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LINGUAGEM JURÍDICA

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AULA 1 - LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL: RELEVÂNCIA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL
LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL
As investigações técnico-científicas sobre o fenômeno da comunicação verbal e não verbal são de grande valia para a compreensão dos relacionamentos interpessoais, como também de grande relevância na atuação de muitas áreas profissionais.
Uma das intuições mais fortes em matéria de linguagem verbal é a que se refere à sua capacidade de ser portadora de conteúdos. Com efeito, ainda que um conteúdo ou uma ideia possam se atualizar por meio de outras linguagens (pictórica, gestual, imagem), o verbal é sempre a materialidade privilegiada para esse fim.
Assim, percebemos a referida característica nos quesitos formulados, quando o esperado é que o perito se pronuncie a respeito de conteúdos efetivamente materializados pela palavra.
Em toda palavra, texto, ou outro objeto de discurso, existe uma significação explícita ou implícita e com a imagem ocorre o mesmo. Há imagens que não estão visíveis, porém sugeridas, implícitas a partir de um jogo de imagens previamente oferecidas.
O texto de imagens também tem na sua constituição marcas de heterogeneidade, como o implícito, o pressuposto, o subentendido, as inferências e o contexto. São marcas, porém, que não podem ser pensadas como vozes, porque analisar o não verbal pelas categorias de análise do verbal implicaria a redução de um ao outro.
Assim, ao se interpretar a imagem pelo olhar — e não por meio da palavra ― apreende-se a sua matéria significante em diferentes contextos. O resultado dessa interpretação é a produção de outras imagens (outros textos), produzidas pelo sujeito-espectador a partir do caráter de incompletude inerente ao discurso verbal e não verbal.
A interpretação do discurso não verbal se efetiva, então, por esse efeito de sentidos que se institui entre o olhar, a imagem e a possibilidade dos sentidos polissêmicos, a partir das formações sociais em que se inscreve tanto o sujeito-autor do texto não verbal quanto o sujeito-espectador.
LEITURA DE IMAGENS: APRENDER COM OLHOS DE VER
As linguagens têm muitos sentidos e, por vezes, são passíveis de muitas interpretações. Uma única imagem pode servir a múltiplos propósitos, aparecer em uma gama de diferentes situações, significar coisas diferentes para pessoas diferentes porque os papéis das imagens são múltiplos, diversos e complexos.
É preciso “praticar o olhar”, aprender a olhar com “olhos de ver”, porque o olhar é uma atividade que envolve uma grande quantidade de propósito e de direção, envolve aprender a interpretar.
A leitura de imagens como instrumento para a interpretação e para construção de descrição, narrativas e argumentações é de suma relevância, porque podemos considerar a imagem como fonte para o trabalho de reconstrução, pois valoriza os registros, os sinais, os vestígios, deixados pelo homem, permitindo, pois, a apreensão de seus significados.
Dessa forma, a leitura de imagens pode servir de suporte para a compreensão e descrição da cena de um crime e da produção de laudos criminais consistentes, convincentes e persuasivos, por exemplo.
Sendo assim, na leitura de uma imagem, diferentes interpretações podem surgir e o sujeito-espectador é levado a escolher a interpretação mais “adequada e coerente ao contexto em que se inscreve”.
Fazer essa interpretação requer um olho exercitado, capaz de confrontar a imagem com experiências vividas, mobilizar lembranças e testar a imagem mediante projeções tentativas.
Qualquer imagem admite uma interpretação em uma linguagem compreensível, revelando ao sujeito-espectador aquilo que podemos chamar de Narrativa.
FOTOGRAFIA FORENSE
A fotografia forense, também conhecida como fotografia de evidências, vem a cada ano ganhando papel de destaque no cenário pericial. Ela é útil e necessária a todos os peritos judiciais e criminais, independentemente de suas especialidades periciais, pois constitui uma excelente ferramenta de produção de prova, enriquecendo o laudo pericial e os pareceres técnicos elaborados pelos peritos.
IMPLÍCITOS: PRESSUPOSIÇÕES, SUBENTENDIDOS E INFERÊNCIAS
As imagens implícitas funcionam como pistas, favorecendo a compreensão da narratividade sem se ater exclusivamente ao verbal, mas buscando uma articulação em um plano discursivo não verbal e revelando a tessitura da imagem em sua heterogeneidade.
Os implícitos podem ser divididos em três categorias:
• Pressuposições;
• Subentendidos;
• Inferências.
Saber ler nas “entrelinhas” é articular os conhecimentos prévios às informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências (semânticas e/ou pragmáticas) autorizadas pelo texto.
Isso permite dar conta de ambiguidades, ironias, expressões figuradas, opiniões e valores implícitos, que são fenômenos que denotam as intenções do autor.
Um texto pode dizer muita coisa sem ser explícito. Cabe ao leitor detectar as informações que não são veiculadas linguisticamente, mas que estão no texto sob aspectos subentendidos ou pressupostos. 
PRESSUPOSIÇÃO E SUBENTENDIDO
Primeiramente, vamos analisar o que se entende pelo fenômeno da pressuposição, em contraste ao processo do subentendido.
Veja a imagem abaixo:
Fogaça quer ser prefeito novamente, mas a pergunta da personagem nos leva a compreender a crítica à má administração do prefeito, que, na verdade, não governou como deveria.
O subentendido do texto acima está no fato de o referido prefeito ter sido tão ausente em seu governo anterior que parecia ser sua primeira candidatura.
A crítica está na sua péssima atuação como prefeito. É como se ele não tivesse feito nada representativo e importante para a cidade.
Como você percebeu, o subentendido depende do contexto situacional para ser entendido e não apenas da decodificação da estrutura linguística.
Veja mais um exemplo:
Nesse caso, o amigo não respondeu à pergunta, mas, pelo contexto, pela situação, percebemos que não irá à festa, pois subentendemos que ele tem que cuidar da mãe.
Sua fala torna-se um indício para essa conclusão. O subentendido diferentemente do pressuposto, pode ser negado ou ignorado.
Agora vamos analisar a pressuposição, que é uma das formas de se dizer implicitamente alguma coisa que, uma vez sendo dita, não pode ser negada, pois se encontra inscrita na própria estrutura linguística.
Assim, em linguagem verbal, muito do sentido vem implícito na própria forma de expressão.
Ao dizer, por exemplo, que “ele deixou de beber”, já digo que “ele bebia antes” e que “já não bebe mais”.
O interessante a observar é que não se negam os pressupostos de uma frase, mesmo colocando-a na negativa.
Veja:
Paulo não bate mais na mulher.
Pressuposto: Ele antes batia na mulher.
Precisamos ficar atentos aos pressupostos de um texto, eles são fundamentais na sua interpretação.
Desse modo, a pressuposição é um mecanismo discursivo que permite ao leitor perceber certas palavras ou expressões contidas na frase, uma vez que são recuperadas as informações linguisticamente, isto é, elas são derivadas da decodificação de elementos do sistema linguístico.
Assim sendo, algumas palavras são ditas, outras são pressupostas e sua decodificação é essencial no ato da leitura.
POSTO E PRESSUPOSTO
Veja a frase a seguir:
O tempo continua nublado.
Podemos dizer que o posto é exatamente a informação explícita, que afirma que o tempo está, no momento da fala, nublado.
O verbo “continuar”, entretanto, passa uma informação implícita de que antes o tempo já estava nublado.
A essa informação que passa a ser percebida pelo leitor, a partir do posto, damos o nome de pressuposto.
INFERÊNCIAS
As inferências são processos cognitivos que implicam a construção de representação semântica, baseada na informação textual e no contexto, sendo justamente a capacidade de reconhecimento da intenção comunicativa do interlocutor, e mais precisamente do autor, no caso do texto escrito, que caracteriza o leitor maduro e, portanto, crítico, questionador e reconstrutor dos saberes acumulados culturalmente.
Por conseguinte, falando-sede uma perspectiva de leitura enquanto ato comunicativo e construtivo, que é a que tem sido considerada aqui, o leitor maduro é aquele que sabe utilizar adequadamente todas as informações disponíveis, estabelecendo ligações relevantes entre a informação textual e o seu conhecimento prévio, sem privilegiar ou desprezar qualquer desses canais de informação.
Na atividade de negociação, contextos cognitivos surgem e se modificam a cada momento da interação comunicativa, exigindo dos interlocutores uma constante revisão e ajustamento aos novos contextos (Koch, 2002), os quais, por sua vez, promovem a constituição do sentido e do sujeito, favorecendo a mudança, a transformação e a construção de conhecimento.
Veja um exemplo:
Imagens do circuito interno do condomínio, usadas na investigação, revelam Lucas Leite Ribeiro Porto, suspeito de matar sobrinha-neta de Sarney, chegando, e, posteriormente, descendo do nono andar pelas escadas. Ele não utiliza o elevador e desce correndo e com uma aparência de estar transtornado com algo.
A polícia ainda afirmou que Lucas tentou destruir provas que o ligassem à cena do crime, como apagar os registros de ligações do celular, se desfazendo das roupas. O suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto — sinais de que a vítima lutou contra o agressor.
