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Proc Penal - Renato Brasileiro - ATUALIZADO COM A DERRUBADA DOS VETOS

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Prévia do material em texto

PROCESSO PENAL
SUMÁRIO
1. Noções Introdutórias....................................................................................................................................................................3
2. Juiz das Garantias........................................................................................................................................................................14
3. Investigação Preliminar...............................................................................................................................................................33
4. Ação Penal ..................................................................................................................................................................................64
5. Competência Criminal .................................................................................................................................................................81
6. Provas ........................................................................................................................................................................................114
7. Medidas Cautelares no Processo Penal .....................................................................................................................................149
8. Questões e Processos Incidentes ..............................................................................................................................................193
9. Comunicação dos Atos Processuais ...........................................................................................................................................213
10. Procedimento ..........................................................................................................................................................................220
11. Ação Civil Ex Delicto .................................................................................................................................................................246
12. Tribunal do Júri ......................................................... ..............................................................................................................249
13. Sentença ..................................................................................................................................................................................280
14. Nulidades .................................................................................................................................................................................290
15. Recursos ..................................................................................................................................................................................302
16. Ações Autônomas de Impugnação ..........................................................................................................................................326
17. Rejeição de vetos ao Pacote Anticrime....................................................................................................................................344
Este material foi elaborado a partir da apostila de aula do curso de Renato Brasileiro de 2014, 
quando este ainda dava aula no CERS; da leitura integral do Manual de Processo Penal do mesmo autor 
(edição 2017); da leitura pontual do Manual de Processo Penal de Renato Brasileiro (edição 2020), para fins de atualização dos pontos que estejam em dissonância com o Pacote Anticrime (Lei 13.964/19); e jurisprudência do Dizer o Direito.
ATENÇÃO! Estude sempre com o vade mecum atualizado ao lado, pois este material pode conter erros. 
MATERIAL ATUALIZADO ATÉ 01/07/2020
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1. INTRODUÇÃO
	Eis o grande dilema do processo penal: de um lado, o necessário e indispensável respeito aos direitos e garantias fundamentais; do outro, o atingimento de um sistema criminal mais operante e eficiente. Há de se buscar, portanto, um ponto de equilíbrio entre a exigência de se assegurar ao investigado e ao acusado a aplicação das garantias fundamentais do devido processo legal e a necessidade de maior efetividade do sistema persecutório penal para a segurança da coletividade. 
2. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS
2.1. Sistema inquisitorial
	Tem como característica principal o fato de as funções de acusar, defender e julgar encontrarem-se concentradas em uma única pessoa, que assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor, que não é dotado, portanto, de imparcialidade. Não há falar em contraditório; o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória e o acusado é mero objeto do processo. 
2.2. Sistema acusatório
	Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, e a ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo actum trium personarum. 
	Historicamente, o processo acusatório tem como suas características a oralidade e a publicidade, nele se aplicando o princípio da presunção de inocência. 
	Ainda que se admite que o juiz tenha poderes instrutórios, essa iniciativa deve ser possível apenas no curso do processo, em caráter excepcional, como atividade subsidiária da atuação das partes. 
	No sistema acusatório, a gestão das provas é função das partes, cabendo ao juiz um papel de garante das regras do jogo, salvaguardando direitos e liberdades fundamentais. 
	É o sistema acolhido de forma explícita pela CF/88 em seu art.129, I, que confere ao MP a iniciativa para a propositura da ação penal pública. 
	O que efetivamente diferencia o sistema inquisitorial do acusatório é a posição dos sujeitos processuais e gestão da prova. 
	Em síntese, pode-se trabalhar com o seguinte quadro comparativo entre os dois sistemas: 
	SISTEMA INQUISITORIAL
	SISTEMA ACUSATÓRIO
	Não há separação das funções de acusar, defender e julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, que assume as vestes de um juiz inquisidor;
	Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por consequência, caracteriza-se pela presença de partes distintas (actum trium personarum), contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira equidistante e imparcial;
	Como se admite o princípio da verdade real, o acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do processo, daí por que se admite inclusive a tortura como meio de se obter a verdade absoluta;
	O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser produzida com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa;
	Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita de elementos informativos e de provas, seja no curso das investigações, seja no curso da instrução processual;
	Gestão da prova: recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando provocado e desde que haja necessidade de intervenção judicial. Durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o juiz tem certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça de maneira subsidiária;
	A concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa acusatória dela decorrente é incompatível com a garantia da imparcialidade (CADH, art.8º, §1º) e com o princípio do devido processo legal. 
	A separação das funções e a iniciativa probatória residual restrita à fase judicial preserva a equidistância que o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da imparcialidade e com o princípio do devido processo legal. 
2.3. Sistema misto ou francês
	É chamado de sistema misto porquanto o processo sedesdobra em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigora, em regra, a publicidade e a oralidade. 
3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL
	Em face da incorporação da CADH ao ordenamento pátrio, o Brasil assume, então, o dever de adotar medidas legislativas para dar efetividade aos direitos preconizados na referida Convenção (art.2º). Esta pode ser garantida em 3 perspectivas: a) utilização da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e das opiniões consultivas na interpretação dos casos penais internos de cada país; b) controle difuso da convencionalidade, a ser exercido pelos magistrados em cada caso concreto, nos termos do art.5º, §§2º e 3º da CF; c) controle concentrado ou abstrato de convencionalidade, a ser realizado pela CIDH, em sua jurisdição contenciosa e consultiva, e pelos Tribunais, após a EC nº 45/04. 
	De se notar, portanto, que as decisões da CIDH gozam de eficácia vinculante, nos termos dos arts.67, 68.1 e 68.2 da CADH. São dotadas de autoridade de coisa julgada formal e material, devendo, pois, ser cumpridas de forma eficaz e integral. 
3.1. Da Presunção de inocência (ou da não culpabilidade)
3.1.1. Noções introdutórias 
	O direito de não ser declarado culpado enquanto ainda há dúvida sobre se o cidadão é culpado ou inocente foi acolhido no art.9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), no art.11.1 da Declaração Universal de Direitos Humanos, no art.14.2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, no art.8º, §2º da CADH e no art.5º, LVII, da CF/88.
	Comparando-se a forma como referido princípio foi previsto nos Tratados Internacionais e na Constituição Federal, percebe-se que, naqueles, costuma-se referir à presunção de inocência, ao passo que a CF em momento algum utiliza a expressão inocente, dizendo, na verdade, que ninguém será considerado culpado. Por conta dessa diversidade terminológica, o preceito inserido na Carta magna passou a ser denominado de presunção de não culpabilidade. 
	Na jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao princípio da presunção de inocência, ora ao princípio da presunção de não culpabilidade. 
	Do princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) derivam duas regras fundamentais: a regra probatória (também conhecida como regra de juízo) e a regra de tratamento, objeto de estudo nos próximos tópicos. 
3.1.2. Da regra probatória (in dubio pro reo)
	Por força da regra probatória, a parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, e não este de provar sua inocência. 
	Como consequência da regra probatória, destaca-se: a) a incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do acusado; b) a necessidade de comprovar a existência dos fatos imputados, não de demonstrar a inconsistência das desculpas do acusado; c) tal comprovação deve ser feita legalmente; d) impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos fatos. 
	Nesta acepção, presunção de inocência confunde-se com in dubio pro reo. 
