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MARIANA TCC II CERTO

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62
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO PROFESSOR BARROS ARAÚJO
CURSO: BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
MARIANA DE MOURA GONÇALVES
ISENÇÃO E IMUNIDADE DO IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
PICOS – PI
2020
MARIANA DE MOURA GONÇALVES
ISENÇÃO E IMUNIDADE DO IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Piauí, Campus Prof. Barros Araújo como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. 
Orientadora: Prof.ª Esp. Yana de Moura Gonçalves. 
PICOS – PI
2020
MARIANA DE MOURA GONÇALVES
ISENÇÃO E IMUNIDADE DO IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
					 
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Piauí, Campus Prof. Barros Araújo como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. 
Orientadora: Prof.ª Esp. Yana de Moura Gonçalves.
					
Aprovada em: ____/____/______ Nota______ 
BANCA EXAMINADORA 
______________________________________________________________ Prof.ª Esp. Yana de Moura Gonçalves Orientadora - Universidade Estadual do Piauí – UESPI ______________________________________________________________ Profª..Esp. Remédios Laís Gomes - Universidade Estadual do Piauí – UESPI 
______________________________________________________________ Profª. Esp. Joicyara Bernardes de Lima Ferreira- – IEMA
	
Dedico este trabalho, que marca o final de um percurso recheado de experiências inesquecíveis, a Minha Família, em especial a minha amada e doce filha Ana Cecília e a todos os meus e amigos que me apoiaram nessa jornada. 
					
AGRADECIMENTOS 
	Agradeço primeiramente ao grande Deus, por ser essencial em minha vida, autor do meu destino, meu guia, meu socorro na hora de angústia, pois quando pensei em desistir minha fé me sustentou. 
	A minha família pelo apoio, carinho, dedicação, em especial minha guerreira mãe Francisca Moura, por me proporcionar a doçura dos seus carinhos nos meus dias e por impulsionar a ser uma grande mulher, assim como ela é, ao meu pai Solon Ferreira por sempre mostrar que a vida será mais leve se olharmos pelo lado bom das coisas, a minha irmã Yana Moura, minha fonte diária de inspiração como profissional e mulher, ao meu irmão Juliano Moura, que sempre trouxe alegria nos meus dias mais difíceis, a minha madrinha Inês Moura, que ensinou a nunca baixar a cabeça diante as dificuldades, sempre de cabeça erguida e por me proporcionar a alegria de ter duas flores lindas, Laura Liz e Clara Sofia. A minha querida prima Roseane Nobre, por todo conhecimento transmitido ao longo desses anos. Aos meus avôs paternos Ana de Jesus (in memória), José Ferreira (in memória) e meus avôs maternos Maria Moura e Getúlio Lopes. Em fim a toda a família Moura e Gonçalves. 
	Ao meu amado companheiro de jornada, estudos, trabalhos, vida, Alisson Sousa, sempre acreditou que seria capaz de chegar ao topo dos meus sonhos, segurou minha mão e não fez desistir, caminhou lado a lado comigo, minha base forte. Ao meu grande e eterno amor, minha menina, Ana Cecília, tudo sempre será por ela e para ela.
	Aos professores que passaram por essa longa jornada. Em especial a das intuições que frequentei desde a creche até a universidade. Aos profissionais que encontrei ao longo do caminho, que me repassaram grandes ensinamentos, em especial a equipe da Agência da Receita Federal de Picos-PI. 
	Aos meus amigos, que proporcionaram dias cheios de alegrias na nossa querida UESPI, em especial a Nayara Moura, pela amizade construída, companheirismo, ajuda e carinho em todos esses anos. Agradeço a todos que apoiaram e incentivam a está aqui, a vencer e querer essa minha conquista, o meu muito abrigada. 
“As nuvens mudam sempre de posição, mas são sempre nuvens no céu. Assim devemos ser todo dia, mutantes, porém leais com o que pensamos e sonhamos; lembre-se, tudo se desmancha no ar, menos os pensamentos”.
(Paulo Beleki)
RESUMO
As terras das comunidades tradicionais devem ser reconhecidas como um bem público e protegidas pela União. Sendo assim o objetivo desse trabalho é analisar os benefícios sociais nas comunidades tradicionais gerados através da política pública desenvolvida para não haver tributação em terras que estejam reconhecidas como indígenas ou quilombolas. Além, de discorrer como o Imposto Territorial Rural – ITR é gerado, por quem é arrecadado, como é desenvolvida sua base legal, de acordo com Código Tributário Nacional, bem como, explicar o que é e como se dá a isenção e imunidade, e suas respectivas diferenciações. Ademais, apresentar um breve histórico sobre comunidades tradicionais, especificamente indígenas e quilombolas. Para tanto, a metodologia utilizada trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica, assim, para que seja possível desenvolver esta pesquisa, foi feita uma análise crítica acerca do direito das comunidades tradicionais em ter isenção e imunidade do ITR, com o objetivo de levantar os pontos positivos, sejam eles: sociais, econômicos e pessoais. Em virtude disso, esse tipo de estudo inclui a análise de pesquisas relevantes, em artigos e leis, que dão suporte a desenvolver este trabalho, possibilitando a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas. Possuindo assim, um caráter teórico-científico com reflexos práticos. Portanto, este trabalho irá demonstrar como o reconhecimento da não tributação em terras tradicionais, enriquece de forma social, pessoal e econômica os povos indígenas e quilombolas, levando assim suas terras a serem reconhecidas como patrimônio. 
Palavras-chaves: Tributação, Comunidades Tradicionais, Isenção e Imunidade. 
ABSTRACT 
The lands of traditional communities must be recognized as a public good and protected by the Union. Therefore, the objective of this work is to analyze the social benefits in traditional communities generated through public policy developed so that there is no taxation on lands that are recognized as indigenous or quilombola. . In addition, to discuss how the Rural Territorial Tax - ITR is generated, by whoever is collected, how its legal basis is developed, in accordance with the National Tax Code, as well as, explain what it is and how the exemption and immunity occurs, and their respective differentiations. In addition, present a brief history of traditional communities, specifically indigenous and quilombolas. The methodology used is an integrative review of the scientific literature, so, in order to be able to develop this research, a critical analysis was made about the right of traditional communities to have exemption and immunity from ITR, in order to raise the points positive, be they: social, economic and personal. As a result, this type of study includes the analysis of relevant research, in articles and laws, which support the development of this work, enabling the synthesis of the state of knowledge of a given subject, in addition to pointing out knowledge gaps that need to be filled. . Thus having a theoretical-scientific character with practical reflexes. To this end, this work will demonstrate how the recognition of non-taxation on traditional lands, enriches socially, personally and economically the indigenous and quilombola peoples, thus leading their lands to be recognized as heritage.
Keywords: Taxation, Traditional Communities, Exemption and Immunity.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ITR- Imposto Territorial Rural
CTN- Código Tributário Nacional
PCTS- Política de Povos e Comunidades Tradicionais
IVC- Imposto Sobre Vendas e Consignados
ICMS- Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviço
IIP- Imposto de Industria e Profissão
ISS- Imposto Sobre Serviço
AIR- Adicional de Imposto de Renda
IPI- Imposto SobreProdutos Industrializados
ICM- Imposto Sobre Circulação de Mercadoria
INCRA- Instituto de Colonização e Reforma Agrária
IBRA- Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
MFM- Módulo Fiscal do Município
MFI- Módulo Fiscal do Imóvel
CAR- Cadastro Ambiental Rural
DIRT- Declaração do Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural
IPTU- Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
APP- Área de Preservação Permanente
Rl- Reserva Legal
ADA- Ato Declaratório Ambiental
IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis
CNIR- Cadastro de Imóveis Rurais
SNCR- Sistema Nacional de Cadastro Rural
CCIR- Cadastro de Imóvel Rural
CAFIR- Cadastro de Imóveis Rurais Para Fins Tributáveis
SIGEF- Sistema de Gestão Fundiária
SINTER- Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais
VTN- Valor da Terra Nua
RPPN- Reserva Particular do Patrimônio Natural
GU- Grau de Utilização
OTI- Organização Internacional do Trabalho
ADCT- Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO________________________________________
	12
	2
	TRIBUTO E SUAS DIVERSAS DEFINIÇÕES________________
	15
	2.1
	EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUTO_____________________
	18
	2.2
	TRIBUTAÇÃO BRASILEIRA______________________________
	20
	3
	HISTÓRICO DO ITR____________________________________
	25
	4
	ITR E SUAS CARACTERÍSTICAS GERAIS
	28
	4.1
	CARACTERÍSTICAS GERAIS DO IMPOSTO_________________
	28
	4.2
	CADASTRO___________________________________________
	30
	4.3
	CÁLCULO DO ITR______________________________________
	32
	4.4
	PROBLEMAS DO ITR___________________________________
	35
	5
	IMUNIDADE E ISENÇÃO DO ITR__________________________
	36
	6
	COMUNIDADES TRADICIONAIS__________________________
	38
	6.1
	DIREITOS DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS_____________
	40
	6.1.1
	DIREITOS ESPECÍFICOS DOS POVOS INDÍGENAS__________
	42
	6.1.2
	DIREITOS ESPECÍFICOS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS
	43
	7
	ISENÇÃO E IMUNIDADE DO ITR EM COMUNIDADES TRADICIONAIS _______________________________________
	44
	7.1
	COMUNIDADES QUILOMBOLAS__________________________
	44
	8
	COMUNIDADES INDÍGENAS_____________________________
	47
	9
	CONCLUSÃO_________________________________________
	49
	10
	REFERÊNCIAS________________________________________
	51
1 INTRODUÇÃO
Inicialmente, convém destacar que o Imposto sobre as Propriedades Territoriais Rurais (ITR) é de competência da União, nos termos do art. 153, VI da Constituição Federal, tem como principais vetores infraconstitucionais os arts. 29 a 31 do Código Tributário Nacional – CTN, a Lei nº 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e o Decreto nº 4.382, de 19 de setembro de 2002. Assim, é o imposto de apuração anual e que tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município.
