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CADERNO - DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO - 2a UNIDADE - THIAGO BORGES

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CADERNO – 2ª UNIDADE – DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO – THIAGO 
BORGES 
 
AULA 08 – SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL 
 
1. Aspectos gerais dos sujeitos de Direito Internacional: 
Os Estados são os sujeitos originários do Direito Internacional pois, na sua origem, o Direito 
Internacional foi concebido como uma relação entre Estados. 
A partir do século XX, os Estados criaram as organizações internacionais (sujeitos de caráter 
derivado e dotadas de personalidade própria). 
Além disso, pode-se mencionar a pessoa humana (sujeito sui generis, fora de qualquer 
categoria). 
 
2. Os Estados Soberanos: 
Do ponto de vista externo, não importam muito os aspectos estudados em “Ciência Política 
e TGE”. 
Os Estados Soberanos não se subordinam a qualquer entidade superior, contudo, os Estados 
não são entidades superiores, estando, na ordem internacional, em situação de igualdade. 
 
 Elementos constitutivos: 
Os elementos constitutivos do Estado são: Povo, território e governo. 
 
a) Povo: 
Cidadania e nacionalidade não se confundem, todavia, apresentam relações. A 
nacionalidade tem a ver com um vínculo jurídico-político com o Estado (o indivíduo é parte 
do que é o Estado). Os cidadãos são aqueles que exercem direitos políticos, não 
necessariamente brasileiros (nacionais), como os portugueses que se enquadram nos 
requisitos do art. 12, § 1º, CF. 
Art. 12, § 1º - CF: Aos portugueses com residência permanente no País, se houver 
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, 
salvo os casos previstos nesta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 
Revisão nº 3, de 1994). 
 
Povo se relaciona à concepção de que todo Estado precisa ter um grupo mínimo de pessoas 
que participe de sua vida política, ou seja, do seu funcionamento. O povo é composto pelos 
cidadãos, mas, como regra geral, envolve os nacionais. 
Todo nacional é cidadão, mas nem todo cidadão é nacional (vide o art. 12, § 1º, CF). Nessa 
perspectiva, cidadania é um conceito mais amplo que nacionalidade. 
Povo é um elemento mínimo do Estado, mas, a nível internacional, a dimensão humana é 
bem mais abrangente que a noção de povo. Do ponto de vista da ordem internacional, 
importa qualquer pessoa que se encontra submetida a sua jurisdição. Entra, nesse cenário, 
os estrangeiros residentes no país, inclusive os de passagem (turistas, por exemplo). 
Ex: Um turista francês foi acusado de cometer um crime no Brasil e foi preso. Não foi dado a 
ele acesso a advogado e o consulado não foi informado. Depois de um tempo incomunicável, 
alguém impetra um habeas corpus e o francês é solto. Ele entra com uma ação contra o 
Estado brasileiro e tais processos são arquivados. O francês pode levar o Brasil ao sistema 
interamericano de direitos humanos, uma vez que os turistas tem deveres (cumprir o direito 
nacional) e direitos perante o Estado brasileiro, os quais podem ser exigidos diante da ordem 
internacional. 
Destarte, uma pessoa pode integrar a dimensão humana de mais de um Estado. 
POVO (a nível internacional): NACIONAIS + ESTRANGEIROS SOB À JURISDIÇÃO DO ESTADO 
 
b) Território: 
Território, em síntese, é uma porção geográfica que é de um Estado e não é de mais 
ninguém (conceito bem básico). 
Território, tecnicamente, é a área circunscrita na dimensão jurisdicional do Estado. 
Há, também, exercício da jurisdição no chamado mar territorial (dimensão horizontal). 
Integra também essa dimensão soberana do Estado o subsolo e o espaço aéreo. Além disso, 
pode-se citar a plataforma continental (a continuação do território abaixo do mar). 
Embaixada não é território, embora integre a dimensão espacial do Estado. Por isso se 
admite a regra da extraterritorialidade da jurisdição (extra = fora). 
 
c) Governo: 
Compreende as autoridades governantes de um Estado, tendo como finalidade regrar e 
organizar a sociedade. 
A palavra governo quer designar a institucionalidade do Estado – tanto no sentido dos seus 
órgãos quanto no sentido normativo. 
Todo Estado tem uma ordem jurídica composta pela Constituição e pelas suas instituições. O 
Estado, portanto, é também a sua ordem jurídica, considerando normas e instituições (Poder 
Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário). 
 
 Observações importantes: 
Nação não integra os elementos constitutivos do Estado por se tratar de um conceito 
antropológico e não jurídico. Nesse cenário, aspectos culturais não determinam um Estado, 
já que há Estados multinacionais, os quais englobam diferentes etnias e costumes. 
A soberania não é elemento constitutivo do Estado pois, se fosse, não teria sentido já que 
todo Estado seria soberano (redundância do termo Estado Soberano). Logo, se há Estados 
não soberanos, a soberania não é elemento constitutivo do Estado. Ex: A Bahia tem um 
povo, território, ordem jurídica, governo, tribunal de justiça, símbolos próprios, Assembleia 
Legislativa – é um Estado, mas não soberano pois se encontra submissa a outro Estado 
Soberano: a República Federativa do Brasil. Quebec trata-se de outro exemplo de um 
Estado não soberano. 
Para se considerar um Estado sujeito de Direito Internacional, este precisa ser dotado de 
soberania. A soberania é um elemento adjetivo e não constitutivo do Estado para que este 
se relacione internacionalmente. Contudo, sem soberania, este não se torna sujeito de 
Direito Internacional. Somente, portanto, figuram no cenário internacional aqueles Estados 
que têm a soberania reconhecida – total ou parcialmente – por essa ordem. 
 
 Dimensão humana: 
 
a) Nacionalidade: 
Vínculo jurídico-político estabelecido na ordem interna dos Estados. Cada Estado define, 
portanto, quem são os seus nacionais – sendo os critérios mais utilizados o Ius soli e o Ius 
sanguinis. 
Outros critérios, embora pouco comuns, são religiosos. Ex: No Estado A, só são nacionais os 
praticantes de determinada religião. 
 
Há algumas normas internacionais sobre nacionalidade. 
Há o costume internacional dos Estados atribuírem nacionalidade, isto é, todo Estado deve 
determinar quem são os seus nacionais (é, em si, uma norma internacional). É admissível 
que um Estado admita como nacional qualquer pessoa, sem, nesse cenário, estabelecer 
critérios para definir a nacionalidade. 
Toda pessoa tem direito à nacionalidade (vide a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
art. 15º). 
Art. 15 – DUDH: Todo indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. Ninguém pode ser 
arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. 
 
Um apátrida é o indivíduo que não é titular de qualquer nacionalidade, ou seja, é uma 
pessoa que não é considerado nacional por qualquer Estado. 
Os apátridas sofrem muito pois são vulneráveis. Isso ocorre em virtude dos distintos critérios 
para se estabelecer nacionalidade nos Estados. 
Os curdos, por exemplo, não integram a nacionalidade iraniana. Os judeus, durante a 2ª 
Guerra Mundial, se tornaram apátridas. 
Consoante o art. 15, da DUDH, a perda da nacionalidade não pode ocorrer de forma 
arbitrária e ninguém pode ser proibido de mudar de nacionalidade (não pode ser 
criminalizado). 
 
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê que o Estado não pode banir os seus 
nacionais (proibição do banimento de nacionais) e realizar o banimento às avessas (quando 
o Estado se recusa a receber nacionais vindos de outros Estados). 
Asilo e exilo são termos complementares. Ex: A sai do estado B para C. A se exilou de B e se 
asilou em C. 
 
Pode-se mencionar, também, a importância do Caso Nottebohm (jurisprudência). 
Caso Nottebohm [1955] ICJ 1 é o nome apropriado para o caso de 1955 julgado pela Corte 
Internacional de Justiça. Liechtenstein buscou uma decisão para forçar a Guatemala a 
reconhecer Friedrich Nottebohm como cidadão de Liechtenstein. O caso foi citado em 
muitas definições de nacionalidade.Nottebohm queria litigar contra a Guatemala em virtude da perda dos seus bens. 
Nacionalidade, para fins de proteção diplomática, precisa ter laços sociais efetivos. 
 
A nacionalidade no Direito brasileiro se encontra disciplinada na CF/88 e na Lei de 
Migrações. 
 
Art. 12 – CF: São brasileiros: 
I - natos: 
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que 
estes não estejam a serviço de seu país; 
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles 
esteja a serviço da República Federativa do Brasil; 
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam 
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República 
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela 
nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007) 
 
O Brasil adota o critério Ius soli na alínea c, bem como o critério Ius sanguinis nas alíneas a e 
b. 
 
