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INVESTIGAÇÃO - COOP. INVESTIGATIVA INTERNACIONAL

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AULA 1 – INVESTIGAÇÃO
Investigar significa buscar algo.
Investigar é apurar.
Tentar entender fatos e coisas.
Pode-se dizer que investigar é sinônimo de pesquisar.
A investigação é um processo sistemático pelo qual se analisa determinada coisa ou situação, a fim de se chegar a uma conclusão, colhendo elementos que servirão como base e argumento.
No Brasil, o vocábulo investigar nos remete à atividade policial. O termo investigação e seus derivados estão intimamente ligados, por força do senso comum, à busca de um culpado e/ou elucidação de determinado delito.
Na verdade, investigar pode dizer respeito à atividade policial, em um de seus sentidos jurídicos, como examinaremos nesta aula, que é o que nos interessa, mas também pode dizer respeito à toda forma de construção de conhecimento e coleta de evidências e elementos de convicção. Assim, podemos dizer que investigar é pesquisar, podendo ser uma investigação policial, científica, social etc.
CONCEITO JURÍDICO DE INVESTIGAÇÃO
Dentro do conceito de investigação, o que importa para o estudo da cooperação investigativa internacional é a investigação no sentido jurídico.
Juridicamente falando, investigar é colher elementos com o escopo de apurar fatos e todas as suas circunstâncias e, ao se chegar a uma conclusão acerca de determinado evento ou pessoa, obter elementos que justifiquem tal conclusão e possam servir de base para fundamentar eventual providência que venha a ser tomada.
Ao contrário do que influencia o senso comum, uma investigação não será necessariamente de natureza criminal. Uma investigação pode ser Criminal, Cível ou Administrativa.
INVESTIGAÇÃO CÍVEL:
A investigação cível ocorre, em regra, no bojo de um processo judicial cível. Tem por escopo principal a elucidação de fatos de interesse da causa, ou, até mesmo, do objeto principal da demanda judicial. Os exemplos mais comuns são os processos de investigação de paternidade (art. 693 do Código de Processo Civil) e os incidentes de argüição de falsidade (art. 430 do Código de Processo Civil).
INVESTIGAÇÃO ADMINISTRATIVA:
A investigação administrativa ocorre quando a administração pública instaura procedimento administrativo com o objetivo de apurar fatos de seu interesse e eventualmente tomar a medida administrativa cabível. É exemplo a instauração de um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta ilícita praticada por servidor e aplicar a pena administrativa cabível.
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL:
A investigação criminal, a modalidade de investigação que nos interessa no estudo da presente disciplina, ocorre sempre que existe a suposta prática de um determinado delito. A investigação ocorre, em regra, por intermédio do Inquérito policial, como veremos.
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E INQUÉRITO POLICIAL
A investigação criminal acontece, normalmente, pelo inquérito policial. Este é regulado pelo Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3689/41). Apesar disso, o inquérito é um procedimento administrativo, e não processo judicial. Sua função principal é colher indícios mínimos de autoria e prova da materialidade de um delito.
O Inquérito Policial é presidido pelo Autoridade Policial, qual seja, o Delegado de Polícia, e apresenta as seguintes características:
INQUISITIVO:
O inquérito policial é inquisitivo, o que significa que o exercício da ampla defesa e do contraditório ocorrerá de maneira diferida. O investigado não será necessariamente intimado de todos os atos.
SIGILOSO:
O inquérito policial visa colher elementos para elucidar fatos e a autoria destes, portanto é sigiloso, ressalvado o direito do investigado de tomar conhecimento de elementos já documentados que não venham a prejudicar o andamento da investigação.
INDISPONÍVEL:
O inquérito é indisponível na medida em que, uma vez instaurado, não pode ser arquivado pela autoridade policial. Seu arquivamento somente será determinado pelo Juiz competente à Requerimento do Ministério Público.
DISPENSÁVEL:
O inquérito policial é o mecanismo oficial de investigação previsto no ordenamento jurídico. Contudo, a investigação pode se dar por outras vias. Havendo elementos mínimos de autoria e materialidade de um delito, o inquérito policial não se faz necessário.
INFORMATIVO:
Ao final do inquérito policial, o Delegado de Polícia irá elaborar o relatório, que não vincula, em primeira análise, o titular da ação penal. Dessa maneira, ainda que o inquérito conclua pela existência de um delito e sua autoria, isso não necessariamente acarretará uma persecução penal.
FERRAMENTAS DE INVESTIGAÇÃO
A investigação se desenvolve por meio de diversas ferramentas, diversos meios de se obter elementos de convicção. Os também chamados meios de prova são os elementos que, colhidos em uma investigação, ajudam a levar a uma conclusão e sustentá-la.
Existem diversos meios de se obter esses elementos de convicção, eis os mais comuns:
Com base no organograma anterior, explore as ferramentas citadas:
INQUIRIÇÃO:
TESTEMUNHAS - A inquirição de testemunhas é o principal mecanismo de colheita de provas. Geralmente, é o ponto de partida de toda investigação e é a principal prova no Processo Penal.
Trata-se de uma narrativa dos fatos por pessoa que presenciou sua ocorrência (Testemunha direta) ou que tenha tomado conhecimento destes por outro meio (Testemunha indireta).
A inquirição de testemunhas está prevista no Código de Processo Penal a partir do artigo 202. O Código determina que a inquirição será oral (ressalvadas às exceções para algumas autoridades), bem como prevê as hipóteses em que as pessoas inquiridas serão consideradas suspeitas, perdendo a qualidade de testemunhas e sendo ouvidas como informantes, por terem interesse na incriminação ou não incriminação do réu ou investigado.
INVESTIGADO - Outro meio de investigação, esse mais raro, é a inquirição do investigado/acusado, previsto a partir do art. 186 do Código de Processo Penal. Tal forma de investigação é menos comum tendo em vista a garantia constitucional ao silêncio (art. 5º, inciso LXIII, CRFB).
Além de meio de prova e investigação, a inquirição do investigado/réu também é meio de defesa. Como já dissemos, a investigação tem por escopo elucidar fatos e colher elementos que levem a uma conclusão. Assim, o investigado pode narrar os fatos apontando pontos e levantando questões que venham a lhe beneficiar ao final da investigação. Cumpre destacar que durante um processo judicial criminal, o réu sempre será o último a ser ouvido, sob pena de nulidade, o que não se aplica no curso da investigação.
ACAREAÇÃO - A acareação acontece, a critério da autoridade que procede a inquirição, quando dois depoimentos são contraditórios, sejam depoimentos de dois investigados, de um investigado e uma testemunha, ou duas testemunhas.
Consiste na inquirição dos depoentes contraditórios em conjunto a fim de esclarecer eventual divergência.
BUSCA E APREENSÃO:
A Busca e Apreensão é o ato pelo qual a autoridade investigadora vai a determinado local buscar elementos de convicção para elucidação dos fatos. Está regulada a partir do artigo 240 do Código de Processo Penal.
A Busca e apreensão pode ser determinada por autoridade judicial ou policial, respeitadas as garantias constitucionais.
DOCUMENTOS:
Documento é todo e qualquer elemento que tenha expressão de pensamento capaz de auxiliar na elucidação de determinado fato. São exemplos de documentos cartas, fotos, arquivos digitais (áudios, vídeos etc.).
PERÍCIA TÉCNICA:
A perícia técnica consiste na análise de determinada coisa, pessoa, local ou situação por alguém com conhecimento técnico para tanto. O condutor de uma investigação não possui conhecimento técnico em todos os campos de conhecimento, portanto, muitas vezes ele precisará de auxílio de um perito, que elaborará um laudo e prestará mais esclarecimentos.
CORPO DE DELITO - O exame de corpo de delito nada mais é do que a análise dos vestígios de um delito. O artigo 158 do Código de Processo Penal estabelece sua obrigatoriedade sempre que um delito deixar vestígios. Ele pode ser direto, quandofeito nos vestígios propriamente ditos, ou indireto, quando os vestígios desaparecem e o exame é realizado com base em testemunhas, documentos ou outros meios.
A expressão “Exame de corpo de delito” é comumente utilizada para se referir ao exame médico realizado em pessoas que sofreram lesões que não levaram à morte (caso em que é feito o exame de necropsia). Contudo, o exame de corpo de delito pode ser realizado também em objetos.
É comum a realização de exame de corpo de delitos em armas, a fim de aferir sua capacidade lesiva ou realização de exame para análise mais detalhadas de documentos, tais como anotações aleatórias, ou até imagens de câmeras de segurança.
NECROPSIA - A necropsia é o exame realizado por médico legista. Sua função é determinar a causa do óbito de determinada pessoa. É de suma importância principalmente nas ditas mortes suspeitas, espécie de morte em que não há uma razão aparente para a morte, a fim de saber se de fato foi praticado algum delito.
PAPILOSCÓPICO - Outro meio de investigação é o exame papiloscópico, realizado por um papiloscopista. Esse exame tem por finalidade identificar pessoas por meio do registro deixado pela impressão digital.
EXAME DE LOCAL - O exame de local também é importante para investigações. Sua realização é comum em casos de mortes violentas (mortes causadas por qualquer evento externo), a fim de se constatar existência de conduta criminosa. Tal exame consiste na análise, por um perito, do local em que pode ter ocorrido um delito, a fim de colher elementos que auxiliem na compreensão dos fatos ocorridos no local.