LINGUAGEM NÃO VERBAL: VESTÍGIOS, EVIDÊNCIAS, INDÍCIOS, CIRCUNSTÂNCIAS
Crimes bárbaros acontecem diariamente no nosso país, nos quais, na grande maioria das vezes, os réus não confessam sua autoria. Desse modo, a perícia criminal tem o papel de investigar de maneira detalhada o caso, em uma descrição minuciosa e exaustiva, em busca da autoria do crime, do local em que o crime ocorreu, das causas, vestígios, sinais, indícios e circunstâncias em que o delito aconteceu.
VESTÍGIO:
Um vestígio seria o produto de um agente ou evento provocador. Nessa dinâmica, pressupõe-se que algo provocou uma modificação no estado das coisas de forma a alterar a localização e o posicionamento de um corpo no espaço em relação a uma ou várias referências fora e ao redor do dele.
O correto e adequado levantamento de local de crime, por exemplo, revela uma série de vestígios. Estes são submetidos a processos objetivos de triagem e apuração analítica dos quais resultam diversas informações.
EVIDÊNCIA:
Uma informação de relevância primordial é aquela que atesta ou não o vínculo de tal vestígio com o delito em questão.
Uma vez confirmado objetivamente este liame, o vestígio adquire a denominação de evidência.
Nas palavras de Mallmith (2007): “As evidências, por decorrerem dos vestígios, são elementos exclusivamente materiais e, por conseguinte, de natureza puramente objetiva”.
Portanto, evidência é o vestígio que, após avaliações de cunho objetivo, mostrou vinculação direta e inequívoca com o evento delituoso. Processualmente, a evidência também pode ser denominada prova material.
INDÍCIO:
Assim como ocorre com o vestígio, a origem da palavra “indício” significa “sinal, indicação, revelação, denúncia, descoberta, acusação, indício, prova”.
Entretanto, ao contrário do vestígio e da evidência, o indício apresenta uma conceituação legal prevista no Código de Processo Penal. Nesse sentido, indício seria uma circunstância conhecida, provada e necessariamente relacionada ao fato investigado, e que, como tal, permite a inferência de outra(s) circunstância(s).
CIRCUNSTÂNCIA:
O termo “circunstância” é aqui utilizado como expressão próxima, semanticamente, de “conjuntura”, como a combinação ou concorrência de elementos em situações, acontecimentos ou condições de tempo, lugar ou modo.
Considerando a definição legal, é de se reparar que um indício, sendo uma circunstância, autoriza a conclusão indutiva de outros indícios, também circunstanciais.
Nos termos da lei, a circunstância conhecida e provada seria uma premissa menor, ao passo que a razão e a experiência seriam uma premissa maior. Da comparação entre as premissas menor e maior emerge a conclusão indutiva de que trata o texto legal (MIRABETE, 2003).
Via de regra, essa premissa menor vem apresentada de forma objetiva por se tratar de “circunstância conhecida e provada”.
Agora veja o mesmo exemplo, com novos elementos:
Mariana Menezes de Araújo Costa Pinto foi morta, em 14/11/16, dentro do apartamento em que morava, e o principal suspeito é o seu cunhado Lucas Porto, casado com a irmã dela. Segundo o laudo pericial, ela morreu asfixiada por um travesseiro depois de ter sido estrangulada.
Imagens do circuito interno do condomínio, usadas na investigação, revelam o suspeito chegando, e, posteriormente, descendo do nono andar pelas escadas. Ele não utiliza o elevador. Ele desce correndo e com uma aparência de estar transtornado com algo. Segundo a polícia, ao ser preso, o suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto ― sinais de que a vítima lutou contra o agressor.
Nesse caso, o papel da perícia criminal é a busca da verdade “real” no processo, atuando não como auxiliar na justiça, mas, sim, como peça chave para a conclusão de um processo crime.
Em primeiro lugar, o perito deve definir a extensão do local onde o crime ocorreu. De acordo com o tipo de homicídio, a cena do crime pode não ser apenas o local onde a vítima é encontrada, mas também locais próximos à cena do crime, como a vizinhança.
Exemplo de investigação de crime – numeração de evidências.
Conservar o local do crime é importante para que se tenha sucesso no resultado final da perícia, pois o perito tem apenas uma única chance de realizar os procedimentos de maneira detalhada, pois, com o tempo, as provas são alteradas por vários fatores.
Veja:
A polícia ainda afirmou que o suspeito do crime Lucas Leite Ribeiro Porto tentou destruir provas que o ligassem a cena do crime, como apagar os registros de ligações do celular, se desfazendo das roupas. O suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto — sinais de que a vítima lutou contra o agressor.
· De modo geral, quem chega primeiro ao local é a polícia, isolando o lugar onde o maior número de provas certamente está concentrado.
· Com a chegada do perito, a área isolada aumenta, afastando os curiosos do local para que não inutilizem as provas deixadas nele.
· O perito inicia seu trabalho fazendo anotações de detalhes da cena do crime e do corpo das vítimas que podem ser alterados com o passar do tempo, mas que podem ser fundamentais para se chegar ao resultado final. Momento em que a linguagem não verbal, os vestígios, os implícitos e subentendidos são fundamentais para desvelamento do crime.
· Posteriormente, o perito conta com a ajuda de outros profissionais especialistas para ajudá-lo, de acordo com o tipo de prova encontrada no local durante o reconhecimento da área investigada.
· Vestígios como pingos de sangue requerem a análise de um profissional específico e não há como enviar uma amostra para o laboratório. Sendo necessária, assim, a presença do especialista.
O perito é, por vezes, solicitado a localizar no tempo certa comunicação verbal. No caso de uma demanda que também se encontra dentro das possibilidades do linguista, porque é possível, com efeito, recuperar, na materialidade linguística, traços indicativos de tempo (e também de espaço).
Em contrapartida, na hipótese de o quesito buscar saber se existem evidências digitais sobre o momento da gravação do áudio, tais como a data e a hora em que ocorreu a conversa, essa análise demandaria conhecimentos complementares na área de informática.
CUIDADOS COM O LOCAL DO CRIME
Para a produção da maioria dos laudos da perícia é preciso, antes de qualquer coisa, que o local do crime seja fotografado, analisado e feita a coleta de todos os vestígios necessários, que, posteriormente, serão submetidos a análises em laboratório.
Notamos, assim, que o elemento visual vai articular-se ao verbal de maneiras diferentes em cada enunciado, interferindo na forma de composição, no estilo e, consequentemente, nos temas produzidos.
São, portanto, projetos de construção de conhecimento verbo-visualmenteconstituídos e que estão presentes na área funcional ou de atuação em questão.
LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL: TÉCNICA DA ESCUTA ATIVA
A escuta não é apenas o calar-se diante do outro, mas acompanhar, acolher, compreender e, quando necessário, provocar a pensar, pensar junto com o outro.
É possível observar o quanto a escuta atenta, mas silenciosa, ou melhor, sem interferências, com imparcialidade, é importante na mediação de conflitos, não só para coletar dados ou fatos para maior clareza no entendimento da situação de conflito, mas também pela possibilidade de minimizar os conflitos em nosso mundo.
Em grande parte das vezes, para que a própria pessoa, ou parte envolvida no conflito, compreenda suas questões é necessário intervir na mediação de modo mais específico.
Nesses casos, o papel do mediador é provocar os conflitantes a pensar de que modo, em que, onde, quando e como se chegou àquele impasse. E levá-los a refletir, nos pontos que foram observados, e, a partir da historicidade daquela lide, como pontos importantes a ela talvez estejam até supervalorizados ou negligenciados.
Ou nos dados circunstanciais que talvez não estejam sendo considerados como de seu contexto, de modo que aquelas partes ou pessoas se sintam provocadas a pensar no conflito sob novos ângulos.
Destacamos que, a partir da iniciativa de promover a fala e a escuta recíprocas entre os envolvidos na lide, o mediador dá valor às ponderações das partes e as libera do hermetismo da linguagem jurídica, razão por que a simplificação da linguagem jurídica configura instrumento fundamental para o acesso à Justiça.
Uma técnica bastante interessante é que o mediador use o modo afirmativo para checar a compreensão de certas afirmações e seguir evoluindo na comunicação.
Ao parafrasear e resumir o que foi dito, o mediador permite que o interlocutor possa ouvir-se e perceber de forma clara o que expressou.
· Parafrasear é uma técnica que ajuda no entendimento do que está sendo dito pelo interlocutor. Se o mediador usar regularmente essa técnica, perceberá o quanto ela clarifica pontos e evita os desentendimentos, muito comuns em comunicação, porque, no parafraseamento, o mediador reformula a frases sem alterar o sentido com a finalidade de organizá-las, sintetizá-las.
· Assim como, a partir da formulação de perguntas, o mediador faz indagações pertinentes à compreensão do conflito para explorar soluções viáveis. Já quanto ao resumo, seguido de confirmação, permite que os mediandos observem como os seus relatos foram registrados.
LINGUAGEM NÃO VERBAL: MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
A linguagem corporal é um elemento fundamental para o sucesso de uma audiência de mediação.
Às vezes, esses gestos podem ser mais fortes do que discursos inteiros. A postura física, que pode ser encontrada em qualquer situação comunicacional comum, possui um grande poder na transmissão de uma mensagem e, por consequência, na empatia e persuasão de uma audiência de mediação.