II - naturalizados: 
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de 
países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; 
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil 
há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a 
nacionalidade brasileira. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 
1994) 
 
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor 
de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos 
nesta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) 
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos 
casos previstos nesta Constituição. 
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: 
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; 
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; 
III - de Presidente do Senado Federal; 
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; 
V - da carreira diplomática; 
VI - de oficial das Forças Armadas. 
VII - de Ministro de Estado da Defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) 
Observa-se que a Constituição faz algumas discriminações entre brasileiros natos e 
naturalizados no que tange à ocupação de determinados cargos de relevância nacional. 
 
Art. 65 – Lei de Migração: Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as 
seguintes condições: 
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; 
II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos; 
III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e 
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei. 
 
Art. 66 – Lei de Migração: O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será 
reduzido para, no mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes 
condições: 
I - (VETADO); 
II - ter filho brasileiro; 
III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato 
no momento de concessão da naturalização; 
IV - (VETADO); 
V - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou 
VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística. 
Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será 
avaliado na forma disposta em regulamento. 
 
Art. 67 – Lei de Migração: A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de 
qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem 
condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira. 
Art. 68 – Lei de Migração: A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que 
se encontre em uma das seguintes situações: 
I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior 
Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou 
II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil 
por mais de 10 (dez) anos ininterruptos. 
 
Art. 70 – Lei de Migração: A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante 
criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de 
completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu 
representante legal. 
Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em definitiva se o 
naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a 
maioridade. 
 
Art. 12, § 4º - CF: Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: 
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao 
interesse nacional; 
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: (Redação dada pela Emenda Constitucional 
de Revisão nº 3, de 1994) 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda 
Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) 
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado 
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de 
direitos civis; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) 
Observa-se que não haverá a perda arbitrária da nacionalidade. 
Será declarada a perda de nacionalidade, quando o brasileiro: 
 Atentar contra a segurança nacional, desde que ratificado por sentença judicial; 
 Adquirir outra nacionalidade, salvo se: 
 O outro país reconhecer a nacionalidade brasileira; 
 Ter o indivíduo adquirido a outra nacionalidade como condição para 
continuar trabalhando, estudando e para exercer demais direitos civis 
(obrigação imposta); 
 
b) A condição jurídica do estrangeiro: 
A figura do estrangeiro é definida pela diferença. 
O estrangeiro é aquele que não é nacional. 
A terminologia estrangeiro se encontra associada à ideia de “estranho” e, portanto, é 
excludente por natureza. 
O Direito Internacional, ao admitir essa distinção entre nacionais e estrangeiros, cria um 
problema. 
A situação da migração no mundo é verificada e, no Brasil, não é diferente, apesar do seu 
tamanho continental. Nesse viés, o Brasil não é um país muito acolhedor, principalmente no 
que tange aos refugiados – vide a imposição de empecilhos para os imigrantes 
venezuelanos. A Lei de Migração brasileira tem recebido credibilidade no exterior, sendo um 
avanço em comparação à antiga lei, que não fomentava a vinda de estrangeiros no Brasil. 
Os Estados não podem banir seus nacionais e não são obrigados a aceitar estrangeiros em 
seu território. Tal máxima vem desde o século XVIII, mas, pouco a pouco, vem sendo 
mitigada devido a tratados internacionais (Estatutos de refugiados e de apátridas, por 
exemplo), os quais preveem ocasiões que os Estados devem receber os migrantes e dar 
acolhimento a esses indivíduos. Além disso, pode-se citar os tratados que discorrem sobre a 
livre circulação de pessoas, dando porosidade às fronteiras entre os Estados (vide a União 
Europeia e o Mercosul). 
No Brasil, o que determina a condição jurídica do imigrante é o visto (se entrou como 
turista, imigrante, trabalhador, etc). O visto é atribuído à pessoa pelo Estado como um dos 
elementos para entrar no território. O visto cede uma expectativa de entrada e não é, por 
conseguinte, garantia. Em sequência, na migração, serão feitas algumas perguntas para 
preencher os requisitos de entrada. Daí, será autorizada a entrada. 
O visto é dispensado quando há tratado internacional. A título exemplificativo, um brasileiro 
pode entrar sem visto na Argentina devido à existência de um tratado entre os países que 
compõemo Mercosul (livre circulação de pessoas). A liberação efetiva do visto, assim, só 
ocorre através de tratados internacionais que ratifiquem essa liberação. 
 
Art. 13 – Lei de Migração: O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao 
Brasil para estada de curta duração, sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes 
casos: 
I - turismo; 
II - negócios; 
III - trânsito; 
IV - atividades artísticas ou desportivas; e 
V - outras hipóteses definidas em regulamento. 
§ 1º É vedado ao beneficiário de visto de visita exercer atividade remunerada no Brasil. 
§ 2º O beneficiário de visto de visita poderá receber pagamento do governo, de empregador 
brasileiro ou de entidade privada a título de diária, ajuda de custo, cachê, pró-labore ou 
outras despesas com a viagem, bem como concorrer a prêmios, inclusive em dinheiro, em 
competições desportivas ou em concursos artísticos ou culturais. 
§ 3º O visto de visita não será exigido em caso de escala ou conexão em território nacional, 
desde que o visitante não deixe a área de trânsito internacional. 
 
Art. 14 – Lei de Migração: O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha 
ao Brasil com o intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre 
em pelo menos uma das seguintes hipóteses: 
I - o visto temporário tenha como finalidade: 
a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; 
b) tratamento de saúde; 
c) acolhida humanitária; 
d) estudo; 
e) trabalho; 
f) férias-trabalho; 
g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; 
h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, 
tecnológica ou cultural; 
i) reunião familiar; 
j) atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado; 
II - o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos; 
III - outras hipóteses definidas em regulamento. 
 
§ 1º O visto temporário para pesquisa, ensino ou extensão acadêmica poderá ser concedido 
ao imigrante com ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino 
brasileira, exigida, na hipótese de vínculo, a comprovação de formação superior compatível 
ou equivalente reconhecimento científico. 
 
§ 2º O visto temporário para tratamento de saúde poderá ser concedido ao imigrante e a 
seu acompanhante, desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência 
suficientes. 
 
§ 3º O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao 
nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de 
conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave 
violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras 
hipóteses, na forma de regulamento. 
 
§ 4º O visto temporário para estudo poderá ser concedido ao imigrante que pretenda vir ao 
Brasil para frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de 
pesquisa. 
 
§ 5º Observadas as hipóteses previstas em regulamento, o visto temporário para trabalho 
poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo 
empregatício no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa 
jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência se o imigrante comprovar titulação 
em curso de ensino superior ou equivalente. 
 
§ 6º O visto temporário para férias-trabalho poderá ser concedido ao imigrante maior de 16 
(dezesseis) anos que seja nacional de país que conceda idêntico benefício ao nacional 
brasileiro, em termos definidos por comunicação diplomática. 
 
§ 7º Não se exigirá do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de longo curso ou em 
cruzeiros marítimos pela costa brasileira o visto temporário de que trata a alínea “e” do 
inciso I do caput, bastando a apresentação da carteira internacional de marítimo, nos termos 
de regulamento. 
 
§ 8º É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para trabalho 
a possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral. 
 
§ 9º O visto para realização de investimento poderá ser concedido ao imigrante que aporte 
recursos em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País. 
O estrangeiro deve agir conforme a sua situação jurídica, sob pena de cometer atos ilícitos. 
O visto de turista não permite que a pessoa trabalhe. O visto de trabalho, caso a pessoa 
fique desempregada, impõe a retomada ao labor em até trinta dias. A pessoa também pode 
permanecer no território estrangeiro por asilo político ou na condição de refugiado. 
Com o visto de “acolhida humanitária” é alvo de diversos elogios, sendo, de fato, uma 
inovação do legislador brasileiro, o que permite o acolhimento de um maior número de 
pessoas. 
 
c) A exclusão do estrangeiro: 
 
 Impedimento de entrada: A pessoa entra no aeroporto do país e não é autorizada a 
entrar, sendo devolvida ao Estado de origem (repatriação). Não é uma exclusão, uma 
vez que não houve a entrada no território estrangeiro. 
 Deportação (arts. 50-53 – Lei de Migração): Ocupação irregular, existindo, após 
identificada a irregularidade, prazo de 60 dias para regularizar. 
 
Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na 
retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em 
território nacional. 
§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, 
expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 
(sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e 
mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares. 
§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede a livre circulação em território nacional, 
devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades. 
§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regularize a situação migratória, a deportação 
poderá ser executada. 
§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou 
decorrentes da lei brasileira. 
§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da 
notificação de deportação para todos os fins. 
§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nos casos que se enquadrem no inciso IX 
do art. 45. 
Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a 
ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. 
§ 1º A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio 
eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos 
administrativos de deportação. 
§ 2º A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e 
devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação. 
Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia 
autorização da autoridade competente. 
Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela 
legislação brasileira. 
 
 Expulsão: Medida punitiva, a qual exige um devido processo legal, culminando em 
um decreto presidencial que determina a expulsão. Trata-se de uma medida de 
conveniência e oportunidade (discricionariedade). 
Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante 
ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo 
determinado. 
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa 
à prática de: 
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, 
nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, 
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ; ouII - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e 
as possibilidades de ressocialização em território nacional. 
§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento 
de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto 
nesta Lei. 
§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão 
de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da 
pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de 
quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. 
§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será 
proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo. 
Art. 55. Não se procederá à expulsão quando: 
I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira; 
II - o expulsando: 
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou 
socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; 
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, 
reconhecido judicial ou legalmente; 
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no 
País; 
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) 
anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão; ou 
e) (VETADO). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm
Art. 56. Regulamento definirá procedimentos para apresentação e processamento de 
pedidos de suspensão e de revogação dos efeitos das medidas de expulsão e de 
impedimento de ingresso e permanência em território nacional. 
Art. 57. Regulamento disporá sobre condições especiais de autorização de residência para 
viabilizar medidas de ressocialização a migrante e a visitante em cumprimento de penas 
aplicadas ou executadas em território nacional. 
Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. 
§ 1º A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, 
se não houver defensor constituído. 
§ 2º Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, 
a contar da notificação pessoal do expulsando. 
Art. 59. Será considerada regular a situação migratória do expulsando cujo processo esteja 
pendente de decisão, nas condições previstas no art. 55. 
Art. 60. A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando 
do País. 
 
 Extradição: Próxima aula. 
 
AULA 09 – EXTRADIÇÃO E DIREITO DO MAR 
 
1. Extradição: 
Há sempre o envolvimento dos Poderes Judiciário e Executivo no processo de extradição. 
O Estado pode ser sujeito ativo (requerente) ou passivo (requerido) de uma extradição. 
O Ministério da Justiça prepara o pedido da extradição e o Ministério das Relações 
Exteriores protocola. Ex: Se a pessoa tiver na Itália, o protocolo é feito na embaixada da Itália 
em Brasília. 
Nos interessa estudar os casos em que o Brasil é requerido, ou seja, sujeito passivo de 
extradição. O pedido chega e é protocolado na embaixada do Brasil em algum Estado. Quem 
recebe o pedido é o Ministério das Relações Exteriores, o qual encaminha ao Ministério da 
Justiça. O Ministério da Justiça se limita a verificar se os documentos estão presentes. 
Caberá ao STF julgar a legalidade do pedido de extradição. O Supremo julgará o pedido de 
extradição conforme o tratado bilateral (se houver) entre o Brasil e o requerente e, não 
havendo tratado, com base na Lei de Migração (Lei nº 13.445/17). Muitas vezes os 
requisitos presentes no tratado são os mesmos da Lei. O tratado é feito para gerar um 
alinhamento de cooperação, ou seja, a existência de um compromisso perante a extradição. 
Não pode haver a extradição de brasileiro nato, mas apenas de naturalizado. 
 
Art. 5º, LI – CF: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime 
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; 
Consoante o art. 5º, LI, CF, o brasileiro naturalizado poderá ser extradito em duas situações: 
 Ter sido o crime praticado antes da naturalização; 
 Comprovado o envolvimento em tráfico internacional de drogas, mesmo depois da 
naturalização; 
O atleta Robinho foi condenado a 9 anos na Itália por estupro, todavia não pode ser 
extraditado já que é brasileiro nato. A Itália formalizou essa semana o pedido de extradição, 
gerando um constrangimento ao Brasil. Há, também, a busca italiana de internacionalizar a 
procura, isto é, declarar Robinho um foragido internacional, tendo ele dificuldade em sair do 
país. 
Ele também não poderá cumprir pena no Brasil em virtude das disposições contidas no 
tratado bilateral de migração envolvendo Brasil e Itália. 
Gera-se, dessa forma, uma sensação de impunidade. 
 
Art. 81 – Lei de Migração: A extradição é a medida de cooperação internacional entre o 
Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre 
quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em 
curso. 
§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais 
designadas para esse fim. 
§ 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente do 
Poder Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes. 
 
Art. 82 – Lei de Migração: Não se concederá a extradição quando: 
I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; 
II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado 
requerente; 
III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao 
extraditando; 
IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; 
V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou 
absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; 
VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado 
requerente; 
VII - o fato constituir crime político ou de opinião; 
VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de 
exceção; ou 
IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de 
1997 , ou de asilo territorial. 
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato 
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo 
ao delito político, constituir o fato principal. 
§ 2º Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração. 
 
Extradição sempre remete à condenação penal (ex: abandono de incapaz) e não há a 
possibilidade de extradição quando a prisão decretada for por dívida de alimentos. 
Se o Brasil tiver jurisdição sobre o fato, não haverá extradição, assim como no caso de 
menor potencial ofensivo da conduta (pena inferior a 2 anos). 
Consoante o art. 82, VI, percebe-se que o STF terá que analisar o prazo prescricional da lei 
estrangeira. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9474.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9474.htm
Não haverá, também, extradição, nos casos de crimes políticos ou de opinião, bem como 
nos casos em que o extraditando estiver respondendo perante tribunal ou juízo de exceção. 
O refugiado e o asilado não podem ser extraditados, afinal a própria condição remete a uma 
perseguição prévia no Estado de origem. 
As hipóteses listadas no art. 82 se estendem à deportação e à expulsão, contudo a recíproca 
não é verdadeira. 
 
Art. 94 – Lei de Migração: Negada a extradição em fase judicial,não se admitirá novo pedido 
baseado no mesmo fato. 
No caso de julgada improcedente (indeferimento), não poderá ocorrer um novo pedido de 
extradição sobre o mesmo caso. 
 
Art. 96 – Lei de Migração: Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado 
requerente assuma o compromisso de: 
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de 
extradição; 
II - computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição; 
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, 
respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos; 
IV - não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o 
reclame; 
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e 
VI - não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, 
desumanos ou degradantes. 
O prazo de efetivação da extradição é 60 (sessenta) dias. 
 
No Brasil, o caso Cesare Battisti obteve destaque. Ele era membro do Partido Comunista, o 
qual posteriormente foi julgado ilegal. Os membros do Partido Comunista passaram a 
cometer atos terroristas, como a explosão de bombas em praças públicas, sequestros. Nos 
anos 70, passávamos pela Ditadura Militar e quem resistia ao regime eram movimentos 
ligados à esquerda, influenciados pelo Socialismo da União Soviética. Cesare Battisti era uma 
figura conhecida da esquerda brasileira, que o apoiava. Battisti, em virtude dos crimes que 
cometeu, foi processado e condenado na Itália, contudo, ele estava foragido. No início dos 
anos 90 ele foi identificado na França, que negou a extradição por considerar que era 
perseguição política. A França foi obrigada pela U.E a assinar um acordo de cooperação com 
a Itália. 
Battisti nos anos 2000 foi identificado no Brasil e o país tem um tratado de extradição com a 
Itália (durante os governos do PT). O processo foi encaminhado ao STF, que deferiu a 
legalidade. Luís Roberto Barroso, advogado da União, protocolou em nome da União: 
mesmo sendo hipótese de tratado, o presidente é obrigado a seguir a ordem do Supremo? 
Voltou-se para o STF e entendeu-se que não em virtude de decisão política. O presidente 
resolveu indeferir o pedido com base no risco de uso político do extraditando. 
Com o impeachment de Dilma e a entrada do presidente Michel Temer, a Itália voltou a 
pedir o Battisti, já que o supremo deferiu e a extradição só não aconteceu em virtude de um 
ato político do Executivo. Logo, poderia ser protocolado um novo pedido de extradição. 
Nesse sentido, Temer fez a entrega do Battisti. 
 
