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AULA DE FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA Prof. Marcus Vinicius Fontenele Souza Parnaíba, Abril de 2019 1 A Filosofia O uso do saber ao qual o homem tem acesso é, em primeiro lugar, um juízo sobre a origem ou a validade desse saber. A respeito disso, surgem duas alternativas fundamentais: Ou o saber é revelação ou dom divino; ou ele é uma conquista ou produção do próprio homem. A primeira alternativa é própria da cultura oriental. No entanto, a segunda surgiu na Grécia e esta foi herdada pela sociedade ocidental. A filosofia foi criação do gênio helênico: não derivou aos gregos a partir de estímulos precisos tornados das civilizações orientais; do Oriente, porém, vieram alguns conhecimentos científicos, astronômicos e matemático- geométricos, que o grego soube repensar e recriar em dimensão teórica, enquanto os orientais os concebiam em sentido prevalentemente prático. Inicialmente os filósofos chamavam-se sábios. Pitágoras, que cunhou o termo Filosofia – philos (φίλος) e sophia (σοφία), isto é, amor de amizade à sabedoria – observando que a sabedoria convém propriamente só a Deus, e desejando que não o chamassem de sábio, mas tão somente amigo ou desejoso da sabedoria. Estabeleceu-se assim, desde sua origem, uma diferença de natureza entre a ciência, enquanto saber específico, conhecimento sobre um domínio do real, e a Filosofia que tem um caráter abstrato, mais reflexivo, no sentido da busca dos princípios que tornam possível o saber. No que se alude ao método, a filosofia investigação uma "explicação puramente racional daquela totalidade" que tem por objeto. O que é válido na filosofia é o argumento da razão, a motivação lógica ou, como dizem os filósofos antigo: o logos. Não basta à filosofia constatar, determinar dados de fato ou acumular experiências: ela deve ir além do fato e das experiências, para encontrar a causa ou as causas conhecíveis apenas possíveis por meio da razão. É este o caráter que confere a "cientificidade" a filosofia. 1.1 Filosofia no Real Para passar de uma definição nominal e simplificada a uma definição mais profunda, definição real, que leve ao conhecimento da natureza da coisa, é importante considerar, na realidade histórica, a formação ou a gênese daquilo que os homens concordaram em chamar de Filosofia. Segundo Aristóteles todos os homens tendem por natureza ao saber. O saber, sob esse ponto de vista, não é privilégio ou patrimônio reservado a poucos; qualquer um pode contribuir para sua aquisição e para seu enriquecimento, tendo, por isso, direito de julgá-lo, aprová-lo ou rejeitá-lo. Sob esse ponto de vista, a tarefa fundamental da Filosofia é a busca e a organização do saber. 1.2 Objeto material e Objeto formal da Filosofia O objeto material de uma ciência é o conteúdo de sua investigação, ou seja, a «matéria» que da qual esta trata. A aritmética, por exemplo, estuda os números; a botânica estuda as plantas e a geografia se ocupa dos fenômenos naturais da terra. O que também ocorre com a filosofia no âmbito da Metafísica. O objeto formal consiste no aspecto do objeto material estudado, isto é, a luz, a perspectiva ou o ponto de vista sob o qual se analisa o conteúdo da ciência. Determinando a diferença específica de cada ciência. A psicologia, a sociologia e a história têm o mesmo objeto material – o ser humano –, porém são diversos objetos formais ou perspectivas: a psique, a vida do homem em sociedade, seu passado. 1 1 Cf. AGUILAR, Alfonso. Tema 1.1: ¿ Qué es la Metafísica? <http://es.catholic.net/op/articulos/9007/tema-11-qu-es-la-metafsica.html#modal> Acesso em 9 de Janeiro de 2019. 1.2.1 Objeto Material da Filosofia (Metafísica) O objeto material de todas as ciências consiste em um setor particular da realidade. A metafísica, ao contrário, busca compreender toda a realidade. Ela estuda todas as coisas que existem, ou seja, tudo aquilo do qual possa dizer que «é» (cores, coisas, matéria, tempo, espírito, Deus...). Não exclui nada, só exclui «o nada», que não é. 1.2.2 Objeto Formal da Filosofia (Metafísica) A metafísica estuda todas as realidades do ponto de vista particular e exclusivo: enquanto «são». Porque somente a partir das perfeições do ser – característica fundamental e fundamento de tudo – pode-se compreender tudo o que é. Interessa para a Metafísica o «ente enquanto tal»: a realidade toda enquanto tem o ato de ser. Destarte, é considerar os princípios, propriedades e causas comuns a todos os entes. 2 Os pré-socráticos e os Sofistas A filosofia surgiu na Grécia porque ali se formou uma temperatura espiritual particular e um clima cultural e político favoráveis. Eis, portanto, a razão humana que se resolve a investigar, só com seus próprios meios, os princípios e as causas das coisas. Aquilo que o homem vê, pode tocar, enfim, conhecer pelos sentidos, impressiona desde logo sua inteligência. E quando deseja explicar qualquer coisa, procura, em primeiro lugar, saber do que é feita tal coisa. Desse modo os primeiros pensadores da Grécia limitam-se a considerar nas coisas os elementos de que são feitas, a matéria 2.1 Tales de Mileto O pensador ao qual a tradição atribui o começo da filosofia grega é Tales, que viveu em Mileto, na Jônia, provavelmente nas últimas décadas do séc. VII e na primeira metade do séc. VI a.C. Tales foi o iniciador da filosofia da physis(natureza), pois foi o primeiro a afirmar a existência de um principio originário único (arché), causa de todas as coisas que existem, sustentando que tal princípio é a Água. "Princípio" que também é chamado de arché não é um termo próprio de Tales. Segundo o filósofo ao observar-se que as plantas e os animais se nutrem de umidade e que os germes vivos são úmidos, este afirmou que a Água é a substância única permanecendo sempre a mesma em todas as transformações dos corpos. 2.2 Anaximandro de Mileto Anaximandro nasceu por volta de fins do séc. VII a.C. e morreu no início da segunda metade do séc. VI. Com ele, a problemática do princípio se aprofundou. Ele sustenta que a água já é algo derivado e que, ao contrário, o "princípio" (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (physis) in-finita e in- definida, da qual provêm todas as coisas que existem. O termo usado por Anaximandro é apeiron2, que significa aquilo que está privado de limites, tanto externos (ou seja, aquilo que é espacialmente e, portanto, quantitativamente infinito), como internos (ou seja, aquilo que é qualitativamente in-determinado). 