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Lugar, Ambientes e Artes, vol. único

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1 
 
 
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE AULA PARA EAD 
(MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO) 
 
CURSO: Letras 
DISCIPLINA: Lugar, ambiente, artes. 
Educação Ambiental 
 
 
CONTEUDISTA: José Maurício Saldanha Álvarez 
 
AULA 1 – Lugar, ambiente, artes. Educação Ambiental. Por quê? 
 
 
META 
Fazer da literatura, por meio da educação ambiental, uma ponte com o lugar, o ambiente e 
um conceito ampliado de arte. 
 
OBJETIVOS 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
 
1) Reconhecer a importância da Educação Ambiental como formador da cidadania e do 
sujeito, e a consciência ambiental como uma tomada de posição visando atingir uma 
relação sustentável com o planeta, assegurando o futuro das próximas gerações. 
 
2) Identificar no lugar o espaço essencial onde a vida ocorre como todos os seus 
complementos físicos, e de onde se extraem os motivos literários e os suportes da memória 
sendo, ainda, matriz das identidades. 
 
 2 
 
 
INTRODUÇÃO: A disciplina, o que é? Lugar, ambiente, artes. 
 
Chama-se lugar o espaço onde a vida acontece como produtor de insumo literário, 
de memória, de sentimentos, enfim. É no lugar onde o escritor e seus leitores vivem. Todos 
conheceram a canção onde o autor, Osvaldo Nunes (1930-1991) com sua verve de poeta, 
recita: “voltei, aqui é o meu lugar, minha emoção é grande, mas a saudade era maior, e 
voltei para ficar”. Já o Rap da Felicidade, de Cidinho canta: 
Eu só quero é ser feliz 
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. 
E poder me orgulhar 
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar 
 
Figura 1.1: Cidade de Deus, local de origem dos compositores do Rap da Felicidade. 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cidade_de_Deus.jpg – Junius 
 
Lugar é a matriz da identidade de uma região, de um país, de uma cidade e de uma 
comunidade de indivíduos. E no lugar onde ocorre a vida diária que, para os 
fenomenólogos, consiste num conjunto de elementos existenciais concretos como pessoas, 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cidade_de_Deus.jpg
 3 
 
flores, árvores, flores, céus, nuvens, cidades, ruas moradias edifícios madeira pedra, janelas 
e portas, mobílias. Esses elementos possuem uma substancia material, são dotadas de 
formas, textura e colorido, contribuindo para atingir uma totalidade que denominamos de o 
caráter do ambiente (Norberg Schulz, 10). Para Jorge Luís Borges, um lugar chamado 
Aleph pode conter todos os lugares do mundo que, vistos de um determinado ângulo, 
coexistem. Ou para o italiano Calvino “o lugar tornou-se uma imagem interior para a 
imaginação começar a habitá-lo e ele logo transforma em seu palco.” (2003, 167). 
 
Meio ambiente 
Já o que denominamos de Meio Ambiente é um conjunto de fatores que engloba a 
totalidade dos seres vivos orgânicos, elementos inorgânicos, articulando-se em 
ecossistemas conectados com toda a vida existente na face da terra, que é traduzido por 
uma conceituação múltipla. Nele encontramos diferentes fatores externos que influenciam 
os seres e os ecossistemas, conjuntos articulados e compostos por todos os fatores bióticos 
de uma região e do meio ambiente. O ecossistema é uma comunidade de seres vivos com os 
respectivos processos vitais de cada um inter-relacionados com os demais. 
O incremento da exploração do ambiente ocorreu na Modernidade, desde o 
Renascimento do século XVI e, seguida, com as revoluções industriais ocorridas nos 
séculos XIX, XX e do XXI. A produção industrial e a comunicação em redes e tramas se 
estenderam a todo o globo terrestre, conformando uma economia-mundo. (I. Wallerstein, 
1930). Inicialmente, todos os empreendimentos econômicos no século XIX eram realizados 
sem controle ou sustentabilidade. O pensamento liberal dominante nesse tempo impedia 
regulamentações restritivas, o que levou a alterações que resultaram em desastres 
ambientais e humanos. A expansão vertiginosa do capitalismo industrial, como demonstrou 
Karl Marx, enriqueceu os capitalistas, mas, empobreceu o proletariado, forneceu lucros 
destruiu populações, modos de vida, culturas tradicionais e alterou ecossistemas. 
Entre os tópicos centrais da disciplina e da literatura temos artes que não são a 
tradicionais. De acordo com o sociólogo alemão Niklas Lehmann, artes são dotadas de um 
sistema simbólico, sendo formas de ação sobre o ambiente e permitem dar uma forma 
inteligível ao ambiente. As artes que empregaremos são coletivas e constituídas através do 
tempo e do espaço. Foi uma escolha para reforçar sua conexão com entre a questão 
 4 
 
ambiental e a prática literária. Elas serão as cidades e sua relação com o campo e a roça, a 
arquitetura, a alimentação e os objetos do cotidiano. 
Essas obras e as representações povoam o universo do escrito com referências 
materiais onde está o autor, suas obras e seu público, todos estão relacionados com a 
cultura e subcultura do seu tempo. Os escritores todos têm uma origem social, formação 
política, formação educacional, orientação sexual e uma imaginação ativa. 
 
Imaginação, lugar e literatura. 
No século XIX, conforme veremos, a natureza começou a ser percebida como um 
motivo literário, com as primeiras representações e questionamentos ambientais surgidos 
no Romantismo em decorrência das revoluções política e industrial. Na medida em que o 
vertiginoso processo industrial, a Modernidade avançou cada vez mais a imagem da 
natureza penetra na ficção literária com representações e descrições naturalísticas e 
realísticas. As representações da natureza surgiram com o homem. Desde as primeiras 
formas de escrita o homem procurou sempre saber onde estava, e como era o seu lugar. 
Todos os textos religiosos antigos eram textos-descrições de lugares e de percursos de 
lugares. Na Bíblia hebraica temos o livro do Êxodo, na Ilíada-Odisseia helênica, abundam 
as descrições pormenorizadas de viagens e lugares. 
Nossa representação e orientação do espaço são primeiramente visual por causa de 
nossa percepção binocular, baseada em nossos olhos, processadas pelas nossas retinas e 
trabalhadas por nossa cultura. . Desde a pré-história, a natureza é transformada em nosso 
ambiente visual não apenas a percepção do mundo físico, da natureza, mas da bagagem e 
herança cultural. A percepção visual que domina nosso encontro com a natureza como o 
espaço real é fundamental para a literatura. Mas como será que vemos para poder 
representar? 
Desde o Renascimento, nosso olhar se habituou a um processo perspectivo, 
racional, imitando a percepção pela retina. O que está mais próximo é maior e mais nítido o 
que está distante é menor e apagado No entanto, a Modernidade acelerada pela Revolução 
Industrial e a intensa urbanização, intensificaram o volume de informações e aceleraram 
nossa percepção, criando uma simultaneidade que mudou a literatura. Uma boa descrição 
literária, usa instrumentos verbais fornecendo aos leitores uma sensação de ordem espacial, 
 5 
 
cuja descrição demonstra que o homem ocupa um certo lugar e tem dele uma perspectiva. 
A descrição de uma porção da natureza, de um lugar, é a descrição do ambiente. 
(Henigham, 5). 
No entanto, essa descrição do ambiente está ligada a questão da cultura e da 
tradição. Ao analisarmos Homero veremos que na Odisseia, algumas paisagens são fruto do 
saber tradicional como a descrição do Inferno grego, o Hades. Outras são frutos de 
paisagens tradicionais imaginadas, como a ilha de Circe, a ilha dos Feaces e a terra dos 
Lotófagos. Tradição e imaginação constituem uma prática na literatura, ou melhor, a 
representação da imagem natural na literatura é um produto humano gerado por meio da 
experiência e da cultura, transformado em matéria criativa. Essas construções empregam 
palavras, símbolos da literatura, tornando-se representações do espaço natural segundo um 
pontode vista humano. 
Nos final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, a imaginação cada 
vez mais substituiu a representação, mostrando-se o centro dos trabalhos literários num 
grande esforço consciente para mudar a representação, ao invés de sucumbir a simples 
descrição (Henigham, 23). Novas estratégias literárias modernas surgiram e colocaram com 
o fluxo de consciência um desafio à imaginação. 
 
Imaginação e ciência 
Quando pensamos no grande cientista Albert Einstein (1879-1955), nos vem à 
mente um indivíduo racional, frio e desprovido de imaginação. Nada mais errado. O avanço 
científico que ele produziu nasceu da capacidade de pensar o que não sido havia pensado. 
Sua imaginação criou o que, na época, os cientistas pensavam que ser impossível existir. E 
resistiram a essa criação do novo. Cientistas são e eram muito formais e dogmáticos, ainda 
mais no século XIX, época da razão, quando acreditavam nas verdades da ciência imbuídos 
de um fervor similar ao religioso. 
A recusa aos trabalhos imaginativos de Einstein se baseia na cultura de uma época 
quando o racismo era considerado científico. De um lado Einstein, um jovem sem 
credenciais, sem títulos e judeu. Como podia um judeu criar física? Do outro, cientistas, 
universidades e uma ciência nacionalista europeia e conservadora. Se fosse nos Estados 
Unidos, a dificuldade seria se Einstein fosse afro-americano. A propósito de uma coisa e 
 6 
 
outra, assistam ao filme norte-americano de Theodore Melfi, 2015, intitulado Hidden 
Figures (Figuras Ocultadas) e que, no Brasil, se chamou Estrelas além do tempo. Vejam o 
filme para sentir o conservadorismo e preconceitos da ciência. 
Regressando ao jovem Einstein: Novidades que abalavam o saber estabelecido eram 
tidas por perturbadoras e aborrecidas. Para Einstein, era a imaginação que levava ao 
progresso. Nos anos 1929, colocar um homem na lua era uma loucura completa porque era 
uma impossibilidade. Pensar como possíveis esses atos imaginativos, esse era o campo da 
ficção científica, atividade literária tida por visionária, escrita por autores como o francês 
Jules Verne (1828-1905). Nos anos 1910 imaginar a relatividade do tempo e o pior, 
escrever sobre a matéria era um absurdo. 
A noção de imaginação é antiga e os filósofos gregos, Aristóteles e Platão, a 
estudaram como um sentimento inspirador das artes. A imaginação literária, que parece ser 
uma invenção nascida no Iluminismo, (mais uma vez ele), onde se originou o debate 
ambiental, nos foi legada pelo Romantismo. Como possibilidade intelectual, permitiu 
pensar nas imagens como uma forma basicamente criativa-imaginativa. No Iluminismo, a 
relação imaginativa das imagens nos levou à noção de sensibilidade. 
 