ESCUTA TELEFÔNICA:
A escuta telefônica, em sentido amplo, é a gravação de conversas telefônicas. Ela pode ser uma gravação telefônica, que ocorre quando é feita por um dos interlocutores, pode ser uma escuta telefônica, quando feita por terceiro com o conhecimento de um dos interlocutores, e a interceptação telefônica, que é feita por terceiro sem o conhecimento dos interlocutores.
Merece especial atenção a interceptação telefônica, uma vez que a Constituição (Art. 5º, inciso XII) garante o sigilo das comunicações telefônicas, podendo ocorrer a interceptação apenas em casos especificados, nos termos da Lei 9.296/96, sendo necessária ordem judicial.
Imperioso destacar que o sigilo somente pode ser rompido quando se tratar de uma investigação criminal, não podendo ocorrer nos casos de investigação cível ou administrativa.
Destaca-se, ainda, que a interceptação deve ser indispensável para a conclusão da investigação, sendo o único meio de se colher elementos essenciais à elucidação dos fatos. Havendo outros meios de se obter elementos de convicção, a interceptação será ilegal.
QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO:
Ao contrário das modalidades de escuta telefônica, a quebra de sigilo consiste tão somente na obtenção de dados referentes às chamadas realizadas como, por exemplo, horário e duração de determinada ligação ou as linhas com as quais se estabeleceu contato.
Diferente da interceptação telefônica, a quebra de sigilo telefônico independe de ordem judicial, podendo ser determinada pela autoridade investigativa.
QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E FISCAL:
Nosso ordenamento jurídico resguarda também o sigilo bancário e fiscal dos indivíduos que, normalmente, só podem ser quebrados com autorização judicial.
A quebra de sigilo bancário e fiscal é comum quando se investiga crimes tributários e contra o sistema financeiro, e, também, podem ocorrer na investigação de outros delitos, desde que haja justo motivo.
RECONSTITUIÇÃO DOS FATOS:
A reconstituição dos fatos é a encenação dos fatos feita pelos envolvidos, a fim de facilitar o melhor entendimento dos fatos pela autoridade investigadora.
Nesse ponto cabe destacar que ninguém será obrigado a produzir provas contra si mesmo. Desse modo, caso a reconstituição possa vir a prejudicar algum dos envolvidos, este pode se negar a fazê-la.
ATIVIDADES
1. Entre os diversos meios de investigação temos alguns que estão submetidos à chamada reserva de jurisdição, ou seja, somente podem ser utilizados precedidos de autorização judicial. São meios de investigação sempre submetidos à Reserva de Jurisdição:
- c) A interceptação telefônica.
2. Quem poderá determinar o arquivamento o Inquérito Policial?
- d) O Juiz.
AULA 2 - ÓRGÃOS COM FUNÇÃO INVESTIGATIVA: POLÍCIA JUDICIÁRIA
PREVISÃO CONSTITUCIONAL
A Constituição Brasileira, ao tratar da segurança pública, prevê a Polícia Federal e as Polícias Civis (art. 144, inciso I e IV). A própria Constituição também entrega a esses órgãos a atribuição de exercer o poder de Polícia Judiciária (art. 144, §1º e 4º).
A competência para atuação de cada um dos órgãos está definida na Constituição e nas leis esparsas. Como veremos mais adiante, a Polícia Federal possui uma margem de atuação mais delineada, enquanto as Polícias Civis atuarão de forma subsidiária, assumindo competências não encampadas pela Polícia Federal.
POLÍCIA FEDERAL
A Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, é órgão permanente da União, responsável por exercer a atividade de Polícia Judiciária no âmbito federal. A Polícia Federal tem representatividade em todo território nacional por meio das Delegacias de Polícia Federal, subordinadas administrativamente às Superintendências Regionais de Polícia Federal.
DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL E DEMAIS CARGOS POLICIAIS
As Delegacias de Polícia Federal são chefiadas pelos Delegados de Polícia Federal, autoridades policiais no âmbito da Polícia Judiciária da União.
Os Delegados de Polícia Federal exercem função de natureza jurídica e a investidura no cargo, privativo do bacharel em Direito, com pelo menos três anos de atividade jurídica ou policial, ocorre por meio de Concurso Público de provas e títulos, acompanhado pela Ordem dos Advogados do Brasil.
A Polícia Federal é composta por:
Todos eles auxiliam o Delegado de Polícia Federal, autoridade responsável pela condução dos inquéritos e investigações. O provimento destes cargos ocorre, também, por meio de concurso público, exigindo-se que o candidato possua formação em nível superior para todos eles.
COMPETÊNCIA E REPRESENTATIVIDADE EXTERNA
A Polícia Federal tem como competências atribuídas pela Constituição (Art. 144, §1º):
	I
	Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
	II
	Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
	III
	Exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
	IV
	Exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
Assim, caberá também a Polícia Federal atuar em crimes transnacionais, uma vez que é a polícia que representa o Estado Brasileiro, tendo representatividade no exterior por meio das Adidâncias e Oficialatos, presentes em diversos países.
A Polícia Federal é responsável pela celebração de acordos de cooperação internacional que são celebrados por meio de Memorandos de Entendimento (MdE).
O Memorando de Entendimento é o documento utilizado no âmbito do direito internacional, com o fim de celebrar acordo de cooperação entre países em determinadas áreas de interesse comum.
A política de cooperação da Polícia Federal baseia-se na reciprocidade e no interesse mútuo e tem por objetivo a transferência de conhecimentos e informações, realização de ações conjuntas e capacitação de policiais. A cooperação visa dar mais eficácia ao combate ao crime organizado transnacional e manter a segurança interna.
POLÍCIA CIVIL
A Polícia Civil é o órgão responsável pelo exercício do poder de Polícia Judiciária no âmbito de cada Estado da Federação. Está vinculada ao governo do respectivo Estado ou Distrito Federal.A Polícia Civil é dirigida pelo Delegado de Polícia Civil, autoridade responsável pela condução dos inquéritos policiais e investigação cuja competência é da Polícia Civil.
Assim como o Delegado de Polícia Federal, o Delegado de Polícia Civil também é investido no cargo por meio de concurso público de provas e títulos, sendo o cargo privativo do Bacharel em Direito. Do mesmo modo que a Polícia Federal, as Polícias Civis também contam com outras carreiras policias auxiliares, que dão suporte ao Delegado de Polícia na condução da investigação.
ATENÇÃO:
Importante destacar que, por força do princípio da autonomia dos entes federativos, cada Polícia Civil possui uma estrutura própria, podendo haver variações nas carreiras policiais, exceto pelo Delegado de Polícia, que possui atribuição constitucionalmente prevista (Art. 144 §4º).
COMPETÊNCIA
Conforme mandamento Constitucional, as Polícias Civis têm competência residual, ou seja, o que não competir à Polícia Federal, será de competência da Polícia Civil.
A Constituição faz ressalva também quanto às infrações penais de natureza militar. Nesse caso, a competência será do órgão militar do sujeito que praticou o ato. Por exemplo, determinado Policial Militar comete uma infração penal militar. A competência para seu julgamento será da Polícia Militar à qual pertence.
ATRIBUIÇÕES DA AUTORIDADE POLICIAL
A autoridade policial, representada pelos Delegados de Polícia, no exercício da função de Polícia Judiciária, tem suas atribuições definidas no Código de Processo Penal, quais sejam:
	1
	Lavrar Auto de Prisão em flagrante e comunicar a prisão à autoridade judiciária;
	2
	Dirigir-se ao local onde ocorreu algum delito, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
	3
	Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
	4
	Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
	5
	Ouvir a vítima;
	6
	Ouvir o investigado;
	7
	Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
	8
	Determinar se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
	9
	Ordenar a identificação do investigado e fazer juntar aos autos do inquérito sua folha de antecedentes;
	10
	Averiguar a vida pregressa do investigado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
	11
	Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa;
	12
	Fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
	13
	Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
	14
	Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
	15
	Representar acerca da prisão preventiva;
	16
	Relatar inquéritos policiais concluídos.
Pode-se verificar que a autoridade policial tem poderes conferidos por lei para determinar todas as diligências necessárias à investigação, respeitadas as garantias constitucionais e ressalvadas as matérias abrangidas pela reserva de jurisdição. Por essa razão, atualmente se exige formação jurídica dos Delegados de Polícia. É importante que o condutor da investigação e presidente do inquérito tenha conhecimento das garantias constitucionais para que possa conduzi-la dentro da legalidade.
ATENÇÃO:
Importante destacar também, no que diz respeito ao relatório elaborado pelo Delegado quando da conclusão do inquérito policial, que este possui caráter opinativo, ou seja, não vincula o Ministério Público à conclusão do Delegado, podendo o membro do Ministério Público proceder de forma diversa.
POLÍCIA CIENTÍFICA
A denominada Polícia Científica é parte integrante das Polícias Civil e Federal. O termo Polícia Científica diz respeito às carreiras policiais auxiliares ao Delegado de Polícia que tenham cunho científico. Estão englobados nesta categoria os Peritos em geral (Médicos Legistas, Papiloscopistas, Peritos criminais etc.).
