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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE AULA PARA EAD (MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO) CURSO: Letras DISCIPLINA: Lugar, ambiente, artes. Educação Ambiental CONTEUDISTA: José Maurício Saldanha Álvarez AULA 1 – Lugar, ambiente, artes. Educação Ambiental. Por quê? META Fazer da literatura, por meio da educação ambiental, uma ponte com o lugar, o ambiente e um conceito ampliado de arte. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1) Reconhecer a importância da Educação Ambiental como formador da cidadania e do sujeito, e a consciência ambiental como uma tomada de posição visando atingir uma relação sustentável com o planeta, assegurando o futuro das próximas gerações. 2) Identificar no lugar o espaço essencial onde a vida ocorre como todos os seus complementos físicos, e de onde se extraem os motivos literários e os suportes da memória sendo, ainda, matriz das identidades. 2 INTRODUÇÃO: A disciplina, o que é? Lugar, ambiente, artes. Chama-se lugar o espaço onde a vida acontece como produtor de insumo literário, de memória, de sentimentos, enfim. É no lugar onde o escritor e seus leitores vivem. Todos conheceram a canção onde o autor, Osvaldo Nunes (1930-1991) com sua verve de poeta, recita: “voltei, aqui é o meu lugar, minha emoção é grande, mas a saudade era maior, e voltei para ficar”. Já o Rap da Felicidade, de Cidinho canta: Eu só quero é ser feliz Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. E poder me orgulhar E ter a consciência que o pobre tem seu lugar Figura 1.1: Cidade de Deus, local de origem dos compositores do Rap da Felicidade. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cidade_de_Deus.jpg – Junius Lugar é a matriz da identidade de uma região, de um país, de uma cidade e de uma comunidade de indivíduos. E no lugar onde ocorre a vida diária que, para os fenomenólogos, consiste num conjunto de elementos existenciais concretos como pessoas, https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cidade_de_Deus.jpg 3 flores, árvores, flores, céus, nuvens, cidades, ruas moradias edifícios madeira pedra, janelas e portas, mobílias. Esses elementos possuem uma substancia material, são dotadas de formas, textura e colorido, contribuindo para atingir uma totalidade que denominamos de o caráter do ambiente (Norberg Schulz, 10). Para Jorge Luís Borges, um lugar chamado Aleph pode conter todos os lugares do mundo que, vistos de um determinado ângulo, coexistem. Ou para o italiano Calvino “o lugar tornou-se uma imagem interior para a imaginação começar a habitá-lo e ele logo transforma em seu palco.” (2003, 167). Meio ambiente Já o que denominamos de Meio Ambiente é um conjunto de fatores que engloba a totalidade dos seres vivos orgânicos, elementos inorgânicos, articulando-se em ecossistemas conectados com toda a vida existente na face da terra, que é traduzido por uma conceituação múltipla. Nele encontramos diferentes fatores externos que influenciam os seres e os ecossistemas, conjuntos articulados e compostos por todos os fatores bióticos de uma região e do meio ambiente. O ecossistema é uma comunidade de seres vivos com os respectivos processos vitais de cada um inter-relacionados com os demais. O incremento da exploração do ambiente ocorreu na Modernidade, desde o Renascimento do século XVI e, seguida, com as revoluções industriais ocorridas nos séculos XIX, XX e do XXI. A produção industrial e a comunicação em redes e tramas se estenderam a todo o globo terrestre, conformando uma economia-mundo. (I. Wallerstein, 1930). Inicialmente, todos os empreendimentos econômicos no século XIX eram realizados sem controle ou sustentabilidade. O pensamento liberal dominante nesse tempo impedia regulamentações restritivas, o que levou a alterações que resultaram em desastres ambientais e humanos. A expansão vertiginosa do capitalismo industrial, como demonstrou Karl Marx, enriqueceu os capitalistas, mas, empobreceu o proletariado, forneceu lucros destruiu populações, modos de vida, culturas tradicionais e alterou ecossistemas. Entre os tópicos centrais da disciplina e da literatura temos artes que não são a tradicionais. De acordo com o sociólogo alemão Niklas Lehmann, artes são dotadas de um sistema simbólico, sendo formas de ação sobre o ambiente e permitem dar uma forma inteligível ao ambiente. As artes que empregaremos são coletivas e constituídas através do tempo e do espaço. Foi uma escolha para reforçar sua conexão com entre a questão 4 ambiental e a prática literária. Elas serão as cidades e sua relação com o campo e a roça, a arquitetura, a alimentação e os objetos do cotidiano. Essas obras e as representações povoam o universo do escrito com referências materiais onde está o autor, suas obras e seu público, todos estão relacionados com a cultura e subcultura do seu tempo. Os escritores todos têm uma origem social, formação política, formação educacional, orientação sexual e uma imaginação ativa. Imaginação, lugar e literatura. No século XIX, conforme veremos, a natureza começou a ser percebida como um motivo literário, com as primeiras representações e questionamentos ambientais surgidos no Romantismo em decorrência das revoluções política e industrial. Na medida em que o vertiginoso processo industrial, a Modernidade avançou cada vez mais a imagem da natureza penetra na ficção literária com representações e descrições naturalísticas e realísticas. As representações da natureza surgiram com