Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
Curso Geografia Licenciatura
Professor: Claudio Belmonte de Athayde Bohrer
Disciplina: Biogeografia
Aluno: Talles Adriano dos Reis - Matrícula: 816003119
Quando o imperialismo verde encontra a resistência popular:
o caso do Assentamento Agroflorestal José Lutzenberger
No dia 21 de setembro de 2017 foi divulgado o resultado do “Prêmio Juliana Santilli
Agrobiodiversidade”, promovido pelo Instituto Socioambiental, Associação Bem-Te-Vi
Diversidade e Editora Mil Folhas do IEB, com o objetivo de premiar iniciativas que
ampliem a conservação da biodiversidade no país. O prêmio principal1 foi para o
Assentamento Agroflorestal José Lutzenberg, do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), que possui vinte famílias assentadas e está localizado em Antonina,
Paraná.
A premiação ampliou a visibilidade de uma experiência agroecológica que vem se
desenvolvendo desde 2004, a partir da ocupação da Fazenda São Rafael, em Antonina,
estado do Paraná.
Figura 1. Localização do Assentamento José Lutzenberger (FACCO, 2015, p. 75).
1. A experiência Rede Sementes da Agroecologia (RESA), realizada pelo MST e outras organizações e
movimentos, também foi reconhecida e recebeu o “Selo Juliana Santilli”.
1
A ocupação do MST no litoral paranaense teve grande repercussão estadual e
também nacional. A possibilidade da instalação de um assentamento reforma agrária
numa área de mata atlântica, cercado por diferentes tipos de unidades de conservação e
dentro de uma Área de Proteção Ambiental, a APA de Guaraqueçaba, gerou fortes
reações de setores agrários, políticos e de ongs ambientalistas.
A superficialidade das manchetes alarmistas escondiam dois elementos
fundamentais, primeiro que a iniciativa da ocupação partiu de famílias caiçaras residentes
no município e, segundo, que estas foram impulsionadas a tomar essa decisão devido ao
agravamento dos conflitos fundiários que ameaçavam a sua permanência na área e sua
reprodução social.
A questão fundiária no litoral paranaense é um problema histórico, muito antigo.
Facco (2015, p. 74) analisa os conflitos fundiários que ocorriam em Antonina no início dos
anos 2000. O conflito “fundiário” era entre a criação extensiva de búfalos por fazendeiros
e a prática de agricultura familiar por famílias caiçaras. O outro conflito, que Facco
denomina de ambiental, era entre a ong Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e
Educação Ambiental (SPVS) e essas famílias.
Portanto, identificamos um conflito fundiário clássico, entre grandes proprietários e
agricultores tradicionais, muitos posseiros, que se materializava na contradição entre
projetos distintos de uso do território. O búfalo, criado por fazendeiros da região, é um
animal muito forte, difícil de ser contido em áreas cercadas, era frequente a ocorrência de
danos nas lavouras dos pequenos agricultores. Além do prejuízo material imediato da
perda da produção, os búfalos também provocam danos ambientais, como a
compactação do solo, alteração da rede de drenagem e a degradação dos sub-bosques
florestais, interferindo na regeneração e crescimento das áreas florestais.
Overbeek (2012, p. 03) relata que, na década de 1960, rebanhos de búfalos
também foram utilizados como instrumento de violência, associados a jagunços, para a
expulsão de famílias caiçaras de suas terras e consequente apropriação de seus
territórios por latifundiários.
O conflito “ambiental” tem como um de seus polos aglutinadores a ong SPVS,
fundada no final de 1984, suas ações ganham visibilidade a partir do final da década
de1990, quando começa a adquirir terras no litoral paranaense. Sua concepção de
conservação é a preservacionista, de influência norte-americana. Essa supõe que
conservação ambiental é incompatível com ocupação humana, logo é necessário retirar
as populações que, por ventura, ocupem as áreas de interesse ecológico para garantir a
2
preservação ambiental. Outro exemplo dessa concepção é a utilização de espécies
bandeiras, no caso o Papagaio-de-cara-roxa e o Mico-leão-da-cara-preta, como
instrumentos mobilizadores e de marketing. Os seres humanos devem ser “educados” e
“capacitados” a conviver com a natureza, como se portassem, naturalmente, um instinto
predador. O foco no indivíduo, seja animal ou humano, não problematiza o todo das
relações existentes e suas contradições, despreza elementos históricos, culturais e locais.