Daí a força e os perigos de uma postura física enganosa, principalmente por parte do mediador.
Segundo os pesquisadores da linguagem, a utilização de gestos, expressões faciais e olhares causam mais reação no receptor do que a fala por si só.
Dessa forma, para que o emissor/mediador tenha um bom desempenho, é vital que todas essas formas de discurso, tanto oral quanto gestual, estejam em consonância, pois o poder da imagem é de grande relevância a respeito da importância do gestual, da postura, da expressão.
Devemos entender, então, a importância dos sinais externos, pois eles fazem parte da mensagem comunicada, incorporando-se a ela. Portanto, eles não podem contradizer o que exprimem as nossas palavras.
É sabido que os sinais externos são reflexos da alma da pessoa e, muitas vezes, recebem maior atenção do receptor do que o discurso falado. Daí a importância do mediador estar sempre atento entre a mensagem que busca transmitir e suas expressões, gestos e postura.
· A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, como gesticula e até a maneira como se veste nos dão informações preciosas.
· É necessário prestar atenção também ao som da voz do outro. É por meio da voz que expressamos alegria, desespero, tristeza, medo ou raiva.
· Às vezes, a maneira como uma pessoa usa sua voz nos dá muito mais informações sobre ela do que o sentido lógico daquilo que diz. Devemos também aprender a “ouvir” com nossos olhos.
O poeta Décio Pignatari costuma dizer que o homem precisa aprender a “ouviver”, verbo que ele inventou a partir de ouvir, ver e viver (SUAREZ, 1999, p.39).
LINGUAGEM NÃO VERBAL: MEDIADOR DE CONFLITO
No processo de resolução de disputa, o mediador é um modelo de comportamento para as partes e está, a todo o momento, ajustando a forma como as partes agem no processo por meio de suas próprias atitudes.
Portanto, o mediador deve se preocupar não apenas com a forma como ele fala, mas também com os outros elementos da comunicação que podem infundir nas partes sentimentos que alterarão seu comportamento.
O modo como o mediador se apresenta, o ambiente propiciado por sua atuação, sua linguagem corporal, todos esses elementos têm importância e devem ser observados.
Os gestos, se bem utilizados, podem evitar situações desagradáveis ou repetições desnecessárias.
Em vez de o mediador chamar a atenção de uma parte repetidas vezes, sempre que esta interrompe a fala da outra parte, basta um simples gesto com a mão, acompanhado de uma amena expressão facial, para que a parte entenda que naquele momento não deve interromper. Devem ser evitados gestos bruscos, hostis ou excessivamente enérgicos.
A comunicação não verbal é tão importante quanto a comunicação verbal, principalmente em relação ao rosto, cuja capacidade de expressão é extremamente significativa.
O psicólogo norte-americano Paul Ekman declarou que o rosto humano é capaz de exibir mais de dez mil expressões. O rosto é um verdadeiro laboratório da psicologia das emoções e ser capaz de elaborar o seu mapa, a sua geografia, não está dissociado de outras dimensões da linguagem corporal, como o comportamento espacial, o contato corporal, a distância interpessoal, a orientação, os gestos típicos, a postura e o próprio olhar.
Observe:
A série “Lie to me” traz as investigações de uma equipe formada por especialistas em detectar mentiras. As mínimas expressões e gestos são interpretados por esses cientistas do comportamento, que prestam seus serviços para diversas entidades como o FBI, a polícia, empresas particulares ou, algumas vezes, pessoas que estejam dispostas a descobrir a verdade sobre o que alguém pode estar escondendo.
AULA 2 - SIMPLIFICAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA E QUALIDADES DA COMUNICAÇÃO ESCRITA
LINGUAGEM JURÍDICA SIMPLIFICADA: MEDIAÇÕES DE CONFLITO E PERÍCIA CRIMINAL
O ato de escrever, além de ser uma exigência social, representa, para a área jurídica, uma exigência profissional específica.
Em outros termos, escrever com clareza, objetividade e simplicidade constitui um pré-requisito fundamental para o processo de formação em quaisquer carreiras jurídicas.
O próprio Ministério da Educação, em documento referente ao desenvolvimento das habilidades necessárias à formação jurídica, destaca como prioridade a leitura crítica, a interpretação e a escrita.
Desde a década de 1980, a Língua Portuguesa de uso jurídico está sendo posta em questão por seus próprios usuários. Muitos deles têm procurado conferir a essa modalidade de uso uma nova expressividade que recusa, entre outros aspectos, a retórica vazia, o vocabulário erudito e tortuoso à inteligibilidade ou o emprego de jargões e clichês envelhecidos e sem qualquer função, a não ser, é claro, a de acumular a poeira do tempo, defendendo, assim, a necessidade urgente da simplificação da linguagem jurídica.
O importante no texto não é a sofisticação da linguagem, mas a clareza, a concisão, a qualidade dos argumentos apresentados, organizados mediante um raciocínio lógico e coerente, originados de uma seleção madura de fatos relevantes que compõem o casoconcreto.
Linguagem clara, portanto, é qualidade fundamental: um documento redigido sem omissão de qualquer palavra ou sem uso de sinais ou palavras que tragam sentido somente compreensível para determinado grupo de pessoas.
Os termos jurídicos são um desafio para o conhecimento dos leigos, que se veem obrigados a traduzir, literalmente, as expressões usadas pela Justiça.
Quem não for da área jurídica terá sérias dificuldades em entender termos técnicos, específicos, inclusive, na maioria das vezes, já ultrapassados, trazidos do Direito Romano, há séculos.
Esse estilo rebuscado, apelidado de juridiquês, em vez de permitir o entendimento sobre o assunto, bloqueia qualquer possibilidade de conhecimento.
Termos e expressões latinas, que não pertencem ao domínio comum, continuam sendo usados frequentemente, e o jovem advogado, que nunca estudou latim, muitas vezes os utiliza de forma equivocada, ou com erros de grafia, flexões ou declinações, justamente por confiar em determinados textos publicados.
Por desconhecer por completo a língua latina, falta-lhe informação precisa sobre aquele idioma, e termina apenas fazendo uma cópia mecânica da fonte pesquisada, sem condições para perceber se o termo está corretamente empregado ou não.
Aliás, esses deslizes são até previsíveis, porque ninguém deve escrever em uma língua que não domine, ou seja, na qual não tenha a mínima noção gramatical.
A atual geração, realmente, quaisquer que sejam os seus talentos, não pode se esquivar das condições externas que determinam as mudanças necessárias ao uso da linguagem, para que não aconteça o que já nos pontuou Machado de Assis (1992), em D. Casmurro:
Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.
Com a intenção de aproximar o Poder Judiciário da sociedade brasileira devemos, portanto, primar pela simplificação da linguagem jurídica, evitando, principalmente, o formalismo e a retórica tradicional, repleta de expressões rebuscadas.
Entretanto, quando primamos pela simplificação da linguagem jurídica, não estamos defendendo a vulgarização dela, nem tampouco estimulando o desuso de termos técnicos necessários para o seu contexto, mas, sim, combatendo uma série de excessos que podem ser banidos sem prejuízo algum, para facilitar o entendimento do cidadão.
Qualidades da comunicação escrita
Antes de discorrermos acerca de um assunto tão importante, convidamos você a ler o poema do mestre João Cabral de Melo Neto¹ que, por meio de uma metalinguagem, cumpre bem seu trabalho de lidar com as palavras e deixar claro para nós, leitores, quão grandioso é o exercício da escrita.
Catar feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar² 
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
(¹ João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife, Pernambuco, em 09/01/1920 e faleceu em 09/10/1999.)
(² Recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas.)
Agora observe:
Graciliano Ramos³ sobre a arte de escrever
Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
RAMOS, Graciliano. Linhas Tortas- Crônicas. 1962.
(³ Graciliano Ramos nasceu em 27/10/1892, em Quebrângulo, Alagoas, e faleceu em 20/03/1953.)
Você perceberá que, de uma forma bem concisa, sintética, seca, objetiva e precisa, os escritores João Cabral e Graciliano Ramos fazem a comparação do gesto de escolher feijão ou de ensaboar, lavar e torcer as roupas com o de escrever.
Esses dois textos literários, um na poesia, e outro, na prosa, equivalem a uma verdadeira aula sobre o cuidado na escolha das palavras para fazer a construção e a lapidação de um texto.
QUALIDADES DA COMUNICAÇÃO ESCRITA: CLAREZA, CONCISÃO (OBJETIVIDADE), ADEQUAÇÃO OU PRECISÃO VOCABULAR, CORREÇÃO GRAMATICAL
A língua escrita, como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça.
Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos.
A redação formal é orientada pelos princípios básicos da clareza, da correção, da coerência, da objetividade e da ordenação lógica.
Sabemos que o texto escrito requer algumas qualidades específicas e isso se justifica por várias razões:
1. Uma delas se refere ao fato de a escrita atravessar o tempo e o espaço, documentando fatos, registrando acontecimentos.
2. A outra é que a língua escrita tem uma organização específica, a qual irá se adequar ao gênero em que o texto é produzido, à situação de comunicação a que se vincula, à formalidade dessa situação, à interação que ele instaura.