2.3 Anaxímenes de Mileto Em Mileto floresceu Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, no séc. VI a.C. Anaxímenes pensa que o "princípio" deva ser infinito, sim, mas que deva ser pensado como ar infinito, substância aérea ilimitada. Assim como a alma (ou seja, o princípio que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro, o ar abrange o cosmo inteiramente. Por sua própria natureza de grande mobilidade, o ar se presta muito bem para ser concebido como em perene movimento. Além do mais, o ar age melhor do que qualquer outro elemento diante das variações e transformações necessárias para fazer nascer as diversas coisas. Por exemplo ao se condensar, resfria-se e se torna água e, depois, terra; ao se distender (ou seja, rarefazendo-se) e dilatar, esquenta e torna-se fogo. 2.4 Heráclito Heráclito viveu entre os séculos VI e V a.C., em Éfeso. Os filósofos de Mileto haviam notado o dinamismo universal das coisas, que nascem, crescem e perecem, bem como do mundo. Heráclito não se distanciou dessa ideia, criou assim o termo (panta rhei) “Tudo se move” Esta realidade é a mudança o “vir- a-ser”; nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta, sem exceção. Segundo o efésio, não se pode descer duasvezes no mesmo rio nem se pode tocar duas vezes algo mortal no mesmo estado, justamente pela velocidade da mudança que é impetuosa. Dessa maneira nós descemos e não descemos 2 O infinito ou o indeterminado: segundo Anaximandro de Mileto, o princípio e o elemento primordial das coisas. Não é uma mistura dos vários elementos corpóreos, em que estes estejam compreendidos cada um com as suas qualidades determinadas, mas é matéria em que os elementos ainda não estão distinto seque, por isso, além de in-finita,é também indefinida e indeterminada (Diels ,A,9).Essa determinação dupla de in-finitude no sentido de inexauribilidade e de indeterminação permaneceu por muito tempo ligada ao conceito de infinito(v.). ABBAGNANO, p 71. respectivamente pelo mesmo rio, nos e assim nós mesmos somos e não somos da mesma forma. não se desce duas vez pela mesma agua do rio, porque ao se descer pela segunda vez pelo rio já são outras águas que sobrevieram: além disso o próprio homem muda na primeira Heráclito indica o fogo como principio primeiro e fundamental e considera tudo que existe como transformações do fogo. Atribuindo a ele (fogo) a natureza de todas as coisas: o fogo (etéreo, vivo e divino) é o elemento que expressa melhor as características da mudança continua, do contraste e da harmonia. Atribui também a esse mesmo fogo divino o nome de Lógos(Palavra). De acordo com Heráclito, o Lógos está sempre presente e os homens que não se predispõem a ouvi-lo não o conhecerão como tampouco terão capacidade de falar e de pensar no verdadeiro sentido destas palavras; quer dizer, falar e pensar o Lógos. Isso porque o Lógos não é pura e simplesmente a palavra como tal e, justamente por isso, não pode ser reduzido (ou empobrecido) a uma questão meramente linguística ou mesmo a uma questão relativa à linguagem em sua significação comum ou apenas exteriormente ou aparentemente humana.3 2.5 Parmênides Parmênides estava, então, diante de um grande problema; ele precisava explicar como ocorre o movimento, ou o vir-a-ser (ou seja, a mudança; um não- ser que se torna ser, ou um ser que se torna não-ser). Foi então que Parmênides fez uma constatação sem precedente ao decidir por seguir a lógica, somente a lógica, Parmênides descobriu que não sabia de nada com certeza, livre de certezas intuitivas, não fosse questionável, nada que fosse realmente claro e certo. Assim, Parmênides partiu em uma busca por um pensamento fundamental, algo que fosse evidente em si. 3 FARIA, Carlos Eduardo S.. O Lógos em Heráclito < http://filosofaracademico.blogspot.com/2011/04/o-logos-em-heraclito.html> Acesso em 10 de Fevereiro de 2019. No âmbito da filosofia da physis, Parmênides se apresenta como inovador radical e, em certo sentido como Pensador revolucionário. Efetivamente, com ele, a cosmologia recebe como que um profundo e benéfico abalo do ponto de vista conceitual transformando-se em uma ontologia (teoria do ser). Em Parmênides, esse pensamento se manifestou como o Princípio da Identidade – “o que é, é”, ou seja, “n” é igual a “n”, e somente igual a “n” – se “n” for igual a “a”, então nada mais pode ser do que “n” (você não pode ser igual e diferente ao mesmo tempo). Isso parecia ser tão óbvio e tão evidente que parecia ilógico que não fosse verdade. (Simplificando o ser é e o não ser não é). Aqui entram as complicações de Parmênides- diante do Ser e do Não- Ser, e da Identidade, ele não podia enxergar um caminho para que ocorresse o vir-a-ser O Ser é, e o Não-ser não é, pensava Parmênides: como pode-se dizer que “algo era”, ou “algo será”? o ser não pode vir do não- ser, pois o não- ser, é o nada e nada pode surgir do nada; e se viesse do Ser, o que seria isso senão a criação de si mesmo? O perecimento- o deixar de ser- também sofre do mesmo problema. Nesse momento, Parmênides marcha para sua conclusão final- não há mudança, e, portanto, não há distinção entre seres e não- seres. Portanto, o Ser é Uno, um único grande ser eterno que jamais se altera e a qual tudo, seres e Não-Seres, são apenas ilusões de si mesmo. 2.6 Os sofistas Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável (Os mais conhecidos são: Protágoras, Górgias e Pródico). Protágoras foi um dos mais importantes sofistas. Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”. Porém, Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente, mas não real”. Platão apresenta dois métodos opostos de discussão, a saber, o método dialético, socrático, e o método sofista, da retórica. Pelo último só podemos atingir uma interpretação do que é discutido, nossa própria. Protágoras e a relatividade sobre o que é benéfico para cada pessoas em particular. Sobre o método sofista, ainda, lembrar dos aplausos recebidos depois dos discursos de Protágoras e o método socrático, totalmente oposto, em que realmente existe uma discussão de igual para igual, seca e sem floreios. A retórica, na aparência, é agradável e prazerosa de se ouvir. O que aparentemente é prazeroso e agradável pode nos trazer a própria destruição. Devemos enxergar mais longe, através do imediato e das aparências, para realmente ver o verdadeiro bem. Segundo Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. A frase na íntegra é: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. "Esta frase é fundamentada na teoria do filósofo Heráclito que descreveu o fluir incessante da realidade, revelando que o conhecimento pode ser alterado graças às circunstâncias mutáveis da percepção humana. Esta frase se enquadra nas doutrinas sofistas, que defendem o relativismo e a subjetividade, ou seja, cada pessoa constrói a sua própria verdade. Protágoras diz que na Arte Política ou Virtudes (justiça e pudor) todo ser humano tem a sua porção sobre isso. Mas para exercer essa/s virtude/s é necessário que ela seja ensinada, ou seja, que o que existe é o potencial dessa virtude inato em todos nós, mas que precisa ser despertado e melhorado, lapidado, através de lições, ensinamentos e punição. Em outras palavras, a virtude ou virtudes podem ser ensinadas. 3 Sócrates, Platão, Aristóteles Os três primeiros filósofos foram os inauguradores da filosofia ocidental, como a que concebemos ainda hoje em muitos aspectos. O período em que Sócrates, Platão e Aristóteles despontaram é considerado como o período áureo da Filosofia, dada a imensa contribuição deles para o avanço do pensamento filosófico. Já Plotino teve papel fundamental no desenvolvimento do neoplatonismo, doutrina muito utilizada nos primórdios da filosofia cristã. 