O preservacionismo foi uma visão que se consolidou como um mito de uma
natureza intocada (DIEGUES, 2008) e influenciou a política nacional de criação de
unidades de conservação no país a partir da década de 1960.
Numa região com histórico de problemas fundiários, a SPVS começa a adquirir
terras. Overbeek destaca que com
a chegada da SPVS e da Fundação Boticário2 constituiu um verdadeiro
golpe para as comunidades. Foi a partir da privatização das áreas
compradas por essas organizações que as comunidades do entorno
começaram a perder o acesso à floresta abundante na região, a
cachoeiras, manguezais e rios - ou seja, começaram a perder liberdade,
autonomia, o direito de ir e vir e, sobretudo, de manter suas economias
locais e exercer o seu modo de vida (Overbeek, 2012, p. 06).
Aquilo que Facco denomina de conflitos “fundiários” e “ambientais” tratam-se,
concretamente, de conflitos territoriais de uso da terra. Porto-Gonçalves, ao analisar os
conflitos territoriais no campo, destaca que os conflitos são um processo violento em que
se acirra a luta pela “apropriação das condições metabólicas de reprodução da vida […]
Assim, aquilo que para uns é visto como condição necessária para a
produção/reprodução da vida, para outros, essas mesmas condições são vistas como
recursos, enfim, meios para a acumulação de capital” (PORTO-GONÇALVES et al., 2019,
p. 120). Desta forma, os conflitos por água, por terra, por recursos diversos são todos
conflitos territoriais.
A análise do presente estudo de caso deve realizar a articulação entre a luta local,
no território da comunidade do Rio Pequeno, na qual se organizaram as famílias caiçaras
para ocuparem a Fazenda São Rafael, e o processo geral de reprodução do capital, em
seu movimento de acumulação. A compreensão real de fenômenos singulares exigem a
mediação com o particular e o geral, pois não carregam consigo suas próprias respostas.
A análise da totalidade visa justamente superar o que está na aparência dos
fenômenos, questionar o senso comum, articular o local com o universal dos processos.
Refletir sobre as contradições, desvelar o conteúdo, a essência dos problemas.
2. A Fundação O Boticário é a proprietária da Reserva Natural Salto Morato, com 2.253 ha, localizada
em Guaraqueçaba. Sua instalação também provocou conflitos territoriais que não serão analisados
neste artigo. Diferentemente da SPVS, ela optou por não averbá-la como RPPN.
3
Em relação ao método de pesquisa, Netto (2011) destaca que a
distinção entre aparência e essência é primordial; com efeito, ‘toda ciência
seria supérflua se a forma de manifestação [a aparência] e a essência das
coisas coincidissem imediatamente’ (MARX, 1974b, p. 939); mais ainda:
‘As verdades científicas serão sempre paradoxais se julgadas pela
experiência de todos os dias, a qual somente capta a aparência
enganadora das coisas’ (Marx, 1982, p. 158) . Por isso mesmo, para Marx,
não cabe ao cientista ‘olhar’, ‘mirar’ o seu objeto - o ‘olhar’ é muito próprio
dos pós-modernos, cuja epistemologia ‘suspeita da distinção entre
aparência e realidade’”. (NETTO, 2011, p. 22) 
A SPVS possui nos municípios de Antonina e Guaraqueçaba, no mínimo, 18.600
hectares, segundo Facco (2015, p. 76) e Overbeek (2012, p. 03). Essas terras
começaram a ser adquiridasno final da década de 1990, através de um aporte de 18
milhões de dólares realizados, via The Nature Conservation (TNC), pelas empresas
transnacionais General Motors, a American Eletric Power e Chevron. Esse processo,
realizado antes da criação dos protocolos de Redução das Emissões por Desmatamento
e Degradação (REDD), leva Overbeek (2012, p. 03) a concluir que essa transação foi um
dos primeiros projetos de carbono em áreas de floresta do mundo.