2. A dimensão espacial do Estado: 
 
 Território: 
Os meios mais utilizados para fixar fronteiras são os meios naturais – rios, baías, mares e 
cordilheiras. No entanto, por vezes, as fronteiras são utilizadas por meio de linhas 
imaginárias (paralelos e meridianos) – vide as fronteiras entre EUA e Canadá, Goiás e 
Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, bem como entre países africanos. 
O Brasil tem duas bacias hidrográficas relevantes: a Bacia do Rio Prata e a Bacia Amazônica, 
de forma que nesses espaços o Estado não tem soberania plena. 
 
 Base territorial: 
Embora tome o território como referência, o Estado exerce a sua jurisdição sobre o subsolo, 
sobre o espaço aéreo (qualquer sobrevoo deve ser autorizado pelo Estado) e 
horizontalmente na direção do mar. 
A regulamentação do espaço aéreo é feita através de tratados no âmbito OACI (Organização 
da Aviação Civil Internacional). Cabe a essa organização uniformizar o uso do espaço aéreo 
internacional. 
O fechamento do espaço aéreo foi marcante no caso envolvendo a Bolívia e os países 
europeus. Evo Morales foi fazer uma visita oficial à Rússia e, na volta, saiu uma notícia na 
imprensa de que ele estaria negociando trazer para a Bolívia o Edward Snowden. Os Estados 
europeus fecharam o espaço aéreo para averiguar se haveria algum Edward Snowden, 
impondo a sua soberania, o que é vedado pelas convenções relativas à proteção 
diplomática. A Bolívia pleiteou uma ação contra os estados europeus, alegando violação aos 
direitos da Bolívia. 
 
3. Direito do mar: 
Os Estados, ao longo da história, buscaram se proteger contra invasões marítimas que 
pusessem em risco a sua soberania. No início foi estabelecido o direito do mar na distância 
de um tiro de canhão. 
Com a evolução tecnológica, o tiro de canhão passou a ir mais longe, mudando-se, portanto 
o critério de definição. 
A delimitação do mar territorial passou a ser pautada em critérios objetivos: três milhas 
náuticas (1 milha náutica = 1,8 km). Os Estados foram ampliando para 6 milhas náuticas, 12, 
etc, no começo do século XIX, sem muitos problemas. 
A Islândia, no início do século XX, aumentou seu mar para 50 milhas náuticas com o objetivo 
de garantir exclusividade da pesca (razões econômicas), o que levou a um conflito 
internacional. O Chile gostou da ideia e aumentou seu mar para 200 milhas náuticas. O Brasil 
também achou legal a conduta e aumentou o seu mar para 200 milhas náuticas, o que foi 
reproduzido por alguns países africanos. 
 
No meio dessa bagunça, os países começaram a divergir. Após a 2ª Guerra Mundial foram 
realizadas três reuniões, culminando na Convenção de Montego Bay (Jamaica) em 1982 - 
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Chegou-se a um consenso: 
12 milhas náuticas contadas a partir da baixa maré determina o mar territorial. 
O mar territorial envolve o direito de passagem inocente. O Estado não pode intervir em 
passagem inocente (ilícito internacional), mas apenas ordenar a fiscalização. 
A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das 12 a 24 milhas 
marítimas (acréscimo de 12 milhas náuticas em relação ao mar territorial), contadas a partir 
das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. 
Os Estados, além disso, podem estabelecer uma zona econômica exclusiva de até 200 milhas 
náuticas (próximo a 400km). 
A plataforma continental (continuação da terra abaixo do mar) faz parte da soberania do 
Estado até 200 milhas. O Brasil pediu ao aumento da sua plataforma continental à ONU (350 
milhas, sobretudo no que concerne aos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São 
Paulo), que deu um parecer favorável, esperando apenas a aprovação dos Estados membros. 
A Marinha chama esse espaço acrescido de “Amazônia Azul”. 
 
 
AULA 10 – IMUNIDADE À JURISDIÇÃO ESTATAL 
 
1. Aspectos gerais: 
Desde os Estados modernos desenvolveu-se a busca pelos Estados submeterem uns aos 
outros à sua jurisdição. 
Também se desenvolveu no plano dos costumes internacionais o chamado direito de 
legação (ou direito de embaixada) – direito de um Estado instalar uma representação no 
território de outro. 
No século XIX, após as invasões napoleônicas, os Estados diferenciaram o serviço 
diplomático do serviço consular, mas foi sobretudo a partir da 2ª Guerra Mundial que os 
Estados assinaram dois tratados positivados nos costumes internacionais sobre a matéria. 
 Em 1961, foi assinada a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas; 
 Em 1963, foi assinada a Convenção de Viena sobre relações consulares; 
Esses dois tratados foram amplamente ratificados. 
 
2. Serviço diplomático e consular: 
Esse tratamento diferenciado se justifica pela sua natureza. 
O serviço diplomático diz respeito aos atos de soberania, ou seja, representa os interesses 
de um Estado perante a soberania local. 
O Estado acreditante é aquele que envia a missão diplomática, enquanto que o Estado 
acreditado é aquele no qual o serviço diplomático é instalado. 
O serviço consular diz respeito à representação do Estado estrangeiro para o atendimento 
de interesses de particulares. Portanto, consulado é a representação no estrangeiro para 
proporcionar serviços às pessoas e às empresas que pretendam manter com nesteEstado 
algum tipo de relação. 
Aqui no Brasil as carreiras são unificadas – a pessoa presta concurso para secretário e, em 
seguida, pode ser designado para uma embaixada ou para um consulado. 
É comum que um país tenha vários consulados em um país, mas uma única embaixada. A 
título exemplificativo pode-se citar a Itália apresenta 12 consulados no Brasil. 
O órgão que representa o Brasil no exterior é o Ministério das Relações Exteriores 
(Ministério do Itamaraty). As vagas mais disputadas são na China e nos Estados Unidos, 
duas grandes potências no que tange ao comércio internacional. Esses cargos são cargos de 
confiança do Ministro das Relações Exteriores e, por isso, nem sempre são ocupados por 
diplomatas. 
O cônsul honorário (exerce a função voluntariamente) não goza dos mesmos privilégios do 
cônsul missi. 
 
3. Imunidades, primado do direito local e renúncia da imunidade: 
Os membros da missão diplomática gozam de imunidades: Não podem ser detidos por 
qualquer razão. A pessoa/membro da missão diplomática é inviolável, ou seja, não pode ser 
conduzido coercitivamente nem ser obrigado a testemunhar em juízo. Os sujeitos não se 
encontram passíveis de multas, gozando de imunidade tributária, salvo dos tributos 
indiretos. Também não estão sujeitos ao regime previdenciário local e também gozam de 
imunidade à jurisdição civil, exceto quanto aos fatos praticados estranhos ao serviço 
prestado. Além disso, a residência dos membros da missão diplomática é inviolável. Não são 
obrigados a passar pela detecção de metais nos aeroportos. Os locais onde é prestado o 
serviço diplomático também são invioláveis (embaixadas), assim como os instrumentos que 
se dedicam à prestação do serviço diplomático (carros, quadros,...) – não sucessíveis de 
penhora. Tudo isso obedece ao livre exercício do direito de legação (direito de ser 
representado em outro Estado), ou seja, a ideia de que o Estado estrangeiro não pode se 
submeter à jurisdição do Estado local. 
Os funcionários consulares gozam de imunidade apenas em relação aos atos do serviço, 
podendo, portanto, ser detidos e responder a processos penais por crimes comuns. No 
entanto, se isso acontecer, o cônsul ou a cônsul devem ser imediatamente convidados para 
prestar a devida assistência consular. Caso a pessoa presa seja o próprio cônsul, notificação 
deve ser feita à embaixada. A imunidade não é extensível aos familiares nem ao corpo 
técnico administrativo. O local em que se exerce o ato só é inviolável no espaço restrito da 
prestação do serviço, assim como são invioláveis todos os documentos relativos ao 
consulado. São também invioláveis os bens afetados ao serviço consulado (carros, quadros, 
etc). 
Há a preservação dos interesses do Estado acreditado, impondo limites ao Estado 
acreditante. Essas limitações são pautadas no princípio do primado do direito local, ou seja, 
qualquer pessoa que esteja amparada pelas imunidades se compromete a respeitar o direito 
local – o direito do Estado em que prestam serviços – de forma que a imunidade não é uma 
“carta branca” para a prática de atos ilícitos. Em caso de descumprimento grave ou reiterado 
do direito local, o representante do Estado estrangeiro pode ser declarado persona non 
grata, caso em que será removido da missão o cônsul e poderá responder pelos atos 
praticados no seu Estado de origem. Se a conduta ilícita não for punível no Estado 
acreditante, pode este (embora seja raro) renunciar à imunidade para que o agente seja 
punido no Estado acreditado. 
Ex: A, saudita, é casado com três mulheres (permitido pelo ordenamento local) e, ao viajar 
para o Brasil, mostra a certidão dos três casamentos. Isso não será uma afronta ao direito 
local – representar as respectivas esposas como esposas (prática cultural e lícita a luz do 
direito saudita) – entretanto não pode esse indivíduo se casar novamente aqui. 
 