3.1 Sócrates Sócrates, que é uma personagem real, não deixou escritos. Foi determinado por seu discípulo Platão como o responsável por levar a filosofia em uma direção mais ética e política, Sócrates foi um filósofo de tamanha relevância que a história dos filósofos da Grécia clássica é dividia em pré- socráticos, socráticos (Platão, de certa dor Aristóteles, Plotino, além de outros) e pós-socráticos (Os helênicos). Sócrates nasceu em Atenas em 4701469 a.C. e morreu em 399 a.C., após condenado por "impiedade" foi acusado de não crer nos deuses da cidade e de corromper os jovens; mas, por trás de tais acusações, escondiam- se ressentimentos políticos; ele teve de beber cicuta, um veneno mortal. Sócrates nada escreveu, considerando que a sua mensagem era transmissível pela palavra viva, atravésdo diálogo e da “oralidade dialética”, como já se disse muito bem. Sócrates representando o aluno começava o diálogo com um interlocutor, apresentando na falsa parte do mestre e constrangia este a definir de modo preciso os termos de seu discurso medir logicamente seu conhecimento. Na maioria das vezes, o resultado era que o interlocutor se confundia e caia em diversas contradições. De tal maneira, que refutava o interlocutor que era obrigado a reconhecer os próprios erros. O nome dessa arte era ironia que é a característica peculiar da dialética socrática, não apenas do ponto de vista formal, mas também do ponto de vista substancial. Em geral, ironia significa "simulação". Como uma espécie de brincadeira função de um objetivo sério e, portanto, sempre metódica. Portanto, dialogar com Sócrates levava a um "exame da alma" e a uma prestação de contas da própria vida, ou seja, a um "exame moral", como bem destacavam seus contemporâneos. Para Socratiza alma pode alcançar a verdade apenas "se ela estiver grávida". Sócrates desenvolveu um método próprio de análise filosófica, denominado de “maiêutica” (em grego “parto das ideias”), o qual tem como objetivo possibilitar ao homem o conhecimento de si mesmo. Como emprega a arte de fazer nascer, que é própria da obstetra, como se diz em grego “maiêutica”, Sócrates caracterizou justamente tal nome este momento e conclusivo de seu método. A maiêutica consiste em fazer perguntas e analisar as respostas de maneira sucessiva até chegar à verdade ou contradição do enunciado. Ela estimula o pensamento a partir daquilo que não conhecem, ou seja, pela ignorância. Daí a sua famosa frase: “eu só sei que nada sei”. Sócrates concentrou definitivamente seu interesse na problemática do homem procurando resolver os problemas do princípio e da physis, os naturalistas se contradisseram a ponto de sustentar tudo e o contrário de tudo você é uma, o ser é múltiplo, nada se move, tudo se move; nada se gera nem se destrói, tudo se gera e tudo se destrói. Àquilo que hoje chamamos de "virtude" os gregos denominavam “areté”, significando aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é; ou, melhor ainda, “areté” significa a atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser. Por exemplo: a virtude do cão de caça é que ele seja astuto para encontrá-la, já a do cavalo é que ele corra bastante. Porém a virtude do homem não pode ser outra a não ser aquela que complete sua alma, aquilo que faz com que o homem seja homem, a essa virtude o conhecimento ou a sabedoria, ao passo que o vício seria a ignorância. Na ética socrática podemos enxergar a virtudes como. 1)A virtude: (sabedoria, justiça, fortaleza, temperança) é a ciência ou o conhecimento; e o vício (cada um e todos os vícios) e a ignorância. 2) Ninguém peca voluntariamente; quem faz o mal, fá-lo por ignorância do bem. A mensagem socrática é uma mensagem de felicidade. Em grego, "felicidade" se diz "eudaimonia", que, originalmente, significava ter tido a sorte de possuir um “demônio-guardião”( O daimonion socrático era, portanto, "uma voz divina" que lhe vetava determinadas coisas: ele o interpretava como espécie de oráculo, que o salvou várias vezes dos perigos ou de experiências negativas. Entretanto, entre as muitas acusações contra Sócrates estava também a de que era culpado de introduzir os daimonion, como novas entidades divinas. Abandonando assim os deuses gregos, ou seja, acusaram- no de impiedade. 3.2 Platão Platão (428 a.C.-347 a.C.) foi filosofo grego, considerado um dos principais pensadores de sua época. Discípulo de Sócrates, procurava transmitir uma profunda fé na razão e na verdade, adotando o lema de Sócrates "o sábio é o virtuoso". Quando Sócrates morreu, desiludiu-se com a política e dedicou-se à filosofia. Resolveu eternizar o pensamento e a imagem de seu mestre nos seus livros, onde existem vários diálogos que em sua maioria a personagem principal era Sócrates. Em Atenas, por volta de 387 a.C., Platão fundou sua escola filosófica a "Academia", onde reunia seus discípulos para estudar Filosofia, Ciências, Matemática e Geometria. Entre suas principais obras está A República, na qual explicita a maior parte de suas teorias, principalmente a da melhor forma de organização da sociedade. A compreensão do pensamento Platônico não é fácil, porque ele não escreveu suas mensagens filosóficas em sua totalidade Platão viveu no momento em que acontecia uma revolução cultural que consistia em um conflito entre a oralidade e a escrita. Platão recuperou o valor cognoscitivo do mito como complemento do Logos; sua filosofia torna-se uma espécie de Mito de fé raciocinada, no sentido de que quando a razão chega aos limites extremos de suas capacidades, deve ultrapassar intuitivamente estes limites, aproveitando as possibilidades que se me oferecem na dimensão da Imagem e do mito. A principal descoberta da filosofia platônica é a da realidade superior ao mundo sensível ou seja uma dimensão suprassensível ou seja metafísica. O plano suprassensível é constituído pelo mundo das ideias (formas), tudo qual Platão fala nos diálogos e pelos princípios primeiros do Uno e da Díade, dos quais falando as doutrinas não escritas ponto as ideias platônicas não são simples conceitos mentais, são entidades ou essências que subsistem em si e por si em um sistema hierárquico bem organizado ( representado pela imagem do Hiperurânio) e que constituem o verdadeiro ser. No vértice do mundo das ideias encontra-se a ideia do bem, que coincide com o Uno das doutrinas não escritas. O Uno é o princípio do ser, da Verdade e dou valor. Todo o mundo inteligível Deriva da cooperação do princípio do Uno, que serve como limite, com o segundo princípio (a Díade de grande-e- pequeno), entendido como uma determinação e ilimitação. O mundo inteligível é o resultado da cooperação bipolar e imediata dos dois princípios Supremos, o Uno e a díade. O mundo sensível do contrário, tem necessidade de um mediador de um artífice o qual Platão denomina de "demiurgo"; ele cria o mundo animado pela bondade: toma como molde as ideias e plasma O Receptáculo material informe. Seu trabalho é procurar descer na realidade física os modelos do mundo das ideias, em função das figuras geométricas e dos números. Os entes matemáticos, que estão no nível mais baixo do mundo inteligível, são, portanto, os entes intermediários mediadores que permitem a inteligência demiúrgica transformar o princípio caótico do sensível em cosmo, desdobrando de modo matemático a unidade na multiplicidade em função dos números e, portanto, produzir ordem deste modo, o mundo sensível aparece como cópia do mundo inteligível. O mundo inteligível é eterno, enquanto o sensível existe no tempo, que é imagem móvel do eterno. No começo, podemos definir a teoria das Ideias dizendo que o mundo sensível é apenas uma cópia do mundo ideal, e que o objeto da ciência é o mundo real das Ideias. Neste plano existem apenas cópias das Formas verdadeiras que se encontram no Mundo das Ideias. Para