Qual o interesse dessas grandes empresas adquirirem terras de floresta na área
mais conservada de Mata Atlântica do Brasil e uma das regiões com maior biodiversidade
no mundo? 
Ao analisar o capitalismo no nascente século XX, Lenin (2012) descreveu cinco
características do desenvolvimento capitalista que o configuravam o Imperialismo: 1) a
formação de monopólios devido à concentração da produção e do capital; 2) a fusão do
capital bancário com o industrial, criando o nascente capital financeiro e sua oligarquia
financeira; 3) a exportação de capitais num movimento crescente, em substituição à
exportação de mercadorias; 4) a formação de associações internacionais monopolistas
que partilham o mundo entre si; e 5) divisão territorial do mundo entre as principais
potências capitalistas do mundo (LENIN, 2012, p. 124).
O mundo de hoje é bem diferente de quando Lenin escreveu essas linhas, mas a
realidade existente no litoral do Paraná carrega traços desse imperialismo do capital. De
certa forma vemos uma “partilha do mundo”, a exportação de capitais, a ação monopolista
de grandes empresas mediadas por ongs ambientalistas, a apropriação do território, do
bem comum, com fins privados e potencializadores do lucro das grandes empresas. Uma
ação do capital travestida de ecológica e sustentável, que esconde seu verdadeiro e
íntimo interesse pelo lucro, um verdadeiro Imperialismo Verde3.
3. Overbeek (2012) denomina de “Economia Verde”, que consideramos insuficiente para caracterizar
corretamente o fenômeno pois não contempla sua dimensão política e ideológica.
4
Da área total adquirida pela SPVS, 11.441,71 ha foram transformados em Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Das sete RPPN´s, quatro estão localizadas em
Antonina, ocupam 7,4% da área do município; e três em Guaraqueçaba, demais
informações são apresentadas na tabela abaixo.
Tabela 1. RPPN´s de propriedade da SPVS (IAP, 2020).
Durante essas aquisições, comunidades tradicionais foram sendo isoladas e suas
práticas de uso dos recursos florestais limitadas e reprimidas. Com o pretexto de
preservar a natureza práticas tradicionais dos povos caiçaras foram proibidas e
criminalizadas. Overbeek (2012) coletou vários relatos de perseguição realizados pela
Polícia Ambiental juntamente com a segurança privada da SPVS e Fundação O Boticário.
Na região sempre atuava a polícia ambiental, mas, conforme afirmam as
pessoas das comunidades vizinhas das áreas da SPVS e Fundação
Boticário, nunca perseguiam a comunidade como tem acontecido depois
da chegada dessas entidades. Quase todas as famílias na região têm
histórias para contar sobre os abusos da policia ambiental, no Paraná hoje
em dia chamada de Força Verde que, de forma articulada com as ONGs
citadas, têm amedrontado as famílias (OVERBEEK, 2012, p. 06). 
As instituições públicas locais foram incapazes de impedir essa marcha de
violência das ongs ambientalistas contras as famílias de agricultores da comunidade Rio
Pequeno, em Antonina, que resolveram procurar o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) em busca de auxílio. A partir desse pedido, o MST passa a contribuir
com a luta dessas famílias, oferecendo suporte jurídico e formativo, no campo dos direitos
sociais. Luzinete, num depoimento, relata a importância da ação do MST, pois a partir daí
“começou a entender os nossos direitos, o direito de ir e vir, de ter os nossos pertences, o
sentimento da pertença, a gente só começou a entender isso com o Movimento dos Sem
Terra” (AGROFLORESTA É MAIS, 2018).
