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Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 68 CAP 7 – LIGAÇÕES SOLDADAS 7.1. INTRODUÇÃO Com o desenvolvimento da Tecnologia da soldadura e o crescente domínio dos diversos parâmetros que intervêm na qualidade dos cordões e suas propriedades mecânicas, a construção soldada, por razões de economia, foi substituída progressivamente por construções rebitadas e aparafusadas. A utilização crescente de ligações soldadas em aplicações de elevada responsabilidade quer solicitada por cargas estáticas quer por cargas dinâmicas obriga a que o projectista tenha de proceder a um adequado dimensionamento dos cordões de soldadura, pois estes são muitas vezes os pontos de ruína preferenciais da estrutura. As principais vantagens da soldadura em relação aos parafusos são: • Ser mais barato • Não existir o perigo de se “desapertarem” As principais desvantagens são: • A soldadura produz tensões residuais • É difícil a separação das chapas soldadas. As ligações soldadas aplicam-se essencialmente em três grandes campos: • Fabrico de Estruturas (Construção Metalo-Mecânica), como alternativa à Rebitagem. • Fabrico de Peças (Construção Mecânica), como alternativa à fundição, ao Forjamento, etc. • Reparação/Recuperação de peças com desgaste, fissuradas ou fracturadas. Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 69 7.2. TIPOS DE SOLDADURA Fig. 7.1. – Soldadura de topo. [Fig. 9.7. Shigley] Fig. 7.2. – Soldadura de ângulo. [Fig. 9.3.(b) Shigley] 7.3. TIPOS DE SOLICITAÇÕES. RESISTÊNCIA DOS CORDÕES. Fig. 7.3. – Solicitações Frontais aplicadas na soldadura. Fig. 7.4. – Solicitações Oblíquas na soldadura. Fig. 7.5. – Solicitações Laterais na soldadura. 1. Os cordões frontais são mais resistentes que os laterais. 2. A menor resistência de um cordão corresponde a uma solicitação oblíqua de 45º. 3. A maior resistência de um cordão corresponde a uma solicitação frontal do tipo “Soldadura de topo”. Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 70 7.4. SÍMBOLOGIA DA SOLDADURA Para se representarem ligações soldadas utiliza-se normalmente a seguinte simbologia: Fig. 7.6. – a) O número indica o tamanho do cordão; A seta deve apontar apenas para uma soldadura, caso sejam as duas iguais. b) O símbolo indica que são várias soldaduras de angulo numa extensão de 200 mm e estão a 60 mm de distância umas das outras. [Fig. 9.3. Shigley] Fig. 7.7. – O círculo na soldadura indica que a soldadura está toda à volta. [Fig. 9.4. Shigley] Fig. 7.8. – a) Junção em T para placas finas. b) Soldaduras em U e J para placas finas. c) Soldadura de canto (não deve ser usada para grandes carregamentos). d) Soldadura de ponta para placas muito finas e carregamento muito leve. [Fig. 9.6. Shigley] Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 71 Fig.7.9. – a) soldadura rectangular e soldada dos dois lados. b) Soldadura em vê (V) com 60º de inclinação e com uma abertura na garganta de 2 mm. c) Duplo V. d) Soldadura de angulo (Bevel). [Fig. 9.5. Shigley] 7.5. DIMENSIONAMENTO 7.5.1. SOLDADURA À TRACÇÃO Fig. 7.10. – Junção à tracção típica. [Fig. 9.7. Shigley] A figura 7.10. mostra uma soldadura tipo V “groove” simples carregada pela força F. Tanto para a tracção como para a compressão, a tensão normal é dada por: hL F =σ (7.1) onde h – tamanho da garganta “throat” L – comprimento da soldadura. Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 72 É de notar que o valor de h não inclui o reforço, este é desprezado pelo lado da segurança. A tensão de corte na área da garganta da soldadura é dada por: hL707,0 F =τ (7.2) Para prevenir a ruína deve-se verificar a equação seguinte: )sold(allhL707,0 F τ≤=τ (7.3) Tabela 7.1. – Carregamento transverso e paralelo na soldadura. [Tabela 9.1. Shigley] Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 73 7.5.2. SOLDADURA À TORÇÃO. Quando numa soldadura é aplicada uma torção, a tensão de corte é o resultado vectorial da tensão de corte directo (primário) e da tensão de corte de torção (secundário). Fig. 7.11. – Soldadura solicitada à torção. [Fig. 9.12. Shigley] A tensão de corte primária é dada por: antaarggdatotalÁrea