 Conforme provisão constitucional (art. 153, § 4º, II), o imposto não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em Lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel. Logo, coube a Lei nº 9.393, de 1996, a definição de pequenas glebas rurais (art. 2º), que são os imóveis com área igual ou inferior a: I – 100 há, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal Mato-Grossense e Sul – Mato-Grossense; II – 50 há, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou Amazônia Oriental; III – 30 há, se localizado em qualquer outro município.
Além disso, a Lei nº 9.393, de 1996, veiculou hipóteses de isenção do imposto (art. 3º): o imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como assentamento, que, cumulativamente, atenda os seguintes requisitos: seja explorado por associação ou cooperativa de produção; a fração ideal por família assentada não ultrapasse os limites estabelecidos no artigo anterior; assentado não possua outro imóvel; e o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja área total observe os limites fixados no parágrafo único do artigo anterior, desde que, cumulativamente, o proprietário o explore só ou com sua família, admita ajuda eventual de terceiros; não possua imóvel urbano; e as comunidades quilombolas. Ademais, a imunidade se estende aos imóveis da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, os imóveis rurais de autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, e as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas.
Seguindo esse contexto de isenção e imunidade, será frisado o mesmo dentro das comunidades tradicionais (quilombolas e indígenas), que segundo a Política de Povos e Comunidades Tradicionais (PCTS) são definidos como: 
“grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.“
Entre os PCTS estão os povos indígenas, os quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, entre outros.
Partindo desta explanação, este trabalho levanta o seguinte problema: como a isenção e imunidade podem ajudar famílias tradicionais a manter o seu direito de propriedade, após anos de exploração por parte do governo e da sociedade, e hoje ser reconhecida como terras protegidas pelo poder público, sem a tributação sobre as mesmas, logo, quais os maiores benefícios para essas comunidades tradicionais, como requerer a isenção e o motivo pelo qual a União reconheceu o direito da não tributação sobre as terras tradicionais.
Com base nesta problemática, este trabalho busca respostas dentro do contexto da isenção e imunidade, mais especificamente em comunidades tradicionais, observar os grandes benefícios sociais para comunidades indígenas e quilombolas em ter o reconhecimento de terras protegidas pela União. Portanto, como objetivo, o presente trabalho visa estudar a relação existente entre imunidades e isenção, a sua diferenciação, o motivo pelo qual os indígenas são imunes e os quilombolas possuem a isenção, como o governo estabeleceu esse direito da não tributação sobre suas terras para tais comunidades.
Assim, esta pesquisa justifica-se pelo direito conquistado pelas comunidades tradicionais de não haver tributação em suas terras, após anos de exploração, e como o governo chegou a essa conclusão de oferecer uma política pública para essas comunidades, através da imunidade e isenção nessas terras, tendo assim a não tributação do ITR uma função social, pois o mesmo acarretará benefícios pessoais e sociais para indígenas e quilombolas.
2 TRIBUTO E SUAS DIVERSAS DEFINIÇÕES
O tributo constitui elemento primário do sistema constitucional tributário através do qual se fundamentam vários outros componentes daquela estrutura, além de delimitar o objeto da matéria dentro da qual está inserido. Assim, trata-se de conceito jurídico nuclear do direito tributário brasileiro, ao qual a contabilidade tributária tem função fundamental no seu desenvolvimento e aplicação, em torno do qual gravitam todos os demais institutos e categorias relativas à matéria, sobretudo as competências tributárias e as limitações do poder de tributar.
Destarte, seja compreendido como um fim em si mesmo, ou seja, como garantidor da segurança jurídica, o Estado, em maior ou menor grau, sempre foi financiado pelos tributos. Segundo Ferdiand Grapperhaus (2009, p.1) os definiu como um “sacrifício individual por um objetivo coletivo” 
 Fato é, contudo, que a concepção e a importância do tributo se modificam conforme o conceito de Estado e o respectivo momento histórico, ensinando Heleno Torres (2003, p.201) que, “juridicamente, o conceito antigo de tributo não encontra similaridade com o atual, pois o estigma da servidão o caracterizava.”
Para tanto, o conceito de tributo não é unívoco, mas varia de acordo com diferentesperspectivas: histórica, política, social, econômica e jurídica, bem como em relação ao agente que dele faz uso. A tributação pode assumir múltiplos conceitos e funções, de acordo com os valores e princípios maiores que se deseja por meio dela alcançar num determinado período histórico. Sobre o assunto, a atividade financeira do Estado, apesar de instrumental, não é neutra frente aos valores e princípios jurídicos, senão que a eles se vincula fortemente. Sobre a orientação do Direito Tributário por valores, vejamos:
O Direito Tributário de um Estado de Direito não é Direito técnico de conteúdo qualquer, mas ramo jurídico orientado por valores. O Direito Tributário afeta não só a relação cidadão/Estado, mas também a relação dos cidadãos uns com os outros. É Direito da coletividade (TIPKE, Klaus, 2002, p. 15).
Já se falarmos da visão do Estado, o tributo seria a participação de cada um nas despesas comuns, na manutenção e no exercício das funções essenciais da Administração Pública. Ligado a esta visão, estaria o princípio da capacidade contributiva, segundo o qual cada um deve contribuir na medida das suas possibilidades. A consequência é que, tendo o contribuinte manifestado a capacidade contributiva, estaria o poder público autorizado a onerá-lo por meio da tributação. Nesta perspectiva:
(...) consistente em prestação pecuniária que, limitado pelas liberdades fundamentais, sob a diretiva dos princípios constitucionais da capacidade contributiva, do custo/benefício ou da solidariedade do grupo e com a 	finalidade principal ou acessória de obtenção de receita para as necessidades públicas ou para atividades protegidas pelo Estado, é exigido de quem tenha realizado o fato descrito em lei elaborada de acordo com a competência específica outorgada pela Constituição. (TORRES, Ricardo Lobo, 2003, p. 334).
Portanto, para a manutenção da estrutura do Estado, precisa ele de recursos financeiros. O exercício dos três poderes requer pessoal, obras, materiais de consumo e outros tipos de suporte que demandam custeio. O tributo para os Estados modernos é a principal fonte de receitas. Através dele retiram-se da coletividade, dos privados, os valores necessários à manutenção do Estado.
Ademais, o tributo modernamente não é mais só visto como um instrumento de arrecadação de receitas para a manutenção do Estado. Com a evolução deste, evoluiu o tributo, que ganhou novos significados. Esse avanço se deu através da evolução do Estado liberal para o Estado social e solidário, as atividades estatais passam a ser muito mais numerosas e complexas que no panorama liberal de antes. Aumentam os serviços públicos a serem providos pelo Estado, e junto aumentam as despesas públicas a ele ligadas. O Estado passa a ter que aumentar sua arrecadação e, em alguns casos, arrecadar valores diretamente para determinadas atividades.
Esta necessidade do Estado é atendida pela finalidade imediata do tributo chamada de fiscal. Ela tem como função obter dos particulares os recursos necessários para a manutenção do Estado e para a realização das atividades que lhe são próprias. Portanto:
Fala-se, assim, em fiscalidade sempre que a organização jurídica do tributo denuncie que os objetivos que presidiram sua instituição, ou que governam certos 	aspectos da sua estrutura, estejam voltados ao fim exclusivo de abastecer os cofres públicos, sem que outros interesses – sociais, políticos ou econômicos interfiram no direcionamento da atividade impositiva. (CARVALHO, Paulo, 2005, p.234).
No que diz respeito a uma perspectiva microeconômica, a transferência de recursos do privado para o público, representada pelo tributo, gera efeitos muitas vezes negativos sobre as empresas e sobre o mercado. É o que se convencionou chamar de “peso morto dos tributos”. Os tributos são vistos como um custo no processo de produção e geração de riqueza. Assim, sob este ângulo, há uma tendência natural do agente econômico reagir à tributação, seja pela evasão fiscal ilícita, seja pelo planejamento tributário.
