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HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão da Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 1 - POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DA ARQUITETURA? ...................................................................................... 5 2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS ................................................................................................................................. 9 2.1. O MENIR ............................................................................................................................................................... 9 2.2. A CAVERNA ........................................................................................................................................................ 10 2.3. A CABANA .......................................................................................................................................................... 15 2.4. O EGITO .............................................................................................................................................................. 17 2.4.1. MARCO GEOGRÁFICO ..................................................................................................................................... 18 2.4.2. MARCO HISTÓRICO ....................................................................................................................................... 18 3 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA EGÍPCIA .................................................................................................. 19 3.1. ORTOGONALIDADE ............................................................................................................................................ 19 3.2. VERTICALIDADE ............................................................................................................................................... 20 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 26 ARQUITETURAS PRIMÁRIAS PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I 4WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade, nos perguntamos sobre a importância da história da arquitetura como um campo disciplinar no ensino arquitetônico, ou seja, por que estudar a história da arquitetura? Tal questionamento decorre de um olhar sobre os edifícios e as cidades do passado, não somente a partir de um protocolo temporal, mas como meio de iluminar e esclarecer nossas presentes urbes e suas construções. “É na história onde se pode e se deve encontrar o sentido da ação e a reflexão arquitetônica. Iluminando o presente desde o passado e convertendo seu campo intelectual em uma verdadeira sala de cirurgia” (PEREIRA, 2010, p. 13). Nesta perspectiva, a história da arquitetura torna-se veículo e instrumento necessário, tanto no ato de concepção projetual, quanto no ato de crítica arquitetônica. Em síntese, ancorada na experiência e desenvolvimento dos territórios, a disciplina dinamiza as variáveis de espaço, tempo e lugar, abordando o saber histórico como forma fundamental para o conhecimento da composição e da construção das edificações, atendendo aos problemas que cada sociedade e seus arquitetos tentaram resolver, e focando aquelas questões que explicam o porquê das permanências e evoluções (PEREIRA, 2010, p.13). Munido desses apontamentos iniciais, a primeira parte dessa unidade reflete sobre as relações entre a história e a arquitetura, mais particularmente sobre as razões que validam o estudo da história arquitetônica. A partir dessa contextualização, a apostila resume, numa visão geral, o desenvolvimento da arquitetura ocidental, desde as chamadas arquiteturas primárias até a idade do humanismo. Assim, iniciamos um percurso sequencial e contínuo, guiados por uma linha histórica sensitiva às ideias de projeto e que buscará ensinar, de forma clara e simples, o passeio evolutivo dos espaços, da paisagem e dos modos de habitar. 5WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DA ARQUITETURA? Primeiramente, o exercício acadêmico de se refletir sobre as relações entre a Arquitetura e a História não é simples. Afinal, a disciplina da História da Arquitetura nem sempre esteve em uma posição muito clara (CASTRIOTA, 2013), visto as inúmeras intenções dos trabalhos dos historiadores no decorrer do tempo e de suas memórias. Para clarificar essas intenções, assim como Castriota (2013) utilizou em seu artigo, tomamos como ponto de partida uma síntese de objetivos básicos sobre a história da arquitetura proposta de Watkin (1980) em The Rise of Architectural History. Este expõe que os objetivos de se investigar a história arquitetônica podem ser divididos em três grandes alvos: o prático, o histórico e o estético. Em primeiro lugar, o alvo prático busca, por meio da história, construir um mapeamento dos edifícios, ou seja, sistematizar e identificar questões relacionadas às origens das edificações, como: constatar as datas de construção e conclusão da obra, identificar o autor, o construtor e entender a finalidade do edifício e seu papel principal. Em termos de trabalho, podemos afirmar que esse objetivo busca, de forma específica, catalogar as edificações por meio de suas fontes primárias. Para o alcance desse objetivo, Castriota (2013) aponta que existe um fator favorável se compararmos com a História da Arte, por exemplo. De acordo com ele, o historiador da arquitetura não teria demasiada problemática em catalogar um edifício, uma vez que as edificações permanecem constantemente no mesmo lugar, sem deslocamentos físicos. Diferentemente dos objetos de artes que, em muitos casos, se deslocam geográfica e culturalmente dos seus âmbitos de origem, dificultando reais identificaçõesde sua gênese. O segundo objetivo da história da arquitetura proposto por David Wartkin é o alvo histórico. Ao contrário do alvo prático, o alvo histórico, de acordo com Wartkin, interessa em descobrir por que a edificação foi construída e para qual ou quais funções ela foi usada no decorrer dos tempos. Para Castriota (2013), essa tarefa teria suas dificuldades “na medida em que o historiador que pesquisa o assunto não é geralmente um membro da sociedade e da cultura que produziram o edifício, sendo necessária uma minuciosa consulta às fontes” (CASTRIOTA, 2013, p. 74). Nessa dimensão de descobrimento, o historiador teria que se respaldar nas interpretações das consultas religiosas, sociológicas e culturais que envolvem o edifício em questão. Ao mesmo tempo, desconsiderar a interpretação pessoal do cliente e do autor, cuja subjetividade nem sempre está documentada nas fontes que interessam os arquitetos, como: desenhos, escritos, croquis, relatos, maquetes. O terceiro objetivo, que envolve o estudo da história da arquitetura é o alvo estético, que é o mais complexo e subjetivo de esclarecimento, uma vez que suas intenções procuram, não mais catalogar ou entender a finalidade do edifício, mas sim, analisar e identificar os significados das obras arquitetônicas e os motivos que impulsionaram as mudanças estilísticas das construções no decorrer do tempo (CASTRIOTA, 2013). Para a conclusão desse alvo, o historiador mergulha em questões maiores de entendimento da arquitetura, como o pensamento social, econômico e cultural que abrange o contexto ou o período que se analisa a estética das edificações. Para Watkin, os historiadores se concentrariam, geralmente, em um desses alvos, ou numa combinação deles, sendo, a seu ver, os melhores historiadores aqueles que tentam, de uma forma ou de outra, combinar os três alvos e os balancear apropriadamente, a fim de apresentar a melhor documentação e interpretação da arquitetura de um lugar ou de um período (CASTRIOTA, 2013. p. 74). 6WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Neste sentido, fica claro que o ato de historiar a arquitetura pode tomar diferentes caminhos e pesos de funções, aí as diferentes posições da história da arquitetura. Pode-se analisar, por exemplo, a memória de um edifício de modo unitário, fragmentado das contextualizações sociais, religiosas, culturais e econômicas, conforme concluída por uma ficha técnica proposta pelo alvo prático, ou pela compreensão de valores mais subjetivos que definem a construção como resultado de uma significância mais ampla, seja ela diante do contexto histórico e/ou pelo apego estético vigente. Por certo, mesmo que os historiadores tomem partidos que não englobam profundamente os três alvos observados, a história da arquitetura, a todo momento, manterá um fio condutor único: o entendimento da gênese e das transformações das arquiteturas e seus ambientes no tempo. E deverá, sempre, posicionar como pergunta capital o porquê estudar atualmente os objetos, os espaços e a paisagem arquitetônica mediante categorias passadas. Nesta perspectiva, a questão que coloca a história dentro de um campo disciplinar que se compromete com o ensino de projeto – que é a própria proposta do curso acadêmico de arquitetura e urbanismo – valida razões que estreitam os vínculos do estudo da história com a produção do espaço edificado, a arquitetura propriamente dita. Posto isto, basta, a partir de então, posicionarmos tais razões. Para seguirmos esse caminho, tomaremos como referência os escritos do professor de história da arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Antônio Leite Brandão, que, em seu artigo intitulado Por que estudar história da arquitetura?, desenvolveu dez razões que validam tal questionamento. 