosfatos inves­
tigados, não sendo necessária a deliberação prévia da 
Corte Especial daquele SuperiorTribunal, cabendo ao 
Relator dirigir o inquérito. Não há intromissão indevida 
do Ministério Público Federal, porque com o titular da 
ação penal (art. 129, incisos I e VIII, da Constituição 
Federal) a investigação dos fatos tidos como delituosos 
a ele é destinada, cabendo-lhe participar das investi­
gações. Com base nos indícios de autoria, e se com ­
provada a materialidade dos crimes, cabe ao Ministério 
Público oferecer a denúncia ao órgão julgador. Por essa 
razão, também não há falar em sigilo das investigações 
relativamente ao autor de eventual ação penal. Não se 
sustentam os argumentos da impetração, ao afirmar 
que o inquérito transformou-se em procedimento da 
Polícia Federal, porquanto esta apenas exerce a função 
de Polícia Judiciária, por delegação e sob as ordens do 
Poder Judiciário. Os autos demonstram tratar-se de 
inquérito que tramita no SuperiorTribunal de Justiça, 
sob o com ando de Ministro daquela Corte Superior 
de Justiça, ao qual caberá dirigir o processo sob a sua 
relatoria, devendo tomar todas as decisões necessárias 
ao bom andamento das investigações. Habeas corpus 
denegado”. (STF, Pleno, HC 94.278/SP, Rei. Min. Menezes 
Direito, Dje 227 27/11/2008).
STF:"(...) Parlamentar. Senador. Inquérito policial. Im- 
putação de crime por indiciado. Intimação para com ­
parecer com o testemunha. Convocação com caráter 
de ato de investigação. Inquérito já remetido a juízo. 
Competência do STF. Compete ao Supremo Tribunal 
Federal supervisionar inquérito policial em que Sena­
dor tenha sido intimado para esclarecer imputação de 
crime que lhe fez indiciado". (STF, 2a Turma, Rd 2.349/ 
TO, Rei. Min. Carlos Velloso, DJ 05/08/2005).
STF: "(...) Inquérito policial em tramitação perante a 
Justiça Federal de primeira instância, para apurar pos­
sível prática de crime de sonegação fiscal e lavagem 
de dinheiro por pessoas que não gozam de foro por 
prerrogativa de função. A simples menção de nome de 
parlamentar, em depoimentos prestados pelos investi­
gados, não tem o condão de firmar a competência do 
SupremoTribunal para o processamento de inquérito.
H. C. indeferido". (STF, 2aTurma, HC 82.647/PR, Rei. Min. 
Carlos Velloso, DJ 25/04/2003).
STJ: "(...) É nula a decisão de relator que, sumária e 
monocraticamente, recebe queixa-crime contra Pro­
curador da República, determinando a apresentação 
de defesa prévia, porquanto, há na espécie, caso de 
foro privilegiado por prerrogativa de função, cuja 
competência originária para processarejulgara causa 
é do colegiado respectivo (Tribunal Regional Federal), 
sendo sua a prerrogativa de emitir juízo positivo sobre 
a instauração da instância e deflagração da persecutio 
criminis, após um preambular contraditório. Aplica­
ção dos arts. 4° e 6°, am bos da Lei n° 8.038/90 e do 
art. 1°, da Lei n° 8.658/93. Ordem concedida". (STJ, 6a 
Turma, HC 16.507/RJ, Rei. Min. Fernando Gonçalves, 
DJ 20/08/2001 p. 541).
I. 8. Afastamento do servidor público de 
suas funções como efeito automático do 
indiciamento em crimes de lavagem de 
capitais: por força da Lei n. 12.683/12, com 
vigência a partir do dia 10 de julho de 2012,
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 13
foi acrescido à Lei de Lavagem de Capitais 
(Lei n. 9.613/98) o art. 17-D, que dispõe: “Em 
caso de indiciamento de servidor público, este 
será afastado, sem prejuízo da remuneração e 
demais direitos previstos em lei, até que o juiz 
competente autorize, em decisão fundamen­
tada, o seu retorno”. Como se percebe, em se 
tratando de crimes de lavagem de capitais, este 
dispositivo legal estabelece o afastamento do 
servidor público de suas funções como efeito 
automático do indiciamento, permitindo seu 
retorno às atividades funcionais apenas se 
houver decisão judicial fundamentada nesse 
sentido. Para além de violar a regra de trata­
mento que deriva do princípio da presunção de 
inocência, porquanto estabelece o afastamento 
do servidor de suas fúnções como efeito auto­
mático do indiciamento, equiparando aquele 
que está sendo processado àquele condenado 
por sentença transitada em julgado, o art. 
