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INVESTIGAÇÃO - INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E FONÉTICA

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AULA 1 - ASPECTOS INICIAIS DA LEI Nº 9.296/96
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade chamada de Pós-Moderna, cujas aplicações e necessidades de tecnologia no dia a dia das pessoas chegam a níveis surpreendentes. O mundo passa por rápidas transformações, com a velocidade da informação e desenvolvimento científico, que proporcionam trocas de conhecimentos e vivências interculturais antes inimagináveis.
Concomitantemente às transformações tecnológicas, percebemos a persistência do desvio ético e moral no meio social, que culmina em formas de organização entre indivíduos que se destinam a perversas buscas de poder e a práticas criminosas, corroendo o tecido social e os ganhos civilizacionais oriundos do desenvolvimento científico.
O advento do Estado moderno corroborou, através da experiência histórica, a criação de mecanismos destinados a frear governos absolutistas e combater à criminalidade. Citemos como exemplo de mecanismos contra o despotismo a consolidação das Constituições dos Estados, estabelecendo os seus fundamentos, e, ainda, o desenvolvimento do direito internacional quanto às garantias de liberdade dos cidadãos contra abusos dos Estados Nacionais e a amplitude de direitos sociais.
À medida que a complexidade de contato entre as pessoas aumenta, infelizmente também aumentam os modos de se lesar o próximo e atentar contra os direitos fundamentais. Assim, uma das vertentes da tecnologia se dá com a criação de ferramentas que auxiliam a prevenir e reprimir tais infrações.
Contudo, nesta modernidade, a envergadura tecnológica que auxilia com mecanismos de combate ao crime também permite aos governos a capacidade, nem sequer sonhada pelos maiores imperadores do passado, de acompanhar de forma ininterrupta a vida das pessoas, controlando mecanismos de localização, subsistência, hábitos, consumo e comunicações entre as pessoas. Daí surge uma especial preocupação com a proteção da liberdade individual.
CRÍTICA À CONCEPÇÃO DO ESTADO PAN-ÓPTICO
Michael Foucault, no ensaio “A Verdade e as Formas Jurídicas” (pág. 87), faz uma crítica à concepção do Estado Pan-óptico, cuja cultura de controle se entranha na vida dos indivíduos:
Entramos assim na idade do que eu chamaria de ortopedia social. Trata-se de uma forma de poder, de um tipo de sociedade que classifico de sociedade disciplinar por oposição às sociedades propriamente penais que conhecíamos anteriormente. É a idade de controle social. Entre os teóricos que há pouco citei, alguém de certa forma previu e apresentou como que um esquema desta sociedade de vigilância, da grande ortopedia social. Trata-se de Bentham. Peço desculpas aos historiadores da filosofia por esta afirmação, mas acredito que Bentham seja mais importante para nossa sociedade do que Kant, Hegel etc. Ele deveria ser homenageado em cada uma de nossas sociedades. Foi ele que programou, definiu e descreveu da maneira mais precisa as formas de poder em que vivemos e que apresentou um maravilhoso e célebre pequeno modelo desta sociedade da ortopedia generalizada: o famoso Panopticon.
[...]No Panopticon vai se produzir algo totalmente diferente; não há mais inquérito, mas vigilância, exame. Não se trata de reconstituir um acontecimento, mas de algo, ou antes, de alguém que se deve vigiar sem interrupção e totalmente. Vigilância permanente sobre os indivíduos por alguém que exerce sobre eles um poder ― mestre-escola, chefe de oficina, médico, psiquiatra, diretor de prisão — e que, enquanto exerce esse poder, tem a possibilidade tanto de vigiar quanto de constituir, sobre aqueles que vigia, a respeito deles, um saber.
Essa crítica de Foucault nos leva a refletir, reforçando, de forma inequívoca, que as ferramentas investigativas disponíveis e invasivas na privacidade das pessoas ― como as interceptações telefônicas inseridas na legislação brasileira pela Lei nº 9.296/96 — devem sempre estar amparadas nos estritos princípios da legalidade e legitimidade das ações estatais, pois do contrário estaremos contribuindo à vivência em um Estado Pan-óptico e doente.
QUESTIONAMENTOS ACERCA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS
As interceptações das comunicações telefônicas, desde antes do advento da Lei nº 9.296/96, são objeto de diversos estudos no campo jurídico, considerando serem importantes ferramentas para a obtenção de provas e elucidação de crimes dos mais variados tipos penais, e também pelas preocupações quanto à invasão da intimidade e privacidade das pessoas.
Estão ainda no imaginário popular e em filmes policiais, de tramas secretas, e alcançam muitas especulações sobre suas potencialidades e capacidades.
Percebemos, no vídeo, a preocupação do Membro do Senado Federal com a aquisição e uso de ferramentas de interceptação telefônica pelos órgãos encarregados da persecução penal. No caso, com o sistema “Guardião”, com questionamentos como a falta de autorização judicial, a forma de execução das interceptações telefônicas, entre outras dúvidas elencadas, atribuindo inclusive a possibilidade de cometimento de crimes por parte Membros de Ministério Público Federal.
	Trataremos no presente curso sobre os principais aspectos da Lei de Interceptação Telefônica (Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996), estabelecendo como parâmetro as fontes formais do Direito, como a legislação em vigor e a jurisprudência dominante nos tribunais superiores, envolvendo ainda suas aplicações e aspectos controvertidos.
DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS
Antes de abordarmos a Lei nº 9.296/96, que vem a regulamentar o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal, é preciso estudar seu âmbito de atuação e fundamentação.
Nossa Constituição Federal em seu Art. 5º, inciso XII, dispõe:
(...) é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
Podemos, assim, extrair do texto constitucional que somente com a devida autorização judicial é possível se quebrar o sigilo das comunicações entre pessoas e, ainda, com destinação para a investigação criminal e instrução processual penal, sendo tais fins de suma importância, pois não haverá a possibilidade de interceptação para um processo cível ou trabalhista, por exemplo.
O sigilo constitucional das comunicações entre pessoas está ainda fundamentado nos princípios constitucionais da intimidade e privacidade, conforme o art.5º, inciso X, da Constituição Federal de 1988:
“(...) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
A regra, portanto, é o sigilo e somente nas especificações contidas na Constituição Federal é que se poderá quebrá-lo, ou seja, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal estabelecidos em lei.
A previsão pela Constituição Federal quanto a existência de lei para se permitir a quebra do sigilo das comunicações ocasionou importante debate nos tribunais superiores no período compreendido entre o advento da Constituição e a elaboração da Lei nº 9.296/96.
As investigações criminais que envolviam interceptações telefônicas, que até então eram realizadas com base no Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117/62), começaram a ser questionadas quanto a respectiva legalidade, conforme podemos verificar na decisão abaixo transcrita pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento de Habeas Corpus no ano de 1996:
O art. 5º, XII, da Constituição, que prevê, excepcionalmente, a violação do sigilo das comunicações telefônicas para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, não é autoaplicável: exige lei que estabeleça as hipóteses e a forma que permitam a autorização judicial. Precedentes. a) Enquanto a referida lei não for editada pelo Congresso Nacional, é considerada prova ilícita a obtida mediante quebra do sigilo das comunicações telefônicas, mesmo quando hajaordem judicial (CF, art. 5º, LVI). b) O art. 57, II, a, do Código Brasileiro de Telecomunicações não foi recepcionado pela atual Constituição (art. 5º, XII), a qual exige numerus clausus para a definição das hipóteses e formas pelas quais é legítima a violação do sigilo das comunicações telefônicas. 2. A garantia que a Constituição dá, até que a lei o defina, não distingue o telefone público do particular, ainda que instalado em interior de presídio, pois o bem jurídico protegido é a privacidade das pessoas, prerrogativa dogmática de todos os cidadãos. 3. As provas obtidas por meios ilícitos contaminam as que são exclusivamente delas decorrentes; tornam-se inadmissíveis no processo e não podem ensejar a investigação criminal e, com mais razão, a denúncia, a instrução e o julgamento (CF, art. 5º, LVI), ainda que tenha restado sobejamente comprovado, por meio delas, que o Juiz foi vítima das contumélias do paciente. 4. Inexistência, nos autos do processo crime, de prova autônoma e não decorrente de prova ilícita, que permita o prosseguimento do processo. 5. Habeas corpus conhecido e provido para trancar a ação penal instaurada contra o paciente, por maioria de 6 votos contra 5. (HC 72588 / PB PARAÍBA HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA Julgamento: 12/06/1996).