Diante dessa complexidade de fatores, abordaremos, agora, as qualidades fundamentais da comunicação escrita, como:
· Simplicidade;
· Clareza;
· Concisão (objetividade);
· Adequação ou precisão vocabular;
· Correção gramatical (Regência verbal e nominal, crase, concordância nominal e verbal, emprego de pronomes relativos).
SIMPLICIDADE
Escreva com simplicidade. Não empregue palavras complicadas ou supostamente bonitas. Escrever bem não é escrever difícil. O vocabulário deve adequar-se ao tipo de texto que pretendemos redigir.
No nosso caso, só trabalhamos com a linguagem padrão, aquela que a norma culta exige quando vamos tratar de algum problema de grande interesse para leitores de bom nível cultural. Dela deverão ser afastados erros gramaticais, ortográficos, termos chulos, gíria, que não condizem com a boa linguagem.
Analisemos as inadequações neste exemplo:
Os grevistas refutaram o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara os prolegômenos dos novos índices, os trabalhadores faziam do lado de fora o maior auê, achando que o governo não estava com nada.
É preciso termos muito cuidado com as palavras. Nem sempre elas se substituem com precisão.
Empregar refutar por rejeitar, prolegômenos por exposição não torna o texto melhor. Não só palavras “bonitas” prejudicam esse texto, mas também a gíria (auê) e expressões coloquiais (não estava com nada).
O texto poderia ser reescrito da seguinte forma:
Os grevistas rejeitaram o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara a exposição dos novos índices, os trabalhadores faziam do lado de fora uma grande manifestação.
CLAREZA
O primeiro passo para atingirmos a clareza é a utilização de palavras simples.
Escrever bem não significa escrever “bonito” ou escrever “difícil”. Escrever bem é escrever de forma que todos entendam.
Texto não se mede também pela sua extensão, mas sim pela sua qualidade escrita.
Não devemos confundir simplicidadecom vulgarismo. Palavras e expressões populares são inadequadas ao texto escrito. Não é uma simples questão de certo ou errado. Devemos tratar o assunto como adequação ou inadequação ao nível de linguagem e à situação comunicacional.
O texto escrito com palavras conhecidas é mais transparente e legível. Ao contrário do texto que tem palavras difíceis porque se torna confuso, de difícil compreensão.
É importante que o leitor entenda o que o texto quer passar instantaneamente. Isso faz com que ele continue a leitura até o final.
ORDEM DIRETA: SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS
Se hoje o objetivo principal é a clareza da frase ou do enunciado, é preferível também o uso de frases curtas, em ordem direta:
Sujeito + verbo + complementos
Construir uma frase invertendo a posição natural dos termos da oração não é inadequado, mas dificulta a leitura e, consequentemente, o entendimento do texto.
Em nome da clareza, devemos, pois, fazer uso da ordem direta, ou seja, o sujeito deve ser colocado antes do predicado e, em outros casos, a oração principal antes da subordinada, pois as informações mais importantes devem vir no início da frase.
PERÍODOS CURTOS OU FRASES CURTAS
Os períodos curtos são mais fáceis de ler e não cansam, enquanto o período longo é exaustivo, complicado e enfadonho.
Alguns períodos, de tão longos, se tornam ininteligíveis. O leitor tem de reler, voltando ao lido para entender a ideia central do texto, o que pode fazê-lo desistir da leitura.
Uma frase ou período de boa extensão evita que nós nos percamos na produção do nosso texto.
Exemplo
A crise de abastecimento de álcool não é apenas resultado da incompetência e irresponsabilidade das agências governamentais que deveriam tratar do assunto, pois ela também foi causada por outro vício de origem que foi no primeiro caso os organismos do governo encarregados de gerir os destinos do Proálcool que foram pouco a pouco sendo apropriados pelos setores que eles deveriam controlar, se transformando em instrumento de poder desses mesmos setores que por meio deles passaram a se apropriar de rendas que não lhe pertenciam.
Na realidade, nesse caso, quando chegamos ao final da frase, não lembramos o que estava no seu início. Por isso, antes de tudo, devemos ver quantas ideias existem no texto escrito e separá-las.
Sabendo disso, reescreva o parágrafo de forma a torná-lo mais conciso e/ou objetivo:
- A crise no abastecimento do álcool não resulta apenas da incompetência e da irresponsabilidade do governo. Ela é também causada por certos vícios que rondam o poder. Os órgãos responsáveis pelo destino do Proálcool se eximem de controlá-lo com rigor. Disso resulta uma situação estranha: os órgãos do governo passam a ser dominados justamente pelos setores que deveriam controlar. Transformam-se assim em instrumentos de poder de usineiros que se apropriam do erário.
EMPREGO EXAUSTIVO DE GERÚNDIO
O contribuinte brasileiro está precisando receber um melhor tratamento das autoridades fiscais, sendo ele vítima constante de um Leão sempre descontente de sua mordida, não se sentindo a salvo e sendo sempre surpreendido por novas regras, novas alíquotas, assaltando, o seu bolso.
Observamos que, além de constituir um recurso estilístico inadequado, o gerúndio promove ambiguidade e defeitos de conexão, caso não seja empregado com propriedade.
Reescreva o período abaixo, eliminando o gerúndio em busca de maior clareza textual:
- O contribuinte brasileiro precisa receber um melhor tratamento das autoridades fiscais. Ele é vítima constante de um Leão sempre descontente de sua mordida, não há ano em que se sinta a salvo. É sempre surpreendido por novas regras, novas alíquotas, novos assaltos ao seu bolso.
EVITAR AMBIGUIDADES
A presença de passagens ambíguas frequentemente provoca dificuldades de compreensão de um texto, portanto elas devem ser evitadas.
A interpretação ambígua pode ser desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação precisa de seu referente no texto. Assim, o enunciado é ambíguo quando for susceptível de duas ou mais interpretações: é a dúvida sobre a intenção de significação do emissor por corresponder a várias proposições diante de valores de verdade diferentes.
Analisemos o exemplo a seguir:
A frase “Eu vi o desmoronamento do barracão” pode ser lida em dois sentidos, dependendo da relação que se estabeleça para a expressão “do barracão”:
· Eu vi quando o barracão desmoronou - Nesse caso, “do barracão” refere-se a “desmoronamento”; ou
· Eu estava no barracão e, de lá, vi o desmoronamento da casa, do prédio, do morro - Nesse caso, “do barracão” refere-se ao verbo “ver”.
Há algumas palavras propícias para gerar ambiguidade e o pronome relativo é uma delas, assim como o possessivo. A função do “que”, por exemplo, é retomar um termo ou expressão mencionada anteriormente na frase, mas o problema é que, às vezes, pode haver duas possibilidades de retomada.
Razão por que não é incomum o resultado de um mau uso desse pronome gerar interpretações problemáticas.
Analisemos o exemplo abaixo:
Pai de namorado de Diana, que também morreu no acidente em Paris, em 1997, rejeita o relatório.
O relatório, feito pela polícia britânica, concluiu que a princesa Diana morreu vítima de um acidente automobilístico. O texto descartou a possibilidade de assassinato (hipótese que era investigada até então).
O problema que a frase suscita é: quem morreu com Diana no acidente em Paris? O namorado ou o pai do namorado?
Percebemos que o trecho permite as duas leituras.
Às vezes, é difícil é reescrever orações desse tipo. A melhor alternativa é quebrar o enunciado em duas frases, nem que seja necessário repetir palavras em nome da clareza, e uma das possibilidades seria:
Pai do namorado de Diana rejeita o relatório que investiga a morte da princesa em Paris, em 1997. No acidente, morreram ela e o namorado.
Certamente há outras possibilidades de reescrita. Contudo, e importante é tomar cuidado para evitar o duplo sentido.
Veja outro exemplo:
Assim que se encontrou com Beatriz, Pedro fez comentários acerca de seus resultados no processo avaliativo.
Há uma falta de clareza em relação ao uso do pronome “seus”, já que os comentários feitos por Pedro podem estar se referindo aos resultados de Beatriz, aos resultados dele, ou até mesmo ao resultado de ambos.
Melhor seria dizer:
Assim que se encontrou com Beatriz, Pedro fez comentários acerca dos resultados dela no processo avaliativo.
EVITAR ORAÇÕES INTERCALADAS
Ainda em nome da clareza, devemos evitar a construção de orações intercaladas desnecessárias, porque alongam a frase e separam palavras que se complementam, dificultando o entendimento do texto.
As intercalações aceitáveis são sempre curtas com função de interação social com o leitor ou esclarecimentos, como nestes exemplos:
Podemos notar, pelos exemplos citados, que as orações intercaladas têm uma análise totalmente à parte, porque não mantêm nenhuma relação sintática no período.
Preferir frases longas não é “inadequado”. O problema é que as frases longas dificultam a compreensão imediata, são mais difíceis de ser pontuadas (principalmente quanto ao uso da vírgula) e exigem um cuidado maior com a concordância.
A frase construída em ordem direta (sujeito + verbo + complementos) facilita a compreensão do leitor.
