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DIDÁTICA Fabiola dos Santos Kucybala Projeto político - -pedagógico escolar Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir projeto político-pedagógico (PPP). � Identificar a relação entre PPP e a opção didática docente. � Relacionar o PPP com o planejamento educacional. Introdução O projeto político-pedagógico é um importante caminho para a constru- ção da identidade educativa. A partir dele, a escola pode agir com base em práticas inclusivas, democráticas, reflexivas e críticas, problematizando e contextualizando a realidade em que está inserida a partir da participação e do diálogo entre os diferentes segmentos escolares. Neste capítulo, você vai estudar a construção do projeto político- -pedagógico e as etapas que o constituem. Também vai conhecer a relação existente entre o PPP e a organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, incluindo as opções didáticas desenvolvidas pelos professores a partir das orientações apresentadas pela proposta da instituição. Como você vai ver, o projeto político-pedagógico das escolas também deve estar pautado e fundamentado no planejamento educacional, seja ele em nível nacional, estadual ou municipal. Definição de projeto político-pedagógico Antes de você conhecer melhor o projeto político-pedagógico, deve analisar a palavra “projeto”. Ela vem do verbo “projetar”, que indica movimento, mudança. Quanto à sua origem etimológica, a palavra vem do latim projectu e significa “lançar adiante”. Para o dicionário, projeto é definido como o planejamento que se faz com a intenção de realizar ou desenvolver algo. A partir dessa definição, é importante partir para as bases legais que fun- damentam os projetos das instituições. De acordo com o art. 12, inciso I, da Lei nº. 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os estabelecimentos de ensino têm a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. Essa proposta refere-se a um instrumento teórico- -metodológico responsável por mudar paradigmas e buscar a educação de qualidade por meio da construção participativa. Esse instrumento é o projeto político-pedagógico, popularmente conhecido nas instituições como PPP. De acordo com Vasconcellos (2009, p. 17), o PPP “[...] trata-se de um im- portante caminho para a construção da identidade [...]”. A partir dele, a escola pode pautar suas ações em práticas inclusivas, democráticas, atuantes e críticas a fim de problematizar e contextualizar a realidade em que está inserida. Atua, dessa maneira, de forma dialógica e exerce liderança compartilhada como eixo do fazer pedagógico. Tal documento é responsável por guiar os passos da instituição, indicar os caminhos, as metas, as responsabilidades, as propostas e os princípios inerentes à sua realidade. O PPP, nesse sentido, é um plano contínuo que tem a intenção de organizar o trabalho na escola e de considerar as necessidades e anseios da comunidade escolar. É um processo de planejamento participativo que se aperfeiçoa e se define com base no tipo de ação educativa que realiza. Ele se dá a partir de um posicionamento diante da leitura da realidade e do embasamento estrutural e legal. Entretanto, o PPP só tem significado se é construído por todos os integrantes da instituição, valorizando as opiniões e buscando respostas às indagações da comunidade. Essa construção abre espaços para que todos os segmentos escolares tenham papel fundamental no processo decisório e as pessoas possam expressar suas opiniões e aflorar o que têm de mais profundo, original e criador. Para Veiga (2003, p. 275): “O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação emancipatória, enfatiza mais o processo de construção. É a configuração da singularidade e da particularidade da instituição educativa [...]”. Também é importante que você compreenda por que esse projeto assume indissociavelmente um caráter político e pedagógico. Em primeiro lugar, é um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico, aos interesses reais e coletivos da instituição. Ser político, para Vasconcellos (2009, p. 20), é “[...] tomar posição nos conflitos presentes na Polis; significa, sobretudo, a busca do bem comum [...]”. Em segundo lugar, é pedagógico “[...] porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino–aprendizagem [...]” (LOPES, 2018, documento on-line). Além disso, abre possibilidades para a efetivação da intencionalidade da escola a partir de diversas estratégias de organização do seu trabalho como um todo. Projeto político-pedagógico escolar224 Souza et al (2005a, p. 6) destacam que “O termo projeto político-pedagógico nasce nos anos 80, com o intuito de se contrapor a uma visão burocrática e técnica e afirmar a natureza política do projeto [...]”, abrindo um importante espaço para a construção e a concretização das políticas educativas. Gadotti (2018, p. 2) complementa dizendo que “[...] o projeto pedagógico da escola está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade [...]”