LEI Nº 9.296/96
Com o entendimento cada vez mais consolidado pelo Supremo Tribunal Federal quanto a necessidade de lei regulamentadora, foi sancionada a Lei nº 9.296 em 24 de julho de 1996.
A nova lei em seu artigo 1º reforça os objetivos estabelecidos na Constituição Federal a serem alcançados com o uso das interceptações telefônicas, quais sejam, para a investigação criminal e instrução processual criminal:
art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.
No parágrafo primeiro, percebemos a extensão de aplicabilidade também aos sistemas de comunicações de informática e telemática, atualmente em grande uso com o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação via internet.
NATUREZA JURÍDICA DE UM PROCEDIMENTO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
Conforme foi descrito aqui, não caberá o uso da interceptação telefônica em processos diversos dos fins criminais. Contudo, é interessante questionar, por exemplo, casos em que o conteúdo obtido em uma interceptação telefônica contém informações sobre o desvio funcional de servidor público.
Essas informações, em casos assim, poderão ser usadas pela Administração Pública em um processo administrativo disciplinar (PAD) para demissão do servidor envolvido em práticas criminosas?
A natureza jurídica de um procedimento de interceptação telefônica é uma Medida Cautelar Inaudita Altera Pars.
· Quando realizada no âmbito do Inquérito Policial, é chamada de Medida Cautelar Preparatória.
· Quando decretada já no curso do processo criminal, de Medida Cautelar Incidental.
Com relação ao Inquérito Policial, o professor Aury Lopes Junior nos ensina que o nosso modelo de investigação preliminar é levado a cabo pela polícia judiciária com autonomia e controle. Contudo, depende da intervenção judicial para a adoção de medidas restritivas de direitos fundamentais (Direito Processual Penal, 10. ed. p. 281).
REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
O artigo 2º da Lei 9.296/96 elenca os requisitos necessários para que seja autorizada a interceptação telefônica, cuja ausência impedirá o prosseguimento desse tipo de investigação complexa:
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
ATIVIDADES
1. Qual das alternativas abaixo é requisito para a autorização de medida de interceptação telefônica?
- c) Crimes punidos com reclusão.
2. É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas seguintes hipóteses:
- d) Investigação criminal ou instrução processual penal.
AULA 2 - INVESTIGAÇÃO E INQUÉRITO POLICIAL
INQUÉRITO POLICIAL
O Professor Aury Lopes Junior define Inquérito Policial como sendo o ato ou efeito de inquirir, colher informações acerca de um fato. Trata-se de um procedimento administrativo pré-processual exercido pela Polícia Judiciária (LOPES JR., Direito Processual Penal, p. 280).
Para se verificar a competência dos órgãos investigativos no Brasil, devemos recorrer ao art. 144 da Constituição Federal, com capítulo que trata da Segurança Pública:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
  I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
  § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
  I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
  II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
  III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
  IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
  § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
  § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
  § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
  § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
  § 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
[...]
De acordo com o artigo que acabamos de ver, percebe-se que a polícia judiciária é exercida pelas Polícias Federal e Civil e ainda pela Polícia Militar no caso de investigações militares tipificadas no Código Penal Militar.
Importante destacar que, de acordo com a natureza jurídica do Inquérito Policial, por se tratar de um procedimento administrativo, não é requisito essencial para o oferecimento da denúncia criminal pelo Ministério Público, podendo este se basear em peças de informação investigativas no âmbito da administração pública que acabem por colher informações substanciaisde algum crime, como uma sindicância ou processo administrativo, ou, ainda, no curso de um Inquérito Policial Militar instaurado pela Polícia Militar para investigar algum crime militar, e, ao final, indique também crimes de competência da justiça comum cometido por civis, que então servirá de peça para o início do processo criminal pelo MP.
DETALHES DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
Importante não confundirmos o aproveitamento de uma peça de informação para o oferecimento da denúncia criminal pelo MP com a instauração da medida cautelar de interceptação telefônica.
A interceptação telefônica somente poderá ser deflagrada mediante Representação da Autoridade Policial ou Requerimento do Ministério Público, conforme previsão no art. 3º da Lei nº 9.296/96:
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal.
Questão importante a ser mencionada é quanto à possibilidade de Representação para interceptação telefônica por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que, tendo os poderes investigativos próprios de Autoridades Judiciais, possui a previsão e finalidade, dentre outras, de apurar fatos que possam ter consequências criminais, previsto no art. 58 da CF/88:
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação.
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
De acordo com posicionamento consolidado pelo STF, as Comissões Parlamentares de Inquéritos não possuem poder de decretar a interceptação de comunicações telefônicas, considerando tal requisito ser condição do exercício de reserva de jurisdição, reconhecendo apenas a capacidade de quebra do sigilo de dados telefônicos, desde que devidamente fundamentada a necessidade de tal medida:
MS 23452 / RJ - RIO DE JANEIRO
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO
Julgamento:  16/09/1999. Órgão Julgador:  Tribunal Pleno.
O postulado da reserva constitucional de jurisdição importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita determinação constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribuído o exercício de "poderes de investigação próprios das autoridades judiciais". A cláusula constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) - traduz a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário, não apenas o direito de proferir a última palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por força e autoridade do que dispõe a própria Constituição, a possibilidade do exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades do Estado. Doutrina.
PODERES DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Outra questão muito importante é quanto aos poderes de investigação do Ministério Público, que como condutor da investigação poderia, em tese, requisitar a Autoridade Judiciária a medida de interceptação telefônica.
Apesar de muito discutido e o posicionamento contrário de alguns setores ligados à defesa criminal e também de sindicatos de Delegados de Polícia, trata-se de medida perfeitamente possível.
O Ministério Público em casos de interesse, principalmente em situações que possam envolver investigações complexas, como o caso de corrupção policial, utiliza o chamado Procedimento de Investigação Penal (PIC), que é um procedimento conduzido pelo Promotor de Justiça e auxiliado por analistas de inteligência do MP ou mesmo em alguns casos por Agentes das Polícias Militares.
Quanto à investigação conduzida pelo MP, temos um posicionamento majoritário pelos tribunais superiores no sentido de ser não só permitido como também fundamental para o Estado Democrático de Direito.
Vejamos o posicionamento do STF:
RE 593727 / MG - MINAS GERAIS
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO
Relator(a) p/ Acórdão:  Min. GILMAR MENDES
Julgamento:  14/05/2015
Órgão Julgador:  Tribunal Pleno
Ementa: Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-Geral da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. [....] 4. Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito. Deixar de cumprir ordem judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67). Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de autos de processo judicial e de precatório, para colher informações do próprio suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de vício. Negado provimento ao recurso extraordinário. Maioria.
O Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução n.º 13, de 02 de outubro de 2006, (Alterada pela Res. 111/2014) que regulamenta o art. 8º da Lei Complementar 75/93 e o art. 26 da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal pelo MP, e dá outras providências:
Art. 1º O procedimento investigatório criminal é instrumento de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal.
Parágrafo único. O procedimento investigatório criminal não é condição de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de ação penal e não exclui a possibilidade de formalização de investigação por outros órgãoslegitimados da Administração Pública.
Passemos a outro aspecto importante contido na Lei nº 9.296/96, em seu artigo 3º, “A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento”, que remete à discussão quanto a sua inconstitucionalidade, uma vez que, de acordo com o sistema acusatório estabelecido pela Constituição, o papel do Juiz de imparcialidade não pode ser contaminado pela conduta ativa da investigação, papel este do Ministério Público.