1ª razão – Entender os conceitos antigos: para Brandão (2012), o estudo da história da arquitetura é importante porque desenvolve e aprofunda nosso conhecimento sobre conceitos antigos, ao mesmo tempo que testa a potencialidade deles para a compreensão dos termos contemporâneos. Para o autor, os conceitos que regem as questões arquitetônicas, ou seja, aqueles que se relacionam com a concepção das edificações e das cidades, não se paralisam no tempo, mas transformam-se, visto que a história dos edifícios e das cidades não se faz por substituição de estilos, e até mesmo dos seus conceitos, pelo contrário, a passagem dos séculos apenas aprofunda e recria tais conceitos. Assim, o diálogo entre conceitos antigos e suas aplicações no mundo atual, especialmente os que foram criados na linguagem clássica – conforme veremos nas próximas unidades –, configura o que Carlos Brandão (2012, p. 31) chama de “Transtemporalidade”. Segundo ele, uma estratégia pela qual aproximamos “tempos, espaços, culturas e disciplinas distintas e distantes” para esclarecer e entender a universalidade dos conceitos. Será, por exemplo, que a ideia de polis, utilizado para caracterizar o modelo das antigas cidades gregas, se aplica nas cidades de hoje? Ou teria mais aproximação o conceito de metrópole do mundo contemporâneo com o termo urbs, que definia conceitualmente as cidades romanas? Para responder tais questões, estudamos e validamos esses conceitos por meio da história da arquitetura. [Para mais informações sobre o conceito de “Transtemporalidade” como procedimento historiográfico ver: BRANDÃO, C. A. L. Transtemporalidade (conclusão e conferência). Revista Interpretar a arquitetura, Belo Horizonte: UFMG, nº15, 2010. Disponível em: <http://www.arq.ufmg.br/ia>.] 7WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2ª razão – Precisar o sentido original dos próprios conceitos: para elucidarmos essa razão basta apontarmos para o próprio exemplo utilizado pelo autor. Segundo ele, por exemplo, o sentido que um templo grego teve para os helênicos não é o mesmo sentido que esse templo teve para os romanos, para os medievais, para os renascentistas, para os neoclássicos ou para os que vivem na modernidade. E é, justamente, a diferença de utilização desses sentidos, e não suas semelhanças, nos períodos históricos indicados, que melhor se faz para compreender o seu conceito original: o templo primário. Portanto, essa segunda razão é um aprofundamento da anterior, pois busca, além de entender primeiramente os conceitos antigos, estabelecer seu sentido primário, de onde surgiu e suas principais características. 3ª razão – Compreender os conceitos “clássicos”: muitas vezes nos deparamos diante de um objeto ou de uma situação que caracterizamos como clássica. Por exemplo, podemos apontar uma cadeira e afirmar que seu design é clássico. Da mesma forma que podemos desfrutar de um jantar em uma abordagem clássica e, até mesmo, podemos nos vestir de maneira clássica. Na verdade, o que é clássico? A noção deste conceito guarda para si milhares de possibilidades de sentidos que só se revelam diante do passar de gerações futuras ou por meio de observações de outrem. Para Brandão (2012, p. 32), é “essa capacidade de doar vários sentidos a vários intérpretes” que faz do objeto um clássico. Para além disso, o conceito de ser/estar clássico serve como matéria-prima para a construção de valores que cada época elabora para o espaço que pretende construir. 4ª razão – Eleger os clássicos: da mesma forma que o estudo da história da arquitetura aponta como objetivo a compreensão do conceito de clássico, como visto no ponto anterior, ele também coloca a importância deste estudo como forma de eleger as obras clássicas. 5ª razão – Reescrever a história: Brandão (2012) afirma que sempre é preciso reescrever os conceitos históricos, tendo em vista o presente. Ao fazermos tal exercício, o da “reescritura”, estamos resgatando e mantendo vivas as ideias do passado. Para Brandão (2012, p. 32), reescrever a história e seus elementoscontemporâneos não é apenas modo de aprofundá-las e reconstruí-las segundo nossos horizontes, os quais são distintos das épocas anteriores: é o meio de dar vida a própria história, se não a quisermos congelada, ou reduzida a um catálogo de formas ou de casos eruexpostos... Para além dessa questão, de se manter vivo o passado e suas características, reescrever a história da arquitetura direciona possibilidades de se pensar o projeto arquitetônico, seja por meio do tempo, do lugar ou do espaço em que ele se dará. A obra realizada pelo arquiteto que revive os aspectos históricos será balizada pelo olhar criativo existente em outra obra do passado. Olha-se para o passado a fim de construir e melhorar o futuro! E isto vale para a arquitetura também. 6ª razão – Ampliar conhecimento arquitetônico e urbanístico: uma das razões para o estudo da história da arquitetura se dá pelo macro conhecimento que adquirimos a respeito dos edifícios e cidades que se desenvolveram ao longo do tempo. E, através desse conhecimento, entender as inúmeras estratégias projetuais que consolidaram a edificação e desenvolvimento dessas obras e dessas cidades. Por meio da história da arquitetura é possível aprender todos os pontos que as questões arquitetônicas possam explorar e oferecer. 8WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 7ª razão – Promover a validade dos conceitos e teorias: o estudo e a operação historiográfica de entender o passado arquitetônico e urbanístico e, por meio dele, posicionar os aspectos arquitetônicos dos dias de hoje é uma forma de promover a validade de conceitos e teorias que foram criadas anteriormente e que podem, em muitos casos, contribuir com as operações construtivas atuais. Segundo o professor Carlos Brandão (2012), a história que lida com conceitos universais, como é o caso da arquitetura, se faz pelo aprofundamento e ressemantização dos conceitos e teorias do passado, e não por substituição. Por exemplo, o conceito original e primário de um edifício religioso cristão foi sendo reescrito e convivendo através dos séculos com novas linguagens, novas escalas, novas técnicas construtivas, novos modos do habitar e novas concepções de desenvolvimento da sociedade. O conceito do edifício não foi substituído, mas validado por meio do conhecimento historiográfico. 8ª razão – Criticar os conceitos e práticas oriundos da história: de acordo com Brandão (2012, p. 34), o estranhamento entre os conceitos e práticas arquitetônicas sobre os aspectos do passado e os aspectos do presente, “se feitos com rigor e tendo sempre claro o contexto em que foram criados, permite renovar e conferir frescor as novas análises”. Para o autor, esse “frescor” está relacionado com a construção de novos estudos teóricos que visam entender outros valores dos edifícios e das cidades que temos ao nosso redor. Brandão acredita que, para entender esses valores nas edificações e nos espaços urbanos, é preciso a crítica que se valida por meio de dois conceitos: o “asseio”, que diz respeito aos aspectos estéticos da obra, e o “decoro”, que diz sobre a conveniência e articulação da arquitetura com os demais edifícios existentes, com o contexto urbano e com os usos adequados. Portanto, uma das razões que se manifesta a importância do estudo da história da arquitetura se faz pela crítica estética e funcional entre os edifícios e cidades remotas e atuais. 9ª razão – Diversificar a arquitetura e o urbano: a aproximação entre o estudo da história do passado e o presente confere, para a arquitetura e o espaço urbano, inúmeros estratos “de tempo, culturas, desejos e práticas” (BRANDÃO, 2012, p. 34). Segundo o autor, é justamente por meio desses contágios, aproximações e possíveis estranhamentos que se inicia a crítica arquitetônica e urbanística. Para o autor, a ausência desse debate entre o passado e o futuro seria uma forma de feudalizar nosso tempo e nosso espírito, ou seja, os conceitos e as teorias primárias que constroem a arquitetura e o urbano seriam encurralados sem possibilidades de críticas e questionamentos. Assim, o diálogo que existe entre os tempos remotos e atuais permite uma diversificação da arquitetura e do urbano, seja em seus conceitos de “asseio” ou “decoro”, conforme apontados no ponto anterior. 10ª razão – Reinterpretar e apropriar conceitos históricos: a última razão apontada pelo professor Carlos Brandão referente a importância do estudo da história da arquitetura se dá pela “capacidade de reinterpretar conceitos e formulações, contaminá-los e contagiá-los com outros contextos e tradições, aos quais eles originalmente não se ligam” (BRANDÃO, 2012, p. 34). Para o autor, essa liberdade de miscigenação que se permite à arquitetura pode ser considerada um fator local nosso – brasileiros. Brandão posiciona que somos tardios no aprofundamento da história, em relação à Europa e aos Estados Unidos, pois nos faltam bibliotecas e fontes que nos permitam um trabalho exaustivo a fim compará-las, amadurecê-las e fazê-las interagir reciprocamente. Neste sentido, temos mais liberdade em lidar e agir com os conceitos históricos, pois eles não materializaram na nossa cultura a ponto de não poderem ser reinventados. Assim, a produção no campo da teoria arquitetônica brasileira e seus resultados se depararam, por meio de conceitos reinventados, fortalecidos, justamente, pelo estudo e transformação da história da arquitetura. 9WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Por certo, a essas dez razões que valorizam o estudo da história da arquitetura poderiam ser acrescidas outras que ajudariam a conformar a prática arquitetônica e urbanística, assim como afirma Brandão (2012) ao finalizar seu artigo. Para o autor, ainda que a análise da arquitetura do passado não seja suficiente para garantir uma boa resolução dos nossos problemas contemporâneos, é ela que instiga a função do construir. Posto isto, passamos, a partir dessas razões, a construir a origem da história da arquitetura. Neste primeiro momento começaremos, então, falando, de forma geral e ampla, das arquiteturas primárias, cujos princípios representam, de forma polarizada, o desenvolvimento histórico arquitetônico e urbanístico da humanidade. 2. ARQUITETURA PRIMÁRIAS 2.1. O Menir Figura 1 – Círculo megalítico de Stonehenge em Salisbury na Grã-Bretanha. Fonte: Google Images (2018). 10WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA De acordo com Pereira (2010), o menir é o monumento mais primitivo e simples que existe, em sua definição originária, uma estrutura indefinida, construída por motivos simbólicos ou comemorativos. Em síntese, podemos afirmar que o menir é qualquer monólito pré-histórico cravado verticalmente no solo, cuja importância está validada “como símbolo, como signo, como significação; uma arquitetura não habitável, mas com capacidade comunicativa intrínseca” (PEREIRA, 2010, p. 21). Para entendemos melhor, façamos uma analogia e, com ela, uma pergunta: podemos considerar uma árvore como um menir natural? Pereira (2010), em sua explanação sobre as arquiteturas iniciais da humanidade, aponta que, obviamente, uma árvore em si não é arquitetura. Contudo, sua inserção na paisagem, conforme as circunstâncias e o contexto de sua implantação, contruibui para a transcedência de sua condição vegetal em condição arquitetônica, uma vez que a mesma pode carregar funções simbólicas que tornem a paisagem, antes natural, em paisagem humana e social. O autor, para exemplificar essa transformação, aponta que a árvore tem sido, e continua sendo, objeto de culto quase sagrado por diversos povos. Para os celtas, o carvalho era a árvore sagrada; para Atenas, Delfos ou Jerusalém, as oliveiras eram consideradas divinas e espirituais. As próprias palmeiras carregam,por exemplo, sua simbologia icônica, tanto para os egipcíos de 5 mil anos atrás quanto para os povos mais contemporâneos. No Brasil, por exemplo, as ávores de baobá, trazidas da África, são sagradas aos cultos das religiões africanas e não podem ser cortadas ou cerradas. “Em todos esses casos, a árvore manifesta sua origem como marco referencial, como menir, e se conserva orgulhosa e isolada na esfera da arquitetura” (PEREIRA, 2010, p. 22). Por certo, a partir dessa significação, podemos entender a árvore como um menir natural, capaz de ser símbolo e transmitir significados. Contudo, a ideia de menir adquire seu desenvovimento máximo como ponto arquitetônico a partir dos monolíticos pré-históricos. Um forte exemplo é o círculo magalítico de Stonehenge em Salisbury na Grã-Bretanha (Figura 01). Ainda que historiadores e arqueólogos busquem entender seus reais significados, a estrutura desse monumento carrega um forte carater astronômico por meio das marcações das estações do ano. No solstício de verão, no dia 21 de junho, por exemplo, é possível ver o sol nascer no meio da maior pedra que compõem a estrutra neolítica. A partir dessa ideia de que o menir é uma estrutura monolítica estática capaz de se tornar símbolo e impor significados é que podemos registrar demais exemplos ao longo da história, até mesmo atingindo nosso período contemporâneo. As pirâmides egípcias, os obeliscos romanos, as colunas e torres clássicas e os próprios arranha-céus modernos “que em suma pretendem ser colunas elevadas sob um pedestal”, podem ser considerados verdadeiros menires históricos com seus variados significados, tonando-se símbolos vivos de representações de suas respectivas cidades e seu tempo (PEREIRA, 2010, p. 23). 2.2. A Caverna Diferentemente do menir, aquele monumento primitivo, a noção de caverna possibilita uma visão da arquitetura, não apenas como símbolo, mas como abrigo. Vejamos: assim como a árvore pode ser considerada um menir natural, uma vez que transcende sua condição vegetal em condição arquitetônica a partir da sua simbologia, a caverna também pode transformar seu estado geológico natural em arquitetura por ter a mesma função de uma edificação – o abrigo, a ideia de refúgio. Assim, a caverna, como arquitetura, torna-se uma necessidade aos primeiros habitantes da terra – os homens pré-históricos – por oferecerem um local de morada e, também, de proteção dos animais e das intempéries climáticas. 11WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Com o desenvolvimento histórico, algumas mudanças conduziram para um efetivo uso permanente e estático da caverna, ou seja, não mais como um abrigo provisório, mas como estrutura fixa. Pereira (2010) nos informa que, com o término da Era Glacial e a substituição da caça pela agricultura e pecuária como meio de subsistência, os povos passaram do nomadismo ao sedentarismo. Fixaram-se em lugares que pudessem contribuir para sua sobrevivência por meio do uso da terra e manutenção dos animais. Do mesmo modo, aliada a essa ideia de permanência, a noção de manutenção dos mortos também colaborou com as manifestações das primeiras arquiteturas de caráter fixo. Nesse sentido, podemos dividir o conceito dessas arquiteturas primárias em duas partes: as cavernas totêmicas e as cavernas funerárias. • Cavernas totêmicas: construções ou escavações de caráter representativo, mágico e funcional. Exemplo: Caverna totêmica de Altamira que fica no município de Santillana del Mar, na comunidade de Cantábria ao norte da Espanha. Uma caverna que sustenta uma das maiores obras-primas das artes rupestres do período Magdaleniano (14.500 e 12.000 a.C.). • Cavernas funerárias: fazem referência à casa dos mortos, ou seja, às residências pensadas para a eternidade. Essas cavernas constituem a arquitetura do período megalítico ou de grandes blocos de pedras. Em geral, são construções acima ou abaixo da terra que se reduzem à espaços chamados de câmaras, locais onde são depositados os corpos. Exemplo: Caverna funerária de Menga ou também chamada de Cova ou Dólmen de Menga. Essa caverna é considerada uma das grandes obras megalíticas, com 27,5m de comprimento que conduzem a uma câmara funerária de formato ovalado. Essa caverna, assim como outras, tinha a função de sepultamentos coletivos. Essa ideia se deu a partir de quando o ser humano começou a cultuar os mortos. Nesses espaços também eram realizados rituais e cerimônias relacionados à fertilidade e à memória dos antepassados (Figuras 2 e 3). Figura 2 – Entrada do Dólmen de Menga. Fonte: Um Brasileiro na Espanha (2016). 12WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 – Interior do Dólmen de Menga. Fonte: Um Brasileiro na Espanha (2016). Com o passar dos anos, as funções das cavernas foram se aprimorando e se adequando construtivamente ao contexto arquitetônico do seu tempo. No período do homem não mais pré-histórico teríamos, como exemplos de cavernas funerárias, os hipogeus (criptas) ou speos egipcios. Destaque para Abu Simbel (Figuras 4 e 5), localizado no sul do Egito, e o templo funerário de Hatshepsut. Figura 4 – Criptas de Abu Simbel. Fonte: Egipto: la Arquitectura (2015). 13WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 – Criptas de Abu Simbel. Fonte: Egipto: la Arquitectura (2015). Do mesmo modo, os mausoléus romanos representavam a monumentalidade funerária que se dava às construções simbólicas destinadas aos mortos. Como exemplos significativos temos as construções dos mausoléus de Augusto, no Campo de Marte, em Roma, e os mausoléus de Adriano, próximo ao Vaticano, conhecido, atualmente, como Castelo de Santo Ângelo. Figura 6 – Mausoléu de Augusto. Fonte: Google Images (2018). 14WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 7 – Mausoléu de Adriano. Fonte: Google Images (2018). Em seu caráter mais contemporâneo, José Pereira (2010) faz uma referência à noção de caverna funerária citando o monumento do Valle de los Caídos, localizado em San Lorenzo, na Espanha. Esse monumento foi construído em memória dos nacionalistas espanhóis mortos na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939, sendo, também, local de sepultamento do ditador Francisco Franco. Figura 8 – Valle de los Caídos. Fonte: Republica de las Ideas (2018). 15WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Como visto brevemente, os lugares dos mortos transformaram-se, ao longo da história, em grandes monumentos arquitetônicos que trazem, em sua essência, a simbologia religiosa presente em seu tempo. Das cavernas funerárias de grandes pedras aos monumentais castelos, pirâmides, cemitérios, memoriais e abadias, que retratam a importância ao culto da memória dos antepassados. Contudo, não somente a morada dos que já se foram se desenvolveram de maneira espetacular, mas, principalmente, a dos vivos, conforme veremos a seguir, por meio da noção de cabana, o núcleo do início de toda atividade arquitetônica. 2.3. A Cabana Em verdade, “o comportamento instintivo dos primeiros seres humanos de se proteger das intempéries e predadores, encontrar abrigo para descansar e renovar as forças foi o que provavelmente originou a criação do que hoje denominamos por habitações ou moradia” (REBELLO; LEITE, 2007, s.p). Em tese, um lugar para permanecer e sobreviver diante dos desafios do meio. É notório que a manifestação arquitetônica do morar iniciou-se com a apropriação das cavernas, sejam naturais ou esculpidas nas montanhas. Contudo, embora a dinâmica de sobrevivência tenha sido marcada pelo nomadismo, o desenvolvimento da sociedade e dos novos hábitos do trabalho, proporcionado pela ação agrícola,definiu fortemente a fixação do homem em lugares específicos. Para além disso, “pouco a pouco o descobrimento progressivo de formas e materiais para utilizar na confecção de objetos utilitários foi reafirmando a possibilidade de viver fora dos abrigos naturais” (PEREIRA, 2010, p. 25). Nesta perspectiva progressiva, o homem passa a construir sua própria morada – a cabana – que, em resumo, compreende-se como “resultado da evolução de um recinto indiferenciado revestido como uma barraca de campanha, cujas paredes e cobertura foram resolvidos com um mesmo elemento em comum” (PEREIRA, 2010, p. 27). A estes elementos está associado o uso de galhos, troncos e ossos de animais como componentes estruturais e folhas, palha, terra e pele de animais como revestimentos de cobertura (REBELLO; LEITE, 2007). [Como se configura a morada dos mortos nos dias atuais? Existem memoriais que representam, simbolicamente, grandes perdas de pessoas, sejam por meio de desastres naturais, grandes acidentes ou perdas em guerras? Esses memoriais procuram retratar a memória dos antepassados por meio de esplêndidas ou discretas arquiteturas? Na verdade, a arquitetura religiosa, bem como sua representatividade simbólica, sempre foi um grande tema que abraça a arquitetura. Devemos olhar para a produção desses tipos e modelos de espaços a fim de construirmos repertórios que buscam retratar a vida ou a morte por meio de símbolos e significados.] 16WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 9 – A cabana primitiva. Fonte: Vitruvius (2002). Pode-se afirmar que nesta noção preliminar do habitar está a essência da arquitetura, aquela que se realiza pelas necessidades do homem e não mais da mãe Terra. De fato, essa essência está ligada à edificação da cabana, que, segundo Vitrúvio, é um espaço que protege o fogo que aquece a família. Para o arquiteto, a primeira habitação seria resultado eficaz do fogo protegido (MIGUEL, 2002). Nas palavras de Benevolo (2015, p. 15), o que se documenta pelos arqueólogos a respeito dos estabelecimentos mais antigos são, sobretudo, os resíduos deixados pelas atividades humanas: “as sobras dos alimentos, os fragmentos provenientes dos trabalhos com pedras e da madeira, e entre eles os produtos acabados, usados e depois abandonados ou enterrados”. Para o autor, a descoberta desses objetos distribuídos em torno do núcleo da fogueira indica a presença do homem e da gênese da habitação primitiva. A palavra lar é uma corruptela de lareira. A lareira primitiva que faz do seu fogo o elemento inseparável da cabana rústica. O fogo que reúne ao seu redor todos os integrantes de um laço familiar, sendo, de um modo figurativo, um manto que aquece e une a todos num mesmo instante. A identificação do fogo está presente nas cabanas rústicas como o elemento mais semelhante à vida (MIGUEL, 2002, s.p). Para além do fogo como elemento construtor da noção de abrigo, na evolução da cabana primitiva surgiria uma primeira diferenciação entre dois importantes pontos construtivos: o suporte (a vedação) e a cobertura. 17WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA No caso das primeiras cabanas, o suporte era contínuo e, ao mesmo tempo que firmava a sustentação do abrigo, também servia de vedação e cobertura. Um exemplo claro dessa composição estrutural pode ser visto na cabana em Terra Amata, nos arredores de Nice (Figura 10). É a primeira obra de edificação até agora conhecida, que remonta acerca de 300 mil anos (BENEVOLO, 2015, p. 14). Figura 10 – A cabana primitiva em Terra Amata. Fonte: Pinsdaddy (2018). Como se pode tomar nota, o início do ambiente construído para o habitar “não é apenas um abrigo na natureza, mas um fragmento da natureza transformado segundo um projeto humano” (BENEVOLO, 2015, p. 16). As necessidades do homem em se proteger e se aquecer, alinhadas à uma existência territorialmente mais estática, bem como, o desenvolvimento de produção de alimentos em todas as fases da agricultura neolítica, a fabricação de objetos e as possibilidades de comunicação, arquitetaram os princípios que orientaram a concepção e construção primária dos edifícios. Tais ações, tomaram governo em outras civilizações, como, por exemplo, os egípcios. 2.4. O Egito Por certo, não poderíamos deixar de caracterizar o Egito como parte fundamental das arquiteturas primárias relacionadas nessa unidade. O Egito é parte integrante do desenvolvimento da herança arquitetônica dos edifícios e das estratégias que configuram a trajetória dos espaços urbanos e suas arquiteturas. Como afirma Pereira (2010, p. 29), “a singularidade do Egito o transforma em um verdadeiro laboratório arquitetônico” onde as problemáticas da arquitetura podem ser reduzidas, simplificadas e estudadas. Podemos dizer, neste sentido, que dois marcos configuram as singularidades que fizeram do Egito um espaço tão peculiar: o marco geográfico e o marco histórico. Trataremos a seguir dos principais apontamentos relacionados a esses marcos. 18WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.4.1. Marco geográfico • Linearidade do Rio Nilo: o Egito configurou-se por meio de um longitudinal curso d’água, o Rio Nilo, com mais de dois mil quilômetros de extensão. As cheias do Nilo eram regulares e fertilizavam as terras em uma extensão lateral de, no máximo, 20 quilômetros, na maior parte do seu percurso. Essa unidimensionalidade territorial da ocupação das cheias caracterizava, ainda mais, a linearidade do rio “fazendo do espaço egípcio quase um eixo linear, um oásis longitudinal, em que a vida se desenvolve até onde chega a ação benfeitora das águas e dos aluviões fluviais” (PEREIRA, 2010, p. 30). • Ciclo biológico do Rio Nilo: com a chegada do mês de julho, o rio Nilo recebe as águas derretidas que se acumularam, no inverno, nas montanhas da África centro-oriental, transbordando e enchendo sua extensão com uma aluvião. A partir do mês de dezembro, as águas passam a recuar e desvendam um solo fértil e eficaz para a agricultura. Esse ciclo, de cheia, transbordo e recuo da água, configura-se propositalmente no renovo das terras produtivas do Egito e, portanto, espaço adequado para o florescimento da implantação de assentamentos urbanos. 2.4.2. Marco histórico • Isolamento habitacional: as irrigações do Nilo, de fato, proporcionaram o desenvolvimento de uma grande civilização às suas margens. Essa civilização, por sua vez, viveu durante muito tempo isolada e protegida, devido ao posicionamento geográfico de sua localização. Vejamos: a leste e a oeste da extensão do Nilo havia um deserto, o Saara, cujas dificuldades para sua travessia eram latentes; ao norte localizava-se o mar Mediterrâneo, cuja mobilidade de travessia também era dificultada por não existir, nas primeiras épocas, barcos adequados para o transporte de exércitos; e ao sul situava-se a Primeira Catarata que, igualmente, bloqueava a passagem dos inimigos. [Era necessário descobrir, exatamente, quando se produziam as cheias do Nilo, com o intuito de aproveitá-lo ao máximo. Assim, os encarregados das irrigações mediram e estudaram cuidadosamente o nível das águas do rio dia a dia e descobriram que, em média, as cheias ocorriam a cada 365 dias. Isso levou os habitantes do Nilo a elaborarem um calendário simples, no qual se baseia, ainda hoje, o nosso calendário, com pequenas modificações (PEREIRA, 2010, p. 30). Da mesma forma, o estudo das cheias do Nilo proporcionou o desenvolvimento da ciência do cálculo e da geometria, uma vez que as divisões de terras eram desmarcadas com as cheias, obrigando os egípcios a criarem métodos e fórmulas que determinassem novamente as marcações das propriedades individuais apagadas pelo transbordo do rio.] 19WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU ITET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Esse isolamento geográfico fez com que a civilização egípcia progredisse de modo muito peculiar, os métodos de se viver e produzir eram repassados de geração a geração, uma vez que o intercâmbio com outras nações não era facilmente permitido. Pereira (2010) aponta que o Egito presenciou 2 mil anos de civilização e que, mesmo com as transições entre dinastias e impérios, ela se manteve isolada, quase sempre limitada às margens do Nilo. A partir desses marcos é possível perceber que o Egito possui singularidades. Primeiro, relacionadas ao seu posicionamento geográfico, o qual permitiu a proteção contra invasores e estabilidade de sobrevivência, por meio da fertilidade proporcionada pelo rio Nilo. Segundo, pelo isolamento da civilização que, durante muitos anos, se desenvolveu por meio de um progresso livre de intercâmbio e influências estrangeiras, devido as dificuldades de mobilidade e acesso às suas terras. Na verdade, com essas condições geográficas e históricas, o Egito fundamenta sua arquitetura e seu urbanismo, servindo, conforme justifica o professor José Pereira (2010), como um grande laboratório. 