3.1.3. Da regra de tratamento
	A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela nota da excepcionalidade, somente se justifica em hipóteses estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal em liberdade, a exceção é estar preso. São manifestações claras desta regra de tratamento a vedação de prisões processuais automáticas ou obrigatórias e a impossibilidade de execução provisória ou antecipada da sanção penal. 
	Há quem entenda que esse dever de tratamento atua em duas dimensões: 
a) interna ao processo: funciona como dever imposto, inicialmente, ao magistrado, no sentido de que o ônus da prova recai integralmente sobre a parte acusadora, devendo a dúvida favorecer o acusado. Ademais, as prisões cautelares devem ser utilizadas apenas em situações excepcionais; 
b) externa ao processo: o princípio da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado, funcionando como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio processo judicial.
3.1.4. (In)constitucionalidade da execução provisória da pena
	Muito já se discutiu – e ainda se discute – acerca da necessidade de se aguardar (ou não) o trânsito em julgado de sentença condenatória para o início da execução da pena.
	Entre fevereiro de 2016 e novembro de 2019, prevaleceu no STF, por força do HC 126.292, o entendimento de que NÃO havia necessidade de se aguardar o trânsito em julgado, justificando-se, assim, a denominada execução provisória da pena.
	Recentemente, porém, por ocasião do julgamento definitivo das ADC’s 43/DF, 44/DF e 54/DF, houve uma mudança de orientação do STF, que voltou a entender pelo não cabimento da execução provisória da pena. 
	Vejamos o entendimento de ambas as correntes de forma separada. 
3.1.4.1. Desnecessidade do trânsito em julgado (STF – HC 126.292)
	Pelo menos em regra, os recursos extraordinário e especial não são dotados de efeito suspensivo (art.637 do CPP c/c arts.995 e 1.029, §5º, NCPC). Por isso, prevaleceu, durante anos, o entendimento jurisprudencial segundo o qual era cabível a execução provisória de sentença penal condenatória recorrível, independentemente da demonstração de qualquer hipótese que autorizasse a prisão preventiva do acusado. 
	Ocorre que, no julgamento do HC 84.078 no ano de 2009, o Plenário do STF alterou a jurisprudência até então dominante para concluir que a execução da pena só poderia ocorrer com o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. 
	Todavia, em julgamento histórico realizado em 17 de fevereiro de 2016 (HC 126.292), o STF concluiu que é possível a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido por Tribunal de 2ª instância no julgamento de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, e mesmo que ausentes os requisitos da prisão cautelar, sem que se possa objetar suposta violação ao princípio da presunção de inocência, já que é possível fixar determinados limites para referida garantia constitucional. Para justificar essa nova orientação foram apontados os seguintes fundamentos:
a) Deve ser buscado o necessário equilíbrio entre o princípio da presunção de inocência e a efetividade da função jurisdicional penal, que deve atender a valores caros não apenas aos acusados, mas também à sociedade;
b) É no âmbito das instâncias ordinárias que se exaure a possibilidade de exame de fatos e provas e, sob esse aspecto, a própria fixação da responsabilidade criminal do acusado. É dizer, os recursos de natureza extraordinária não configuram desdobramentos do duplo grau de jurisdição, porquanto não são recursos de ampla devolutividade, já que não se prestam ao debate da matéria fática probatória;
c) Se houve, em 2º grau, um juízo de incriminação do acusado, fundado em fatos e provas insuscetíveis de reexame pela instância extraordinária, parece inteiramente justificável a relativização e até mesmo a própria inversão, para o caso concreto, do princípio da presunção de inocência até então observado;
d) A lei da Ficha Limpa expressamente consagra como causa de inelegibilidade a existência de sentença condenatória por crimes nela relacionados quando proferidas por órgão colegiado;
e) Não se pode afirmar que, à exceção das prisões em flagrante, temporária, preventiva e decorrente de sentença condenatória transitada em julgado, todas as demais formas de prisão foram revogadas pelo art.283 do CPP;
f) Em nenhum país do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa, aguardando referendo da Suprema Corte;
g) A jurisprudência que assegurava a presunção de inocênciaaté o trânsito em julgado de sentença condenatória vinha permitindo a indevida e sucessiva interposição de recursos da mais variada espécie, com indisfarçados propósitos protelatórios;
h) Quanto a eventuais equívocos das instâncias ordinárias, não se pode esquecer que há instrumentos aptos a inibir consequências danosas para o condenado, suspendendo, se necessário, a execução provisória da pena, como, por exemplo, medidas cautelares de outorga de efeito suspensivo ao RExt e REsp e o HC. 
Posteriormente, o teor da decisão proferida no julgamento do HC 126.292 foi confirmado pelo Plenário do STF, ao indeferir medida cautelar em duas ações ADC’s (ADC’s 43 e 44). Esse entendimento foi posteriormente confirmado pelo Plenário Virtual do STF na análise do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 964.246, que teve repercussão geral reconhecida. 
3.1.4.2. Necessidade do trânsito em julgado (STF – ADC’s 43, 44 e 54)
 	Renato Brasileiro sempre entendeu, mesmo antes do julgamento definitivo das ADC’s, pela inconstitucionalidade da execução provisória da pena, pois esta estaria em desacordo com a CF, que assegura a presunção de inocência (ou de não culpabilidade) até o trânsito em julgado de sentença condenatória (art.5º, LVII), assim como o art.283 do CPP, que, mesmo após o Pacote Anticrime, só admite, no curso da investigação ou do processo – é dizer, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória -, a decretação da prisão cautelar por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. 
	Não se nega, aqui, a necessidade de maior eficiência do sistema processual penal, mas esta busca não pode se sobrepor à CF, a qual demanda a formação da coisa julgada para que se possa dar início à execução da pena. E só se pode falar em trânsito em julgado quando a decisão se torna imutável, o que, como sabemos, é obstado pela interposição de recursos extraordinários, ainda que desprovidos de efeito suspensivo. 
	O princípio da presunção de inocência não se esvazia progressivamente, à medida em que se sucedem os graus de jurisdição, pois só deixa de existir quando configurado o trânsito em julgado.
	Por mais que a CADH estenda o princípio da presunção de inocência até a comprovação legal da culpa, o que ocorre com a prolação de acórdão condenatório no julgamento de um recurso, não se pode perder de vista que a CF é categórica ao afirmar que somente o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória poderá afastar o estado inicial de não culpabilidade de que todos gozam. Seu caráter mais amplo deve prevalecer, portanto, sobre o teor da CADH. De fato, a própria Convenção prevê que os direitos nela estabelecidos não poderão ser interpretados no sentido de restringir ou limitar a aplicação de normas mais amplas que existam no direito interno dos países signatários. Em consequência, deverá sempre prevalecer a disposição mais favorável (princípio pro homine). 
	Ademais, o art.637 do CPP foi tacitamente revogado pela Lei 12.403/11, que conferiu nova redação ao art.283 do CPP. O art.283 do CPP, mesmo após a alteração promovida pelo Pacote Anticrime, é categórico ao estabelecer as hipóteses em que pode haver restrição à liberdade de locomoção: 
a) prisão em flagrante e prisão cautelar (prisão preventiva e prisão temporária) são as únicas espécies de prisão cautelar passíveis de decretação no curso da investigação ou do processo;
b) prisão penal (carcer ad poenam) só pode ser objeto de execução com o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
Há, pois, um requisito de natureza objetiva para o início do cumprimento da pena: a formação da coisa julgada, a qual é obstada pela interposição de todo e qualquer recurso, seja ele ordinário ou extraordinário, com ou sem efeito suspensivo. O caráter “extraordinário” de certos recursos não afeta o conceito de trânsito em julgado. São coisas distintas. 