Atualmente, o STF possui a Ação Direto de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3450, questionando a validade desse artigo.
SISTEMA PROCESSUAL PENAL ACUSATÓRIO
É necessário esclarecer também que, em nosso ordenamento, o Sistema Processual Penal é classificado como acusatório, cujo legitimado para a promoção da ação penal pública é o Ministério Público, conforme estabelecido no art.129 da Constituição Federal.
O Sistema Acusatório possui como fundamentos, de acordo com Aury Lopes Junior (Direito de Processo Penal, 10. ed., p. 109):
• Clara distinção entre as atividades de acusar e julgar;
• Iniciativa probatória deve ser das partes;
• Mantém-se o juiz como terceiro imparcial, alheio a labor de investigação e passivo no que se refere à coleta de prova, tanto de imputação como de descargo;
• Tratamento igualitário das partes;
• Procedimento é em geral oral;
• Plena publicidade de todo o procedimento (ou de sua maior parte);
• Contraditório e possibilidade de resistência (defesa);
• Ausência de uma tarifa probatória, sustentando-se a sentença pelo livre convencimento motivado do órgão jurisdicional;
• Instituição, atendendo a critério de segurança jurídica (e social) da coisa julgada;
• Possibilidade de impugnar as decisões e o duplo grau de jurisdição.
O Sistema Acusatório veio a substituir em nossa legislação o Sistema Inquisitório, em que o papel do Juiz criminal é ativo na produção de provas e acaba, segundo a doutrina, se comprometendo no critério da imparcialidade.
De regra, ainda se discute muito na doutrina e jurisprudência o papel do Juiz na produção de provas, chegando a ser o nosso sistema processual também chamado de misto, uma vez que, em alguns casos elencados na norma processual penal, se permite um papel ativo do Juiz, como o caso do art. 156, incisos I e II do Código de Processo Penal:
Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. 
É nesta discussão que se insere a questão jurídica envolvendo o art. 3º da Lei nº 9.296/96 quanto à possibilidade ou não do Juiz decretar ex-offício¹ a medida de interceptação telefônica.
(¹ Realizado por ato próprio, um imperativo legal ou em razão do cargo ou da função (diz-se de ato).)
O professor Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 117) opina sobre o assunto:
O sistema adotado no Brasil, embora não oficialmente, é o misto. Registremos desde logo que há dois enfoques: o constitucional e o processual. Em outras palavras, se fôssemos seguir exclusivamente o disposto na Constituição Federal poderíamos até dizer que nosso sistema é acusatório (no texto constitucional encontramos os princípios que regem o sistema acusatório). Ocorre que nosso processo penal (procedimento, recursos, prova etc.) é regido por código específico, que data de 1941, elaborado em nítida ótica inquisitiva (encontramos no CPP muitos princípios regentes do sistema inquisitivo).
Considerando a Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada pela Procuradoria Geral da República ainda estar em curso, via de regra, atualmente praticamente não se vê decretação desse tipo de medida pelos juízes, até porque se correrá o risco de realizar um trabalho dispendioso e, ainda em caso de êxito na investigação, ser anulado todo o procedimento por tribunais superiores em razão da alegada violação do sistema acusatório.
Na opinião de Aury Lopes Junior, respeitada a opção “acusatória” feita pela Constituição, são substancialmente inconstitucionais todos os artigos do CPP que atribuam poderes instrutórios e/ou investigativos ao Juiz.
AULA 3 - CONCEITOS JURÍDICOS E METODOLOGIA INVESTIGATIVA
MODALIDADES DE CAPTAÇÃO DE VOZ
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA:
O termo interceptação telefônica remete à situação elencada na Lei nº 9.296/96, quando um terceiro, sem o conhecimento das pessoas que se comunicam, acompanha o diálogo, gravando ou não a conversa. 
Quando obedecer aos requisitos legais e devidamente autorizado, estará a interceptação amparada pela lei e seu conteúdo poderá servir como prova no curso da persecução criminal. 
Contudo, caso o terceiro realize a interceptação telefônica sem o conhecimento das pessoas que conversam e sem obedecer aos requisitos dispostos na legislação, estará violando a intimidade e privacidade dos envolvidos, e, portanto, sem o devido amparo legal estará cometendo o crime capitulado no art. 10 da lei 9.296/96: 
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa. 
A ilustração a seguir exemplifica a situação legal quanto à interceptação telefônica, quando o agente policial capta o diálogo de dois infratores da lei.
ESCUTA TELEFÔNICA:
O segundo termo muito utilizado, e também confundido em diversas decisões nas ações criminais, é a escuta telefônica. 
De acordo com a doutrina, a escuta telefônica ocorre quando uma terceira pessoa, com autorização de um dos interlocutores, grava a conversa entre duas pessoas. 
Essa modalidade de gravação telefônica, com o conhecimento de um e o desconhecimento do outro, não chega, em tese, a ser objeto de tutela da Lei nº 9.296/96. Contudo, este posicionamento não é pacífico na doutrina, existindo entendimento que está inserido também na abrangência da lei: 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Sobre o tema, se posiciona Vicente Greco Filho, na obra Interceptação Telefônica – comentários à lei n. 9.296/96 (2015, pág. 22): 
A gravação unilateral feita por um dos interlocutores com o desconhecimento do outro, chamada por alguns de gravação clandestina ou ambiental (não no sentido de meio ambiente, mas no ambiente), não é interceptação nem está disciplinada pela lei comentada e, também, inexiste tipo penal que a incrimine. Isso porque, do mesmo modo que no sigilo de correspondência, os seus titulares – o remetente e o destinatário, os quais estão liberados se houver justa causa para a divulgação. O seu aproveitamento como prova, porém, dependerá da verificação, em cada caso, se foi obtida, ou não, com violação da intimidade do outro interlocutor e se há justa causa para a gravação. Se se considerar que a obtenção foi ilícita, não poderá valer como prova, considerando-se a regra constitucional de que são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos (no caso, a violação da intimidade), mas não a interceptação de telecomunicações. 
A referência à previsão constitucional está no art. 5º: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 
O Código de Processo Penal também prevê a incidência da prova ilícita: 
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadasdo processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 
§ 1 o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
§ 2 o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
Assim, sobre qualquer tipo de escuta telefônica que possa ser apreciada em uma investigação deverá ser valorada a circunstância de sua obtenção e seus fins, sob pena de não somente ser inviabilizada a prova obtida, mas também a análise de possível ilícito penal, cível e até administrativo no caso de servidor público. 
Podemos supor um caso em que determinada pessoa, em uma conversa telefônica, autorize um terceiro a gravar o diálogo, manipulando o que foi gravado e induzindo o interlocutor, que desconhece a gravação, a tecer algum comentário confessando um ilícito e após apresentar a gravação para submeter o mesmo à processo criminal. Tal gesto pode configurar uma ação ilícita por estar violando um procedimento moral e ético na obtenção da prova. 
Outro caso possível e dentro da legalidade seria uma situação hipotética de uma ação momentânea de pessoa sendo vítima de um crime e, ante a iminência da ação, fique impossibilitada de se formalizar o pedido de interceptação e procurar o judiciário. 
Essa pessoa, então, procura um agente policial para realizar a gravação telefônica da conversa que mantém com o autor do crime. Tal conversa poderá, em tese, servir como prova do crime de que foi vítima e para a condenação do autor. 
Veja a demonstração abaixo de mulher sendo vítima de extorsão:
Observação: No caso, nota-se que o agente policial grava diretamente do aparelho da vítima, sem recorrer à operadora de telefonia.
GRAVAÇÃO TELEFÔNICA:
A outra modalidade bastante utilizada é a gravação telefônica, que, neste caso, irá se diferenciar da escuta telefônica pela ausência de terceiro, sendo realizada pela própria pessoa que participa da conversa. 