O conceito de tributo também pode variar de acordo com a visão do agente que o utiliza. Assim, para o contribuinte, o tributo geralmente é visto como algo não querido, como uma intervenção do Estado no seu patrimônio e, sendo assim, deve ser feita nos estritos limites da lei. Ives Gandra Martins (1988) conceitua tributo como uma norma de rejeição social. Para fundamentar esta visão, se invocam os princípios da legalidade estrita e tipicidade. Ou seja, aquilo que não estiver estritamente previsto em lei, não poderá ser cobrado do contribuinte a título de tributo.
Dessa forma, a relação fisco-contribuinte é por, sua natureza, marcada por um confronto de vontades e ideias. De um lado, o contribuinte tende a ver o tributo como uma interferência estatal em seu patrimônio; de outro, o tributo representa um pilar fundamental para o funcionamento e funções do Estado. O tributo está, assim, no meio termo entre a liberdade do contribuinte em organizar seus negócios e a necessidade do Estado em arrecadar.
Legalmente, definir o conceito de tributo e suas consequências jurídicas no Sistema Tributário Nacional é imprescindível a Contabilidade Tributária, pois o mesmo é o ponto de partida para o entendimento de diversos institutos, como lançamento, isenção e compensação. Para tanto, o art.3º do Código Tributário Nacional tem a seguinte redação:
Art. 3ª Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Logo, quando o artigo cita que é “toda prestação pecuniária” significa que o tributo possui natureza obrigacional, assim, por intermédio da prestação, cumpre-se uma obrigação tributária.
Tanto o CTN quanto a CF/88 preveem certas figuras tributárias. O art. 5º do CTN dispõe que “os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria”. Já a CF/88, estipula em seu art. 145 o seguinte:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I — impostos; 
II — taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; 
III — contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.
O próprio CTN traz ainda uma quarta espécie tributária — o empréstimo compulsório — estabelecendo em seu art. 15 que “somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode instituir empréstimos compulsórios”. Esta figura tributária igualmente foi prevista pela CF/88 que no art. 148, dispõe que “a União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios”. 
Por fim, uma quinta espécie tributária — as contribuições especiais — é prevista tanto pelo CTN (quando em seu art. 217 estabeleceu que as disposições daquela lei não excluem a incidência e a exigibilidade de algumas contribuições que enumera em seus incisos), quanto pela CF, em seu art. 149:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
Pela leitura dos dispositivos legais, vemos que o sistema tributário trazido pela CF/88 prevê cinco figuras tributárias — os impostos, as taxas, a contribuição de melhoria, o empréstimo compulsório e as contribuições especiais. E este presente trabalho irá aprofundar conhecimentos a respeito do imposto ITR, com suas respectivas aplicações, isenções e imunidades, em especial, nas comunidades tradicionais.
Portanto, o tributo tem os mais diversos conceitos e entendimentos, pois, a sua compreensão irá está ligada ao fato histórico, a sociedade ao qual encontra-se inclusa, ao pensador que o analisa, a quem o tributa oué tributado. O fato é, que o tributo tem suas funções para com o estado e com o contribuinte, tendo assim suas mais diversas aplicações, funções sociais, formas tributárias e arrecadações.
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUTO.
O tributo tem origem remota e certamente acompanhou a evolução do homem, a criação das primeiras sociedades, o surgimento de líderes tribais ou chefes guerreiros e políticos. Estudos indicam ter sido voluntária a primeira manifestação tributária, em forma de presentes ou ofertas destinadas aos líderes ou chefes, por seus serviços ou sua atuação em favor da comunidade. Depois as contribuições passaram a ser compulsórias, quando os vencidos de guerra eram forçados a entregar parte ou a totalidade de seus bens aos vencedores. Após essa época, começou a cobrança pelos chefes de Estado de parte da contribuição dos súditos, sob a forma de tributos.
Período greco-romano clássico, na Grécia antiga, o imposto era “o meio de defesa do bem coletivo, entregue aos cuidados do Estado” (GUIMARÃES, 1983, p. 24) que, todavia, “sempre que possível era suportado pelos povos vencidos ou libertos do jugo estrangeiro” (BUJANDA, 1955, p. 130. v. I.) 
 Roma, por sua vez, inspirou alguns dos atuais tributos, tendo se valido de numerosos impostos e taxas que, em grande parte e tal como no período grego clássico, eram cobrados dos povos vencidos e subjugados, poupando ao máximo os cidadãos romanos. Afora os tributos em espécie, que incidiam sobre as propriedades, consumo, heranças, eram também comuns as imposições in natura e até mesmo in labore, para atender a necessidades estatais específicas de suprimentos e mão de obra, respectivamente. Entretanto, de outro lado veremos:
(...) a tributação era efetivamente vista pelos romanos como uma forma de opressão e não seria demais afirmar que sua imposição para cobrir as crescentes necessidades de receitas do Império foi uma das razões para o declínio do sistema tributário romano (TORRES, Heleno, 2003, p. 202).
Na sequência, nos Estados Absolutos, como todas as terras pertenciam ao monarca, cobrava-se igualmente pelo seu uso, o que originou a denominação Estado Patrimonial. Como afirma Adam Smith (2003, p.1.040) “a renda proveniente das terras da Coroa constituiu por muito tempo a maior parte da receita das antigas soberanias da Europa”. Todavia, como relata Onofre Batista Junior (n.102, p.309) nessa época “o tributo ainda não havia ingressado plenamente na esfera da publicidade, sendo apropriado de forma privada pelos governantes, o que gerava crescente insatisfação dos súditos” 
Para tanto, o tributo, garantidor da sobrevivência do Estado Liberal, passa, então, a ser visto como o preço que se paga para exercer a própria liberdade. Afinal, com o afastamento do Estado da economia e a alienação de seus bens — pressupostos do liberalismo — a primordial fonte de receitas para o seu sustento torna-se exatamente a tributação, originando o intitulado Estado Tributário.
Assim, o Estado Tributário Social, a transição do Estado Liberal para o Estado Social marca, igualmente, uma mudança na tributação. Com a necessidade de garantir os direitos sociais de segunda dimensão, no princípio da igualdade material, como o direito ao trabalho, moradia, educação, saúde e previdência, o papel do Estado agiganta-se e, para tanto, as receitas tributárias são elevadas.
Contudo, o tributo deixa de ser uma simples fonte de receita para o Estado, passando a ser utilizado como instrumento de realização de justiça, valendo-se do princípio da capacidade contributiva como meio de onerar aqueles economicamente mais favorecidos a fim de beneficiar as regiões mais pobres.
Dessa maneira, distancia-se o Estado Tributário, tanto o Liberal como o Social, dos Estados Patrimoniais Absolutistas e também dos Estados Comunistas, que são Neopatrimoniais. Inobstante possa-se identificar alguns Estados de Direito hodiernos não Tributários, como Mônaco, que retira boa parte de suas receitas da exploração do jogo, as modernas democracias ocidentais são, em regra, Estados Tributários, que, conforme Onofre Batista Junior (2011, p.310) consistem na “projeção financeira do Estado de Direito” 
Portanto, se durante o século XVII, a ideia é que o tributo era devido em contrapartida aos serviços prestados pelo Estado; a partir do século XIX, teorias sobre a função social do tributo emergiram. Esta situação não é diferente na América Latina e no Brasil. No início do período colonial, o aparato fiscal instalou-se nesta região. Se, no início, a tributação foi utilizada como um simples instrumento de arrecadação de dinheiro para a metrópole; com o advento dos Estados independentes o imposto tornou-se um instrumento para políticas econômicas e sociais, seguindo os sucessivos ciclos de produção. No meio de tudo isso, o continente também conheceu revoltas e rebeliões contra a utilização abusiva do tributo. Isso, irá ser demonstrado com detalhes no tópico seguinte.
Já nos tempos atuais:
(...) o tributo é largamente utilizado com o objetivo de interferir na economia privada, estimulando atividades, setores econômicos ou regiões, desestimulando o consumo de certos bens e produzindo, finalmente, os efeitos mais diversos na economia (MACHADO, Hugo de Brito, 2005, p.81).
Logo, o tributo passou por diversas evoluções históricas, para então adaptar-se ao mundo moderno, que requer sua boa utilização tanto no âmbito social como econômico. O contribuinte passa a ser mais pensante e exigente com a utilização do tributo arrecadado, então, o Estado tem que está devidamente preparado para dá o retorno a sociedade, estimulando assim a economia e as mais diversas atividades que requer dinheiro público para o seu desenvolvimento. 
