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ATIVIDADE: O Plenário do STF, em maioria de votos, decidiu que é constitucional a regra contida no artigo 283, do CPP, que prevê o esgotamento de todas as possibilidades de recurso (trânsito em julgado da condenação) para o início do cumprimento da pena. O julgamento foi efetuado nos autos das ADCs 43, 44 e 54, as quais foram julgadas procedentes. Discorrer o mencionado julgado em relação ao princípio da PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. JULGAMENTO DAS ADC’s 43, 44 e 54 (STF, 2019) Inicialmente, é premente salientar que, em que pese o sistema processual penal brasileiro, a todo acusado de prática de infração delitiva deve ser assegurada a prerrogativa de não ser considerado culpado até que ocorra o trânsito em julgado de sua sentença penal condenatória. Trata-se do chamado princípio da presunção de inocência, que rege o ordenamento jurídico pátrio. Neste passo, a Declaração dos Direitos Humanos da ONU de 10 de dezembro de 1948, que delineia e assegura os direitos básicos e indeclináveis dos indivíduos, estabelece, em seu artigo XI, que: Art. XI. “Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”. Outrossim, o instituto da presunção de inocência encontra respaldo na Constituição Federal de 1988, no rol dos direitos fundamentais disposto no artigo 5º, inciso LVII, que, em suma, estipula o estado de “inocência” ou o da “não culpabilidade” como regra em relação ao acusado da prática de infração penal até a sentença condenatória transitar em julgado, ou seja, quando tornarem-se findos todos os recursos cabíveis nas eventuais instâncias superiores. Neste sentido, necessário se faz mencionar o pensamento do ilustre Guilherme de Souza Nucci (p. 65, 2020): “O princípio tem por objetivo garantir que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa. As pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável que o Estado-acusação evidencie, com provas suficientes, ao Estado-juiz a culpa do réu”. O deslinde da questão está no fato de que o Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2016, ao julgar embargos de declaração do HC 126.292, entendeu ser cabível a possibilidade de início da execução provisória da pena logo após a confirmação da condenação em segunda instância, isto é, sem que houvesse, ainda, o trânsito em julgado da mesma, e que tal ato não violaria o princípio constitucional da presunção de inocência. A jurisprudência fixada em 2016 teve como principal fundamentação o fato de que cabe apenas às instâncias de primeiro grau (juízo de conhecimento e certificação do direito) analisar os fatos e as provas apresentadas durante a instrução e, deste modo, tornar definitiva a fixação da responsabilidade criminal do acusado. Cumpre ressaltar ainda que, nos recursos especiais levados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e nos recursos extraordinários ao STF, são discutidos somente certames legais ou constitucionais. No mesmo ano do aludido julgamento, o Patriota (partido político) e a Ordem dos Advogados do Brasil ajuizaram, respectivamente, as Ações Declaratórias de Constitucionalidades (ADC’s) 43 e 44, aduzindo haver incompatibilidade entre a jurisprudência adotada pela Corte Suprema e a norma prevista no artigo 283, do Código de Processo Penal, após ser editado através da Lei nº 12.403/2011, bem como nas demais garantias previstas na Constituição Federal, conforme o que se segue: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado. É mister esclarecer que, de acordo com o dispositivo legal supracitado, o indivíduo apenas poderá ter sua liberdade cerceada antes do trânsito em julgado quando da prisão em flagrante e/ou quando o magistrado, em situações de excepcionalidade e fundamentando- se em sua decisão, eleger necessária a segregação do acusado, utilizando-se do instituto da prisão cautelar. Neste diapasão, sustentou-se, por meio das referidas ADC’s que, para admitir que a condenação fosse objeto de execução provisória (antes do trânsito em julgado), o Supremo Tribunal Federal teria de ter declarado a inconstitucionalidade do dispositivo, o que, deveras, não aconteceu. No mesmo sentido, verificou-se que, mesmo tal decisão não tendo efeito vinculante, vez que possuía caráter “inter partes”, os tribunais de todo o país passaram a seguir esse posicionamento sem que o excelso pretório se pronunciasse sobre a constitucionalidade do artigo 283 do CPP. Já em maio de 2018, o PCdoB (partido político), trouxe ao lume, por meio da ADC 54, o mesmo objeto já pleiteado anteriormente, argumentando, desta feita, haver injustiça e desrespeito à Carta de 1988, quando o início de cumprimento de qualquer pena se dá sem que as instâncias superiores examinem os recursos contra eventuais ilegalidades e inconstitucionalidades ocorridas no processo penal. Realizado o julgamento, que teve início em outubro de 2019, o Plenário decidiu, por maioria de 6 votos a 5, pela constitucionalidade da predita norma presente no Código de Processo Penal, de modo a rejeitar a tese da prisão após condenação em segunda instância. O ministro Marco Aurélio, atuando como relator, adotou uma interpretação extremamente dogmática e literal do artigo 5º, LVII, da CF/88 e, neste sentido, é oportuna a transcrição: “Atentem para a organicidade do Direito, levando em conta o teor do artigo 5º, inciso LVII, da Lei Maior – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A literalidade do preceito não deixa margem a dúvidas: a culpa é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre apenas com a preclusão maior (...) O dispositivo não abre campo a controvérsias semânticas. A Constituição de 1988 consagrou a excepcionalidade da custódia no sistema penal brasileiro, sobretudo no tocante à supressão da liberdade anterior ao trânsito em julgado da decisão condenatória. A regra é apurar para, em virtude de título judicial condenatório precluso na via da recorribilidade, prender, em execução da pena, que não admite a forma provisória”. À propósito, a exigência do trânsito em julgado do decreto condenatório – que está imposta não somente na Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII, mas, também, no Código de Processo Penal na redação do artigo 283 - constitui um dever do Estado, através do seu “ius puniendi”, de garantir o princípio da presunção de inocência (não somente por sua natureza principiológica, como também legal) e assegurar ao acusado um julgamento justo e que não viole direitos e garantias estabelecidos pela Lei Maior, mantendo, portanto, o pleno exercício do Estado Democrático de Direito. Tecendo comentários à vista do acima exposto, coloco-me favorável ao entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal utilizando da máxima de que é preferível absolver um indivíduo, ainda que na hipótese de indícios de sua culpabilidade, a condená- lo, na possibilidade de ser inocente das alegações a ele imputadas. REFERÊNCIAS NUCCI. Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal, 17. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.
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