Construir uma frase invertendo a posição natural dos termos não é “inadequação”, mas certamente dificultará a leitura. Logo, se o nosso objetivo principal é a clareza da frase, devemos optar pelo uso de frases curtas, em ordem direta.
PRECISÃO E ADEQUAÇÃO VOCABULAR
Muitas palavras podem assumir significados diferentes, segundo o contexto em que estão inseridas.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade em Procura da poesia: “cada uma (a palavra) tem mil faces sob a face neutra”.
Isso quer dizer que, por meio do contexto, podemos atribuir significados diferentes a uma mesma palavra.
Agostinho Dias Carneiro (2001, p. 66) descreve seis critérios de adequação vocabular, listados a seguir:
ADEQUAÇÃO AO REFERENTE:
Esse critério baseia-sena utilização de vocábulos gerais em frente a vocábulos específicos.
O exemplo que o autor dá é a palavra “ver”, que tem emprego mais amplo que observar, contemplar, distinguir, espiar, fitar.
Ao se dizer, por exemplo, “Paulo estava muito triste com a separação, por isso, foi à praia, sentou-se na areia e viu o sol.”, certamente causaremos estranhamento no interlocutor.
Mas se dissermos “Pedro estava muito triste com a separação, por isso foi à praia, sentou-se na areia e contemplou o sol.”, não haverá nenhum problema na comunicação, pois houve adequação quanto ao uso do vocábulo.
ADEQUAÇÃO AO PONTO DE VISTA:
Nesse elemento serão levados em consideração os vocábulos positivos, neutros e negativos.
Em “Você me deu um café gelado.”, a palavra “gelado” assume valor negativo.
Assume valor positivo, entretanto, em “Depois do trabalho vamos tomar uma cerveja gelada?”
ADEQUAÇÃO AOS INTERLOCUTORES:
Há, nesse critério, quatro tipos de seleção vocabular:
· Quanto à atividade profissional, com o uso dos jargões;
· Quanto à imagem social de um dos interlocutores, ou seja, um chefe de Estado se expressa da forma que se espera de alguém que ocupa tal cargo;
· Quanto à idade, com o uso de vocábulos modernos (luminária) ou antigos (abajur);
· Quanto à origem dos interlocutores, com emprego do vocábulo regional (piá ― criança).
ADEQUAÇÃO À SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO:
Refere-se, esse critério, ao uso de vocábulos formais ou informais e ainda aos estrangeirismos.
Lembrando que palavras estrangeiras devem ser grafadas entre aspas nas redações e só devem ser usadas quando necessárias, ou melhor, quando forem importantes para o entendimento. Em uma situação de estilo ou quando não houver palavra equivalente na Língua Portuguesa.
ADEQUAÇÃO AO CÓDIGO:
É relevante, para esse critério, a correção não só ortográfica, mas também semântica, respeitando os significados dicionarizados.
Em busca de maior precisão e adequação vocabular, devemos usar as palavras no seu sentido literal, respeitando as acepções registradas em nossos dicionários, evitando-se palavras em sentido figurado.
Sobre o uso de estrangeirismos, gírias e termos técnicos, destacamos que o ponto de partida para uma comunicação efetiva é a clareza. Portanto, se precisarmos de uma palavra que não seja de conhecimento da maioria, podemos até usá-la, mas não deixaremos de explicá-la, pondo sempre a clareza acima de tudo.
ADEQUAÇÃO AO CONTEXTO:
As situações textuais revelam-se nas relações desenvolvidas entre as palavras do texto.
Por exemplo:
· Se há relação de causa e consequência – tropeçar/cair;
· Se há relação de finalidade – livro/estudar;
· Se há relação de parte e todo – rei/xadrez;
· Se há relação de sinonímia – aroma/perfume;
· Se há relação de antonímia – entrar/sair;
· Se há relação de unidade e coletivo – livro/biblioteca;
· Se há relação de objeto e ação – cadeira/sentar;
· Se há relação simbólica – pomba/paz.
O uso do vocábulo fora de um desses critérios e, até em critério inadequado à situação, será inadequado.
Na redação formal, as palavras têm, geralmente, conotações próprias.
A substituição de uma palavra por outra, aleatoriamente, pode comprometer o entendimento da mensagem. Devemos evitar, nesse tipo de redação, palavras e expressões vagas.
O problema surge quando, no momento da redação, temos a ideia, mas não a palavra exata para a sua expressão.
Toda ideia exige palavra própria. Portanto, na série de sinônimos e parônimos, por exemplo, podemos escolher a palavra ou grupo de palavras que melhor se ajuste àquilo que desejamos e precisamos exprimir.
CONCISÃO (OBJETIVIDADE)
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras de forma objetiva e direta.
Concisão é, pois, antônimo de prolixidade (escrever o desnecessário).
Em nome da concisão, devemos evitar:
· A repetição de palavras;
· As redundâncias;
· O desnecessário.
Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
Percebemos certa hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias secundárias.
As secundárias podem esclarecer o sentido das fundamentais, detalhá-las, exemplificá-las. Porém, existem também ideias secundárias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.
Santa Teresa de Ávila (1515-1592) dizia: “Livra-me, Senhor, da tolice de querer contar todos os detalhes; dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa”.
Desse modo, a concisão consiste em apresentar um texto que consiga transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras.
Ser conciso, no entanto, não significa que se vá eliminar passagens substanciais do texto, no intuito de reduzi-lo em tamanho, mas trata-se, exclusivamente, de evitarmos os circunlóquios ou perífrases, as palavras inúteis, redundâncias ou pleonasmos, passagens que nada acrescentam ao que já foi dito.
Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras.
Para que redijamos com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que, muitas vezes, se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
Acrescentamos, ainda, que devemos priorizar sempre as palavras com o menor número possível de sílabas em busca de um texto mais enxuto, conciso.
O estilo deve ser o mais objetivo possível (impessoal), evitando-se o subjetivismo (marcas pessoais) e tudo o que possa dificultar a progressão do pensamento.
Vamos analisar, agora, os três exemplos abaixo, reescrevendo-os de forma concisa e clara, selecionando apenas as informações essenciais.
Exemplo 1
É uma triste realidade — tradicional e costumeira ― que a diversão popular (e ela abrange várias modalidades circunscritas a épocas ou regiões diversas) geralmente é oferecida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga), visando não ao objetivo precípuo da diversão — dar lazer a quem dele necessite —, mas sim visando a uma alienação dos seres pensantes em relação à situação política vigente, a fim de que eles não pensem na fome, na miséria e na injustiça, suas companheiras de infortúnio e dor.
Percebemos que o texto acima é prolixo, trazendo muitas informações desnecessárias, dificultando o entendimento textual. A prolixidade é uma característica muito negativa no texto escrito, deve, pois, ser evitada.
Melhor dizermos:
A diversão oferecida ao povo visa, em geral, à alienação política.
Exemplo 2
Os empregados pediram ao diretor que não ajudasse os empregados, mas o diretor não permitiu que os empregados elaborassem os projetos sozinhos.
Melhor dizermos:
Os empregados pediram ao diretor que não os ajudasse, mas ele não lhes permitiu que elaborassem os projetos sozinhos.
Exemplo 3
No caso de um grande número não ter a capacidade de chegar a uma decisão, é preferível que, em data posterior, um pequeno número leve a efeito a tentativa de resolução do problema.
Melhor dizermos:
Se muitos não decidirem, é preferível que, em data posterior (após, depois), poucos tentem resolver o problema.
Em síntese, afirmamos que o texto conciso é aquele que transmite o máximo de informações com o mínimo de palavras.
O esforço de concisão atende ao princípio da economia linguística, ou seja, ausência de palavras supérfluas, redundâncias, passagens que nada acrescentam ao que já foi dito.
Enfim, aqui fica uma sábia lição do jesuíta espanhol Baltasar Gracián y Morales, da obra A arte da prudência, escrita em 1647:
CORREÇÃO GRAMATICAL
É fundamental escrever em linguagem correta, que observe as regras gramaticais básicas. Caso contrário, o leitor, se tiver razoável conhecimento do idioma, logo perceberá a insegurança do produtor do texto e não confiará no texto que está lendo.
Se o leitor não confia em quem escreve, fica incompleta a comunicação emissor-receptor e ambos perdem tempo.
Sendo assim, escrever com correção gramaticalé ter domínio das normas gramaticais, a saber:
· Concordância nominal e verbal;
· Regência nominal e verbal;
· Crase;
· Pontuação;
· Flexão de nomes e verbos;
· Posicionamento de pronomes átonos;
· Ortografia das palavras;
· Uso de letras maiúsculas e minúsculas;
· Acentuação gráfica.
Poderia ser adotada a forma:
· Não saí de casa não só porque estava chovendo, mas também porque era ponto facultativo; ou
· Não saí de casa por estar chovendo e também por ser ponto facultativo.
EMPREGO EXAUSTIVO DO CONECTIVO “QUE”
É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam corrigidas as provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem providências que forem julgadas necessárias.
Melhor dizermos:
É indispensável conhecer o critério adotado para a correção das provas realizadas ontem, a fim de se tomarem as providências (julgadas) necessárias.