4. Imunidade dos Estados e OIS: 
Um Estado por impor ao outro a sua jurisdição? Essa questão se desenvolveu de 
particularmente sensível por conta do Direito Trabalhista pois é comum que as embaixadas 
recrutem brasileiros in loco. De acordo com essa linha de raciocínio, existiria uma distinção 
entre o Jus imperii (atos de soberania – imunes ao direito local) e Jus gestionis (direito de 
gestão). Por mais que os Estados exerçam o Jus gestionis, há obstáculos para a execução, em 
virtude da inviolabilidade dos bens diplomáticos e consulares. 
 
As organizações internacionais também são sujeitos de Direito Internacional e têm como 
objetivo o aperfeiçoamento das relações internacionais. Na contemporaneidade, se 
considera que as organizações internacionais constituem a infraestrutura da sociedade 
internacional, mas podem existir relações internacionais fora das organizações 
internacionais (vide relações bilaterais e relações multinacionais não institucionais). Todavia, 
a maior parte dessas relações se dá no âmbito das relações internacionais. 
As organizações internacionais são sujeitos de Direito Internacional, mas não são entidades 
supranacionais. São organizações que se relacionam com os Estados em condição de 
igualdade e são formadas a partir de tratados multinacionais. Os Estados, por conseguinte, 
são membros desses tratados e dessas organizações. 
No que tange à estrutura das organizações internacionais, essa é variável. As organizações 
com finalidade mais reduzida apresentam estruturas mais simples (singelas) em comparação 
com as organizações mais complexas. No geral, pelo menos dois órgãos estão presentes em 
qualquer organização internacional: 
 O órgão administrativo – que normalmente se chama secretariado – atua em prol 
dos interesses da organização e apresenta funcionamento permanente; 
 A Assembleia Geral apresenta uma função deliberativa. Os membros da Assembleia 
Geral atuam com parcialidade na representação dos interesses do seu Estado. A 
Assembleia só se reúne de tempos em tempos (geralmente uma vez pro ano), 
podendo, no entanto, se reunir em caráter extraordinário a qualquer tempo. A título 
exemplificativo pode-se citar a reunião extraordinária na ONU realizada em Nova 
York para resolver o conflito no Leste Europeu. 
A ONU apresenta conselhos, comissões (órgãos especializados) e, ainda, órgãos decisórios 
(de solução de controvérsias), como é o caso da Corte Internacional de Justiça (CIJ). 
 
Podemos classificar as organizações internacionais. 
 Quanto à abrangência da sua atuação: 
 
 Universais: Não impõem nenhum limite ao acesso dos Estados àquelas 
organizações; 
 Regionais: Oferecem algum tipo de limitação. Não se confunde, 
necessariamente, com a regionalidade geográfica. Ex: A Liga dos Estados 
Árabes é formada por uma região cultural, sendo composta por países 
africanos, asiáticos e europeus que apresentam a predominância da cultura 
árabe. A OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – também 
trata-se de um exemplo, contudo, mais direcionado para o viés econômico. 
 
 Quanto à área de atuação: 
 Organizações predominantemente políticas: Criadas para assegurar o 
equilíbrio nas relações internacionais. Ex: ONU; 
 Organizações predominantemente técnico-específicas: Voltadas para uma 
área do conhecimento. Ex: OMS, OMC, OIC, OMI; 
 
Pode-se combinar os critérios: 
 Organizações universais e predominantemente políticas. Ex: ONU; 
 Organizações regionais predominantemente políticas; 
 Organizações universais predominantemente técnico-específicas; 
 Organizações regionais predominantemente técnico-específicas; 
 
Quanto ao vínculo entre os Estados: 
 Organizações clássicas: São intergovernamentais, ou seja, o vínculo entre os 
Estados é limitado. Servem muito mais como espaços públicos de realização 
de atos políticos; 
 Organizações de integração: Formam os blocos econômicos – União Europeia, 
Mercosul, Tigres Asiáticos. São organizações cujas competências interferem 
diretamente nos Estados(circulação de pessoais, capitais, serviços, bens, 
barreiras fiscais e parafiscais, promoção de uma aproximação cultural...); 
Nos dedicaremos ao estudo da ONU – Organização das Nações Unidas. 
 
5. A ONU: 
 
 Histórico: 
Em duas convenções em 1944 (Dumbarton Oaks e Yalta), as nações buscaram estruturar a 
ONU como um órgão que refletisse a geopolítica do mundo. Esse órgão é o chamado 
Conselho de Segurança – que vai de encontro ao idealismo que permeia toda a Carta das 
Nações Unidas. Se propõe a refletir a realidade – a diferença de forças na sociedade 
internacional – partindo do pressuposto de que é necessário incorporar tais diferenças para 
a harmonia da sociedade internacional. 
O idealismo da Carta da ONU seria mais facilmente alcançado a partir de um realismo. 
Hoje, contudo, a ONU vive uma crise institucional pois o Conselho de Segurança não se 
adaptou às modificações das relações internacionais. 
 
 Estrutura e funções: 
 
 Secretariado: 
O secretário-geral da ONU é eleito na Assembleia Geral por 2/3 dos Estados a partir da 
recomendação do Conselho de Segurança. 
O secretário-geral tem um mandato de 5 (cinco) anos, podendo ser reconduzido uma vez. 
Ele pode convocar a Assembleia Geral sempre que entender necessário. É comum (costume 
não expresso) que o secretário-geral tenha certa rotatividade geral (africano, sul-coreano, 
oriental, latino-americano, árabe, etc). 
 
 Assembleia Geral: 
Cada Estado tem direito a um voto, não havendo distinção de pesos. 
A Assembleia Geral das Nações Unidas tem competência fiscal e atua por meio de 
recomendações, resoluções – essas não vinculantes para os Estados – e, eventualmente, 
tratados. 
A Assembleia Geral se reúne uma vez por ano, no mês de setembro. 
 
 Conselho de Segurança: 
O Conselho de Segurança, na sua origem, tinha onze membros (cinco permanentes e seis 
não permanentes). Após uma modificação na sua carta, passou-se a ter 15 membros (cinco 
permanentes – EUA, Rússia, China, França e Reino Unido). Os demais membros (não 
permanentes) são eleitos na Assembleia Geral para dois anos e não podem ser reconduzidos 
para o período subsequente. Em termos práticos, isso gera o fortalecimento dos membros 
permanentes em virtude da rapidez de relacionamentos com os membros não permanentes 
(há a troca constante de cinco membros) – dificulta a formação de maioria pelos membros 
não permanentes. 
Do ponto de vista do realismo político, a concepção de membros permanentes não é algo 
absurdo, mas já tem durado algum tempo. Destarte, cabe ao Conselho de Segurança se 
adequar às transformações da sociedade internacional, já que a sua estrutura é a mesma 
desde o término da 2ª Guerra Mundial, salvo o aumento de 11 (onze) para 15 (membros). 
O Conselho de Segurança, portanto, trata-se de um órgão bastante poderoso e tal 
descompasso mitiga a legitimidade da própria organização internacional – ONU (já que, por 
exemplo, hoje, Alemanha e Japão são países totalmente diferentes de outrora e se tornaram 
potências globais). 
Artigo 25 – Carta da ONU: 
Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do Conselho 
de Segurança, de acordo com a presente Carta. 
Por isso, parte da doutrina considera que o Conselho de Segurança é fonte do Direito 
Internacional. 
Nessa perspectiva, destaca-se o capítulo VII da Carta da ONU. O artigo 39 atribui 
competências ao Conselho de Segurança - cabe ao Conselho de Segurança definir se houve 
ou não houve agressão (Ex: testes militares de um país no litoral de outro é ou não é risco à 
paz mundial?). Cabe também a esse órgão, ao constatar a presença de ameaça, fazer 
recomendações de solução pacífica ou decidir quais medidas a serem tomadas (inclusive 
usufruir do uso da força). 
CAPÍTULO VII 
AÇÃO RELATIVA A AMEAÇAS À PAZ, RUPTURA DA PAZ E ATOS DE AGRESSÃO 
Artigo 39. O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, 
ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão 
ser tomadas de acordo com os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a 
segurança internacionais. 
Artigo 41. O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego 
de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões e poderá 
convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a 
interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação 
ferroviários, marítimos, aéreos , postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer 
espécie e o rompimento das relações diplomáticas. 
Artigo 42. No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no 
Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de 
forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer 
a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios 
e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das 
Nações Unidas. 
Artigo 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa 
individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações 
Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a 
manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos Membros no 
exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de 
Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a 
presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar 
necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais. 
A legítima defesa (art. 51 da Carta ONU) também se encontra subordinada ao Conselho de 
Segurança, o qual apresenta uma estrutura deficitária frente à realidade contemporânea. 
 