Sentindo-se mais seguras e empoderas, as famílias ocupam a Fazenda São Rafael
em abril de 2004. A ocupação gera grande repercussão e a SPVS emite um relatório em
que afirma:
Inúmeros dados, de ordem técnica, econômica e histórica, mostram que
isso (novos assentamentos rurais) é inviável. Admitir mais assentamentos
5
Denominação Município Área (ha)
2003 46/03 RPPN Reserva Natural Morro da Mina Antonina 1.336,19
2004 184/04 Antonina 508,20
2007 159/07 Antonina 4.292,88
2011 58/11 Antonina 400,27
Total Antonina 6.537,54
2007 157/07 RPPN Reserva Natural Serra do Itaqui Guaraqueçaba 3.526,87
2007 160/07 RPPN Reserva Natural Serra do Itaqui 1 Guaraqueçaba 392,37
2011 59/11 RPPN Reserva Natural Serra do Itaqui II Guaraqueçaba 984,93
Total Guaraqueçaba 4.904,17
TOTAL GERAL 11.441,71
Ano de 
Criação
Portaria 
IAP/GP
RPPN Reserva Natural Águas Belas 
RPPN Reserva Natural Rio Cachoeira 
RPPN Reserva Natural Fazenda Santa Maria 
na APA de Guaraqueçaba representaria a abertura de um perigoso
precedente, com sérias conseqüências ambientais e socioeconômicas.
Além disso, as famílias eventualmente assentadas estariam
condenadas a uma experiência com chances de sucesso muito
reduzidas, uma vez que a região tem baixa aptidão para a atividade
agrícola. […] (PÁDUA, 2006, grifo nosso).
Pádua, além de citar o relatório da SPVS, refuta a possibilidade de sucesso de um
assentamento sustentável, de base agroecológica e que contribua para a conservação e
ampliação da diversidade local, para ela
Tal possibilidade embute riscos muito sérios, não apenas para o meio
ambiente, mas também para a sustentabilidade das comunidades locais e
das famílias que eventualmente vierem a ser assentadas na região.
Obviamente as autoridades que favorecem esta ocupação das
propriedades da região da APA de Guaraqueçaba esquecem o que os
relatórios indicam: “….. os solos são rasos e de baixa fertilidade e,
portanto, não se prestam à atividade agrícola convencional. Condições
precárias de acesso e restrições ambientais estabelecidas em lei
completam o quadro desfavorável a esse tipo de atividade. […] A chegada
de novas famílias agravaria o quadro de pobreza”. Os relatórios
continuam indicando que “atividades capazes de aliar interesses
econômicos e ecológicos – como o cultivo do palmito Jussara – precisam
de no mínimo uma década para se estabelecerem. São, portanto,
incompatíveis com a necessidade de curto prazo dos sem-terra e que sem
alternativa de subsistência, muitas famílias da APA de Guaraqueçaba já
vivem da exploração descontrolada dos recursos naturais, por meio de
caça, pesca e extração ilegal de palmito, pressionando seriamente a
biodiversidade. Assentamentos na região certamente agravariam o
quadro, com graves conseqüências para essa unidade de conservação
(PÁDUA, 2006, grifo nosso).
Outro equívoco propagado por Pádua foi argumentar que a instalação de
assentamos de reforma agrária significaria a chegada de novas famílias à região, famílias
de fora que ameaçariam o sistema ecológico existente. Desconhece assim a complexa
situação fundiária do litoral paranaense e, em particular, das famílias tradicionais de
Antonina, localizadas no entorno do Rio Pequeno e que sofriam com a ação dos
fazendeiros pecuaristas criadores de búfalo e com a pressão da SPVS, exercida
economicamente e também por sua guarda privada.
O processo de luta pelo território, com suas idas e vindas, opôs grupos sociais que
se posicionavam contra e a favor da criação do assentamento. O Conselho Gestor da APA
de Guaraqueçaba também foi pressionado e, numa votação importante para o processo,
se posicionou contra o início do processo da licença de instalação (ALMEIDA, 2007).