o homem. Desde as primeiras formas de escrita o homem procurou sempre saber onde estava, e como era o seu lugar. Todos os textos religiosos antigos eram textos-descrições de lugares e de percursos de lugares. Na Bíblia hebraica temos o livro do Êxodo, na Ilíada-Odisseia helênica, abundam as descrições pormenorizadas de viagens e lugares. Nossa representação e orientação do espaço são primeiramente visual por causa de nossa percepção binocular, baseada em nossos olhos, processadas pelas nossas retinas e trabalhadas por nossa cultura. . Desde a pré-história, a natureza é transformada em nosso ambiente visual não apenas a percepção do mundo físico, da natureza, mas da bagagem e herança cultural. A percepção visual que domina nosso encontro com a natureza como o espaço real é fundamental para a literatura. Mas como será que vemos para poder representar? Desde o Renascimento, nosso olhar se habituou a um processo perspectivo, racional, imitando a percepção pela retina. O que está mais próximo é maior e mais nítido o que está distante é menor e apagado No entanto, a Modernidade acelerada pela Revolução Industrial e a intensa urbanização, intensificaram o volume de informações e aceleraram nossa percepção, criando uma simultaneidade que mudou a literatura. Uma boa descrição literária, usa instrumentos verbais fornecendo aos leitores uma sensação de ordem espacial, 5 cuja descrição demonstra que o homem ocupa um certo lugar e tem dele uma perspectiva. A descrição de uma porção da natureza, de um lugar, é a descrição do ambiente. (Henigham, 5). No entanto, essa descrição do ambiente está ligada a questão da cultura e da tradição. Ao analisarmos Homero veremos que na Odisseia, algumas paisagens são fruto do saber tradicional como a descrição do Inferno grego, o Hades. Outras são frutos de paisagens tradicionais imaginadas, como a ilha de Circe, a ilha dos Feaces e a terra dos Lotófagos. Tradição e imaginação constituem uma prática na literatura, ou melhor, a representação da imagem natural na literatura é um produto humano gerado por meio da experiência e da cultura, transformado em matéria criativa. Essas construções empregam palavras, símbolos da literatura, tornando-se representações do espaço natural segundo um pontode vista humano. Nos final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, a imaginação cada vez mais substituiu a representação, mostrando-se o centro dos trabalhos literários num grande esforço consciente para mudar a representação, ao invés de sucumbir a simples descrição (Henigham, 23). Novas estratégias literárias modernas surgiram e colocaram com o fluxo de consciência um desafio à imaginação. Imaginação e ciência Quando pensamos no grande cientista Albert Einstein (1879-1955), nos vem à mente um indivíduo racional, frio e desprovido de imaginação. Nada mais errado. O avanço científico que ele produziu nasceu da capacidade de pensar o que não sido havia pensado. Sua imaginação criou o que, na época, os cientistas pensavam que ser impossível existir. E resistiram a essa criação do novo. Cientistas são e eram muito formais e dogmáticos, ainda mais no século XIX, época da razão, quando acreditavam nas verdades da ciência imbuídos de um fervor similar ao religioso. A recusa aos trabalhos imaginativos de Einstein se baseia na cultura de uma época quando o racismo era considerado científico. De um lado Einstein, um jovem sem credenciais, sem títulos e judeu. Como podia um judeu criar física? Do outro, cientistas, universidades e uma ciência nacionalista europeia e conservadora. Se fosse nos Estados Unidos, a dificuldade seria se Einstein fosse afro-americano. A propósito de uma coisa e 6 outra, assistam ao filme norte-americano de Theodore Melfi, 2015, intitulado Hidden Figures (Figuras Ocultadas) e que, no Brasil, se chamou Estrelas além do tempo. Vejam o filme para sentir o conservadorismo e preconceitos da ciência. Regressando ao jovem Einstein: Novidades que abalavam o saber estabelecido eram tidas por perturbadoras e aborrecidas. Para Einstein, era a imaginação que levava ao progresso. Nos anos 1929, colocar um homem na lua era uma loucura completa porque era uma impossibilidade. Pensar como possíveis esses atos imaginativos, esse era o campo da ficção científica, atividade literária tida por visionária, escrita por autores como o francês Jules Verne (1828-1905). Nos anos 1910 imaginar a relatividade do tempo e o pior, escrever sobre a matéria era um absurdo. A noção de imaginação é antiga e os filósofos gregos, Aristóteles e Platão, a estudaram como um sentimento inspirador das artes. A imaginação literária, que parece ser uma invenção nascida no Iluminismo, (mais uma vez ele), onde se originou o debate ambiental, nos foi legada pelo Romantismo. Como possibilidade intelectual, permitiu pensar nas imagens como uma forma basicamente criativa-imaginativa. No Iluminismo, a relação imaginativa das imagens nos levou à noção de sensibilidade. Atividade 1. Atende aos objetivos 1 e 2. Ver o filme Razão e Sensibilidade de 1995, de Ang Lee com Emma Thompson e Hugh Grant, no Youtube. O filme narra o contexto de arrancada econômica inglesa durante as guerras napoleônicas. Duas irmãs (observem o papel reduzido que a mulher ocupa), apresentam a oposição entre o Iluminismo e o Romantismo. Uma delas é racional e cautelosa, a outra é impulsiva e emocional. Atentem para o campo inglês onde, apesar as aparências aristocráticas, os títulos já não importam, todos pensam em lucros e, como seres livres, têm direito à busca da felicidade. Após ver o filme, vocês deverão elaborar um resumo onde assinalarão três questões que lhes pareçam importantes para compreender a época e sua cultura. Atentem para a presença dos impressos, livros e jornais. 