AULA 11 – A DIMENSÃO ESPACIAL DO ESTADO (CONT.) E A CIJ 
 
1. O alto-mar: 
O alto-mar também é conhecido como “águas internacionais”. 
Trata-se de um espaço internacional comum, ou seja, constitui um patrimônio da 
humanidade, sendo insuscetível de domínio pelos Estados. 
No alto-mar, vigem algumas liberdades fundamentais: 
 A liberdade de navegação; 
 A liberdade de sobrevoo; 
 A liberdade de pesca; 
 A liberdade de pesquisa científica; 
 A liberdade de instalação de ilhas artificiais; 
 A liberdade de instalação de dutos e cabos submarinos; 
Os Estados podem exercer tais liberdades, desde que para fins pacíficos e desde que não 
prejudiquem os interesses de outros Estados. 
O alto-mar envolve, ainda, o que a Convenção de Montego Bay chamou de área. A área 
trata-se do conjunto de recursos não vivos do leito do oceano e do subsolo, os quais 
constituem, também, um patrimônio da humanidade e esses recursos são geridos por uma 
organização internacional criada pela referida convenção chamada de Autoridade 
Internacional dos Fundos Marinhos. A exploração econômica desses recursos só pode ser 
feita mediante autorização da autoridade mencionada e o pagamento de royalties. Esses 
royalties são redistribuídos entre os Estados partes da Convenção de Montego Bay que não 
têm acesso ao mar. Tem-se o objetivo de evitar conflitos, já que o não acesso ao mar tende a 
gerar conflitos internacionais, mas também o objetivo de auxiliar esses Estados que não 
apresentam acesso ao mar. 
 
2. A Antártida: 
A Antártida também é considerada um espaço internacional comum e é regido pelo Tratado 
da Antártida. O objetivo inicial de se fazer esse tratado foi impedir que os Estados 
utilizassem a Antártida como um espaço de guerra. A Antártida é um continente, o qual 
apresenta recursos orgânicos próprios daquela região em virtude das suas peculiaridades – 
daí a crescente pesquisa científica na Antártida. O Brasiltem uma base na Antártida – a 
Comandante Ferraz, que pegou fogo em 2010. 
A partir da década de 90, as preocupações climáticas se estenderam à Antártida, sobretudo 
em razão do degelo, o qual pode culminar na elevação do nível dos oceanos. Foram 
assinados diversos tratados sobre a Antártida e sobre movimentos migratórios. 
 
3. Os corpos celestes: 
Com a Guerra Fria, mais especificamente no que tange à corrida aeroespacial, percebeu-se a 
necessidade de regular questões a respeito da ocupação dos corpos celestes – como a Lua. 
Os corpos celestes são insuscetíveis de domínio pelos Estados. A fincada de bandeira pelos 
EUA em 1969 na Lua não implica no domínio estadunidense deste astro. 
Foram assinados tratados para que os Estados respondam sobre o lançamento de objeto 
espacial. Muitos satélites lançados no espaço, e que posteriormente se tornam obsoletos, 
têm o risco de cair e chegar na crosta terrestre, causando danos significativos a cidades, a 
pessoas, a plantações e a construções. Os Estados assumiram a responsabilidade objetiva 
com risco integral em relação aos objetos lançados no espaço. Qualquer Estado que lance 
objetos no espaço é inteiramente responsável por esses. 
Nos anos mais recentes, outras questões relacionadas ao espaço surgiram. A França, o país 
que mais produz energia atômica, apresenta lixo atômico significativo. Esse lixo atômico é 
prejudicial pois não é reciclável e nem tem utilidade. A França quis lançar no espaço esse 
lixo. A Assembleia Geral da ONU decidiu pela impossibilidade de lançar lixo atômico no 
espaço. A França, então, teve uma “ideia sensacional”: comprou territórios na África e 
enterrou lá, pondo as populações locais em risco – embora os franceses neguem qualquer 
iminência de dano. 
Tem-se debatido, atualmente, a exploração privada do espaço – vide os empresários Elon 
Musk e Tom Cruise, os quais pretendem trazer inovações para o futuro. 
Passaram a ser levantados debates sobre o controle da internet. A internet já se demonstrou 
extremamente prejudicial para a comunidade internacional, tendo em vista o vazamento de 
dados sigilosos dos Estados e de reuniões. A Comissão de Direito Internacional da ONU tem 
discutido para passar aos Estados o controle da internet, já que hoje particulares são 
detentores da internet. 
 
4. Espaços onde o Estado exerce jurisdição fora do seu território (extraterritorialidade): 
Compreendem as embaixadas, já que os Estados apresentam imunidade local e podem 
exercer a sua jurisdição. Embaixada não é território, mas espaço de jurisdição 
extraterritorial. 
As embarcações também são compreendidas, sobretudo no que concerne à navegação em 
alto-mar (princípio da bandeira). Isso se estende às aeronaves. 
Esses tópicos serão mais aprofundados mais para frente do curso. 
 
5. ONU (continuação): 
 
 Conselho Econômico e Social: 
O Conselho Econômico e Social é composto por 54 Estados eleitos na Assembleia Geral para 
um período de três anos, podendo ser reconduzidos. 
Atua por meio de Soft law (recomendações, pareceres, memorandos, vias de princípio...) 
É o órgão central do que se convencionou chamar de Sistema das Nações Unidas, que 
congrega os organismos especializados ligados às Nações Unidas. 
O Conselho Econômico e Social é importante para medir o IDH dos Estados, os quais auxiliam 
os Estados a desenvolver políticas públicas. Fatores como saúde física, saúde mental e 
educação são medidos e enviados via relatórios detalhados para os Estados, auxiliando-os a 
se desenvolverem economicamente e socialmente, bem como reduzindo a disparidade 
econômico-social entre os países. 
Trata-se de um órgão idealista, diferentemente do Conselho de Segurança. O Conselho 
Econômico e Social é pautado nos ideais de igualdade entre os Estados, da redução da 
pobreza, entre outros. 
O referido conselho é formado por uma série de comissões temáticas, formando os alto-
comissariados das Nações Unidas, os quais verificam as carências, em termos econômicos e 
sociais, existentes visando à melhoria da qualidade de vida da população. Cada vez mais, 
portanto, o Conselho Econômico e Social tem apresentado importância significativa. 
Foram estabelecidas metas de desenvolvimento sustentável (17 objetivos) em prol da 
cooperação internacional e do desenvolvimento humano. 
 