Aplica-se aqui o mesmo tratamento elencado na escuta telefônica quanto à valoração da prova a ser obtida.
Observação: Neste caso, percebe-se que a interlocutora realiza a gravação do diálogo, materializando a prova do crime de que está sendo vítima e que poderá servir para investigação criminal. 
PROVA. LICITUDE. GRAVAÇÃO DE CONVERSA TELEFÔNICA. 
A gravação de conversa feita por um dos interlocutores ou com a sua anuência exclui a ilicitude do meio de obtenção da prova, que não é considerada interceptação telefônica. Outrossim, intimado o advogado do réu da carta precatória, desnecessário sua intimação para audiência de oitiva de testemunha no juízo deprecado. Precedentes citados – do STJ: 7.216-SP, DJ 28/4/1998; do STF: HC 75.338-RJ, DJ 25/9/1998. RHC 9.735-SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Ilustração Matheus do A. Monteiro. 2 julgado em 3/4/2001.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – Descaracterização – Gravação, em fita magnética, por um dos interlocutores, de conversa regular entre duas pessoas, em livre expressão de pensamento – Vedação contida na Constituição Federal que diz respeito à interferência de terceiro no diálogo. Ementa da Redação: Não caracteriza interceptação telefônica a gravação, em fita magnética, por um dos interlocutores, de conversa regular entre duas pessoas, em livre expressão de pensamento, pois o que a Constituição veda é a interferência de terceiro no diálogo (RT, 769/582-584).
DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NAS INTERCEPTAÇÕES
Durante o desenvolvimento da investigação de interceptação telefônica, deve-se ter muito cuidado para a identificação entre os investigados e os proprietários das linhas telefônicas investigadas.
É muito comum que o proprietário não seja o usuário da linha, aliás, via de regra, pessoas comprometidas com ações criminosas dificilmente utilizarão suas linhas pessoais para o cometimento de crimes.
O professor Vicente Greco Filho (2015, pág. 41) ensina que:
· (...) parece-nos que o sujeito passivo da interceptação é o interlocutor e não o titular formal ou legal do direito de uso, justificando-se a interceptação em face de alguém que se utiliza da linha ainda que não seja o seu titular. Daí a possibilidade de interceptação telefônica em linha pública, aberta ao público ou de entidade pública.
O fato enseja, portanto, uma necessária percepção da equipe de investigação quanto aos interlocutores no curso da investigação.
Caso se verifique que a linha interceptada não esteja sendo usada pelo alvo da investigação e não haja qualquer vínculo ou interesse para a investigação, deverá a Autoridade Policial responsável oficiar ao Juízo solicitando a interrupção da interceptação.
Outro fato de relevância é quanto à captação de diálogos, ainda que pelo investigado, de assuntos privados e íntimos do mesmo, e que não possuam igualmente qualquer valor para a investigação.
Nesses casos, o analista de áudios deverá constar no sistema que se trata de assuntos pessoais e sem interesse para a investigação, deixando de transcrever o diálogo com fins de proteger assuntos de natureza privada e protegidos pelos princípios constitucionais da intimidade e privacidade.
METODOLOGIA INVESTIGATIVA
Durante o desenvolvimento de investigações de casos complexos, o órgão responsável deve possuir uma estrutura que comporte requisitos de manutenção do sigilo e possuir uma equipe de investigadores e analistas com formação multidisciplinar capazes de processar os dados captados e levantamentos de campo para a formação de prova apta a ser usada no inquérito policial.
Os agentes envolvidos na investigação devem detalhar os fatos chegados no curso da operação investigativa seguindo uma metodologia que respeita os requisitos estabelecidos no Heptâmetro de Quintiliano para se evidenciar um fato:
	O quê? – Conhecer o fato que se investiga;
Quem? – Envolvidos;
Onde? – Localização da ação delituosa;
Com o auxílio de quê? – Meios e modos aplicados no crime;
Por quê? – Motivo do crime, o que originou o crime;
De que modo? – A maneira de como se realizou o crime;
Quando? – Hora em que o fato ocorreu ou a época.
Há a necessidade de se ressaltar que a ferramenta da interceptação telefônica é um dos mecanismos de busca de prova privilegiado, mas que por si só não garante de forma alguma o êxito da ação investigativa.
EQUIPE DE INVESTIGAÇÃO
Em tese, o responsável pela operação de investigação deve possuir um nível de gestão da equipe para a divisão de tarefas, sigilo e compartimentação necessários, sem que se deixe de ter um nivelamento de conhecimento entre os agentes.
Essa organização vai, obviamente, variar de órgão para órgão, uns com mais estrutura de agentes e recursos e outros com menor porte, mas, de forma geral, é oportuno uma divisão da seguinte forma:
ANALISTAS DE ÁUDIO:
Equipe responsável pela captação dos áudios interceptados e transcrições de fatos relevantes.
São essenciais na investigação e devem possuir boa capacidade de análise e percepção para orientação da investigação. Mormente são também demandados para servir de testemunha no curso do processo penal originado.
EQUIPE DE CAMPO:
Equipe de investigação e de operações de inteligência. Devem possuir o domínio das técnicas operacionais, pois serão os responsáveis pela vinculação dos diálogos interceptados e os acontecimentos no ambiente operacional.
Devem possuir o perfil compatível para ações de campo, como perseverança, boa capacidade de comunicação e memorização, discrição, entre outras.
Assim como os Analistas de Áudio, são muito demandados para servir de testemunhas nos processos, considerando que são os mesmos que presenciam encontros suspeitos e responsáveis por eventuais flagrantes ocorridos durante a investigação.
EQUIPE DE CONTRAINTELIGÊNCIA:
São os agentes responsáveis pelo controle da operação, seleção da equipe, distribuição de senhas e proteção da operaçãopolicial como um todo.
Normalmente, permanecem em um segundo plano na investigação.
SUPORTE TÉCNICO:
Será a equipe de suporte logístico de manutenção de software/hardware, contato com as operadoras de telefonia e administração do sistema de interceptação, como o programa “Guardião”.
Normalmente, permanecem em segundo plano na investigação, mas são os responsáveis pelas informações técnicas prestadas aos Juízos onde ocorrem as ações criminais sobre o sistema de gravação dos áudios captados.
CHEFE DA OPERAÇÃO:
É a autoridade policial responsável pelas equipes e condução do Inquérito Policial.
Cabe ao mesmo a condução e o direcionamento da investigação, além elaboração do relatório final para a apreciação do Ministério Público.
COLABORADORES:
São agentes de órgãos públicos e privados, lotados em Departamentos de Segurança Institucionais, ou em órgãos técnicos especializados, que auxiliam na obtenção de dados protegidos ou com conhecimentos específicos que demandem análises técnicas para auxiliar a investigação.
Lembrando que, dependendo do tipo de investigação, será necessário o devido conhecimento técnico próprio do ramo de atividade, como investigações envolvendo crimes financeiros, crimes ambientais etc.
Tais agentes serão aproveitados fornecendo análises técnicas ou facilitando a obtenção, e, de regra, não terão acesso aos fatos documentados e mantidos em sigilo do inquérito policial.
PRAZOS DA INVESTIGAÇÃO
O prazo para o encerramento do inquérito policial é de 30 dias, em caso de réu solto, e 10 dias, no caso de réu preso, conforme previsto no Código de Processo Penal:
	Art. 10.  O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
No caso de inquérito Policial Militar, o prazo é diferenciado, conforme definido no Código de Processo Penal Militar:
Art 20. O inquérito deverá terminar dentro de vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito.
Prorrogação de prazo
§ 1º Este último prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes da terminação do prazo.
E ainda existem prazos específicos para o inquérito na Polícia Federal e nas investigações envolvendo o tráfico de drogas:
LEI Nº 5.010, DE 30 DE MAIO DE 1966. Organiza a Justiça Federal de primeira instância, e dá outras providências.
Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo.
Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o preso ao Juiz.
LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.