7 Inserir 12 linhas para a resposta. Resposta comentada O filme apresenta um drama familiar onde uma família decai de posição financeira, em virtude da viuvez da dona da casa. As filhas, bem educadas, deixam a residência suntuosa e vão viver num cottage modesto, mas, por sua posição e méritos, continuam a ter a atenção dos vizinhos. Uma delas, a mais velha, é ligada ao Iluminismo e a razão, calcula os passos a serem dados, enquanto a outra jovem, Marianne, romanticamente em oposição à irmã, é tomada por impulsos e emoções, agindo irrefletidamente. Ela se entrega aos sentimentos pelos quais, às vezes, paga um preço alto. É uma sociedade capitalista e imperialista, (colônias ultramarinas surgem aqui e ali), onde a alteridade é importante. As pessoas ascendem socialmente por sua capacidade e méritos pessoais. A cultura tem um papel essencial fornecido por uma educação esmerada ao alcance de elites e conta com música, jornais e literatura. A razão, por outro lado, pode ser tão fria que se esquece de que lida com seres humanos. Observem que neste tipo de zona rural capitalista, feita dar lucro, em oposição à cidade tumultuada e suja, temos moradias simples mas equipadas, proporcionando todo o conforto dos maiores solares, grandiosos e repletos de objetos que completam a vida humana. O lugar, literatura, imaginação. O lugar é a matriz da identidade de uma região, de um país, de uma cidade e de uma comunidade de indivíduos. O lugar onde ocorre a vida diária que, para os fenomenólogos, 8 consiste num conjunto de elementos existenciais concretos como pessoas, flores, árvores, flores, céus, nuvens, cidades, ruas, moradias, edifícios, seus materiais, madeira pedra, janelas e portas, mobílias. Essas coisas possuem uma substância material e são dotadas de formas, textura e colorido, contribuindo para atingir uma intensidade que confere caráter ao ambiente (Norberg Schulz, 10). Para Edward Soja o lugar nesse agora, reduz a distância entre o real e o imaginário, sendo que ele denomina de real imaginado. (Soja, 1996, 240). O lugar é a base da literatura como matriz de ideias e de formas, de onde o escritor toma, e alguns ficcionistas precisam criar um mundo perfeitamente visível para seus personagens se deslocarem, enquanto a novela psicológica coloca menos ênfase no lugar e mais ênfase na influência deste sobre os personagens (Luttwak, 18). Uma das funções da literatura é dar visibilidade as experiências íntimas e as relacionadas ao lugar. A arte literária pode construir imagens intensamente humanizadas e permeadas pela memória das pessoas construindo realidades fictícias sem as quais, esses lugares passariam desapercebidos, mas sua visibilidade advém do grande número de significados que comportam (Tuan 162). Se a literatura até o século XIX preocupava-se com lugares alegóricos, ao lado do sublime romântico, a literatura passou a abrigar um crescente interesse científico. O lugar onde transcorre uma narrativa passa a ser representado com uma infinidade de detalhes precisos (Marjorie Nicolson, 1997, 279). A esse naturalismo extremo, o século XX reagiu, empregando o diálogo e o fluxo da consciência dos personagens. O triunfo das novas estéticas da imaginação marcou o movimento moderno da novela do século XX, mesmo nessa nova estética, o ambiente, os lugares continuaram a ser importantes em diversos eixos temáticos (Hengham, 23). A paisagem belga retratada pela escritora portuguesa como Maria Gabriela Llansol é, sobretudo, sugestão para a construção de uma representação interior. A chamada literatura regional concede, em princípio, um lugar primordial ao ambiente e seus biomas. Num escritor regional como Graciliano Ramos, o sertão de Vidas Secas é um sertão interior, quase fruto da imaginação do vaqueiro Fabiano, enquanto o do fazendeiro Paulo Honório, personagem do romance São Bernardo, a descrição se converte em lucros, prejuízos e poder. Nomear um lugar na ficção, é representá-lo por meio de um código que permite as paisagens literárias adquirem características geográficas e, às vezes, seguirem normas 9 pictóricas, formando um iconotexto (W. James, apud 29). O que parece contar em literatura é o efetivo poder de representação contidos na propriedade física dos lugares, sem importar tanto que essaspropriedades pertençam aos lugares exatos (Lutwack, 30). Por exemplo, a ilha natal do arpoador polinésio Quequeeg, protagonista do romance Moby Dick (1851), de Herman Melville (1819-1891), não está em nenhum mapa. Na verdade, lugares da imaginação como esse nunca estão em mapa algum. Ao conceder aos lugares imaginados uma veracidade geográfica, integramos a aspiração humana de pisar em solo real por meio da ficção (Lutwack, 32). As regiões como lugares Euclides da Cunha após descrever o lugar chamado Os Sertões escreveu: o sertanejo (que vive nessa região) é antes de tudo um forte. Remetendo ao tópico anterior, o Sertão, em Euclides é poderosamente descrito, categórico e científico. Contudo, não deixa de ser poético! O pensador espanhol Ortega y Gasset escreveu, “Diga-me em que paisagem você vive e eu direi quem você é”. As regiões são parcelas de território dotado de originalidade. Podem ser definidas como grandes extensões territoriais, cujas condições de solo, clima, relevo e ambientes se diferenciam dos