17-D também vai de encontro ao princípio 
da jurisdicionalidade, vez que permite que 
uma autoridade não judiciária - lembre-se 
que o indiciamento é atribuição privativa da 
autoridade policial - determine medida de 
natureza cautelar sem qualquer aferição acerca 
de sua necessidade, adequação e proporcio­
nalidade. Por tais motivos, somos levados a 
acreditar que o art. 17-D da Lei n. 9.613/98 
é manifestamente inconstitucional. Com en­
tendimento semelhante: BADARÓ, Gustavo 
Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lava­
gem de dinheiro: aspectos penais e processuais 
penais - comentários à Lei 9.613/1998, com as 
alterações da Lei 12.683/12. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2012. p. 360. A propósi­
to, tramita no Supremo a ADI 4.911, ajuizada 
pela Associação Nacional dos Procuradores 
da Repúblicaem face da inconstitucionalidade 
do art. 17-D da Lei n. 9.613/98. No entanto, 
diante do envolvimento de servidor público 
em crimes de lavagem de capitais ou infrações 
antecedentes, nada impede que a autoridade 
judiciária competente - e não o Delegado de 
Polícia por meio de simples indiciamento - 
decrete a suspensão do exercício de função 
pública, se visualizar que essa medida cautelar 
diversa da prisão é necessária para aplicação 
da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal, ou para evitar a prática de novas 
infrações penais (CPP, art. 2 8 2 ,1, c/c art. 319, 
VI).
2. Controle externo da atividade policial:
de acordo com o art. 129, inciso VII, da Cons­
tituição Federal, caberá ao Ministério Públi­
co exercer o controle externo da atividade 
policial, na forma da lei complementar, de 
iniciativa dos respectivos Procuradores-Gerais 
da União e dos Estados. Segundo Rodrigo Rég- 
nier Chemim Guimarães (Controle externo da 
atividade policial pelo Ministério Público. 2a ed. 
Curitiba: Juruá, 2009. p. 80), o controle externo 
da atividade policial deve ser compreendido 
como o “conjunto de normas que regulam a 
fiscalização exercida pelo Ministério Público 
em relação à Polícia, na prevenção, apuração 
e investigação de fatos tidos como criminosos, 
na preservação dos direitos e garantias consti­
tucionais dos presos que estejam sob responsa­
bilidade das autoridades policiais e na fiscali­
zação do cumprimento das determinações ju ­
diciais”. A atividade de controle exercida pelo 
Ministério Público decorre do sistema de freios 
e contrapesos previsto pelo regime democrá­
tico. Afinal, o sistema preconizado na Carta 
Magna pressupõe a existência do controle de 
uma instituição por outra, condição necessária 
ao regular funcionamento do Poder Público. 
Este controle não pressupõe subordinação 
ou hierarquia dos organismos policiais. De 
fato, a expressão controle externo da atividade 
policial pelo Ministério Público não significa 
ingerência que determine a subordinação da 
polícia judiciária ao Ministério Público, mas 
sim a prática de atos administrativos pelo 
Ministério Público, de forma a possibilitar a 
efetividade dos direitos assegurados na lei fun­
damental. De acordo com a Lei Complementar 
n. 75/93 (art. 9°), cujas normas são aplicáveis 
subsidiariamente aos Ministérios Públicos dos 
Estados (Lei n. 8.625/93, art. 80), o Ministério 
Público da União exercerá o controle externo 
da atividade policial por meio de medidas 
judiciais e extrajudiciais, podendo: I - ter livre 
ingresso em estabelecimentos policiais ou pri­
sionais; II - ter acesso a quaisquer documentos 
relativos à atividade-fim policial; III - repre­
sentar à autoridade competente pela adoção de
\
Art. 13 CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
providências para sanar a omissão indevida, ou 
para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso 
de poder; IV - requisitar à autoridade compe­
tente para instauração de inquérito policial 
sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no 
exercício da atividade policial; V - promover 
a ação penal por abuso de poder. Além disso, 
segundo o art. 10 da LC n. 75/93, a prisão de 
qualquer pessoa, por parte de autoridade fede­
ral ou do Distrito Federal e Territórios, deverá 