cortedeForça A V ' ==τ (7.4) A tensão de corte secundária é dada por: uJh707,0 rM J rM '' ==τ (7.5) Onde; r – distância do centróide do grupo das soldaduras ao ponto mais longe na soldadura [m]. A – área total da garganta da soldadura [tabela 7.2] M – momento torsor J – momento polar de inércia [m4] Ju – momento polar de inércia unitário [m3] [tabela 7.2] A secção crítica quando se aplica uma torção é a secção da garganta, tal como para a tracção. Para evitar a fractura devido ao carregamento de torção, deve-se usar a seguinte equação: ( ) ( ) )sold(all22' τ≤τ ′′+τ=τ (7.6) Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 74 A tabela seguinte dá os valores para o momento polar de inércia para seis grupos de soldadura. Usando esta tabela simplifica o cálculo da carga à torção Tabela 7.2. – Propriedades da soldadura solicitada à torção. [Tabela 9.2 Shigley] Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 75 7.5.3. SOLDADURA À FLEXÃO. Na figura é mostrada uma barra soldada a um suporte com soldadura em cima e em baixo solicitada a um esforço de flexão. Fig. 7.12. – Barra solicitada à flexão. [Fig. 9.17. Shigley] O diagrama de corpo livre mostraria uma reacção de corte V e uma reacção M devida ao momento flector. A reacção de corte provoca uma tensão de corte primária: A F A V ' ==τ (7.7) O momento M provoca uma tensão normal σ na soldadura: I Mc =σ (7.8) Para evitar a fractura devido ao carregamento de flexão, deve-se usar a seguinte equação: ( )22max '3 τ+σ=σ (7.9) onde: A – área da garganta da soldadura [tabela 7.3] I = 0,707 h Iu – momento de inércia [m 4] Iu – momento polar de inércia [m 3] [tabela 7.3] M – momento flector Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 76 Tabela 7.3. - Propriedades da soldadura solicitada à flexão. [Tabela 9.3 Shigley] Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 77 7.6. CUIDADOS DE PROJECTO 7.6.1. DUCTILIDADE DOS MATERIAIS SOLDADOS E DOS CORDÕES. Só idealmente, os esforços se distribuem igualmente pelos cordões de uma ligação, como se considera nos cálculos do projecto. No entanto, os pontos mais carregados podem, na prática ceder e redistribuir as tensões, se os materiais de base e de adição forem dúcteis. O projectista deve assegurar esta condição sempre que possível. 7.6.2. SOLICITAÇÕES SECUNDÁRIAS, OU PARASITAS. Do incorrecto posicionamento dos cordões na ligação, pode resultar o surgimento de momentos flectores, ou torsores, parasitas, devido à descentragem de esforços relativamente ao centroide dos cordões. Há que evitá-lo. 7.6.3. CONCEPÇÃO E EXECUÇÃO É grande a variedade de soluções possíveis na concepção de uma ligação soldada, devendo o projectista contrariara “natural” tendência para a imitação das concepções usadas, mas sim procurar concepções que tirem o melhor rendimento da construção soldada. Para que não haja redução das qualidades do metal base, deverá ser evitada a soldadura de grandes espessuras, de materiais que sofreram violento trabalho a frio (encruamento), bem como que a soldadura seja feita a baixa temperatura. Evitar ainda a solicitação transversal de peças fortemente laminadas, para evitar o arrancamento lamelar. Fig. 7.13. – arrancamento lamelar de uma peça laminada. Elementos de Máquinas Ligações Soldadas Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 78 Para não engrandecer as tensões residuais deve-se, além das indicações anteriores, executar os cordões segundo uma ordem adequada, evitar constrangimentos das peças a ligar bem como evitar sobre-espessuras, acumulações de cordões, mudanças bruscas de secção e cruzamentos de cordões. Em peças de espessuras diferentes, fazer transição com rampa de pelo menos ¼. (a) (b) Fig. 7.14. – (a) zona de cordão de soldadura a evitar (acumulações de cordões). (b) cordão bem executado. Em peças de espessuras diferentes, fazer transição com rampa de pelo menos ¼. Em casos críticos há que proceder ao pré-aquecimento das peças para evitar os efeitos de um arrefecimento rápido do metal-fundido, bem como o pós-aquecimento com as finalidades de promover transformações metalúrgicas desejadas.
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