demais em função de suas fronteiras que são claramente delimitadas como parte imediata da realidade (Luckermnn, 1954, p33). Para outros, uma região é uma parte do planeta que possui coerência e significado (Feldhaus, 2003, 5). Uma geografia objetiva pode identificá-las como biomas onde existe uma determinada flora, fauna, ou um tipo de solo, sejam planícies, montanhas, matas ou rios. Uma região possui uma arquitetura própria, uma culinária determinada, um vestuário e uma fala específica. Guimarães Rosa criou um sertão que é tão imaginário quanto descritivo. Tudo que ele descreve fisicamente, uma serra ou um rio, logo é transformado pela imaginação num lugar próprio, dotado de rica vida interior, e a descrição se torna uma poética. Uma região também pode ser definida pelo exercício do lazer, de atividade esportiva e recreativa, que nelas são praticadas. Uma região dotada de lagos logo adquire, modernamente, turisticamente, um novo nome “Região dos Lagos”, ou de praias ou de serras. Gramado, na Serra gaúcha, ou aqui entre nós, fluminenses, o Vale do Paraíba, costa verde e região serrana. (Wikle &Ronney Jr, 2004, 395). 10 Algumas regiões possuem lugares dotados de grande força simbólica e imaginária, ou poderes energéticos, constituindo centros de peregrinação capaz de atrair multidões. Enquanto para outros, um lugar se torna sagrado pela sua constituição, demandando uma participação autônoma que se torna sua própria voz. Um espaço sagrado é, necessariamente, mais do que a construção da imaginação humana sozinha. Lugares sagrados são locais narrados ou historiados (Belden Lane, 2002, p. 15). As mais antigas histórias e literaturas são narrativas de viagem. O herói sumério Gilgamesh, procurou enquanto viveu a terra onde governaria sob o sol. Já os faraós, quando morriam continuavam a deslocar-se e viajavam para o outro mundo, Abraão viaja de Ur para Canaã. Os hebreus deixam o Egito num êxodo, enquanto os gregos imigram povoando todo o Mediterrâneo com suas cidades-estado. Roma é fundada, ao menos na imaginação por imigrantes, chefiados por Eneias, refugiados que deixaram Tróia abrasada. A Sagrada Família desloca-se da Palestina para o Egito e vice-versa. Odisseu (Ulisses) queria chegar a Ítaca e realizou sua Odisseia. O sagrado e suas narrativas e se entretecem com histórias que lhe conferem significados por meio da memória e de um acervo de imagens de acidentes , pois, lugares de peregrinação tem suas narrativas fundacionais podendo ser planícies ou montanhas, espaços vazios ou cidades (Lane, 2002, 6). Não se tem uma definição pré-determinada para saber se um lugar é sagrado. Moisés ao chegar a um determinado ponto do Sinai, ia prosseguir quando Deus o impediu dizendo: tira tuas sandálias porque o lugar onde pisas é sagrado. O filosofo alemão Heidegger escreveu que o lugar coloca o homem no mundo pois “O lugar é a casa do ser”. Para alguns autores a terra parece possuir poderes energéticos e ocultos e o planeta é um lugar sagrado que possui voz e sua integridade, demandando participação humana. Porém, um espaço sagrado é, necessariamente, mais do que a construção da imaginação humana sozinha (Gottlieb, 2003, 494). Lugares se tornam sagrados por causa das narrativas e histórias que correm a seu respeito, criando um sistema de credibilidade para as pessoas ou peregrinos. Assim sendo, elas abandonam sua vida cotidiana, preparando-se para entrar em contato com o extraordinário (Stoddart, Morinis, 1997, V.). Desta maneira, cada lugar tem seu significado e sua história, muitas vezes complexa, e que precisa ser desvendada. 11 No país de Gales o lugar, se pronuncia Llan. Qualquer lugar nomeado inicia-se pela palavra Llan, lugar. Citemos o nome de uma cidadezinha chamada Llanfawllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, situada na ilha de Anglesey. Traduzido para o português essa palavra significa “A igreja de Santa Maria situada junto ao poço localizado perto das árvores de Branca Hazel e ao lado das corredeiras do Whirlpool e da igreja de São Tysilio que fica junto às cavernas vermelhas” (Belden Lane, 2002,15). Lugar, natureza e paisagem. Paisagem. Matéria prima tão presente em toda a literatura! Palavra que é um mitologema cultural. Nós a discutiremos muito nas aulas seguintes, conceito sempre matizado pela cultura. Voltemos, por um instante, à denominação de natureza, que, na língua inglesa, é uma palavra de difícil definição. (Williams, 1976, 184). No inglês, acredita-se que ela derive do anglo-saxão, nomeando uma floresta original que foi alterada. Paisagem, um artefato produzido por humanos e associado a valores culturais. Paisagem nas línguas latinas parece originar-se do latim ad paganuus, lugar onde residem os pagãos, onde o cristianismo penetrava com dificuldade e onde os mitos antigos e naturais sobreviviam. As formas arquetípicas do instinto, de deuses antigos e incontáveis e dos mitos, eram reconfigurados como se lê nesta imagem portuguesa: Explicação de práticas pagãs mescladas a cristãs. Vinhaes, Portugal. Foto do Autor. 