Atividade 1. Atende aos objetivos 1 e 2. 
Ver o filme Razão e Sensibilidade de 1995, de Ang Lee com Emma Thompson e 
Hugh Grant, no Youtube. O filme narra o contexto de arrancada econômica inglesa durante 
as guerras napoleônicas. Duas irmãs (observem o papel reduzido que a mulher ocupa), 
apresentam a oposição entre o Iluminismo e o Romantismo. Uma delas é racional e 
cautelosa, a outra é impulsiva e emocional. Atentem para o campo inglês onde, apesar as 
aparências aristocráticas, os títulos já não importam, todos pensam em lucros e, como seres 
livres, têm direito à busca da felicidade. 
Após ver o filme, vocês deverão elaborar um resumo onde assinalarão três questões 
que lhes pareçam importantes para compreender a época e sua cultura. Atentem para a 
presença dos impressos, livros e jornais. 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inserir 12 linhas para a resposta. 
Resposta comentada 
O filme apresenta um drama familiar onde uma família decai de posição financeira, 
em virtude da viuvez da dona da casa. As filhas, bem educadas, deixam a residência 
suntuosa e vão viver num cottage modesto, mas, por sua posição e méritos, continuam a ter 
a atenção dos vizinhos. Uma delas, a mais velha, é ligada ao Iluminismo e a razão, calcula 
os passos a serem dados, enquanto a outra jovem, Marianne, romanticamente em oposição à 
irmã, é tomada por impulsos e emoções, agindo irrefletidamente. Ela se entrega aos 
sentimentos pelos quais, às vezes, paga um preço alto. 
É uma sociedade capitalista e imperialista, (colônias ultramarinas surgem aqui e ali), 
onde a alteridade é importante. As pessoas ascendem socialmente por sua capacidade e 
méritos pessoais. A cultura tem um papel essencial fornecido por uma educação esmerada 
ao alcance de elites e conta com música, jornais e literatura. A razão, por outro lado, pode 
ser tão fria que se esquece de que lida com seres humanos. Observem que neste tipo de 
zona rural capitalista, feita dar lucro, em oposição à cidade tumultuada e suja, temos 
moradias simples mas equipadas, proporcionando todo o conforto dos maiores solares, 
grandiosos e repletos de objetos que completam a vida humana. 
 
O lugar, literatura, imaginação. 
O lugar é a matriz da identidade de uma região, de um país, de uma cidade e de uma 
comunidade de indivíduos. O lugar onde ocorre a vida diária que, para os fenomenólogos, 
 8 
 
consiste num conjunto de elementos existenciais concretos como pessoas, flores, árvores, 
flores, céus, nuvens, cidades, ruas, moradias, edifícios, seus materiais, madeira pedra, 
janelas e portas, mobílias. Essas coisas possuem uma substância material e são dotadas de 
formas, textura e colorido, contribuindo para atingir uma intensidade que confere caráter ao 
ambiente (Norberg Schulz, 10). Para Edward Soja o lugar nesse agora, reduz a distância 
entre o real e o imaginário, sendo que ele denomina de real imaginado. (Soja, 1996, 240). 
O lugar é a base da literatura como matriz de ideias e de formas, de onde o escritor 
toma, e alguns ficcionistas precisam criar um mundo perfeitamente visível para seus 
personagens se deslocarem, enquanto a novela psicológica coloca menos ênfase no lugar e 
mais ênfase na influência deste sobre os personagens (Luttwak, 18). Uma das funções da 
literatura é dar visibilidade as experiências íntimas e as relacionadas ao lugar. A arte 
literária pode construir imagens intensamente humanizadas e permeadas pela memória das 
pessoas construindo realidades fictícias sem as quais, esses lugares passariam 
desapercebidos, mas sua visibilidade advém do grande número de significados que 
comportam (Tuan 162). 
Se a literatura até o século XIX preocupava-se com lugares alegóricos, ao lado do 
sublime romântico, a literatura passou a abrigar um crescente interesse científico. O lugar 
onde transcorre uma narrativa passa a ser representado com uma infinidade de detalhes 
precisos (Marjorie Nicolson, 1997, 279). A esse naturalismo extremo, o século XX reagiu, 
empregando o diálogo e o fluxo da consciência dos personagens. O triunfo das novas 
estéticas da imaginação marcou o movimento moderno da novela do século XX, mesmo 
nessa nova estética, o ambiente, os lugares continuaram a ser importantes em diversos eixos 
temáticos (Hengham, 23). A paisagem belga retratada pela escritora portuguesa como 
Maria Gabriela Llansol é, sobretudo, sugestão para a construção de uma representação 
interior. A chamada literatura regional concede, em princípio, um lugar primordial ao 
ambiente e seus biomas. Num escritor regional como Graciliano Ramos, o sertão de Vidas 
Secas é um sertão interior, quase fruto da imaginação do vaqueiro Fabiano, enquanto o do 
fazendeiro Paulo Honório, personagem do romance São Bernardo, a descrição se converte 
em lucros, prejuízos e poder. 
Nomear um lugar na ficção, é representá-lo por meio de um código que permite as 
paisagens literárias adquirem características geográficas e, às vezes, seguirem normas 
 9 
 
pictóricas, formando um iconotexto (W. James, apud 29). O que parece contar em literatura 
é o efetivo poder de representação contidos na propriedade física dos lugares, sem importar 
tanto que essaspropriedades pertençam aos lugares exatos (Lutwack, 30). 
Por exemplo, a ilha natal do arpoador polinésio Quequeeg, protagonista do romance Moby 
Dick (1851), de Herman Melville (1819-1891), não está em nenhum mapa. Na verdade, 
lugares da imaginação como esse nunca estão em mapa algum. Ao conceder aos lugares 
imaginados uma veracidade geográfica, integramos a aspiração humana de pisar em solo 
real por meio da ficção (Lutwack, 32). 
 
As regiões como lugares 
Euclides da Cunha após descrever o lugar chamado Os Sertões escreveu: o sertanejo 
(que vive nessa região) é antes de tudo um forte. Remetendo ao tópico anterior, o Sertão, 
em Euclides é poderosamente descrito, categórico e científico. Contudo, não deixa de ser 
poético! O pensador espanhol Ortega y Gasset escreveu, “Diga-me em que paisagem você 
vive e eu direi quem você é”. As regiões são parcelas de território dotado de originalidade. 
Podem ser definidas como grandes extensões territoriais, cujas condições de solo, clima, 
relevo e ambientes se diferenciam dos demais em função de suas fronteiras que são 
claramente delimitadas como parte imediata da realidade (Luckermnn, 1954, p33). Para 
outros, uma região é uma parte do planeta que possui coerência e significado (Feldhaus, 
2003, 5). 
Uma geografia objetiva pode identificá-las como biomas onde existe uma 
determinada flora, fauna, ou um tipo de solo, sejam planícies, montanhas, matas ou rios. 
Uma região possui uma arquitetura própria, uma culinária determinada, um vestuário e uma 
fala específica. Guimarães Rosa criou um sertão que é tão imaginário quanto descritivo. 
Tudo que ele descreve fisicamente, uma serra ou um rio, logo é transformado pela 
imaginação num lugar próprio, dotado de rica vida interior, e a descrição se torna uma 
poética. Uma região também pode ser definida pelo exercício do lazer, de atividade 
esportiva e recreativa, que nelas são praticadas. Uma região dotada de lagos logo adquire, 
modernamente, turisticamente, um novo nome “Região dos Lagos”, ou de praias ou de 
serras. Gramado, na Serra gaúcha, ou aqui entre nós, fluminenses, o Vale do Paraíba, costa 
verde e região serrana. (Wikle &Ronney Jr, 2004, 395). 
 10 
 
Algumas regiões possuem lugares dotados de grande força simbólica e imaginária, 
ou poderes energéticos, constituindo centros de peregrinação capaz de atrair multidões. 
Enquanto para outros, um lugar se torna sagrado pela sua constituição, demandando uma 
participação autônoma que se torna sua própria voz. Um espaço sagrado é, 
necessariamente, mais do que a construção da imaginação humana sozinha. Lugares 
sagrados são locais narrados ou historiados (Belden Lane, 2002, p. 15). As mais antigas 
histórias e literaturas são narrativas de viagem. O herói sumério Gilgamesh, procurou 
enquanto viveu a terra onde governaria sob o sol. Já os faraós, quando morriam 
continuavam a deslocar-se e viajavam para o outro mundo, Abraão viaja de Ur para Canaã. 
Os hebreus deixam o Egito num êxodo, enquanto os gregos imigram povoando todo o 
Mediterrâneo com suas cidades-estado. Roma é fundada, ao menos na imaginação por 
imigrantes, chefiados por Eneias, refugiados que deixaram Tróia abrasada. A Sagrada 
Família desloca-se da Palestina para o Egito e vice-versa. Odisseu (Ulisses) queria chegar a 
Ítaca e realizou sua Odisseia. 
O sagrado e suas narrativas e se entretecem com histórias que lhe conferem 
significados por meio da memória e de um acervo de imagens de acidentes , pois, lugares 
de peregrinação tem suas narrativas fundacionais podendo ser planícies ou montanhas, 
espaços vazios ou cidades (Lane, 2002, 6). Não se tem uma definição pré-determinada para 
saber se um lugar é sagrado. Moisés ao chegar a um determinado ponto do Sinai, ia 
prosseguir quando Deus o impediu dizendo: tira tuas sandálias porque o lugar onde pisas é 
sagrado. O filosofo alemão Heidegger escreveu que o lugar coloca o homem no mundo pois 
“O lugar é a casa do ser”. 
Para alguns autores a terra parece possuir poderes energéticos e ocultos e o planeta é 
um lugar sagrado que possui voz e sua integridade, demandando participação humana. 
Porém, um espaço sagrado é, necessariamente, mais do que a construção da imaginação 
humana sozinha (Gottlieb, 2003, 494). Lugares se tornam sagrados por causa das narrativas 
e histórias que correm a seu respeito, criando um sistema de credibilidade para as pessoas 
ou peregrinos. Assim sendo, elas abandonam sua vida cotidiana, preparando-se para entrar 
em contato com o extraordinário (Stoddart, Morinis, 1997, V.). Desta maneira, cada lugar 
tem seu significado e sua história, muitas vezes complexa, e que precisa ser desvendada. 
 11 
 
 No país de Gales o lugar, se pronuncia Llan. Qualquer lugar nomeado inicia-se pela 
palavra Llan, lugar. Citemos o nome de uma cidadezinha chamada 
Llanfawllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, situada na ilha de Anglesey. 
Traduzido para o português essa palavra significa “A igreja de Santa Maria situada junto ao 
poço localizado perto das árvores de Branca Hazel e ao lado das corredeiras do Whirlpool e 
da igreja de São Tysilio que fica junto às cavernas vermelhas” (Belden Lane, 2002,15). 
 