Platão, a razão é o instrumento que possibilita o conhecimento das verdades eternas que se encontram no referido mundo perfeito. Através do exercício intelectual, o homem pode relembrar verdades que já se encontram em seu íntimo e que foram anteriormente assimiladas pela alma no Mundo das Ideias. Com o mito da caverna é possível compreender essa temática. A República, onde explicita a maior parte de suas teorias da melhor forma de organização da sociedade. Segundo Platão, a alma humana não é uma unidade e múltipla, conforme a função que realize: conservação do corpo, proteção do corpo e conhecimento. Platão situa cada função da alma numa região do corpo: • Concupiscível (Ventre): Força motivadora dos impulsos Ela dá origem a desejos para estase outras coisas que, em cada caso, se baseiam, de forma simples e imediata, no pensamento de que a obtenção do objeto relevante do desejo é ou seria agradável. (autoafirmação). Entretanto essa parte é mortal e irracional. • Irascível (Peito): Incitação ao combate a tudo que é contra a vida; lutando contra qualquer ameaça a segurança do corpo e tudo quanto lhe cause dor e sofrimento. Essa parte também é mortal e irracional. • Racional (Cabeça): é a faculdade do conhecimento. Por sua própria natureza, está ligada ao conhecimento e à verdade. É, no entanto, preocupada em orientar e regular a vida que é idealmente responsável pela sabedoria, mas que leva em consideração as preocupações de cada uma das três partes separadamente e da alma como um todo. Parte espiritual e imortal, é função ativa e superior da alma, o princípio divino em nós. Para uma sociedade justa e equilibrada Platão dizia que cada pessoa nascia com aptidões distintas e que elas definiam a que classe as pessoas pertenceriam. Expõe assim sua concepção aristocrática da política, na qual os que tendem por prevalecer em si a alma concupiscível teriam como função social serem artesãos ou produtores de bens; os que possuíssem o irascível como tendência seriam os guardiões da cidade e assim haveria a Justiça que é o equilíbrio entre os três princípios sob a preponderância dos sábios e filósofos onde prevalece a alma racional (governantes). Disto surge a proposta platônica do Rei Filósofo. E assim se forma a sociedade ideal. VIRTUDES (Areté) CIDADE ALMA Sabedoria Governantes Raciocínio Coragem Guardiões Cólera Temperança Todas as classes Todos os elementos Justiça Todas as classes Todos os elementos 3.3 Aristóteles Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) foi um dos mais importantes filósofos gregos. nasceu em Estagira, na Macedônia e partiu para Atenas e começou a frequentar a Academia de Platão. em 335 a.C. Depois em Atena Aristóteles também decidiu fundar sua própria escola chamada Liceu. No Liceu, estudava- se geometria, física, química, botânica, astronomia, matemática etc. A filosofia de Aristóteles é extremamente sistemática observemos este quadro: Aristóteles afirmava que só havia um mundo. A grande diferença era como conhecemos este mundo, pois captaremos através dos sentidos e do intelecto que ele considera como inato no homem. Ele cria o conceito de substância ao afirmar que não existe a ideia de um objeto e o dito objeto. Por sua vez, Aristóteles afirmava que só havia um mundo. Afirma que é possível superar a ideia abstrata platônica e conhecer as coisas em si mesmas, como por exemplo uma cadeira, através de características: como o material, a forma, a origem e a finalidade deste objeto. O Estagirita manifestou a opinião de que todos os objetos da natureza estavam em constante movimento. Classificou pela primeira vez os dois tipos de movimento reduzindo-a três nascimento destruição e transformação. A filosofia de Aristóteles abrange a natureza de Deus (metafísica) e do homem (ética) e do Estado (política). Segundo a metafísica aristotélica Deus não é o criador, mas o motor do universo. Deus não pode ser resultado de alguma ação, não pode ser escravo de amo algum, ele é a fonte de toda a criação, amo de todos os amos, o instigador de todo pensamento e primeiro motor do mundo que move todas as coisas. Eis os três primeiros princípios segundo Aristóteles: identidade: uma proposição é sempre ela mesma; não contradição: uma proposição somente pode ser falsa ou verdadeira e não ambas; terceiro excluído: não existe terceira hipótese para uma proposição: apenas falsa e verdadeira Ele também sugere que existem quatro causas para a existência de todas as coisas causa material: indica do que é feita a coisa; causa formal: indica qual a forma da coisa; causa eficiente indica o que dá origem a coisa; causa final indica qual a função da coisa. A ética aristotélica indica que tudo tende ao bem, pois o bem É o fim de todas as coisas ponto segundo o pensamento de Aristóteles a felicidade ou também chamada eudaimonia é o único objetivo do homem e para ser feliz é preciso fazer o bem a outrem então o homem é um ser social e mais precisamente um ser político o efeito cabe ao estado garantir o bem-estar e a felicidade dos seus governantes. Aristóteles também divide três formas de governo a monarquia aristocracia e a Democracia, o contrário destas três são a tirania a oligarquia demagogia respectivamente. 4 A Filosofia Cristã 4.1 Patrística A Patrística é a filosofia que teve como objetivo consolidar o papel da igreja e propagar os ideais do cristianismo. Baseadas nas Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João, a escola patrística advogou a favor da igreja e propagou diversos conceitos cristãos como o pecado original, a criação do mundo por Deus, ressureição de juízo final. 4.1.1 Agostinho de Hipona Aurélio Agostinho (354-430), bispo de Hipona, nasceu em Tagaste na Argélia, e é um dos mais importantes iniciadores da tradição platônica no surgimento da filosofia cristã, sendo um dos principais responsáveis pela síntese entre o pensamento filosófico clássico e o cristianismo. Estudou em Cartago, e depois em Roma e Milão, tendo sido professor de retórica. Reconverteu-se ao cristianismo, que fora a religião de sua infância, em 386, após ter passado pelo maniqueísmo ele se havia integrado à seita maniqueísta no passado, uma doutrina persa que pregava a existência de dois polos equivalentes e em constante luta o bem e o mal.. e pelo ceticismo, doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da Verdade. No entanto foi a partir do pensamento neoplatônico que Agostinho mudou sua forma de pensar. Regressou então à África (388), fundando uma comunidade religiosa. Suas obras mais conhecidas são As confissões (400), de caráter autobiográfico. e A cidade de Deus, composta entre 412 e 427. Agostinho sofreu grande influência do pensamento grego, sobretudo da tradição platônica, através da escola de Alexandria e do neoplatonismo, com sua interpretação espiritualista de Platão. Sua filosofia tem como preocupação central a relação entre a fé e a razão, mostrando que sem a fé a razão é incapaz de promover a salvação do homem e de trazer-lhe felicidade. A razão funciona assim como auxiliar da fé, permitindo esclarecer, tornar inteligível, aquilo que a fé revela de forma intuitiva. Este o sentido da célebre fórmula agostiniana Credo ut intelligam (Creio para que possa entender). Na Cidade de Deus, Agostinho interpreta a história da humanidade como conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor a Deus e nos