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RELAÇÕES JURÍDICAS As relações jurídicas são os vínculos que o Direito reconhece entre pessoas ou grupos, atribuindo-lhes poderes e deveres, estabelecidos pelo ordenamento jurídico, representando a situação jurídica de bilateralidade que se estabelece entre sujeitos. Ser sujeito de uma relação jurídica, e consequentemente de direitos e deveres, é sinônimo de titularidade, isto é, união da pessoa com seu direito. São apresentadas como elementos centrais do sistema de direito civil, numa perspectiva interindividual, constituindo-se em categoria básica para a explicação do fenômeno jurídico e base sobre a qual se constroem os institutos jurídicos. Historicamente, esse conceito surgiu a partir da pandectística alemã, e sua evolução históricodoutrinária nos leva a duas concepções teóricas acerca da natureza de seu conceito: a personalista (relação jurídica como vínculo entre as pessoas) e normativista (relação jurídica como vínculo entre sujeitos e ordenamento jurídico, ou entre pessoas e coisas, pessoas e lugares). Vale ressaltar que, pelo menos na concepção personalista, o fundamento utilizado para a formulação do conceito de relação jurídica foi, assim, o individualismo. Além disso, pode-se dizer que os seus fundamentos axiológicos são a moral kantiana e a doutrina liberal-democrática, e seu campo de incidência é a experiência jurídica privada. Estruturalmente, a relação jurídica apresenta requisitos de ordem material e de ordem formal, sendo aqueles referentes às relações sociais e estes referentes ao reconhecimento dado pela ordem jurídica, que confere a relação social o caráter de juridicidade. Qualquer relação jurídica representa uma situação em que duas ou mais pessoas (titulares de direitos e deveres) se encontram a respeito de uns bens ou interesses jurídicos (aquilo sobre o que incidem os poderes contidos na relação), ou seja, é composta por um elemento subjetivo e um objetivo. Os sujeitos relacionados podem ser classificados em ativo ou passivo, sendo o ativo detentor dos direitos e o passivo detentor dos deveres decorrentes da relação. O poder jurídico do sujeito ativo existe quando o direito atribui a uma pessoa a possibilidade de ela exigir, por um ato de sua vontade, determinado comportamento de outra ou de outras pessoas, ou a de impor certas consequências. Por suas peculiaridades, esse poder pode apresentar-se como direito subjetivo, pretensão, direito potestativo e faculdade jurídica. O conjunto desses elementos com o vínculo intersubjetivo constitui a estrutura da relação jurídica. Além disso, o conteúdo da relação jurídica diz respeito ao conjunto de poderes e deveres configurados nela e representa o comportamento jurídico das pessoas que intervêm na relação. Com relação à sua espécie, a relação jurídica pode ser classificada de diversas formas, de acordo com suas características. Algumas dessas classificações são entre pública ou privada, absoluta ou relativa, real ou obrigacional, simples ou complexa e principal ou acessória, referindo-se à hierarquia entre os sujeitos, à eficácia, ao objeto, ao número e à natureza da relação, respectivamente. A relação jurídica e os direitos nela contidos nascem, modificam-se e extinguem-se como consequência de certos acontecimentos considerados importantes pelo direito. Essa consideração lhes dão eficácia jurídica e os classificam como fatos jurídicos. Podem constituir-se em simples eventos da natureza ou em manifestação da vontade humana. Entretanto, devido à multiplicidade de relações sociais, existem relações materiais cujo nascimento não decorre de nenhum fato jurídico, mas sim de fatos socialmente relevantes. São as chamadas relações de fato. Entre as relações de fato mais destacadas encontram-se a união estável, a sociedade de fato, a separação de fato e a filiação de fato. SITUAÇÕES JURÍDICAS As relações jurídicas são, portanto, precedidas de acontecimentos que independem da ação humana, os quais denominamos fatos jurídicos. Dentro desse espectro, entramos na discussão sobre a eficácia jurídica, que é a consequência de um fato relevante para o direito, transformando assim a relação social em relação jurídica. O fato jurídico é, portanto, causa de criação e transformação dos direitos. Assim, as situações jurídicas nada mais são do que situações legitimadas pelo direito. Essas situações jurídicas surgem como efeito de fatos ou atos jurídicos, e se realizam como possibilidade de ser, pretender ou fazer algo, de maneira garantida, nos limites das regras do próprio direito. Versando sobre o tema o jurista Paul Roubier discorreu: “a situação jurídica é um conjunto de direitos e deveres, prerrogativas e obrigações, que se cria em torno de um fato, uma situação ou um ato, capaz de gerar efeitos jurídicos”. Dentro da doutrina podemos distinguir várias situações jurídicas. Entre elas, as principais seriam as objetivas, quando resultantes da própria norma que as determina, subjetivas, quando manifestadas da vontade particular, adaptadas aos interesses do agente. Há também as situações ativas, quando o sujeito tem posição de supremacia (direitos potestativos, faculdades jurídicas, etc.), e as situações passivas, as quais os sujeitos têm posição de subordinação (deveres jurídicos, relativos aos direitos subjetivos). Direito subjetivo é o poder que a ordem jurídica concede a alguém de agir ou de exigir de outro determinado comportamento. Dá-se o nome de subjetivo por ser exclusivo do titular e constitui-se em um poder de atuação jurídico reconhecido e limitado pelo direito objetivo. Em contraponto ao direito subjetivo, há o dever jurídico, que é a necessidade se observar certo comportamento, positivo ou negativo, a que tem direito o titular do direito subjetivo. Quando numa situação vem a ser descumprido ele sujeita o infrator às sanções preestabelecidas. Dentro das situações jurídicas há sempre a preocupação do abuso do direito. Esse ocorre quando o titular exerce seus direitos fora dos limites intrínsecos, próprios das finalidades sociais econômicas originais. O direito individual, segundo Cornil, deixa de ser permitido quando se opõe à moral social, e quando útil para o titular do direito e danoso para outras pessoas. O ordenamento jurídico, também, possui mecanismos de proteção ao direito subjetivo. Podemos classificá-las, quanto ao conteúdo, em preventivas e repressivas, e, quanto à forma de se realizar, em judiciais e extrajudiciais. Tais mecanismos asseguram o exercício do direito e a consolidação das relações e situações jurídicas.
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