Lugar, natureza e paisagem. 
Paisagem. Matéria prima tão presente em toda a literatura! Palavra que é um 
mitologema cultural. Nós a discutiremos muito nas aulas seguintes, conceito sempre 
matizado pela cultura. Voltemos, por um instante, à denominação de natureza, que, na 
língua inglesa, é uma palavra de difícil definição. (Williams, 1976, 184). No inglês, 
acredita-se que ela derive do anglo-saxão, nomeando uma floresta original que foi alterada. 
Paisagem, um artefato produzido por humanos e associado a valores culturais. Paisagem 
nas línguas latinas parece originar-se do latim ad paganuus, lugar onde residem os pagãos, 
onde o cristianismo penetrava com dificuldade e onde os mitos antigos e naturais 
sobreviviam. As formas arquetípicas do instinto, de deuses antigos e incontáveis e dos 
mitos, eram reconfigurados como se lê nesta imagem portuguesa: 
 
Explicação de práticas pagãs mescladas a cristãs. Vinhaes, Portugal. Foto do Autor. 
 
 12 
 
De Pagus deriva o francês pays, que definia uma região (Taylor, 2009, 111). No Rio 
Grande do Sul quando alguém diz que retorna a um local onde nasceu, no interior, diz: 
volto aos meus pagos. 
 
 
Definição de paisagem 
A paisagem pode ser definida como um trecho da natureza capturado por um olhar, 
um grande livro que se desenrola diante de nós como uma montagem de textos aos quais é 
necessário ler e compreender seus nexos, como um código que se decifra, uma vez que se 
tenha a chave da leitura (Hoskins, 1955 p. 14). 
Para Henri Lefebvre, a paisagem é investida pelo simbólico e, no percurso do leitor, 
se toma ilusoriamente real. Para ele existem lugares de representação, onde as pessoas 
vivem no cotidiano, mas sendo imbuídos de conteúdo político e ideológico. Para ele, o 
espaço é, antes de tudo, uma construção social vivida, em cuja prática uma sociedade se dá 
a perceber em sua realidade cotidiana (48). O espaço é uma possiblidade filosófica 
tripartida, concebida, vivida e recebida como uma representação mental. O racional se 
naturaliza e a natureza se cobre de nostalgias que suplantam a razão levando em conta o 
que se denomina de representações de espaço (42). 
 
Construindo paisagens e lugares com a imaginação 
O homem organiza o seu território em função de suas necessidades vitais, às vezes 
respeitando o plano legado pelos seus antecessores, outras vezes não. O homem constrói 
seu lugar de acordo com uma visão que tem do mundo. Ele não instala a sua casa em 
qualquer lugar, não dispõe seus jardins, campos e outros artefatos de qualquer maneira. 
Mas seguimos o que a tradição impõe, consolidando forte senso identitário e afirmando a 
ideia de comunidade, residindo num contexto espacial limitado (Santos 62). 
No entanto, comoassinalou Westphal, muitos escritores preferem ignorar a 
realidade e escrever contra ela. (Westphal, 106). A verdade de um lugar, às vezes pode ser 
dispensável, ou desnecessária. O lugar sobre o qual se escreve é soberano em si. Como 
aconselha ainda Westphal, devemos ver os lugares como os escritores os viam. Não como 
são. Por exemplo, Shakespeare jamais foi à Itália, mas a sua Roma, em Julius Cesar, ou a 
 13 
 
sua Verona, em Romeu e Julieta, é incrivelmente real. Quando os autores franceses do 
século XVII como o dramaturgo Pierre Corneille (1606-1684) escreviam sobre a Espanha, 
onde jamais tinham posto os pés, essa era a sua Espanha. 
A colonização europeia no mundo, desde o Renascimento, foi uma história 
destinada a duplicar nomes europeus onde os europeus iam morar. Os portugueses foram 
mais contidos. Mas os espanhóis batizaram o México de Nova Espanha, os colonos ingleses 
de Nova Inglaterra, os holandeses fizeram da Ilha de Manhatam, sua Nova Amsterdam, e a 
um bairro dela, batizaram com o nome de outra cidade holandesa: Haarlem. Existem 
dezenas de cidades chamadas Paris nos Estados Unidos; existem lá Toledos, Cartagos, 
Romas e Syracusas. No Oceano Pacífico, temos ainda a Nova Bretanha, as Novas Hébridas 
e a Nova Zelândia. No Brasil, prosaicamente, preferimos trocar o nome indígena de 
Mecejana, no estado de Ceará, por Marechal Castelo Branco, ou em Minas Gerais, a antiga 
São José del Rei passou a se chamar Tiradentes. 
Muitos autores produzem lugares imaginários a partir de uma paisagem real como o 
escritor norte-americano, William Faulkner (1897-1962), que criou um mapa real do 
fictício município Jefferson Yoknapatawpha Co. Mississipi. (Turner, 1992, 213). Ou, como 
fez Érico Veríssimo (1905-1975), ao criar sua imaginária cidade de Santa Fé, no Rio 
Grande do Sul, onde ambientou sua trilogia o Tempo e o Vento, com as obras o Continente, 
O Retrato e o Arquipélago. Honoré du Balzac (1799-1850), construía os lugares dos seus 
romances, deslocando as ações de uma cidade real para uma cidade imaginária. Também 
José de Alencar (1828-1877), em O Guarani (1857), criou um lugar inexistente, 
transformando uma casa grande senhorial em um fantástico castelo, implantado nos 
contrafortes da Serra do Mar, junto ao rio Paquequer. 
 
Atividade 2 - Atende aos objetivos 1 e 2. Use 8 linhas para sua resposta. 
a) Defina lugar e ambiente. 
b) Como você descreveria a questão relativa à paisagem? 
c) O que são os lugares imaginados pelo escritor? 
Respostas comentadas 
a) Lugar é o espaço onde a vida acontece e as pessoas vivem. O lugar pode ser definido 
como os espanhóis chamam, a pátria chica, a pequena pátria onde vivemos, como a favela 
 14 
 
ou o bairro onde nasci e vivo. É produtor de temas literários, depósito da memória, sendo 
no lugar onde o escritor e seus leitores vivem. Já o Ambiente é um conjunto de fatores que 
junta todos os seres vivos orgânicos, elementos inorgânicos, articulando-se em 
ecossistemas conectados com toda a vida existente na face da terra. Mas o ecossistema é 
uma coisa complexa: uma comunidade de seres vivos e não vivos com os respectivos 
processos. 
b) A paisagem é uma palavra que admite inúmeras interpretações, antigas práticas, como 
um artefato humano associado a valores culturais. Nas línguas neolatinas, parece originar-
se do latim ad paganuus, lugar onde residem os pagãos, onde o cristianismo penetrava com 
dificuldade e onde os mitos antigos e naturais sobreviviam. A paisagem pode ser definida 
como um trecho da natureza capturado por um olhar, formando textos, códigos decifráveis, 
sendo ainda investida pelo simbólico. O homem constrói seu lugar de acordo com uma 
visão que ele tem do mundo, seguindo o que a tradição impõe. Seu senso identitário 
consolida a ideia de comunidade vivendo num contexto espacial limitado. 
c) Na literatura moderna, os escritores redigem, às vezes, mais contra a realidade do que a 
descrevem. A verdade de um lugar, às vezes, pode ser dispensável, ou mesmo desnecessária 
na literatura. O lugar sobre o qual se escreve é soberano em si, devemos vê-los como os 
escritores os viam, lugares imaginados. Por exemplo, William Shakespeare jamais foi à 
Itália, mas a sua Roma, ou a sua Verona, são convincentes. Autores franceses do século 
XVII, como Pierre Corneille, escreviam sobre a Espanha onde jamais pisaram. 
 