Por mais que as Leis 12.403/11 e 13.964/19, responsáveis pelas sucessivas mudanças da redação do art.283 do CPP, não tenham feito qualquer referência ao art.637 do CPP, é no mínimo estranho admitirmos que um dispositivo legal autoriza a execução da pena tão somente com o trânsito em julgado de sentença condenatória, enquanto outro autoriza pelo fato de não outorgar efeito suspensivo aos recursos extraordinários. Como o art.283 do CPP é norma posterior que tratou da matéria de forma diversa, para Renato Brasileiro, houve uma revogação tácita do art.637 do CPP. 
Não se pode defender, também, que o CPC/15 teria revogado tacitamente o art.283 do CPP, por prever expressamente que os recursos extraordinários não são dotados de efeito suspensivo. Primeiro, porque o CPC só é aplicado em âmbito processual penal quando houver alguma lacuna – o que não é o caso, pois o art.283 do CPP é expresso ao afirmar que só haverá execução da pena após o trânsito em julgado. 
Com base nesses argumentos, o STF voltou a apreciar a matéria em novembro de 2019. Porém, dessa vez, e novamente por maioria (6 a 5), julgou procedentes os pedidos formulados nas ADC’s 43/DF, 44/DF e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), para assentar a CONSTITUCIONALIDADE DO art.283 do CPP, que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em julgado do título condenatório. Como consequência, determinou a suspensão imediata de toda e qualquer execução provisória da pena. 
	A solução para o caos do sistema punitivo brasileiro deve passar por uma mudança legislativa, e não jurisprudencial, como feita pelo STF, para que seja antecipado o momento do trânsito em julgado de acórdãos condenatórios proferidos pelos Tribunais de 2ª instância, hipótese em que os recursos extraordinários obrigatoriamente teriam que ter sua natureza jurídica alterada para sucedâneos recursais externos.
	De todo modo, pelo menos enquanto não sobrevém essa mudança legislativa, caberá aos Tribunais maior rigor na verificação de eventuais excessos por parte da defesa o tocante ao exercício abusivo do direito de recorrer. Daí, também, a importância da nova causa suspensiva da prescrição, introduzida pelo Pacote Anticrime no art.116, inc.III, do CP, segundo o qual, antes de passar em julgado a sentença penal, a prescrição não corre na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis. 
CP, Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, A PRESCRIÇÃO NÃO CORRE:
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; 
	Esta nova causa suspensiva tem aplicação restrita aos crimes praticados após a vigência da Lei 13.964/19.
	Para Renato Brasileiro, “inadmissíveis” se refere às hipóteses em que tais recursos NÃO FOREM CONHECIDOS (e não quando forem improvidos). 
JURIS SOBRE A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA! 
Se o Tribunal de 2ª instância não analisou a necessidade da prisão preventiva ou outras medidas cautelares em razão de ter aplicado o antigo entendimento do STF sobre a execução provisória, antes de ser decretada a liberdade, deve o Tribunal fazer essa análise
Juiz condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado. O STF concedeu a ordem, mas não para a liberdade imediata do condenado, e sim para que o Tribunal de Justiça analise eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de medidas cautelares diversas. STF. 1ª Turma. HC 175405/PR e HC 176841/SC, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgadosem 17/12/2019 (Info 964).
Se o Tribunal de 2ª instância determinou a execução provisória da pena, mas o juiz já havia negado o direito do condenado de recorrer em liberdade, não cabe a soltura do réu com base no novo entendimento do STF de que é proibida a execução provisória da pena
Juiz condenou o réu e negou a ele o direito de recorrer em liberdade por estarem presentes os requisitos da prisão preventiva. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não cabe execução provisória da pena. No entanto, no caso concreto, o juiz de 1ª instância decretou a prisão preventiva do acusado e, depois, vedou-lhe o direito de recorrer em liberdade. Além disso, o Tribunal de Justiça, apesar de ordenar a execução provisória, repetiu a necessidade de garantia da ordem pública. Logo, a manutenção da prisão não foi apenas por conta da execução provisória da pena. Desse modo, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 176723/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).
Se o Tribunal de 2ª instância não analisou a necessidade da prisão preventiva em razão de ter aplicado o antigo entendimento do STF sobre a execução provisória, antes de ser decretada a liberdade, deve o Tribunal fazer essa análise
Juiz condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade, mas lhe aplicou uma série de medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado. O STF concedeu a ordem, mas não para a liberdade imediata do condenado, e sim para que o Tribunal de Justiça analise eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de medidas cautelares diversas. STF. 1ª Turma. HC 174875/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/12/2019 (Info 962).
1ª Turma do STF aplica entendimento do Plenário no sentido da impossibilidade de execução provisória da pena
Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019, o Plenário do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória da pena. A 1ª Turma do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no qual o réu estava preso unicamente pelo fato de o Tribunal de Justiça ter confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, ainda, o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória da pena, concedeu a liberdade ao condenado até que haja o esgotamento de todos os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961).
O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos
O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958).
Não é possível a execução provisória de penas restritivas de direito
Não é possível a execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. É proibida a chamada execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF, ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 07/11/2019.
3.2. Princípio do contraditório
CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
	São dois os elementos do contraditório: a) direito à informação; b) direito de participação. O contraditório seria, assim, a necessária informação às partes e a possível reação a atos desfavoráveis. 
	Na dicção de Badaró, houve uma dupla mudança – subjetiva e objetiva – na noção de contraditório: quanto ao seu objeto, deixou de ser o contraditório uma mera possibilidade de participação de desiguais, passando a se estimular a participação dos sujeitos em igualdade de condições. Subjetivamente, porque a missão de igualar os desiguais é atribuída ao juiz e, assim, o contraditório não só permite a atuação das partes, como impõe a participação do julgador. 
3.2.1. Contraditório para a prova e contraditório sobre a prova
	O contraditório para a prova (ou contraditório real) demanda que as partes atuem na própria formação do elemento de prova, sendo indispensável que sua produção se dê na presença do órgão julgador e das partes. É o que acontece com a prova testemunhal colhida em juízo. 
	O contraditório sobre a prova (contraditório diferido ou postergado) é o reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. É o que acontece com a interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das investigações. 
3.3. Princípio da ampla defesa
CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
	
Enquanto o contraditório manifesta-se em relação a ambas as partes, a ampla defesa diz respeito apenas ao réu. 
	Sob a ótica que privilegia o interesse do acusado, a ampla defesa pode ser vista como um direito; todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse geral de um processo justo, é vista como uma garantia. 
	Quando a CF assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral a ampla defesa, entende-se que a proteção deve abranger o direito à defesa técnica (processual ou específica) e à autodefesa (material ou genérica). 
	Por força da ampla defesa, admite-se que o acusado seja formalmente tratado de maneira desigual em relação à acusação, delineando o viés material do princípio da igualdade. Por consequência, ao acusado são outorgados diversos privilégiosem detrimento da acusação, como a existência de recursos privativos da defesa, a proibição da reformatio in pejus, a regra do in dubio pro reo, a previsão de revisão criminal exclusivamente pro reo, etc., privilégios estes que são reunidos no princípio do favor rei. 