. Nesse sentido, é possível afirmar que a função do PPP é dar horizontes para a caminhada e criar possibilidades concretas para a escola cumprir seus propósitos e suas intencionalidades. Souza et al (2005a, p. 5) apontam que “É ele que indica a direção, o Norte, os rumos da escola [...]” e resgata a intencionalidade da ação, o que possibilita a transformação da realidade e a ressignificação do trabalho como um todo. O projeto pedagógico, no entanto, é um processo inconcluso, que precisa ser reavaliado, retomado e estudado constantemente pelos envolvidos. A ideia é implementar uma gestão demo- crática e participativa, em que todos são fundamentais para a construção da identidade escolar. É importante você notar que a gestão democrática não é aquela gestão exercida apenas pela equipe diretiva. E, quando o assunto é a construção do projeto político- -pedagógico, as discussões devem ser ainda mais intensas, visto que a elaboração e a implementação do PPP não se limitam a um grupo restrito de pessoas. Um trabalho de gestão democrática é aquele efetuado pelos diferentes segmentos da comunidade escolar, tais como direção, coordenação, corpo docente, alunos, pais e demais envol- vidos no processo educacional. A gestão da escola, enquanto ação conjunta, deve fazer parte da rotina escolar como um todo, a partir de um trabalho participativo e descentralizado. Para que ela realmente aconteça de maneira eficaz, é necessário que todos argumentem, questionem, sugiram e, principalmente, que sejam abertos espaços de diálogo e problematização. Além da construção participativa, para que o PPP seja eficaz, é necessário seguir uma estrutura básica para a sua elaboração. Vasconcellos (2006) aponta três elementos que fazem parte da estrutura do Projeto Educativo da Equipe Latino-Americana de Planejamento (ELAP), com sede no Chile, na vertente brasileira de Danilo Gandin. O projeto é composto por três partes: marco referencial, diagnóstico e programação. Você vai ver todos eles a seguir. 225Projeto político-pedagógico escolar Marco referencial O marco referencial expressa o sentido e a finalidade do trabalho da escola, bem como o planejamento em relação à sua identidade, à sua visão de mundo, aos seus objetivos e aos compromissos a serem firmados por ela para alcançar o que deseja (VASCONCELLOS, 2006). A partir da definição do marco referencial, é possível compreender e co- nhecer a realidade da escola, estabelecer os rumos a serem seguidos e definir as referências teóricas que embasam o trabalho e a prática educativa na sua totalidade. Além disso, a instituição pode explicitar as finalidades da escola e da educação, refletindo sobre o tipo de sociedade que deseja construir e sobre o que fundamenta o fazer da escola e as atividades dos envolvidos no processo. Essas finalidades precisam ser claras, pois elas indicam as perspectivas para acaminhada e definem os objetivos estabelecidos para o trabalho. Veiga (1995, p. 23) destaca: “É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para se atingir a almejada cidadania [...]”. A partir desse movimento dialético, a instituição pode levantar questionamentos inerentes à sua realidade, traçando estratégias e refletindo sobre as finalidades e intencionalidades educativas a que se propõe. Gandin (2013) apresenta três grandes eixos para a discussão sobre o marco referencial. São eles: marco situacional, marco doutrinal e marco operativo. O marco situacional refere-se à reflexão e ao olhar sobre a realidade na sua totalidade, de forma abrangente. Ou seja, busca problematizar e analisar a educação dentro do amplo contexto em que a instituição está inserida. Vas- concellos (2006, p. 183) enfatiza que “[...] neste marco o que se visa é uma visão geral da realidade e não uma análise da instituição [...]”. Nessa visão geral, são refletidas as questões políticas e sociais relativas à educação e à sociedade como um todo. Nesse sentido, a instituição deve partir da realidade em que está inserida, levando em consideração as culturas locais, a organização dos espaços, as expectativas e os modos de vida dos sujeitos envolvidos. Além disso, deve promover discussões que permitam compreender e incorporar mudanças e identificar o posicionamento do grupo. A partir desses debates acerca dos processos sociais, políticos e pedagó- gicos, é possível levantar algumas discussões para a instauração do marco doutrinal ou filosófico, que define os objetivos e os ideais gerais da instituição. Vasconcellos (2006, p. 183) destaca que: “É a proposta de sociedade, pessoa