Educação Ambiental 
O surgimento da Educação Ambiental ocorreu como uma imposição nascida dos 
grandes debates preservacionistas, e das conferências, visando consolidar o mundo 
sustentável do futuro. Desde as últimas décadas do século XIX, as depredações da 
industrialização liberal forçaram os estudiosos e autoridades a, lentamente, repensar nossa 
relação com o ambiente a partir dos anos 1960. A agenda resultante fez da Educação 
ambiental um conceito vasto, aplicável a todos, jovens, educandos e indivíduos comuns. 
Um pouco de história ambiental. A partir dos anos 1950, as ameaças de graves 
desastres ambientais levaram homens e mulheres cientistas a esclarecer a opinião pública e 
a combater o poder dos lobbies industriais e corporativos. Numa reunião mundial ocorrida 
 15 
 
em Estocolmo, patrocinada pela ONU, foi criado a Comissão Mundial sobre o Meio 
Ambiente e Desenvolvimento (CMMA) em 1983. Seu relatório de grande impacto foi 
lançado em 1987, sob o título “Nosso futuro Comum”, popularizado como relatório 
Brundtland, (em referência à primeira ministra da Noruega que presidiu o CMMA – Gro 
Harlem Brundtland). Decorreram conferências como a do Rio de Janeiro, em 1992 
(conhecida como Eco-92), e outros encontros, onde se avaliaram os efeitos do 
desenvolvimento urbano e industrial sobre o meio ambiente e o cumprimento das metas 
convencionadas na Eco-92. Essa luta fez surgir um conceito novo, o de sustentabilidade, ou 
seja, continuar a trabalhar no planeta sem destruí-lo nem aniquilar suas populações. Era 
preciso progredir, mas não a qualquer preço. Tornava-se imperioso educar a juventude para 
o futuro! As políticas ambientais representavam notável progresso material, como as redes 
de água e esgoto, além do surgimento dos parques nacionais, das cidades, jardins e das 
florestas urbanas. Desses debates, surgiu a disciplina denominada Educação Ambiental. 
Existem muitas explicações sobre o que ela significa. A que foi elaborada pelo 
Governo Federal, além de clara, está de acordo com a nossa disciplina. Em princípio, a 
educação ambiental deve levar em conta a noção de que todos nós integramos o que se 
denomina de meio ambiente. A luta desta disciplina é eliminar a noção de que somos 
senhores da natureza, inculcado desde a antiguidade, esquecendo nossa vulnerabilidade e a 
do ambiente. No Brasil, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) foi proposta 
em 27 de abril de 1999, pela Lei nº 9 795. Parte do seu Art. 2° afirma: 
“A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação 
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do 
processo educativo, em caráter formal e não formal.” 
file:///C:/Users/Jose%C3%A9/Downloads/Politica_Nacional_EA.pdf 
 
Porque a Educação Ambiental é importante para o Brasil 
 
Na educação ambiental é preciso pensar e agir em termos de sustentabilidade, pois 
para nós, brasileiros, essa é uma questão indispensável. Historicamente, nossa relação com 
a natureza, desde 1500, não foi boa. Na época colonial, a terra era fator econômico 
abundante e a produção intensiva das culturas lucrativas, operadas com mão de obra 
file:///C:/Users/Joseé/Downloads/Politica_Nacional_EA.pdf
 16 
 
escrava, frequentemente esgotava as terras e levava os colonizadores a derrubar as matas e 
iniciar novos plantios. Para que recuperar terras degradas se havia tanta terra disponível? 
Como assinala Milton Santos, a produção de gêneros agrícolas ou minerais na 
América portuguesa era externalizada – o excedentevisava atender os centros europeus; a 
produção via na natureza um elemento hostil a subjugar e dominar, empregando 
procedimentos predatórios. Continuamos, ainda hoje, a predar e a destruir. Nossa relação 
com o ambiente ainda é muito imediatista, pensamos no hoje como os colonos do passado, 
mas não somos colonos, nosso país é independente! 
A educação para a sustentabilidade pressupõe o conhecimento da questão ambiental 
e de suas relações com a literatura e a imaginação literária. Educar apara a sustentabilidade 
é pensar no futuro, é preparar as novas gerações e, entre elas, vocês. Mas atenção!!! As 
épocas do passado, não pensaram o ambiente da mesma maneira que alguns de nós. 
Existem enormes diferenças no pensamento ambiental através do tempo, como estudaremos 
nas Aulas 2 e a 3. A crise ambiental é velha companheira da humanidade, no entanto, se no 
passado a destruição foi localizada e miniaturizada, ela agora é uma ameaça global. Estes 
últimos três anos foram os mais quentes que o planeta já viveu. E os mais destacados 
cientistas ligados ao clima e meteorologia, advertem: é a ação humana quem provoca esse 
aquecimento. Não podemos esquecer que hoje somos 4 bilhões de seres humanos vivendo 
em cidades. 
 
 O ambiente pode ser recuperado: a história do Parque Nacional da Tijuca: 
“O Parque Nacional da Tijuca foi criado em 6 de julho de 1961, mas sua história 
começa muito antes... 
Em 1861, as florestas da Tijuca e das Paineiras foram declaradas por D. Pedro II 
como Florestas Protetoras e teve início, então, um processo de desapropriação de chácaras e 
fazendas, com o objetivo de promover o reflorestamento e permitir a regeneração natural da 
vegetação. Ainda hoje é possível identificar pés de café, construções e ruínas das antigas 
fazendas, como a Solidão, Mocke e Midosi, entre outras. Pode-se dizer que a Tijuca está 
entre as áreas protegidas pioneiras no mundo, já que é mais antiga até do que Yellowstone, 
o primeiro Parque Nacional, criado em 1872, nos Estados Unidos. 
 
 17 
 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_-
_cascatinha01.JPG – IBASE 
 
A missão do reflorestamento foi confiada ao Major Manuel Gomes Archer, que 
iniciou o trabalho com seis escravos, alguns feitores, encarregados e assalariados que deram 
início ao reflorestamento. Em apenas 13 anos, mais de 100 mil árvores foram plantadas, 
principalmente espécies da Mata Atlântica. O substituto do Major Archer, o Barão 
d'Escragnolle, manteve os esforços de reflorestamento e iniciou também um trabalho de 
paisagismo voltado para o uso público e a contemplação. Sob coordenação do renomado 
paisagista francês Auguste Glaziou, a floresta foi transformada em um belo parque com 
recantos, áreas de lazer, fontes e lagos. A aleia de eucaliptos e algumas pontas que vemos 
hoje são resquícios deste trabalho. O plantio teve continuidade nos anos seguintes e, 
associado ao processo de regeneração natural, formou a grande floresta existente hoje no 
Maciço da Tijuca. 
Após anos de relativo abandono e esforços pontuais de manutenção, a Floresta da 
Tijuca teve um período de forte revitalização na gestão do milionário e mecenas Raymundo 
Ottoni de Castro Maya, na década de 1940. A revitalização incluiu a abertura 
dos Restaurantes Esquilos, Floresta e Cascatinha, a consolidação das vias internas e os 
recantos e projetos paisagísticos de Roberto Burle Marx. Em 1961, o Maciço da Tijuca - 
Paineiras, Corcovado, Tijuca, Gávea Pequena, Trapicheiro, Andaraí, Três Rios e Covanca - 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_-_cascatinha01.JPG
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_-_cascatinha01.JPG
 18 
 
foi transformado em Parque Nacional, recebendo o nome de Parque Nacional do Rio de 
Janeiro, com 33 km². Seis anos depois, em 8 de fevereiro de 1967, seu nome foi 
definitivamente alterado para Parque Nacional da Tijuca e, em 4 de julho de 2004, um 
Decreto Federal ampliou os limites do Parque para 39,51 km², incorporando locais como 
o Parque Lage, Serra dos Pretos Forros e Morro da Covanca. O patrimônio natural é, sem 
dúvida, o mais conhecido e consagrado no Parque, mas sua ocupação ao longo de quatro 
séculos gerou uma valiosa herança histórico-cultural, que hoje se constitui em um 
importante acervo a ser preservado.” 
Fonte: http://www.parquedatijuca.com.br/#historia 
 
Atividade 3 - Ela procura atender ao objetivo 1 e 2. 
a) A destruição ambiental afeta apenas a natureza? Relacione com o caso da Floresta da 
Tijuca. 
b) Detalhe a importância da educação ambiental. 
 
Respostas comentadas em 6 linhas. 
a) A destruição ambiental não afeta apenas a natureza e a população de uma dada região, 
afeta o planeta inteiro. Quando nas primeiras décadas do século XIX, o plantio 
descontrolado de café destruiu as matas em torno do Rio, resultando um desastre ambiental 
que secou os mananciais de água. A célebre cascatinha se deduziu a um filete de água. O 
governo imperial proibiu o cultivo do café, e determinou o replantio da cobertura vegetal 
destruída levando a produção cafeeira na direção do Vale do Paraíba. 
b) A educação ambiental prepara estudantes em todos os níveis e pessoas comuns para 
pensar e agir em termos de sustentabilidade. Ela é essencial para o Brasil, cuja relação com 
a natureza, desde a colonização, foi predatória, atendendo a produção externalizada 
empregando metodologia não-sustentável. A educação para a sustentabilidade pressupõe o 
conhecimento da questão ambiental e de suas relações com a literatura e a imaginação 
literária. Educar para a sustentabilidade é pensar no futuro. 
 
Boxe Multimídia 
http://www.parquedatijuca.com.br/#historia
 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como seria viver um mundo aniquilado pela destruição ambiental e uma guerra 
nuclear? Um filme norte-americano de 2000, realizado por dois cineastas 
afrodescendentes, os irmãos Hughes, responde a essa angustiante questão. Trata-se da 
película o Livro de Eli. Estrelado por Denzel Washington, Mila Kunis e o camaleônico ator 
inglês Gary Oldman. O filme retrata o mundo do desastre ambiental e da guerra nuclear. A 
perda da camada de ozônio faz com que os raios do sol incinerem a terra, sequem a água e 
aniquilem toda a vegetação da terra. Modernas e espetaculares cidades, como São Francisco 
da Califórnia, estão vazias; os sobreviventes vivem num mundo selvagem e de perigo 
permanente, onde todos são inimigos de todos. Vejam no filme a importância da literatura. 
Tanto o vilão do filme quanto o herói são, por serem idosos, depositários de saberes que 
ninguém mais conhece. Não há futuro no filme, só resta de concreto o passado que os 
antigos conhecem, mas surge uma promessa de vida na metamorfose da jovem personagem 
Solara. 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O-Livro-de-Eli-poster.jpg 
Fim boxe 
 
CONCLUSÃO 
O lugar é, portanto, essencial para nossas vidas e para a literatura. Nosso sentimento 
de pertença e enraizamento está ligado a ele. Ele alimenta nossa imaginação, e nossa 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O-Livro-de-Eli-poster.jpg
 20 
 
imaginação literária em especial. Durante séculos, o homem empregou o ambiente sem 
preocupações de preservá-lo para o futuro porque o caráter imediatista se impunha. A 
modernidade com suas revoluções e alterações de produção liberal, e consumo desenfreado, 
demonstrou que os recursos eram limitados. A terra era uma só e poderia cessar de nos 
nutrir. A luta contra a depredação ambiental e as ameaças globais integra um processo lento 
e multifacetado, afirmando a importância da educação ambiental como uma da chave para o 
futuro da humanidade. 
 