valores cristãos, e a Cidade Humana, baseada exclusivamente nos fins e interesses mundanos e imediatistas. Ao final do processo histórico, a Cidade de Deus deveria triunfar. Devido a esse tipo de análise, Agostinho é considerado um dos primeiros filósofos da história, um precursor da formulação dos conceitos de historicidade e de tempo histórico. Agostinho verificou que todas as coisas são boas, porque são obras de Deus e o mal é culpa da forma como utilizamos o livre arbítrio. Todos os homens buscam a felicidade e o bem. Reconhecer o bem e a felicidade é o problema. Porque a felicidade somente se encontra em Deus, o bem Supremo e que nós temos esse conhecimento em nosso íntimo de forma confusa. Ele formula, assim uma nova doutrina sobre o conhecimento do homem. A doutrina da iluminação Divina caracteriza-se por uma luz que não é material e que se atinge quando do encontro com o conhecimento da verdade para que o homem possa ter uma vida feliz e beata. O lembrar-se disto, Isto é o recordasse de um conhecimento prévio é o que o filósofo denomina rememoração de Deus; herança da teoria da reminiscência platônica. 4.2 Escolástica Filosofia Escolástica(séc. IX ao séc. XV): nesse período ocorreu uma retomada de muitos princípios filosóficos gregos. A grande preocupação da igreja era aliar a razão e a ciência aos ideais da igreja católica. Nesse contexto, surgiu a teologia que foi uma ciência que buscava explicar racionalmente a existência de Deus, da alma, do céu e inferno e as relações entre homem, razão e fé. 4.2.1 Tomás de Aquino Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca em 1221. Entrou na ordem dos dominicanos e foi discípulo de Alberto Magno. Ensinou em Paris nas principais universidades europeias colônia Bolonha Roma e Nápoles Tomás é o representante máximo da Escolástica. Sua Filosofia é considerada como um preâmbulo para a fé. Tendo um viés apologético sua filosofia permite discutir com quem não aceita nenhuma fé. Para o Aquinate a filosofia tem sua configuração e autonomia, mas não exaure tudo o que se pode dizer ou conhecer. Assim é preciso integrar a tudo que está contido na Sagrada doutrina em relação à Deus, ao homem, e ao mundo. A diferença entre a filosofia e a teologia não está no fato de que uma trata de certas coisas e a outra de outras coisas, porque ambas falam de Deus do homem e do mundo. A diferença está no fato de que a primeira oferece um conhecimento imperfeito daquelas mesmas coisas que a teologia está em condições de esclarecer. A metafísica de Tomás distingue o ente da Essência. ente é tudo o que é. O ente é tudo o que existe, a essência é (aquilo que é) de uma coisa; por isso é considerada a metafísica do ser. Diante do tema do ser parece que é necessário dizer logo que ele pertence ao âmbito do Mistério, do indizível já que Funda a própria possibilidade de todo discurso. Tal Filosofia é otimista, porque descobre um sentido para o fundo no fundo daquilo que existe; é uma filosofia do concreto já que você é o ato de todos os atos graças ao qual as essências existem de fato. O Angélico também considera a existência dos transcendentais. Todo ente é Uno, Verdadeiro, e Bom. Esses transcendentais convertem-se totalmente entre si. Dizer que o ente é uno significa dizer que ele não é contraditório, sendo não dividido. Dizer que ente é verdadeiro diz-se no sentido de que todo ente é inteligível. Dizer que o ente é bom significa exprimir que isso acontece porque tudo o que existe é fruto da Bondade Suprema e livre de Deus. Tomás também preocupou-se com a questão da analogia, este termo indica a relação de participação que existe entre o ser infinito de Deus Criador e o ser finito docentes criados: trata-se de uma relação analógica Isto é de semelhança intermediária entre a univocidade e a equivocidade, o que significa dizer que nem completamente idêntico e nem completamente diferente, você é o conceito analógico por Excelência enquanto se predicado toda realidade porque seu modo varia essencialmente de um gênero para o outro. Aqui se encontram alguns conceitos importantíssimos para entender a filosofia do Aquinate, com base em Aristóteles: ATO E POTÊNCIA Ato: tem o sentido de realidade que se realiza, que está se realizando é a forma atual da coisa. Potência: o que é simplesmente potencial ou possível. MATÉRIA-PRIMA E FORMA SUBSTANCIAL Matéria-prima: nunca é, senão em potência, que se atualiza pela forma e que há tudo dá origem e subjaz. Forma substancial: Da forma à matéria-prima formando a essência da coisa. ESSÊNCIA E ATO DE SER Essência: é tratada como elemento característico do ser em uma coisa, abrange tudo que está expresso na definição da coisa, tanto a sua forma com a sua matéria. Ato de ser: Dado por Deus, atualizando assim a essência dando criando um ente SUBSTÂNCIA E ACIDENTES Substância: o ente em si mesmo, não é em outro. Acidente: O ente que não é em si mesmo, mas é no outro. ENTE Tudo aquilo que é. 5 Racionalismo X Empirismo: Renascimento e Ciência Moderna O Renascimento constitui a peculiaridade dá Renascença foi mais o nascimento de outra civilização de outra cultura: A Renascença representou o grandioso os fenômenos de regeneração e de reforma espiritual em que volta aos antigos e ficou um revivenciar das origens um retorno aos princípios autênticos e a imitação dos antigos revelou-se como caminho mais eficaz para recriar e regenerar assim mesmo.. O termo Humanismo foi usado pela primeira vez no início do ano 800 para indicar a área cultural coberta pelos estudos clássicos e pelo Espírito que lhe é próprio, em contraposição ao âmbito das disciplinas científicas. Logo depois ocorreu o nascimento da ciência moderna, no século XVII, que teve lugar de início a Europa Ocidental Cristã, em uma boa parte graças aos trabalhos que se desenvolveram ao longo de vários séculos na Idade Média. Contudo a nova ciência nasceu no meio de uma grande polêmica com a tradição anterior e, a falta de um equilíbrio que era difícil naquela época, foram abandonados os aspectos válidos do pensamento clássico juntamente com os erros. 5.1 Descartes Nesse período surgiu René Descartes (1596-1650) que influenciou no nascimento de uma nova ciência, insistindo no enfoque matemático e realizando algumas contribuições parciais. Com efeito, utilizando-se do critério de evidência das ideias claras e distintas; reduziu a substância corpórea a extensão, e a mente a coisa pensante; negando a realidade das qualidades e eliminando o dinamismo próprio da matéria. Descartes introduziu o princípio da filosofia racionalista, que pretende vedar a Deus o direito de nos dar a conhecer pela Revelação verdadeira verdades que ultrapassam o alcance natural da nossa razão. Foi o criador do pensamento cartesiano, sistema filosófico que deu origem a filosofia moderna, sua principal obra foi o discurso do método um tratado filosófico e matemático onde está escrita a famosa frase "penso, logo existo" - Cogito ergo sum. Acreditava na existência de uma verdade absoluta, incontestável e porque para atingi-la desenvolveu então o método da dúvida, que consiste a questionar todas as ideias e teorias pré-existentes. Descartes convenceu-se de que a única verdade possível era sua capacidade de duvidar, reflexo de sua capacidade de pensar. Assim a verdade absoluta está sintetizada na fórmula eu penso, a partir da qual conclui sua própria existência, sua teoria passou a ser resumida na frase" penso, logo existo". 