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Cefaleias · Queixa ambulatorial muito frequente · Definição de cefaleia: é qualquer processo doloroso referido no segmento cefálico · Conceito de dor: é uma experiência sensorial e emocional desagradável que é associada ou descrita em termos de lesões (ou disfunções) teciduais · Estruturas que não são sensíveis à dor: ossos da calota craniana; leptomeninges e a maior parte da dura-máter; parênquima encefálico; epêndima; plexos coroides; vasos no interior do parênquima encefálico e todos os nervos cranianos, exceto os que possuem função sensitiva (V, VII, IX, X) · Estruturas sensíveis à dor: pele, pericrânio, periósteo, dura-máter, grandes vasos porque têm terminações nervosas Classificação · Cefaleia primária: é a dor de cabeça (sintoma) sendo a doença propriamente dita · Embora muito desagradáveis, não oferecem risco · Enxaqueca · Cefaleia tensional · Cefaleia em salvas · Cefaleia secundária: é a cefaleia secundária a uma patologia (ex: encefalopatia hipertensiva, infecções, hipoglicemia) · Hipertensão arterial · Infecções · Hipoglicemia Cefaleias primárias Epidemiologia muito alta no dia a dia Prevalecem em mulheres porque têm receptores estrogênicos e progesterônicos nos vasos temporais; aumenta a prevalência até os 50 anos e depois descresce. 1. Cefaleia tensional é a mais prevalente 2. Enxaqueca 2ª mais prevalente entre a população geral (1ª nos ambulatórios) 3. Cefaleia em salvas 4. Outras: cefaleia associada à atividade sexual, do esforço físico, etc. precisam de investigação clínica antes de serem consideradas primárias Anamnese (CLINICA) · A anamnese é o principal meio diagnóstico · Caráter da dor · Aneurisma dor muito intensa · Cefaleias agudas que atingem seu máximo em minutos ou poucas horas sugerem origem secundária à meningites, encefalites, hemorragias e sinusites agudas · Instalação insidiosa e evolução progressiva, com ápice em alguns dias/meses processos expansivos (hematomas subdurais, tumores de crescimento lento) · Cefaleias crônicas que persistem por meses ou anos e não pioram com o tempo primárias · Localização / irradiação · Intensidade · Fatores de piora e melhora · Início e duração · Período dominante do dia · Frequência das crises por mês · A partir de 4-5 crises trata profilaticamente a enxaqueca · Menor do que 1-2 crises por mês trata sintomaticamente a enxaqueca · Fenômenos precedentes e sintomas associados · Histórico familiar de enxaqueca Enxaqueca ou migrânea · É multifatorial: tem relação com a alimentação, clima, estresse, ciclo menstrual, bebidas alcóolicas e independe do nível socioeconômico · É mais prevalente no sexo feminino, principalmente no início da menarca, devido aos receptores de estrógeno das artérias cranianas · Nas mulheres maioria dos casos se inicia antes dos 20 anos com a menarca , pico aos 30-40 anos e desaparece na menopausa porque existe uma relação hormonal importante · Nos homens, aumenta por volta dos 30-40 anos e tende a diminuir com 50-60 anos · A intensidade da dor faz com que a enxaqueca seja uma das principais causas de ausência no trabalho · Possui um caráter hereditário · O diagnóstico de enxaqueca baseia-se na história e no exame físico. Nenhum exame laboratorial ou de imagem é essencial para o diagnóstico. Característica · Dor pulsátil, unilateral (2/3), de forte intensidade · Pode ser bilateral (geralmente frontal) · A periodicidade e o local da dor são bastante variáveis · Aura sinais de redução do fluxo sanguíneo cerebral de posterior para anterior que costumam ser do tipo sensorial (visual, olfativa, parestésica) · Também podem ser motoras ou psíquicas · Podem estar presentes ou não · A mais comum é a alteração visual · Negativa (escuro): escotomas · Positivo: luzes, cores, cintilações · Se tem aura, faz a medicação direto nessa fase profilática pra evitar progressão Fases 1. Fase prodrômica 2. Aura 3. Dor de cabeça Resolução Recuperação Enxaqueca sem aura – critérios diagnósticos A. Pelo menos 5 crises que preenchem os critérios B-D B. Cefaleia durando 4 – 72h (sem tratamento ou com tratamento ineficaz) C. Cefaleia preenche ao menos 2 das seguintes: · Localização unilateral (pode ser bilateral, geralmente frontal) · Caráter pulsátil · Intensidade moderada ou forte (limitando ou impedindo atividades diárias) · Exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar atividades físicas rotineiras (ex: caminhar ou subir escada) D. Durante cefaleia há, pelo menos, 1 dos seguintes · Náusea e/ou vômitos · Fotofobia E