3.3.1. Defesa técnica (processual ou específica)	
	Defesa técnica é aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória, seja ele advogado constituído, nomeado ou defensor público. A defesa técnica é necessária, indeclinável, plena e efetiva. 
3.3.1.1. Defesa técnica necessária e irrenunciável
	A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. 
CPP, Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
	Logicamente, se o acusado é profissional de advocacia, poderá exercer sua própria defesa técnica. 
3.3.1.2. Direito de escolha do defensor
	Em virtude da relação de confiança que necessariamente se estabelece entre o acusado e quem o defende, entende-se que um dos desdobramentos da ampla defesa é o direito que o acusado tem de escolher seu próprio advogado. Logo, não sendo possível ao defensor constituído assumir ou prosseguir na causa, incumbe ao juiz ordenar a intimação do réu para que este, querendo, escolha outro advogado. Antes de realizada essa intimação (ou enquanto não exaurido o prazo nela assinalado), não é lícito ao juiz nomear defensor dativo. Nomeado defensor dativo, o acusado pode, a todo tempo, nomear outro de sua confiança ou a si mesmo defender, caso tenha habilitação (art.263, CPP). Neste sentido, a súmula 707 do STF preconiza que constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. 
3.3.1.3. Defesa técnica plena e efetiva
	Não é suficiente assegurar a presença formal de defensor técnico, é necessário que a defesa seja plena e efetiva. 
	Recai sobre o MP e o juiz o dever de fiscalizar a atuação defensiva do advogado, evitando-se, assim, possível caracterização de nulidade absoluta do feito, por violação à ampla defesa. 
CPP, Art.261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.
Súmula 523 STF: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prejuízo para o réu. 
DE OLHO NA JURIS! Juiz pode designar Defensor Público para réu hipossuficiente mesmo sem sua prévia solicitação
Não afronta o princípio da inércia da jurisdição a decisão do Juízo penal que determina seja designado Defensor Público para réu hipossuficiente economicamente, sem sua prévia solicitação. Isso porque o dever do magistrado de zelar pela regularidade do andamento do processo, com o fim de evitar nulidade processual, manifesta-se de forma mais destacada no bojo do processo penal, quando voltado para a verificação da efetiva obediência às garantias constitucionais do devido processo legal substantivo e do direito ao contraditório e à ampla defesa do réu que não está devidamente representado e/ou não tem condições financeiras de constituir um patrono. STJ. 5ª Turma. RMS 59413-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/05/2019 (Info 648). No mesmo sentido, determina o CPP: Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
3.3.2. Autodefesa (material ou genérica)
	Autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo. É disponível, já que não há como se compelir o acusado a exercer seu direito ao interrogatório nem tampouco a acompanhar os atos da instrução processual. 
	Eventual ofensa ao direito do acusado de exercer sua própria defesa é causa de nulidade absoluta por violação à ampla defesa. 
	A autodefesa se manifesta no processo penal de várias formas: a) direito de audiência; b) direito de presença; c) capacidade postulatória autônoma do acusado. 
3.3.2.1. Direito de audiência
	O direito de audiência pode ser entendido como o direito que o acusado tem de apresentar ao juiz da causa a sua defesa, pessoalmente. Esse direito se materializa através do interrogatório do réu. Daí o entendimento hoje majoritário em torno da natureza jurídica do interrogatório: meio de defesa. 
3.3.2.2. Direito de presença
	Por meio do direito de presença, assegura-se ao acusado a oportunidade de, ao lado de seu defensor, acompanhar atos de instrução, auxiliando-o na realização da defesa. Daí a importância da obrigatória intimação do defensor e do acusado para todos os atos processuais. 
	Se o direito de presença é um desdobramento da autodefesa, a qual é disponível, conclui-se que o comparecimento do réu aos atos processuais, em princípio, é um direito, e não um dever, sem embargo da possibilidade de sua condução coercitiva, caso necessário, por exemplo, para audiência de reconhecimento, ato este que não está protegido pelo direito à não autoincriminação. Nem mesmo ao interrogatório estará o acusado obrigado a comparecer, até mesmo porque a CF lhe assegura o direito ao silêncio. 
	Não se trata, todavia, de um direito de natureza absoluta. Dentre os direitos fundamentais que podem colidir com o direito de presença, legitimando sua restrição, encontram-se os direitos das testemunhas e das vítimas à vida, à segurança, à intimidade e à liberdade declarar, os quais se revestem de inequívoco interesse público, e cuja proteção é indiscutível dever do Estado. 
CPP, Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor. 
DE OLHO NA JURIS! Em julgados recentes, as Turmas do Supremo têm entendido que a alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas, estando ele preso, configura nulidade relativa, devendo-se comprovar a oportuna requisição e também a presença de efetivo prejuízo à defesa. 
3.3.2.3. Capacidade postulatória autônoma do acusado
	Em alguns momentos específicos do processo penal, defere-se ao acusado capacidade postulatória autônoma, independentemente da presença de seu advogado. É por isso que, no processo penal, o acusado pode interpor recursos (art.577, caput, CPP), impetrar HC (art.654, caput, CPP), ajuizar revisão criminal (art.623, CPP), assim como formular pedidos relativos à execução da pena (art.195, caput, LEP). 
	Uma vez dado o impulso inicial pelo acusado, pensamos que, em seguida, e de modo a lhe assegurar a mais ampla defesa, há de ser garantida a assistência de defensor técnico, possibilitando, a título de exemplo, a apresentação das respectivas razões, etc. 
3.3.3. Ampla defesa no processo administrativo disciplinar e na execução penal
CF, Art.5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
CUIDADO! A Súmula Vinculante 5 (“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição) é aplicável apenas em procedimentos de natureza cível, e não em procedimento administrativo disciplinar no âmbito da execução penal. A propósito, eis o teor da Súmula 533 do STJ, aprovada em 10/06/2015: “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”. 
3.4. Princípio da publicidade
	O princípio da publicidade objetiva assegurar a transparência da atividade jurisdicional, oportunizando sua fiscalização nãosó pelas partes, como por toda a comunidade. 
	Funciona a publicidade como pressuposto de validade não apenas dos atos processuais, mas também das próprias decisões que são tomadas pelo Poder Judiciário. 
CF, Art.93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
CF, Art.5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
CPP, Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.
§1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.
3.5. Princípio da busca da verdade: superando o dogma da verdade real
	Durante muitos anos, foi dito que, no processo penal, vigorava o princípio da verdade material - também conhecido como princípio da verdade substancial ou real -, onde a descoberta da verdade, obtida a qualquer preço, era a premissa indispensável para a realização da pretensão punitiva do Estado. 
	Atualmente, a dicotomia entre verdade formal e material deixou de existir. Já não há mais espaço para a dicotomia ente verdade formal (típica do processo civil) e verdade material (própria do processo penal). 
	No âmbito do processo penal, hodiernamente, admite-se que é impossível que se atinja a uma verdade absoluta. Por esse motivo, tem prevalecido na doutrina mais moderna que o princípio que vigora no processo penal não é o da verdade material ou real, mas sim o da busca da verdade. Seu fundamento legal consta do art.156 do CPP. Por força dele, admite-se que o magistrado produza provas de ofício, porém apenas na fase processual, devendo sua atuação ser sempre complementar, subsidiária. Na fase preliminar de investigações, não é dado ao magistrado produzir provas de ofício, sob pena de evidente violação ao princípio do devido processo legal e à garantia da imparcialidade do magistrado. 