RESUMO 
O lugar é essencial para a nossa vida. A história no meio ambiente não é apenas a de 
desastres, mas a da construção de uma resposta efetiva por meio de políticas de 
recuperação, da criação das noções de ambiente eecologia, disseminadas por meio da 
educação ambiental. As artes que trabalheremos compõe um sistema simbólico e devem 
ser tratadas como formas de ação sobre o ambiente cujos resultados, sob a forma de 
representações, formam o universo de referências materiais produzidas pelo autor e suas 
obras como a cidade, a arquitetura, o alimento, os objetos. O lugar se converte numa 
referência básica porque é nele onde o autor vive, pensa, inventa e interpreta. 
 
Tema da próxima aula 
Analisaremos as diferentes maneiras de representar a natureza e o ambiente desde a 
Antiguidade até o Renascimento, bem como as justificativas que os homens elaboraram 
para justificar essas maneiras de pensar. O ambiente e seus problemas estão presentes na 
vida humana desde os primórdios. Até lá! 
 
LEITURAS RECOMENDADAS 
Canclini, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da 
globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 292 p. 
Pádua, José Augusto. (Org.) Ecologia e Política no Brasil, Espaço e Tempo. Rio de 
Janeiro: Iuperj, 1982. 
 
 
 21 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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2003. 
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Cambridge, Grand Rapids, William B. Eerman’s Publishing Company. 2001. 
Geertz, Clifford. O Saber Local. Novos ensaios em antropologia interpretativa. 4a Edição. 
Petrópolis: Editora Vozes, 2001. 
Grun, Mauro. Em busca da dimensão ética da educação ambiental. São Paulo, Papyrus, 
2007. 
Henighan, Tom. Natural Space in Literature: Imagination and Environment in Nineteenth 
and .twentieth century fiction and theory .Ottawa, Golden Dog Pree, 1992. 
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Lutwack, Leonard. The role of place in literature. Syracuse, Syracuse university Press, 
1984. 
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Aesthetics of the infinite. London and Seattle, University of Washington Press, 1997 
Norberg-Schulz, Christian. Genius Locci. Towards a phenomenology of Arqchitecture. 
London: Academy Editions, 1980. 
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Ponting, Clive. A new green history of the world. The environment and the collapse of 
great civilizations. London: Penguin books,2007. 
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de 2001. 
Shelley, P.B. A Defense of Poetry, in Poems and Prose, ed. Timothy Webb (London: J.M. 
Dent, 1995), 256). 
 22 
 
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Oxford, Blakwell, 1996. 
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Pennsylvania State University, 1992. 
Warnier, Jean-Pierre. A mundialização da cultura. Bauru: Edusc, 2000. 
Westphal, Bertrand. Geocriticism. Real and ficcional spaces.London, Palgrave Macmillan, 
2011. 
1 
 
EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
CURSO: Letras 
 DISCIPLINA: Lugar, ambiente, artes. 
Educação Ambiental. 
 
CONTEUDISTA: José Maurício Saldanha Álvarez 
AULA 2 – TÍTULO: A construção do pensamento ambiental na longa duração I. Da 
Antiguidade a Revolução Dual. 
 
 
META DA AULA: Apresentar como o ambiente e a natureza foram pensados e 
instrumentalizados numa perspectiva histórica e cultural desde a Antiguidade até 1789. 
 
OBJETIVOS 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
1) Identificar as diferentes interpretações da natureza e do ambiente desde a filosofia pré-
socrática até o Iluminismo. 
 
2) Analisar criticamente as produções do pensamento ambiental do período medieval até a 
modernidade que, se por um lado, aperfeiçoaram a vida do homem, produziram desastres 
ambientais apoiados na inevitabilidade do progresso e na racionalidade do capitalismo 
mercantil. 
 
3) Identificar nos achados ultramarinos europeus a progressiva ampliação de uma economia 
mundializada, enriquecida com a captura da biota americana, nas conquistas do Iluminismo, 
seguida da industrialização que determinou uma profunda alteração do meio ambiente e as 
primeiras medidas de sua preservação. 
 
 
 
 
2 
 
Como a Humanidade pensou o Meio ambiente? 
Cada época, historicamente, elaborou seus discursos justificativos em relação ao Meio 
Ambiente, expressando os laços que sua vida estabeleceu entre a natureza e o homem. A 
natureza vive por si e não precisa dos humanos, mas o meio-ambiente só existe se houver 
humanos que se relacionem com ele e seus ecossistemas. Por isso é que a história da natureza 
precede a história do ambiente (Sorlin e Warde, 2009,3). A Natureza nunca foi boa ou má. 
Sua fúria quando desencadeada, evidencia antes de tudo a fragilidade humana. Portanto, 
debateremos nessa aula as diversas formas de pensar a questão ambiental e algumas das 
representações elaboradas através da História desde o século VII A.C. até 1789. 
 
Representação através da história: a Grécia antiga. 
Os primeiros homens a pensarem a natureza e ambiente fora do domínio religioso 
foram os filósofos gregos. Vivendo entre os séculos VII A.C e V A.C., procuraram identificar 
o princípio de todas as coisas existentes no cosmo. Nomearam a natureza como physis, 
acreditando que ela era um movimento primordial envolvendo todos os seres humanos e o 
mundo natural. O filósofo Heráclito de Mileto (535 A.C. - 475 A.C.) pensava que a natureza 
ou a physis, desempenhava um papel semelhante ao do coração no corpo humano. O filosofo 
Sócrates, (469 A.C. – 399 A.C.), considerou que o domínio dos seres humanos sobre a 
natureza correspondia a um projeto dos deuses (eles eram politeístas como você viu no curso 
do professor André Alonso – Bases da Cultura Ocidental), destinando a natureza para o 
desfrute humano. 
Aristóteles (384 A.C. – 322 A.C.) reafirmou a submissão do mundo natural aos 
desígnios da humanidade sendo a natureza um processo em mutação. Para ele, todas as 
espécies existentes, de homens a animais, e vegetais, compunham um sistema (Hugues, 
2015,54.). Seu pensamento foi seguido por outros, como Teofrasto, lançando as bases da 
moderna visão sobre pesquisa e observação. Por outro lado, o pai da medicina grega, 
Hipócrates, acreditava que problemas ambientais se refletiam no corpo humano e resultavam 
em doenças tendo escrito um livro intitulado Ares, Águas, Lugares (Hugues, 2015, 61). O 
historiador grego, Diodoro de Sicília (90 A.C.-30 A.C.) quando fez um censo no mundo 
antigo, empregou o critério da alimentação para classificar as populações (Cascudo, 2017,20). 
No período conhecido como Helenístico, situado entre os séculos IV A.C e I A.C., 
estados monárquicos como o reino dos Ptolomeus, no Egito, Éfeso, na Ásia Menor e Siracusa, 
na Sicília, incentivaram a criação de obras de engenharia complexas como o farol de 
Alexandria e a máquina de Anticítera, considerada pelo instituto Smithsonian, como o pai do 
3 
 
atual computador. Sábios como Hierôn de Alexandria e Arquimedes de Siracusa (287 A.C – 
212 A.C.), criaram equipamentos complexos. Eratóstenes escreveu duas obras, na primeira, 
comprovando a geometria do planeta Terra e, na segunda, descrevendo todas as regiões 
conhecidas e habitadas, calculando, ainda, a redondeza do planeta com notável precisão 
(Roller, 2010, 263). 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antikythera_model_front_panel_Mogi_Vicentini_2007.JPGBox 1 
Na década de 1960, o ecologista norte-americano Eugene Odum estava trabalhando 
com uma teoria na qual um ecossistema holístico compunha uma teoria unificada. O 
surgimento de novas tecnologias, a atualização científica em relação à ecologia e ao ambiente, 
começou a se aproximar, paradoxalmente, das antigas crenças gregas. Segundo elas, todos os 
organismos existentes na terra estavam juntos numa única entidade viva que os gregos 
denominavam de Gaia, identificada como mãe-terra. Modernamente, essa hipótese ressurgiu 
quando na corrida espacial, no laboratório de Pasadena, técnicos debateram a ausência de vida 
na lua e em vários planetas. Ao visitar essa instituição, o cientista britânico James E. 
Lovelock (Worster, 1994, 379), que trabalhava com medicina, química, engenharia, 
cibernética e fisiologia, e estudioso dos gases atmosféricos, consolidou o que denominou de a 
Teoria de Gaia (também conhecida como Hipótese de Gaia). 
 James E. Lovelock sustentava que o planeta Terra é um organismo vivo, capaz de 
controlar e modificar suas condições ambientais - o que não acontece com outros planetas do 
sistema solar. 
4 
 
Na religião grega, a deusa Gaia era considerada a mãe de todos os seres vivos, 
personificando o planeta Terra. Quando religiosos cristãos de todas as confissões insistiam 
que Gaia era Deus, Lovelock negou essa pretensão. Ele replicou que o que tentava descobrir 
era como em culturas não judaico-cristãs, o meio-ambiente foi pensado e representado. 
(www.significados.com.br/gaia/). 
Lovelock residia no Wiltshire (onde fica Stonehenge), seu vizinho e parceiro de 
animadas conversas era o renomado escritor britânico William Golding (1911-1993), prêmio 
Nobel de Literatura de 1983. Golding sugeriu a Lovelock o nome Gaia porque apontava para 
uma entidade coletiva com atributos de uma pessoa. Curiosamente, essa teoria recebeu de 
braços abertos as ideias holísticas de Eugene Odum. 
Fim do Box 
 
Teoria geocêntrica 
Os gregos foram os primeiros a separar a religião das concepções sujeitas a debate 
“científico”. Outras civilizações, como as mesopotâmicas e a Faraônica, colocavam o debate 
natural dentro da religião. As explicações sobre os fenômenos naturais residiam na 
cosmogonia dominante. A concepção que o filósofo Aristóteles (384 A.C. - 322 A.C.) nutria 
em relação à Humanidade e visão da Natureza, colocava o planeta Terra como o centro do 
universo. Essa ideia foi ampliada pelo astrônomo e cartógrafo grego Ptolomeu (90 D.C. – 168 
D.C.), que viveu em Alexandria, no Egito, num ambiente de intenso debate e experimentação. 
Ptolomeu elaborou a teoria geocêntrica, na qual o planeta Terra ocupava uma posição central 
no sistema solar. Quando o cristianismo se tornou dominante, essa teoria foi bem vista porque 
Jesus Cristo havia vindo a Terra para redimir a humanidade. 
 