2.2 TRIBUTAÇÃO BRASILEIRA 
A primeira forma de tributação no Brasil, de forma não escrita e nem declarada, foi a exploração de pau-brasil e outras riquezas do solo brasileiro na chegada dos portugueses, no ano de 1500. Dessa forma, a princípio, a descoberta do Brasil, por maior que fosse seu potencial, causava grande preocupação na realeza portuguesa, visto que não havia suporte para proteção do vasto território encontrado. Logo, houve dispêndio de grande esforço humano e financeiro para que ocorresse tal proteção.
Diante desse cenário, criou-se a conhecida primeira fase de tributação no Brasil, constituída diante das quinze Capitanias Hereditárias, antes chamadas Donatárias, que serviam exclusivamente aos interesses do então rei português D. João III. Nessa divisão, foi escolhido um “Capitão-Mor” para cada, sendo o representante da monarquia, atuando como órgãos tributários das atividades de suas jurisdições.
Contudo, em 1548, foi criado um governo-geral para substituir a atuação das capitanias hereditárias, mas, mantendo-as como divisão, e foi nomeado um governador-geral, chamado Thomé de Souza, para representar os interesses do rei no Brasil. Com isso, os sesmeiros, donos das terras sob a carta das sesmarias, agora eram sujeitos a impostos, tributos e obrigações. Nesse momento, o Brasil entrava na chamada segunda fase da administração tributária, em que foi nomeado um provedor-mor da Real Fazenda, Antônio Cardoso de Barros, e provedores-parciais nas diversas capitanias, sendo Brás Cubas, em São Vicente, o primeiro, através da edição da Lei Tributária. Para tanto, os tributos foram classificados em três espécies, e em dois grupos, considerando a sua periodicidade, sendo ordinários e extraordinários. Os primeiros eram decorrentes de atividades como gastos com guerras e proteção armada; os segundos com despesas da sociedade. 
Já em 1649, após boa fase de arrecadação naqueles cem anos que se passaram, inclusive com o monopólio do comércio através da tributação de todas as atividades lucrativas, foi criada a Companhia Geral do Comércio, que daria, da mesma forma, o monopólio legal e da macro economia. Ademais, um fator que melhorou, e muito, a economia e a tributação da época foi a extração do ouro, que ganhara força em 1644 somente, após Brás Cubas ter descoberto a primeira jazida do material na década entre 1560e 1570, em São Vicente, e dali ter enviado as primeiras amostras à Coroa Portuguesa.
Além disso, em 1601, foram criados benefícios aos descobridores de minas de ouro, tendo o direito ao dízimo das lavras, um quarto do manancial e um prêmio em dinheiro. No mais, de acordo com Ferreira Benedito (1986), nas cartas de concessão aos donatários, já estavam estipuladas as condições, reservando a Portugal o direito de tributar para si a produção realizada no subsolo.
No período, por volta de 1630 a 1654, a região de Pernambuco era de domínio holandês. Era, também, o centro do açúcar, e, com isso, foi criada uma espécie de "Constituição Brasil-holandesa", onde estabelecia a figura do escuteto (chefe administrativo municipal), ao qual cabia a função, naquela região sobre aquela especifica atividade, de cobrador dos impostos.
Atravessando na linha do tempo, ocorreu a vinda da família real portuguesa para o Brasil, devido ao temor de Napoleão, após a revolução francesa, em 1789. Com isso, fixou-se a sede da metrópole no Brasil e os portos foram abertos para as nações parceiras. Consequentemente, o relacionamento comercial se tornou mais aberto entre outras nações.
Ademais, o movimento de independência deu origem à Constituição de 1824, onde a amplificação do ideal liberal predominou; havia uma intensa preocupação em limitar o Estado, nos preceitos individualistas, tornando as questões sociais em matérias secundárias. Dessa forma, o processo legislativo foi influenciado pelo liberalismo, originando leis do mesmo teor. Nesse período, reinou um sistema de arrecadação bastante caótico, em que os tributos eram cobrados de maneira cumulativa. Estabeleceu-se, ainda, a classificação em: receitas gerais, provinciais e municipais.
Outrossim, no adveio a proclamação da república do Brasil e, com ela, a Constituição de 1891; o Brasil tornou-se uma federação, mas as receitas tributárias cabiam, apenas, à União e aos Estados; ficaram excluídos os municípios característica de um sistema censitário, concentrador de poder. Existia, pois, competência concorrente entre a União e os Estados, mas sem detalhamento. Posteriormente, diante da crise econômica mundial 1929, desenvolveu-se a chamada Revolução de 30, onde foram criadas, por meio de decreto (DEC. 21.930 de 11 de maio de1932), as contribuições de melhoria (espécie de tributo prevista no atual código tributário), visando reconstruir o país que estava saindo de uma guerra.
Durante o ano 1934, nasce a Constituição Social Democrata que trouxe expressamente em seu texto, o Imposto de Renda como tributo federal, sendo a primeira a contê-lo. Criou o imposto de consumo como tributo federal e, da mesma forma, o imposto sobre vendas e consignações (IVC) para os Estados, aproximadamente o que conhecemos hoje em dia como ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviço); ainda, o Imposto de indústrias e profissões (IIP), lançado pelo Estado, mas arrecado pelos estados e municípios em partes iguais, sendo o predecessor do ISS (Imposto Sobre Serviço) que tem competência municipal.
Sob a época da ditadura, instaura-se a Constituição de 1937, a conhecida "polaca", pouco respeitada e nada flexível. Esta criou o AIR (Adicional de Imposto de Renda), destinado para pessoas solteiras, viúvas, e casais sem filhos; visava estimular o crescimento populacional. Além disso, foram suspensos o imposto estadual sobre consumo de motor à explosão e o municipal sobre rendas de imóveis rurais. Disto resultou a unificação dos impostos de consumo e de renda, que ficaram com a União.
Em fase posterior, surgiu a Constituição de 1946, dotada de caráter democrático; tentou quebrar a centralização do poder, apoiando os municípios e lhes atribuindo receitas próprias. Em dezembro de 1965, o sistema tributário passa a ser sistemático através da Emenda Constitucional nº 18 - de 01 de dezembro de 1965 - procurou encontrar uma nova ordem tributária para o Brasil. Esta possuía as seguintes características: Originou o IPI (imposto sobre produtos industrializados) com a característica da seletividade, o ICM (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) antecessor do ICMS e fez surgir o ISS, sucessor do IIP, como já foi mencionado.
Por fim, a origem do CTN e a Constituição de 1967 - Código Tributário Nacional foi proposto em 19.08.1953 sob a vigência da Constituição de 1946, mas só foi aprovado em 25.10.1966 por lei ordinária; logo após isso, foi tido como inconstitucional, pois a então Constituição de 1967 determinava que matéria tributária devesse ser tratada por lei complementar. O movimento de criação do Sistema Tributário Brasileiro ganhou, realmente, corpo a partir dos anos 1965 e 1966, ano este da edição do Código Tributário Nacional que é o conjunto de normas reguladoras da tributação do País, que também procurou delinear as bases econômicas que serviriam para fins de imposição tributária.
 Assim, a Lei nº 5.172 de 25/10/66, regula, com fundamento na Emenda Constitucional n. 18, de 1º de dezembro de 1965, o sistema tributário nacional e estabelece, com fundamento no artigo 5º, inciso XV, alínea b, da Constituição Federal, as normas gerais de direito tributário aplicável à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, sem prejuízo da respectiva legislação complementar, supletiva ou regulamentar.
Como foi abordado, o Sistema Tributário Nacional atual encontra-se sob a regência dos artigos 145 a 162 da Constituição de 1988, de leis complementares resolvidas pelo Senado Federal, sob as competências das leis federais, municipais, estaduais e constitucionais. E, de acordo com o art. 146, as limitações constitucionais quanto ao poder de tributar cabem à lei complementar federal.
A lei complementar à Constituição tem o papel de estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios na economia, sem prejuízo da competência da União, por lei, de estabelecer normas de igual objetivo.
De acordo com o artigo 146 da Constituição de 1988, cabe à lei complementar:
I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
Especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.
Então, percebe-se que o Sistema Tributário Brasileiro é bastante recente e surgiu com a Emenda Constitucional 18, de 1º. de dezembro de 1965. Em seu artigo 1º, determinou a sua forma de composição: impostos, taxas e contribuições de melhoria, consolidando-se num sistema uno e nacional. Foi o primeiro movimento sério, com o objetivo de resolver os problemas da estrutura tributária até então existente e os defeitos da Constituição de 1946. Ao mesmo tempo, ordena e organiza as diversas competências. Além dessas questões, trouxe significativas inovações com conceitos doutrinários novos e classificação do imposto, alicerçada em conceitos econômicos.
O atual sistema está fundamentado nos artigos 145 a 156 da Constituição de 1988, e esta se baseia em quatro princípios gerais que definem as espécies tributárias, determinam a unicidade do sistema e delimitam a capacidade contributiva.