ATENÇÃO! No âmbito dos Juizados, adota-se o princípio da busca da verdade consensual. 
3.6. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos abordado no material referente às provas. 
3.7. Princípio do juiz natural abordado no material referente à competência. 
3.8. Princípio do nemo tenetur se detegere
3.8.1. Noções introdutórias
CF, Art.5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
	O direito ao silêncio é uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Além da CF, o princípio do nemo tenetur se detegere também se encontra previsto no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art.14.3, “g”) e na CADH (art.8º, §2º, “g”). 
	Consiste, grosso modo, na proibição de uso de qualquer medida de coerção ou intimidação ao investigado (ou acusado) em processo de caráter sancionatório para obtenção de uma confissão ou para que colabore em atos que possam ocasionar a sua condenação. 
3.8.2. Titular do direito de não produzir prova contra si mesmo
	O art.5º, LXIII, da CF, segundo doutrina moderna, se presta a proteger não apenas quem está preso, como também aquele que está solto, assim como qualquer pessoa a quem seja imputada a prática de um ilícito criminal. Pouco importa se o cidadão é suspeito, indiciado, acusado ou condenado, e se está preso ou em liberdade. 
ATENÇÃO! A testemunha, diferentemente do acusado, tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho, porém não está obrigada a responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la. Daí ter decidido o Supremo que não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la. 
3.8.3. Advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo
	Com o objetivo de se evitar a autoincriminação involuntária por força do desconhecimento da lei, deve haver uma prévia e formal advertência quanto ao direito ao silêncio, sob pena de macular de ilicitude a prova então obtida. O acusado deve ser advertido, ademais, que o direito ao silêncio é uma garantia constitucional, de cujo exercício não lhe poderão advir consequências prejudiciais. 
	Trata-se, o art.5º, LXIII, de mandamento constitucional semelhante ao famoso aviso de Miranda do direito norte-americano. 
	Com o objetivo de melhor assegurar o respeito aos direitos fundamentais, notadamente o nemo tenetur se detegere, tem-se tornado comum a entrega ao preso, no momento de sua prisão, de uma nota de ciência das garantias constitucionais, nos moldes do art.2º, §6º, da Lei da prisão temporária. 
3.8.4. Desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo
	Há uma tendência equivocada de se querer equiparar o princípio do nemo tenetur se detegere ao direito ao silêncio. No entanto, o direito ao silêncio é apenas uma das decorrências deste princípio, que abrange: 
a) O direito ao silêncio ou direito de ficar calado;
b) O direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal;
c) A inexigibilidade de dizer a verdade; DE OLHO NA JURIS! Tem prevalecido o entendimento de que o direito ao silêncio não abrange o direito de falsear a verdade quanto à identidade pessoal. Para o STF, tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus antecedentes. A propósito, eis o teor da Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. 
d) O direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminar o indivíduo: não se pode exigir um comportamento ativo do indivíduo de que possa resultar a autoincriminação. No entanto, em relação às provas que demandam apenas que o acusado tolere a sua realização, ou seja, aquelas que exijam uma cooperação meramente passiva (ex: reconhecimento pessoal), não há se falar em violação ao nemo tenetur se detegere.
e) O direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva. As intervenções corporais podem ser de duas espécies: i. provas invasivas: são as intervenções corporais que pressupõem penetração no organismo humano; e ii. provas não invasivas: consistem numa inspeção ou verificação corporal, são aquelas em que não há penetração no corpo humano. Em se tratando de prova não invasiva (inspeções ou verificações corporais), mesmo que o agente não concorde com a produção da prova, esta poderá ser realizada normalmente, desde que não implique colaboração ativa por parte do acusado. Por outro lado, cuidando-se de provas invasivas, por conta do princípio do nemo tenetur se detegere, a jurisprudência tem considerado que o suspeito, indiciado, preso ou acusado, não é obrigado a se autoincriminar, podendo validamente recusar-se a colaborar com a produção da prova, não podendo sofrer qualquer gravame em virtude dessa recusa. 
3.8.5.Consequências do exercício do direito de não produzir prova contra si mesmo
	Do exercício do direito de não produzir prova contra si mesmo não pode advir nenhuma consequência negativa ao indivíduo, pois, se fosse possível estar-se-ia negando a própria existência desse direito, e até mesmo porque milita, em seu benefício, o princípio da presunção de inocência, de cuja regra probatória deriva que o ônus da prova recai integralmente sobre a acusação. 
3.9. Princípio da proporcionalidade 
	O princípio da proporcionalidade não está previsto de maneira expressa na CF; porém, está inserido no aspecto material do princípio do devido processo legal. Este princípio possui requisitos intrínsecos (também chamados de subprincípios da proporcionalidade), quais sejam: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Por força da adequação, a medida restritiva será considerada adequada quando for apta a atingir o fim proposto. Por força da necessidade, entende-se que, dentre várias medidas restritivas de direito fundamentais idôneas a atingir o fim proposto, deve o Poder Público escolher a menos gravosa. Já a proporcionalidade em sentido estrito é a verificação da relação de custo-benefício da medida, ou seja, da ponderação entre os danos causados e os resultados a serem obtidos. 
4. LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO
CPP, Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); esse Tribunal Especial é o antigo Tribunal de Segurança Nacional, que já não existe mais, visto que foi extinto pela Constituição de 1946. 
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) a Lei de Imprensa foi considerada não recepcionada pela CF/88.
+ crimes eleitorais, que devem ser julgados pela Justiça Eleitoral, segundo legislação eleitoral. 
+ crimes de abuso de autoridade, regulados pela Lei 4.898/65;
+ crimes de competência originária dos Tribunais, regulados pela Lei 8.038/90;
+ infrações de menor potencial ofensivo, reguladas pela Lei 9.099/95; 
+ crimes falimentares, regulados pela Lei 11.101/05;
+ crimes contra os idosos previstos no Estatuto do Idoso;
+ crimes previstos na Lei Maria da Penha;
+ crimes previstos na Lei de Drogas.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.
CF, Art.5º, §4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. 
	O CPP adota o princípio da territorialidade (lex fori), ou seja, todo e qualquer processo penal que surgir no território nacional deve ser solucionado consoante as regras do CPP. Há, todavia, exceções. 
DE OLHO NA JURIS! O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro
O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. O art. 5º do Código Penal afirma que a lei brasileira se aplica ao crime cometido no território nacional, mas ressalva aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito internacional”. A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) proíbem de forma expressa a dupla persecução penal pelos mesmos fatos. Desse modo, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por idênticos fatos. Vale, por fim, fazer um importante alerta: a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH. Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em persecução interna. STF. 2ª Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).
5. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
CF, Art.5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Da mesma forma que a lei penal mais grave não pode retroagir, é certo que a lei mais benéfica é dotada de extratividade: fala-se, assim, em ultratividade quando a lei, mesmo depois de ser revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência; por sua vez, retroatividade seria a possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. 
CPP, Art 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Incide no processo penal o princípio da aplicabilidade imediata, no sentido de que a norma processual aplica-se tão logo entre em vigor, sem prejuízo da validade dos atos já praticados anteriormente. Portanto, ao contrário da lei penal, que leva em conta o momento da prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei processual leva em consideração o momento da prática do ato processual (tempus regit actum). 