O mapa de Ptolomeu. A Europa é perfeitamente reconhecível, bem como a Arábia e a Índia. A China é indicada 
como “Sina”. Wikipédia Commons. 
http://www.significados.com.br/gaia/
5 
 
A pensadora Hipatia de Alexandria (351 D.C.- 415 D.C.), uma mulher pioneira, foi 
importante ao refletir sobre o planeta Terra e sua posição relativa no sistema solar. Filha do 
filósofo Theon, era a cabeça da escola neoplatônica da cidade de Alexandria. Acreditava que 
o homem podia atingir a prática do bem pela filosofia. Escreveu vários tratados e considerava 
ser o universo regido por leis matemáticas. Empregou instrumentos de precisão para 
aprimorar suas ideias. Foi morta por fanáticos religiosos que a consideravam pagã e inimiga 
da fé que professava. (http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica-
historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras). 
 
Pensando natureza no mundo antigo 
Por volta do século I A. C., o Império Romano era dominante no Ocidente, norte da 
África, e incorporou todo o mediterrâneo oriental. Suas conquistas consolidaram um império 
onde importantes aquisições culturais se afirmaram como a base do mundo moderno. Sua 
literatura cresceu espantosamente, abrangendo teatro, história, ciências e ficção como o 
célebre Satyricon, de Petrônio. Haviam inúmeras bibliotecas subvencionadas pelo Estado e 
uma produção de papel e de cópia de livros. 
As realizações produzidas por eles no terreno da praticidade da vida material 
resultaram em obras de engenharia, destinadas ao conforto humano. Assim, as cidades 
receberam abundante fornecimento de água potável por meio de complexos aquedutos. Havia 
uma rede urbana de esgotos, a edificação de pontes, estradas, canais, portos e grandes 
construções de vários andares como as ínsulas, prédios de apartamentos, e os anfiteatros. No 
mundo antigo, os romanos levaram ao máximo a submissão da natureza aos desígnios 
humanos criando um instrumental técnico, só superado a partir da Revolução Industrial do 
século XIX. Sua agricultura produzia grandes excedentes empregando técnicas agrícolas 
sofisticadas, porém o uso intensivo e não sustentável de inúmeros recursos naturais contribuiu 
para sua queda final. 
 
 
Exemplo de rua pavimentada romana. Foto do Autor. 
http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica-historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras
http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica-historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras
6 
 
O conjunto de seus monumentos, tais como cidades planejadas em tabuleiro de xadrez, 
agricultura racionalizada, obras de engenharia, arcos de triunfo marcaram de maneira 
indelével a paisagem romana. 
 
Roma e o domínio uniforme da paisagem 
Este traçado permitiu a elaboração de métodos de controle espacial e numérico por 
parte das administrações municipais. Ele implantava a cultura, a cidadania romana, as 
magistraturas, o direito, o ius gentium, as relações mercantis. As cidades romanas 
apresentavam um aspecto de uniformidade e unidade: urbi et orbi, cidade e mundo. Seus 
traçados em xadrez “representam um modo elementar de fazer ruas através do território por 
intermédio do tabuleiro” (Sennett, p.1992, p.47). 
 
 
Placa indicativa de quarteirão, rua e moradia em Herculano, foto do Autor. 
 
Esse domínio do ambiente empregando técnicas e mão de obra escrava, em proveito 
do bem-estar humano, está na raiz da filosofia estoica romana, para quem a natureza havia 
sido feita para a utilidade e conforto do homem. O filósofo Plínio, o Velho (23 D.C. - 79 
D.C.), escreveu sua História Natural (77-79 D.C.), analisando a natureza e seus fenômenos. 
Por outro lado, os romanos refinados como Plínio, o Jovem (61 A.C. - 113 A.C.), mostravam-
se apaixonados pela natureza, desenvolvendo uma noção de gosto paisagístico. Os romanos 
sentiam e experimentavam a paisagem. Seus lugares possuíam uma importância simbólica e 
alguns estudos recentes sugerem que a posição social relacionava-se à visão da paisagem. Nas 
áreas de produção agrícola, criaram uma interatividade de monumento e paisagem, cujo 
conceito parece ter tido um grande significado. Trata-se de um espaço que combina estética e 
prazer sensual como os jardins, que encerram uma tensão entre o controle paisagístico e a 
fertilidade descontrolada da natureza (Spencer, 15). 
Edificavam gigantescas villas, ou casas de campo, para lazer e pensar em áreas 
privilegiadas em termos de paisagem pelo império. Plínio, o Jovem, construiu uma villa nas 
7 
 
montanhas da Toscana, outra no mar, no Laurentino, e finalmente uma terceira, no lago de 
Garda, no norte da Itália, que assim descreveu: “O aspecto do lugar é belíssimo. Imagina um 
anfiteatro imenso, tal como só a natureza é capaz de forjar. A planície, larga, espalhada, é 
cercada de montanhas e nos cumes das montanhas há uma floresta elevada e antiga” (Spencer, 
114). 
Os romanos, atendendo a um grande mercado consumidor, empregavam complexos 
maquinismos. Sua produção de tecidos era vasta, porém a metalúrgica, a produção de vidro e 
cerâmica, era alimentadapor uma intensa atividade mineradora, ambas altamente poluentes e 
grandes consumidoras de energia hidráulica e lenha. O couro, que era produzido em larga 
escala, era produto descrito pelo geógrafo Strabão como malcheiroso e manufaturado em 
estabelecimentos que, localizados nas cidades, exalavam gases fétidos (Ponting, 354). Logo a 
poluição ambiental resultante se tornou um grave problema. 
Como apontamos acima, a produção metalúrgica trabalhava no refino de metais, em 
particular o ouro, que requeria uma grande quantidade de mercúrio, elemento poluente e 
cancerígeno. Dessa maneira, os romanos teriam aspirado uma grande quantidade de metais 
pesados ao longo de suas existências. O poeta Horácio (65 AC – 6 AC), relata a existência de 
edifícios enegrecidos por fuligem e nuvens pesadas de poluição sobre a cidade (Mark J. 
Jacobson, 2002, 82). Muitos romanos eruditos sabiam que as ações industriais exercidas sobre 
o ambiente eram deletérias (Hughes, 2004, 74). 
 
Mapa das estradas da península ibérica sob Roma. Wikipédia commons. Hispania roads, Redtony. 
 
Se os antigos greco-romanos viam a natureza, florestas, montanhas, grutas, rios, como 
residência divina, isso logo mudou. No período imperial, exploraram os recursos ambientais 
velozmente (Hughes, 2014, 77). Nas geleiras da Groelândia, os depósitos de gelo antigo, 
correspondentes à época de apogeu do império romano, apresentam concentrações poluidoras 
elevadas correspondendo a 10 por cento dos níveis mais modernos. Concentram-se lá, 
8 
 
também, o registro das intensas atividades metalúrgicas e mineradoras da China da Dinastia 
Sung (960 - 1279). 
 
Atividade 1. Atende ao objetivo 1. 
1. Por que para os filósofos gregos a natureza era essencial à vida de todos os seres? 
2. Descreva porque o pensamento grego helenístico conseguiu avançar na questão da 
interpretação da natureza, criando equipamentos e consagrando a teoria geocêntrica. 
3. Explique porque a relação romana foi ambígua em relação à natureza. 
 
Respostas comentadas 
1. Os filósofos gregos foram os primeiros pensadores a se debruçar sobre o estudo da natureza 
que denominavam physys, um movimento primordial envolvendo todos os seres vivos num 
processo dialético no mundo natural. Outros, como Hipócrates, associavam um ambiente 
sadio com a saúde humana, no respeito às normas de higiene e boa alimentação. Eratóstenes 
insistia no avanço da investigação e das pesquisas naturais. 
2. Os gregos helenísticos beneficiaram-se de equipamento de precisão capazes de representar 
e alterar o ambiente, como a máquina de Anticítera e as de Arquimedes de Siracusa. E o 
filósofo Ptolomeu de Alexandria, criou um modelo para o universo: a teoria geocêntrica, 
colocando o planeta Terra como o centro do sistema solar, teoria que perdurou até o século 
XVI. 
3. Apesar de identificar nela critérios de beleza, seu caráter utilitário gerou intensa exploração 
ambiental, produzindo poluição atmosférica registrada nas geleiras da Groenlândia e desastres 
ambientais como secas, salinização e erosão dos solos. Seu olhar objetivo criou uma trama de 
cidades planejadas, estradas pavimentadas, rede de água e esgotos, pontes e grandes 
máquinas, além do manuseio calculado da luz solar e da água. 
 
A Idade Média 
Após o colapso do Império Romano no ano de 414 D.C., a crise subsequente que 
levou a desarticulação urbana e ruralizarão, insegurança, fragmentação política e declínio 
cultural, foi conhecida como Idade Média. Ela não foi uma só, mas se dividiu em duas 
grandes fases. Inicialmente do ano 476 D.C. até o ano 1000, foi grande a precariedade da vida 
material e do conhecimento. As invasões e a crescente insegurança reduziu a população 
esvaziando as cidades. A natureza reocupou imensas áreas cultivadas e nessas regiões, os 
lobos chegavam à porta das pessoas. A Igreja, que sobreviveu ao Império Romano, 
9 
 
reafirmava o predomínio da fé sobre a razão. Deus explicava tudo, sendo um erro e um 
pecado estudar a Natureza. Nesse início da Idade Média, filósofos da Igreja como Santo 
Agostinho, Isidoro de Sevilha e Dionísio Areopagita, pensavam a Natureza como obra de 
Deus, sendo vedado ao homem o seu entendimento (Meirinho e Pulido, 2011, X). 
Desde o ano 1000 e do século XII em diante, ocorreram mudanças graduais como um 
lento, mas constante crescimento mercantil urbano, acelerando o volume de trocas com o 
mundo muçulmano, resultando em um avanço cultural. O feudalismo e o poder da nobreza 
territorial, dominantes na época, fizeram surgir residências fortificadas - o castelo - que 
permitia o exercício do poder local, ou seja, senhores eram donos do lugar. 
 