Os policiais membros das Polícias Científicas são essenciais à investigação, já que auxiliam o Delegado de Polícia fornecendo informações que exijam conhecimento técnico-científico, elaborando laudos e prestando esclarecimentos.
POLÍCIA OSTENSIVA
A Polícia Ostensiva tem como função precípua manter a lei e a ordem por meio do patrulhamento ostensivo das vias. São órgãos que exercem a polícia ostensiva:
Polícia Rodoviária Federal
Órgão mantido pela União, responsável pelo patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
Polícia Ferroviária Federal
Órgão mantido pela União, responsável pelo patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. Cabe destacar que em que pese sua previsão constitucional, a Polícia Ferroviária não possui organização administrativa. Com a privatização das ferrovias, embora exista juridicamente, a Polícia Ferroviária Federal deixou de existir de fato.
Polícias Militares
Órgãos vinculados aos seus respectivos Governos de Estado, são responsáveis pela garantia da lei e da ordem pública em geral. Trata-se de força auxiliar e reserva do Exército. É organizada em estrutura militar baseada na hierarquia e disciplina.
Guardas Municipais
A Constituição deu aos municípios o poder discricionário para criar as guardas municipais, destinadas a proteção de bens, serviços e instalações públicas, na forma da lei.
Cumpre destacar que a Polícia Ostensiva, em regra, não exerce atividade investigativa, ressalvado o caso de crime militar, ocasião em que o crime será investigado pela Polícia Militar a qual pertence o praticante do delito.
ATIVIDADES
1. Qual das diligências a seguir não pode ser determinada de ofício pela Autoridade Policial no curso de uma investigação no bojo do inquérito policial?
- d) A Escuta telefônica.
2. Sobre a competência da Polícia Civil é correto afirmar:
- a) Não possui competência para investigar crimes militares próprios.
AULA 3 - ÓRGÃOS COM FUNÇÃO INVESTIGATIVA: MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTRUTURA ORGÂNICA
Os Ministérios Públicos são autônomos. Cada Estado possui seu próprio Ministério Público Estadual e temos, ainda, o Ministério Público da União, que abrange o Ministério Público Federal, o do trabalho, o Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
O Ministério Público é regido pelos seguintes princípios:
Unidade Indivisibilidade Independência funcional
É formado por profissionais (membros) que ingressarão na carreira por meio de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil. Exige-se dos candidatos o Bacharelado em Direito e pelo menos três anos de atividade jurídica.
O órgão é chefiado pelo Procurador-Geral, nomeado da seguinte forma:
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:
Procurador-Geral da República: nomeado pelo Presidente da República entre os membros maiores de trinta e cinco anos, e após aprovação pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal.
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS:
Procurador-Geral de Justiça: escolhido pelo Governador entre os membros da carreira após formação de lista tríplice.
Por força do princípio da independência funcional, cada Membro é livre para agir de acordo com a sua convicção Jurídica e o chefe tem caráter administrativo.
O orçamento é elaborado pelo Próprio Ministério Público dentro dos limites estabelecidos pela lei de diretrizes orçamentárias e a para o pagamento de todas as despesas do Ministério Público vem do poder executivo. Além do Ministério Público, existe o Conselho Nacional do Ministério Público, órgão de caráter administrativo que exerce função fiscalizadora sobre a atuação do Ministério Público.
GARANTIAS DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A Constituição confereaos Membros do Ministério Público prerrogativas que visam garantir que exerçam suas funções com independência e destemor. As garantias são:
VITALICIEDADE:
Após dois anos de efetivo exercício, o Membro do Ministério Público somente perderá seu cargo por meio de sentença judicial transitada em julgado.
INAMOVIBILIDADE:
O Membro do Ministério Público não poderá ser removido de sua lotação sem sua concordância, salvo em caso de interesse público, por decisão da maioria absoluta dos membros do órgão colegiado competente, sendo-lhe assegurada a ampla defesa.
IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS:
O Membro do Ministério Público não pode ter sua remuneração reduzida.
Por meio dessas garantias, o Membro do Ministério Público pode exercer suas atribuições gozando de sua independência funcional sem se preocupar com eventual represália por parte de qualquer órgão superior.
ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS
A Constituição Federal, no artigo 129, entrega ao Ministério Público uma série de atribuições:
	I.
	Promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
	II.
	Zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
	III.
	Promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
	IV.
	Promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
	V.
	Defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
	VI.
	Expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
	VII.
	Exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar;
	VIII.
	Requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
	IX.
	Exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
O rol constitucional é exemplificativo, e a lei pode lhe conferir outras funções compatíveis com suas finalidades.
Para nosso estudo, importa uma reflexão mais aprofundada acerca da função de promover a Ação Penal Pública: o Inquérito Civil para proteção de interesses difusos e coletivos, exercer controle do inquérito policial e requisitar diligências investigatórias e instauração de inquérito policial. Essas funções resultam na atividade investigativa por parte do Órgão Ministerial.
PROMOVER AÇÃO PENAL PÚBLICA:
O Art. 129, inciso I da Constituição da República atribui ao Ministério Público, exclusivamente, a titularidade da Ação Penal Pública. Dessa forma, o Ministério Público, em regra, será o Autor no bojo de um processo criminal.
Essa atribuição, além de interferir no controle externo do inquérito policial, resultará na colheita de provas e elementos cognitivos no curso do processo penal, o que nada mais é que uma atividade investigativa suplementar ao Inquérito Policial.
No decorrer da demanda serão ouvidas testemunhas, inclusive peritos — que também serão inquiridas pelo Promotor de Justiça —, serão elaborados laudos e realizadas outras diligências que confirmarão ou não a acusação que pesa contra o Réu.
Podemos concluir que, no exercício da titularidade da ação penal, o Ministério Público, ainda que de maneira suplementar, exerce atividade de cunho investigativo.
PROMOVER INQUÉRITO CIVIL PARA PROTEÇÃO DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS:
Conforme estudado anteriormente, há também investigações de cunho civil. Um exemplo é o inquérito civil instaurado e presidido pelo Ministério Público para apurar os danos causados à coletividade.
A lei que regulamenta a Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê a instauração do Inquérito Civil para apurar condutas que causaram danos à coletividade e colher elementos para subsidiar futura ação civil para responsabilização dos culpados e reparação dos danos reparação dos danos.
REQUERER A INSTAURAÇÃO E EXERCER O CONTROLE EXTERNO DO INQUÉRITO POLICIAL:
Essa é a principal função investigativa atribuída ao Ministério Público. É a atribuição que mais cria conflito, pois confronta com a independência do Delegado de Polícia, causando os maiores debates jurídicos acerca dos limites do poder investigativo do Ministério Público.
O texto Constitucional não deixa claro a forma como será exercido o controle do Inquérito Policial pelo Parquet. Em contrapartida, o Código de Processo Penal atribui, de maneira inequívoca, o dever de investigar à Autoridade Policial, estabelecendo o inquérito como ferramenta para tanto.
É indiscutível que o Ministério Público deve atuar no inquérito, ainda que na qualidade de fiscal da lei. A lei e a Constituição preveem que o MP pode requisitar que a Autoridade Policial realize as diligências que julgar necessárias à propositura da ação Penal, de modo que participará, ainda que indiretamente, da investigação no bojo do inquérito policial.
O inquérito policial é dispensável, sendo possível que o Órgão Ministerial venha, por meios próprios, colher elementos suficientes para subsidiar a ação penal - o MP terá exercido o poder de investigar de forma autônoma.
A investigação fora do bojo do inquérito policial deve respeitar todas as garantias constitucionais, sob pena de nulidade de toda a investigação, bem como da persecução penal.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL X MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
Existem pequenas diferenças entre o Ministério Público Federal e os Ministérios Públicos dos Estados.
	Ministério Público Federal
	Ministério Público Estadual
	CARREIRA
	Os membros do Ministério Público Federal começam como Procuradores da República, ascendendo ao cargo de Procurador Regional da República e terminando suas carreiras como Subprocurador da República.
	No Ministério Público Estadual, os membros iniciam como Promotores de Justiça, terminando suas carreiras como Procurador de Justiça.
	
COMPETÊNCIA
	O Ministério Público terá suas competências definidas de acordo com as competências do poder judiciário. Atuará nas causas, independentemente da competência judicial, quando se tratar de defesa de direitos e interesses dos índios e das populações indígenas, do meio ambiente, de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, integrantes do patrimônio nacional. Atuará também na interposição de recurso extraordinário das decisões da Justiça dos Estados nas representações de inconstitucionalidade.
	O Ministério Público Estadual terá sua competência atribuída de forma residual.
	CHEFE
	No Ministério Público Federal, o chefe é o Procurador-Geral da República, que é escolhido pelo Presidente da República, entre os membros da carreira maiores de trinta e cinco anos. O escolhido deverá ser aprovado por maioria absoluta do Senado Federal. Somente após a aprovação, o Presidente o nomeará para o cargo.
	No Ministério Público Estadual o chefe é o Procurador-Geral de Justiça, escolhido pelo Governador dentro da lista tríplice. A lista tríplice será formada pelos membros do Ministério Público escolhidos pelos seus pares. Sua nomeação não dependerá de aprovação prévia do Legislativo Estadual, mas este poderá destituir o Procurador-Geral de Justiça por voto da maioria absoluta.