O primeiro princípio é o da reserva legal (art. 150, I, CF e art. 9º, I, do CTN): estabelece que União, Estados, Distrito Federal e os Municípios só poderão aumentar ou exigir impostos se uma lei assim o estabelecer.O segundo, é o princípio da anterioridade (CF, art. 150, III) e determina que os tributos só poderão ser cobrados para fatos geradores ocorridos a partir da vigência da lei, bem como no mesmo exercício financeiro da publicação da lei que os instituiu. O terceiro princípio previsto na Constituição Federal (art. 150, II) é o da isonomia, pelo qual todos devem ter tratamento igual perante a lei. O princípio da capacidade contributiva define-se no § 1º do art. 145 da CF. De acordo com a referida norma constitucional, quando possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte.
Em suma, os sujeitos ativos da obrigação tributária são os entes federados detentores de competências definidas pela CF, tendo poderes para cobrar impostos, enquanto os sujeitos passivos serão sempre os contribuintes.
No mais, a obrigação tributária configura-se num conjunto de obrigações, direitos e deveres, determinado pelo sujeito ativo, através de lei, ao sujeito passivo, prevista no Código Tributário Nacional, em seu artigo 113. Ela pode ser dividida em obrigação principal, surgida da ocorrência do fato gerador, tendo por finalidade o pagamento de determinado tributo ou penalidade pecuniária e a obrigação acessória decorrente da legislação tributária, tendo por objetivo as prestações de informações de interesse do ente arrecadador. A obrigação tributária será sempre decorrente de um fato gerador, surgindo sempre que um fato real, previsto em lei, vier a ocorrer. O crédito tributário torna-se líquido através de um lançamento (art. 142, CTN) por meio de ofício (art. 149, CTN), por declaração (art. 147, CTN) e por homologação (art. 150, CTN).
Para tanto, os tributos, de acordo com o art. 5º do CTN, podem ser classificados em vinculados e não vinculados. Os vinculados são taxas e contribuições de melhoria que dependem de alguma atividade estatal, enquanto os não vinculados independem de qualquer atividade estatal.
Logo, conforme abordado no tópico anterior, o sistema tributário brasileiro é bastante complexo, gerando interpretações diferenciadas tanto por parte do governo quanto pela sociedade, o que tem provocado inúmeros questionamentos judiciais. 
Nesse sentido:
O nível da carga tributária não é, contudo, um conceito absoluto: uma mesma carga tributária, medida pela relação percentual entre a arrecadação e o PIB, pode ser baixa para uma sociedade e excessiva para outra, dependendo das respectivas capacidades contributivas e provisões públicas de bens (VARSANO, 1998, p.21)
Neste contexto, o sistemas tributários complexos podem gerar altos custos sociais para a sociedade. Sobre essa problemática, Slemrod e Ythaki (1996), argumentam que custos sociais da tributação são gerados em função dos custos administrativos e custos de conformidade, suportados pela sociedade no processo de transferir poder de compra dos contribuintes para o governo. Tais custos incluem aprovar e administrar a legislação, custos involuntários de conformidade e gastos causados pelas atividades dos contribuintes no sentido de reduzir a carga tributária, como evasão, planejamento tributário e mudar para outras alternativas de consumo menos onerosas tributariamente, mas menos atrativas. Todos os fatores que afetam o custo social fazem parte de um modelo próprio dos custos de tributação, e afetam a estrutura do sistema tributário ótimo.
Nesse contexto, o Brasil passou por diversas fazes e transformações no quesito tributo, para então chegar a estrutura dos dias atuais. Marcado por um conflito de carga tributária sobre seus contribuintes e o fisco, algo que ainda hoje pode-se verificar na tributação brasileira. A carga tributária contribui de forma significativa para a elevação dos custos dos serviços e produtos, sendo necessário que as entidades realizem uma competente gestão tributária para melhorar sua competitividade no mercado.
3 HISTÓRICO DO ITR
Procurando-se resgatar a evolução histórica do ITR, pode-se notar que a legislação passou por três fases distintas. Sendo assim, a primeira fase compreende desde a criação do imposto propriamente dito até o ano de 1979. É a fase mais longa, dura 90 anos. Já a segunda fase inicia em 1980, quando a legislação passa por substanciais modificações, estendendo-se até março de 1990. A transferência da cobrança do ITR do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para a Receita Federal, em abril de 1990, para iniciar uma nova fase desse imposto. Vejamos a seguir mais detalhadamente cada uma dessas fases. 
A primeira ideia da criação de um imposto territorial rural no Brasil começou em 1822, quando tramitou no Congresso um projeto de lei que, no entanto, não teve sucesso. Segundo Vilarinho (1989), em outras duas ocasiões, em 1843 e 1877, foram discutidas novamente outros projetos de lei. que continuaram sem apoio. Em 1879, foi instituído em todo o Império um imposto de 5% sobre as propriedades urbanas e rurais, tendo sido revogado mais tarde. 
Somente 12 anos mais tarde, com a Constituição de 1891, foi facultada aos estados — antigas províncias — a cobrança de um imposto territorial, não especificando se constituiria um imposto restrito à área urbana ou rural. As estatísticas históricas, a propósito, mostram que o Imposto Territorial participava, nos anos de 1914,1930 e 1939, com, respectivamente, 2,2%; 3,2% e 4,2% na receita total (IBGE, 1986, p.l27). Essa participação representa um valor extraordinariamente superior ao atual, e isso deve-se ao fato de o antigo imposto aglutinar dois campos de incidência (rural e urbano). 
Entretanto, foi na Constituição de 1934 que surgiu a distinção entre imposto territorial rural e urbano. A cobrança do ITR ficou a cargo dos estados, sendo inclusive reafirmado nas Constituições de 1937 e 1946. Com a Emenda Constitucional de 1961, a cobrança do imposto passou a ser da competência dos municípios. Três anos mais tarde, com a Emenda Constitucional de 1964 a cobrança do imposto foi transferida para a União, e sua receita era repassada aos municípios onde eram localizados os imóveis sobre os quais incidia a tributação. Isso foi ratificado nas Constituições de 1967 e 1969, saído que, nesse período, o ITR foi cobrado pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA). Em 1970, esse órgão foi extinto, e a cobrança do imposto foi transferida ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Logo,1970 a 1979, praticamente não existiram substanciais alterações na legislação. 
De uma forma geral, a primeira fase da legislação do ITR passou por diversas fases, tendo inclusive passado pelas esferas Estadual, Municipal e, finalmente Federal. Basicamente, o ITR teve um fraco desempenho devido aos aspectos políticos que influenciavam os problemas administrativos. Sobre essa questão, Graziano (1990) esclarece ainda que foram justamente as normas cadastrais do INCRA que trouxeram muitos problemas: um deles, por exemplo, foi o conceito de latifúndios "por exploração", que fez com que milhares de pequenos e médios agricultores estivessem incorretamente classificados como latifundiários, pagando elevados impostos e falseando a compreensão da realidade agrária.
Seguidamente, a segunda fase do ITR começou no ano de 1980, quando, através da Lei nª 6.746 e do Decreto-Lei nª 84.685, foram criados os conceitos de Módulo Fiscal do Município (MFM), em que se fixava para cada município o tamanho ideal para um imóvel, e de Módulo Fiscal do Imóvel (MFI), onde era determinada a relação entre o tamanho da área aproveitável do imóvel com o seu tamanho ideal no município. Na realidade, bem como aponta Graziano (1990), houve muita discordância no critério para a fixação do módulo rural de cada município.
Porém, de uma forma geral, a regra básica utilizada era a seguinte: se o imóvel não atingisse um grau de utilização da terra variável de 10% a 30%, conforme o MFM de sua localização seria aplicada a progressividade — no primeiro ano, a alíquota era duplicada, no segundo, triplicada, no terceiro ano e seguintes, quadruplicada. Em compensação, oImóvel que satisfizesse as condições ótimas de exploração podia gozar da redução do tributo. 
Mas, se porventura, uma propriedade rural não conseguisse se enquadrar para que não ocorresse a incidência do imposto, também não era problema. Segundo Vilarinho (1989), a regra só penalizava os três primeiros anos da não utilização. A partir do quarto ano, o imóvel poderia continuar com utilização abaixo do mínimo fixado para seu município de localização, e a carga tributária seria mantida constante. Assim, Sayad (1982) enfatizando que as mudanças do ITR, nesse período, não tiveram efeitos significativos sobre a produção agrícola e sobre o processo especulativo com terras. 
Finalmente, a terceira fase começa em 1990, quando a competência para tributar, arrecadar e fiscalizar o ITR foi transferida do INCRA para o Departamento da Receita Federal. A ideia era disciplinar o ITR, procurando, assim, punir os latifundiários que mantinham terras improdutivas. Foi promovido, então, um cadastramento fiscal dos imóveis rurais e dos respectivos contribuintes do tributo, com base na Lei nª 8.022, de 12 de abril de 1990. A partir dessa data, a Receita Federal — como não dispunha de nenhuma base de lançamento para o ITR — passou a utilizar-se do mesmo cadastro que o INCRA vinha utilizando até então, que é o recadastramento de 1978, atualizado até 1989. Assim, a base de cadastro da Receita Federal para a cobrança do ITR dos anos de 1990 e 1991 foi a do INCRA. 