5.2 O Empirismo Britânico Do lado contrário da corrente racionalista-cartesiana, estão os empiristas que acreditam que a única fonte possível de conhecimento está nos sentidos, na experiência. Francis Bacon propunha-se a entender quais seriam os entraves (ídolos) da mente humana, que atrapalhavam o desenvolvimento produtivo das ciências, para enfim, poder propor e aplicar seu novo método. • Ídolos da Tribo: “se alicerçam na própria natureza humana e na própria família humana ou tribo”. • Ídolos da Caverna: São advindos de cada indivíduo quando preso a uma espécie de caverna pessoal. • Ídolos do Foro: São ídolos, que através das palavras, penetram no intelecto. • Ídolos do Teatro: Ocorrem pela adesão a diversas doutrinas filosóficas e por causa das péssimas regras de demonstração delas. John Locke (1632-1704) escreveu: "as ideias das qualidades primárias dos corpos são semelhanças destas qualidades, e realmente existem seus modelos nos corpos mesmos; mas em nada se assemelham as ideias que é nos produzem as qualidades secundárias. Não há nada que resista nos corpos mesmos que se pareça a essas ideias nossas. Somente existe um poder para produzir em nós essas sensações nos corpos aos quais denominamos conforme a essas ideias; o que é doce, azul, ou quente segundo uma ideia, não é nos corpos assim denominados, senão certo volume forma e movimento das partes insensíveis dos mesmos corpos". A visão de “tabula rasa”que é o fundamento de sua doutrina é extremamente famoso dentro da filosofia por criticar os conceitos básicos do ideal racionalista ponto para o filósofo somos Como folhas em branco isso significa dizer que todos os conhecimentos possuídos pelo homem são adquiridos ao longo do tempo não tendo nenhuma influência prévia ou inata. Mas isso não significa que Locke considera a razão como algo descartável ou desnecessário, mas que somente temos que sair do inatismo natural para adentrar na recepção não critica dos conhecimentos que conseguimos pelos sentidos. Portanto a razão seria subordinada aos conhecimentos gerados pela experiência sensível. David Hume (1711-1776) formulou, a partir de sua posição empirista, uma crítica radical ao conceito de substância. Afirmou que a ideia de substância reduz-se a uma coleção de qualidades particulares que se encontram Unidas pela imaginação se trataria de um simples nome que impomos a essa coleção para conservar sua memória ponto ele busca estabelecer certos princípios que organizam os acontecimentos na mente do indivíduo dividindo em impressões e ideias. Conhecimento de ideias: neste caso a verdade pode ser conhecida por uma simples análise lógica do significado de determinadas ideias. A verdade independe completamente da relação com a experiência. Ou seja, podemos conhecer sem a necessidade da experiência, isto é, as impressões ponto exemplo: "o triângulo tem três lados". Conhecimento de impressões: são as proposições cuja verdade só pode ser conhecida mediante a experiência observando o mundo dos fatos para verificar se as coisas são verdadeiras ou falsas, a verdade ou a falsidade só pode ser determinada a posteriori. Exemplo: " este corpo é verde". O filósofo também não crê na causalidade de fatos, determinado acontecimento fato A, que sempre foi originado por um fato B, nenhuma instância garante que esses acontecimentos irão repetir-se infinitamente ponto o exemplo mais usado por ele é o nascer do sol, apesar de todos os dias ele nascer não existem garantias do nascimento de amanhã. 6 Kant, Hegel e Marx 6.1 Kant Immanuel Kant (1724-1804), devemos reconhecer que o verdadeiro giro histórico-filosófico se verificou com Descartes. Kant realiza o giro copernicano no campo da teoria do conhecimento enquanto diz que doravante nosso conhecimento não se orientará mais nos objetos, mas esses devem orientar-se em nosso conhecimento. A reviravolta kantiana caracteriza-se pela palavra transcendental. Em primeiro lugar, com esta palavra designa a tematização das condições a priori do conhecimento humano. Assim podemos dizer que pensar transcendentalmente é indagar pelas condições de possibilidade do conhecimento de objeto determinado no próprio sujeito deste conhecimento. Em outras palavras, indagar transcendentalmente é mostrar como o material recebido de fora, pelos sentidos, é transformado mediante a atividade do sujeito cognoscente em objeto do conhecimento. Este não é representação ou reprodução do real, mas uma constituição do objeto através de diferentes elementos, ou seja, uma espécie de produção da atividade criadora do homem. Assim o ponto de partida do conhecimento humano, segundo Kant, é a razão que imprime suas forças puras (categorias) nos objetos para assim constituí-los. Kant parte do a priori transcendental, ou seja, pergunta pelas condições de possibilidade do conhecimento em geral. Sua obra é essencialmente crítica, pois questiona a perspectiva objetivista. Na lógica afirma que a verdadeira filosofia consiste em responder a quatro perguntas: a) que posso saber? b) que devo fazer? c) que posso esperar? d) que é o homem? Segundo ele, a metafísica, a moral, a religião e a antropologia ocupam-se dessas perguntas. A última resume as três primeiras. Também nega a metafísica como ciência possível. Kant faz a diferença entre dois tipos de juízos. Os Juízos Sintéticos a posteriori: são aqueles em que o predicado não está contido no sujeito, mas relaciona-se a ele por uma síntese. - Juízos Sintéticos a priori: são juízos em que também o predicado não é extraído do sujeito, mas que pela experiência forma-se como algo novo, construído. 6.2 Hegel Nos tempos modernos, a questão chegou ao auge no sistema filosófico de Georg Friedrich Hegel (1770-1831), um dos maiores gênios da filosofia de todos os tempos. Conduz o idealismo alemão ao ápice da sistematização. O finito, segundo ele, não pode ser pensado sem pensar o infinito, pois não é conceito isolado e com conteúdo próprio. O finito consiste em ser momento do verdadeiro infinito. O finito é atingido de negação, mas não é simples negação, uma vez que é limitado por outro que não é ele mesmo. Por isso devemos negar a negação e afirmar que o finito é mais que finito, ou seja, que é momento da vida do infinito. Segundo Hegel, Deus deve ser visto como aquele que passa por uma história e nela se revela. Este é o tema de sua obra filosófica A fenomenologia do Espírito. Como se é de imaginar, o Método Dialético, frequentemente referido apenas como Dialética, é uma forma de discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, mas que pretendem estabelecer a verdade através de argumentos fundamentados e não simplesmente vencer um debate ou persuadir o opositor. Em Hegel existe o idealismo absoluto com a Tríade dialética de tese, antítese e síntese, cuja síntese supera a tese e a antítese e penetra-os. 6.3 Marx O pensamento de Karl Marx influenciou grande parte dos movimentos políticos do século XX. Assim, o marxismo se tornou ao mesmo tempo uma importante teoria da sociedade moderna e uma influente doutrina para movimentos sociais de contestação ao capitalismo e de promoção do comunismo ou do socialismo. Karl Marx, sociólogo e filósofo alemão, trabalha com o conceito de materialismo histórico dialético. Ao contrário do idealismo hegeliano (que