ATENÇÃO! Às normas processuais mistas/híbridas/materiais (abrigam normas de natureza penal e processual penal) se aplica o mesmo critério do direito penal, ou seja, tratando-se de norma benéfica ao agente, mesmo depois de sua revogação, referida lei continuará a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência (ultratividade da lei processual mista mais benéfica); na hipótese de novatio legis in mellius, referida norma será dotada de caráter retroativo. 
CUIDADO! Normas processuais heterotópicas não se confundem com as normas processuais materiais. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar incorporada a diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. 
6. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
CPP, Art.3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
6.1. Interpretação extensiva
	Quanto ao resultado, a interpretação pode ser declaratória, restritiva, extensiva ou progressiva:
i. Interpretação declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o alcance da norma, porquanto o significado ou sentido da lei corresponde exatamente à sua literalidade. 
ii. Interpretação restritiva: o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que a norma disse mais do que efetivamente pretendia dizer.
iii. Interpretação extensiva: o intérprete necessita ampliar o alcance da norma, uma vez que esta disse menos do que pretendia dizer. Ex: hipóteses de cabimento do RESE. 
iv. Interpretação progressiva: aquela que busca ajustar a lei às transformações sociais, jurídicas, científicas e morais que se sucedem no tempo e que acabam por interferir na efetividade que buscou o legislador. Ex: inconstitucionalidade progressiva do art.68 do CPP. 
6.2. Analogia
	Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante. Não se trata a analogia de um métodode interpretação, mas sim de integração. No direito penal (ou em se tratando de norma processual mista), não se admite a analogia in malam partem. 
6.3. Distinção entre analogia e interpretação analógica
	A interpretação analógica permite, expressamente, a ampliação do alcance da norma. Neste caso, o legislador detalha as situações que pretende regular, estabelecendo fórmulas casuísticas, para, na sequência, por meio de uma fórmula genérica, permitir que tudo aquilo que a elas for semelhante também possa ser abrangido pelo mesmo dispositivo legal. Trata-se de método de interpretação, como o próprio nome diz. 
6.4. Aplicação subsidiária do NCPC ao processo penal
NCPC, Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
	Quanto o art.15 do NCPC faz referência apenas aos processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, deve-se concluir que houve uma omissão involuntária do legislador, que deve ser suprida pela interpretação extensiva para fins de ser reconhecida a possibilidade de aplicação supletiva e subsidiária do NCPC ao processo penal (comum e militar). 
JUIZ DAS GARANTIAS (Arts.3º-A a 3º-F do CPP)
1. Suspensão cautelar da eficácia dos arts.3º-A a 3º-F do CPP (STF, ADI 6.299 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 22/02/2020)
	O Min. Luiz Fux suspendeu, sem fixar uma data futura onde a suspensão cessará, a eficácia da implantação do juiz das garantias e seus consectários, ad referendum do Plenário. Apesar de tal suspensão, estudaremos aqui este conteúdo, até mesmo porque a sua constitucionalidade (formal e material) ainda será objeto de apreciação pelo Plenário do STF, que poderá (ou não) confirmar a decisão proferida pelo Min. Luiz Fux. 
2. Noções introdutórias
	Nosso CPP entrou em vigor em pleno Estado-Novo, tendo nítida inspiração no modelo fascista italiano. 
	Desde então, mesmo com a CF/88 e incorporação de inúmeros Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos ao nosso ordenamento jurídico, nosso CPP sofreu apenas alterações pontuais. É dizer: a estrutura básica da legislação processual penal foi mantida, o que significa que suas bases são inquisitoriais. 
	Era premente, portanto, a mudança da nossa legislação processual penal como um todo, para que sua estrutura fosse, enfim, adaptada à nova ordem constitucional e convencional, notadamente ao sistema acusatório e à garantia da imparcialidade. Afinal, não se pode mais compreender o processo penal como um mero instrumento necessário ao exercício da pretensão punitiva do Estado. Muito além disso, o processo penal há de ser compreendido como uma forma de tutela dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo. 
	É dentro desse contexto que surgem, então, os arts.3º-A a 3º-F do CPP. 
3. A estrutura acusatória do processo penal
	CPP 
(ANTES da Lei 13.964/2019)
	CPP 
(DEPOIS da Lei 13.964.2019)
	Sem correspondente
	Juiz das Garantias 
Art. 3º-A. O processo penal terá ESTRUTURA ACUSATÓRIA, VEDADAS a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.
3.1. Da suspensão da eficácia sine die do novo procedimento de arquivamento introduzido pela Lei 13.964/2019
	Apesar de o art.3º-A ter sido introduzido no CPP no capítulo denominado “Juiz das Garantias”, com ele não guarda qualquer relação. Trata-se, na verdade, da ratificação de que adotamos, no processo penal, o sistema acusatório, do qual deriva que:
 O juiz não tem qualquer iniciativa durante a fase investigatória;
 O juiz não pode substituir a atuação probatória do órgão de acusação (juiz não produz prova; quem produz prova são as partes, sobretudo a acusação).
Obs: apesar de o art.3º-A não tratar do juiz das garantias, ele foi suspenso também pelo Min. Luiz Fux (foi “no mesmo bolo” dos demais artigos – arts.3º-B a 3º-F).
3.2. Gestão da prova pelo magistrado: a vedação da iniciativa acusatória do juiz das garantias e da iniciativa probatória do juiz da instrução e julgamento
	Para a estruturação de um sistema verdadeiramente acusatório, não basta a separação das funções de acusar, defender e julgar. É, ainda, de todo relevante que o juiz não seja o gestor da prova, cuja produção deve ficar a cargo exclusivamente das partes. A imparcialidade do juiz é fundamental, tanto na fase investigatório, quanto na fase processual. 
Analisemos a (in)constitucionalidade dessa atuação officio do magistrado, seja o juiz das garantias, durante a investigação preliminar, seja ele o juiz da instrução e julgamento, seja ele o juiz da instrução e julgamento, no curso do processo judicial, o que pressupõe um cotejo da nova sistemática introduzida no art.3º-A do CPP com aquela constante do art.156 do CPP, cujos incisos facultam ao juiz agir de ofício antes de iniciada a ação penal (inc.I) e no curso da instrução ou antes de proferir a sentença (inc.II). 
CPP, Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ORDENAR, mesmo antes de iniciada a ação penal (DURANTE A INVESTIGAÇÃO), a PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
II – DETERMINAR, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença (DURANTE O PROCESSO, MAS ANTES DE PROFERIR A SENTENÇA), a REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS para dirimir dúvida sobre ponto relevante. 
3.2.1. Da vedação da iniciativa acusatória do juiz das garantias na fase investigatória
	O juiz das garantias não está impedido de agir na fase investigatória. PORÉM, essa atuação só pode correr mediante prévia provocação das partes. Exemplo: vislumbrando a autoridade policial a necessidade de mandado de busca domiciliar, deve representar ao magistrado no sentido da expedição da ordem judicial (art.3º-B, XI, “c”, CPP). Da mesma forma, surgindo a necessidade de uma prisão temporária para acautelar as investigações, deve o MP formular requerimento ao juiz competente (art.3º-B, V). 
	O que não se deve permitir, na fase investigatória, é uma atuação de ofício. E isso porque, pelo simples fato de o juiz também ser um ser humano, não há como negar que, após realizar diligências de ofício na fase investigatória, fique o juiz das garantias envolvido psicologicamente com a causa, colocando-se em uma posição propensa a decidir favoravelmente a ela, com grave prejuízo de sua imparcialidade. 