Mais tarde, no final de 1991, o Governo Collor apresentava ao Legislativo um projeto de lei que procurava aumentar a abrangência e a progressividade do ITR e a taxação da propriedade improdutiva. Entretanto o projeto foi derrotado pela Câmara dos Deputados, com 197 votos contra e 115 votos a favor (e quatro abstenções). 
Também no final de 1991, através da Portaria nª1.275 (DOU, 31.12.91, p.31202), foi criada a Declaração Anual de Informações para a formação do Cadastro Fiscal do Imposto Territorial Rural e fixada a data de 30.04.92 para a entrega. A mesma portaria determinava que o Executivo providenciaria até 31.03.92 a relação dos municípios brasileiros e as dimensões dos módulos fiscais. Entretanto, os problemas administrativos ainda persistem nessa área, revelados pela prorrogação da data de entrega da declaração por duas vezes: primeiro, para 29.05.92 e, depois, para 22.06.92, tendo sido a portaria dos módulos fiscais revogada. 	
Para o ano de 1992, existe a determinação de que todos os proprietários de imóvel rural ou possuidores de qualquer título (posseiros inclusive) estão obrigados a preencher os formulários do ITR. Naturalmente, o objetivo da Receita é fazer um cadastramento nacional, pois o último foi feito em 1978 — realizado pelo antigo INCRA —, quando foram identificados cinco milhões de proprietários rurais. Ademais, existe atualmente vontade do Fisco tanto de cruzar as informações do ITR com a do Imposto de Renda (para constatar a sonegação), como de cobrar o ITR pelo CPF do contribuinte. 
Em primeiro lugar, o motivo do cruzamento é: o contribuinte, para não pagar muito Imposto de Renda, declara que recebeu o mínimo de renda e, para não pagar muito ITR, declara que recebeu o máximo da renda da terra. Caso ocorra diferença nas duas declarações, fica constatada a sonegação, que, aliás, é mais alta justamente nos latifúndios, como demonstra Vilarinho (1989).
A Lei nº 9.393 foi promulgada em 19 de dezembro de 1996, dispondo sobre o ITR, sobre pagamento da dívida representada por Títulos da Dívida Agrária e dando outras providências, sendo esta a lei vigente que rege o ITR. Anteriormente, a União, através da Receita Federal do Brasil, era responsável pela fiscalização e cobrança do ITR, ficando com 50% da arrecadação e repassando 50% para os municípios. A Lei nº 11.250 regulamentou o inciso III do § 4º, do artigo 153, da CF, possibilitando que a União celebre convênios com os municípios optantes, delegando assim as atribuições de fiscalização, inclusive a de lançamento dos créditos tributários e de cobrança do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, como consequência, os valores arrecadados com o ITR são repassados integralmente para os municípios. 
Dessa forma, o Imposto Territorial Rural não tem sido graduado segundo a capacidade econômica do contribuinte, como determina a Constituição Federal, artigo 145. Entretanto, com a passagem da administração do ITR para a Receita, com o recadastramento e com a possibilidade de ocorrer um cruzamento com o Imposto de Renda para detectar a atual sonegação, esse imposto pode adquirir tanto uma maior eficiência para gerar receita, como também uma maior justiça fiscal. 
4 ITR E SUAS CARACTERÍSTICAS GERAIS
 O ITR é um imposto federal previsto na Constituição Federal, a qual dispõe o seguinte:
 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: 
(...) VI - propriedade territorial rural; (...) § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: 
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; 
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel; 
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. 
O texto constitucional deixa claro que o ITR tem, além do objetivo de arrecadação, uma finalidade regulatória (extrafiscal), que é a de desestimular a manutenção de propriedades improdutivas. 
Embora o ITR seja um imposto federal, a Constituição prevê a possibilidade de que seja cobrado pelos Municípios, desde que observada a legislação federal que rege a cobrança do imposto. Quando o ITR é cobrado pela União, 50% de sua receita são destinadas ao Município em que está localizado o imóvel rural. Quando é cobrado pelos Municípios, a totalidade da receita pertence ao Município. 
No restante desta seção é feita uma descrição mais detalhada da legislação do ITR, comparando-se esta, quando cabível, com dispositivos do Código Florestal (Lei 12.651, de 2012). O objetivo não é fazer uma descrição completa de toda a legislação do ITR, mas apenas das características desta legislação que são importantes para entender a análise que é desenvolvida no resto deste estudo. 
4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO IMPOSTO
Fato gerador e definição de imóvel rural, o fato gerador do ITR, definido no artigo 1º da Lei 9.393/1996, é “a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano”. No parágrafo 3º deste artigo estabelece-se que, para efeitos da lei, “considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município.”
Desta definição de imóvel rural duas questões merecem ser destacadas. A primeira diz respeito à caracterização de cada imóvel rural como a área contínua sob mesma propriedade, que é o mesmo conceito utilizado na legislação agrária. O conceito de imóvel rural como área contínua também é utilizado no Código Florestal, ao menos no que diz respeito às exigências de áreas de preservação permanente, de reserva legal e ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). 
Este conceito de imóvel rural difere, no entanto, do conceito civil, que discrimina os imóveis em função de suas matrículas nos cartórios de registro de imóveis. Ou seja, um mesmo imóvel para fins da legislação do ITR (área contínua) pode ser formado por vários imóveis do ponto de vista civil (várias matrículas). A segunda questão que merece atenção decorre da legislação do ITR tratar como imóvel rural apenas a parcela das terras localizadas na zona rural do município. 
Já no Código Florestal considera-se como imóvel rural todo o imóvel, ainda que parte dele esteja na área urbana do município. Embora pareça uma questão menor, esta diferença de conceito ganha relevância caso se pretenda compatibilizar a legislação do ITR com a legislação ambiental prevista no Código Florestal. 
A não incidênciasobre pequenas glebas rurais, a Constituição Federal define que o ITR não incidirá sobre as pequenas glebas rurais, exploradas pelo proprietário que não possui outro imóvel. No art. 2º da Lei 9.393/1996 estabelece que pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual ou inferior a: 100 ha, se localizados na Amazônia Ocidental ou no Pantanal; 50 ha, se localizados no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; e 30 ha, se localizados em outras regiões. 
Adicionalmente, o art. 3º da lei estabelece que são isentos do ITR os imóveis rurais compreendidos em programas oficiais de reforma agrária (atendidas algumas condições) e o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, desde que sua área total não exceda os limites discriminados acima. 
Na definição de pequenas glebas rurais também há uma diferença entre a legislação do ITR e o Código Florestal, que define, em seu art. 3º, V, que a pequena propriedade ou posse rural familiar é: “aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei nº 11.326/2006”
Este dispositivo, por sua vez, estabelece como limite a área de quatro módulos fiscais, a qual é diferente da área limite de 30 ha, 50 ha ou 100 ha prevista na legislação do ITR, ou seja, também na definição de pequena propriedade rural há uma diferença entre a legislação do ITR e o Código Florestal que dificulta a coordenação entre estas duas legislações. 
Já a forma de apuração, o valor do imposto devido é calculado pelo próprio contribuinte, através da Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (DITR), a qual é preenchida por meio de um programa específico disponibilizado pela Receita Federal do Brasil. Esta forma de apuração do valor do imposto – conhecida como lançamento por homologação – difere da utilizada no caso do Imposto sobre propriedades predial e territorial urbana(IPTU), em que o valor do imposto devido é calculado pela administração tributária e informa do ao contribuinte (lançamento de ofício). 
Na apuração do valor devido de ITR, o contribuinte fornece todas as informações necessárias para o cálculo do imposto, tais como a área e o valor do imóvel, o valor das benfeitorias, as áreas não tributáveis – como as áreas de preservação permanente (APP), a reserva legal (RL) –, a forma de ocupação da área aproveitável etc. O programa apenas faz a consistência dos dados informados (por exemplo, verificando se a soma das áreas informadas corresponde à área total), inclusive no que diz respeito aos índices mínimos de produtividade previstos na legislação.
No caso de falta de entrega da declaração, bem como de prestação de informações inexatas ou incorretas, a Receita Federal pode proceder ao lançamento de ofício do imposto. Neste caso, considera-se como preço da terra o constante de um sistema instituído pela Receita, com base em informações fornecidas pelas Secretarias de Agricultura estaduais ou municipais. As demais informações necessárias para a apuração do imposto (como forma de utilização etc.) são levantadas através de procedimentos de fiscalização.