e educação que o grupo assume [...]”, a partir do levantamento e da discussão da fundamentação e da base teórica, que alicerça e orienta o projeto político- Projeto político-pedagógico escolar226 -pedagógico e as ações da instituição, expressando os ideais do grupo. Nessa etapa, são levantadas discussões sobre as visões de homem e de sociedade, bem como sobre o tipo de escola e de formação que se deseja projetar e alcançar. Caminhando paralelamente a esses dois eixos, o marco operativo, segundo Vasconcellos (2006), apresenta a proposta, os ideais específicos e os critérios de ação da instituição. Gandin (2013) compreende o marco operativo como uma proposta de utopia. Nesse marco, a escola, na sua realidade local, e o grupo como um todo têm a oportunidade de expressar seus desejos, anseios, expectativas e necessidades na projeção para o futuro desejado. Ao construir o projeto, é possível planejar as intenções e avançar na busca por avanços e melhorias. É importante que a participação de todos os membros da comunidade ocorra em todos os eixos do marco referencial. Essa participação permite que as pessoas ressignifiquem as suas experiências, reflitam sobre as suas práticas, resgatem, reafirmem e atualizem os seus valores ao entrar em contato com valores de outras pessoas. A ideia é que reafirmem, assim, as suas identida- des, estabeleçam novas relações de convivência e indiquem um horizonte de novos caminhos, possibilidades e propostas de ação. Esse movimento visa à transformação necessária e desejada pelo coletivo escolar e comunitário. Como afirma Vasconcellos (2006), o marco referencial tem como função projetar a realidade da instituição e fornecer os princípios para a elaboração e a realização da segunda etapa do projeto político-pedagógico, o diagnóstico. Diagnóstico O termo “diagnóstico” muitas vezes remete às práticas médicas, mas ele se estende a muitos outros campos de trabalho. Se você recorrer ao dicionário, vai ver que o termo refere-se à diagnose, à descrição detalhada que define uma espécie. Na área pedagógica, mais especificamente na construção do projeto político-pedagógico, o diagnóstico é o processo pelo qual é possível conhecer a realidade apresentada. A partir do diagnóstico, é possível analisar a situação atual da escola, a fim de comparar a proposta, o ideal estabelecido no marco referencial e a distância que ainda precisa ser percorrida até esse ideal. Portanto, o diagnóstico é um importante instrumento para as mudanças necessárias nas instituições. Vasconcellos (2006, p. 190) aponta que diagnosticar: “[...] é identificar os problemas relevantes da realidade, ou seja, aqueles que efetivamente preci- sam ser resolvidos para a melhoria da qualidade de vida da comunidade em questão [...]”. 227Projeto político-pedagógico escolar Entretanto, para que seja realmente eficaz, é fundamental que o diagnós- tico da realidade seja elaborado de forma participativa. Ele deve oportunizar espaços de aprendizagem, sendo uma prática vivenciada, que perpassa o cotidiano da escola. Por meio dele, pode ser criado um ambiente aberto a opiniões e tomadas de decisão, clarificando os objetivos e metas na construção de um ambiente escolar acolhedor, participativo, democrático e decisório. O diagnóstico desencadeia, dessa maneira, um processo de reflexão sobre onde a escola deseja chegar. Além disso, a partir do diagnóstico, a instituição se torna capaz de identificar quais são os aspectos e as ações positivas e quais são os pontos que ainda precisam ser aprimorados. Caldieraro (2006, p. 18) destaca: A construção do projeto pedagógico é uma oportunidade para a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das possibilidades de solu- ção. É também oportunidade para definição das responsabilidades coletivas e pessoais, na eliminação ou abrandamento dos problemas detectados. Vasconcellos (2006) define que o diagnóstico pressupõe três importantes tarefas. A primeira, de conhecer a realidade por meio de pesquisa e análise de dados, a fim de captar os problemas apresentados. A segunda, de julgar a realidade confrontando o ideal e o real, assim como o que se deseja e o que a escola está fazendo para que isso se concretize. Por fim, a terceira, de localizar as necessidades escolares almejadas, instigando os sujeitos a fazerem parte do processo a partir da interação e da articulação entre os envolvidos em torno da proposta de ação que vai surgir. Nesse sentido, a participação dos membros da comunidade na construção de cada etapa do projeto é fundamental, pois “O processo de planejamento participativo abre possibilidade de um maior fluxo de desejos, de esperanças e, portanto, de forças para a tão difícil tarefa de construção de uma nova prática [...]” (VASCONCELLOS, 2006, p. 173). Programação A