fonofobia (se for fotofobia OU fonofobia é cefaleia tensional) Enxaqueca ou com aura – critérios diagnósticos A. Pelo menos 2 crises preenchendo os critérios B-D B. 1 ou mais dos seguintes sintomas de aura completamente reversíveis: visual, sensorial ( positivo formigamento e negativo dormência), discurso e/ou linguagem, motor, retiniano ou relacionado ao tronco cerebral; C. Ao menos 2 das 4 características seguintes: · Pelo menos 1 sintoma de aura alastra gradualmente em ≥ 5 min, e/ou dois ou mais sintomas aparecem sucessivamente em ≥ 5 min · Cada sintoma da aura dura de 5 a 60 minutos; · Pelo menos um sintoma de aura é unilateral · A aura é acompanhada, ou seguida em 60 minutos, por cefaleia D. Não há nenhum outro diagnóstico melhor de acordo com o ICHD-3 e foi excluído AIT Fisiopatologia: controversa · Hipótese neuroquímica vascular: Existe uma ativação do sistema trigêmino-vascular: · O N. trigêmeo envia impulsos para o núcleo do trigêmeo (principal núcleo do tronco cerebral, pegando o bulbo, a ponte e o mesencéfalo) · De lá, o estimulo parte estimulando os receptores 5HT1B e 5HT1D dos vasos vasodilatação dor · Toda vez que existe uma vasoconstricção (fase aura), o sistema trigêmino-vascular capta essa informação e será ativado · Se o sistema trigemino vascular foi ativado na transição diencéfalo-mesencéfalo ativa focalmente sistema trigêmino vascular na região orbitária cefaleia em salvas (enxaqueca em salvas excruciante no sexo masculino) · Se o sistema trigemino vascular foi ativado na região central bulbar e medular alta ativação do 5HT1D Duvida (tanto o 5HT1B quanto 5HT1D causam vasodilatação?) · Teoria depressão alastrante de lesão: há uma vasoconstricção > redução do fluxo sanguíneo cerebral do occiptal para região parietal (posterior – anterior. Como o córtex occiptal é visual, justifica-se a aura ser visual > sensitiva e motora a medida que a hipoperfusão caminha para frente · Fase da aura: ocorre vasoconstrição hipoperfusão que se inicia na região posterior do cérebro (área visual) e depois caminha para a região anterior · Na fase de aura não se faz vasoconstrictor (ex: neosaldina, diergotamina) e sim vasodilatador · Fase da dor: ocorre vasodilatação fazer vasoconstrictor · Triptano é dual, age nas 2 fases · Na aura: se liga ao 5HT1B vasodilatação · Na dor: se liga ao 5HT1D vasoconstricção Obs: Pacientes com enxaqueca sabidamente apresentam sensibilidade aumentada a estímulos externos e internos. Dentre as explicações para este fenômeno, temos: (1) A hiperexcitabilidade cortical, causada por alterações na via sensitiva; (2) REDUÇÃO da atividade de ATPase dos astrócitos na via sensitiva); (3) REDUÇÃO da atividade da substância cinzenta periaquedutal; (4) REDUÇÃO da latência do canal de sódio no neurônio pré-sináptico sensitivo; (5) AUMENTO do pH na fenda sináptica sensitiva devido a ação de receptores NMDA. Tratamento · < 4-5 crises/mês (Nitrini: ≤ 2): tratamento sintomático · > 4-5 crises/ mês: tratamento profilático + sintomático · Triptano ideal para enxaqueca com e sem aura Medidas gerais · Evitar chocolate, condimentos, estresse, frituras, fazer exercício físico Tratamento das crises · Quanto mais no início da crise a medicação for feita, melhor seu efeito terapêutico · AINE útil na enxaqueca menstrual (inclusive profilaxia) 1. Dor leve · Analgésicos simples (dipirona, paracetamol) ou · AINE (ibuprofeno, diclofenaco sódico, ácido tranexâmico) 2. Dor moderada · Triptanos ou ergotamina (vasoconstritores) · Analgésicos + AINE 3. Dor intensa · Triptanos (sumax)· AINE IM (ex: toradol) · Dipirona e corticoide dexametasona (decadron) EV também pode ser usada em crises prolongadas e refratárias · Clorpromazina EV Antieméticos · Utilizar nas formas clínicas com vômitos (exceto com triptano) ??? · Metoclopramida, bromoprida, dimenidrinato Tratamento profilático · Necessidade de controle médico a intervalos curtos · Deve ser feito por no mínimo 4 meses · Maior eficácia: antidepressivos, anticonvulsivantes e anti-hipertensivos · Betabloqueadores propranolol · Boa opção para pacientes que também têm hipertensão e tremor essencial · Antidepressivos tricíclicos amitriptilina · Boa opção para pacientes com componentes depressivos ou ansiosos · Anticonvulsivantes · Ácido valproico/ gabapentina/divalproato boa opção para pacientes com epilepsia, componentes depressivos ou ansiosos · Topiramato opção na enxaqueca refratária e em pacientes obesos, pois provoca perda de peso · Flunarizina usado quando o paciente tem síndrome vestibular/ vertiginosa + enxaqueca · Outros: bloqueadores do canal de cálcio, inibidores seletivos da receptação da serotonina (ISRS) · O uso de ácido valproico deve ser limitado a cefaleia “rebeldes” ou nesses casos específicos Cefaleia tensional · É a cefaleia mais prevalente entre as cefaleias primárias, mas a enxaqueca é a que mais faz procurar serviço médico · A dor desse tipo de cefaleia é fraca a moderada, podendo prejudicar, mas não impedir as atividades diárias · É uma dor do tipo em peso ou pressão, bilateral, em região occipital, frontal, temporal ou fronto-temporal · Relacionada com a personalidade tipo A: ansiosa, estressada, etc. Diferenças entre a enxaqueca e a cefaleia tensional ENXAQUECA CEFALEIA TENSIONAL Duração da crise 4-72h Até 1 semana Local da dor Unilateral Bilateral, Caráter da dor Latejante, pulsátil Em pressão, nucal Intensidade da dor De moderada a forte De fraca a moderada Impacto no cotidiano Interrompe o que está fazendo Consegue manter o que está fazendo Na dor Náusea e vômito Fotofobia e fonofobia Náusea ou vômito Fotofobia ou fonofobia Obs: diferenciar as dores occiptais na região do trapezio (cefaleia tensional) das encefalopatias hipertensivas Fisiopatologia · Os músculos trapézio/ esplênio intensamente contraídos pelo estresse, ansiedade, tensão, comprimem o N. occipital maior, fazendo com que a dor se prolongue para a região frontal, pois o nervo faz sinapse com o N. frontal a forma “clássica” inicia com dor occipital que se irradia até a região frontal · O processamento normal da dor se dá pelas estruturas supraespinhais do tronco cerebral e o tecido miofascial e pericraniano que têm alta sensibilidade · Oclusão temporo-mandibular prolongada também pode aumentar a tensão Tratamento Tratamento não farmacológico · · Relaxamento: em clínica, em grupo ou individual · Biofeedback eletromiográfico · Psicoterapia · Acupuntura · Calor nucal · Massagem · Fisioterapia Tratamento farmacológico · Analgésicos comuns: dipirona, paracetamol, aspirina · AINES : ibuprofeno, naproxeno, tonoxican, clonixilato de lisina Tratamento profilático – nos pacientes que tem muitas crises de CT · Antidepressivos: amitriptilina, nortriptilina, ISRS · Usados nas formas crônicas (são mais resistentes a analgésicos e costumam ter um componente depressivo importante) · Anticonvulsivantes : valproato e divalproato · Relaxantes musculares: baclofen, diazepan, ciclobemzaprina, tizanidina · Toxina botulínica – muito utilizada!!! Cefaleia em salvas ou histamínica · É uma cefaleia de grande intensidade (lancinante), unilateral · Nada alivia a dor e o paciente fica inquieto · Os episódios iniciam e terminam abruptamente , durando de 15 minutos a 2 horas · Mais comum nos homens (9:1) · É um tipo de enxaqueca, mas a vasodilatação é puramente orbitária · Representa 1 em cada 100 enxaquecas · Critérios diagnósticos · Grande intensidade (lancinante) e em surtos · Unilateral · É chamada de cluster headache vem, passa, depois vem de novo · A síndrome de Horner (ptose, miose e anidrose) é um achado do exame físico. · Distúrbios autonômicos ipsilaterais a dor rubor, lacrimejamento, suor, congestão nasal · Periodicidade circadiana · 1-3 crises/dia até 8 crises · Predominância noturna (acorda o paciente) · Principalmente em países frios · Outros nomes: do seio cavernosos, histamínica · Essa mesma cefaleia em mulheres tem outro nome: hemicrania paroxística crônica · Diagnósticos diferenciais : Hemicrania paroxística e SUNCT, mas possuem crises mais frequentes e de duração mais curta, além de não responderem à oxigenioterapia. · Sintomas enxaquecosos são raros Fisiopatologia · Existe uma dilatação do seio cavernoso · Alteração no eixo hipotálamo-hipofisário, principalmente prolactina · Fatores gatilhos estimulam o sistema trigêmino-vascular, através do ramo oftálmico vasodilatação exorbitante na região periorbitária dor gigantesca · Mesma fisiopatologia da enxaqueca, mas ativa especificamente o ramo V1 do trigêmeo Fenômenos associados · Alto consumo de álcool e tabagismo · Personalidade tipo A · Pele peau de ‘orange · Úlcera duodenal · Fáscies leonina Tratamento crise · Máscara facial de oxigênio 8-10 L/min por 15 a 20 min é o mais efetivo porque faz vasoconstrição · Triptanos intranasal nos pacientes refratários ou · Dihidroergotamina Tratamento preventivo · · Verapamil · Carbonato de lítio · Metisergida · Prednisona · Divalproato de sódio Prognóstico das cefaleias 50% não muda 30% remissão longa 7% muda padrão
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