12 De Pagus deriva o francês pays, que definia uma região (Taylor, 2009, 111). No Rio Grande do Sul quando alguém diz que retorna a um local onde nasceu, no interior, diz: volto aos meus pagos. Definição de paisagem A paisagem pode ser definida como um trecho da natureza capturado por um olhar, um grande livro que se desenrola diante de nós como uma montagem de textos aos quais é necessário ler e compreender seus nexos, como um código que se decifra, uma vez que se tenha a chave da leitura (Hoskins, 1955 p. 14). Para Henri Lefebvre, a paisagem é investida pelo simbólico e, no percurso do leitor, se toma ilusoriamente real. Para ele existem lugares de representação, onde as pessoas vivem no cotidiano, mas sendo imbuídos de conteúdo político e ideológico. Para ele, o espaço é, antes de tudo, uma construção social vivida, em cuja prática uma sociedade se dá a perceber em sua realidade cotidiana (48). O espaço é uma possiblidade filosófica tripartida, concebida, vivida e recebida como uma representação mental. O racional se naturaliza e a natureza se cobre de nostalgias que suplantam a razão levando em conta o que se denomina de representações de espaço (42). Construindo paisagens e lugares com a imaginação O homem organiza o seu território em função de suas necessidades vitais, às vezes respeitando o plano legado pelos seus antecessores, outras vezes não. O homem constrói seu lugar de acordo com uma visão que tem do mundo. Ele não instala a sua casa em qualquer lugar, não dispõe seus jardins, campos e outros artefatos de qualquer maneira. Mas seguimos o que a tradição impõe, consolidando forte senso identitário e afirmando a ideia de comunidade, residindo num contexto espacial limitado (Santos 62). No entanto, comoassinalou Westphal, muitos escritores preferem ignorar a realidade e escrever contra ela. (Westphal, 106). A verdade de um lugar, às vezes pode ser dispensável, ou desnecessária. O lugar sobre o qual se escreve é soberano em si. Como aconselha ainda Westphal, devemos ver os lugares como os escritores os viam. Não como são. Por exemplo, Shakespeare jamais foi à Itália, mas a sua Roma, em Julius Cesar, ou a 13 sua Verona, em Romeu e Julieta, é incrivelmente real. Quando os autores franceses do século XVII como o dramaturgo Pierre Corneille (1606-1684) escreviam sobre a Espanha, onde jamais tinham posto os pés, essa era a sua Espanha. A colonização europeia no mundo, desde o Renascimento, foi uma história destinada a duplicar nomes europeus onde os europeus iam morar. Os portugueses foram mais contidos. Mas os espanhóis batizaram o México de Nova Espanha, os colonos ingleses de Nova Inglaterra, os holandeses fizeram da Ilha de Manhatam, sua Nova Amsterdam, e a um bairro dela, batizaram com o nome de outra cidade holandesa: Haarlem. Existem dezenas de cidades chamadas Paris nos Estados Unidos; existem lá Toledos, Cartagos, Romas e Syracusas. No Oceano Pacífico, temos ainda a Nova Bretanha, as Novas Hébridas e a Nova Zelândia. No Brasil, prosaicamente, preferimos trocar o nome indígena de Mecejana, no estado de Ceará, por Marechal Castelo Branco, ou em Minas Gerais, a antiga São José del Rei passou a se chamar Tiradentes. Muitos autores produzem lugares imaginários a partir de uma paisagem real como o escritor norte-americano, William Faulkner (1897-1962), que criou um mapa real do fictício município Jefferson Yoknapatawpha Co. Mississipi. (Turner, 1992, 213). Ou, como fez Érico Veríssimo (1905-1975), ao criar sua imaginária cidade de Santa Fé, no Rio Grande do Sul, onde ambientou sua trilogia o Tempo e o Vento, com as obras o Continente, O Retrato e o Arquipélago. Honoré du Balzac (1799-1850), construía os lugares dos seus romances, deslocando as ações de uma cidade real para uma cidade imaginária. Também José de Alencar (1828-1877), em O Guarani (1857), criou um lugar inexistente, transformando uma casa grande senhorial em um fantástico castelo, implantado nos contrafortes da Serra do Mar, junto ao rio Paquequer. Atividade 2 - Atende aos objetivos 1 e 2. Use 8 linhas para sua resposta. a) Defina lugar e ambiente. b) Como você descreveria a questão relativa à paisagem? c) O que são os lugares imaginados pelo escritor? Respostas comentadas a) Lugar é o espaço onde a vida acontece e as pessoas vivem. O lugar pode ser definido como os espanhóis chamam, a pátria chica, a pequena pátria onde vivemos, como a favela 14 ou o bairro onde nasci e vivo. É produtor de temas literários, depósito da memória, sendo no lugar onde o escritor e seus leitores vivem. Já o Ambiente é um conjunto de fatores que junta todos os seres vivos orgânicos, elementos inorgânicos, articulando-se em ecossistemas conectados com toda a vida existente na face da terra. Mas o ecossistema é uma coisa complexa: uma comunidade de seres vivos e não vivos com os respectivos processos. b) A paisagem é uma palavra que admite inúmeras interpretações, antigas práticas, como um artefato humano associado a valores culturais. Nas línguas neolatinas, parece originar- se do latim ad paganuus, lugar onde residem os pagãos, onde o cristianismo penetrava com dificuldade e onde os mitos antigos e naturais sobreviviam. A paisagem pode ser definida como um trecho da natureza capturado por um olhar, formando textos, códigos decifráveis, sendo ainda investida pelo simbólico. O homem constrói seu lugar de acordo com uma visão que ele tem do mundo, seguindo o que a tradição impõe. Seu senso identitário consolida a ideia de comunidade vivendo num contexto espacial limitado. c) Na literatura moderna, os escritores redigem, às vezes, mais contra a realidade do que a descrevem. A verdade de um lugar, às vezes, pode ser dispensável, ou mesmo desnecessária na literatura. O lugar sobre o qual se escreve é soberano em si, devemos vê-los como os escritores os viam, lugares imaginados. Por exemplo, William Shakespeare jamais foi à Itália, mas a sua Roma, ou a sua Verona, são convincentes. Autores franceses do século XVII, como Pierre Corneille, escreviam