ÓRGÃOS AUXILIARES
Assim como as polícias judiciárias possuem a polícia científica, o Ministério público conta com órgãos auxiliares que fornecem informações técnico-jurídicas, a fim de otimizar o trabalho dos membros do Ministério Público, na atividade investigativa e demais atividades.
MINISTÉRIO PÚBLICO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
A cooperação internacional no realizada pelo Ministério Público fica a cargo do Ministério Público Federal, órgão competente para representar o Ministério Público brasileiro no exterior.
Essaatribuição fica a cargo da Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), que o faz por meio de Memorandos de Entendimento.
Os Acordos de Cooperação Internacional celebrados pelo Ministério Público têm por finalidade a colaboração entre os Ministérios Públicos para aprimoramento de operadores do Direito, promoção de programas específicos de combate ao crime organizado e realização de estudos e encontros de coordenação.
A SCI possui Autoridades Centrais, que têm a atribuição de gerenciar o envio e recebimento de pedidos de cooperação. A Procuradoria-Geral da República é a Autoridade Central para cooperação com Portugal e Canadá, além das cooperações referentes às ações de alimentos. Nos demais casos, a Autoridade Central será o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, subordinado à Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça.
ATIVIDADES
1. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal são as instituições que, dentro da sua área de competência, são responsáveis pela cooperação internacional. De que forma os acordos de cooperação internacional são celebrados por estas instituições?
- a) Memorandos de Entendimento.
2. São atribuições do Ministério Público, exceto?
- d) Promover a Ação Penal Privada.
AULA 4 - O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA COOPERAÇÃO INVESTIGATIVA BRASILEIRA
ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO
O Poder Judiciário se estrutura por meio de diversos órgãos previstos na Constituição. Segundo o art. 92, são órgãos do Poder Judiciário:
1
Supremo Tribunal Federal
Instância máxima do Poder Judiciário no Brasil.
2
Conselho Nacional de Justiça
Órgão integrante do Poder Judiciário com caráter meramente administrativo.
Não exerce função jurisdicional.
3
Superior Tribunal de Justiça
Tribunal superior responsável pela Justiça comum.
4
Tribunal Superior do Trabalho
Tribunal superior responsável pela Justiça especializada do Trabalho.
5
Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais
Órgãos da Justiça comum Federal.
6
Tribunais e Juízes do Trabalho
Órgãos da Justiça especializada em matéria de Direito do Trabalho.
7
Tribunais e Juízes Eleitorais
Órgãos da Justiça especializada em matéria de Direito Eleitoral.
8
Tribunais e Juízes Militares
Órgãos da Justiça especializada em Direito Penal Militar.
9
Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios
Órgãos da Justiça comum estadual.
Todos esses órgãos exercem a Jurisdição concomitantemente, segundo as regras de competência. As justiças especializadas exercem a jurisdição no que concerne às suas matérias (Eleitoral, do Trabalho e Penal Militar), enquanto os órgãos da Justiça comum (Estadual e Federal) exercem a jurisdição acerca das demais matérias. Dentro da Justiça comum, a Justiça Federal tem sua competência delineada, ficando a cargo da Justiça Estadual a competência residual.
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL
A Constituição prevê que, na relações internacionais, a República será regida pelo princípio da cooperação entre os povos (art. 4º, inciso IX). O Código de Processo Civil tem um capítulo exclusivo para tratar da cooperação jurídica internacional (arts. 26 a 41). A cooperação tem muitos objetivos como:
A Cooperação jurídica internacional é regida pelos seguintes princípios estampados no art. 26 do Código de Processo Civil:
I. o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
II. a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados;
III. a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente;
IV. a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação;
V. a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras.
A cooperação terá por base a existência de tratado internacional entre o Brasil e outras nações; na ausência de tratado, a cooperação poderá ser feita por via diplomática, tendo por base a reciprocidade, ressalvado o caso de homologação de sentença estrangeira que independerá de reciprocidade.
Todo pedido de cooperação deverá observar as normas e os princípios constitucionais vigentes no Brasil. Constatada qualquer afronta à Lei Fundamental Brasileira, a Autoridade deverá negar o pedido de cooperação.
Os pedidos de cooperação serão recebidos e realizados por meio da Autoridade central que, no Brasil, como regra geral, é o Ministério da Justiça. Se houver qualquer outra norma designando outra Autoridade central, será afasta a atribuição do Ministério da Justiça.
Os pedidos de cooperação jurídica podem ter diversos fins, como diligências judiciais até atos extrajudiciais, o que inclui a prática de atos processuais até a colheita de provas em uma investigação. O Código de Processo Civil lista os objetos de cooperação:
Art. 27. A cooperação jurídica internacional terá por objeto:
I. citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
II. colheita de provas e obtenção de informações;
III. homologação e cumprimento de decisão;
IV. concessão de medida judicial de urgência;
V. assistência jurídica internacional;
VI. qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
É perfeitamente possível que sejam feitos outros requerimentos de cooperação não previstos em lei, desde que não afrontem o ordenamento jurídico pátrio.
MECANISMOS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL
A lei prevê os mecanismos processuais para materialização da cooperação internacional, que são a “Carta rogatória”, o “Auxílio direto” e a “Homologação de decisão estrangeira”.
HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA:
A Homologação de Sentença Estrangeira é um procedimento judicial que visa dar eficácia no ordenamento jurídico brasileiro à decisão judicial estrangeira definitiva.
· A homologação também é cabível quando a decisão estrangeira, ainda que não seja judicial, tem natureza judicial de acordo com as normas brasileiras.
· Também são passíveis de homologação as decisões interlocutórias, que também poderão ter eficácia por meio de carta rogatória.
A competência para processar a homologação de sentença estrangeira era do Supremo Tribunal Federal, mas após a edição da Emenda Constitucional 45 passou a ser do Superior Tribunal de Justiça, conforme dispõe o art. 105, inciso I, alínea i da Constituição. Após a homologação, caberá à Justiça Federal a execução da decisão homologada, nos temos do art. 109, inciso X da Constituição e art. 965 do Código de Processo Civil.
O procedimento de homologação deverá seguir os termos dos tratados internacionais em vigor, da lei processual e do regimento interno do Superior Tribunal de Justiça.
No processo de homologação, poderão ser determinadas medidas de urgência com a execução provisória da decisão. A sentença estrangeira também poderá ser homologada apenas de maneira parcial.
Quando a decisão estrangeira for referente a divórcio consensual, esta produzirá efeitos independentemente de homologação, cabendo a qualquer juiz examinar sua validade quando requerido.
· • O art. 963-CPC prevê alguns requisitos indispensáveis para homologação de decisão estrangeira;
· • Art. 964 prevê “não dizer respeito a matéria de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira (ex: ações relativas à imóveis situados no brasil).”
CARTA ROGATÓRIA:
As cartas são meios de comunicação processual usados pelos juízos. A carta rogatória é o documento pelo qual uma Autoridade Judiciária de um país solicita diligências à Autoridade Judiciária de outro.
A carta rogatória pode ser ativa ou passiva:
· Será ativa¹ quando o Brasil emitir Carta solicitando o cumprimento de alguma diligência a ser realizada em outro país;
· Será passiva² quando outro país solicitar ao Brasil que cumpra determinada diligência.
Diferente da Homologação de sentença estrangeira, a carta rogatória não configura um procedimento judicial autônomo, mas apenas um meio de comunicação processuale serve, exclusivamente, para dar cumprimento à decisões interlocutórias.
(¹ A carta rogatória ativa segue as regras gerais para Cartas em geral previstas no Código de Processo Civil (Precatória, de Ordem). Os requisitos da carta rogatória ativa são (art. 260 CPC):
I. a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato;
II. o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado;
III. a menção do ato processual que lhe constitui o objeto;
IV. cópias dos documentos necessários ao cumprimento da solicitação;
V. o encerramento com a assinatura do juiz;
VI. tradução da carta e documentos e a acompanham para o idioma oficial do país requerido.
A carta rogatória expedida por Autoridade Judiciária Brasileira deve ser enviada à Autoridade Central, que lhe encaminhará para a Autoridade Responsável no país requerido.)
(² A carta rogatória passiva será recebida pela Autoridade Central Brasileira e encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça.
O Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, inciso I, alínea i é competente para ordenar a execução da carta rogatória. Assim como no caso da Homologação de Decisão Estrangeira, a competência era do Supremo Tribunal Federal, vindo a ser alterada pela Emenda Constitucional 45.
A análise da carta rogatória se limitará à análise dos requisitos legais, não adentrando o mérito da decisão. São requisitos da carta rogatória passiva (art. 963 CPC):
I. ser proferida por autoridade competente;
II. ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia;
III. ser eficaz no país em que foi proferida;
IV. não ofender a coisa julgada brasileira;
V. estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI. não conter manifesta ofensa à ordem pública;
VII. garantia do contraditório, em momento posterior, no caso de decisão estrangeira concedendo medida de urgência em caráter ouvir a parte contrária.