acreditava que tudo era realização do espírito - Geist), o marxismo defende que o responsável pela realização da história é o ser humano com necessidades materiais de produção, que se realiza no seu trabalho. Na linguagem dialética (tese, antítese e síntese), há a luta de classes. Exemplo: burguesia (tese), o proletariado (antítese) e revolução socialista (síntese). Comunismo não é uma identidade para o socialismo. O socialismo é um trajeto que sai do capitalismo, vai para um Estado socialista (proveniente de uma revolução proletária) e, com a ditadura do proletariado, o mundo é conduzido para o comunismo (sociedade sem classes). Na ótica marxista, nós já vivemos uma ditadura: a ditadura burguesa. Para desmontá-la, Marx dizia que era necessário haver uma ditadura proletária, que conduziria o mundo ao comunismo. Durante a Comuna de Paris (1871), que ocorreu no final da unificação alemã, muitos parisienses ocuparam as ruas da capital francesa e montaram governos comunais. Na perspectiva marxista, o trabalho é o realizador da vida humana. Antes da indústria, o ser humano produzia coisas que ele precisava. Com a indústria, esse ser humano torna-se proletário e opera máquinas, produzindo coisas que ele não vai usar ou, muitas vezes, nem tem dinheiro para comprar. Esse ser humano está, portanto, alienado do seu trabalho. 7 Nietzsche e Sartre 7.1 Nietzsche O alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) formou-se como filólogo clássico em Bonn. Chegou à filosofia por meio da leitura de Arthur Schopenhauer, o que, com a admiração por Richard Wagner e a paixão pelo mundo grego, determinou, em boa parte, seus primeiros escritos. Foi um crítico feroz da filosofia socrática que, segundo ele, tirou do ser humano as forças apolíneas (ordem, equilíbrio, beleza, racionalidade) e dionisíacas (paixão, terror, intensidade) e criticou especialmente da tradição filosófica e do cristianismo que,segundo ele, levaram o homem à submissão e impediram-no de se desenvolver como um “espírito livre”. Estes são os quatro pontos vitais da filosofia nietzschiana: a vontade de potência, o super-homem, a autossuperação da moral e o eterno retorno. Para ele, existe uma moral que é do escravo e outra que é do senhor. Nietzsche critica a moral cristã, pois corresponde à moral do escravo, que é subserviente. Ele defende que se tenha a moral do senhor, aquele que conduz seu destino. O super-homem de Nietzsche é aquele que se libertou completamente das amarras da moral do escravo. É um ser humano, cuja moral é ele próprio e que tem vontade de potência (aquilo que realiza a vida). Niilismo, ao contrário de vontade de potência, nega a vida. É desse modo que o homem supera as antigas oposições metafísicas (essência/aparência, sensível/inteligível, mutável/permanente) e se toma consciente de estar integrado ao cosmo. Esse processo o conduz à criação de novos valores, ascendentes, e ao fazer isso. 7.2 Sartre Jean-Paul Charles Aymard Sartre nasceu em Paris, dia 21 de junho de 1905. foi um filósofo e crítico francês. É considerado um dos maiores pensadores do século XX e representantes da filosofia existencialista. A corrente existencialista é pautada na liberdade do ser humano e de acordo com Sartre: “Estamos condenados a ser livres.” O ser humano está condenado a ser livre. Para Sartre, fazer escolhas - o livre arbítrio - é algo angustiante. A liberdade é uma angústia do homem. A filosofia existencial de Sartre, intuição que fundamenta todo o seu pensamento, é fruto de sua experiência, tanto pessoal quanto histórica. Num contexto conturbado, de grandes guerras e de desvalorização do homem, Sartre se impõe como expoente da filosofia existencialista. Em seus escritos, se mostra uma pessoa que não apenas passou pela existência, mas que se fez questionar o sentido real dessa, e que conferiu à mesma um fim diferente, livre de deliberações exteriores. Enquadrado no que chamamos de Existencialismo Ateu, ele tentou compreender a existência fora das explicações divinas. Publicou O Ser e o Nada, sua obra filosófica mais conhecida, versão pessoal da filosofia existencialista de Heidegger. O ser humano existe como uma coisa (em si), mas também como uma consciência (para si), que sabe da existência das coisas, sem ser ela mesma uma em si com tais coisas, mas sua negação (o nada). Para Sartre, a aparição não esconde a essência: o fato de não conseguirmos captar, pela aparição, a essência, não significa que o fenômeno está escondendo essa essência. Ele é capaz de explicar a aparência. faz, também, uma distinção entre o ser-do-fenômeno (algo além da consciência) e o fenômeno-do-ser (a aparição). Segundo ele o ser humano existe como uma coisa e uma consciência (mente). A consciência como fluxo contínuo: ela não é uma coisa dura, tem leveza; ela não é um lugar, nem fixa, nem estática. A consciência localiza o homem ante a possibilidade de escolher o que será. Esta é a condição da liberdade humana. Escolhendo sua ação, o homem se escolhe a si mesmo, mas não escolhe sua existência, que já lhe vem concedida e é requisito de sua escolha, daqui surge a famosa máxima existencialista: a existência precede a essência. 8 Filosofia do Brasil Mesmo tratando-se de um país novo em relação à Itália, contando cinco séculos de existência, o Brasil dispõe de algumas tradições culturais que se têm revelado muito sólidas. Assim, embora o intercâmbio filosófico obrigue que, de uma forma ou de outra, por aqui repercutam as principais correntes europeias, estas encontram maior ou menos receptividade na medida em que se afeiçoam a essa ou aquela tradição cultural. Considerando o que se poderia denominar de Época Moderna em Portugal, trata-se de fenômeno tardio, situado na segunda metade do século XVIII. Desde então, estruturam-se duas tradições culturais consistentes e uma terceira mais débil, todas repousando em doutrinas filosóficas perfeitamente explicitadas, embora, no fundo, seu sustentáculo efetivo resida no substrato moral, este nem sempre formulado com clareza, pelo menos em relação a todas as três tradições em seus diversos ciclos. As duas tradições fortes são o tradicionalismo e o cientificismo. E, a terceira, mais débil, a liberal. As duas primeiras sobrevivem e chegam a dar o tom no Período Contemporâneo, que é justamente o objetivo desta exposição, que espero seja breve e informativa, ainda que peque em relação a outros aspectos, certamente relevantes, mas, na circunstância, tidos à conta de secundários, à vista da limitação do espaço. Define-se o Período Contemporâneo da Filosofia como aquele em que se consuma a superação do positivismo, entendido globalmente como a crença no desaparecimento dos problemas que sustentaram a meditação filosófica através dos tempos, graças ao progresso das ciências. Apenas para explicitar o que tenho em mira, tal superação está consumada na Alemanha na altura da Primeira Guerra Mundial, quando há de novo uma corrente filosófica dominante, o neokantismo, principal marco referencial da Filosofia contemporânea naquele país. No Brasil, processo análogo somente se consuma por volta da década de trinta. Os marcos referenciais são os livros O problema fundamental do conhecimento (1937), de Francisco Pontes de Miranda (1892-1979); Kant e a idéia do Direito (1932), de Djacir Menezes (nasc. 1910) e Fundamentos do direito (1940), de Miguel Reale (nasc. 1910). Tais obras coroam as duas linhas principais do embate com os positivistas, a primeira no âmbito da filosofia das ciências e, a segunda, no plano da filosofia do direito. Essas correntes em formação (a neopositivista e a neokantiana) têm, entretanto, que conviver com as vertentes tradicionais, que assumirão nova feição, a saber, o tradicionalismo apropriando-se do neotomismo e a cientificista encaminhando-se na direção do que se convencionou denominar de versão positivista do marxismo. 