O cruzamento das informações apresentadas na DITR sobre as áreas destinadas a fins ambientais no imóvel (APP, RL etc.) com as informações fornecidas aos órgãos ambientais é feita através do Ato Declaratório Ambiental (ADA), protocolado pelo proprietário do imóvel no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O programa de preenchimento da DITR contém um campo em que o proprietário do imóvel deve declarar o número do recibo de entrega do ADA no respectivo ano. 
4.2 CADASTRO
Na realidade há hoje, no Brasil, uma multiplicidade de cadastros de imóveis rurais que, em grande medida, não se comunicam, dificultando o cruzamento de informações e a fiscalização do ITR. O primeiro destes cadastros é o Cadastro de Imóveis Rurais (CIR), gerido pelo INCRA no âmbito do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), o qual gera o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), documento identificador do imóvel para fins agrários. 
O CCIR é necessário para qualquer ato de transferência de titularidade, desmembramento ou remembramento dos imóveis, bem como para o registro de áreas de preservação ambiental, sendo os serviços de registro de imóveis obrigados a encaminhar mensalmente ao INCRA todas as modificações ocorridas nas matrículas dos imóveis decorrentes destes atos. Em paralelo, a Receita Federal gere o CAFIR (cadastro de imóveis rurais para fins tributários), cuja atualização é feita através do Documento de Informação e Atualização Cadastral do ITR (DIAC). 
A Lei 10.267, de 2001, trouxe duas mudanças importantes para o sistema de cadastros de imóveis rurais. A primeira destas mudanças foi a criação do CNIR, gerido conjuntamente pelo INCRA e pela Receita Federal. O objetivo do CNIR era o de unificar, em um único cadastro, as informações do cadastro do CIR/SNCR e do CAFIR. 
A segunda modificação trazida pela Lei 10.267/2001 foi a exigência de georreferenciamento para os atos de transferência de titularidade (a qualquer título), desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais. As informações georreferenciadas apresentadas aos registros de imóveis são encaminhadas para validação e certificação pelo INCRA através do Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF). Através do SIGEF, o INCRA passou a ter um cadastro georreferenciado de imóveis rurais.
O problema do SIGEF é que, ao menos hoje em dia, sua cobertura é incompleta por vários motivos. O primeiro motivo é que o georreferenciamento só é exigido nos casos de transferência, desmembramento ou remembramento dos imóveis. O segundo motivo é que, para imóveis de menor porte, foram estabelecidos prazos bastante longos (de até vinte anos) para que a exigência de georreferenciamento passe a ser obrigatória. Por fim, para os imóveis com até quatro módulos fiscais, a Lei 10.267/2001 estabeleceu que o georreferenciamento seria feito pelo próprio INCRA. Na prática, este georreferenciamento dos imóveis de pequeno porte acabou não acontecendo, por motivos orçamentários ou operacionais.
Por fim, o novo Código Florestal criou um novo cadastro de imóveis rurais, o CAR, cujo objetivo é verificar o cumprimento das exigências do Código Florestal. Embora o CAR seja georreferenciado, o registro dos imóveis no CAR não é certificado e sequer exige um levantamento, podendo ser feito na forma de desenho sobre imagem (aerofotogramétrica) disponibilizada pelo sistema de cadastramento. 
Como o cadastro gerido pela Receita Federal está vinculado ao cadastro do INCRA, pode haver alguma dificuldade na utilização do CAR na apuração do ITR. Isto não parece ser, no entanto, um impedimento para que as informações constantes do CAR venham a ser utilizadas na apuração do ITR. Desde que não haja divergências muito grande entre a área do imóvel constante do CAR e aquela declarada à Receita, e que haja alguma forma de certificação pelos órgãos ambientais de que não há uma divergência muito grande nas divisas informadas ao CAR com aquelas informadas pelos imóveis contíguos, nada impede que a dimensão das áreas de interesse ambiental identificadas no CAR seja utilizada na apuração do ITR.
Atualmente, já há uma iniciativa extremamente interessante no sentido da constituição de um cadastro georreferenciado abrangente para imóveis rurais e urbanos, que é o projeto do Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais (SINTER). O SINTER é uma iniciativa coordenada pela Receita Federal e que conta com a participação das entidades representativas dos serviços de registro de imóveis e de uma série de órgãos do Poder Executivo, do Judiciário e do Ministério Público.
O objetivo do SINTER é criar um sistema de informações geográficas vinculado de forma unívoca aos títulos de propriedade, criando condições para um processo efetivo de regularização fundiária (rural e urbana), para o georreferenciamento de uma série de políticas públicas e paraa simplificação e a agilização dos processos de execução fiscal. 
4.3 CÁLCULO DO ITR
Para calcular o ITR, deve-se saber o Valor da Terra Nua (VTN), que é o valor de mercado ou valor venal, abatidas todas as benfeitorias comprovadamente existentes sobre o imóvel. Para efeitos agronômicos, benfeitorias são todas aquelas situações nas quais são investidos recursos de capital para a sua instalação. Nos procedimentos avaliatórios de imóveis rurais, são subdivididas em reprodutivas e não reprodutivas, ou seja, VTN que corresponde ao valor de mercado do solo, bem como das florestas e pastagens naturais. Na prática, o VTN é apurado tomando-se como base o valor de mercado total do imóvel e excluindo-se o valor das construções, instalações e benfeitorias, bem como o valor das culturas, pastagens cultivadas e melhoradas e florestas plantadas. 
A Lei do ITR (9.393/1996) em seu art. 10, §1º, inciso I, traz claramente o Valor da Terra Nua e o valor do imóvel como índice para apuração do ITR. Vejamos: 
“Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior. 
§ 1º Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á: 
I - VTN, o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a:
 a) construções, instalações e benfeitorias; 
b) culturas permanentes e temporárias; 
c) pastagens cultivadas e melhoradas; 
d) florestas plantadas.” 
Já a Área Tributável a área total do imóvel, deduzidas as áreas não tributáveis, as quais compreendem as seguintes áreas: 
· Preservação permanente;
· Reserva legal; 
· Interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas por órgão estadual ou federal competente;
· Comprovadamente imprestáveis para a exploração agrícola, pecuária ou florestal, declaradas de interesse ecológico por órgão estadual ou federal competente;
· Sob regime de servidão ambiental (ou florestal); 
· Reserva particular do patrimônio natural (RPPN); 
· Cobertas por florestas nativas, primárias ou secundárias em estágio médio ou avançado de regeneração; 
· Alagadas para fins de constituição de reservatório de usinas hidrelétricas autorizadas pelo poder público.
Para tanto, pela legislação do ITR, as áreas mantidas com finalidades ambientais (APP, RL etc.) na prática são isentas do imposto, pois são consideradas áreas não tributáveis, não integrando, portanto, o Valor da Terra Nua Tributável (VTNt). 
As fórmulas abaixo descrevem como é calculado o valor do imposto. 
ITR = VTNt x alíquota 
Onde:
ITR é o valor do imposto a ser pago (calculado anualmente); e VTNt é o valor da terra nua tributável, o qual é definido pela seguinte fórmula: 
VTNt = VTN x Área tributável / Área total 
A alíquota do imposto, por sua vez, é determinada em função da área total do imóvel e do Grau de Utilização (GU) do imóvel, o qual é uma estimativa do quanto da área aproveitável do imóvel está sendo efetivamente utilizada na exploração agropecuária. Ou seja, relação percentual entre a área efetivamente utilizada pela atividade rural e a área aproveitável (agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou florestal) do imóvel rural, com a exclusão das áreas isentas. Constitui critério, com a área total do imóvel rural, para a determinação das alíquotas do ITR. E é calculado com base na seguinte fórmula: 
GU = Área efetivamente utilizada /Área aproveitável 
Assim, a Área Aproveitável corresponde à Área Tributável, excluídas as áreas ocupadas por benfeitorias úteis e necessárias (como moradias, galpões para armazenamento da produção, currais, açudes, estradas internas etc.). Pela legislação do ITR, a Área Aproveitável, calculada desta forma, seria aquela passível de exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou florestal. Na hipótese de inexistir área aproveitável depois de efetuadas as exclusões previstas na lei, serão aplicadas as alíquotas correspondentes aos imóveis com grau de utilização superior a 80%, observada a área total do imóvel. Em nenhuma hipótese, o valor do imposto devido será inferior a R$ 10,00. 
Já a Área Efetivamente Utilizada corresponde àquela que no ano anterior ao fato gerador do ITR tenha: sido plantada com produtos vegetais, servido de pastagem (nativa ou plantada), sido objeto de exploração extrativa, servido para a exploração de atividade granjeira ou aquícola e sido objeto de implantação de projeto técnico. 
No caso da área destinada à utilização como pastagem e à exploração extrativa, a legislação do ITR estabelece índices mínimos de produtividade. Estes índices correspondem aos definidos pela Instrução Especial nº 19/1980 do INCRA e são apresentados nos anexos da IN RFB 256/2002. 