VIII. o juízo de urgência é realizado exclusivamente pela Autoridade Estrangeira que enviou a carta rogatória.
Assim como no caso de Homologação de decisão, não será possível a execução de carta rogatória passiva que verse sobre matéria de competência exclusiva de Autoridade Judiciária Brasileira.
Sendo aprovada pelo Superior Tribunal de Justiça, a carta rogatória será enviada para o Juízo Federal, conforme art. 109, inciso X da Constituição e 965 do Código de Processo Civil.)
AUXÍLIO DIRETO:
O Auxílio Direto é o meio de cooperação internacional utilizado quando a solicitação estrangeira não decorrer de decisão judicial. De todos os meios de cooperação previstos no Ordenamento Jurídico, o Auxílio Direto é o mais amplo, pois não se limita à Cooperação Judicial.
O pedido poderá ser, segundo o artigo de obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico, sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso; colheita de provas que não seja em processo judicial em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
Assim como nos demais mecanismos de cooperação, o pedido de auxílio direto deve ser encaminhado à Autoridade Central Brasileira, responsável pelo gerenciamento do pedido e comunicação com a Autoridade Central Estrangeira solicitante.
ATENÇÃO:
Algumas diligências pressupõem manifestação do Poder Judiciário, por força da cláusula de reserva de plenário.
Exemplo: interceptação telefônica ou delação premiada.
Nesses casos, a Autoridade Central deverá encaminhar o pedido de auxílio à Advocacia Geral da União para que proceda o requerimento judicial na forma da lei.
IMPORTANTE!
As modalidades de cooperação internacional que estudamos até agora são as atribuídas pela legislação ordinária ao Poder Judiciário. A própria lei, ao prever objetos para a cooperação, deixa aberta a possibilidade de cooperação para outros fins não proibidos por lei.
Outros mecanismos e objetos de cooperação para os mecanismos já existentes podem ser criados por meio de tratados internacionais ou mesmo por meio de Memorandos de Entendimento, desde que seja observada a Norma Fundamental.
Toda e qualquer Cooperação deve respeitar as normas brasileiras.
ATIVIDADES
1. Qual o órgão competente para executar o Exequatur de carta rogatória e a Decisão de Homologatória de Decisão Estrangeira:
- c) A Justiça Federal.
2. Qual o meio de cooperação que não pressupõe, necessariamente, a atuação do Poder Judiciário?
- a) Auxílio Direto.
AULA 5 - SOBERANIA ESTATAL
SOBERANIA
Segundo a Ciência Política, um Estado só existe com seus três elementos essenciais:
Povo
É o conjunto de indivíduos que se unem para formar um Estado. São os cidadãos unidos por um vínculo jurídico permanente que forma a vontade do Estado.
Território delimitado
É o espaço físico ocupado pelo Estado, que inclui seu espaço aéreo e o Mar territorial. É a área onde a Soberania Estatal se manifesta, delimitando sua legitimidade. Não há Estado sem território.
Poder soberano
Soberania, que talvez seja o elemento mais importante do Estado, é um atributo do Poder Político Estatal. Existem poderes políticos não soberanos, que não formam um Estado (exemplo: Municípios, Estados Federados).
A Soberania é o atributo que garante a Supremacia do Poder Político. Não existe nenhum poder acima deste. Ela pode ser vista sob duas óticas:
SOBERANIA EXTERNA
A Soberania, sob a ótica externa, significa a capacidade de se autodeterminar perante outros Estados Soberanos. No âmbito internacional, um Estado será Soberano quando não estiver subordinado a nenhum outro Estado, sendo reconhecida essa qualidade pelos demais Estados Soberanos.
Quando era colônia e no período em que foi Reino Unido de Portugal, o Brasil não era Soberano, já que estava ligado a Portugal. Somente após a independência o Brasil passou a ser Estado Soberano, sem qualquer subordinação com Portugal, adquirindo a capacidade de se autodeterminar.
SOBERANIA INTERNA
Internamente, a Soberania é vista como o livre exercício do poder político, sem qualquer outro poder que o limite. Os entes federativos (Estados federados, Distrito Federal e Municípios) possuem poder político autônomo, mas não possuem Soberania, já que este poder político está limitado por um poder político que lhe é superior. A maior manifestação de Soberania no Estado Brasileiro é a Constituição da República.
A soberania é exercida pelo povo, assim como o poder político, que o faz por meio de seus representantes (art. 1º, parágrafo único, CRFB).
CARACTERÍSTICAS DA SOBERANIA
A Soberania, como atributo do poder político, apresenta uma série de características próprias:
UNIDADE:
A Soberania é Una. Na medida em que é um poder ilimitado, que não sofre interferência por parte de qualquer outro, a Soberania é única em cada Estado, não havendo que se falar em mais de um poder Soberano.
INDIVISIBILIDADE:
A Soberania é Indivisível, ou seja, não pode ser fracionada. É impossível a divisão em várias partes de uma mesma Soberania. Essa característica está intimamente ligada com a da unicidade.
INALIENABILIDADE:
É Inalienável, pois o Estado que a detém deixa de ser um Estado se abrir mão dela. A Soberania é um elemento essencial do Estado, se o Estado perde sua soberania ele deixa de existir automaticamente.
IMPRESCRITIBILIDADE:
Enquanto o Estado existir, existirá a Soberania. Não possui prazo de duração, não possui um fim. Alguns autores chamam essa característica de Perpétua ou Absoluta.
SOBERANIA E O PLANO INTERNACIONAL
No plano internacional, a Soberania pode ser entendida como a personalidade jurídica do Estado. Por meio da Soberania, o Brasil é um sujeito de direitos e obrigações dentro do plano internacional. Um Estado pode celebrar tratados e se relacionar juridicamente com outros Estados por causa da Soberania.
Por meio do exercício da Soberania, Estados criam grupos econômicos, entidades internacionais para progresso social como a ONU e outras instituições.A Soberania faz de cada Estado uma pessoa.
A Soberania garante que um Estado não vai, por regra, interferir no plano interno de outro Estado. A Constituição, no seu artigo 4º, traz os princípio que regem o Brasil no que concerne às relações internacionais. Entre estes princípios, podemos destacar os estampados nos incisos III, IV e V de mencionado artigo. Esses princípios deixam claro o real sentido da Soberania.
III. AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS:
A autodeterminação dos povos transmite a ideia da capacidade de autodeterminação do Estado, segundo a vontade de seu povo, típica da Soberania.
IV. NÃO INTERVENÇÃO:
A não intervenção é reconhecer a Soberania de outros Estados. Um Estado não interfere no outro, respeitando a ideia de que “cada um sabe de si”. A menos que um Estado peça auxílio a outro, este não irá interferir nas suas questões internas.
V. IGUALDADE ENTRE OS ESTADOS:
A igualdade entre os Estados reflete a soberania nos aspectos de que não há um poder externo maior. O Estado Soberano está em pé de igualdade com os demais Estados Soberanos. Não há hierarquia entre um Estado e outro.
A Constituição também assegura a prevalência dos direitos humanos (Art. 4º, inciso II, CRFB). Assim, caso alguma nação venha a ferir gravemente direitos humanos provocará a reação do Estado Brasileiro. É evidente a preocupação da Carta Magna em preservar a Soberania das nações amigas, somente vindo a afrontá-la em raríssimos casos.
SOBERANIA E COOPERAÇÃO INVESTIGATIVA
Em um mundo cada vez mais globalizado é comum a prática de delitos em mais de um Estado Soberano. Assim, passa a ser mais frequente que uma investigação em determinado país culmine com a necessidade de se realizar diligências em outra nação.
As ciências que orbitam a atividade investigativa se desenvolvem de maneira diferente nas várias nações.
No Brasil, o presidente da República - que é o chefe de Estado e representante do Estado Soberano na cena internacional - assina os acordos de cooperação internacional. Essa atividade é vedada aos demais entes federados (Estados Federados, Distrito Federal e Municípios).
Os acordos para cooperação acontecem por meios de atos internacionais, que são acordos entre Estados para regularem situações e alcançarem interesses mútuos:
CONVENÇÃO:
São tratados assinados em conferências internacionais, que versam sobre assuntos de interesse geral. É uma espécie de convênio assinado por países sobre os mais variados temas questões comerciais, industriais, relativas a direitos humanos etc.
Exemplo: Convenção de Haia, que versa sobre o sequestro internacional de crianças e adolescentes.
ACORDO:
O termo Acordo” é uma expressão de uso livre e amplamente utilizado na prática internacional. Eles estabelecem a base institucional que orienta a cooperação entre dois ou mais países. Os acordos costumam ter número reduzido de participantes.
Exemplo: Acordo entre o governo do Brasil e da Dinamarca para o enfrentamento da pobreza na área de transporte marítimo e intercâmbio cultural bilateral.
AJUSTE OU ACORDO COMPLEMENTAR:
É um ato complementar de um ato internacional anterior. É usado para estabelecer os termos de execução de outro ato internacional ou para detalhar áreas específicas de um ato.
Exemplo: O Brasil e Alemanha assinaram em 2011 um ajuste complementar a um acordo de cooperação técnica nas áreas de florestas tropicais e eficiência energética, em vigor desde 1996.
PROTOCOLO:
São acordos menos formais do que os tratados ou acordos complementares. Podem ser documentos que interpretam tratados ou convenções anteriores ou são utilizados para designar a ata final de uma conferência internacional. Na prática diplomática brasileira, o termo também é usado sob a forma “protocolo de intenções”.