8.1 Urbano Zilles Urbano Zilles (nasc. em 1937) trilhando o caminho de Van Acker (1896- 1986), teve a oportunidade de demonstrar que tem algo de valor a dizer em relação a cada um dos temas contemporâneos mais acentuados. Para tanto, contudo, compete reconhecer a distinção um pouco ignorada entre a perspectiva filosófica e o sistema filosófico. Somente tomando o tomismo como uma perspectiva filosófica – e não simplesmente como um sistema – torna-se possível entreter aquele diálogo um tanto quanto complexo. 9 As cinco vias da existência de Deus (Sth I, q. 2, a. 3)4 Art. 3 — Se Deus Existe. (I Sent., dist. 3, div. Prim. Part. Textus; Cont. Gent. I, 13, 15, 16, 44; II, 15; III, 44; De Verit., q. 5, a. 2; De Pot., q. 3, a. 5; Compend. Theol., c. 3; VII Physic., lect. 2; VIII, lect. 9 sqq; XII Metaph., lect. 5 sqq.) O terceiro discute-se assim — Parece que Deus não existe. 1. Pois, um dos contrários, sendo infinito, destrói o outro totalmente. E como, pelo nome de Deus, se intelige um bem infinito, se existisse Deus, o mal não existiria. O mal, porém, existe no mundo. Logo, Deus não existe. 2. Demais — O que se pode fazer com menos não se deve fazer com mais. Ora, tudo o que no mundo aparece pode ser feito por outros princípios, suposto que Deus não exista; pois, o natural se reduz ao princípio, que é a natureza; e o proposital, à razão humana ou à vontade. Logo, nenhuma necessidade há de se supor a existência de Deus. Mas, em contrário, diz a Escritura (Ex 3, 14), da pessoa de Deus: Eu sou quem sou. SOLUÇÃO. — Por cinco vias pode-se provar a existência de Deus. A primeira e mais manifesta é a procedente do movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por outro o é. Porque nada é movido senão enquanto potencial, relativamente àquilo a que émovido, e um ser move enquanto em ato. Pois mover não é senão levar alguma coisa da potência ao ato; assim, o cálido atual, como o fogo, torna a madeira, cálido potencial, em cálido atual e dessa maneira, a move e altera. Ora, não é possível uma coisa estar em ato e potência, no mesmo ponto de vista, mas só em pontos de vista diversos; pois, 4 PERMANÊNCIA. Suma Teológica < https://permanencia.org.br/drupal/node/148.html> Acesso em 06 de Março de 2019. o cálido atual não pode ser simultaneamente cálido potencial, mas, é frio em potência. Logo, é impossível uma coisa ser motora e movida ou mover-se a si própria, no mesmo ponto de vista e do mesmo modo, pois, tudo o que é movido há-de sê-lo por outro. Se, portanto, o motor também se move, é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria nenhum primeiro motor e, por conseqüência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus. A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Pois, descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos seres sensíveis; porém, não concebemos, nem é possível que uma coisa seja causa eficiente de si própria, pois seria anterior a si mesma; o que não pode ser. Mas, é impossível, nas causas eficientes, proceder-se até o infinito; pois, em todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é causa da média é esta, da última, sejam as médias muitas ou uma só; e como, removida a causa, removido fica o efeito, se nas causas eficientes não houver primeira, não haverá média nem última. Procedendo-se ao infinito, não haverá primeira causa eficiente, nem efeito último, nem causas eficientes médias, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário admitir uma causa eficiente primeira, à qual todos dão o nome de Deus. A terceira via, procedente do possível e do necessário, é a seguinte — Vemos que certas coisas podem ser e não ser, podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre todos os seres de tal natureza, pois o que pode não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as coisas podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que não é só pode começar a existir por uma coisa já existente; ora, nenhum ente existindo, é impossível que algum comece a existir, e portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso. Logo, nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é necessário ou tem de fora a causa de sua necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários, que têm a causa da própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por onde, é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus. A quarta via procede dos graus que se encontram nas coisas. — Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos enquanto se aproximam de um máximo, diversamente; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Há, portanto, algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por consequente, maximamente ser; pois, as coisas maximamente verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é causa de tudo o que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos, como no mesmo lugar se diz. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo quanto existe, e chama-se Deus. A quinta procede do governo das coisas — Pois, vemos que algumas, como os corpos naturais, que carecem de conhecimento, operam em vista de um fim; o que se conclui de operarem sempre ou frequentemente do mesmo modo, para conseguirem o que é ótimo; donde resulta que chegam ao fim, não pelo acaso, mas pela intenção. Mas, os seres sem conhecimento não tendem ao fim sem serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente, como a seta, pelo arqueiro. Logo, há um ser inteligente, pelo qual todas as coisas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus. DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como diz Agostinho, Deus sumamente bom, de nenhum modo permitiria existir algum mal nas suas obras, se não fosse onipotente e bom para, mesmo do mal, tirar o bem. Logo, pertence à infinita bondade de Deus permitir o mal para deste fazer jorrar o bem. RESPOSTA À SEGUNDA. — A natureza, operando para um fim determinado, sob a direção de um agente superior, é necessário que as coisas feitas por ela ainda se reduzam a Deus, como à causa primeira. E, semelhantemente, as coisas propositadamente feitas devem-se reduzir a alguma causa mais alta, que não a razão e a vontade humanas, mutáveis e defectíveis; é, logo, necessário que todas as coisas móveis e suscetíveis de defeito se reduzam a algum primeiro princípio imóvel e por si necessário, como se demonstrou. Marcus Vinicius Typewriter ANEXO I Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO II Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO III Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO IV Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO V 166 Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO VI 185 Marcus Vinicius Rectangle Marcus Vinicius Typewriter ANEXO VII 186 Marcus Vinicius Rectangle Untitled Untitled
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