sobre a Espanha onde jamais pisaram. Educação Ambiental O surgimento da Educação Ambiental ocorreu como uma imposição nascida dos grandes debates preservacionistas, e das conferências, visando consolidar o mundo sustentável do futuro. Desde as últimas décadas do século XIX, as depredações da industrialização liberal forçaram os estudiosos e autoridades a, lentamente, repensar nossa relação com o ambiente a partir dos anos 1960. A agenda resultante fez da Educação ambiental um conceito vasto, aplicável a todos, jovens, educandos e indivíduos comuns. Um pouco de história ambiental. A partir dos anos 1950, as ameaças de graves desastres ambientais levaram homens e mulheres cientistas a esclarecer a opinião pública e a combater o poder dos lobbies industriais e corporativos. Numa reunião mundial ocorrida 15 em Estocolmo, patrocinada pela ONU, foi criado a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMA) em 1983. Seu relatório de grande impacto foi lançado em 1987, sob o título “Nosso futuro Comum”, popularizado como relatório Brundtland, (em referência à primeira ministra da Noruega que presidiu o CMMA – Gro Harlem Brundtland). Decorreram conferências como a do Rio de Janeiro, em 1992 (conhecida como Eco-92), e outros encontros, onde se avaliaram os efeitos do desenvolvimento urbano e industrial sobre o meio ambiente e o cumprimento das metas convencionadas na Eco-92. Essa luta fez surgir um conceito novo, o de sustentabilidade, ou seja, continuar a trabalhar no planeta sem destruí-lo nem aniquilar suas populações. Era preciso progredir, mas não a qualquer preço. Tornava-se imperioso educar a juventude para o futuro! As políticas ambientais representavam notável progresso material, como as redes de água e esgoto, além do surgimento dos parques nacionais, das cidades, jardins e das florestas urbanas. Desses debates, surgiu a disciplina denominada Educação Ambiental. Existem muitas explicações sobre o que ela significa. A que foi elaborada pelo Governo Federal, além de clara, está de acordo com a nossa disciplina. Em princípio, a educação ambiental deve levar em conta a noção de que todos nós integramos o que se denomina de meio ambiente. A luta desta disciplina é eliminar a noção de que somos senhores da natureza, inculcado desde a antiguidade, esquecendo nossa vulnerabilidade e a do ambiente. No Brasil, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) foi proposta em 27 de abril de 1999, pela Lei nº 9 795. Parte do seu Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.” file:///C:/Users/Jose%C3%A9/Downloads/Politica_Nacional_EA.pdf Porque a Educação Ambiental é importante para o Brasil Na educação ambiental é preciso pensar e agir em termos de sustentabilidade, pois para nós, brasileiros, essa é uma questão indispensável. Historicamente, nossa relação com a natureza, desde 1500, não foi boa. Na época colonial, a terra era fator econômico abundante e a produção intensiva das culturas lucrativas, operadas com mão de obra file:///C:/Users/Joseé/Downloads/Politica_Nacional_EA.pdf 16 escrava, frequentemente esgotava as terras e levava os colonizadores a derrubar as matas e iniciar novos plantios. Para que recuperar terras degradas se havia tanta terra disponível? Como assinala Milton Santos, a produção de gêneros agrícolas ou minerais na América portuguesa era externalizada – o excedentevisava atender os centros europeus; a produção via na natureza um elemento hostil a subjugar e dominar, empregando procedimentos predatórios. Continuamos, ainda hoje, a predar e a destruir. Nossa relação com o ambiente ainda é muito imediatista, pensamos no hoje como os colonos do passado, mas não somos colonos, nosso país é independente! A educação para a sustentabilidade pressupõe o conhecimento da questão ambiental e de suas relações com a literatura e a imaginação literária. Educar apara a sustentabilidade é pensar no futuro, é preparar as novas gerações e, entre elas, vocês. Mas atenção!!! As épocas do passado, não pensaram o ambiente da mesma maneira que alguns de nós. Existem enormes diferenças no pensamento ambiental através do tempo, como estudaremos nas Aulas 2 e a 3. A crise ambiental é velha companheira da humanidade, no entanto, se no passado a destruição foi localizada e miniaturizada, ela agora é uma ameaça global. Estes últimos três anos foram os mais quentes que o planeta já viveu. E os mais destacados cientistas ligados ao clima e meteorologia, advertem: é a ação humana quem provoca esse aquecimento. Não podemos esquecer que hoje somos 4 bilhões de seres humanos vivendo em cidades. O ambiente pode ser recuperado: a história do Parque Nacional da Tijuca: “O Parque Nacional da Tijuca foi criado em 6 de julho de 1961, mas sua história começa muito antes... Em 1861, as florestas da Tijuca e das Paineiras foram declaradas por D. Pedro II como Florestas Protetoras e teve início, então, um processo de desapropriação de chácaras e fazendas, com o objetivo de promover o reflorestamento e permitir a regeneração natural da vegetação. Ainda hoje é possível identificar pés de café, construções e ruínas das antigas fazendas, como a Solidão, Mocke e Midosi, entre outras. Pode-se dizer que a Tijuca está entre as áreas protegidas pioneiras no mundo, já que é mais antiga até do que Yellowstone, o primeiro Parque Nacional, criado em 1872, nos Estados Unidos. 