Exemplo: O Protocolo de Quioto, do qual o Brasil é signatário, estabelece compromissos por parte dos países para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
MEMORANDO DE ENTENDIMENTO:
Atos redigidos de forma simplificada. Têm a finalidade de registrar princípios gerais que orientam as relações entre as partes em planos político, econômico, cultural ou em outros.
Exemplo: Brasil e Cingapura mantêm um memorando de entendimento para cooperação em ciência e tecnologia, que prevê, entre outros, implementar projetos e programas conjuntos em áreas como microbiologia e imunologia.
CONVÊNIO:
É o termo utilizado para acordos em matérias sobre cooperação de natureza econômica, comercial, cultural, jurídica, científica e técnica.
Exemplo: Convênio entre os governos do Brasil e do Paraguai sobre saúde animal nas áreas de fronteira. Os dois países se comprometem a sincronizar suas ações (como datas de vacinação) e atuar conjuntamente na definição de normas sanitárias, a fim de proteger a saúde dos animais da região.
ACORDO POR TROCA DE NOTAS:
Ato utilizado para assuntos de natureza administrativa, para alterar ou interpretar cláusulas de atos já concluídos. Seu conteúdo está sujeito à aprovação do Congresso.
Exemplo: O Brasil mantém um acordo dessa natureza com a Bolívia para a criação de Comitês de Integração Fronteiriça para promover a integração política, econômica, social, física e cultural.
TRATADOS:
São os acordos internacionais entre dois (bilaterais) ou vários países (multilaterais) aos quais se pretende atribuir importância política.
Exemplo: Tratados de extradição, possibilitando a transferência para o Brasil de criminosos capturados no exterior e vice-versa.
Todos os atos internacionais praticados pelo Chefe de Estado devem passar pela análise do Congresso Nacional para que tenha valor jurídico. No âmbito da cooperação investigativa internacional, é mais comum que os acordos sejam celebrados por meio de memorandos de entendimento, uma vez que são acordos mais simples que os tratados e capazes de atender os interesses existentes na área investigativa.
ATIVIDADES
1. São atributos da Soberania, exceto:
- b) Relatividade.
2. São Atos internacionais, exceto:
- c) Pactos Federativos.
AULA 6 - CRIMES TRANSNACIONAIS E COOPERAÇÃO
PRINCÍPIOS NORTEADORES DA LEI PENAL NO ESPAÇO
A aplicação da lei penal brasileira no espaço ocorre por meio de diversos princípios previstos no Direito Penal.
Características de espaço:
· É a área física onde será aplicada a norma
· Tem um conceito mais amplo do que território, que é a área física ocupada pelo Estado
· Abrange, além do território nacional, territórios de outros Estados e áreas internacionais
A transnacionalidade de um delito não se caracterizará somente pela aplicação da Lei no espaço, mas também por outros fatores que despertem o interesse de mais de uma nação acerca de um delito.
A aplicação lei penal no espaço é regida por diversos princípios trazidos no Código Penal. Esses princípios são:
EXTRATERRITORIALIDADE (ART. 7º CP):
A extraterritorialidade é a extensão de vigência da norma brasileira para além dos limites do território Brasileiro. A norma brasileira será válida em território internacional e em território de outros países.
TERRITORIALIDADE (ART. 5º CP):
Segundo essa regra, a lei penal será aplicada em todo o território brasileiro, ou seja, no espaço físico onde se localiza o Estado Brasileiro. O território engloba o espaço aéreo e o mar territorial (12km além da costa). Como regra, a Territorialidade encampa tudo que está dentro dos limites das fronteiras brasileiras.
Agora abordaremos os pormenores:
TERRITORIALIDADE LEGAL (ART. 5º, §1º):
Além do conceito básico de território, a lei amplia este conceito para fins de aplicação da norma penal. Segundo o Código Penal, também fazem parte do território brasileiro as embarcações e aeronaves brasileiras:
PÚBLICAS - As aeronaves ou embarcações públicas brasileiras (ou a serviço público), que se encontrem fora do território nacional, ainda que em território de outro país, são consideradas parte do território brasileiro.
PRIVADAS - As aeronaves e embarcações mercantes ou privadas que se encontrem fora dos limites do território do Estado brasileiro e que não estejam em território de outro Estado,ou seja, estejam em águas internacionais ou no respectivo espaço aéreo, são consideradas extensão do território brasileiro. O que temos nesses casos é a chamada lei da bandeira (ou lei do pavilhão). Por essa regra, as aeronaves e embarcações são extensão do território da bandeira que ostentam.
AERONAVES ESTRANGEIRAS - Aeronaves ou embarcações estrangeiras privadas seguirão a regra geral, ou seja, estarão submetidas às leis brasileiras quando se encontrarem em território brasileiro (no porto, em mar territorial, em pouso ou em espaço aéreo brasileiros).
UBIQUIDADE (ART. 6ºCP):
Territorialidade e extraterritorialidade são o espaço físico em que a lei brasileira é aplicada. Toda vez que o delito é praticado em território onde vigora a lei brasileira, por força da territorialidade ou extraterritorialidade, esta será aplicada. Porém, como se considera praticado o crime para fins de aplicação da lei no espaço?
Segundo o princípio da ubiquidade, o delito se considera praticado onde o criminoso praticou a ação (ou omissão), bem como onde ocorreu ou deveria ocorrer o resultado da conduta. Assim, podemos entender que o delito pode ser praticado em diversos lugares ao mesmo tempo.
Exemplo: Imagine que em uma cidade argentina, próxima à fronteira com o Brasil, duas pessoas discutam. No calor da briga, uma esfaqueia a outra. Por falta de médicos nos hospitais na cidade argentina, a vítima é levada para um hospital em território brasileiro, vindo a falecer no Brasil. Pelo princípio da Ubiquidade, o crime foi praticado na Argentina, local onde ocorreu a conduta, mas também foi praticado no Brasil, porque o resultado morte ocorreu em território Brasileiro.
EXTRATERRITORIALIDADE (ART. 7º CP):
A Lei traz as hipóteses taxativas de extraterritorialidade. A aplicação da lei pode ser incondicionada ou condicionada.
As hipóteses de extraterritorialidade incondicionada, ou seja, a lei será aplicada independentemente da lei estrangeira, são:
· Quando o crime é praticado contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
· Quando o crime é praticado contra o patrimônio ou a fé pública de qualquer ente dos Poderes Públicos brasileiros;
· Quando o crime é praticado contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
· Quando se tratar de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
Há também hipóteses em que a extraterritorialidade será condicionada a algumas circunstâncias. Tais hipóteses são:
· Os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
· Os crimes praticados por brasileiro;
· Os crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil;
· Os crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e lá não sejam julgados.
Em tais hipóteses, será aplicada a lei brasileira sob as seguintes condições:
· Entrar o agente no território nacional;
· Ser o fato punível também no país em que foi praticado;
· Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
· Não ter sido o agente absolvido ou ter cumprido pena no Estado estrangeiro;
· Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
ATENÇÃO!
No caso de crime praticado por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, além das demais condições, também se exige, alternativamente:
· Não tenha sido pedida ou tenha sido negada a extradição do criminoso; ou
· Haja requisição do Ministro da Justiça.
Nos casos de extraterritorialidade condicionada, as normas brasileiras e estrangeiras coexistem, por isso existem tais condições.
TRANSNACIONALIDADE DE UM DELITO
O delito pode ser considerado como praticado em mais de um país, de acordo com os princípios que regem a lei no espaço. Assim, surge o conceito mais básico de crime transnacional. Porém, a transnacionalidade de um crime vai além da sua prática.
A transnacionalidade do delito vai existir sempre que ele, por qualquer modo, envolva mais de uma nação.
Ela pode ter origem quando:
É PRATICADO UM DELITO EM MAIS DE UM PAÍS:
O mesmo delito pode ser praticado em mais de um país, o que, consequentemente, irá gerar interesse mútuo em sua apuração e eventual punição do criminoso.
Exemplo: Imagine que uma grande sociedade criminosa trafique drogas do Chile para o Brasil. O delito de trafico está sendo praticado no Chile, no Brasil e em todos os demais países usados como rota. Assim, haverá um interesse comum de todas as nações envolvidas em investigar e combater o delito, o que caracteriza a transnacionalidade o delito.
O CRIMINOSO POSSUI OUTRA NACIONALIDADE:
Eventualmente, o crime pode ser cometido em determinado país por um nacional de outro. Isso poderá acarretar a transnacionalidade da conduta, uma vez que o país de origem do criminoso pode ter interesse na sua punição.
Exemplo: O brasileiro Rodrigo Gularte foi condenado à pena de morte por tráfico de drogas na Indonésia. Tal fato despertou o interesse das autoridades brasileiras que, na tentativa de preservar a vida de seu nacional, tentaram intervir junto ao governo da Indonésia, não tendo sucesso.