programação ou proposta de ação, conforme Gandin (2013), deve considerar o possível e o necessário, ou seja, o que a instituição planejou e o que ainda é preciso sanar. Nesse sentido, a partir do estabelecimento do marco referencial e da elaboração do diagnóstico da realidade, é possível pensar nas propostas e nas ações necessárias para se atingirem as finalidades educativas, provocando mudanças e estabelecendo as prioridades e necessidades. Projeto político-pedagógico escolar228 Para a programação se concretizar, Gandin (2013) sugere a organização de quatro dimensões da prática. São elas: ações concretas, orientações para a ação, atividades permanentes e determinações gerais. As ações concretas são propostas de ação determinadas e bem definidas que definem os tipos de ações e as suas finalidades. As orientações para a ação ou linhas de ação referem-se aos valores, atitudes e comportamentos, que não se configuram em propostas concretas, mas buscam satisfazer alguma necessidade apontada no diagnóstico e no marco referencial. Além disso, a linha de ação também serve como guia na orientação para as tomadas de decisões que surgem no decorrer do processo. As atividades permanentes, também definidas como rotinas e atividades periódicas, são atividades e propostas de ação que ocor- rem frequentemente e podem estar relacionadas às esferas administrativas ou pedagógicas, desde que atendam a alguma necessidade institucional.As determinações gerais, por fim, são as orientações e ações marcadas pela obrigatoriedade que se expandem aos demais segmentos escolares, podendo atingir alguns ou todos os sujeitos. É importante que as determinações sejam objetivas, compreendidas, praticadas e avaliadas pelos envolvidos, surgindo também a partir das necessidades apresentadas pelo diagnóstico. A programação, assim, precisa ser flexível diante da necessidade de redi- recionamentos e possíveis ajustes, representando a articulação entre a teoria e a prática. Além disso, o plano de ação busca expressar as decisões coleti- vas da comunidade escolar, garantindo o acesso à informação, o direito de participação nas decisões e as condições de compreender melhor o contexto escolar. Dessa forma, organiza-se para assegurar que os interesses da maioria sejam atendidos. Para isso, é necessário que todos comprometam-se com sua implementação por meio da participação efetiva e responsável. Assim, o plano de ação deve se tornar um instrumento resultante da gestão democrática e concretizado nas ações cotidianas. Relação entre o PPP e a opção didática docente O projeto político-pedagógico auxilia a escola a definir suas prioridades e indica caminhos para um ensino de qualidade. Dessa forma, dá segurança aos envolvidos, pois é planejado pelos diferentes segmentos da instituição, que criam e discutem experiências e ações a serem implementadas de maneira flexível e participativa. O PPP é o fruto da interação entre as prioridades e as metas instituídas pela coletividade, estabelecendo, por meio da reflexão, as ações necessárias para a construção de uma nova realidade. É por intermédio 229Projeto político-pedagógico escolar dele que novos horizontes surgem e novas discussões se desenvolvem, já que os sujeitos opinam, problematizam, criam e recriam. O PPP possibilita, dessa maneira, que a escola e seus participantes cresçam enquanto equipe, se integrem em parceria com a comunidade e busquem a melhoria da educação e do processo de ensino–aprendizagem. Nesse sentido, você pode considerar que a proposta de trabalho da institui- ção consiste no caminho que a comunidade se desafia a percorrer. Além disso, a proposta envolve a reconstrução de uma escola adaptada à realidade, que busca discutir acerca de suas necessidades e prioridades, metas e objetivos. Para isso, é necessário que o projeto político-pedagógico mobilize esforços, compartilhe responsabilidades e defina os rumos a serem seguidos. Somente assim é possível resgatar e repensar o PPP como um processo voltado para a fundamentação da prática pedagógica e para a construção da identidade da instituição, em parceria com a comunidade. Esse processo, portanto, pretende delinear as intenções do grupo, seus desejos e suas vozes, estabelecndo estratégias e prevendo espaços para ques- tionamentos, indagações e reflexões. Isso tudo também deve estar presente no cotidiano da sala de aula e nos planejamentos docentes, visto que a prática diária do professor deve estar em consonância com o projeto maior da escola. É importante você lembrar-se de que, por meio do projeto político-pedagógico e dos demais espaços criados pela gestão democrática, os professores têm a oportunidade de reinterpretar a educação, a escola, o currículo e a avaliação. Além disso, podem buscar práticas pedagógicas e