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Compreendendo a Êntase

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Compreendendo a Êntase 
A êntase é um refinamento que certamente merece destaque. Seu principal objetivo é corrigir opticamente a 
deformação que nossa visão exerce sobre os fustes das colunas clássicas com relação ao pórtico e a fachada 
como um todo. Pode parecer bem simples, mas confesso que tive dificuldade para compreendê-la. As 
definições normalmente encontradas a explicam como um alargamento ou dilatação do diâmetro do capitel da 
coluna clássica, o que é por demais simplista. O que considero como principal ponto do refinamento é que este 
afunilamento está condicionado a uma curvatura externa do fuste. Esta curvatura, assim como o próprio 
alargamento possui variações, não somente para cada ordem, mas também com relação ao local e período de 
construção. Especula-se sua origem aqueia¹, principalmente por se fazer presente desde o século VI a.C., em 
templos destas colônias. Mas é na ordem dórica, mais encorpada e “pesada” que a êntase se faz mais 
importante, com a curvatura se estendendo por praticamente todo o fuste. O auge de sua execução se dá nas 
colunas do Partenon e templos do Período Clássico. Sua presença é tão discreta que passa despercebida para 
a maioria dos olhos curiosos que visitam estes monumentos, mas é de extrema importância para conceder o 
equilíbrio necessário ao fuste da coluna, que novamente, não apenas afunila no topo, mas é levemente curvado. 
Nas ordens Jônica e Coríntia a êntase apresenta maior variação na forma como é calculada. Para colunas do 
Período Helenístico, usa-se o termo “forma de charuto”, onde o fuste sofre alargamento perto do meio da coluna. 
Na época romana as curvaturas sofreram novas variações, sendo executadas tanto em hipérbole, quanto em 
parábola, ou ainda pela composição de diferentes curvas, mas para nós arquitetos, o que considero de maior 
relevância é compreender como este refinamento corrige opticamente uma distorção normal do olho a 
partir da observação, em escala humana, de uma colunata de grandes proporções. E isso não é exclusivo 
da arquitetura clássica, qualquer projeto arquitetônico, independente do estilo, pode sofrer esteticamente por 
falta de observação deste detalhe. 
Acredito que fique mais fácil de compreender através do croqui abaixo, observe que as linhas vermelhas 
traçadas são retas e determinam o grau de curvatura das seções. A curvatura se projeta a partir destas linhas 
referenciais. Ao lado, sem a ajuda destas linhas, temos a colunata ritmada em luz e sombra, a êntase está lá, 
mas veja como é difícil para nosso olhar capturá-la. Ao mesmo tempo há um conforto visual na composição, o 
afunilamento dos fustes é consideravelmente suavizado. 
Método para determinação da êntase por Giulio Carlo Argan em *A História da 
Arte Italiana, volume 1: “a-d, diâmetro da seção inferior (imoscapo) da coluna. A 
perpendicular traçada da circunferência do imoscapo no plano frontal gera um 
arco de círculo que é subdividido em três partes iguais; dos pontos de divisão 
são traçadas outras duas retas perpendiculares à base. O encontro das duas 
perpendiculares com as duas seções da coluna, iguais em altura, determina os 
pontos da curva externa que corresponde ao aumento do diâmetro (ou êntase) 
da coluna, que tem o seu ponto máximo a cerca de um terço da altura do fuste a 
partir da base”. 
Uma curiosidade que aproveito para compartilhar é que a construção do fuste, 
sobretudo no Período Clássico e mais precisamente no Partenon, era através de 
diversas seções que engastadas uma à outra e empilhadas, construíam as 
colunas, de maneira que é sensacional ver o grau de sensibilidade dos 
construtores ao lapidarem estas imensas fatias de pedra com suas respectivas 
arestas (os fustes não eram lisos, como ocorrerá posteriormente) levando em 
conta cálculos tão precisos. 
*** 
1. Aqueus: um dos povos indo-europeus que compuseram, juntamente com os Dórios, 
Jônios e Eólios a civilização Grega Antiga. 
 
Bibliografia 
ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte Italiana – volumes I. São Paulo: Ed. Cosac e Naifi, 2003. 1ª edição para 
língua portuguesa. 
KOCH, Wilfried. Dicionário de Estilos Arquitetônicos. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1996. 
ROBERTSON, D. S. Arquitetura Grega e Romana. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1997. 
VITRUVIO. Tratado de Arquitetura. Tradução do Latim de M. Justino Maciel. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 
2007. 
TEORIA DA ARQUITETURA: DO RENASCIMENTO AOS NOSSOS DIAS. Em colaboração com a 
Kunstbibliothek der Staatlichen Museen zu Berlin. Ed. Tachen, 2006.

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