AULA 3 - COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS: MECANISMOS DE COESÃO
COERÊNCIA TEXTUAL
É o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à:
• Inteligibilidade do texto, em uma situação de comunicação; e
• Capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto.
Esse sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.
Portanto, a coerência de um texto não está propriamente no texto, ou na simples organização linguística, é uma qualidade que se constrói na leitura e interpretação dos textos, sejam eles verbais ou não verbais.
Por isso, diferentes leitores, com diferentes informações prévias, com diferentes visões de mundo, podem atribuir níveis de coerência diferentes ao mesmo texto.
A coerência, na verdade, é princípio de interpretabilidade, um fio condutor para a leitura e a interpretação do texto.
COESÃO TEXTUAL
A coesão textual, de acordo com Koch (2012), é um princípio de construção textual que se refere à maneira como os elementos linguísticos encontram-se interconectados no texto, por meio de recursos que são também linguísticos, formando uma unidade superior à frase.
Embora a coesão não seja condição nem necessária e nem suficiente para a criação da coerência, seu uso adequado confere maior legibilidade ao texto, visto que articula elementos que o compõem, criando sentidos em sua superfície.
Há uma relação estreita entre a sequenciação textual e os vários modos de organização do texto.
Por exemplo, vamos analisar a diferença entre os textos descritivos, argumentativos e narrativos:
Ainda em relação à coesão, assinalamos que os conectores coordenativos (conjunções e locuções coordenativas), assim como as formas verbais pretéritas, advérbios e locuções adverbiais, modalizadores, são fundamentais para garantir as relações de sentido (de coerência) entre os fatos narrados e descritos.
Isso ocorre porque os parágrafos e as sequências textuais temporais, construídos no corpo textual da narrativa, contribuem não só para a coesão, mas também para a coerência, isto é, para melhor interpretabilidade do texto.
Percebemos que a relação entre coesão e coerência é muito forte porque a coesão é fundamental a qualquer tipo de texto e é construída pelos procedimentos linguísticos que estabelecem relações de sentido entre segmentos do texto (enunciados ou parte deles, parágrafos, sequências textuais) e o uso adequado dos elementos coesivos no texto é de grande relevância para que o leitor possa construir a coerência, isto é, estabelecer um sentido diante de um texto.
Assim, a coesão e a coerência caminham juntas no processo da compreensão e interpretação do texto, mas, em certos contextos de comunicação, a coesão gramatical não é necessariamente uma condição para o cálculo do sentido. Há textos destituídos dos elementos coesivos que permitem a compreensão, por meio da interação entre locutor e interlocutor.
Analisemos, agora, o texto “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos¹ para melhor entendimento do conteúdo desta aula.
(¹ Ricardo Ramos nasceu em 1929 em Palmeira dos Índios, no estado de Alagoas. O sobrenome herdou-o do escritor Graciliano Ramos, seu pai, do qual é o quinto filho ― o primeiro do casamento com Heloísa de Medeiros Ramos;
Durante toda a vida Ricardo Ramos dedicou-se ao ofício de escrever, em frentes diferentes. Foi publicitário, mais especificadamente redator, e também um contista de respeito no meio literário. Ganhou vários prêmios, dentre eles o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, o Guimarães Rosa, no IV Concurso Nacional de Contos do Paraná, e o da Câmara Municipal de São Paulo, dentre outros.)
Circuito fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Comentando o texto “Circuito fechado”
O texto não apresenta falhas de compreensão, mesmo não apresentando elementos que articulem as ideias.
Podemos entendê-lo, visto que a reiteração dos substantivos indicam a rotina de um dia de trabalho de um homem adulto e fumante. Compreendemos a relação entre o homem automatizado e a vida urbana ordinária sob o capitalismo na modernidade.
Logo, o texto não é coeso, mas é coerente.
Além disso, os próprios sinais de pontuação, como ponto e vírgula, organizam o texto, tornando-o coerente.
MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL
Estudaremos agora os dois mecanismos de coesão.
COESÃO REFERENCIAL
A coesão referencial é a que se estabelece entre dois ou mais componentes da superfície textual que permitem recuperar um mesmo referente.
COESÃO SEQUENCIAL
A coesão sequencial é aquela que diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem diversos tipos de interdependência semântica e/ou pragmática entre enunciados (ou partes de enunciados) à medida que se faz o texto progredir. Em termos de estrutura informacional, a primeira está ligada ao dado, a segunda, ao novo.
Vamos analisar o exemplo a seguir:
Notamos na frase “Senhor, o índice de violência cresceu tanto, que já não há mais espaço no gráfico para apontá-lo” a presença de dois mecanismos coesivos: o conectivo “que”, estabelecendo uma relação de consequência entre as orações, e a forma verbal junto ao pronome oblíquo “apontá-lo”, recuperando a expressão “índice de violência”.
Vamosà análise de mais um texto:
“As crianças brincavam depois da última aula de sexta-feira e todas estavam reunidas no parquinho. Corriam, desciam escorregadores, subiam no pula-pula, giravam no roda-roda e, indiferentemente à chuva que se anunciava, elas continuavam se divertindo. Tudo o que elas queriam fazer era isto: brincar até que a luz do dia, mesmo que nublado, permitisse. Os pequenos estavam muito ocupados em se divertir e não perceberam o que estava por vir: uma chuva torrencial. Apanhados de surpresa, abandonaram o lugar de tanta diversão e foram correndo para suas casas, a fim de se protegerem.
A chuva perdurou por horas, chuva pesada, parecia até que o mundo desabaria naquele dia, descartando assim qualquer possibilidade de retorno ao parquinho. Para tristeza geral da criançada, a chuva insistente levou dois dias para decidir ir embora, o que manteve meninos e meninas presos em suas casas durante todo o final de semana.”
Fonte: Texto com adaptações. PEREZ, Luana Castro Alves. Referenciação.  Brasil Escola. Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/redacao/referenciacao.htm. Acesso: 31 out. 2016.
No texto em análise, podemos perceber que há a presença do mecanismo de coesão por referência.
Vimos que a referenciação ocorre, basicamente, por meio de dois movimentos:
• Retrospectivo (anáfora/para trás); e
• Progressivo (catáfora/para frente).
PROGRESSÃO TEXTUAL: COESÃO SEQUENCIAL
Um dos mecanismos da sequenciação relevante para o desenvolvimento é o encadeamento. Ele permite estabelecer relações semânticas e/ou discursivas entre orações, enunciados ou sequências maiores do texto, que faz o texto avançar, garantindo-se a continuidade dos sentidos.
Esse encadeamento pode ser obtido por:
JUSTAPOSIÇÃO
A justaposição pode dar-se com ou sem o uso de partículas sequenciadoras.
A justaposição sem partículas, no texto escrito, por exemplo, extrapola o âmbito da coesão textual, que, como visto, diz respeito ao modo como os componentes da superfície textual se encontram conectados entre si por meio de elementos linguísticos. Inexistindo esses elementos, cabe ao leitor construir a coesão do texto, estabelecendo mentalmente as relações semânticas e/ou discursivas.
O texto “Circuito Fechado”, de Ricardo Ramos, que analisamos nesta aula, é um exemplo disso. Nesse texto, o simples ordenamento pode servir para orientar a progressão temática. Dizemos, então, que a justaposição deve ser considerada uma das formas de coesão sequencial.
Com isso, se a justaposição for obtida sem partícula ou conector, em seu lugar, na escrita, usaremos os sinais de pontuação (vírgula, ponto e vírgula, dois pontos) e, na fala, as pausas.
Se a justaposição, porém, for obtida com partículas, teremos um sequenciamento coesivo entre porções maiores ou menores da superfície textual.
CONEXÃO
Agora, vamos analisar o mecanismo de coesão sequencial por conexão no parágrafo argumentativo abaixo:
“As declarações da ofendida, além de contraditórias e mentirosas, nos permitem deduzir que somente em sua imaginação, poderia correr algum tipo de ameaça, que a forçaria a ceder aos caprichos do denunciado, porém não existem nos Autos nenhuma prova, ou até mesmo indícios que corroborem com tal afirmativa.”
O uso do “além de” serve como um encadeamento de argumentos orientados no mesmo sentido de dizer que as declarações dadas além de fruto da imaginação da Ofendida são também contraditórias e mentirosas.
O “porém” marca oposição ao enunciado que o antecede. A Ofendida diz ter sido forçada ao sexo, mas segundo a Defesa não há provas que sustentem essa tese.
Já o uso de “até mesmo” seleciona o argumento mais forte para uma conclusão.
COESÃO REFERENCIAL
A coesão referencial é um mecanismo por meio do qual um elemento do texto remete a outro(s) nele presente(s) ou que pode(m) ser inferido(s) com base no mundo textual.
O elemento que faz a função de remissão denomina-se forma referencial ou remissiva.
O que é retomado é chamado de referente textual ou elemento de referência e representa não apenas um nome, mas também um fragmento de oração, uma oração ou um enunciado inteiro.
Sendo que essa remissão se dá em dois sentidos:
• Para frente - catáfora;
• Para trás - anáfora.
Além disso, esse referente, à medida que o texto se desenvolve, sofre modificações, sendo, assim, construído textualmente, e a relação entre referente e a forma referencial não se estabelece por si só, mas pelos contextos que os envolvem.