ELEMENTOS DE DETERMINADO DELITO SE ESPALHAM POR OUTROS PAÍSES:
Configura também a transnacionalidade quando, ainda que um crime não seja praticado em mais de um país, os seus elementos (produto do crime, provas, pessoas e etc.) se espalhem por outras nações. Nesse caso, principalmente em respeito à Soberania de um Estado por parte do outro, é necessária a atuação de ambos os Estados em regime de cooperação, a fim de viabilizar a investigação do delito.
Exemplo: A operação Lava Jato descobriu enorme quantia em dinheiro oriundo de corrupção ocorrida no Brasil escondida na Suíça. A transnacionalidade do delito resultou em uma cooperação entre o Ministério Público brasileiro e o Ministério Público da Suíça para averiguar se, de fato, a quantia era ilícita e sua origem.
O CRIMINOSO COMETE O CRIME EM UM PAÍS E FOGE PARA OUTRO:
Eventualmente, um criminoso pode cometer o delito em país e, para evitar a punição, se refugia em outro. Nesses casos, o governo do país onde foi praticado o delito terá interesse em puni-lo, logo pedirá sua extradição.
Exemplo: Uma mulher dos Estados Unidos assassinou o próprio marido e fugiu para o Brasil. A fim de puni-la, o governo dos Estados Unidos solicitou ao Brasil a extradição da mulher, que foi deferida e ela foi enviada para que pudesse ser julgada e processada.
AS CONSEQUÊNCIAS DO DELITO ATINGEM INTERESSES INTERNACIONAIS:
Quando um delito, ainda que praticado exclusivamente em determinado país, atinge interesses, diretos ou indiretos, de outras nações, ele será transnacional.
Interesse direto - interesse próprio do Estado ou seu nacional.
Interesse indireto - é um interesse geral. Quando um delito, geralmente por sua gravidade, atrai interesse internacional.
Exemplo de interesse direto: o suposto esquema de pagamento propinas para compra de votos para escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 não afetou apenas os países que se envolveram no esquema fraudulento, mas, também, todos os países que concorreram a escolha para sediar os jogos.
Exemplo de interesse indireto: crimes de genocídio que, por sua gravidade, transcendem o interesse do Estado envolvido, chamando a atenção de todo o mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os delitos podem transcender fronteiras, seja em sua prática ou em seus reflexos. De muitas maneiras, eles despertaram o interesse de outros Estados e, consequentemente, resultaram em tratados e outros acordos de cooperação internacional.
Um delito será transnacional quando envolver mais de um país, seja por via direta ou indireta, podendo variar de um tráfico internacional a um furto que envolva um criminoso de origem estrangeira.
ATIVIDADES
1. É hipótese de extraterritorialidade condicionada:
- d) A aplicação de lei brasileira a brasileiro que tenha cometido crime no exterior.
2. Não é considerado território brasileiro:
- e) Embarcação mercantebrasileira em mar territorial de outra nação.
AULA 7 - TRATADOS INTERNACIONAIS ENVOLVENDO A COOPERAÇÃO INVESTIGATIVA INTERNACIONAL
FORÇA NORMATIVA DOS TRATADOS
Uma relação jurídica entre dois indivíduos, estabelecida por meio de um acordo, é um contrato.
Quando esse tipo de relação ocorre entre países, é um tratado. Como os contratos fazem lei entre os contratantes, um tratado possui força normativa entre países. A força normativa dos tratados obriga os países a ter determinada conduta. Ser signatário de um tratado internacional é uma forma de exercer livremente a Soberania.
Os tratados possuem força normativa interna. Vinculam o Estado como Pessoa Jurídica de Direito Público Internacional, e os indivíduos sujeitos às normas brasileiras em geral.
POSIÇÃO HIERÁRQUICA
Os tratados internacionais possuem o mesmo valor das leis ordinárias, produzindo efeitos depois de aprovados pelo Congresso Nacional.
Conforme previsto na Constituição (art. 5º, §3º), terão força de Emenda Constitucional os tratados que cumulativamente:
· Digam respeito a direitos humanos
· Sejam aprovados por votos de 3/5 dos membros de cada casa legislativa (Câmara e Senado)
· Sejam aprovados em dois turnos em cada casa do Congresso Nacional
TRATADOS INTERNACIONAIS DE COOPERAÇÃO COM BRASIL
O Brasil é signatário de diversos tratados envolvendo cooperação jurídica e investigativa internacionais.
A cooperação pode ser:
· Técnica
· Operacional
· Aspectos cíveis
· Aspectos penais
· Outros
TRATADOS DE EXTRADIÇÃO
A Extradição é o ato pelo qual determinado país entrega uma pessoa a outro. Pode ter por fim a entrega de pessoa investigada, processada ou condenada, por um ou mais crimes praticados no país solicitante.
INSTRUTÓRIA:
Quando solicitada para fins de investigação ou para processo criminal.
EXECUTÓRIA:
Para fins de cumprimento de pena após condenação.
ATIVA:
Quando o Governo Brasileiro pede a Extradição de um foragido da justiça brasileira que esteja em outro país.
PASSIVA:
Quando autoridade estrangeira pede a Extradição de indivíduo foragido que tenha ingressado em território Brasileiro.
A Extradição pressupõe que tenha sido determinada a prisão do extraditado, seja por prisão preventiva ou por condenação à pena restritiva de liberdade.
A Constituição brasileira veda a extradição de brasileiros natos. Os brasileiros naturalizados, só poderão ser extraditados por crimes cometidos antes da naturalização, ressalvados os casos de tráfico de entorpecentes e drogas afins, quando poderão ser extraditados a qualquer tempo.
O Brasil é signatário de 37 tratados de Extradição, sendo 29 bilaterais¹ e 8 multilaterais²
.
(¹ Argentina; Austrália; Bélgica; Bolívia; Chile; China; Colômbia; Coréia do Sul, Equador; Espanha; Estados Unidos; França; Índia; Itália; Lituânia; México; Panamá; Paraguai; Peru; Portugal; Reino Unido e Irlanda do Norte; República Dominicana; Romênia; Rússia; Suíça; Suriname; Ucrânia; Uruguai e Venezuela.)
(² Específicos: tratados multilaterais com países especificados. São tratados fechados, que não admitem adesão de outros países.
· MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai);
· MERCOSUL, Bolívia e Chile (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile);
· Comunidade de Países da Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique; Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor Leste).
Subsidiários: tratados multilaterais celebrados que admitem a adesão de qualquer país a qualquer tempo:
· Convenção de Viena - contra o tráfico ilícito de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas;
· Convenção de Palermo - Nações Unidas contra o crime organizado transnacional;
· Convenção de Mérida - Nações Unidas contra a corrupção;
· Convenção de Paris - Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais;
· Convenção Interamericana Sobre Extradição dos Estados-Membros da Organização dos Estados Americanos.)
Os tratados de Extradição têm como finalidade facilitar o procedimento de Extradição. Ainda que não exista tratado de Extradição entre o Brasil e determinado país, é possível a Extradição pautada na promessa de reciprocidade de tratamento. O procedimento será mais burocrático.
TRANSFERÊNCIA DE PESSOA CONDENADA
É o procedimento pelo qual um indivíduo que cometeu um crime, foi processado, e condenado em outro país, solicita o cumprimento da pena no seu país de origem.
ATIVA:
Quando um preso, cumprindo pena o exterior, pede transferência para o Brasil.
PASSIVA:
Quando um indivíduo estrangeiro, que cumpre pena no Brasil, pede transferência para seu país de origem.
A Transferência deve ser pedida pelo preso e deve ser aceita pelos dois países envolvidos. As despesas decorrentes da transferência serão arcadas pelo país que receber o seu nacional condenado.
Após a efetivação da transferência, competirá exclusivamente ao país remetente a revisão da condenação. O país recebedor apreciará os benefícios decorrentes do cumprimento da pena (progressão de regime etc.).
O Brasil é signatário de 21 tratados, sendo 15 bilatérias¹ e 6 multilaterais².
(¹ Angola; Argentina; Bolívia; Canadá; Chile; Espanha; Japão; Panamá; Paraguai; Peru; Portugal; Países Baixos; Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte; Suriname; Ucrânia.)
(² Específicos
· Convenção Interamericana sobre o Cumprimento de Sentenças Penais no Exterior (Arábia Saudita, Argentina, Belize, Brasil, Canadá, Cazaquistão, Chile, Costa Rica, El salvador, Equador, Eslováquia, Estados Unidos da América, Guatemala, Índia, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, República Tcheca, Uruguai e Venezuela);
· Convenção sobre a Transferência de Pessoas Condenadas entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste);
· MERCOSUL: Acordo sobre Transferência de Pessoas Condenadas entre os Estados Partes do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
Subsidiários
· Convenção de Viena - contra o tráfico ilícito de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas;
· Convenção de Palermo - Nações Unidas contra o crime organizado transnacional;
· Convenção de Mérida - Nações Unidas contra a corrupção.)
TRANSFERÊNCIA DE EXECUÇÃO DA PENA
Como é impossível a extradição de brasileiro nato, e de brasileiros naturalizados por crimes cometidos após a naturalização, surgiu o instituto da transferência da Execução da Pena, para evitar a impunibilidade.
Quando um indivíduo estrangeiro é condenado pela prática de um crime, mas foge para seu país de origem para evitar o cumprimento da pena, envia-se a punição, já que não é possível o envio da pessoa (Extradição). O país de origem do condenado irá puni-lo pelo país que o condenou.