3 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA EGÍPCIA 3.1. Ortogonalidade Basicamente, o desenvolvimento e materialização dos espaços e dos edifícios egípcios se dá por meio das relações entre dois eixos lineares. Um que pode ser definido como eixo maior e outro que se caracteriza como eixo menor. • Eixo maior, o Nilo: como visto anteriormente, o rio Nilo é o principal canal de desenvolvimento da civilização egípcia e, de fato, está ligado ao processo de vida desta civilização. Uma das suas principais características está diante de sua formalidade linear, ou seja, de sua grande extensão territorial na forma de linha, de eixo. Neste sentido, o curso do Nilo aponta uma risca unidirecional que se limita de sua foz ao norte e sua desembocadura ao sul. Esta presença significativa do rio faz com que o mesmo seja definido como um eixo, neste caso, o eixo maior. • Eixo menor, o Sol: assim como o Nilo, o sol é um dos grandes componentes de conformação da cultura egípcia e, consequentemente, dos seus edifícios. O curso diário deste astro determinará um eixo transversal ao rio Nilo, cujos extremos são o leste, por onde o Sol nasce, e o oeste, por onde ele esconde. Nesta perspectiva, na cultura do Egito, o leste possui uma relação com a vida, enquanto o oeste, com a morte. Esse fato é tão característico que a parte oriental do território egípcio era voltada às cidades dos vivos e a parte ocidental era destinada às cidades dos mortos (PERERIA, 2010). Assim, torna-se claro que o ponto fixo de orientação dos egípcios é o leste, o nascer do sol e da vida. 20WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Por certo, as relações entre esses dois eixos característicos, do espaço e da natureza egípcia, conduziram para a formação de uma simples estrutura geométrica. O eixo maior estabelece uma direção de norte a sul, enquanto o eixo menor indica uma orientação contrária, perpendicular, que se define de leste a oeste. A união entre esses eixos estabelece, virtualmente, uma trama retilínea que, em muito, contribuiu para o desenvolvimento e planejamento das sociedades agrícolas egípcias, as quais necessitavam parcelar e delimitar suas terras antes e depois das cheias do Nilo. Assim, as primeiras linhas eram traçadas nas superfícies do solo configurando um desenho em xadrez, uma forma reticulada, um princípio primário da arquitetura. Figura 11 – Esquema de retícula: conjunto de linhas paralelas que se cortam. Fonte: o autor. Com efeito, a lógica de limitar as terras por meio da geometria reticular também se dará na lógica da construção da casa e da implantação das construções no território urbano, conforme veremos em outras unidades e disciplinas. O que nos atentaremos agora é um outro princípio primário da arquitetura egípcia, a verticalidade. 3.2. Verticalidade Com a configuração da retícula, baseada nas relações de ortogonalidade entre o eixo maior e menor, é possível desenhar em um plano horizontal, ou melhor, é possível configurar o desenho de um plano horizontal. De fato, é essa ideia de plano nivelado, preso ao solo, que se define toda a gênese da arquitetura. É por meio do plano, no qual caminhamos, que se estabelecem as relações de movimento e repouso que constroem os espaços e os edifícios onde moramos ou transitamos. De todo modo, existe uma outra relação que, também, é parte inicial da configuração arquitetura e, neste caso, característica essencial das construções egípcias, o plano vertical. De acordo com Pereira (2010), a diretriz vertical para os egípcios possui uma significância vital que faz referência a uma relação cósmica. Para eles, a direção vertical resulta de uma relação simbólica do plano horizontal, no qual estamos fixados, com a parte celeste visível, ou seja, com o firmamento, com o céu. Neste sentido, as formas que conduzirão a materialidade da arquitetura egípcia estarão atreladas com suas características horizontais e, também, com sua simbologia vertical. Não é por acaso que Pereira (2010, p. 38) afirma que “as formas absolutas mais usadas no Egito são as relativas à horizontal e à vertical”. Para o autor, a horizontalidade expressa o sentido racional ou intelectual, é por onde o homem caminha e encontra os limites. Já a verticalidade está atrelada a uma simbologia que representa o infinito, que se materializa no céu e, portanto, nunca encontra barreiras ou obstáculos, tornando-se um símbolo sublime. 21WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Um exemplo claro dessa diretriz vertical é a representações dos obeliscos, cuja significância representa o desejo de perfurar as nuvens e se chegar ao céu. O termo obelisco significa “apontar” e, geralmente, eram construídos a partir de uma única pedra e materializados como um monumento comemorativo. Um dos mais antigos e preservados é o Obelisco de Sesotris I, em Heliópolis, no Egito (Figura 12). Contudo, não é somente nas construções dos obeliscos egípcios que encontramos a idealização de permear os céus. Mesmo porque, as possibilidades de relações e expressões entre as diretrizes horizontais e verticais seriam materializadas em construções ainda maiores, as chamadas pirâmides. Para Pereira (2010), é neste formato de edificação que os egípcios conseguem, de fato, expressar, com maior clareza, as noções de plano horizontal com as ideias simbólicas do plano vertical. É nesta construção que a clareza de apontar o edifício para o céu torna-se imagem característica do Egito. O início da arquitetura egípcia, que possui como resultado uma imagem piramidal, está, obviamente, relacionada ao estudo da geometria, em que, de forma gradativa, desenvolveu-se como método de solução às condicionantes geográficas do seu território. Por outro lado, a forma de pirâmide formaliza a verticalidade em direção ao cosmo e, portanto, essencial à cultura do Egito. Esse tipo de construção iniciou-se cerca de 3.000 a.C., com os túmulos para sepultamento de faraós ou nobres. Em um primeiro momento com as chamadas mastabas e, posteriormente, com as pirâmides propriamente ditas. As mastabas era construções piramidais de planta retangular, com paredes inclinadas. Possuíam uma capela no nível térreo e, abaixo deste nível, implantava-se o sepulcro. Basicamente eram construções com 6 metros de altura, com comprimento de 30 metros e largura de 15 metros. A seguir ilustramos o aspecto formal da Mastaba de Abidos e o diagrama interno de funcionamento (Figuras 13 e 14). Figura 12 – Obelisco de Sesotris I, em Heliópolis, Egito. Fonte: Pinterest (2018). 22WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIAFigura 13 – Mastaba de Abidos. Fonte: Pinterest (2018). Figura 14 – Diagrama de uma mastaba - Azul: a capela funerária, Vermelho: o poço, Verde: a câmara mortuária e o seu sarcófago, Medidas médias de uma mastaba: Comprimento 30 m, Largura 15 m, Altura 6 m. Fonte: Google Images (2018). 23WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Algum tempo após o desenvolvimento desses sepulcros em um único pavimento, as mastabas começaram a ser sobrepostas umas às outras, configurando o que podemos chamar de pirâmide escalonada ou pirâmide em degraus. Um grande exemplo desse tipo de construção é o conjunto funerário de Zoser, em Sakkara, construído para o faraó Djoser e seu ministro e arquiteto, Imhotep. Esse complexo contêm a primeira pirâmide erguida no Egito, cuja composição é feita por seis mastabas empilhadas, alcançando 62 metros de altura em uma base de 109 x 125 metros. Figura 15 – Pirâmide de Djoser. Fonte: Google Images (2018). Como estamos percebendo, as construções piramidais do Egito Antigo desenvolviam-se arquitetonicamente e ganhavam, com o passar de longos períodos, ampla escala monumental, à medida que a nação se tornava mais rica e populosa (BENEVOLO, 2015). Aumentava-se, assim, de tamanho e altura. Podemos, de fato, imaginar o tempo árduo que se demorava para a finalização dessas construções. Embora os espaços internos permanecessem simplificados para o sepultamento dos nobres e seus ministros, a parte externa ganhava altura e, cada vez mais, se direcionava a arquitetura para apontar o céu. Como justifica Pereira (2010, p. 41), a ideia de alcançar os céus, de chegar ao lugar mais alto como ponto de encontro com o sobrenatural, aparece já definitivamente expressa nas pirâmides de Gizé, (cerca de 2.200 a.C.), que constituem algumas das maiores e melhores amostras de toda arquitetura da humanidade. Essas pirâmides, construídas trezentos anos depois da Mastaba de Abidos, representavam a forma geométrica absoluta e simplificada da admissão da linha vertical em relação a linha horizontal. Na união entre os extremos dessas linhas configurava-se o triângulo e, por meio dele, a caracterização do espaço geométrico triangular e piramidal, cuja estrutura de sustentação se dava pelo seu próprio ângulo de inclinação. 24WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 16 – Pirâmides de Gizé. Fonte: Google Images (2018). Por certo, não somente de construções fúnebres que se caracterizou a arquitetura do Egito Antigo, com todas suas nuances simbólicas e geométricas, advindas da dádiva do Nilo e do cosmo celeste. Pelo contrário, os edifícios voltados ao culto dos deuses e dos faraós – o templo – também reiteram, perfeitamente, todo idealismo, estrutura e característica do estilo arquitetônico egípcio. Em síntese, os espaços que configuram o templo sagrado egípcio são determinados por uma ideia de sequência, “pela sucessão ordenada de peças relacionadas de modo que cada uma determine a seguinte” (PEREIRA, 2010, p. 43). De modo específico, essa sucessão de espaços sequenciais que configuram um caminho linearmente processional, indicam um percurso que leva o transeunte da ideia das cidades dos vivos à cidade dos mortos. Basicamente, da mesma forma que se orienta as margens do rio Nilo, conforme vimos anteriormente. De modo formal, são três partes que configuram o templo egípcio: • Pátio peristilo: é o primeiro espaço de configuração do templo. Seu acesso se dá por um pórtico monumental, também conhecido como pilono. Este pátio é aberto e, por sua vez, é o maior espaço do templo e configura-se envolto por colunas. Um peristilo (pátio rodeado por colunas). A respeito dos formatos das colunas egípcias é possível classificá-las em cinco tipos, de acordo com a configuração do seu capitel (base superior da coluna) e o desenho do fuste (parte da coluna entre a base inferior e o capitel). • Palmiforme: capitel cujo formato lembra o desenho de uma palmeira. • Papiriforme cerrado: capitel em forma de papiro fechado. 25WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • Lotiforme: capitel em forma de flor de lótus. Possui o fuste composto por talos de lótus como se estivessem amarrados. A flor de lótus desenhada em seu capitel é geometricamente estilizada. • Protodórica: não possui base e seu capitel é formado por um suporte quadrangular, o fuste, espaço entre a base e o capitel, geralmente, possui desenhos de ranhuras. • Papiriforme aberto: capitel em forma de papiro aberto. • Hathórico: capitel configurado por um rosto humano, representatividade da deusa Hathor. É a mais luxuosa das colunas. Figura 17 – Representação das colunas egípcias Fonte: Egiptologia Brasil (2014). • Salão hipostilo (teto sustentado por colunas): a segunda parte do templo é uma sala coberta, cheia de colunas. • Recinto: um espaço mais fechado e menor, que representa a imagem do santuário. A partir da configuração dessas partes, bem como os variados tipos de desenhos alinhados nos capiteis das colunas, é possível perceber que a configuração espacial do templo do antigo Egito. Este “desenvolve como ideias básicas o oásis fechado, a ordem ortogonal, a massa megalítica e o percurso. Cada um concretiza simbolicamente alguma experiência existencial fundamental e, todas reunidas, elas constituem uma representação do cosmos egípcio” (PEREIRA, 2010, p. 42). As grandes salas rodeadas por altos muros e colunas estilizadas, por exemplo, refletem, metaforicamente, os paredões rochosos por onde flui o Nilo; as colunas, com seus vários tipos de linguagem, por sua vez, remetem à imagem cósmica de alcance ao firmamento; e a gradação dos espaços é alimentada pela disposição das mesmas, sempre em primeiro plano, a fim de lembrar, constantemente, as características celestes. 26WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 18 – Representação de um templo egípcio e suas partes. Fonte: Pequeños Científicos en un Gran Universo (2015). 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que, de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas e culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito. Figura 19 – As Pirâmides do Cairo. Fonte: Historiazine (2016). 27WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Nesta primeira parte da apostila, nos deparamos com a importância do estudo da história da arquitetura. Buscamos analisar os objetivos que se concretizam quando nos atentamos ao estudo do passado, apreendendo os aspectos arquitetônicos vivenciados naquele tempo. Como início, trabalhamos as arquiteturas que consideramos primárias. Os primeiros apontamentos que, de fato, começaram a configurar o abrigo do homem e de todas suas representações simbólicas e culturais – o menir, a caverna, a cabana, as construções fúnebres e os templos do Antigo Egito. Neste pequeno percurso, percebemos como as noções e disposição dos espaços se desenvolveram nesse início de construção arquitetônica e como, desde o princípio, a noção de símbolo estava presente nas construções. O abrigo, seja para o homem, para os deuses ou para os mortos, era cercado de simbolismos que resultavam em espaços muito mais voltados às representações simbólicas do que as características funcionais dos recintos. OEgito é, portanto, um grande laboratório de toda essa experiência. A partir do rio Nilo, sua fonte de vida e energia, construiu sua arquitetura ortogonal, ritmada e cheia de elementos simbólicos, voltada aos nobres, deuses e faraós, cujas configuração arquitetônicas e urbanísticas ressoará em outras civilizações e em outros tempos. A arquitetura nascia! 2828WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 29 1 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA GREGA .................................................. 30 1.1. ESCALA HUMANA .............................................................................................................................................. 30 1.2. ORDEM CLÁSSICA ............................................................................................................................................ 32 1.2.1. ORDEM DÓRICA .............................................................................................................................................. 35 1.2.2. ORDEM JÔNICA .............................................................................................................................................. 36 1.2.3. ORDEM CORÍNTIA ......................................................................................................................................... 37 1.3. O TEMPLO GREGO ............................................................................................................................................ 38 1.3.1. O PARTENON ................................................................................................................................................... 40 2 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA ROMANA .............................................. 42 2.1. O PANTEON ....................................................................................................................................................... 43 2.2. PLURALIDADE DE EDIFICAÇÕES .................................................................................................................... 44 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 49 A ARQUITETURA CLÁSSICA PROF. ME. RENAN AUGUSTO AVANCI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO I 29WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Em continuidade com o percurso cronológico a qual dispomos a estrutura dessa apostila, assimilaremos, nesta segunda unidade, o que se entende por arquitetura clássica. Isto é, a arquitetura concebida pelos gregos e toda aquela que viu, nesta sociedade, valores de inspiração para edificar suas construções, como por exemplo, os romanos. Benevolo (2014, p. 17) já dizia que “a principal dificuldade no estudo da arquitetura grega, reside no fato de grande parte da nossa cultura e sobretudo do nosso modo de entender os valores artísticos resultar precisamente dos gregos”. Para o autor, não conseguimos manter uma atitude neutra em relação a realidade arquitetônica grega daquela época, das enormes consequências que dela resultaram nos dias de hoje. Segundo Zevi (2011, p. 53), talvez seja por essas questões que precisamos compreender a história por meio dos “múltiplos coeficientes que informam a atividade edificatória através dos séculos”. A arquitetura corresponde a exigências de natureza tão diferentes que descrever adequadamente o seu desenvolvimento significa entender a própria história da civilização, dos numerosos fatores que a compõe e que com a predominância ora de um ora de outro, mas sempre com a presença de todos, geraram as diferentes concepções espaciais (ZEVI, 2011, p. 53). Desta forma, a compreensão das contribuições propiciadas pelos gregos e, por conseguinte, pelos romanos, não se basta no estudo isolado da edificação. Devemos, também, explorar os mecanismos que ditaram a formação daquela civilização. Nesse sentido, não se pode negar que a cultura clássica, assim como outras linguagens arquitetônicas, é resultado de um conjunto de pressupostos sociais, intelectuais, técnicos, figurativos e estéticos, os quais configuram a arte e a técnica arquitetônica (ZEVI, 2011). No decorrer desta unidade, iremos enriquecer nosso conhecimento por meio da arquitetura desses povos. Do mesmo modo, reconheceremos prédios essenciais que sintetizam esta cultura. Iremos caminhar juntos por entre as colunas ou abóbadas e conhecer estas civilizações, sobre suas tecnologias, seus conceitos espaciais e suas contribuições, que se fazem presentes até nossa atualidade. 30WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA CLÁSSICA: A ARQUITETURA GREGA A compreensão do contexto social, geográfico, e até mesmo político de um determinado território ou civilização, é determinante para que se entenda os porquês das concepções arquitetônicas. Para ilustrar esta afirmação, podemos relembrar a importância geográfica que o Rio Nilo representou para a arquitetura e o urbanismo egípcio, bem como, as crenças divinas que os mesmos promoviam em relação ao Faraó – representante político e religioso daquela nação. Logo, para entendermos os gregos e suas materializações arquitetônicas, devemos, antes de tudo, iniciar analisando as realidades e convicções que foram determinantes para a concepção de sua arquitetura. A estas denominamos escala humana e ordem clássica. 1.1. Escala Humana A princípio, pode-se afirmar que houve uma importante mudança de orientação ideológica que distinguiu o pensamento egípcio do pensamento grego. Enquanto a primeira civilização colocava o cosmo como ponto determinante de toda sua filosofia, os gregos apontavam o homem como a medida de todas as coisas. Neste sentido, o mundo, a partir dos gregos, passa a ser regido pelo homem como referência e não mais alimentado por uma realidade intrínseca a um ser divino, conforme visto na civilização egípcia. A esta noção do homem como o centro e a medida de todo Universo se dá o nome de antropomorfismo ou, em termos arquitetônicos, de escala humana. Para Pereira (2010, p. 48), “se o homem é a medida de todas as coisas, a escala humana determinará a proporção ou o cânone de beleza” de tudo aquilo que esteja relacionado com os mesmos: seja a arquitetura ou a própria valoração da verdade, da justiça, da bondade e da estética que o rodeia. Daí, a ideia do homem grego tornar-se o ponto de referência do contexto social daquela civilização. No âmbito da arquitetura, a noção do homem como centro do universo é bem oportuna, uma vez que os edifícios trarão em sua forma uma adaptação das medidas corporais do homem físico. Portanto, um dos primeiros ensinamentos para o entendimento da arquitetura grega é conhecer as próprias medidas do homem. Sendo assim, a escala humana tornou-se um dos pontos mais relevantes da arquitetura grega, uma vez que a medida do homem determinou os parâmetros de proporção e ordens de beleza. Assim, se fez necessário que o homem grego conhecesse as medidas de seu próprio corpo, desenvolvendo, por conseguinte, padrões de medidas (pés, polegada, palmo, jornada...) utilizadas, consequentemente, nas concepções espaciais dos seus edifícios. 31WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 20 – Esquema antropocêntrico renascentista, de Leonardo da Vinci. Fonte: A Beleza dos Diagramas (2015). Na verdade, essa ideia do “homem como medida do universo” promoveu uma concepção especial da arquitetura, mesmo porque, o homem em si é configurado,fisicamente, por meio de várias partes (cabeça, tronco, perna...) que, ao todo, configuram sua existência material. Cada membro desse corpo possui uma medida, que, quando juntas, é balizada por aspectos de proporções. “Como no corpo humano existe uma proporção entre o braço, o pé, a palma da mão, o dedo e as partes restantes, o mesmo se dá nas construções clássicas” (PEREIRA, 2010, p. 50). Neste sentido, o homem grego configurou-se como módulo arquitetônico, isto é, como um elemento de medida padrão. Portanto, ao tornar-se módulo, o homem grego estabeleceu uma correspondência entre as partes do seu corpo com as partes que concebem a própria edificação. Segundo Pereira (2010), essas correspondências, também denominadas de proporções, podem ser definidas de forma estática ou de forma dinâmica. A primeira, é uma relação direta entre uma medida do homem com a obra, enquanto a segunda é a derivação de novas medidas a partir de variações harmônicas da medida inicial. Para exemplificar a ideia da proporção dinâmica, temos a utilização da proporção áurea no Templo Parthenon, em que o todo pode ser entendido por meio da derivação de uma unidade – o retângulo áureo. 32WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 21 – Templo Parthenon (Século V a.C.), projetado por Calícrates e Ictinos, e decorado pelo escultor Fídias, com ilustração do esquema de proporções dinâmicas, referenciado na seção áurea. Fonte: Medium (2016). 1.2. Ordem Clássica Já se escreveu que “ordem” é “a disposição regular e perfeita das partes, que concorrem para a composição de um conjunto belo”. A ordem é a lei ideal da arquitetura concebida como categoria absoluta, que atua como sistema de controle indireto e, ao mesmo tempo, como a gramática da arquitetura, garantindo sua comunicabilidade e transmissibilidade e dando lugar ao que denominamos de linguagem clássica (PEREIRA, 2010, p. 51). Em oposição a escala humana existe a escala monumental. De acordo com o historiador José Pereira, a escala monumental é aquela que se constitui a partir da derivação de parâmetros (medidas) próprios, ou seja, é alheia a proporção humana. Embora se tenha a ideia de que arquiteturas que extrapolam o sentido de medida do homem, na concepção dos seus espaços, passam a sensibilizar negativamente os usuários, é possível afirmar que a arquitetura monumental não necessariamente se comporta como opressora. Ernst Gombrich (2015), por exemplo, ao falar do monumental Panteon diz: “conheço poucos edifícios que transmitam uma impressão de tão serena harmonia. Não existe a menor sensação de peso opressivo”. 33WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA De fato, conforme indicado no trecho, a noção de ordem na arquitetura se estabelece por meio de um sistema de controle. Em outras palavras, por meio de regras ideais que podem se traduzir concretamente de formas distintas (PEREIRA, 2010, p. 52). Ainda que possam existir variações em sua materialização, o objeto, quando fixado por meio de uma “ordem”, delimita um aspecto comum entre eles. Esta possibilidade de padronização de elementos economiza atenção e, ao mesmo tempo, permite um aprofundamento e uma dinamização das soluções ou de outras características que lhe são pertinentes. Na arquitetura grega, essa noção de regra geral se deu pela configuração do seu sistema construtivo, em específico, pelo arranjo formal das colunas que configuravam a estrutura dos edifícios. A esta caracterização distinta entre as colunas se deu o nome de ordem dórica, jônica e coríntia. Antes de caracterizarmos cada uma destas ordens, necessitamos entender, primeiramente, as partes gerais que configuram a forma de uma coluna grega, bem como sua implantação na configuração total do edifício clássico. Ao todo, temos as seguintes partes: • Pedestal: construção sobre a qual se ergue uma coluna. Normalmente, composto por uma cornija, um dado (também chamado de corpo) e uma base (plinto) (CHING, 2010). • Coluna: suporte cilíndrico composto por um capitel, um fuste com caneluras e, normalmente, uma base (pedestal) (CHING, 2010). • Entablamento: parte horizontal de uma ordem clássica, apoia sobre as colunas. Normalmente, são compostos por uma cornija, um friso e uma arquitrave (CHING, 2010). 34WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Legenda 01 – Base/Plinto (estrutura normalmente quadrada). 02 – Dado/Corpo (parte localizada entre a base e a cornija de um pedestal). A união dos elementos 01 e 02 conformam o Pedestal. 03 – Cornija (moldura saliente que serve de arremate). 04 – Fuste (parte central de uma coluna, compreendia entre o capitel e a base). 05 – Capitel (parte superior da coluna, tratado de forma distinta em cada ordem clássica). A união dos elementos 03, 04 e 05 conformam a Coluna. 06 – Arquitrave (parte superior de um capitel. Viga que unifica a sequência de colunas). 07 – Friso. 08 – Cornija. A União dos elementos 07 e 08 conformam o Entablamento. Figura 22 – Partes que configuram a arquitetura de uma coluna grega. Fonte: adaptado de Ching (2010). 35WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.1. Ordem dórica A ordem dórica surgiu no século VII a.C. e é considerada a mais antiga e simples de todas elas. As colunas desta ordem configuraram-se por meio de uma estética descomplicada e proporcionalmente ligada a ideia do corpo masculino e seu arquétipo robusto. Daí o entendimento que este tipo de coluna foi empregado, prioritariamente, nas edificações gregas que homenageavam apenas os deuses masculinos (PEREIRA, 2010). Em termos formais, a ordem dórica caracteriza-se por um fuste acanelado desprovido de base, um capitel em formato de almofada e um entablamento composto por uma arquitrave lisa, um friso de tríglifos e métopas e uma cornija. Legenda 01 – Fuste (apresenta canais ou ranhuras arredondadas que ornamentam o fuste da coluna clássica. A essas ranhuras também se dá o nome de caneluras ou sulcos. Geralmente, uma coluna dórica apresenta vinte sulcos em sua composição). 