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3. CHARLES W. MILLS Já na metade do século XIX e início o século XX quando a sociologia começa a se firmar como ciência e a ser estudada nas universidades, nos Estados Unidos da América, também berço das principais teorias relacionadas a essa nova ciência é compreendida de forma diferente sob um viés inicialmente filantropo e condizente com a reforma social progressista, além da inserção da sociologia no ensino e na pesquisa universitária em diversas instituições tendo seu primeiro departamento de sociologia na Universidade de Chicago, dentre outros aspectos relacionados principalmente com movimentos de reforma e progresso social. Faz-se oportuno citar também os principais pensadores da sociologia norte- americana como: William G. Summer, Lester Ward, Albion woodbury, Charles Horton, Thorsten Vleben, dentre outros que são considerados “pais” da sociologia americana. Vale destacar ainda o nome de Charles W. Mills, personagem de estudo deste tópico, considerado um dos mais importantes cientistas sociais norte- americanos do século XX e grande crítico dos pontos de vista consensual e funcionalista dominantes na sociedade norte-americana do seu tempo. 3.1 BIOGRAFIA Charles Wright Mills nasceu em Waco, Texas, nos Estados Unidos, no dia 28 de agosto de 1916. Foi um sociólogo, pesquisador e professor norte-americano, mestre em artes, filosofia e sociologia. Estudou na rígida instituição de ensino da Texas A & M University e concluiu a Universidade do Texas em Austin. Posteriormente doutorou-se em sociologia e antropologia pela Universidade de Wisconsin, foi nomeado para lecionar como professor de Sociologia na Universidade de Maryland e em 1945/46 assumiu o cargo de professor do departamento de sociologia da Universidade de Columbia. Mills morreu com 46 anos de idade em Nyack, Nova York (Estados Unidos), no dia 20 de março de 1962, após se envolver em um acidente automobilístico. 3.2 PRINCIPAIS OBRAS Os estudos de Charles Mills tiveram grandes influências de intelectuais como Karl Marx e Max Weber, dentre outros pensadores que foram fundamentais em suas pesquisas. Suas obras mais conhecidas são: ➢ 1948 – O Poder dos Sindicatos ➢ 1951 – As Classes Médias na América do Norte ➢ 1953 – Carácter e Estrutura social, em colaboração com H. Gerth ➢ 1956 – A Elite do Poder ➢ 1959 – A Imaginação Sociológica ➢ 1960 – Escuta Yankee ➢ 1963 – Poder, política, povo Dentre essas obras se destacam “A imaginação sociológica” e “A elite do poder” como seus principais e mais influentes trabalhos. 3.3 CONTRIBUIÇÕES PARA A SOCIOLOGIA Instigado pelos estudos de Karl Marx e especialmente de Max Weber, Mills elabora fortes críticas à sociedade americana, defendendo a participação de cientistas/pensadores na frente dos trabalhos sociais, pois a omissão deles em desempenhar uma liderança moralmente influenciadora daria lugar para outras pessoas desqualificadas. Concentra seus estudos nas desigualdades sociais, no poder das elites, no declínio da classe média, e na relação entre os indivíduos e a sociedade, como também na importância de uma perspectiva histórica, como parte fundamental do pensamento sociológico. Num movimento pós Segunda Guerra Mundial, Charles W. Mills defendia o pensamento crítico e radical por parte dos intelectuais, seus trabalhos estavam voltados a responder algumas indagações como: como conservar uma perspectiva crítica da sociedade? quais os grupos sociais que têm uma “possibilidade objetiva de poder”? como elaborar “opiniões políticas audazes e claras, opiniões que permitam sua difusão como ideologias eficazes”? Entendia que a sociologia era uma ferramenta que despertava o senso crítico geral nos homens e, assim, estudou a sociedade norte-americana em todos seus aspectos, mostrando a todos como ela funcionava, sob a afirmação de que na sociedade onde o poder e o prestígio se baseiam em mentiras, o interesse legítimo pelo que é verdadeiro passa a ser o bem mais valioso de quem vive na miséria. Acreditava que o público em geral tinha direito de saber a verdade prática sobre a realidade da sociedade a qual