Não obstante os prazos estabelecidos nas legislações acima citadas, em todos os casos, em ações de investigação envolvendo a interceptação telefônica, terão seus prazos estabelecidos na Lei nº 9.296/96, que determina que o prazo de interceptação dure no máximo 15 dias prorrogáveis por mais 15, quando for fundamentadamente justificável a prorrogação:
Art. 5° - A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
	Assim, a duração da interceptação será de apenas 15 dias, e, quando terminado este prazo, a própria concessionária de telefonia corta o sinal, uma vez que o mandado judicial de interceptação determina as quebras de sigilo por apenas 15 dias, conforme a previsão legal.
Em caso de necessidade, deverá a autoridade policial fundamentar a necessidade de prorrogação para a apreciação da autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público.
ATIVIDADES
1. Em qual das alternativas abaixo é descrita a tipificação legal em caso de interceptação telefônica ilegal?
- a) Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
2. Qual o prazo legal para o período de interceptação telefônica previsto na Lei nº 9.296/96?
- a) A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo, uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
AULA 4 - INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL
O PRAZO DA INTERCEPTAÇÃO
Antes de iniciarmos nossa aula, você saberia responder a pergunta a seguir?
O prazo da interceptação será a literalidade da lei, ou seja, 15 dias prorrogáveis por igual período apenas, ou ocorrerão prorrogações sucessivas, enquanto for necessário o acompanhamento do fato, devidamente fundamentado pela Autoridade Judiciária?
A jurisprudência consolidou o entendimento de que sempre que necessário e devidamente justificada a interceptação telefônica poderá ser prorrogada enquanto necessária à investigação.
ASPECTOS ESSENCIAIS ENVOLVENDO INVESTIGAÇÕES COMPLEXAS
Ação controlada
No ano de 2013, foi sancionada a Lei nº 12.850 que define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal.
O estudo dessa lei se torna muito importante por conter elementos que podem ser conciliados com a interceptação telefônica, como, por exemplo, a figura da Ação Controlada:
Art. 8o - Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
§ 1o - O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público.
§ 2o - A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada.
§ 3o - Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
§ 4o - Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada.
Art. 9o - Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento daintervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime.
Durante a investigação, há momentos em que o investigado se encontra em estado de flagrante de delito, mas a sua prisão imediata poderá acarretar o impedimento de se descobrir todo o esquema de funcionamento da organização e os demais envolvidos, principalmente os chefes da organização criminosa.
O dispositivo da Lei nº 12.850/13 veio justamente a garantir o retardo na prisão do investigado, mitigando a figura da obrigatoriedade de prisão em flagrante, conforme a previsão no Código de Processo Penal (CPP) ou do Código de Processo Penal Militar (CPPM):
CPP: Art. 301.  Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Art. 302.  Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
CPPM: Pessoas que efetuam prisão em flagrante
Art. 243. Qualquer pessoa poderá e os militares deverão prender quem for insubmisso ou desertor, ou seja encontrado em flagrante delito.
Sujeição a flagrante delito
Art. 244. Considera-se em flagrante delito aquele que:
a) está cometendo o crime;
b) acaba de cometê-lo;
c) é perseguido logo após o fato delituoso em situação que faça acreditar ser ele o seu autor;
d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos, material ou papéis que façam presumir a sua participação no fato delituoso.
INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL
O outro dispositivo legal contido na Lei de Organizações Criminosas, Lei nº 12.850/13, que possibilita o fornecimento de contundentes provas para uma investigação é a chamada interceptação ambiental, que permite que sejam gravados diálogos e imagens dentro de um ambiente.
Dispõe a lei:
Art. 3o - Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.
§ 1º- Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada licitação para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou locação de equipamentos destinados à polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas previstas nos incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)
§ 2º - No caso do § 1º, fica dispensada a publicação de que trata o parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de controle interno da realização da contratação.
Um exemplo possível é a captação ambiental de um diálogo de corrupção ou extorsão, quando o criminoso se aproveita da proteção de determinada instalação física.
Na prática, é uma ação muito difícil, havendo a necessidade de se ter uma equipe especializada para esse tipo de investigação e com conhecimentos sobre tecnologia para esses casos.
Outra medida utilizada em captações ambientais é quanto à colocação de câmeras camufladas no interior de residências objetivando confirmar a existência de tortura/maus tratos contra idosos e crianças ou mesmo furtos.
Nesses fatos, há entendimentos, dependendo do caso, que não se faz necessária a autorização judicial, considerando que a captação seria em ambientes públicos ou um ambiente da esfera privada da pessoa e, portanto, de seu controle, como na sala de sua residência.
Obviamente, dentro de limites aceitáveis, nada justifica uma interceptação ambiental sem qualquer análise judicial prévia no banheiro de uma casa, pois neste caso poderia se estar violando a intimidade da pessoa e, portanto, qualquer prova considerada ilícita, além de possível responsabilização penal e cível para o autor do fato.
Apenas a título de exemplo, equipamentos para gravações ambientais podem ser amplamente encontrados em sites especializados de equipamentos de segurança eletrônica nos mais variados preços.
TRANSCRIÇÕES DAS INTERCEPTAÇÕES
Um aspecto interessante das investigações que contenham interceptação telefônica é quanto às transcrições dos áudios captados. Dependendo do tempo de investigação e diálogos, pode se obter milhares de horas gravadas.
De regra, os analistas de áudio realizam, dentro do sistema operacional de captação (que pode ser o sistema guardião), apenas o resumo dos áudios de interesse, lembrando que assuntos sem interesse não são transcritos.
Lei 9.296/96: Art. 6° - Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.
§ 1° - No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação interceptada, será determinada a sua transcrição.
Apenas as conversas que servirão de base para a formação de prova judicial deverão ser transcritas por completo, considerando a necessidade de se dar a maior transparência possível para o processo criminal.
Houve muita discussão jurídica sobre esse fato, considerando que advogados de defesa, por vezes, solicitam as transcrições de todos os áudios captados, e, como dissemos anteriormente, fato este praticamente inviável, considerando ser muito trabalhosa a realização de uma transcrição e a infinidade de gravações realizadas em uma investigação criminal.
AUTOS APARTADOS
Uma exigência da Lei nº 9.296/96 é que os autos da investigação de interceptação telefônica estejam correndo em autos apartados dos autos principais do inquérito, considerando a necessidade de se manter o sigilo da investigação:
Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se tratar de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou na conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal.
INTERCEPTAÇÃO NA OPERADORA
Lei 9.296/96: Art. 7° - Para os procedimentos de interceptação de que trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos especializados às concessionárias de serviço público.
As interceptações telefônicas são realizadas pelas Concessionárias de Telefonia que desviam os sinais para as Unidades Policiais por meio de links de telefonia. Tais sinais entram nos sistemas de software apropriados que armazenam os áudios e possibilitam o processamento dos dados com análises de vínculos e campos próprios para as transcrições e análises.
O chamado sistema guardião é um dos muitos existentes e talvez o mais utilizado pelas Unidades Policiais, pois este software é capaz de atender às necessidades de armazenamento e processamento dos dados.
Existem sistemas que possibilitam a captação dos sinaisde telefonia celular sem a necessidade das concessionárias, contudo são sistemas praticamente desconhecidos no Brasil, pois, além de muito caros (somente Estados Nacionais seriam, em tese, capazes de adquirir), podem dar margem a uma falta de controle e fiscalização por parte dos órgãos competentes e até mesmo na incidência de um Estado panóptico, conforme exposição de Michael Foucault na primeira aula.
ASPECTOS DA FONÉTICA FORENSE
A segunda vertente de nossa disciplina abordará o momento posterior da investigação, quando as provas serão valoradas em juízo e as dúvidas poderão ser encaminhadas à perícia criminal.
