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São Tomás de Aquino

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Contexto de São Tomás: a alta escolástica
Havia-se iniciado em várias regiões da Europa uma intensa atividade artesanal e comercial,
que juntamente com a progressiva imigração do campo devida a crise na produção agrícola,
levou ao enriquecimento da população e o surgimento de núcleos urbanos importantes,
rompendo pouco a pouco com a ordem econômica e política feudal, então dominante. O
mundo fechado do feudalismo dá lugar a um mundo em que as relações sociais são de um
novo tipo, em que a mobilidade social existe, instaurando uma nova ordem política e
econômica. os artesãos se organizam em ligas para proteger seus interesses, e há maior
liberdade e um novo tipo de convívio social nas cidades Isso se tratou de um processo
lento, concentrando-se em apenas algumas religiões, mas uma nova realidade começa a
surgir onde a obra de Aristóteles, com sua preocupação científica e empírica, com um tipo
de saber voltado para a realidade natural, parece adequada.
Do ponto de vista filosófico, é relevante destacar dois fatores fundamentais: o surgimento
das universidades e a criação das ordens religiosas: franciscanos e dominicanos. São
Tomás não foi só um frade dominicano, mas também teve sua carreira profundamente
ligada às universidades.
As universidades surgem em consequência do grande desenvolvimento das escolas ligadas
às abadias e catedrais. Com o crescimento dos núcleos urbanos e o enriquecimento da
sociedade, a demanda por educação aumenta progressivamente. As primeiras
universidades resultam da aplicação do modelo das ligas ou corporações de ofício no
campo da educação, reunindo mestres e estudantes. Eram no entanto instituições leigas,
surgidas em função de necessidade e interesse dessas comunidades. Nesse momento, é
grande o interesse pelas obras de Aristóteles e dos pensadores árabes, que representam
uma novidade e trazem um conhecimento da ciência natural até então pouco desenvolvido,
levando os setores mais tradicionalistas a proibirem o ensino dessas obras, porém sua
penetração será inevitável. A igreja logo percebe a importância e eficácia das universidades
na elaboração e sistematização de um saber teológico e filosófico necessário para combater
os hereges e desenvolver a cultura do mundo latino.
As ordens religiosas mendicantes, dominicanos e franciscanos terão também um papel
fundamental. Sua importância está ligada à sua função.São ordens dedicadas à vida no
mundo leigo, à pregação e à conversão dos hereges e pagãos.
A filosofia de são Tomás de Aquino
O pensamento de São Tomás de Aquino teve imensa influência em sua época,
estendendo-se até o período contemporâneo. São Tomás desenvolveu uma filosofia própria
em um sentido fortemente sistemático, tratando praticamente de todas as grandes questões
da filosofia e da teologia de sua época, bem como tomando Aristóteles como ponto de
partida para a elaboração do seu sistema. São Tomás mostra que a filosofia de Aristóteles é
totalmente compatível com o cristianismo, abrindo assim uma nova alternativa para o
desenvolvimento da filosofia cristã.
Ao longo de toda a tradição ocidental, a filosofia de São Tomás e de seus discípulos e
seguidores, o tomismo, tornou-se uma espécie de representante da ortodoxia, quase uma
filosofia cristã oficial. O tomismo não é o mesmo que a obra de São Tomás e o uso muitas
vezes político e instrumental feito de sua obra pela igreja não deve nos impedir de
interpretá-la em sua grandeza argumentativa.
Sua obra foi importante no sentido de mostrar a compatibilidade entre o aristotelismo e o
pensamento cristão, preocupando-se em refutar a interpretação do chamado “averroísmo
latino”, desenvolvendo assim uma versão do aristotelismo mais adequada à doutrina cristã.
As “cinco vias” da prova da existência de Deus
“A existência de Deus”. O primeiro artigo levanta o seguinte problema: “Se a existência de
Deus é auto-evidente”. São Tomás começa examinando as teses em favor dessa posição
para depois refutá-las.
O primeiro argumento consiste em entender o conhecimento auto-evidente como inato ao
homem. O conhecimento de Deus seria assim natural ao homem, e portanto auto-evidente.
São Tomás responde dizendo que o homem possui um conhecimento natural confuso de
Deus, mas isso não equivale a um conhecimento absoluto de que Deus existe.
O segundo argumento diz que Deus é o ser supremo, aquele maior do que nada pode ser
pensado; quem entende essa definição de Deus deve aceitar a existência real de Dele, pois
caso Ele não existisse, haveria algo maior do que ele, já que existir é mais do que não
existir, e com isso teríamos uma contradição. A existência de Deus no intelecto acarreta
portanto a existência de Deus na realidade. A resposta de São Tomás consiste em rejeitar
a passagem do entendimento da definição de Deus, sua existência no intelecto, para sua
existência real, pois esta definição pode não ser aceita e, nesse caso, o argumento seria
circular, já que pressupõe o que quer demonstrar, e a existência do intelecto é diferente da
existência do real.