Os limites do presente trabalho não nos permite abordaro processo de
recuperação ecológica desenvolvido pelas famílias com a consolidação da ocupação. Em
Rossito (2020) encontramos uma análise que aborda a implantação das experiências
agroecológicas e agroflorestais, explica como as famílias foram superando diversos
6
limites herdados do latifúndio, como a infestação da brachiaria, o solo compactado, a
baixa cobertura vegetal e a erosão oriunda da retificação4 do Rio Pequeno. Os jovens do
assentamento realizaram cursos técnicos de agroecologia, na Escola Latinoamericana de
Agroecologia (ELAA), localizada no Assentamento Contestado, no município da Lapa,
Paraná. Paralelo à implantação da agroecologia foram se desenvolvendo iniciativas de
comercialização da produção, diretamente para a população do município mas também a
nível regional, através da comercialização institucional via Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Esses
programas, fundamentais para geração de renda das famílias de pequenos agricultores,
foram duramente reduzidos e prejudicados após o golpe de 2016. 
Mais informações sobre a evolução da produção agroecológica e o manejo das
agroflorestas, com volumes e quantitativos, encontramos em Relatório (2020). O
documentário “Agrofloresta é mais”, dirigido por Beto Novaes e produzido pela Fiocruz,
também apresenta as experiências desenvolvidas no José Lutzenberger.
Dezesseis anos depois, o Prêmio Juliana Santilli reconheceu esse processo de
produção agroecológica baseado na agrofloresta e articulado com a recuperação
ecológica da área do assentamento. Estudo da Universidade Federal do Paraná
(ANÁLISE, 2020), através de ferramentas de Sistema de Informações Geográficas (SIG),
utilizando-se do Software ArcGis 10.5 para criação das bases de dados (shape/raster),
comprovou a recuperação do componente florestal na área de abrangência do
assentamento.
2.1. Dinâmica da área com o latifúndio 2.2. Dinâmica da área com o assentamento
Figura 2.1. e 2.2. Dinâmica da área comparando o período em que estava sob domínio do
latifúndio, com uso da pecuária bubalina (2.1) com o período do Assentamento José Lutzenberger
(2.2).
4. As consequências ambientais da retificação do Rio Pequeno, que eliminou os meandros de seu
curso natural, é um dos pontos divergentes entre o IAP e o INCRA, conforme Harder e Freitas (2010).
7
Esse estudo indica que com as práticas das famílias assentadas a área ocupada
com brachiaria reduziu de 45,4 ha. para 21,4 ha. e a tendência, até então dominante, de
redução de florestas e aumento de área para pecuária inverte-se (ANÁLISE, 2020, p. 05).
Além da recuperação ecológica e da produção de alimentos saudáveis, sem o uso de
veneno, o assentamento tornou-se uma referência de valorização da cultura caiçara e
suas manifestações artísticas, como o fandango, conforme atestado em laudo
antropológico (DOMINGUES; COLEHO, 2020). Em novembro de 2019 realizou-se a
“Festa da Reforma Agrária: celebrando a cultura caiçara e camponesa”.
No Anexo apresentamos imagens do Google Earth de 2002 e de 2020, nas quais
também é visível o incremento florestal fruto da prática agroflorestal desenvolvida pelas
famílias que vivem no José Lutzenberger.
Até o momento o assentamento ainda não foi oficialmente criado e as famílias
encontram-se numa situação irregular, o que não lhes permite acessar os créditos e
apoios previstos no Programa de Reforma Agrária, como o fomento produtivo, o apoio a
construção de residência, o crédito de investimento, entre outros. Caso o assentamento já
estivesse oficialmente implantado, o processo de restauração ecológica estaria ainda
mais avançado. 
A burocracia e inoperância do Estado tem sido uma aliada importante do
Imperialismo Verde contra um projeto popular e autêntico, fincado em raízes caiçaras, no
coração da mata atlântica paranaense.
Contra o Imperialismo Verde aqueles que teimam em existir; que constroem com
calma, mas continuadamente, seu projeto de vida; que são resilientes porque sabem que
a vida é dura; que marcham passo a passo com a tranquilidade de quem, com a cabeça
erguida, mira o horizonte.
Bibliografia
AGROECOLOGIA É MAIS. Documentário. Direção Beto Novaes. 2018. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=HN_E0kJj_eo>. Acesso em: 10 ago. 2020.