No curso da investigação de interceptação telefônica, muitas vezes, o interlocutor é identificado facilmente por elementos que circundam os diálogos, como conversas com parentes ou o próprio auto identificação no diálogo:
Porém, muitas outras vezes, a identificação de um interlocutor é difícil e as análises existentes deixam dúvidas quanto à identidade do interlocutor, havendo, então, a necessidade de submissão à perícia de acústica e fonética forense.
A Acústica Forense é o ramo de estudos na perícia que analisa as evidências que tenham o som como seu elemento principal e que possa estar no contexto de um fato jurídico, tais como som de falas e vozes, estampidos, identificação de fontes de ruídos diversos e até a determinação dos instantes e dos locais das duas ocorrências. A Fonética Forense direciona para a compreensão dos sons da fala
(FERNANDES, 2014, pág. 3).
Na visão do Professor Joel Ribeiro Fernandes, toda prova documental na forma de áudio deve ter confirmada a sua autenticidade, não apenas auditivamente, mas com o auxílio de ferramentas adequadas e precisas, bem como os exames realizados por técnicos especializados.
O entendimento, portanto, quanto à necessidade de estudos adequados em perícias de áudios, se dá pela possibilidade de manipulações em áudios digitais, com inserções ou supressões de partes importantes de diálogos gravados, com a intenção de incriminar uma pessoa ou mesmo inocentá-la de um crime.
ATIVIDADE
1. Marque a alternativa que contenha a afirmação CORRETA:
- b) A não atuação policial sobre os portadores de drogas é possível quando para identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
AULA 5 - INVESTIGAÇÃO COMPLEXA
ESTUDOS FORENSES
As evidências de áudios de interceptação telefônica obtidas durante as ações investigativas, ou mesmo anexadas durante o processo, chegadas por meios diversos, como apreensão de sistemas de CFTV, DVDs com vídeos e áudios ambientais encaminhados anonimamente para a Polícia, devem possuir um processamento detalhado para se permitir, quando necessário, a análise pericial a fim de se autenticar a origem ou mesmo detectar possíveis alterações.
Atentando-se que tais documentos, caso não questionados quando persistir dúvidas, poderão ser valorados para a formação da convicção do Juiz no processo:
EMENTAS: 1. Recurso. Agravo de instrumento. Traslado. Necessidade de autenticação das peças que o compõem. M.P. nº 1.490-15/96. Aplicação. Agravo regimental improvido. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, cinematográfica, fonográfica ou de outra espécie, faz prova dos fatos ou das coisas representadas, se aquele contra quem foi produzida lhe admitir a conformidade. 2. Recurso. Agravo de instrumento. Provimento. Decisão. Recorribilidade. Agravo regimental improvido. É irrecorrível a decisão que provê agravo de instrumento interposto contra decisão de inadmissão de recurso extraordinário, ressalvando, no entanto, a hipótese relativa à admissibilidade e regularidade processual do próprio agravo de instrumento. 3. Tributário. Contribuição social. COFINS. Imunidade. Operações relativas a derivados de petróleo. Art. 155, § 3º, da constituição Federal. Ação julgada procedente. Ofensa à Súmula 659. Recurso extraordinário provido. "É legítima a cobrança da COFINS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País.
(AI 213314 AgR, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Primeira Turma, julgado em 16/12/2004, DJ 04-03-2005 PP-00016 EMENT VOL-02182-03 PP-00567 RTJ VOL-00194-03 PP-01043)
PROCEDIMENTOS AUTENTICAR OS ÁUDIOS
O Professor Joel Ribeiro Fernandes (2014, pág. 87) recomenda uma série de procedimentos para a realização dos exames de autenticidade de áudios, sejam de interceptação telefônica ou ambiental:
• Solicitar o áudio original ou uma garantia técnica de que o mesmo é o original ou cópia perfeita.
• Pleitear, para que seja disponibilizado para testes, o sistema de gravação ou, no mínimo, informações detalhadas do mesmo.
Conseguindo a autorização da disponibilização, requisitar que seja documentada por escrito.
• Produzir uma cópia perfeita da gravação a ser analisada e não executar um novo “salvamento” desta no computador.
• Realizar testes e marcações na cópia e nunca diretamente na prova. Lembrar-se do 1º princípio recomendado pela “IOCE” (International Organization on Computer Evidence): “após a apreensão de uma evidência digital, esta não deve sofrer nenhuma ação que produza qualquer alteração”.
• Gerar amostras-teste com o mesmo sistema utilizado para produzir a gravação questionada, utilizando procedimentos similares.
• Fazer uma oitiva com análise espectográfica em tempo real e verificar a integridade da gravação.
• Sugerir que sejam indicados pontos julgados conflitantes pelas partes do processo, mas estender, também, para outros, as análises, isto é, nunca ficar limitado apenas aos trechos sugeridos.
• Estudar as condições que o áudio apresenta para ser analisado.
• Avaliar o resultado de observações constatadas sobre os itens acima e decidir o prosseguimento da elaboração da perícia ou não.
• Analisar a cadeia de custódia do material.
CADEIA DE CUSTÓDIA
Por cadeia de custódia se entende todo o percurso que o documento teve, com acondicionamentos e pessoas que tiveram acesso, desde sua origem nos autos da investigação ou processo até o final de sua valoração no relatório final da investigação ou no oferecimento da Denúncia criminal.
SISTEMA USADO NA CAPTAÇÃO
Um exemplo prático para análise de um áudio oriundo de uma interceptação telefônica é a necessidade de se verificar em qual sistema foi realizada a captação, como o sistema Guardião (sistema que já opera há bastante tempo e com consolidado sistema de requisito técnico de utilização e armazenamento) ou outro sistema ainda em desenvolvimento.
No caso de interceptação ambiental, é recomendável verificar em que tipo de aparelho foi captado o áudio, que será importante na análise posterior para se verificar em qual formato de armazenamento o aparelho é apto a armazenar e, assim, se perceber eventuais falhas ou compatibilidade/autenticação da gravação.
Em uma perícia de áudio poderá ser suscitada a análise de integridade do áudio, pois os áudios digitais podem ser manipulados com supressões ou acréscimos.
O áudio original é aquele que está gravado na mídia anexada aos autos do procedimento.
Exemplo:
Existem vários programas disponíveis de análise de áudios citados na obra referenciada do Professor Joel Ribeiro Fernandes. Veja alguns deles:
• Cedar for Windows;
• Sound Cleaner;
• OTExpert;
• DCLiveForensic.
ANÁLISE NOS ÁUDIOS DO DIÁLOGO
A partir dessa autenticação da origem, é oportuno sempre realizar uma análise nos áudios do diálogo, uma vez que, além da confirmação de integridade e autenticidade de interlocutor pela análise técnica, há também a possibilidade de identificação dos interlocutores com a interpretação de diálogos e informações úteis do ambiente ao fundo.
Como exemplo de identificação, o diálogo em que o interlocutor se apresenta fornecendo seus dados, em mais de uma ocasião e com verossimilhança com os conhecimentos disponíveis do mesmo, pode formar a convicção do analista.
A seguir, analise uma situação que deve ser de grande atenção aoAnalista de Áudio e aos Responsáveis pela condução da investigação nas conclusões dos raciocínios quanto ao conteúdo dos áudios captados.
Muitas das vezes, os diálogos são rápidos e podem gerar dúvidas sobre a intenção do investigado, sobre o que se referiam na ocasião ou mesmo uma confusão na fonética das palavras usadas.
É sempre aconselhável que a equipe tenha momentos de análise em conjunto sobre as evidências coletadas e possam discutir, a fim de nivelar o conhecimento, os pontos controvertidos.
Sem entrar no mérito da investigação, o caso demonstra que poderá haver intenso debate no curso do processo quanto à prova inserida nos autos na questão da interpretação do áudio.