estavam inseridos, sendo o dever do cientista da sociologia não somente descobrir a verdade, mas principalmente facilitar seu entendimento ativo àqueles a quem ela se destinava. Mills expôs suas críticas e ideias em várias obras que ficaram muito conhecidas nos estudos da sociologia contemporânea, como por exemplo “A Imaginação Sociológica”, onde o autor conscientiza cientistas e o público em geral para as ligações que existem entre o ambiente social pessoal do indivíduo e a sociedade em geral a qual ele faz parte e que tem forte influência nas mudanças dos comportamentos das pessoas; critica a tendência de manipulação de evidências históricas das transformações sociais; percebe certo descaso com as ciências humanas, onde acreditavam que a ciência social tinha como objetivo criar uma teoria metodológica do ser humano e da sociedade, segundo uma “Grã Teoria” que se preocupava tanto em fazer revelações abstratas da sociedade que ignora os reais problemas sociais. Figura 2. Relação entre A Imaginação Sociológica e o Sociólogo O próprio Mills (1972, p. 17) destaca que “ter consciência da ideia da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser capaz de identificar as ligações entre uma grande variedade de ambiente de pequena escala. Ser capaz de usar isso é possuir imaginação sociológica”. Para o autor, quem possui a imaginação sociológica consegue entender melhor o cenário histórico amplificado, tanto na vida particular como pública dos indivíduos, e consegue explicar como tais indivíduos adquirem falsas concepções de níveis sociais, conectando situações reais ao entender que não é por acaso que uma sociedade se encontra de determinada forma. Acrescenta Indivíduo vida cotidiana Sociólogo Sociedade (problemas sociais) inflação – violência – aborto habitação - fome ainda que a História, a Biologia e a Estrutura Social, são o que formam essa imaginação, pois permitem um olhar para além de seu ambiente local, no sentido de fornecer informações e desenvolver razões, a fim de se perceber com lucidez o que está acontecendo no mundo e como isso reflete dentro de si mesmo. Outra obra de Charles Mills que faz grandes críticas à sociedade americana de sua época é “A Elite do Poder”, onde o autor elabora seu trabalho ao redor da ideia de que os interesses da sociedade está relacionado essencialmente as áreas econômicas, militares e políticas, e que o restante das instituições está de alguma forma submisso a elas. Pois o indivíduo é treinado desde seu nascimento a seguir rumo a uma das três áreas: no meio familiar foi obrigado a aprender com a Revolução Industrial que precisa estar envolvido a uma grande empresa se quiser pertencer a uma classe social economicamente influente; a própria igreja atribuía fortes influências para que os jovens se alistassem nos serviços militares; nas escolas e faculdades os jovens são instruídos para que ingressem na carreira política ou congênere. E assim se segue até um determinado momento em que as três áreas consensualmente se encontram e formam a elite do poder. Mills acrescenta que todo esse processo de desenvolvimento urbano norte- americano fornece certos poderes a uma minoria eliticista e retira cada vez mais a participação ativa da população em geral formando uma sociedade de massas, além de ter sido uma das principais tendências da sociedade moderna transformar o público em massa. E distinguem-se o público e a massa principalmente pelos seus aspectos de comunicação; em que numa comunidade de públicos a comunicação é realizada por meio da argumentação discursiva e acaba se tornando mero reflexo do que é discutido nas comunicações em massa; enquantona comunidade de massas a comunicação é feita usando a discussão iniciada na comunidade de públicos, apenas amplificam sua compreensão e alcance de forma persuasiva e formal. Para o autor, as pessoas continuam acorrentadas pelas descontroláveis mudanças sociais decorridas da urbanização, e as teorias desenvolvidas pelo mundo ocidental através de ideologias capitalistas e socialistas não foram/são capazes de oferecer a liberdade fundamenta do indivíduo como ser humano.