ALMEIDA, Francieli Lisboa de. Sem terra na Mata Atlântica: a etnografia de um conflito 
socioambiental. Curitiba: Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Sociais 
da UFPR, 2007. 
ANÁLISE Assentamento José Lutzenberger. UFPR. 2020. (em finalização). Mimeo.
DIEGUES, Antonio Carlos Sant‟Ana. O mito moderno da natureza intocada. 6. ed. 
ampl. São Paulo: Hucotec: Nupaub-USP/CEC, 2008. 
8
DOMINGUES, Mestre Aorélio; COELHO, Karina da Silva. Laudo cultural sobre o território 
caiçara em defesa da regularização das terras do Acampamento José Lutzemberg, 
Antonina, Paraná, 2020. mimeo
FACCO, Vinicius Antonio Banzato. Alternativas aos impérios agroalimentares a partir do 
campesinato agroecológico: as experiências do acampamento agroflorestal José 
Lutzenberger (MST-Antonina/PR). Revista NERA, Presidente Prudente, Ano 18, nº. 29, 
pág. 70-100, jul-dez. 2015.
HARDER, Eduardo; FREITAS, Ana Elisa de Castro. A velada dimensão ambiental da 
função social da propriedade: rotinas administrativas e práticas coloniais no contexto do 
Estado brasileiro. In: SONDA, Claudia; TRAUCZYNSKI, Silvia Cristina (Org.). Reforma 
agrária e meio ambiente: teoria e prática no Estado do Paraná. ITCG: 2010, p. 159-178. 
IAP (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ). Listagem de RPPN´s estaduais. 2020. 
Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?
conteudo=1260>. Acesso em: 09 ago. 2020.
IAP (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ). Pagamento por serviços ambientais. 2020a. 
Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/pagina-1514.html>. Acesso em: 09 ago. 2020.
LENIN, Vladimir Ilitch. Imperialismo, estágio superior do capitalismo: ensaio popular. 
São Paulo: Expressão Popular, 2012.
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão 
Popular, 2011. 
OVERBEEK, Winfridus. Economia Verde no Brasil: a privatização da Mata Atlântica 
Projetos de REDD e áreas protegidas, e seus impactos sobre mulheres e homens em 
comunidades tradicionais no litoral do Paraná. 2012. Disponível em: 
<https://wrm.org.uy/pt/files/2012/11/Economia_Verde_no_Brasil_a_privatizacao_da_Mata_
Atlantica.pdf>. Acessado em: 08 ago. 2020.
PÁDUA, Maria Tereza. O fim da APA de Guaraqueçaba? 2006. Disponível em: 
<https://www.oeco.org.br/colunas/maria-tereza-jorge-padua/16284-oeco-18681/>. Acesso 
em: 09 ago. 2020. 
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter et al. Terra em transe: geografia da expropriação e 
da r-existência no campo brasileiro 2018. In: COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. 
Conflitos no Campo Brasil 2018. Goiânia: CPT Nacional, 2019. 
PRÊMIO Juliana Santilli Agrobiodiversidade. Disponível em: <http://www.juliana-
santilli.org/>. Acesso em: 09 ago. 2020.
RELATÓRIO socioambiental e econômico Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger
Antonina – Paraná. UFPR. 2020. (em finalização). Mimeo.
ROSSITO, Flavia Donini Cooperação agroecológica, natureza e gente. 2020. 164 f. 
Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) - Universidade Federal do 
Paraná, Curitiba, 2020.
9
Anexo. Comparativo da área antes e depois da ocupação e constituição do
Assentamento José Lutzenberger (Antonina, PR).
Ago/2002: Área sobre o domínio do latifúndio, única atividade é a criação de búfalos (Google Earth).
Jul/2020: Área sobre o domínio das famílias do Assentamento José Lutzenberger, atividades de agrofloresta,
produção de hortaliças e criação pequenos animais pela matriz agroecológica (Google Earth).

Mais conteúdos dessa disciplina