O terceiro argumento baseia-se na noção de que a existência da verdade é auto evidente,
já que é impossível negar a verdade, pois aquele que a nega supõe que sua negação seja
verdadeira. São Tomás responde que a existência da verdade em geral é auto-evidente,
mas não de uma verdade primeira determinada, além disso, não se pode pensar o oposto
do que é auto-evidente como se pode pensar que Deus não existe: a existência de Deus
não é auto-evidente. A conclusão geral de São Tomás é que, como não conhecemos
diretamente a essência de Deus, Deus não é auto-evidente, precisando ser demonstrado
através daquilo que conhecemos.
O segundo artigo discute se a existência de Deus pode ser demonstrada. Em
conformidade com o artigo anterior, supõe que não pode ser demonstrada, devendo ser
considerada auto-evidente, tratando-se de um desdobramento do primeiro artigo.
O primeiro argumento afirma que a existência de Deus não pode ser demonstrada, uma
vez que é um artigo de fé: uma demonstração produz conhecimento e Deus não é
conhecido como tal. São Tomás responde que a existência de Deus e de seus atributos
enquanto elementos da razão natural não são artigos de fé, mas pressupostos destes.
Mantém assim que a fé pressupõe a razão.
O segundo argumento diz que não se pode demonstrar que Deus existe porque a
essência de Deus não pode ser conhecida, e a essência é pressuposta na demonstração.
Só se pode dizer o que Deus não é. São Tomás responde que em uma demonstração não
se supõe um conhecimento da essência, mas parte-se apenas do sentido do nome daquilo
cuja existência se quer demonstrar e o sentido do nome de Deus é constituído
simplesmente por seus efeitos.
O terceiro argumento afirma que só se poderia demonstrar a existência de Deus por seus
efeitos, e seus efeitos lhe são inferiores, uma vez que Deus é infinito mas seus efeitos são
finitos. São Tomás responde que embora a partir dos efeitos não pelo mas para tal é
preciso demonstrar que a existência de Deus pode ser demonstrada a partir da existência
das coisas, do mundo criado. Introduz então uma distinção a propósito de dois sentidos de
demonstrar: a) pode-se demonstrar algo a partir da causa (propterquid), isto é, da essência
às suas propriedades, da causa ao efeito; ou b) pode-se demonstrar algo a partir dos efeitos
(quia), ou seja, argumentar a partir daquilo que é o primeiro para nós, isto é, do efeito para a
causa, sendo um método regressivo. Conclui assim que podemos demonstrar a existência
de Deus, embora não conhecê-lo tal qual é em sua essência, tomando como ponto de
partida os efeitos que são conhecidos.
O terceiro artigo exibe as cinco vias da demonstração da existência de Deus, consistindo
de cinco grandes linhas de argumento pelas quais se pode provar que Deus existe, todas
partindo de algum princípio aristotélico.
A primeira via baseia-se no argumento do movimento. O movimento caracteriza-se pela
passagem de potência a ato. Só algo que existe em ato pode fazer com que algo que existe
em potência passe a ato. Portanto,tudo que se move é movido por algo imóvel. Deus é
entendido então como o Primeiro Motor.
A segunda via parte da noção de causa eficiente. Nada pode ser causa eficiente de si
próprio, pois nesse caso seria anterior a si mesmo. Como não é possível admitir uma
regressão ao infinito, Deus é a primeira causa eficiente.
A terceira via é o argumento cosmológico, e visa explicar a necessidade da existência do
universo (cosmo) e toma por base as noções aristotélicas de necessidade e contingência.
Constatamos a contingência da natureza, mas nem todas as coisas podem ser
contingentes, senão seria possível que não houvesse nada. Mas aquilo que não existe só
pode começar a existir a partir do que já existe antes, sendo Deus a origem de toda a
necessidade.
A quarta via tem como ponto de partida os graus existentes nas coisas. Todas as coisas
têm um predicado, ou qualidade, em um grau maior ou menor, se caracterizam por um
termo comparativo, portanto pressupõe como parâmetro o máximo. Deus é o ser perfeito,
perfeição entendida como o máximo de realização de atributos ou qualidades.
A quinta via, ou argumento teológico, parte da noção de finalidade, ou causa final. Deve
haver um propósito ou finalidade na natureza, caso contrário o universo não tenderia para o
mesmo fim ou resultado. A causa inteligente dessa determinação é Deus.
Embora as provas de São Tomás de Aquino para a existência de Deus possam ser
questionadas, sua importância está no novo caminho que abrem em relação ao tratamento
dessas questões. Trata-se essencialmente de uma demonstração da existência de Deus a
partir da razão natural, buscando conciliar a revelação o que nos ensinam as Escrituras,
com a assim chamada “teologia natural”, a noção de Deus que temos. Conhecemos Deus
por seus efeitos, pela sua obra, a criação. Isso torna legítimo o interesse pela investigação
científica do mundo natural, bem como correspondia à necessidade de desenvolvimento do
mundo. Abre-se com isso um novo caminho para a ciência e a filosofia, prenunciando as
grandes transformações pelas quais passará o mundo.

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