ser comunicada imediatamente ao Ministério 
Público competente, com indicação do lugar 
onde se encontra o preso e cópia dos documen­
tos comprobatórios da legalidade da prisão. Os 
organismos policiais relacionados no art. 144 
da Constituição Federal, bem como as polícias 
legislativas ou qualquer outro órgão ou insti­
tuição, civil ou militar, à qual seja atribuída 
parcela de poder de polícia relacionada com 
a segurança pública e persecução criminal, 
sujeitam-se ao controle externo do Ministério 
Público. Dessa forma, pode-se conceber o con­
trole externo como instrumento de realização 
do poder punitivo do Estado. Seu objetivo 
é dar ao Ministério Público um comprome­
timento maior com a investigação criminal 
e, consequentemente, um amplo domínio e 
lisura na produção da prova, a qual lhe servirá 
de respaldo na eventual propositura da ação 
penal pública ou na propositura da ação penal 
privada pelo ofendido. O controle externo 
da atividade policial pelo Ministério Público 
também visa à manutenção da regularidade e 
da adequação dos procedimentos empregados 
na execução da atividade policial bem como a 
integração das funções do Ministério Público 
e das Polícias voltadas para a persecução penal 
e o interesse público. A atuação institucional 
nessa seara vai além da fiscalização das ativida­
des tendentes à persecução penal, cabendo ao 
Ministério Público reprimir eventuais abusos, 
mediante instrumentos de responsabilização 
pessoal (penal, cível e administrativa) e tam­
bém zelar para que as instituições controladas 
disponham de todos os meios materiais para o 
bom desempenho de suas atividades, inclusive, 
quando necessário, acionando judicialmente o 
próprio Estado.
2.1. Resolução n. 20 do Conselho Nacional 
do Ministério Público: a Resolução n. 20, de 
28 de maio de 2007, do Conselho Nacional do 
Ministério Público, regulamenta, no âmbito 
do Ministério Público, o controle externo da 
atividade policial. De acordo com seu art. 2o, 
o controle externo da atividade policial pelo 
Ministério Público tem como objetivo manter 
a regularidade e a adequação dos procedi­
mentos empregados na execução da atividade 
policial, bem como a integração das funções do 
Ministério Público e das Polícias voltada para 
a persecução penal e o interesse público, aten­
tando, especialmente, para: I - o respeito aos 
direitos fundamentais assegurados na Consti­
tuição Federal e nas leis; II - a preservação da 
ordem pública, da incolumidade das pessoas 
e do patrimônio público; III - a prevenção da 
criminalidade; IV - a finalidade, a celeridade, o 
aperfeiçoamento e a indisponibilidade da per­
secução penal; V - a prevenção ou a correção 
de irregularidades, ilegalidades ou de abuso 
de poder relacionados à atividade de investi­
gação criminal; VI - a superação de falhas na 
produção probatória, inclusive técnicas, para 
fins de investigação criminal; VII - a probidade 
administrativa no exercício da atividade poli­
cial. A Resolução n. 20 do Conselho Nacional 
do MP foi objeto de impugnação perante o 
Supremo Tribunal Federal, por meio da ADI 
n. 4.220, que não foi conhecida, porquanto se 
trata de ato de índole regulamentar, atrelado 
aos dispositivos legais que já disciplinam satis­
fatoriamente a matéria, não havendo inovação 
justamente porque os mecanismos primordiais 
para o exercício do controle externo da ativi­
dade policial são extraídos dos artigos 9o e 10 
da Lei Complementar n. 75/93, que se referem, 
por seu turno, ao art. 80 da Lei n. 8.625/93.
2.2. Formas de controle externo da ativi­
dade policial: o controle externo da atividade 
policial pode ser exercido de maneira difusa 
ou concentrada.
2.2.1. Controle difuso: é aquele exercido por 
todos os membros do Ministério Público com 
atribuição criminal, quando do exame dos pro­
cedimentos que lhes forem atribuídos. Aqui, 
é possível a adoção das seguintes medidas: a) 
controle de ocorrências com acesso a regis­
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL A r t . 1 3
tros manuais e informatizados; b) prazos de 
inquéritos policiais; c) qualidade do inquérito 
policial; d) bens apreendidos; e) propositura de 
medidas cautelares.