17 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_- _cascatinha01.JPG – IBASE A missão do reflorestamento foi confiada ao Major Manuel Gomes Archer, que iniciou o trabalho com seis escravos, alguns feitores, encarregados e assalariados que deram início ao reflorestamento. Em apenas 13 anos, mais de 100 mil árvores foram plantadas, principalmente espécies da Mata Atlântica. O substituto do Major Archer, o Barão d'Escragnolle, manteve os esforços de reflorestamento e iniciou também um trabalho de paisagismo voltado para o uso público e a contemplação. Sob coordenação do renomado paisagista francês Auguste Glaziou, a floresta foi transformada em um belo parque com recantos, áreas de lazer, fontes e lagos. A aleia de eucaliptos e algumas pontas que vemos hoje são resquícios deste trabalho. O plantio teve continuidade nos anos seguintes e, associado ao processo de regeneração natural, formou a grande floresta existente hoje no Maciço da Tijuca. Após anos de relativo abandono e esforços pontuais de manutenção, a Floresta da Tijuca teve um período de forte revitalização na gestão do milionário e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya, na década de 1940. A revitalização incluiu a abertura dos Restaurantes Esquilos, Floresta e Cascatinha, a consolidação das vias internas e os recantos e projetos paisagísticos de Roberto Burle Marx. Em 1961, o Maciço da Tijuca - Paineiras, Corcovado, Tijuca, Gávea Pequena, Trapicheiro, Andaraí, Três Rios e Covanca - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_-_cascatinha01.JPG https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicolas_antoine_taunay_-_cascatinha01.JPG 18 foi transformado em Parque Nacional, recebendo o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro, com 33 km². Seis anos depois, em 8 de fevereiro de 1967, seu nome foi definitivamente alterado para Parque Nacional da Tijuca e, em 4 de julho de 2004, um Decreto Federal ampliou os limites do Parque para 39,51 km², incorporando locais como o Parque Lage, Serra dos Pretos Forros e Morro da Covanca. O patrimônio natural é, sem dúvida, o mais conhecido e consagrado no Parque, mas sua ocupação ao longo de quatro séculos gerou uma valiosa herança histórico-cultural, que hoje se constitui em um importante acervo a ser preservado.” Fonte: http://www.parquedatijuca.com.br/#historia Atividade 3 - Ela procura atender ao objetivo 1 e 2. a) A destruição ambiental afeta apenas a natureza? Relacione com o caso da Floresta da Tijuca. b) Detalhe a importância da educação ambiental. Respostas comentadas em 6 linhas. a) A destruição ambiental não afeta apenas a natureza e a população de uma dada região, afeta o planeta inteiro. Quando nas primeiras décadas do século XIX, o plantio descontrolado de café destruiu as matas em torno do Rio, resultando um desastre ambiental que secou os mananciais de água. A célebre cascatinha se deduziu a um filete de água. O governo imperial proibiu o cultivo do café, e determinou o replantio da cobertura vegetal destruída levando a produção cafeeira na direção do Vale do Paraíba. b) A educação ambiental prepara estudantes em todos os níveis e pessoas comuns para pensar e agir em termos de sustentabilidade. Ela é essencial para o Brasil, cuja relação com a natureza, desde a colonização, foi predatória, atendendo a produção externalizada empregando metodologia não-sustentável. A educação para a sustentabilidade pressupõe o conhecimento da questão ambiental e de suas relações com a literatura e a imaginação literária. Educar para a sustentabilidade é pensar no futuro. Boxe Multimídia http://www.parquedatijuca.com.br/#historia 19 Como seria viver um mundo aniquilado pela destruição ambiental e uma guerra nuclear? Um filme norte-americano de 2000, realizado por dois cineastas afrodescendentes, os irmãos Hughes, responde a essa angustiante questão. Trata-se da película o Livro de Eli. Estrelado por Denzel Washington, Mila Kunis e o camaleônico ator inglês Gary Oldman. O filme retrata o mundo do desastre ambiental e da guerra nuclear. A perda da camada de ozônio faz com que os raios do sol incinerem a terra, sequem a água e aniquilem toda a vegetação da terra. Modernas e espetaculares cidades, como São Francisco da Califórnia, estão vazias; os sobreviventes vivem num mundo selvagem e de perigo permanente, onde todos são inimigos de todos. Vejam no filme a importância da literatura. Tanto o vilão do filme quanto o herói são, por serem idosos, depositários de saberes que ninguém mais conhece. Não há futuro no filme, só resta de concreto o passado que os antigos conhecem, mas surge uma promessa de vida na metamorfose da jovem personagem Solara. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O-Livro-de-Eli-poster.jpg Fim boxe CONCLUSÃO O lugar é, portanto, essencial para nossas vidas e para a literatura. Nosso sentimento de pertença e enraizamento está ligado a ele. Ele alimenta nossa imaginação, e nossa https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O-Livro-de-Eli-poster.jpg 20 imaginação literária em especial. Durante séculos, o homem empregou o ambiente sem preocupações de preservá-lo para o futuro porque o caráter imediatista se impunha. A modernidade com suas revoluções e alterações de produção liberal, e consumo desenfreado, demonstrou que os recursos eram limitados. A terra era uma só e poderia cessar de nos nutrir. A luta contra a depredação ambiental e as ameaças globais integra um processo lento e multifacetado, afirmando a importância da educação ambiental como uma da chave para o futuro da humanidade. RESUMO O lugar é essencial para a nossa vida. A história no meio ambiente não é apenas a de desastres, mas