Vamos, agora, à leitura e à análise do texto-humor para entendermos melhor a coesão referencial.
TEXTO-HUMOR
Num hospital para doentes mentais, certa vez, um dos pacientes passou horas escrevendo furiosamente.
Um psiquiatra, vendo-o em tão intensa atividade, perguntou-lhe:
― O que é que você está fazendo?
― Escrevendo, respondeu.
― Escrevendo o quê? ― perguntou-lhe o médico.
― Uma carta.
― Ah! Muito interessante! E para quem é a carta?
― Para mim mesmo.
― O que é que está escrito aí? ― perguntou-lhe o psiquiatra, curioso.
Ao que o paciente respondeu:
― Não sei. Ainda não recebi...
(Autor desconhecido)
O texto é coeso e coerente porque se pode recuperar uma unidade de sentido, uma unidade de intenção.
Escrever não é fazer frases isoladas ou combinar formas apenas, mas produzir textos que sejam compreensíveis. Isso significa que escrever também é inalienável da leitura: escrever é oferecer algo para ler.
Assim, a coesão e a coerência têm aspectos voltados tanto para o linguístico quanto para decisões relativas ao contexto social, cultural e cognitivo, levando em conta a postura ativa do interlocutor, pois ninguém escreve sem um destinatário.
Prossigamos, então, fazendo a análise dos elementos referenciais utilizados na construção desse texto:
Consideramos expressão definida aquela que se refere a um objeto (ou pessoa) identificável individualmente no mundo real ou das ideias. Normalmente, são marcadas pelo emprego dos artigos definidos.
Já expressão indefinida é aquela que aponta para qualquer objeto (ou pessoa) de um certo conjunto. Geralmente, são marcadas pelo emprego dos artigos indefinidos ou por sua ausência.
O referente do constituinte um dos pacientes, da primeira frase, é retomado pelos pronomes oblíquos o e lhe (uma ocorrência do primeiro, duas do segundo). O de um psiquiatra é retomado por o médico (hiperonímia).
Em seguida, tem-se o pronome adverbial aí, equivalente a “nesse lugar”, que remete para a carta mencionada anteriormente, a qual é retomada por “zero” (elipse) no final do texto, quando o paciente, em resposta à pergunta do médico, diz: “Não sei. Ainda não recebi”, ou seja, “Ainda não recebi a carta”.
Percebemos que, ao retomar a referência de um termo, algumas novas ideias podem ser agregadas ao termo inicial. Por isso, podemos dizer que a referência estabelece-se no desenvolvimento do texto, modificando-se o referente a cada novo nome que recebe ou a cada termo com que o retomamos. Recriamos, assim, no texto, a própria ideia do objeto referido.
As várias formas de retomada de referência, desde a mais simples (a mera repetição) até a mais elaborada (a ressignificação do conceito) têm em comum a função de orientar como o leitor/ouvinte deve interpretar a continuidade de sentidos no texto, em um processo de articulação de significados no mundo textual.
Sendo assim, a retomada das referências, por meio da coesão referencial, “instrui” o leitor no seu processo de leitura. Por isso, o cuidado com o emprego de palavras e expressões com valor coesivo é relevante na construção de um texto objetivo e claro.
NOVOS EXEMPLOS DE COESÃO REFERENCIAL
A seguir, seguem novos exemplos de coesão referencial, segundo Koch (2012):
ARTIGOS
O artigo definido¹ funciona como um elemento anafórico e o artigo indefinido como um elemento catafórico.
Exemplo: Depois de algum tempo, aproximou-se de nós um desconhecido trajado de modo estranho. O desconhecido tirou do bolso do paletó um pequeno embrulho.
(¹ Os artigos definidos fazem remissão anafórica; os indefinidos, catafórica. De acordo com as regras de uso desses,como forma remissiva, um referente antecedido por um artigo indefinido só pode ser retomado por um SN precedido de artigo definido. No caso de referente antecedido por artigo definido, só pode ser feita a remissão por SN precedido de artigo definido, também.)
PRONOMES ADJETIVOS
Os pronomes adjetivos exercem uma função de artigo, isto é, acompanham o nome.
Exemplo: Há, entre outras, a hipótese de que os preços venham a estabilizar-se. Essa hipótese me parece por demais otimista.
NUMERAIS
Também exercem a função de artigo.
Exemplo: Preciso de alguns alunos para ajudarem na pesquisa. Dois alunos procederão o levantamento do corpus e três alunos farão uma resenha da literatura pertinente.
PRONOMES PESSOAIS DE 3° PESSOA
Dão ao leitor instruções sobre o elemento a que se faz referência. A concordância entre pronomes e formas nominais evita possíveis ambiguidades.
Exemplo: As crianças estão viajando. Elas só voltarão no final do mês.
ELIPSE
É o apagamento de um elemento que fica subentendido pelo contexto.
Exemplo: Os convidados chegaram atrasados. (símbolo que parece y da Disney) Tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que os orientasse.
O símbolo marca o apagamento de “os convidados” na frase.
PRONOMES SUBSTANTIVOS
(demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos, relativos): Substituem, total ou parcialmente, um nome.
Exemplo: Pedro ganhou uma promoção. Isso deixou sua família muito feliz.
ADVÉRBIOS PRONOMINAIS
Fazem referência a nomes.
Exemplos: Perto do parque há um pequeno restaurante. Lá se reúnem muitos jovens ao entardecer.
EXPRESSÕES OU GRUPOS NOMINAIS DEFINIDOS
São formas nominais, geralmente introduzidas pelo artigo definido, que fazem referência a um nome anteriormente citado.
Exemplo: Regan perdeu a batalha no Congresso. O presidente dos Estados Unidos vem sofrendo sucessivas derrotas políticas.
NOMINALIZAÇÕES
Formas nominais derivadas de elementos da oração anterior.
Exemplo: Os grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. A paralisação durou uma semana.
EXPRESSÕES (QUASE) SINÔNIMAS
Utilizam-se expressões sinônimas para manter o tema, mas evitar repetições.
Exemplo: A porta se abriu e uma menina apareceu. A garotinha tinha olhos azuis e longos cabelos dourados.
HIPERÔNIMOS/HIPÔNIMOS
São palavras que generalizam e especificam uma classe, respectivamente.
Exemplo (hiperônimo¹): Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, o veículo estacionava em frente ao Palácio do Governo.
Exemplo (hipônimo): Sua doença não era grave. A gripe a deixaria em poucos dias.
(¹ Hiperônimo é uma palavra que apresenta um significado mais abrangente do que o do seu hipônimo. É o que acontece com as palavras doença e câncer: doença é hiperônimo de câncer, pois recobre o sentido deste numa acepção de conjunto. Assim, tanto câncer quanto gastrite e malária, por exemplo, seriam tipos de doença. A relação existente entre hiperônimo e hipônimo é fundamental para a coesão textual, como observamos a seguir. “Grupos de refugiados chegam diariamente do sertão castigado pela seca. São pessoas famintas, maltrapilhas, destruídas”. Notamos que a palavra pessoas é um hiperônimo da palavra refugiados (hipônimo), uma vez que apresenta um significado mais abrangente.)
A coesão é, pois, um conceito semântico que se estabelece entre um termo do texto e algum outro, indispensável para a interpretação ou entendimento do texto.
Nesse âmbito da coesão é muito importante o estudo dos pronomes e dos procedimentos de substituição a que eles se prestam. É de grande valia, também, o estudo das conjunções.
AULA 4 - ORGANIZAÇÃO DA TIPOLOGIA TEXTUAL: NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO, DISSERTAÇÃO-EXPOSITIVA, DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA, INJUNÇÃO
TIPOLOGIAS TEXTUAIS: TIPOS DE TEXTOS
O tipo de texto é determinado pelo modo de se estabelecer a interação entre texto e leitor.
Isso significa que o tipo é caracterizado pela sua organização discursiva, ou seja, natureza linguística de sua construção teórica, como por:
· Seus tempos verbais;
· Aspectos lexicais e sintáticos;
· Relações entre seus elementos.
Os principais tipos textuais são:
· Dissertativo-expositivo;
· Dissertativo-argumentativo;
· Narrativo;
· Descritivo; e
· Injuntivo.
ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA DA NARRATIVA
A narrativa apresenta fatos em sequência e decorrentes de uma relação de causa consequência, isto é, um fato causa uma consequência que dá origem a outro fato, e assim por diante.
Isso significa afirmar que entre uma ação e outra, entre um fato e outro, há um lapso temporal.
É a indicação de transcurso do tempo a tarefa principal do autor da narrativa, depois de selecionar os fatos narrados.
Os fatos são vividos por personagens, em determinado tempo e lugar, e apresenta um narrador que, diante dos fatos narrados, pode assumir dois pontos de vista, por exemplo:
· O de narrador-personagem; ou
· O de narrador-observador.
Mas, como percebemos, o texto é muito mais do que uma simples sequência de enunciados. Cada estilo de texto envolve conteúdo, função social, organização linguística e componentes estruturais específicos que o definem e o diferenciam dos demais.