 Conselho de Direitos Humanos: 
O Conselho de Direitos Humanos foi criado em 2006 e substituiu um conselho anterior 
criado na origem das Nações Unidas chamado de Conselho de Tutela (criado para promover 
a descolonização após a 2ª Guerra Mundial). 
Como nos anos 90 já se tinha alcançado um patamar considerável de descolonização, o 
Conselho de Tutela foi considerado obsoleto e anacrônico. 
A Comissão de Direitos Humanos emergiu à condição de conselho – o Conselho de Direitos 
Humanos. Esse processo foi longo e burocrático devido aos intensos debates travados. O 
Conselho foi criado com uma composição bem eclética – 47 Estados, sendo que 
necessariamente 13 membros são da África, 13 membros da Ásia, 6 membros da Europa 
Oriental, 8 membros da América Latina e do Caribe e 7 da Europa Ocidental/outros. Visa-se a 
garantir, destarte, o multiculturalismo – uma diversidade cultural de modo que não haja a 
imposição de uma visão particular de direitos humanos sobre as demais. 
O Conselho ainda não formalizou a união entre pessoas do mesmo sexo. Há um consenso de 
que não se pode criminalizar essa relação, contudo, ainda não há um consenso para a sua 
formalização. É necessário diálogo pois o mundo é conservador. É preciso compreender que 
a composição do discurso com os Estados envolvidos proporciona a conquista de alguns 
direitos de forma imediata, enquanto que outros apenas a médio e a longo prazo. 
O Conselho dá pareceres de requerer a atuação das Forças Armadas para conter situações 
transfronteiriças – vide o caso envolvendo Myanmar e Bangladesh. 
O Brasil tem assento, hoje, no Conselho de Direitos Humanos, podendo ser reconduzido para 
o período subsequente. Nos últimos anos, o Brasil tem tido um posicionamento diferente do 
desenvolvimento histórico do país no conselho. Pretendia-se abrir uma investigação sobre o 
cunho de preconceito racial nas polícias estaduais dos Estados Unidos (tendo em vista o caso 
George Floyd). Isso não passou. O Brasil foi um dos países que se mobilizou contra a 
abertura de tal inquérito contra os Estados Unidos. Ademais, o Brasil votou contra a 
resolução da liberdade da mulher em relação ao seu próprio corpo, por entender a presença 
de termos bem amplos e vagos. O Brasil se absteve (embora não no Conselho de Direitos 
Humanos) na suspensão do bloqueio econômico à Cuba. 
O Conselho de Direitos Humanos tende a ser um órgão cada vez mais forte, embora careça 
de maior ações nas suas atividades e por enfrentar, ainda, uma série de bloqueios pelos 
Estados. Não deixa de ser um órgão importante do ponto de vista da proteção universal dos 
direitos humanos. 
 
6. A Corte Internacional de Justiça: 
Surgiu como um órgão autônomo, mas que depois se tornou o principal órgão das Nações 
Unidas. 
A CIJ tem competência para julgar qualquer questão envolvendo as fontes do Direito 
Internacional. É, inclusive, no artigo 38 da CIJ que estão enumeradas as fontes do Direito 
Internacional. 
A Corte é formada por 15 juízes de diferentes nacionalidades que são indicados pelos 
Estados, aprovados pelo Conselho de Segurança e eleitos na Assembleia Geral por 2/3 dos 
membros. Os juízes tem mandato de 9 anos, permitindo-se uma recondução. 
Há um costume bastante respeitado em relação à distribuição geográfica dos juízes, de 
modo que se tenha uma diversidade cultural relevante. Historicamente, os cinco membros 
permanentes do Conselho de Segurança tiveram membros permanentes na Corte. Contudo, 
o Reino Unido deixou de ter um membro na CIJ pela primeira vez na história. 
A Corte funciona na Haia (Holanda) e tem como membros todosos membros das Nações 
Unidas. 
A Corte julga questões de Estados soberanos e só estes podem litigar perante a Corte (ao 
contrário de empresas e organizações internacionais). 
A sentença da CIJ é obrigatória para os Estados (art. 94. 1. ECIJ). 
A sentença da Corte é irrecorrível. Pode-se questionar apenas sobre a abrangência da 
decisão. Somente a Corte pode revisar as suas próprias decisões. 
Os Estados podem, facultativamente, aceitar a jurisdição como obrigatória (art. 36. 2. ECIJ). 
Artigo 36 – ECIJ: 
1. A competência da Côrte abrange tôdas as questões que as partes lhe submetam, bem 
como todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados 
e convenções em vigor. 
2. Os Estados partes no presente Estatuto poderão, em qualquer momento, declarar que 
reconhecem como obrigatória, ipso facto e sem acôrdo especial, em relação a qualquer 
outro Estado que aceite a mesma obrigação, a jurisdição da Côrte em todas as controvérsias 
de ordem jurídica que tenham por objeto: 
a) a interpretação de um tratado; 
b) qualquer ponto de direito internacional; 
c) a existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria a violação de um 
compromisso internacional; 
d) a natureza ou a extensão da reparação devida pela rutura de um compromisso 
internacional. 
 
O Brasil teve Antônio Augusto Cançado Trindade (Belo Horizonte, 17 de setembro de 1947 –
Brasília, 29 de maio de 2022) como um dos juízes da CIJ. 
O Brasil reconhece a jurisdição obrigatória da Corte somente em relação aos Estados 
americanos. Ex: Honduras moveu uma ação contra o Brasil pautando-se no Pacto de Bogotá. 
O Brasil poderia ter sido levado a CIJ em diversos momentos – como no caso de abrigo a 
Cesare Battisti e no caso do brasileiro que trouxe um senador boliviano no fundo do carro. 
 
7. Jurisdição internacional: 
Além da Corte Internacional de Justiça, temos diversos tribunais jurisdicionais no cenário 
internacional – como o Tribunal Internacional para o Direito do Mar (criado pela Convenção 
de Montego Bay) e o Tribunal Penal Internacional (criado pelo Estatuto de Roma). Tem-se 
também tribunais regionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Esses tribunais podem e devem dialogar uns com os outros para consolidar a perspectiva de 
unidade da ordem internacional. Esse diálogo só é possível na medida em que há o 
reconhecimento de uma ordem internacional uniforme. 
A interpretação dos tratados deve ser feita a luz da ordem internacional e não de forma 
isolada. Da mesma forma, os regimes jurídicos que dão força aos tribunais internacionais 
não devem ser considerados de forma isolada – remetendo à base da Jus cogens (efeitos 
Erga omnes que dão integridade à ordem internacional). 
Os tribunais internacionais reconhecem entre si uma litispendência internacional e uma 
coisa julgada internacional. Se determinado caso está sendo julgado em determinado 
tribunal e este caso já foi julgado por outro tribunal, o tribunal em questão pode se negar a 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte
https://pt.wikipedia.org/wiki/17_de_setembro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1947
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADlia
https://pt.wikipedia.org/wiki/29_de_maio
https://pt.wikipedia.org/wiki/2022
julgar novamente, reconhecendo a jurisdição dos demais tribunais internacionais. Ex: Se o 
caso já foi submetido ao Tribunal do Mar, a CIJ poderá se negar a julgar. 
A CIJ não é um órgão recursal, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos também 
não é. Faz-se mais racional utilizar o verbo “acionar” ao invés de “recorrer”. 
 