ferramentas de trabalho para o aluno que impliquem mudanças e reflexões. Dessa forma, a opção didática do professor e as práticas desenvolvidas por ele em sala de aula devem caminhar no mesmo sentido que a proposta pedagógica da instituição. Vasconcellos (2009, p. 15) destaca que: É praticamente impossível mudar a prática da sala de aula sem vinculá-la a uma proposta conjunta da escola, a uma leitura da realidade, à filosofia educacional, às concepções de pessoa, sociedade, currículo, planejamento, disciplina, a um leque de ações e intervenções e interações. Veiga (1995) complementa dizendo que o projeto político-pedagógico está relacionado à organização do trabalho pedagógico em dois níveis. O primeiro, sob a perspectiva da organização da escola como um todo; o segundo, como organização da sala de aula, abrangendo sua relação com o contexto social em sua globalidade. Projeto político-pedagógico escolar230 Sob a perspectiva do trabalho diário e da prática docente, o projeto político- -pedagógico contribui para consolidar a autonomia e a descentralização da escola. Por meio dele, tanto professores quanto gestores podem se articular uns com os outros e se sentir responsáveis pelo que ocorre na instituição, prin- cipalmente no que diz respeito ao desenvolvimento dos alunos e ao processo de ensino–aprendizagem. A partir da construção conjunta do PPP e do conhecimento de todas as suas etapas, os professores podem pautar suas ações em práticas inclusivas, democráticas, atuantes e críticas. Assim, são capazes de problematizar e contextualizar a realidade em que a escola está inserida, atuando de forma dialógica e exercendo liderança compartilhada como eixo do fazer pedagógico. Por esse motivo, falar sobre projeto político-pedagógico é falar sobre um processo autônomo e participativo de decisões, é preocupar-se em instaurar uma forma de organização pedagógica que enfrente as contradições a fim de superar problemas e conflitos. Dessa maneira, o PPP contribui para a formação reflexiva e política dos cidadãos pertencentes a essa realidade, sejam eles professores, alunos, pais ou demais membros da comunidade escolar. Nessa perspectiva, o PPP é um processo permanente de reflexão no qual se discutem os problemas apresentados pela escola e se indica como a instituição deve agir. Para tanto, é necessário que sejam desenvolvidas práticas coerentes com cada realidade. Além disso, é preciso promover a tomada de decisão entre os envolvidos, bem como a consciência das mudanças que necessitam ser efetuadas. A seguir, você pode ver algumas considerações de Veiga (1995, p. 14) sobre a relação entre o projeto político-pedagógico e a organização do trabalho pedagógico: A principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola dará indicações necessárias à organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala de aula. Esse processo de autonomia desenvolvido por meio do PPP perpassa todos os espaços escolares, entre eles o da sala de aula. É na gestão democrática e na relação estabelecida entre equipe docente, discente e comunidade que laços são construídos e novas possibilidades podem ser criadas, com o objetivo de qualificar o ensino–aprendizagem. Um processo democrático e participa- 231Projeto político-pedagógico escolar tivo, nesse sentido, traz situações diversas para a escola, principalmente pela importância de estabelecer um ambiente propício ao respeito e ao diálogo. Com isso, a docência, enquanto ação transformadora, busca desenvolver a consciência crítica e a ligação entre teoria e prática, de modo que os sujeitos sejam parte integrante do processo, valorizados em seu sentido pleno e pre- parados para futuros papéis sociais. Portanto, a escola deve valorizar a parti- cipação, os questionamentos e as intencionalidades pedagógicas, tornando-se um espaço propício para a construção de uma sociedade democrática, voltada para a formação da cidadania e da consciência crítica, combatendo todas as formas de exclusão social e encarando o aluno como ser integral e pleno. Vasconcellos (2006, p. 200) faz alguns apontamentos acerca da importância do projeto político-pedagógico e do planejamento no âmbito da educação. A partir do PPP, é possível apontar caminhos, superar bloqueios e planejar um método de trabalho docenteque auxilie o professor: [...] na tarefa tão urgente e essencial de transformar a prática, na direção de um ensino mais significativo, crítico, criativo e duradouro, como mediação para a construção da cidadania, na perspectiva da autonomia e da solidariedade. Que efetivamente deixe de ser visto como função burocrática, formalista e autoritária, e seja assumido como forma de resgate do trabalho, de superação da alienação, de reapropriação da existência. Relação entre o PPP e o planejamento