TEXTO NARRATIVO
O texto narrativo é uma variedade do discurso que tem como função relatar um acontecimento, estabelecer um ato comunicativo em que o emissor se projeta no texto na figura do narrador, que é o principal responsável pelo enredo.
A estrutura da narrativa, é que dá sustentação à história, o desenrolar dos acontecimentos dentro das ações, ou melhor, a organização sintática e interação dos elementos da narrativa em função da comunicação.
Assim, o narrador, geralmente, é quem toma todas as decisões relativamente aos outros componentes da narrativa.
Uma das características da narrativa é a de que ela pode ser “real” ou “imaginária”, sem perder o seu poder como história.
Sequências narrativas são atravessadas por uma sucessão de episódios que se desenrolam em um determinado momento e com a presença de personagens ou sujeitos.
A narrativa, portanto, caracteriza-se da seguinte forma:
• Pela referência a uma realidade ausente no momento da produção do discurso, que é necessário criar ou recriar;
• Por uma disposição sequencial de ações e de acontecimentos ligados entre si por relações conceituais variadas (causa, finalidade, proximidade temporal.);
• Pelo recurso a certos elementos linguísticos, como organizadores temporais, certos tempos verbais (nomeadamente o Pretérito Perfeito e Pretérito Imperfeito do Indicativo) e auxiliares de aspecto que acrescentam à estrutura temporal do discurso informações relativas ao modo como as ações se desenrolam;
• Pela presença de uma estrutura que corresponde a um conjunto organizado de acontecimentos e de estados e que permite prever o que se vai passar em qualquer momento da história.
Na realidade, o texto narrativo é um relato centrado em um acontecimento real ou imaginário.
Marque os elementos mais importantes quanto à comunicação e estrutura do texto narrativo:
- Narrador, personagem, espaço e tempo.
Como qualquer tipo de texto, a história apresenta características próprias que garantem a sua identificação e compreensão por parte do leitor. Essas características referem-se às convenções que envolvem a estrutura geral do texto.
Essa estrutura abrange uma organização estilística/linguística que define a história como um tipo narrativo distinto dos demais.
Ainda no caso da narrativa, a progressão temática organiza-se ao longo da narração por meio da seguinte estrutura:
SITUAÇÃO INICIAL
Onde o narrador expõe o assunto sobre o qual vai escrever, apresenta as personagens, conta o que elas desejam fazer e descreve o lugar onde os fatos acontecem.
DESENVOLVIMENTO
É a parte central do texto em que a história vai sendo contada na ordem dos episódios em que as personagens atuam, fazem, pensam e se expressam.
CONCLUSÃO
É o encerramento no qual ocorre o desenlace dos acontecimentos, incluindo a resolução dos conflitos gerados no decorrer da história.
Os acontecimentos, ao longo da história, são interligados peloselementos da narrativa, de modo que cada elemento desempenha uma função na construção do texto como unidade de sentido.
O NARRADOR
O narrador, por exemplo, é o principal elemento para que a narrativa aconteça, é ele quem relata a ação, quem passa para o leitor as emoções, os pensamentos e os sentimentos das personagens.
AS PERSONAGENS
As personagens são os seres que atuam, isto é, que vivem o enredo e que podem ser classificadas de diversas formas, nomeadamente quanto ao papel desempenhado na história.
O ESPAÇO DA NARRATIVA
Quanto ao espaço da narrativa, o autor refere-se ao local físico por onde circulam as ações das personagens, enquanto o ambiente concebe uma visão de lugar mais ampla que vai além das características físicas até às características socioeconômicas, culturais, morais e psicológicas nas quais estão situadas as personagens.
A AÇÃO NARRATIVA
Assinalamos que a ação narrativa é um elemento primordial e é desenvolvida em episódios.
Entendemos por ações o desenrolar dos acontecimentos em uma sequência linear dos enunciados que compõem a história.
Quanto à estrutura das ações, ela depende da intenção, da originalidade do autor e do que se pretende escrever.
O TEMPO
Relativamente, o elemento tempo, dentro de uma narração, se manifesta em diferentes níveis:
· Tempo externo - em primeiro lugar, nela observamos o tempo externo, a época em que se passa a história, o qual pode ser diferente do período da sua produção. Dessa forma, um enredo pode retratar um tempo passado ou projetar um tempo futuro como resultado da imaginação do autor.
· Duração da história - outro aspecto do tempo diz respeito à duração da história: ela pode ocorrer em um curto ou longo período de tempo.
CONCLUSÃO
Podemos concluir, portanto, que a narrativa pode ser real ou imaginária, sem perder o seu poder como história e não só tem um começo, um meio e um fim, mas também uma ordem cronológica que, de algum modo, mantém relações entre os fatos.
No caso do texto fictício, o narrador organiza os elementos da narrativa no sentido de simular, de fingir uma história que reflita uma dada realidade.
O universo da ficção apresenta-nos uma realidade que não é verdadeira, mas que é possível ser plausível e por isso a aceitamos como real.
COMPONENTES DA NARRAÇÃO
Destacamos, ainda, que os componentes da narração são os mesmos para qualquer tipo de narrativa, sendo real ou imaginária.
Inclusive, reiteramos que o estabelecimento da coesão textual nas narrativas de história pode dar-se por meio das relações entre os tempos verbais nas diversas partes do texto, ou seja, a transição temporal é extremamente importante para a evidência da relação coesão/coerência em um texto narrativo.
Desse modo, a organização dos eventos ou fatos gira em torno de um tema que deve ser mantido na totalidade da narrativa.
Coesão e coerência: produção da narrativa
A coesão e coerência são fundamentais na produção da narrativa.
Estudamos na aula 3 que as formas de coesão dizem respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações sintáticas, semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir.
Vimos também que a coesão referencial acontece ao retomar ou referir expressões presentes no discurso anterior (anáfora) ou subsequente (catáfora). Por meio da estratégia de referenciação anafórica, é possível reativarmos os referentes em um texto, formando-se cadeias coesivas.
Na narrativa, retomam-se referentes principais ou temáticos, por exemplo, protagonista e antagonista.
Os mecanismos de coesão sequencial podem ocorrer por:
SEQUENCIAÇÃO TEMPORAL
O termo sequenciação temporal é utilizado para indicar o tempo do “mundo real”. Tal sequenciação pode ser obtida por ordenação linear dos elementos, por meio de expressões que assinalam a ordenação ou a continuação das sequências temporais, de partículas temporais (amanhã, logo) e de correlação dos tempos verbais.
CONEXÃO LÓGICA
Dessa maneira, a coerência e a coesão são elementos linguísticos que asseguram a estrutura do texto e estão intimamente relacionadas no processo de produção e de compreensão.
TEMPO CRONOLÓGICO
É o tempo que transcorre na ordem linear, na ordem natural dos fatos do enredo (= calendário), do começo para o final.
Chama-se tempo cronológico porque pode ser medido em horas, meses, anos, séculos.
Veja o exemplo de Quincas Borba, de Machado de Assis:
O ano era de 1840. Naquele dia — uma segunda-feira do mês de maio ― deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa.
No dia seguinte, estava Rubião ansioso por ter ao pé de si o recente amigo da estrada de ferro, e determinou ir a Santa Teresa, à tarde; mais foi o próprio Palha que o procurou logo de manhã.
ELEMENTOS DA NARRATIVA
Estudamos há pouco que toda narração transmite uma história que, organizada em um enredo, evolui no tempo e no espaço. Os acontecimentos de uma narrativa se organizam em uma linha temporal.
Vamos ler, agora, o poema em prosa de Manuel Bandeira:
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura… Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim: toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
(BANDEIRA, Manuel. “A tragédia Brasileira”. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990.)
O poema narrativo de Manuel Bandeira, como notamos, possui todos os elementos da narrativa, como: enredo, personagens, espaço, tempo:
A mediação de conflito é um método conversacional que propicia aos mediados a oportunidade de retomarem o diálogo e juntos construírem ou recuperarem condições de colaborar na solução de questões atuais e futuras.
O maior desafio para o mediador é ajudá-los a resgatar as experiências de colaboração e respeito que já tenham vivido para construir narrativas atualizadas onde haja possibilidades de ajustes e acordos constantes. Sem uma nova narrativa que sustente uma relação de confiança, os acordos não ganham consistência e firmeza.
ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA DA DESCRIÇÃO
Descrever é apontar atributos da pessoa ou coisa descrita, que se costuma denominar objeto da descrição. Pode ser uma pessoa, um animal, um processo, um ser inanimado, uma cena, um local.
Assim, o texto descritivo é entendido como o que descreve, fazendo uma representação verbal de um objeto (ser, coisa, circunstância do acontecimento do fato, paisagem), por meio da indicação dos seus aspectos mais característicos, dos seus atributos, dos pormenores que o individualizam, que o distinguem.
O texto descritivo não relata mudança de estado que ocorrem no tempo, apenas retrata as propriedades e aspectos que os elementos descritos em um certo estado, tomando-os como se estivessem parados no tempo.
O texto descritivo é um retrato, um recorte de uma paisagem, uma ação, um costume. O texto descritivo vai induzindo o leitor a imaginar o espaço, o tempo, o costume, isto é, tudo que ambienta a história, a informação, como neste exemplo:
Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das mesas. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. O trânsito

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