	O STF, em algumas oportunidades, como na ADI 1.570, considerou inconstitucional a figura do juiz inquisidor previsto no art.3º da revogada Lei 9.034/95 (antiga lei das organizações criminosas). Do que pode se concluir que o art.156, inc.I, do CPP é absolutamente incompatível com o nosso sistema acusatório e com a garantia da imparcialidade. 
	Louvável, assim, o disposto na primeira parte do art.3º-A do CPP, que, após dispor que o processo penal terá estrutura acusatória, veda a iniciativa do juiz das garantias na fase de investigação. Operou-se, pois, a revogação tácita do art.156, inc.I, do CPP, nos exatos termos do art.2º, §1º, da LINDB (a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior). 
3.2.2. Da vedação da iniciativa probatória do juiz da instrução e julgamento no curso do processo penal
	Sempre houve consenso na doutrina e na jurisprudência quanto à vedação da iniciativa acusatória do magistrado em sede de investigação preliminar. Tal consenso jamais existiu, todavia, quando se falava desta mesma atuação ex officio do magistrado no curso do processo judicial. 
	De um lado, parte da doutrina admite que, de modo subsidiário e exclusivamente durante a fase processual da persecução penal, possa o juiz determinar a produção de provas que entender pertinentes e razoáveis, a fim de dirimir dúvidas sobre pontos relevantes, seja por força do princípio da busca da verdade, seja pela adoção do sistema da persuasão racional do juiz (convencimento motivado). Nesse caso, é imperiosoo respeito ao contraditório (e até mesmo o direito de as partes produzirem uma contraprova) e à garantia da motivação das decisões judiciais. A fim de dirimir eventual dúvida que tenha nascido no momento da prova já produzida em juízo, esta atuação deve ocorrer de modo supletivo, subsidiário, complementar, nunca desencadeante da colheita de prova. 
	Para esta parte da doutrina, “os poderes instrutórios do juiz não são incompatíveis com a imparcialidade do julgador. Ao determinar a produção de uma prova, o juiz não sabe, de antemão, o que dela resultará e, em consequência, a qual parte vai beneficiar. Por outro lado, se o juiz está na dúvida sobre um fato e sabe que a realização de uma prova poderia eliminar sua incerteza e não determina a sua produção, aí sim estará sendo parcial, porque sabe que, ao final, sua abstenção irá beneficiar a parte contrária àquela a quem incumbirá o ônus daquela prova. Juiz ativo não é sinônimo de juiz parcial. É equivocado confundir neutralidade ou passividade com imparcialidade. Um juiz ativo não é parcial, mas apenas um juiz atento aos fins sociais do processo, e que busca exercer a sua função de forma a dar ao jurisdicionado a melhor prestação jurisdicional possível”. 
	Há vários dispositivos no CPP que tratam dessa atuação subsidiária do magistrado no tocante à produção de provas, como é o caso do art.212 do CPP. Vejamos.
CPP (sobre a inquirição das testemunhas – sistema do exame direto e cruzado), Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas PARTES diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.   
Parágrafo único.  Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá COMPLEMENTAR a inquirição.  
	Da leitura deste dispositivo, percebe-se claramente que a produção probatória deve recair predominantemente sobre as partes, o que, no entanto, não significa dizer que o magistrado deva adotar um comportamento absolutamente inerte no curso do processo, pois poderá atuar de maneira supletiva, complementando o quanto trazido aos autos pelas partes. 
	Por outro lado, parte da doutrina entende que, independentemente do momento da persecução penal (investigação ou processo), não se pode admitir a atuação ex officio do magistrado. Como ser humano que é, se o juiz da instrução e julgamento tomar uma decisão de ofício no tocante à produção de prova, seja em benefício da acusação, seja em favor da defesa, restará vinculado a esta decisão, e, mesmo que involuntariamente, buscará a sua manutenção, superestimando novas informações que possam confirmá-la, ao mesmo tempo em que tenderá a subestimar outras que a contrariem. 
	É dentro desse contexto – leia-se, no sentido de que não existe investigador imparcial – que surge a nova redação do art.3º-A do CPP, que dispõe que o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusador. 
	Conquanto o dispositivo não seja, quanto à fase processual, tão claro quanto o é em relação à investigação, uma interpretação sistemática da Lei 13.964/2019 como um todo nos leva a crer que, doravante, não mais será admitida qualquer iniciativa do magistrado, nem mesmo no curso do processo judicial. 
	Não se pode mais continuar a insistir, contra a Constituição, em manter um sistema inquisitorial porque assim o preveem os incisos I e II do art.156 do CPP, em permanente conflito com o modelo acusatório extraído do art.129, inc.I, da CF, e do próprio art.3º-A do CPP.
	Pode-se afirmar que a houve a revogação tácita do art.156, II, do CPP, bem como de todos os demais dispositivos constantes do CPP que atribuam ao juiz da instrução e julgamento iniciativa probatória no curso do processo penal. 
	Ao fim e ao cabo, convém destacar que o art.3º-A do CPP deixou uma margem perigosa para a sobrevivência do sistema inquisitorial. Isso porque, ao veda a iniciativa probatória do juiz no curso do processo penal, fez referência à impossibilidade de “substituição da atuação probatória do órgão de acusação”. Ou seja, interpretando-se a contrario sensu o referido dispositivo, ter-se-ia como válida a iniciativa probatória do juiz no curso do processo penal quando o fizesse em favor da defesa. Ora, por que motivo devemos admitir que o juiz da instrução e julgamento se substitua à atuação probatória da defesa, produzindo provas de ofício, se deriva do princípio da presunção de inocência a regra de julgamento segundo a qual, diante da dúvida, outra opção não há senão a absolvição do acusado em face do in dubio pro reo? De mais a mais, tendo em conta o princípio da comunhão das provas, por força da qual a prova é comum, quem poderá garantir que tal prova não estaria sendo produzida ex officio pelo juiz da instrução e julgamento para prejudicar o acusado, e não para ajudá-lo? Há de se tomar cuidado, portanto, com a parte final do art.3º-A, para que não entre em rota de colisão com a estrutura acusatória. 
4. Juiz das garantias
	CPP 
(ANTES da Lei 13.964/2019)
	CPP 
(DEPOIS da Lei 13.964/2019)
	Sem correspondente
	Juiz das Garantias 
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo CONTROLE DA LEGALIDADE da investigação criminal e pela SALVAGUARDA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:      
I - receber a comunicação IMEDIATA da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição Federal;      
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código (REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA);      
III - zelar pela observância dos DIREITOS DO PRESO, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença, a qualquer tempo;  
IV - ser informado sobre a INSTAURAÇÃO DE QUALQUER INVESTIAÇÃO CRIMINAL;    
V - decidir sobre o requerimento de PRISÃO PROVISÓRIA ou OUTRA MEDIDA CAUTELAR, observado o disposto no §1º deste artigo;      
VI - prorrogar a PRISÃO PROVISÓRIA ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente;  
VII - decidir sobre o requerimento de PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;   
VIII – PRORROGAR O PRZO DE DURAÇÃDO DO INQUÉRITO, estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no §2º deste artigo;     
IX - determinar o TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento;      
X - REQUISITAR documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da investigação;      
XI - DECIDIR sobre os requerimentos de:     
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação;      
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;    
c) busca e apreensão domiciliar;      
d) acesso a informações sigilosas;     
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado; 
XII - julgar o habeas corpus impetrado ANTES do oferecimento da denúncia;   
XIII - determinar a instauração de INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL;    
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código;     
XV - ASSEGURAR prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de ACESSO A TODOS OS ELEMENTOS INFORMATIVOS E PROVAS produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em andamento;     
XVI - deferir pedido de ADMISSÃO DE ASSISTENTE TÉCNICO para acompanhar a produção da perícia;  
XVII – DECIDIR SOBRE A HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENALou os de COLABORAÇÃO PREMIADA, quando formalizados durante a investigação;     
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.    