Referências: 
https://sdgs.un.org/goals 
 
 
AULA 12 – A PESSOA HUMANA ENQUANTO SUJEITO DE DIREITO 
INTERNACIONAL 
 
1. A pessoa humana enquanto sujeito de Direito Internacional: 
A pessoa humana, até pouco tempo (desde Grócio até os anos 90), não era considerada 
sujeito de Direito Internacional, já que este criava, em tese, obrigações apenas entre 
Estados. O Estado assumia a obrigação de promover direitos fundamentais para as pessoas 
humanas (objeto da obrigação estatal = destinatário). 
O direito subjetivo é uma via de acesso para os interesses particulares. Quem tem direitos, 
faz parte da sociedade. O direito subjetivo é um sinal de inclusão. Não ter direitos é o sinal 
maior da exclusão. 
Essa noção de direito subjetivo foi desenvolvida desde Roma, remetendo a expressões como 
facultas agendi (faculdade de agir). Destarte, a ordem jurídica romana atribuía poderes aos 
cidadãos. No entanto, com o fim do Império Romano e o início da Idade Média, sobretudo 
na Alta Idade Média, período em que preponderou os interesses do clero e da Nobreza, a 
sociedade passou a se estruturar de maneira estamental. Dessa forma, passa-se a ter o 
estrato superior privilégios e o estrato inferior, uma condição de exclusão total (a plebe). O 
povo pertencia ao reino, não tendo direito algum – não era dono da terra, da sua produção, 
da sua força de trabalho (tudo pertencia ao rei), enquanto que a nobreza e o clero 
representavam a sociedade. 
Já na Baixa Idade Média, quando a Igreja começa a perder o seu poder, o que coincide com o 
surgimento dos Estados, a plebe começa a conseguir, em vários lugares da Europa, fazer 
vários acordos de poder com os reinos. Tem-se como marco a Magna Carta de 1215, a qual 
possui trechos conservados até os dias atuais. 
Os direitos antecedem a Constituição pois sem direitos não há Constituição. Não é possível 
formar uma Constituição sem a liberdade de reunião, sem a liberdade de ir e vir, sem a 
liberdade de ter um poder constituinte, a liberdade de votação. Os direitos são conquistas 
populares que dão origem à Constituição e esta os reafirma. Entre esses direitos se 
encontram os direitos subjetivos (conquista do povo). 
O senso de preservação da Magna Carta tem a ver com a ideia de que o documento 
representa a materialização da conquista – do reconhecimento de direitos por parte do 
reino. Não é a toa que no Reino Unido não há uma Constituição escrita, uma vez que eles 
têm a concepção de que os direitos já foram conquistados e estão enraizados no bojo social. 
A Magna Carta se mantém como símbolo de uma conquista histórica do povo. 
400 anos após a Magna Carta emergiu a Bill of Rights (Declaração de Direitos), pautada em 
ideais voltados para a limitação do poder do soberano. A burguesia almeja a, portanto, 
participar do processo político. Enseja-se o princípio da legalidade – o poder do rei regulado 
pelo direito (rule of law). A Revolução Inglesa é chamada de Revolução Gloriosa por não ter 
envolvido derramamento de sangue (processo de concessões). 
O mesmo foi constatado na história política estadunidense. Primeiro se conquistou os 
direitos para, posteriormente, sintetizá-los em uma Constituição. A França foi o primeiro 
país a reconhecer a independência dos EUA e Thomas Jefferson foi nomeado embaixador 
dos Estados Unidos na França, tornando-se um dos grandes influenciadores da futura 
Revolução Francesa. 
Na França, a Declaração Universal de Direitos do Homem e do Cidadão antecede a 
Revolução Francesa. Napoleão Bonaparte “rasga” tal declaração e passa a exercer uma 
atividade expansionista. Somente com a queda de Napoleão, é que o Direito Internacional 
inicia um processo de positivação. 
Tem-se também, no século XIX, a Convenção de Bruxelas voltada para a proibição do tráfico 
de pessoas. 
Ademais, as Conferências da Paz da Haia, responsáveis por estabelecer diversas normas 
sobre guerras e limitar a ação dos combatentes (proibição do uso de armas envenenadas, 
proibição do uso de armas inflamáveis, proteção dos soldados enfermos e rendidos...). 
Passa-se a estabelecer uma ética da guerra voltada para a proteção da pessoa humana. 
Já no século XX, mais precisamente no ano 1920, mas ainda como precedente, surge a OIT 
(Organização Internacional do Trabalho) – responsável pela proteção dos direitos sociais (2ª 
dimensãodos direitos fundamentais), os quais integram os direitos humanos. 
Destaca-se também a Convenção de Paris para a Prevenção e a Repressão do crime de 
Genocídio. 
É, contudo, a partir da 2ª Guerra Mundial que ascendem, de forma expressiva, os debates 
dobre direitos humanos. Surge a Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU em 
1948. Não é um tratado, não cria vínculo jurídico, de forma que um Estado não pode 
demandar o outro com base neste documento. A Declaração da ONU não é tão forte como 
aparenta ser, já que não é cogente. A sua força é pautada no seu conteúdo e na história 
posterior à sua assinatura, uma vez que vários Estados têm, no preâmbulo de suas 
Constituições, menção à DUDH. 
A CFB/88 dialoga com a DUDH de forma mais evidente no art. 5º. 
Estatuto de Zapata e as Convenções de Genebra também mencionam a DUDH. 
Na segunda metade do século XX, foram assinados o Pacto Internacional de Direitos Civis e 
Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
Além disso, a DUDH influenciou acordos regionais, tais como a Convenção Europeia de 
Direitos Humanos de 1950, a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 e a 
Convenção Africana de Direitos Humanos e dos Povos em 2004. 
Emergem, nesse cenário, diversos outros tratados em prol de grupos marginalizados da 
sociedade, tais como mulheres, crianças, pessoas com deficiência, presos, etc. 
Os Estados se reúnem na Áustria em 1993, tendo como grande tema a carência de 
mecanismos de efetivação dos direitos humanos. 
Todo esse processo de conquista – desde a Idade Média, passando pelo pós-Guerras, até os 
dias atuais – para chegar à seguinte conclusão: as pessoas são sujeitos de Direito 
Internacional – na medida em que podem reclamar direitos perante a ordem internacional e 
devem cumprir as normas internacionais no geral. Hoje, é minoritário na doutrina o viés de 
que a pessoa humana não é sujeito de Direito I. 
Os tratados internacionais visam a assegurar o mínimo dos direitos humanos. Os Estados 
devem almejar a bem mais. Logo, aqueles que descumprem tratados internacionais “estão 
em dívida” com a sociedade internacional. 
 
Além da convocação das seleções, outro assunto está dando o que falar na Copa do Mundo 
no Catar, e não é o futebol. Ontem, o embaixador do torneio disse que a homossexualidade 
é um “dano mental”. 
 
Khalid Salman, que é ex-jogador da seleção do país, afirmou que “ainda que homossexuais 
sejam tolerados, terão de seguir as regras do Catar” 
 
Fonte: The News 
https://thenews.cmail20.com/t/t-l-akhtltd-yuihdhkjty-t/
https://thenews.cmail20.com/t/t-l-akhtltd-yuihdhkjty-t/
Thiago Borges considera uma contradição a FIFA levar a Copa para o Catar, uma vez que o 
país vai na linha contrária dos valores defendidos pela instituição. 
 
2. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: 
 
 Instrumentos: 
O Sistema Interamericano é composto por uma série de instrumentos. 
Já previa a criação de direitos humanos aplicáveis chamada de Convenção Americana de 
Direitos Humanos. 
Foi criada por uma Assembleia, passando a funcionar na estrutura da OEA em Washington. 
Os Estados passaram a debater acerca da criação de uma corte regional sobre direitos 
humanos. EUA e Canadá, bem como alguns países anglo-saxônicos do Caribe, se mostraram 
contra a criação da corte, uma vez que a maioria dos Estados da OEA é latino-americana, de 
forma que a corte sempre teria a predominância de latinos. Esses países não ratificaram a 
convenção, vindo esta a ser reconhecida apenas pelos latino-americanos. Deram-lhe o 
apelido de Pacto de San Jose da Costa Rica. 
Em 1985, foi assinado o protocolo adicional à convenção sobre direitos econômicos, sociais e 
culturais conhecido como Protocolo de São Salvador, capital de El Salvador. 
Existem outros tratados no âmbito da OEA, no entanto, esses tratados não podem ser 
acionados nem na convenção e nem na corte. O Brasil ratificou o Pacto de San Jose da Costa 
Rica somente em 1992, embora tenha entrado em vigor em 1978 (o país ainda vivia sob o 
regime militar na década de 70). 
 
 Comissão IDH: 
A Comissão é o órgão mais importante da OEA. 
Embora seja um órgão relativamente pequeno, a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos faz um trabalho importante. 
É composta por sete membros eleitos para um período de quatro anos, podendo ser 
reconduzidos uma vez. 
São indicadas pessoas (não necessariamente juristas) que, geralmente, apresentam ativismo 
na área dos direitos humanos. 
Trata-se de um órgão político-administrativo e não um tribunal. 
O sistema como um todo não é um sistema punitivo. Embora tenha sanções, não é o 
objetivo do sistema. O foco central trata-se de promover a proteção dos direitos humanos, 
fazendo com que os Estados melhorem os seus sistemas de proteção. 
ARTIGO 44 
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente 
reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, pode apresentar à Comissão 
petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado-
Parte. 
 
Os arts. 8º e 25º da Convenção afirmam que a negativa de resposta por parte de um Estado, 
por si mesma, já é uma violação de direitos humanos (acesso à justiça). A demora também 
pode ferir direitos humanos (duração razoável do processo), podendo vir a abandonar a 
jurisdição interna (art. 46, 2. a, Convenção Americana de Direitos Humanos) 
 
ARTIGO 46 
1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 
45 seja admitida pela Comissão, será necessário: 
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo 
com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos; 
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o 
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; 
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de 
solução internacional; e 
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, 
o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que 
submeter a petição. 
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando: 
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal 
para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados; 
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos 
recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e 
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos. 
Primeiro concede oportunidade de jurisdição interna, para que depois haja atuação da 
Corte. 
 
ARTIGO 47 
A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentada de 
acordo com os artigos 44 ou 45 quando: 
a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46; 
b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta 
Convenção; 
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infundada 
a petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou 
d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, já examinada 
pela Comissão ou por outro organismo internacional. 
É necessário, por exemplo, aguardar a decisão da jurisdição interna. Muitos pleiteiam na 
corte apenas com o intuito de “fazer barulho”. 
Caso a petição seja admita, a comissão dá andamento ao caso, podendo designar uma 
investigação mais aprofundada e realizar audiências. Uma vez concluída o processo 
investigatório, a comissão reúne os Estados em prol de uma solução pacífica do conflito 
(indenização, praticar determinado ato, etc). 
 
 ARTIGO 49 
Se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições

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