Castelo em Sabugal, Portugal. Foto do Autor. 
 
Surgiram os estados nacionais centralizados, com suas monarquias, como na 
Inglaterra, Portugal e Franca; havia cidades que eram repúblicas, como Veneza. Cresceram as 
lutas urbanas travadas entre o povo comum contra os poderosos na Europa Ocidental e, em 
especial, na Itália. No século XIV até o XV, o incremento desse contexto de expansão 
mercantil, cultural e urbano, originou-se o Renascimento. No século XIII, surgiu a primeira 
perspectiva de pensamento ecológico, com São Francisco de Assis, para quem o homem era 
igual e não superior às demais criaturas (Almino, 1993, 11). O que afetou bastante esse novo 
olhar foi a Espanha árabe e sua florescente cultura. 
 
Da Espanha árabe à ressurreição urbana ocidental 
Na vizinha Espanha muçulmana, pensadores árabes de Toledo, Sevilha, ou Córdoba, 
lecionavam em universidades, que ficavam nas mesquitas. Eles traduziam filósofos gregos, 
catalogavam os elementos naturais, e produziam livros. Além do contato com o Ocidente, eles 
conheciam o Oriente e a África, onde a cidade saariana de Timbucu tinha uma universidade 
famosa. Esse imenso mundo mulçumano falava e escrevia em árabe, e se estendia da Europa à 
China. 
10 
 
 
 
Rotas de comércio saarianas medievais com se localiza Tombuctu. Wikipédia, Por T L Miles. 
 
Construíram um notável sistema de irrigação na Andaluzia, Espanha, produzindo 
frutas cítricas disseminadas na Europa. Sabe por que a tangerina tem esse nome? Fácil, 
porque vem da cidade de Tanger. As pessoas que comiam os cítricos, e se banhavam com 
mais frequência, viviam mais e melhor. Ao interpretar o mundo natural em seus livros de 
papel, os pensadores hispano-árabes contribuíram muito para o posterior avanço da ciência 
moderna, em especial, da medicina e da farmacopeia (Meirinho e Pulido XV). 
 
 
 
Tratado árabe sobre plantas medicinais. Observe o formato livro. Wikipédia. 
 
Na Europa, a racionalidade crescente levou a redução do pensamento religioso cristão 
sem perda da fé. As universidades na Europa cristã surgiram no século XIII, como as árabes 
anteriormente, junto a centros religiosos como a Mesquita de Córdoba (Hughes, 2002, 205). 
Havia agora grandes universidades como a de Paris, a Sorbonne, Pádua, Bolonha, Coimbra, 
Salamanca, Oxford, Upsala. Pensadores em toda a Europa viajavam disseminando o saber e 
ideias novas. A concepção de natureza e de Deus mudou. Santo Tomás de Aquino, indagado 
da natureza de Deus, respondeu que Deus era Luz e o primeiro motor, que movia a tudo e não 
11 
 
era movido por nada. Nos debates, despontou a expressão natureza, derivado do latim natura, 
com o significado de "fonte”, "ser natural”, e "fazer nascer”. 
 
Manuscrito medieval mostrando doutores na Universidade de Paris, wikipédia. 
 
O Renascimento 
Enquanto isso, na Itália, as práticas mercantis se sofisticavam com moeda, sistema 
bancário, letras de câmbio. As cidades viram sua população crescer, e com elas a circulação e 
produção de mercadorias, o assalariamento a economia monetária, o algarismo arábico e o 
comércio internacional. Mas tudo isso era feito em tramas, isto é, em associações que se 
solidificavam como redes que se estendiam pela Europa e logo atingiriam o mundo inteiro.A cidade de Siena, Alegoria do bom e do mau governo, 1328, Ambrogio Lorenzetti, Wikipédia. 
 
Desde o final do século XIII em diante, o ressurgimento da vida urbana em contato 
com o Oriente levou os pensadores ocidentais a resolver, de maneira prática, seus problemas 
concretos. Por exemplo, um novo remédio para uma doença, um novo tipo de vela para um 
navio, um cálculo para erguer uma parede, um guindaste, ou como fazer um relógio 
mecânico. Substituindo as técnicas obsoletas por outras mais novas, mais avançadas, o 
12 
 
homem tornou-se o homo faber. Ele fazia coisas e transformava a natureza que o cercava 
mediante a ação do seu saber (Moreira, 2014, 90). O inglês e filósofo franciscano, Roger 
Bacon (1214-1294), estudando nas universidades de Oxford e Paris, desligando-se da 
Escolástica, elaborou as leis para a natureza, consagrando a fórmula: observação, hipótese, 
experimentação. 
Enquanto isso, os reis de Portugal, Inglaterra, França, e os reinos espanhóis cristãos, 
preocupavam-se com a preservação de florestas cuja madeira era empregada na construção 
naval. Enquanto isso, na Inglaterra, a preservação das matas constava da Magna Carta 
inglesa, a ponto de ¼ do país se tornar reserva florestal, preservando a caça do rei (Donald 
Hugues, 90). A Europa passou por sérias crises, como a Peste Negra, que eliminou metade da 
população, a guerra dos Cem Anos, que dividiu a Europa entre o apoio à França ou à 
Inglaterra. No entanto, ao cessarem essas mortandades, as populações voltavam a crescer, 
enquanto a fome continuava a espreitar. 
 
O racionalismo renascentista e o predomínio científico do homem sobre a natureza 
O Renascimento na Itália articulou novas forças econômicas e políticas, provocando 
um recuo da nobreza e do papado. Lançou as bases de um modelo de sociedade laica que 
perdura até hoje (Hardt e Negri, 2001,89). Começou uma revolução visual no campo da arte 
que sustentou avanços técnicos. O crescimento da população urbana italiana, ocupada na 
produção artesanal e mercantil, passou a consumir alimentos produzidos por empreendedores 
nos cinturões agrícolas circunvizinhos. Matas próximas às cidades davam lugar a plantios 
racionalizados. Pastagens surgiam onde pântanos eram drenados. Novas terras eram povoadas 
por gente em movimento, mas o desmatamento assoreava os rios, e provocava falta de 
combustível nas cidades. A produção de cereais e as pastagens para ovelhas aceleraram a 
desertificação (Hughes, p. 93). A fome era um flagelo que seguia de perto as populações. Um 
comerciante da cidade de Florença, Itália, dizia que toda a área plantada nas proximidades de 
sua cidade permitia alimentar a população apenas por cinco meses no ano, o resto teria de ser 
importado. 
Os avanços da medicina com escolas, como a de Salerno e Mântua, igualmente na 
Itália, eram notáveis. Graças ao contato com os árabes, sugeriram uma medicina preventiva e, 
coroando o ponto de vista do homo faber, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico contestou 
a concepção ptolomaica aristotélica geocêntrica. Na sua teoria heliocêntrica, a terra deixou de 
ser o centro do universo, para ser um apenas mais um planeta no sistema governado pelo sol. 
Isso causou uma revolução. 
13 
 
 
Página da obra de Copérnico mostrando o sol no centro do sistema solar. 1520-1541.Wikipédia. 
 
Atividade 2. Atende ao objetivo 2. 
1. Comente como o Renascimento abriu a natureza à exploração econômica. 
2. Descreva com a Europa sofreu crises, mas as superou e abasteceu suas cidades mercantis 
com elementos de controle natural. 
3. Como a cultura racional renascentista deu o homem "criado à imagem se semelhança de 
Deus", a certeza de ser o centro do mundo natural? 
 
Respostas comentadas 
1. O Renascimento implicou na Itália em uma abertura da natureza ao sistema econômico de 
lucro mercantil e de retificação da paisagem, submetida aos interesses sociais e econômicos. 
2. Apesar das crises como a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos, a Europa recuperou seu 
impulso criando medidas de controle sobre as florestas reais e criando, ao redor das cidades, 
extensa produção agrícola racional destinada aos mercados, o que resultou em alguns 
desastres ambientais. 
3. Nas cidades mercantis um novo tipo de cultura começou a ganhar corpo, um conjunto de 
saberes racionais forneceu ao homem a convicção de ser o centro do mundo e da natureza, 
como obra suprema de Deus, criando a teoria Heliocêntrica. 
14 
 
 
Leonardo da Vinci. Ilustração. O homem vitruviano 
Wikipédia. 
A Modernidade 
Desde o Renascimento, a Modernidade (que se definia como crise), se tornou um 
processo de superação de saberes. Uma invenção era afeiçoada dando origem à outra. E 
surgiu a imprensa! No século XVI, os livros já não mais eram feitos à mão, mas impressos, o 
que os barateava e disseminava o conhecimento. Com a reforma protestante, a unidade da 
Europa se perdeu e os estados nacionais lutavam pela supremacia. Entre 1480 e 1500, o 
campo de ação da Modernidade se expandiu. Os portugueses descobriram o Brasil, dobraram 
a África, chegaram ao Índico e a Ásia. Os espanhóis circundaram o globo e conquistaram o 
México e o Peru. Esse mundo conquistado foi ligado às redes europeias de comércio 
internacional, resultando na primeira etapa da mundialização. 
 