Por se tratar de um instrumento de cooperação recente, existe somente um tratado celebrado pelo Brasil com o Reino dos Países Baixos (Holanda, Aruba, Curaçao e São Martinho) envolvendo esse instituto.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM MATÉRIA PENAL
O Brasil mantém diversos tratados envolvendo cooperação em matéria penal.
TÉCNICA:
Quando envolver questões referentes à conhecimento jurídico de Direito Penal em cada país.
OPERACIONAL:
Quando disser respeito ao cumprimento de diligências judiciais ou investigativas.
O Brasil mantém 22 tratados, sendo 20 bilaterais¹ e 12 multilaterais².
(¹ Acordos de assistência mútua em matéria penal com Bélgica; Canadá; China; Colômbia; Coréia do Sul; Cuba; Espanha; EUA; França; Honduras; Itália; México; Nigéria; Panamá; Peru; Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte; Suíça Suriname; Turquia e Ucrânia.)
(² º Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional;
· Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional relativo ao combate ao tráfico de migrantes por via terrestre;
· Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas;
· Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contrao crime organizado transnacional contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças, componentes e munições;
· Convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas;
· Convenção das Nações Unidas contra a corrupção;
· Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria Penal;
· Convenção sobre o combate da corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações comerciais internacionais;
· Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em assuntos penais - Mercosul;
· Acordo Complementar ao Acordo de Assistência Jurídica Mútua em assuntos penais entre os Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile;
· Convenção de Auxílio Judiciário em matéria penal entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
· Convenção Interamericana sobre tráfico internacional de menores.)
Os tratados têm por objetivo formalizar, simplificar, e estreitar os laços cooperativos entre as nações. É possível existir cooperação internacional independentemente da existência de tratados, pautadas na promessa de reciprocidade recíproca.
ATIVIDADES
1. Quando tem início a vigência do tratado internacional no Brasil?
- a) Com a aprovação do tratado pelo Congresso Nacional.
2. O tratado internacional, em regra, ingressará no ordenamento jurídico como:
- d) Lei Ordinária.
AULA 8 - AGENTES INTERNACIONAIS: TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
O Tribunal Penal Internacional (International Criminal Court) é um órgão internacional que foi criado pelo Estatuto de Roma e incorporado pelo Brasil por meio do Decreto 4.388/02.
O Tribunal Penal Internacional é uma corte independente e permanente, que tem por função julgar crimes de extrema gravidade, aptos a despertar o interesse internacional, como: genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Atualmente, o Tribunal Penal Internacional é composto por 124 países¹.
(¹ Afeganistão; África do Sul; Albânia; Alemanha; Andorra; Antiga República Iugoslava da Macedônia; Antígua e Barbuda; Argentina; Austrália; Áustria; Bangladesh; Barbados; Bélgica; Belize; Benin; Bolívia; Bósnia e Herzegovina; Botswana; Brasil; Bulgária; Burkina Faso; Burundi; Cabo Verde; Camboja; Canadá; Chade; Chile; Chipre; Colômbia; Comores; Congo; Costa Rica; Côte d'Ivoire; Croácia; Dinamarca; Djibouti; Dominica; El Salvador; Equador; Eslováquia; Eslovênia; Espanha; Estônia; Fiji; Filipinas; Finlândia; França; Gabão; Gâmbia; Gana; Geórgia; Grécia; Grenada; Guatemala; Guiana; Guiné; Honduras; Hungria; Ilhas Cook; Ilhas Marshall; Irlanda; Islândia; Itália; Japão; Jordânia; Lesoto; Letônia; Libéria; Liechtenstein; Lituânia; Luxemburgo; Madagáscar; Malawi; Maldivas; Mali; Malta; Maurícia; México; Mongólia; Montenegro; Namíbia; Nauru; Níger; Nigéria; Noruega; Nova Zelândia; Países Baixos; Estado da Palestina; Panamá; Paraguai; Peru; Polônia; Portugal; Quênia; Reino Unido; República Centro-Africana; República Checa; República da Coréia (Coréia do sul); República da Moldávia; República Democrática do Congo; República Dominicana; República Unida da Tanzânia; Roménia; Samoa; Santa Lúcia; São Cristóvão e Nevis; São Marinho; São Vicente e Granadinas; Senegal; Serra Leoa; Sérvia; Seychelles; Suécia; Suíça; Suriname; Tajiquistão; Timor-Leste; Trinidad e Tobago; Tunísia; Uganda; Uruguai; Vanuatu; Venezuela e Zâmbia.)
O Tribunal fez duas condenações - Thomas Lubanga Dyilo em 2012 e Germain Katanga em 2014 - ambos envolvidos em conflitos internos na República Democrática do Congo.
ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
O Tribunal Penal Internacional está sediado em Haia, na Holanda e, eventualmente, se reúne em outros locais.
O Tribunal Penal, na qualidade de órgão independente, não está subordinado à Organização das Nações Unidas, mas mantém uma relação de cooperação, especialmente com seu Conselho de Segurança.
O Tribunal é composto por quatro órgãos:
 
PRESIDÊNCIA
Composta pelo Presidente e dois Vice-Presidentes, escolhidos entre os juízes integrantes do Tribunal por seus pares. É o órgão de administração de todo o Tribunal, ressalvado o Gabinete do Procurador, que possui relativa autonomia administrativa e funcional.
O Presidente e os Vice-Presidentes somente poderão ser reeleitos uma vez e cada mandato durará três anos, salvo se o mandato como Juiz expirar primeiro, hipótese em que cessará também o mandato na Presidência.
A Presidência deve atuar em coordenação com o Gabinete do Procurador, obtendo a aprovação deste nos interesses comuns.
SECRETARIADO
A Secretaria é responsável pelos aspectos não judiciais de administração, bem como pelo funcionamento do Tribunal, respeitadas as atribuições do Procurador.
A Secretaria é chefiada pelo Secretário-Geral, auxiliado pelo Secretário adjunto.
O Secretário será escolhido por meio de voto secreto da maioria absoluta dos juízes para exercer mandato de cinco anos. Pode ser reeleito uma única vez.
Se necessário, será escolhido o Secretário adjunto pelos juízes pela mesma forma que o Secretário, ou por indicação deste, para períodos de cinco anos ou menos.
APOIO ÀS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS
A Secretaria deverá manter uma unidade de apoio a vítimas e testemunhas, que trabalhará conjuntamente com o Gabinete do Procurador.
Deverá adotar medidas de apoio às vítimas e testemunhas que compareçam perante o Tribunal Penal Internacional ou possam vir a se sentir ameaçadas em razão do processo.
As medidas de apoio envolvem proteção, segurança, assessoria e assistência em geral.
DIVISÕES JUDICIAIS
As divisões judiciais são:
SEÇÃO DE INSTRUÇÃO:
A divisão de instrução atua no inquérito instaurado pelo Procurador. Sua principal função é fazer o controle de legalidade do inquérito.
Sempre que considerar que o inquérito oferece oportunidade única de colheita de provas, o Procurador deve comunicar ao Juízo de Instrução e solicitar as medidas cabíveis para assegurar a eficácia e integridade do processo, e ainda, especialmente, assegurar a defesa do acusado.
As medidas que não forem solicitadas pelo Procurador, poderão ser determinadas de ofício pelo Juízo de Instrução, caso este venha a entender que as medidas são necessárias.
Da decisão que determinar as medidas de ofício, caberá Recurso a ser interposto pelo Procurador.
Cabe ainda à Seção de Instrução analisar a decisão do Procurador de não instaurar inquérito quando esta estiver fundamentada exclusivamente na falta de interesse do Tribunal em julgar o crime. Neste caso, a decisão do Procurador que negar a instauração de inquérito somente terá efeito se ratificada pelo Juízo de Instrução.
O Juízo de Instrução também tem por competência, após analisar todas as provas colhidas no inquérito, julgar procedente ou não a acusação do Procurador. Caso julgue procedente, deverá remeter o inquérito para Seção de Julgamento de Primeira Instância.
O referido julgamento deve ser feito em audiência com a presença do acusado e seu defensor.
SEÇÃO DE JULGAMENTO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA:
É o órgão do Tribunal que tem a competência para julgar as acusações que tenham sido julgadas procedentes pela Seção de Instrução.
A Seção de Julgamento de Primeira Instância deve repetir todas as provas produzidas no Juízo de Instrução, pois somente poderá decidir com base nas provas produzidas e examinadas em audiência de julgamento.
Caso necessário, o Juízo de Julgamento poderá exercer funções que são típicas do Juízo de Instrução, ou remeter o Julgamento para que este o faça.
SEÇÃO DE RECURSOS:
A Seção de Recursos é o órgão do Tribunal com a atribuição de rever as decisões das demais divisões judiciais. Para tanto, dispõe dos mesmos poderes da Seção de julgamento.
GABINETE DO PROCURADOR
É o órgão do Tribunal Penal Internacional que possui a atribuição de receber informações e comunicações com o fim de examinar e investigar eventual crime, além de ser o titular da ação penal junto ao Tribunal Penal Internacional.
O Gabinete do Procurador possui autonomia administrativa e funcional relativamente ao restante do Tribunal, não estando os seus membros subordinados aos demais

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