2.2.2. Controle concentrado: é aquele exer­
cido através de membros com atribuições es­
pecíficas para o controle externo da atividade 
policial, conforme disciplinado no âmbito de 
cada Ministério Público. Em sede de controle 
concentrado, são inúmeras as medidas que 
podem ser adotadas pelo órgão do Ministério 
Público: a) ações de improbidade administrati­
va; b) ações civis públicas na defesa dos interes­
ses difusos; c) procedimentos de investigação 
criminal; d) requisições; e) recomendações; f) 
termos de ajustamento de conduta; g) visitas 
às delegacias de polícia e unidades prisionais; 
h)comunicações de prisões em flagrante.
3. Fornecimento de informações comple­
mentares: é equivocado acreditar que, uma 
vez concluído o inquérito policial e oferecida 
a denúncia, findou-se o trabalho investigatório 
da Polícia em relação àquele fato delituoso. A 
depender do caso concreto, é perfeitamen- 
te possível que novas fontes de prova sejam 
identificadas após a remessa dos autos do 
inquérito policial ao Poder Judiciário. A títu­
lo de exemplo, basta pensar na revelação do 
nome de um coautor ou partícipe durante o 
curso de uma audiência de instrução e julga­
mento. Nesse caso, como o processo judicial 
já está em andamento, esses novos elementos 
de informação deverão ser documentados em 
autos suplementares, evitando-se, assim, a 
desnecessária remessa dos autos do processo 
judicial à Polícia.
4. Requisição de diligências à autoridade 
policial pelo juiz de ofício: sem embargo de 
opiniões em sentido contrário, nos parece que 
ao juiz não é dado requisitar, ex officio, a reali­
zação de diligências complementares durante o 
curso das investigações, sob pena de violação 
ao sistema acusatório e à própria garantia da 
imparcialidade. Para mais detalhes acerca do 
assunto, remetemos o leitor aos comentários 
ao art. 156, inciso I, do CPP.
5. Requisição de diligências à autoridade 
policial pelo Ministério Público: a legisla­
ção processual penal confere ao Delegado de 
Polícia discricionariedade para conduzir a 
investigação criminal por meio de inquéri­
to policial, podendo, para tanto, requisitar 
perícias, informações, documentos e dados 
que interessem à apuração dos fatos (Lei n. 
12.830/13, art. 2o, §§ 2° e 3o). Essa discrio- 
nariedade, todavia, não é absoluta, sofrendo 
evidente mitigação diante de eventual requi­
sição ministerial. Se o Ministério Público 
é o titular da ação penal pública (CF, art. 
129, I), sendo, portanto, o destinatário, por 
excelência, dos elementos de informação 
produzidos no curso da investigação policial, 
não se pode negar ao Parquet a possibilidade 
de requisitar diligências imprescindíveis à 
formação da opinio delicti. Esse poder de 
requisição deriva diretamente da Constitui­
ção Federal: dentre as funções institucionais 
do Ministério Público, consta do art. 129, 
V III, da CF, a possibilidade de requisitar 
diligências investigatórias e a instauração de 
inquérito policial, indicados os fundamentos 
jurídicos de suas manifestações processuais. 
Na mesma linha, consoante disposto no art. 
13, II, do CPP, que não foi revogado pela Lei 
n. 12.830/13, incumbe à autoridade policial 
realizar as diligências requisitadas pelo juiz 
ou pelo Ministério Público. Requisição é a 
exigência para a realização de algo, funda­
mentada em lei, e não se confunde com or­
dem, porquanto o Promotor de Justiça e nem 
mesmo o Juiz são superiores hierárquicos do 
Delegado de Polícia, razão pela qual não po­
dem lhe dar ordens. Na verdade, o Delegado 
de Polícia determina o cumprimento da exi­
gência ministerial não para atender à vontade 
particular do Promotor de Justiça, mas sim 
em fiel observância ao princípio da obriga­
toriedade, que impõe às autoridades estatais, 
inclusive Delegados de Polícia, um dever de 
agir de ofício diante da notícia de infração 
penal. Essas diligências devem ser requisi­
tadas pelo Ministério Público diretamente à 
autoridade policial (CPP, art. 13, II), ressalva­
das as hipóteses em que houver necessidade 
de intervenção judicial (v.g., interceptação 
telefônica). Havendo necessidade dos autos 
para auxiliar no cumprimento das diligências,
99
Aft. 13-A CPP COMENTADO • Renato Brasileiro de Lima
deve o Promotor requerer ao juiz a remessa 
dos autos à autoridade policial. Indeferindo 
o magistrado o pedido de devolução dos au­
tos para novas e imprescindíveis diligências, 
caberá correição parcial. Afinal, não cabe 
ao Poder Judiciário, substituindo-se inde­
vidamente ao titular da ação penal pública, 
formar juízo acerca da necessidade (ou não) 
da realização de determinadas diligências 
reputadas indispensáveis pelo dominus litis à 
formação de sua convicção acerca da prática 
de determinada infração penal. À evidência, o 
Delegado de Polícia não é obrigado a atender 
requisições manifestamente ilegais. Aliás, ao 
tratar do poder de requisição ministerial, a 
própria Constituição Federal faz referência à 
indicação dos fundamentos jurídicos de sua 
manifestação. Nesse caso, fazendo-o de ma­
neira fundamentada, incumbe ao Delegado 
se recusar a cumprir requisições manifesta­
mente ilegais, comunicando a ocorrência ao 
respectivo Procurador-Geral de Justiça para 
as providências funcionais pertinentes.
