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DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILI- DADE DE OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS 1. Considerações iniciais Para estudar essa espécie de execução é preciso pontuar as seguin- tes questões, que serão analisadas pontualmente: 1º) Cumprimento de decisão interlocutória, cautelar ou de tutela an- tecipada; 2º) Cumprimento da sentença: cumprimento provisório e definitivo; 3º) Cumprimento com pedido de prisão civil e cumprimento com pe- dido de penhora de bens; 4º) Cumprimento de obrigação de pagar alimentos decorrentes de ato ilícito. 2) Cumprimento de decisão interlocutória, cautelar ou de tutela antecipa- da A ação cognitiva de alimentos é regida pela lei especial nº 5.478/68 que em seu art. 4º estipula que o juiz, ao despachar a inicial, fixará, desde logo os alimentos provisórios. Trata-se de tutela de natureza antecipada que pode ser concedida inaudita altera pars, onde o réu é citado para pagar o valor pro- visoriamente fixado pelo juiz, já sob a advertência da possibilidade de prisão civil em caso de inadimplemento. O pedido dessa tutela provisória de urgência, antecedente ou inci- dental, pode ser resolvido como decisão interlocutória inaudita altera pars, ou, citado o réu, após audiência de justificação prévia com objetivo de formar con- vicção do juiz para decidi-la. Ainda é possível a apreciação desse pedido na sentença, mantendo sua natureza de tutela de urgência (art. 1.012, §1º, V, CPC), caso em que a apelação não suspenderá a eficácia da sentença, o que permite iniciativa do credor rumo à execução provisória (execução na pendência de recurso, c.f. art. 1.012, § 2º, CPC). Neste caso, a sentença não tem natureza mandamental. De qualquer forma é importante lembrar que, enquanto decisão in- terlocutória, investe-se de natureza mandamental, como sentença não. Vale dizer, o juiz, caso conceda referida tutela, expede mandado endereçado ao devedor para que cumpra a decisão, em atendimento ao pedido formulado pelo autor na inicial. A execução “direta” tem como objetivo o cumprimento da prestação de alimentos. Mas essa pode ser acompanhada de meios auxiliares para ga- rantia da sua efetividade, a que chamados de “execução indireta”. De acordo com o art. 139, IV, CPC, o juiz poderá determinar medidas indutivas, coerciti- vas, mandamentais ou sub-rogatórias que sejam necessárias para assegurar o cumprimento da ordem judicial, e estende essa possibilidade para a obrigação de prestação pecuniária. Sendo assim, a prisão civil do devedor (art. 528, § 3º, CPC) e possi- bilidade do protesto (art. 528, § 1º, c/c art. 517, CPC) do pronunciamento judi- cial (decisão interlocutória ou sentença) se enquadram como “execução indire- ta”. 3) Cumprimento da sentença: cumprimento provisório e definitivo Inicialmente, façamos as diferenciações necessárias entre os dois institutos para, depois, passarmos à análise mais aprofundada. E aqui, lembremos que o cumprimento provisório da sentença ocorre quando ainda não houve o trânsito em julgado da sentença (art. 487, CPC) ou da decisão interlocutória de mérito (art. 356, CPC), e ao recurso pendente de julgamento não foi atribuído efeito suspensivo. Devemos considerar que todos os recursos estão aptos a alcança- rem o efeito suspensivo por decisão, como previsto no art. 995, p. único, CPC, cujos requisitos são: o requerimento da parte, a demonstração de probabilidade de provimento do recurso e o risco de dano grave de difícil ou impossível repa- ração. Já o efeito suspensivo legal independe de decisão judicial, e é atri- buído somente à apelação e, em alguns casos, ao recurso ordinário. Todavia, no caso de obrigação de prestar alimentos, o CPC excepciona essa hipótese, determinando que a apelação não suspende a eficácia da sentença, permitindo a sua execução provisória. É o que se lê no art. 1.012, § 1º, II e § 2º, do CPC. Então, efeito suspensivo legal a apelação não tem, neste caso e, não logrando êxito em alcançar tal efeito a pedido do recorrente (art. 1.012, § 3º, I e II, CPC), é possível o cumprimento provisório na pendência de apelação. Diferença importante também é a exigência de caução como regra para a prática de atos que “importem a transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado” (art. 520, IV, CPC), que, a contrario sensu, no caso vertente pode ser dispensada pelo juiz, demonstrada a “situação de necessidade” do credor (art. 521, I e II, CPC). Ademais, é de se lembrar que os alimentos são irrepetíveis. Portan- to, no caso de eventual reforma ou anulação da sentença, esta fica sem efei- tos, mas não há se falar em restaurar as partes ao estado anterior em que se encontravam. A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fi- xados em sentença ainda não transitada em julgado (cumprimento provisório), se processa em autos apartados (art. 531, § 1º). Quanto ao mais, as regras convergem no mesmo sentido para o cumprimento provisório (antes do trânsito em julgado) e definitivo (após o trân- sito em julgado). Desse modo, o cumprimento da sentença (ou interlocutória de méri- to) se dará a requerimento do exequente na forma que se segue. 4) Cumprimento com pedido de prisão civil e cumprimento com pedido de penhora de bens 4.1 Cumprimento com pedido de prisão civil A requerimento do exequente, o juiz determinará a intimação pesso- al do devedor para “em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justifi- car a impossibilidade de efetuá-lo” (art. 528, caput, CPC). Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o paga- mento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilida- de de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando- se, no que couber, o disposto no art. 517 (art. 528, § 1º). Esse protesto excepciona a regra estabelecida no art. 517, não se exigindo o trânsito em julgado da sentença no caso de alimetos. Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento (art. 528, § 2º) e evitará a prisão civil do devedor. Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses como de- termina o art. 528, § 3º. Todavia, o art. 19 da Lei nº 5.478/68 estipula o prazo máximo de 60 (sessenta) dias de prisão. Regra mais benéfica que vem sendo acolhida pelos tribunais. A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns (art. 528, § 4º). O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas (art. 528, § 5º). Mas como a prisão não pode ser decretada duas vezes pelo mesmo fato, a execução deverá prosseguir, a requerimento do exequente, com penhora de bens do devedor. Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão (art. 528, § 6º). O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo (art. 528, § 7º). Esta norma já era prevista na súmula n.º 309 do STJ e foi positivada pelo CPC de 2015. 4.2 Cumprimento com pedido de penhora de bens O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a pe- nhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação (art. 528, § 8º). A pretensão para haver alimentos prescreve no prazo de 2 (dois) anos a partir da data que vencerem (art. 206, § 2º, CC). Caso o exequente pre- tenda executar a totalidade do crédito e este vá além das 3 (três) últimasparce- las, o pedido deverá ser formulado sem o pedido de prisão civil. Aqui especula-se se haveria a possibilidade de cumulação, na mes- ma peça processual, de pedidos de prisão civil para as 3 (três) últimas parcelas e pedido de penhora quanto às demais parcelas pretéritas. Nesse ponto há ainda muita divergência de entendimento, havendo aqueles que acreditam que há incompatibilidade de procedimentos o que ofenderia a regra da proibição de “cumulação indevida de execuções” (art. 525, V, 2ª parte, CPC). O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás entende que é possível a cumulação, desde que sejam expedidos madados distintos, senão vejamos: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS EM FA- SE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA PELO RITO DA PRISÃO. PRELI- MINAR. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO. INOCORRÊNCIA. AÇÕES DISTINTAS. EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS NO RITO DA PRISÃO E NO RITO DA PENHORA. POSSIBILIDADE. MANDADOS AUTÔNOMOS. I – Rejeitada a preliminar suscitada pela Procuradoria-Geral de Justiça, de i- nadmissibilidade do recurso pois o ato judicial recorrido tem cunho decisó- rio, sendo, portanto, uma decisão interlocutória. II – A cumulação dos pro- cedimentos referentes ao rito da prisão e da expropriação de bens devem ser realizados de forma conjunta, todavia, devendo ser expedidos manda- dos distintos. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISÃO RE- CORRIDA MANTIDA. (AGRAVO DE INSTRUMENTO No 5513233.66.2018.8.09.0000, 2ª T, 6ª Câmara Cível, TJGO, DJ 19-09-2019) Quanto à competência, além das opções previstas no art. 516 , pa- rágrafo único, do CPC, o exequente pode promover o cumprimento da senten- ça ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio (art. 528, § 9º). Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou geren- te de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente po- derá requerer o desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia (Art. 529). Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício (art. 529, § 1º). O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do executado, a importância a ser descontada mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o depó- sito (art. 529, § 2º). Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito obje- to de execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos (art. 529, § 3º). Não cumprida voluntariamente a obrigação no prazo de 15 (quinze) contados da intimação na forma do art. 231, o devedor terá o prazo de 15 (quinze) dias, independentemente de intimação, para oferecer impugnação, observando-se a partir daí o disposto nos arts. 831 e seguintes que cuidam da penhora e expropriação de bens do devedor. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material (art. 532). 5) Cumprimento de obrigação de pagar alimentos decorrentes de ato ilíci- to. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja ren- da assegure o pagamento do valor mensal da pensão (art. 533). O credor, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez, conforme art. 950, p. único, CC. Os juros de mora correrão a partir da data do fato (art. 398, CC) e não da data da citação (art. 405, CC). A definição de ato ilícito está prevista nos arts. 186 e 187, do CC, onde se considera que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligên- cia, imprudência ou imperícia, viola direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Também incorre na prática de ato ilíci- to o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Se essa conduta ilícita causar prejuízo, abre-se a pretensão à repa- ração civil (art. 927, CC) para aquele que sofreu a ofensa, correndo a prescri- ção à pretensão indenizatória no prazo de 3 (três) anos (art. 206, § 3º, V, CC) a contar da data do fato (art. 189, CC). E se resultado que daí decorre for defeito que impeça ou reduza a capacidade do ofendido de exercer seu ofício, profissão ou trabalho, a indeni- zação, além de outras despesas, como dano emergente e lucros cessantes, incluirá prestação de alimentos (pensão) (art. 950, CC). O capital a que se refere, que pode ser representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pú- blica ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorá- vel enquanto durar a obrigação do executado, além de constituir-se em patri- mônio de afetação (art. 533, § 1º). A natureza de patrimônio de afetação implica na vinculação do bem ao pagamento da prestação alimentícia até que se finde a sua duração, conti- nuando vinculado mesmo no caso de falêcia, caso do devedor seja empresa, nos termos do art. 119, IX, da Lei 11.101/2005. IX – os patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destina- ção específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permane- cendo seus bens, direitos e obrigações separados dos do falido até o ad- vento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer. O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do e- xequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz (art. 533, § 2º). Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação (art. 533, § 3º), porque a fixação do valor não transita em julgado diante da modifi- cação das condições econômicas das partes. A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salá- rio-mínimo (art. 533, § 4º) excepcionando a vedação prevista no art. 7º, IV, CF/88. Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o ca- pital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas (art. 533, § 5º).
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