educacional Antes de você estudar a relação entre o PPP e o planejamento educacional, é importante retomar o conceito de planejamento. Segundo o dicionário, planejamento é a ação ou o efeito de planejar, de elaborar um plano; ou ainda a determinação das etapas, procedimentos ou meios que devem ser usados no desenvolvimento de um trabalho. Fusari (1990) complementa dizendo que ensinar requer intencionalidade e sistematização, ao passo que Gandin (1991) afirma que não há ensino sem planejamento. O planejamento no meio Projeto político-pedagógico escolar232 educacional refere-se ao envolvimento e à tomada de decisões com base em um processo de análise e reflexão sobre as particularidades do sistema educacional. Tal planejamento ocorre a partir de ações que buscam delimitar dificuldades e possibilidades de trabalho e prever alternativas e estratégias para se atingirem determinados ideais. Souza et al. (2005b) apresentam o planejamento educacional em níveis. Entre eles, os autores destacam o planejamento no âmbito dos sistemas e redes de ensino, que implica a tomada de decisões e a implementação de ações na esfera da política educacional; o planejamento na esfera da unidade escolar, que se concretiza pela elaboração do projeto político-pedagógico; e o planejamento no ensino, que considera a dinamicidade do conhecimento escolar e sua articulação com a realidade histórica. Aqui, você vai ver especificamente o planejamento nos sistemas e redes de ensino e nas unidades escolares. Ou seja, vai estudar a relação entre o plano maior apresentado pelo Ministério da Educação, o Plano Nacional de Educação (PNE), e o PPP, plano que norteia e orienta as ações das instituições escolares. Para dar início às discussões, é importante revisitar alguns pressupostos legais que fundamentam o planejamento educacional. A Constituição Federal, em seu art. 214, a partir da Emenda Constitucional nº. 59/2009, prevê o Plano Nacional de Educação como uma exigência para garantir uma política de Estado que ofereça o direito à educação básica de qualidade. Veja: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implemen- tação para assegurar a manutenção e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: (EC nº 59/2009) I — erradicação do analfabetismo; II — universalização do atendimento escolar; III — melhoria da qualidade do ensino; IV — formação para o trabalho; V — promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI — estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 2016). De acordo com informações que norteiam os estudos acerca do PNE, ele se caracteriza como: “[…] um instrumento de planejamento do nosso Estado Democrático de Direito que orienta a execução e o aprimoramento de políticas públicas do setor [...]” (BRASIL, 2014, p. 7). O documento que apresenta o Plano Nacional de Educação destaca que o “[...] planejamento 233Projeto político-pedagógico escolar envolve um esforço metódico e consciente ao selecionar e orientar os meios e as estratégias para atingir os fins previamente definidos, com o objetivo de aproximar a realidade do ideal expresso pelo modelo [...]” (BRASIL, 2014, p. 10). Além disso, o documento estabelece prioridades e procedimentos de ação voltados à interação entre os diversos setores para a intervenção na realidade, a partir da criação de 20 metas nacionais para garantir a qualidade da educação no País. No caderno Planejando a Próxima Década, apresentado pelo Ministério da Educação em 2014, são explicitadas e contextualizadas as 20 metas nacionais propostas pelo Plano Nacional de Educação para garantir a equidade e a qualidade da educação no País. Essas 20 metas contam com uma análise específica e apresentam as inter- relações com a política pública mais ampla, bem como um quadro com sugestões para aprofundamento da temática. Confira detalhes no link a seguir. https://goo.gl/dwT8D6 O Plano Nacional de Educação deve servir de base para a elaboração dos planos estaduais e municipais. As instituições escolares também devem estar adequadas, trabalhando em consonância com o plano maior, buscando garantir uma educação pautada nos princípios propostos pelo PNE. Uma das maneiras de fazer a escola funcionar e de organizá-la para melhorar a qualidade do ensino é justamente a elaboração democrática e coletiva do seu PPP. Por isso, é fundamental envolver todos os segmentos escolares nessa construção, gerando mudanças no modo de agir da instituição e auxiliando os sujeitos a enxergar como transformar sua realidade e estabelecer planos que desenvolvam sua prática. Para garantir a efetiva qualidade da educação, por meio da implementação do PNE, é fundamental que tanto os entes federativos quanto as instituições escolares se comprometam e se envolvam, conforme o que cabe a cada um deles. Nesse