6. Cumprimento de mandados de prisão:
pelo menos em regra, a prisão de alguém está 
condicionada à ordem prévia e fundamentada 
da autoridade judiciária competente, materiali­
zada no mandado de prisão. A atribuição para 
o cumprimento dos mandados de prisão recai, 
precipuamente, sobre a Polícia Judiciária, que 
geralmente tem departamentos especializados 
na execução desses mandados. No entanto, à 
Polícia Militar, no exercício de suas funções 
de policiamento ostensivo, não se impede o 
cumprimento de mandados quando se depara
com alguém procurado. Aliás, ao tratar do 
registro do mandado de prisão no banco de 
dados mantido pelo Conselho Nacional de 
Justiça (BNMP), o art. 289-A, §1°, do CPP, com 
redação determinada pela Lei n. 12.403/11, 
é categórico ao afirmar que qualquer agente 
policial poderá efetuar a prisão determinada 
em mandados de prisão.
7. Representação pela decretação da 
prisão preventiva: durante o curso do in­
quérito policial, o Delegado de Polícia pode 
vislumbrar a necessidade da decretação de 
alguma medida cautelar. O art. 13, inciso IV, 
do CPP, faz referência apenas à prisão pre­
ventiva. No entanto, não se pode perder de 
vista que tal dispositivo guarda pertinência 
com o quadro de medidas cautelares dispo­
níveis à época da vigência do CPP ( I o de ja ­
neiro de 1942). Com as inúmeras mudanças 
sofridas pela legislação processual penal nos 
últimos anos, é evidente que o dispositivo 
legal sob comento deve ser interpretado de 
maneira extensiva, no sentido de se permi­
tir ao Delegado de Polícia representar pela 
decretação de qualquer medida cautelar 
durante as investigações, sejam elas de natu­
reza patrimonial (ex: sequestro), probatória 
(ex: interceptação telefônica), sejam elas 
de natureza pessoal (ex: prisão preventiva, 
temporária ou cautelares diversas da prisão).
8. Representação da autoridade policial e 
(des) necessidade de manifestação do M i­
nistério Público: para mais detalhes acerca do 
assunto, remetemos o leitor aos comentários 
ao art. 282, §2°, do CPP.
Art. 1 3-A. Nos crimes previstos nos arts. 148,149 e 149-A, no §3° do art. 
158 e no art. 159 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código 
Penal), e no art. 239 da Lei n. 8.069/90, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da 
Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o Delegado 
de Polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de 
empresas de iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima 
ou de seus suspeitos (Incluído pela Lei n. 13.344/16).1 -2
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte 
e quatro) horas, conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
TÍTULO II • DO INQUÉRITO POLICIAL -| 3_y\
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela 
investigação.
1. Acesso aos dados cadastrais de víti­
mas e de suspeitos: introduzido pela Lei n. 
13.344/16, que versa sobre o tráfico interno e 
internacional de pessoas, o novel art. 13-A do 
CPP permite o acesso imediato do Delegado 
de Polícia e do órgão do Ministério Público aos 
dados e informações cadastrais da vítima ou de 
suspeitos da prática dos crimes de sequestro e 
cárcere privado, redução a condição análoga 
à de escravo, tráfico de pessoas, extorsão qua­
lificada pela restrição da liberdade da vítima,

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