Recomenda-se, ainda, que os analistas de áudio estejam ambientados com o objeto da investigação e conheçam os aspectos de termos técnicos e ainda gírias comumente usadas pelos investigados.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES EM UMA INVESTIGAÇÃO COMPLEXA
Passemos a mencionar alguns detalhes necessários à equipe envolvida em uma investigação complexa ou mesmo que trate de assuntos sigilosos:
DOMÍNIO DE TÉCNICAS OPERACIONAIS:
O investimento em recursos humanos é sempre necessário. Os agentes devem possuir habilidades nas ações de busca de dados e técnicas investigativas como Vigilância, Estória Cobertura, Disfarce, Reconhecimento Operacional, Entrevista etc.
FORMA DOS RELATÓRIOS:
É sempre salutar uma padronização nos formatos de relatórios dos agentes, pois facilitam a leitura e organização do conhecimento.
Veja alguns itens fundamentais em um Relatório dos Agentes:
PRESERVAÇÃO DO SIGILO:
Os agentes devem conhecer medidas de contrainteligência e evitar conversas sobre assuntos sigilosos com pessoas não envolvidas na investigação.
Lembre-se de que a investigação de interceptação telefônica possui sigilo de justiça e o acesso aos conhecimentos se dá em razão da função exercida pelo agente na investigação e não pela hierarquia.
Assuntos sigilosos devem ser discutidos e comentados em ambientes protegidos e qualquer tipo de fragilidade em condutas dos agentes envolvidos pode gerar o vazamento dos dados e ainda a responsabilização penal e administrativa do agente.
AULA 6 - O PROCESSO DE FONAÇÃO
O PROCESSO DE FONAÇÃO
A fala é uma capacidade humana de muito valor.
Por meio dela nos comunicamos cotidianamente.
Curiosamente, no entanto, o corpo humano não é dotado de um sistema exclusivo de fonação. Na verdade, órgãos dos sistemas respiratório e digestivo se combinam nessa atividade.
E, por falar em fonação, veja do que se trata.
Fonação: É o processo de produção dos sons da fala.
Vejamos a figura a seguir:
Podemos verificar que, no processo de fonação, uma corrente de ar egressiva¹, proveniente dos pulmões, segue em direção à laringe. Ao encontrar a glote fechada, faz pressão para abri-la. Com a passagem do ar, as pregas vocais vibram.
(¹ A corrente de ar pulmonar egressiva resulta da expulsão do ar dos pulmões, produzindo sons denominados plosivos. Não há registro de línguas que utilizem a corrente de ar pulmonar ingressiva para a produção de sons usados na fala.)
Como acabamos de ver, no processo de fonação, a passagem do ar faz as pregas vocais vibrarem. Essa vibração se modificará ao longo das cavidades supraglóticas.
Vejamos:
Nessas cavidades, que funcionam como caixas de ressonância, a corrente de ar ora encontra obstáculos, ora passa livremente. Assim, teremos os diversos sons da fala.
Por exemplo, se abrimos completamente a boca e deixamos a língua repousada, o som produzido será aquele correspondente ao da letra “a”. Se, por outro lado, arredondamos os lábios, elevamos e recuamos a língua, ao liberarmos o ar, temos a produção de “u”.
Há sons produzidos por nosso corpo que não são utilizados na fala, tais como os produzidos em soluços, arrotos, espirros etc.
Os sons da fala são articulados. Podemos dizer isso porque dois órgãos se reúnem para produzir um som.
Os articuladores ativos:
São os órgãos do aparelho fonador que se movimentam.
Os articuladores passivos:
São os órgãos do aparelho fonador que, por suas características, são fixos.
Agora você verá que os órgãos articuladores ativos e passivos se combinam e modificam a configuração do trato vocal. Observe:
O trato vocal corresponde a todo o canal oral, dos lábios à glote.
E por falar em produção de sons, veja outros aspectos que podem ser observados.
Quando as pregas vocais permanecem vibrando durante a produção do som, são realizados sons vozeados, também chamados de SONOROS.
Quando as pregas vocais estão separadas e a glote está aberta, as pregas não vibram. Nesse caso, são realizados sons desvozeados, também chamados de SURDOS.
Callou e Leite¹ (2009, p. 18-19) destacam que o uso distintivo do vozeamento e do desvozeamento das consoantes é muito comum.  Veja um exemplo de como fazer o reconhecimento dessa diferença:
(¹ Em relação à língua portuguesa, afirmam que “(...) as séries oclusivas (pote:bote:cela:zela:cama: gama) e a fricativa (faca:vaca:cinco:   zinco:chá:já) se opõem por esse traço. (...)
Em outras línguas a sonoridade ou ensurdecimento pode ter um valor apenas redundante. Em tapirapé, língua da família tupi-guarani, as consoantes oclusivas são sempre surdas e as nasais sempre sonoras.
Já para as vogais, o desvozeamento, na maioria das línguas em que ocorre, não tem uma função distintiva.”)
Exemplo:
Para reconhecer essa diferença, tape os ouvidos com as mãos e pronuncie a primeira consoante das palavras “vila” e “fila”, por exemplo.
Você também pode encostar a mão suavemente na parte frontal do pescoço, e pronunciar essas consoantes. Você sentirá uma vibração ao pronunciar “v” e a ausência dessa vibração ao pronunciar “f”.”
Outros sons possíveis de identificar são os sons orais. Eles são produzidos pela passagem da corrente de ar pela cavidade bucal.
É o que acontece com o “a” de “passa”. Quando a úvula se afasta da parede da faringe, permite a passagem de ar pela cavidade nasal. Nesse caso, temos a produção de sons nasais, como o “ã” de “lã”.
AULA 7 - A REPRESENTAÇÃO DOS SONS DA FALA
DIVERSIDADE DOS SONS
Antes de começar seu estudo, pense na diversidade dos sons que podem ser produzidos na fala.
Para pensar sobre isso, é importante considerar que nem sempre uma letra corresponde a um som determinado.  Pensando nisso, reflita sobre as questões a seguir.
• Como poderíamos representar graficamente os sons produzidos na fala?
• Quais símbolos são normalmente empregados nessa representação?
• Como usá-los na transcrição da fala?
ALFABETOS FONÉTICOS EXISTENTES
Ao estudarmos os sons da fala, sob uma perspectiva fonética ou fonológica, necessitamos registrar graficamente esses sons.
Para isso, utilizamos um alfabeto especial, diferente do ortográfico, o alfabeto fonético.
Ao estudarmos os sons da fala, sob uma perspectiva fonética ou fonológica, necessitamos registrar graficamente esses sons. Para isso, utilizamos um alfabeto especial, diferente do ortográfico, o alfabeto fonético.
O alfabeto fonético permite que uma transcrição seja o mais fiel possível ao som produzido pelo falante.
Atenção:
Antes de dar continuidade a esta aula, você precisa instalar no computador os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional. Faça o download no endereço http://twiki.ufba.br e siga as instruções de instalação das fontes.
Agora, vejamos as razões para fazer uso desse alfabeto especial:
Nem sempre uma letra corresponde a um som.
Há palavras como “hoje” e “hora”, em que a letra “h” não corresponde a qualquer som. Isso também ocorre com “passa” e “palha”, em que duas letras correspondem a apenas um som.
Uma letra pode corresponder a sons diferentes.
Por exemplo, o “s” em “sapo” e “casa”.
Um mesmo som pode ser representado por letras diferentes.
Como, por exemplo, em “casa”, “exame” e “zíper”.
Certas palavras são pronunciadas de maneiras diferentes nas diversas regiões em que se fala a língua portuguesa, apesar de terem a mesma ortografia.
Por exemplo, a palavra pequeno pode ser pronunciada “piqueno” no Rio de Janeiroe “péqueno” em cidades do Nordeste brasileiro.
SÍMBOLOS DO ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL
Conheça, a seguir, os dois principais sistemas de transcrição dos sons da fala.
Da Associação Internacional de Fonética (International Phonetics Association - IPA)
É o sistema de transcrição mais difundido. Nele, os símbolos dos alfabetos grego e latino se combinam, juntamente com outros sinais, para representar um som.