sentido, se você relacionar o planejamento educacional, aqui explicitado pelo Plano Nacional de Educação, com o projeto político-peda- gógico que as instituições constroem, muitas são as semelhanças. Ambos traçam estratégias, metas e ideais que precisam ser alcançados em deter- minado período de tempo, a partir de um diagnóstico que esboça a atual Projeto político-pedagógico escolar234 realidade da instituição, município, estado ou país. Assim, são apresentados pressupostos fundamentais que caracterizam a elaboração do projeto, tais como a necessidade de partir das problemáticas e da realidade, a previsão de condições para o seu desenvolvimento, a articulação das ações com todos os segmentos envolvidos e o respeito às diversidades. Além disso, ambos os projetos devem ser construídos coletivamente e de forma integrada, buscando a democratização do ensino. Com você sabe, esse movimento de elaboração, desenvolvimento e imple- mentação de uma proposta requer planejamento, comprometimento, envolvi- mento e discussões coletivas. Por esse motivo, sua construção deve partir da realidade em que a instituição está inserida e levar em consideração questões como: o que se deseja alcançar, o que falta para que esses desejos sejam alcançados e o que será feito na prática para implementar tais ações. Assim, o processo é caracterizado por discussões, ações e tomada de consciência, pontos fundamentais para o trabalho pedagógico na sua totalidade. Souza et al. (2005b, p. 19) destacam: “Planejar o trabalho pedagógico significa, portanto, a oportunidade de repensar a própria prática e, se ela se produz de forma coletiva, isto passa, necessariamente, pelo exercício coletivo da reflexão e da proposição de alternativas [...]”. É importante você notar que tanto os planos globais quanto o PPP das escolas não devem ser pontos de lutas por poder, tampouco estar restritos a um grupo de pessoas. Pelo contrário, para que qualquer planejamento tenha sucesso, é fundamental que ele seja construído de forma participativa e que seja visto sob um enfoque diferenciado, de maneira que sejam propostas mudanças, sugestões e discussões acerca da realidade que se deseja. Azevedo (2005, p. 38) traz alguns apontamentos acerca da implementação do projeto político-pedagógico: Os conflitos e lutas pelo poder, os meiosde resistência, as alianças, os valores, as normas, os modelos de aprendizagem, as atitudes do professor, as relações entre as pessoas, a participação dos pais e dos alunos e o modo como esses atores escolares se comunicam são aspectos que vão influenciar, com vigor, o tipo de PPP que será elaborado e os rumos que irá seguir no processo de sua implementação. Nesse sentido, cabe às instituições prever que tipo de projeto será elaborado: aquele apresentado de forma centralizada, que fiscaliza, supervisiona e detém as informações para si; ou aquele que visa à participação da comunidade, que promove espaços de discussões e troca de experiências e que busca o aperfeiçoamento e o cumprimento das ações propostas pela escola. A gestão 235Projeto político-pedagógico escolar possui um papel fundamental para definir os rumos do PPP, pois é preciso que o gestor administre a dinâmica escolar e construa a sua identidade em parceria com a equipe de trabalho, assumindo atitudes de companheirismo, compartilhamento e confiança, visando ao bem-estar coletivo, dando signi- ficado à prática educativa e às necessidades sociais. Portanto, para que as ações educacionais propostas a nível nacional sejam implementadas nas instituições escolares, é fundamental que se parta da elaboração conjunta do projeto político-pedagógico, que tem como princi- pal propósito fundamentar a prática educativa na sua totalidade. Cabe aos responsáveis pela educação, por meio de espaços de discussão, proporcionar diferentes métodos de inclusão da comunidade para a elaboração efetiva de ações integradas, com o objetivo de buscar metas comuns. Além disso, eles devem estabelecer vínculos com seus pares, buscar iniciativas interdisciplinares e compartilhar realizações, práticas e experiências. Tais ações são condizentes com a proposta da gestão democrática e contribuem para que os envolvidos se sintam acolhidos e pertencentes ao grupo no qual estão inseridos. AZEVEDO, J. M. L. O projeto político pedagógico no contexto da gestão escolar. Debate: Retratos da Escola, boletim 12, p. 35-39, jun./jul. 2005. BRASIL. Câmara dos Deputados. Plano Nacional de Educação 2014-2024: Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Câmara do Deputados, Edições Câmara, 2014. Disponível em: <http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/documento- referencia.pdf>. Acesso em: 18 jul 2018. BRASIL. Constituição (1988). 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