§1º (VETADO).      
§2º Se o investigado estiver PRESO, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, PRORROGAR, UMA ÚNICA VEZ, A DURAÇÃO DO INQUÉRITO POR ATÉ 15 DIAS, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, A PRISÃO SERÁ IMEDIATAMENTE RELAXADA. 
4.1. Conceito
	Cuida-se de verdadeira espécie de competência funcional por fase do processo, é dizer, a depender da fase da persecução penal em que estivermos, a competência será de um ou de outro juiz: entre a instauração da investigação criminal e o recebimento da denúncia/queixa, a competência será do juiz das garantias, que ficará impedido de funcionar no processo; após o recebimento da peça acusatória e, pelo menos em tese, até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória/absolutória, a competência será do juiz da instrução e julgamento. Opera-se, assim, a cisão funcional entre os momentos de investigação e o julgamento da persecução penal. 
Objetiva-se, assim, minimizar ao máximo as chances de contaminação subjetivo do juiz da causa, potencializando, pois, a sua imparcialidade, seguindo na contramão da sistemática até então vigente, quando a prática de qualquer ato decisório pelo juiz na fase investigatória tornava-o prevento para prosseguir no feito até o julgamento final. 
Atua entre a instauração da investigação criminal e o recebimento da peça acusatória
JUIZ DAS GARANTIAS
Competência funcional por fase do processo
Atua após o recebimento da peça acusatória e, em tese, até o trânsito em julgado da sentença
JUIZ DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
	A inovação introduzida pela Lei 13.964/2019 guarda relação com o reconhecimento explícito, por parte do legislador, do entendimento de que não há condições mínimas de imparcialidade num processo penal que autorize que o mesmo julgador que interveio na fase investigatória tenha competência, mais adiante, para apreciar o mérito da imputação. 
4.2. (In)constitucionalidade formal e material do juiz das garantias
	Vejamos, a seguir, os principais questionamentos acerca da controvérsia sobre a (in)constitucionalidade do juiz da garantia, que certamente deverá ser dirimida em breve pelo STF no julgamento de diversas ADI’s já propostas em face da Lei 13.964/2019. 
a) inconstitucionalidade formal em face de vício de iniciativa relativo à competência legislativa do Poder Judiciário para alterar a organização e a divisão judiciária: por um lado, há quem entenda que a Lei 13.964/2019 estaria contaminada por uma inconstitucionalidade formal por ofensa à competência dos Tribunais para a criação dos órgãos do Poder Judiciário (art.96, I, “d”; e II, “b” e “d”, e art.110, todos da CF), bem como à competência dos estados para organizarem sua própria justiça e à competência dos Tribunais de Justiça para iniciarem a lei de sua organização judiciária (art.125, §1º, CF). 
	Ao deferir a medida cautelar para suspender a eficácia sine die, ad referendum do Plenário, da implantação do juiz das garantias e de seus consectários, o Min. Luiz Fux asseverou que “a criação do juiz das garantias não apenas reforma, mas refunda o processo penal brasileiro e altera direta e estruturalmente o funcionamento de qualquer unidade judiciária criminal do país. Neste ponto, os dispositivos questionados têm natureza materialmente híbrida, sendo simultaneamente norma geral processual e norma de organização judiciária, a reclamar a restrição do art.96 da Constituição”. 
	Para Renato Brasileiro, não se sustenta a argumentação de que a Lei 13.964/2019 estaria violando o poder de auto-organização dos Tribunais e sua prerrogativa de propor a alteração da organização e da divisão judiciárias. Norma de direito processual é aquela que que afeta aspectos umbilicalmente legados à tríade jurisdição, ação e processo. Assim, não há por que se afirmar que teria havido qualquer inconstitucionalidade neste ponto, visto que os arts.3º-A a 3º-F do CPP estão diretamente relacionados a questões atinentes ao exercício da jurisdição. A matéria versada em tais dispositivos - criação de uma nova causa de impedimento e repartição de competências entre magistrados para as fases de investigação e processual (competência funcional por fase da persecução penal) – insere-se no âmbito da competência legislativa privativa da União prevista no art.22, I, da CF, porquanto versam sobre direito processual penal. 
	Se a lei processual penal já prevê uma espécie de competência funcional por fase do processo (júri: o juiz sumariante e o juiz-presidente), bem como o STF já reconheceu a constitucionalidade do art.33 da Lei Maria da Penha (que determina expressamente que varas criminais poderão cumular as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher enquanto não estruturadas as respectivas varas especializadas), seria ilógico apontar a existência de vício de inconstitucionalidade no caso do juiz das garantias. 
b) inconstitucionalidade material em razão de violação à regra de autonomia financeira e administrativa do Poder Judiciário (art.99, caput, CF), em razão da ausência de prévia dotação orçamentária para a implantação das alterações organizacionais acarretadas pela Lei (art.169, §1º, CF), e em razão da violação do novo regime fiscal da União instituído pela Emenda Constitucional nº 95 (arts.104 e 113, ADCT): com base nas razões anteriormente citadas, o Min. Luiz Fux considerou materialmente inconstitucional o juiz das garantias. 
	Para Renato Brasileiro, no entanto, a Lei 13.964/2019 não criou nenhuma atividade nova dentro da estrutura do Poder Judiciário. Com efeito, o controle da legalidade da investigação criminal e a salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Judiciário sempre foram atividades realizadas pelos juízes criminais. O que será necessário, portanto, é redistribuir o trabalho que antes competia ao mesmo magistrado, seja através da especialização de varas, seja através da criação de núcleos de inquérito. Não há criação de órgãos novos, de competências novas. 
c) inconstitucionalidade formal do art.3º-D do CPP, introduzido pela Lei 13.964/2019, em face de vício de iniciativa relativo à competência legislativo do Poder Judiciário para alterar a organização e a divisão judiciária: 
CPP, Art.3º-D, Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo. 
	Ao determinar a forma pela qual deverá ser implementado o juiz das garantias nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, é de todo evidente que o art.3º-D, parágrafo único, do CPP, cria uma obrigação aos tribunais no que tange a sua forma de organização, violando, assim, o poder de auto-organização desses órgãos (art.96, CF) e usurpando sua iniciativa para dispor sobre organização judiciária (art.125, §1º, CF). 
	Prova disso, aliás, é a própria redação do art.3º-E do CPP, o qual, em fiel observância à CF, dispõe:
CPP, Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.  
	Conforme se pode notar, diversamente do parágrafo único do art.3º-D, o art.3º-E vem ao encontro da autonomia dos tribunais, respeitando, ademais, as peculiaridades de cada estado da federação. 
4.3. Distinção entre o “juiz das garantias”, “juizado de instrução” e “centrais de inquérito” 
	Ao juiz da garantia é vedada qualquer iniciativa na fase de investigação, estando sua atuação limitada, portanto, a autorizar pedidos de medidas invasivas a direitos e garantias fundamentais que estejam subordinados à prévia autorização judicial, apartando-se, pois, por

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