Do SIL International (antes denominado Summer Institute of Linguistics)
Este sistema de transcrição foi difundido por Kenneth Lee Pike. No alfabeto de Pike, combinam-se símbolos do alfabeto usual a certos sinais diacríticos¹.
(¹ São sinais utilizados para representar certas alterações das características dos sons, como a nasalização, ensurdecimento, labialização etc. O ponto, a vírgula e o apóstrofo são usados como diacríticos em sistema de notação fonética.)
Vejamos um exemplo!
O som que inicia a palavra chá seria assim representado:
E, por falar na transcrição dos sons da fala, como será que podemos utilizar o Alfabeto Fonético Internacional (IPA)?
O IPA foi organizado para descrever as diversas línguas faladas no mundo. Aqui, destacaremos os símbolos que interessam a uma descrição ampla da língua portuguesa.
As transcrições são feitas com símbolos entre colchetes.
De início, faremos uma abordagem fonética, por isso as transcrições fonéticas dos sons seguirá a pronúncia adotada por cada falante.
A seguir, você verá como empregar os símbolos na transcrição de vocábulos. Destacaremos os símbolos necessários à transcrição de sons que ocorrem na Língua Portuguesa.
Cada símbolo corresponde ao som produzido quando se pronuncia o elemento sublinhado na palavra escrita. Clique nos ícones abaixo para visualizar os respectivos materiais.
SÍMBOLOS VOGAIS:
Representação dos Sons da Fala: os símbolos das vogais 
Vogais em posição tônica 
Quando a vogal estiver em posição átona final, serão empregados os seguintes símbolos: 
Para representar as vogais nasais, empregaremos os sinais abaixo: 
As semivogais (vogais que acompanham outras em uma sílaba) serão representadas pelos símbolos: 
Assim, ao transcrever a palavra pai, por exemplo, teremos: 
SÍMBOLOS CONSOANTES:
Representação dos Sons da Fala: os símbolos das consoantes 
Consoantes
Consoantes correspondentes ao r e rr ortográficos:
Consoantes africadas
AULA 8 - A REPRESENTAÇÃO DOS SONS DA FALA
ESTUDOS DOS SONS
Uma pesquisa sobre a origem dos estudos dos sons da fala revelaria que eles remontam à Antiguidade.
No entanto, esses estudos foram, durante vários séculos, orientados pela escrita.
Estudar os sons com base na escrita é um método correto de investigação?
Veja os argumentos de um especialista sobre o assunto.
“(...) tomar a letra como ponto de partida para estudar o som que ela indica já era um método, por si mesmo, ilógico, ajustado à metáfora popular de ‘pôr o carro diante dos bois’.
O resultado foi a insegurança e a imprecisão da análise, com o frequente gravame de uma confusão na prática daquelas distinções que tinham sido teoricamente firmadas.’ (CÂMARA JR., 1973, p. 14)
MAS COMO ESTUDAR O SOM DA FALA SE NÃO PODÍAMOS REGISTRÁ-LO?
É preciso destacar que antes não havia recursos para registrar a fala a ser estudada. Por isso, estudiosos buscaram, ao longo do tempo, desenvolver instrumentos que permitissem estudar os sons a partir da oralidade.
1940:
Em 1490, Leonardo da Vinci desenvolveu tábuas anatômicas para o conhecimento da laringe e das pregas vocais, em uma demonstração do interesse pelo estudo dos sons vocais naquela época.
Fim do séc. XIX:
Os estudos fonéticos, como hoje são concebidos, é algo mais recente. Até fins do século XIX, a fonética era um estudo histórico, com uma preocupação de descrever aspectos físicos ou fisiológicos dos sons, sem estabelecer uma relação com a sua função linguística.
QUANDO, ENTÃO, COMEÇA A PREOCUPAÇÃO COM A FUNÇÃO LINGUÍSTICA DOS SONS?
Na verdade, essa preocupação com a função linguística dos sons começa a se delinear, de forma sistemática, com os estudos de Ferdinand de Saussure, na segunda década do século XX, ao se estabelecerem as bases da linguística moderna.
Soma-se a isso o fato de os termos fonética e fonologia nem sempre terem sido empregados de forma estável. Em seu Curso de Linguística Geral, Saussure define esses termos.
Das definições que você acabou de ler, duas observações são importantes e devem ser destacadas. Veja quais são:
FONOLOGIA:
Saussure prefere designar o estudo da fisiologia dos sons pelo termo fonologia. Prevalece, no entanto, até hoje, a denominação do estudo da fisiologia dos sons como fonética.
ESTUDO FISIOLÓGICO:
Esse estudo fisiológico seria auxiliar e estaria no plano da fala. Ora, Saussure, nesse mesmo Curso de Linguística Geral, defende que o estudo da linguagem comporta uma parte essencial, que tem por objeto a língua, e outra, secundária, que tem por objeto a fala.
O próprio Saussure pode esclarecer o assunto. Leia suas palavras.
“Pode-se, a rigor, conservar o nome de Linguística para cada uma dessas duas disciplinas e falar de uma Linguística da fala. Será, porém, necessário não confundi-la com a Linguística propriamente dita, aquela cujo único objeto é a língua.”
Fica nítido, portanto, nas ideias de Saussure, e de forma coerente à dicotomia língua (langue) e fala (parole) por ele proposta, que o estudo dos sons da fala, em seu caráter fisiológico, seria algo secundário e auxiliar à Linguística.
Afinal, a fonética é ou não um estudo linguístico?
O que estudamos até aqui já tornou claro o conceito de Fonética?
Veja a contribuição de outro especialista à discussão do tema.
Malmberg (1993, p. 7), foneticista sueco,  esclarece que:
“A Fonética, apesar de seu nome ser derivado do grego phônê, ‘som’, não é a ciência do som, nem do ponto de vista de fenômeno vibratório (Física), nem do ponto de vista da percepção auditiva (Fisiologia, Psicologia Perceptiva).
Não é, pois, nem uma ciência física (Acústica), nem uma ciência fisiológica, nem mesmo simplesmente uma ciência da percepção auditiva.”
Ainda de acordo com Malmberg:
“A Fonética é um ramo da ciência da linguagem e, para defini-la, é necessário localizá-la no âmbito da Linguística, geral e específica. Entretanto, isso não exclui o fato de a Fonética pressupor conhecimentos de diferentes campos extralinguísticos, dentre os quais os ramos mencionados são os mais importantes (Fisiologia, Acústica e Percepção Auditiva).”
(MALMBERG, Bertil. A fonética: teoria e aplicações. In: MACHADO, Mirian da Matta. (org.) Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, (25): 7-24, jul./dez., 1993.)
O entendimento que acabamos de analisar relaciona-se a uma outra dicotomia de Saussure, segundo a qual o signo linguístico é o resultado da combinação de duas partes. Observe:
Conheça a contribuição de Louis Hjelmslev à difusão dessa ideia.
Louis Hjelmslev, discípulo de Saussure, difunde essa ideia, considerando que a língua apresenta um plano da expressão (significante) e um plano do conteúdo (significado).
Cada um desses planos apresenta ainda uma substância e uma forma. A substância da expressão corresponderia à sequência fônica ou escrita, enquanto a forma da expressão equivaleria à maneira como essa substância se organiza em um determinado sistema linguístico.
Retomando o signo ‘casa’, temos que a substância seriam os sons [k], [a], [z], [a]. Em português, essa substância organiza-se na forma [] e não [kzaa], [aakz] ou [akza], por exemplo.
Feitas essas considerações, é hora de situar a fonética nos estudos linguísticos.
Malmberg retoma as noções apresentadas para definir o âmbito da fonética e da fonologia. Explica que a fonética se ocuparia de estudar a substância da expressão, enquanto a fonologia se ocuparia da forma da expressão do signo linguístico, conforme se depreende do esquema.
O foneticista sueco esclarece ainda que: “A Fonética, em sentido amplo, lato sensu, é o estudo da expressão da linguagem como forma (funções) e como substância (sons). Em sentido restrito,

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