02 – Capitel (sem adorno. Possui em sua estrutura o ábaco, que é uma laje chata quadrada, e o equino, que é moldura circular onde se apoia o ábaco – se assemelha a uma almofada). 03 – Arquitrave Lisa. 04 – Tríglifos (blocos verticais na arquitrave que separam as métopas). 05 – Métopas (painel liso ou decorado por meio de figuras esculpidas de pessoas ou animais entre os tríglifos). 06 – Cornija (moldura saliente que serve de arremate da parte superior da coluna). Figura 23 – Partes que configuram a arquitetura de uma coluna grega da ordem dórica. Fonte: adaptado de Ching (2010). 36WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.2. Ordem jônica A ordem jônica caracteriza-se por um capitel mais adornado, bastante distinto da simplicidade adotada pela ordem dórica. Estes capitéis são compostos por volutas, tipo de ornamento em espiral e semelhante a um pergaminho enrolado. A própria cornija superior, também, se configura caracteristicamente ornamentada por meio de dois elementos: os dentículos e os ávalos. Esta configuração de coluna foi desenvolvida na parte oriental grega, na região de Jônia e representava, segundo Vitrúvio, o feminino e à delicadeza da mulher. Legenda 01 – Pedestal: base (apresenta uma base mais larga, possibilitando o recebimento de uma maior carga. Em sua base é possível identificar o toro, que é uma moldura convexa semicircular, e a escócia, que é uma moldura côncava e profunda entre dois filetes). 02 – Fuste (coluna canelada com filetes que separam duas caneluras adjacentes). 03 – Capitel: voluta (ornamento em espiralsemelhante a estrutura de um pergaminho). 04 – Arquitrave fácia (configuração de três faixas horizontais). 05 – Cornija: dentículos (pequenos blocos retangulares, pouco espaçados entre si. Configuram uma moldura). 06 – Cornija: ávalo (sucessão de formas ovais e pontiagudas, distribuídas de forma alternadas). Figura 24 – Partes que configuram a arquitetura de uma coluna grega da ordem jônica. Fonte: adaptado de Ching (2010). 37WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.3. Ordem coríntia A ordem coríntia é a mais ornamentada de todas as ordens clássicas e, assim, a mais prestigiada pelos romanos. Seu capitel, elemento característico de distinção de todas as ordens, é configurado por um grafismo tridimensional que representa o desenho de brotos e folhas de acanto. Quanto ao “gênero”, a ordem coríntia pode ser vista como uma representação da delicadeza feminina, por certo, devido sua esbelteza e representação bastante adornada do capitel. Vale notar que a ordem coríntia, devido sua opulência arquitetônica, transmitia, em seu uso, ideias de abundância e luxo. Legenda 01 – Fuste (coluna canelada com filetes que separam duas caneluras adjacentes). 02 – Capitel: acanto (ornamento que reproduz as folhas grandes e dentadas de uma planta mediterrânea de mesmo nome. A campânula é a parte que constitui o fundo de um capitel). 03 – Arquitrave fácia (pequenos blocos retangulares, pouco espaçados entre si. Configuram uma moldura mais ornamentada que a jônica que, basicamente, configura-se por meio de tiras lidas). 04 – Cornija: modilhão (consolo ornamental, normalmente na forma de um rolo com acanto. Utiliza-se este tipo de ornamento de série). Figura 25 – Partes que configuram a arquitetura de uma colu- na grega da ordem coríntia. Fonte: adaptado de Ching (2010). 38WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA [Para mais informações sobre as colunas gregas e o seu desenvolvimento para além das ordens, ver: MARTINS, S. R.; IMBROISI, M. H. Impressionismo. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/cariatides-no- museu-acropole/#more-11929>.] Como visto, as ordens dórica, jônica e coríntia, representadas pela linguagem da composição das suas colunas, estão relacionadas, diretamente, com as partes que suportam a cobertura. Constituindo-se como modelos que implicam no que chamamos de sintagmas canônicos. Assim, cada ordem terá seu sintagma representado pela relação da base, da própria coluna, do capitel e do entablamento. Em conjunto, esses elementos configuram a linguagem e o vocabulário clássico dos diversos edifícios que compôs a arquitetura grega e romana, conforme veremos adiante. 1.3. O Templo Grego Segundo Pereira (2010, p. 61), “as primeiras manifestações conhecidas da arquitetura grega são as pequenas cabanas construídas no campo ou em lugares sagrados relacionados aos deuses”. Somente no século VII a.C. surge, de fato, o templo grego, como proposta arquitetônica de manifestação e representação divina. Na verdade, este tipo de edificação era construído como santuário das divindades da antiga Grécia e não possuíam, em seu interior, espaços para abrigar cultos, o que, por certo, denotou uma atenção maior para a representação da sua arquitetura externa em relação ao seu espaço interno. O templo grego não era concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses. Os ritos se realizam do lado de fora, ao redor do templo, e toda a atenção e o amor dos escultores-arquitetos foram dedicados a transformar as colunas em sublimes obras-primas plásticas e a cobrir de magníficos baixos-relevos lineares e figurativos as traves, os frontões e as paredes (ZEVI, 2011, p. 65). Inicialmente, o templo helênico foi caracterizado por pequenas dimensões, em específico, formado por uma base retangular isolada por paredes e uma cobertura de telhado duas águas que se projetava no exterior da edificação em forma de triângulo ou frontão adornado por esculturas. Em sua concepção espacial interna, o templo grego configurava-se por um espaço central, também chamado de naos ou cela, local onde se fixava a estátua divina para se impor em destaque. Este espaço, ora recebia um tratamento singelo o reduzindo a uma capela, ora ganhava monumentalidade espacial configurando-se pela composição de três naves separadas por uma sequência de colunas. Na frente do espaço central, locava-se o pronaos, que nada mais é que a representação de um pórtico, um vestíbulo aberto. Em sintonia com este espaço, Pereira (2010, p. 61) afirma que era “frequente se construir do outro lado da cela outro recinto fechado, ou opistodomos, geralmente sem comunicação com a cela, mas sim com o exterior. Esse cômodo servia para abrigar o tesouro do santuário”. 39WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Por outro lado, o templo grego não se limitava apenas ao seu espaço interno, pelo contrário, sua maior atenção se dava na face externa por meio da sequência colunas estabelecidas para sua ornamentação e sustentação. Neste panorama espacial, o vão entre a parede e as colunas é chamado de perístilo (basicamente a mesma ideia dos pátios rodeados por colunas dos templos egípcios). Figura 26 – Esquema de planta de um templo grego. Fonte: adaptado de The Pursuit of Beaty (2015). Legenda 01 – Naos/Cela. 02 – Pronaos. 03 – Opistódomo. 04 – Perístilo. Posto a estrutura base do edifício que caracterizou o espaço e a arquitetura grega, passamos ao estudo daquele que se definiu como maior exemplo e modelo perfeito de edificação desta postura arquitetônica: o Partenon. 40WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3.1. O Partenon Figura 27 – Partenon. Fonte: Infoescola (2018). O Partenon trata-se de um templo projetado pelos arquitetos Ictno e Calícrates, dedicado a Atena, deusa grega da sabedoria e das artes (447 - 438 a.C.). Edificou-se na acrópole de Atenas por iniciativa de um governante da cidade, chamado Péricles. Sua construção iniciou-se no ano de 447 a.C. e findou-se quinze anos depois. De forma esquemática, Pereira (2010) afirma que o Partenon é uma caixa dupla de ordem dórica. Na parte exterior configura-se uma caixa octastila, isto é, composta através de oito colunas em sua face menor. Enquanto na parte interior a caixa é configurada por meio de seis colunas, motivo que, automaticamente, a denomina de hexastilo. As dimensões do templo são 60mx30m, o que define que seu comprimento é o dobro de sua largura. Em resumo, o historiador José Pereira descreve que o Partenon pode ser considerado um exemplo perfeito da arquitetura grega, com perístilo com frontões octastilos, pronaos com duas fileiras de colunas e naos ou cela de três naves formada por duas colunatas que se sobrepõem para alcançar a altura necessária para manter as proporções. No fundo da cela se encontrava a estátua da deusa Palas Atenas esculpida por Fídias, em um recinto com teto sustentado por quatro colunas, um resquício do antigo mégaron. O templo possuía um rico opistódomo posterior, destinado ao tesouro da deusa, onde também se guarda o tesouro público (PEREIRA, 2010, p. 64-65). 41WWW.UNINGA.BR HI ST ÓR IA D A AR QU IT ET UR A E UR BA NI SM O I | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 28 – Planta baixa do Partenon e sua elevação lateral. Fonte: História das Artes Visuais (2014). O Partenon, assim como os demais templos gregos, não eram ambientes de função apenas religiosa, eles se configuravam como espaços políticos e, neste ponto, o significado governamental do templo era tão importante quanto sua expressão divina. Em síntese, os templos configuravam- se como arquivos públicos do tesouro e dos
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