 
Detalhe do Mapa Miller de 1519, Terra Brasilis, mostrando o Brasil e o produto principal que denominou o 
lugar, o pau-brasil. Wikipédia, Original da Biblioteca Nacional da França. 
15 
 
O achado das Américas possibilitou ao Velho Mundo dispor de metais preciosos, mas 
também de uma surpreendente riqueza natural: os gêneros alimentícios, altamente nutritivos, 
gerados pela biota Americana. Vocês os conhece? Listemos alguns: o milho, o cará, a 
mandioca, as batatas, o cacau, a erva-mate, o abacate, e o fumo. Estes gêneros seriam 
importantes na alimentação da Europa e, progressivamente, se tornaram básicas em suas 
dietas. Ao mesmo tempo, a chegada dos colonizadores resultou em desastres ambientais 
devido ao imediatismo dos seus projetos. Por exemplo, os portugueses introduziram coelhos 
na ilha da Madeira, destruindo a cobertura vegetal. Mais tarde, os ingleses fizeram o mesmo 
na Austrália do século XVIII, desembarcando os coelhos, além de ovelhas, gerando grave 
desequilíbrio ambiental (Ponting, p.78). 
Box 6. 
A Modernidade, segundo os pensadores Hardt e Negri, só pode ser definida como 
crise por que: “A Modernidade não é um conceito unitário, mas aparece, de preferência, em 
dois modos. O primeiro modo é o que já definimos, um processo revolucionário radical. Essa 
modernidade destrói suas relações com o passado e declara a imanência do novo paradigma 
do mundo e da vida. Desenvolve conhecimento e ação como a experiência científica e define 
uma tendência política democrática, colocando a humanidade e o desejo no centro da história. 
Do artesão ao astrônomo, do mercador ao político, na arte como na religião, o material da 
existência é reformado por uma vida nova” (2001, P. 92). 
 
Pintura renascentista mostrando a cidade ideal no século XV, dotada de rigoroso desenho geométrico, limpa e 
nova. Wikipédia, atribuído a Fra Carnevale. 
 
O século XVII 
O século XVII começa com a edição do primeiro romance conhecido, da autoria do 
espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). Trata-se de uma obra revolucionária e inovadora, 
intitulada O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha, cuja primeira edição teve a sua 
16 
 
primeira parte editada em 1605, e a segunda parte, em 1615. De certa forma, Cervantes 
escreve contra a realidade, preferindo refazer o mundo com a imaginação. Um dos episódios 
mais emblemáticos é o dos moinhos de vento, que o herói tomou por gigantes e os apontou 
para seu companheiro Sancho Pança: “Que gigantes? Dijo Sancho Panza. Aqueles que ali ves, 
respondio su amo, de los brazos largos, que los suelen tener algunos de casi dos 
léguas.”(1844,p. 32).Sua obra Novelas Exemplares, em parte influenciada pelo italiano 
Bocaccio, traz consigo uma novidade que é o fato de ser um conjunto de histórias curtas. 
 Apesar da intolerância inquisitorial do início do século XVII, o estatuto do filósofo 
experimentador se tornou inatacável. O avanço das ciências fez com que, no final do século, 
fosse criada a noção de infinito. A imprensa se disseminava pelas cidades, graças às suas 
folhas noticiosas. 
Nesse interim, o filósofo francês René Descartes (1596-1650), considerou a natureza 
como uma máquina de relojoaria e o homem poderia alterá-la mediante o emprego de 
técnicas. O inglês Francis Bacon (1561-1626) justificava a separação entre natureza e 
sociedade, considerando a submissão da primeira à humanidade, por meio das técnicas 
mecânicas. Consagrou a experimentação como método de comprovação cientifica (Latour, 
2000, 30-31). Os homens nas cidades começaram a ter sua vida regulada não mais pela 
natureza, ou pelas estações do ano, pela noite ou pelo dia, mas pelo relógio. 
O século XVII foi abalado pela guerra dos Trinta Anos, que iniciou como uma querela 
dinástica ente católicos e protestantes e terminou com o tratado da Vestefália, de 1648, que 
acordou a paz e definiu o Estado-Nação como o principal ator nas relações internacionais. 
 
Banquete da Guarda Civil de Amsterdã em celebração da Paz de Münster Bartholomeus van der Helst, 1648. 
Wikipédia. 
 
Os Estados passaram a centralizar os poderes, mediante políticas astutas que incluíam 
a cultura. Isso levou o ministro das finanças do rei francês Luís XIV (1638-1715), J. B. 
Colbert (1619-1683), a prestigiar a ciência e os cientistas para glorificar a França, premiando 
a produção do conhecimento que agregava valor ao país e seus produtos (Goldstone, 1991, 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paz_de_M%C3%BCnster
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Bartholomeus_van_der_Helst&action=edit&redlink=1
17 
 
229). Ele criou Academias que antecedem os nossos ministérios. Interveio na economia, 
incrementando a produção de mercadorias e navios dentro de uma política de estado 
denominada de Mercantilismo. Na Inglaterra, foi criado o Real Colégio de Cirurgiões, o 
observatório Real de Greenwich. Surgiu o primeiro museu conhecido, o Ashmolean, enquanto 
o francês Gabriel Naude (1600-1653) elaborou para seu rei a primeira biblioteca como uma 
alavanca para o conhecimento. 
 
Luís XIV, Rei de França e Navarra. Wikipédia. 
 
Atividade 3 
Assista uma película anglo-americana chamada Restoration (1995), de Michel Hoffman, que 
demonstra essa questão do patrocínio estatal ao conhecimento na Inglaterra. Seu título em 
Português é O Outro lado da Nobreza. Assista-o e produza um texto de 15 linhas mostrando a 
relação entre política e ciência. 
 
Expansão da Ciência 
No século XVII, ocorreu um veloz avanço na investigação das ciências da natureza. 
Surgiram astrônomos como Galileu Galilei e Kepler, e o britânico Halley que, por meio de 
tabelas matemáticas, descobriu o cometa que leva seu nome. O cientista inglês Isaac Newton 
escreveu no frontispício do seu livro mais importante: “Eu vou demonstrar agora como 
funciona o sistema do mundo”. Harvey descobriu a circulação do sangue, e Leenwenhoeck o 
microscópio e a natureza miniaturizada. Boyle e Torricelli descobriram a matéria e a 
atmosfera. Malpighi descobriu a datação das arvores e o princípio dos vasos capilares. 
 
 
18 
 
Atividade 4. Atende ao objetivo 3. 
1. O século XVII nos surpreende como a consolidação do estatuto do cientista e por grandes 
descobertas. Cite algumas proezas científicas desse tempo. 
2. O estado monárquico apareceu e desempenhou uma posição de mando e encomenda em 
relação à ciência, por quê? 
 
Respostas comentadas 
1. No século XVII o racionalismo e a ciência avançaram velozmente para o centro dos 
debates. Filósofos como René Descartes, afirmaram que o universo era como um relógio 
preciso, enquanto Roger Bacon inventou o método científico. Descobriu-se a data nos anéis 
das árvores, foram inventados o telescópio, o microscópio e descoberta a circulação do 
sangue. 
2. O Estado procurou estimular as ciências como política pública do poder. Além de intervir 
na economia como o ministro francês J. B. Colbert, os monarcas criaram instituições 
modelares produzindo conhecimento oficial, museus e bibliotecas. 
 
O Iluminismo e o confronto entre a sociedade e natureza 
No século XVIII, entre 1701 e 1789, surgiu o Iluminismo, cujo ambiente cultural 
abrangeu a Inglaterra, a França, além das regiões de fala alemã e as colônias inglesas que 
seriam, futuramente, os Estados Unidos. Surgiu a Enciclopédia, publicação coletiva, dirigido 
por Denis Diderot (1713-1784), reunindo todo o conhecimento humano, substituindo o 
critério de autoridade pelo da experimentação (Falcon, 1988, 83). 
 
Capa da Enciclopédia, Wikipédia. 
19 
 
Participavam do Iluminismo, ou das Luzes, engenheiros, arquitetos, pensadores, 
profissionais liberais, empresários, militares, clérigos católicos e protestantes, intelectuais 
pobres, aristocratas e artistas que, dotados de razão, impunham uma nova ordem lógica ao 
mundo. Logo criticaram o Antigo Regime, desencadeando a Revolução Francesa de 1789. Na 
Inglaterra, como veremos na Aula 10, os Iluministas se reuniam em noites de lua cheia, na 
cidade de Birmingham, bem como nos cafés elegantes de Londres. 
Para os filósofos das Luzes, o homem, embora dominante, possuía uma posição de 
solidariedade com o restante da natureza, criando um mundo da cultura espelhado no conceito 
de civilização (Falcon, 1988, 58). Desse movimento intelectual surgiu uma ampla divisão 
entre as ciências, enquanto o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), consagrou o 
divórcio entre o Homem e a natureza, e entre os animais e o Homem. 
 
O Iluminismo e a natureza 
A tensão existente entre razão e a emoção, se refletiu nas obras dos filósofos Voltaire e 
Rousseau. O primeiro era ligado a razão e à lógica, enquanto o segundo se voltava para a 
natureza e sua espontaneidade emotiva. Rousseau publicou o Emilio, ou a Educação Natural e 
a Nova Heloísa, valorizando a sensibilidade e o instinto natural do homem primitivo. Para ele, 
a sociedade era corruptora e apenas a natureza podia formar um homem melhor (Falcon, 
1988, 7). Por outro lado, o público encantou-se com as aplicações da ciência, e aplaudiu 
entusiasmado, o primeiro balão tripulado a voar sobre a cidade de Paris. Logo, seguiu 
avidamente as notícias sobre sucessos da técnica. Surgiu a doutrina da Fisiocracia com o 
filósofo Du Quesnay, valorizando a importância da agricultura sobre a indústria como a 
grande produtora de riqueza. Valorizaram o livre pensamento econômico, surgindo a 
expressão Laissez-faire, laissez-passer, - Deixai fazer, deixai passar - defendendo o livre 
empreendedorismo nos negócios sem que os empresários fossem perturbados pelo governo. 
20 
 
 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Wikipédia. 
 
Em 1776, o pensador escocês Adam Smith (1723-1790), publicou uma obra 
fundamental de onde nasceu o liberalismo. Pretendendo incentivar a virtude humana, 
defendeu o livre cambismo e o mercado como o supremo regulador da vida econômica e 
social. A modernidade ganhou enorme aceleração nas duas grandes revoluções. A política, 
que eclodiu nas treze colônias inglesas em 1776, no Haiti e na França, em 1789. A Revolução 
eliminou os privilégios de classe e nascimento, iniciando o princípio da igualdade entre os 
homens. Na França, o Antigo Regime havia praticamente uniformizado as leis do reino 
sugerindo a igualdade dos indivíduos que a Revolução, triunfando, transformou em cidadãos 
(Starobinski, 162). 
Enquanto isso ocorria a Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra e, em 
seguida, disseminou-se pela Europa e América do Norte. Modificando as bases da produção 
de bens e serviços, substituiu os processos artesanais

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