Para a pecuária, os índices mínimos de lotação são fixados para cada município do país, variando de 0,15 cabeça/hectare (no caso de alguns municípios do Polígono das Secas e da Amazônia) a 0,90 cabeça/hectare (caso de vários municípios das regiões Sul e Sudeste). Estes índices definem qual é a área máxima utilizada na pecuária que pode ser considerada como Área Efetivamente Utilizada. Assim, por exemplo, se um imóvel rural localizado em um município cujo índice mínimo de lotação é de 0,5 cabeça/hectare tem 1.000 ha dedicados à pecuária, mas tem uma criação de apenas 300 bovinos, ele poderá considerar como Área Efetivamente Utilizada na Pecuária apenas 600 ha (300 ÷ 0,5).
De forma semelhante, são definidos índices mínimos de rendimento para as atividades extrativas de madeira de florestas nativas autorizadas pelo IBAMA (10 m3/ha por ano) e de alguns outros produtos. As atividades extrativas com plano de manejo florestal sustentado cujo cronograma esteja sendo cumprido não estão sujeitas ao índice mínimo de produtividade 
Por fim, também se considera como Área Efetivamente Utilizada, para fins do cálculo do ITR, as pastagens em formação (caso em que não se aplicam os índices mínimos de produtividade), as áreas que tenham permanecido em descanso para recuperação do solo (desde que por recomendação técnica expressa), os terrenos situados em área de ocorrência de calamidade pública e as áreas oficialmente destinadas a atividades de pesquisa e experimentação.
Portanto, o artigo 11 da Lei nº 9.393/1996, o valor do imposto é apurado aplicando-se sobre o VTNt a alíquota correspondente prevista no anexo da lei, considerada a área total do imóvel e o GU. Na hipótese de inexistir área aproveitável após efetuadas as exclusões previstas no artigo 10, § 1º, inciso IV, serão aplicadas as alíquotas correspondentes aos imóveis com grau de utilização superior a 80% (oitenta por cento), observada a área total do imóvel. 
4.4 PROBLEMAS DO ITR
ITR é um imposto com claras finalidades extrafiscais. A principal destas finalidades, prevista no art. 153, § 4º, I da Constituição Federal é o desestímulo à manutenção de propriedades improdutivas e, portanto, à especulação com terras. Este problema é especialmente importante na Amazônia, onde é comum ocorrer o desmatamento de terras públicas e a manutenção de propriedades improdutivas – usualmente na forma de “pastos sujos” ocupados com pecuária de baixíssima produtividade – visando a posterior venda das terras.
Ademais a baixa produtividade na produção agropecuária e o desmatamento com finalidades especulativas também têm impactos ambientais negativos. A baixa produtividade implica na necessidade de um volume muito maior de terras para um determinado nível de produção agropecuária (e, portanto, um volume muito maior de desmatamento) que o que seria necessário caso a produção fosse realizada de forma mais eficiente. 
No entanto, há um consenso de que o ITR tem sido extremamente ineficiente como instrumento de indução ao aumento da produtividade e como instrumento de desestímulo à especulação com terras. Esta deficiência do ITR está, em grande medida, relacionada ao baixo custo do imposto para os proprietários na forma como o imposto é cobrado hoje em dia, uma vez que este baixo custo não desestimula a manutençãode propriedades improdutivas. 
O maior problema na arrecadação do ITR decorre do caráter auto declaratório na apuração do imposto e das dificuldades de fiscalização. A tendência é que os proprietários dos imóveis, no preenchimento da DITR, reduzam o valor do imposto devido através da declaração de informações inexatas das mais diversas formas, a saber: subavaliando o valor de mercado da terra nua, superestimando a área não tributável (de interesse ambiental) do imóvel e superestimando o grau de utilização da área aproveitável. 
Além dos problemas na forma de apuração e fiscalização do ITR, há também deficiências no desenho do ITR (e na forma como alguns dispositivos estão regulados) que afetam o uso deste imposto como instrumento de indução ao uso produtivo da terra. 
Esta distorção no desenho do ITR é identificada em LACERDA e SILVA (2014, p.517), para quem “Esse problema é causado porque não se exige a observância da legislação ambiental para fins de apuração do grau de utilização do imóvel”. 
Assim, verifica-se que este tributo precisa ainda passar por uma fase de melhoria, para que o fisco possa tributar de maneira mais justa e eficaz, levando assim o mínimo de prejuízo possível para o contribuinte e o orgão que arrecada o mesmo. 
5 IMUNIDADE E ISENÇÃO DO ITR
Como já foi demonstrada a forma de arrecadação, apuração, cadastro e fiscalização do ITR, será demonstrado a seguir, suas respectivas isenções e imunidades, dando o enfoque nas comunidades tradicionais. Nesse sentido, a imunidade tributária é a exclusão da obrigação de pagar tributos, ou seja, é o privilégio do não pagamento de uma obrigação compulsória, dado a algumas entidades. Aplica-se às taxas, impostos e contribuições. 
O Art. 150 da CF: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
VI - instituir impostos sobre: (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013)
Uma parte da doutrina afirma que a imunidade tributária é um limite constitucional ao poder de tributar, pois os entes não poderão instituir tributos em algumas hipóteses, por conta dessas entidades serem dispensadas de contribuir.
Há outra parte, que classifica a imunidade como vedação da cobrança de tributo, estabelecido constitucionalmente. Ou seja, o Estado não pode sequer querer cobrar, à quem goze desse benefício.
Já a isenção tributária, é a dispensa do pagamento do tributo. Ocorre que, neste caso, há a obrigação de pagar, porém posteriormente, há a dispensa do pagamento desse tributo. O Art.175 do CTN: Excluem o crédito tributário: a isenção e anistia. Entretanto, a exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente.
Doutrinadores afirmam que é uma espécie de “favor fiscal” concedido por lei, que dispensa do contribuinte, o pagamento do tributo em questão. Aqui, há o fato gerador, há a obrigação, mas no final, há a isenção. É aplicável a todas as taxas, tributos, impostos e contribuições, e deriva de uma lei ordinária ou complementar. 
No caso do ITR, conforme o artigo 2º da Lei nº 9.393/1996, o imposto não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel. Consideram-se pequenas glebas rurais os imóveis com área igual ou inferior a: 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; 30 ha, se localizado em qualquer outro município. 
A imunidade se estende aos imóveis da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, os imóveis rurais de autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, os imóveis rurais de instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos e as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas. 
São isentos de Imposto Territorial Rural: o imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como assentamento que, cumulativamente, atenda aos seguintes requisitos: seja explorado por associação ou cooperativa de produção; a fração ideal por família assentada não ultrapasse os limites estabelecidos para a pequena gleba rural (art. 2º); o assentado não possua outro imóvel, o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja área total observe os limites fixados para a pequena gleba rural, desde que, cumulativamente, o proprietário: o explore só ou com sua família, admitida ajuda eventual de terceiros e não possua imóvel urbano. 
Portanto, existem várias formas de isenção e imunidade, este trabalho em específico, como já foi mencionando, será destacado esse direito em comunidades tradicionais, verá logo a seguir nos próximos itens. 
6 COMUNIDADES TRADICIONAIS
Os povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados, que possuem condições sociais, culturais e econômicas próprias, mantendo relações específicas com o território e com o meio ambiente no qual estão inseridos. Respeitam também o princípio da sustentabilidade, buscando a sobrevivência das gerações presentes sob os aspectos físicos, culturais e econômicos, bem como assegurando as mesmas possibilidades para as próximas gerações. 
Para tanto, são povos que ocupam ou reivindicam seus territórios tradicionalmente ocupados, seja essa ocupação permanente ou temporária. Os membros de um povo ou comunidade tradicional têm modos de ser, fazer e viver distintos dos da sociedade em geral, o que faz com que esses grupos se autor reconheçam como portadores de identidades e direitos próprios. 
É importante destacar os vários benefícios que esses grupos promovem para a coletividade nacional, abrangendo modos próprios de vida, relações territoriais, preservação da memória, história e patrimônio cultural material e imaterial, saberes tradicionais no uso de recursos naturais, entre outros. Seu reconhecimento formal e a promoção dos seus direitos contribuem para a redução da desigualdade e para a promoção da justiça social. 
De acordo com o Decreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, povos e comunidades tradicionais podem ser definidos como:
 grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (Decreto 6.040, art. 3º, § 1º). 
Entre esses povos e comunidades, encontram-se alguns aspectos específicos que determinam os seus modos próprios de ser e de viver. O primeiro deles são os territórios, as relações específicas que esses grupos estabelecem com as terras tradicionalmente ocupadas e seus recursos naturais fazem com que esses lugares sejam mais do que terras, ou simples bens econômicos. Eles assumem a qualificação de território. 
Assim, o território implica dimensões simbólicas. No território estão impressos os acontecimentos

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