a da construção de uma resposta efetiva por meio de políticas de recuperação, da criação das noções de ambiente eecologia, disseminadas por meio da educação ambiental. As artes que trabalheremos compõe um sistema simbólico e devem ser tratadas como formas de ação sobre o ambiente cujos resultados, sob a forma de representações, formam o universo de referências materiais produzidas pelo autor e suas obras como a cidade, a arquitetura, o alimento, os objetos. O lugar se converte numa referência básica porque é nele onde o autor vive, pensa, inventa e interpreta. Tema da próxima aula Analisaremos as diferentes maneiras de representar a natureza e o ambiente desde a Antiguidade até o Renascimento, bem como as justificativas que os homens elaboraram para justificar essas maneiras de pensar. O ambiente e seus problemas estão presentes na vida humana desde os primórdios. Até lá! LEITURAS RECOMENDADAS Canclini, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 292 p. Pádua, José Augusto. (Org.) Ecologia e Política no Brasil, Espaço e Tempo. Rio de Janeiro: Iuperj, 1982. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Calvino, Italo. Hermit in Paris:Autobriographical writings. New York, Vintage Books, 2003. Cuélllar, Javier Pérez de. Nossa Diversidade criadora. Relatório da comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Brasília, Papyrus, 1997. Dever, William G. What did the biblical writers know & When did they know it? Michigan, Cambridge, Grand Rapids, William B. Eerman’s Publishing Company. 2001. Geertz, Clifford. O Saber Local. Novos ensaios em antropologia interpretativa. 4a Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001. Grun, Mauro. Em busca da dimensão ética da educação ambiental. São Paulo, Papyrus, 2007. Henighan, Tom. Natural Space in Literature: Imagination and Environment in Nineteenth and .twentieth century fiction and theory .Ottawa, Golden Dog Pree, 1992. Luhmann, N. Art as a social system. Stanford: Stanford University Press, 2000. Lutwack, Leonard. The role of place in literature. Syracuse, Syracuse university Press, 1984. Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas: Papyrus-Unesco, 1997. Nicholson, Marjorie Hope, Mountain Gloom and Mountain Glory: The Development of the Aesthetics of the infinite. London and Seattle, University of Washington Press, 1997 Norberg-Schulz, Christian. Genius Locci. Towards a phenomenology of Arqchitecture. London: Academy Editions, 1980. Pérez de Cuellar, Javier, Nossa diversidade criadora. Relatório da Comissão Ponting, Clive. A new green history of the world. The environment and the collapse of great civilizations. London: Penguin books,2007. Prochazka, Martin. https://www.pf.jcu.cz/stru/katedry/aj/doc/sbaas01-introduction.pdf. Santos,Milton. O Novo século das luzes in Folha de São Paulo, Revista Mais, 14 de janeiro de 2001. Shelley, P.B. A Defense of Poetry, in Poems and Prose, ed. Timothy Webb (London: J.M. Dent, 1995), 256). 22 Soja, Edward, Thirdspace: Journeys to Los Angeles and other real and imagined places. Oxford, Blakwell, 1996. Stodart, Robert, H. E. Alan Morinis, Sacred places, sacred spaces, the geography of pilgrimages. Baton Rouge, Lousiana State University, 1997. Turner, Frederick, Spirit of place: the making of an American literary landscape. Pennsylvania State University, 1992. Warnier, Jean-Pierre. A mundialização da cultura. Bauru: Edusc, 2000. Westphal, Bertrand. Geocriticism. Real and ficcional spaces.London, Palgrave Macmillan, 2011. 1 EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: Letras DISCIPLINA: Lugar, ambiente, artes. Educação Ambiental. CONTEUDISTA: José Maurício Saldanha Álvarez AULA 2 – TÍTULO: A construção do pensamento ambiental na longa duração I. Da Antiguidade a Revolução Dual. META DA AULA: Apresentar como o ambiente e a natureza foram pensados e instrumentalizados numa perspectiva histórica e cultural desde a Antiguidade até 1789. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1) Identificar as diferentes interpretações da natureza e do ambiente desde a filosofia pré- socrática até o Iluminismo. 2) Analisar criticamente as produções do pensamento ambiental do período medieval até a modernidade que, se por um lado, aperfeiçoaram a vida do homem, produziram desastres ambientais apoiados na inevitabilidade do progresso e na racionalidade do capitalismo mercantil. 3) Identificar nos achados ultramarinos europeus a progressiva ampliação de uma economia mundializada, enriquecida com a captura da biota americana, nas conquistas do Iluminismo, seguida da industrialização que determinou uma profunda alteração do meio ambiente e as primeiras medidas de sua preservação. 2 Como a Humanidade pensou o Meio ambiente? Cada época, historicamente, elaborou seus discursos justificativos em relação ao Meio Ambiente, expressando os laços que sua vida estabeleceu entre a natureza e o homem. A natureza vive por si e não precisa dos humanos, mas o meio-ambiente só existe se houver humanos que se relacionem com ele e seus ecossistemas. Por isso é que a história da natureza precede a história do ambiente (Sorlin e Warde, 2009,3). A Natureza nunca foi boa ou má. Sua fúria quando desencadeada, evidencia antes de tudo a fragilidade humana. Portanto, debateremos nessa aula as diversas formas de pensar a questão ambiental e algumas das representações elaboradas através da História desde o século VII A.C. até 1789. Representação através da história: a Grécia antiga. Os primeiros homens a pensarem a natureza e ambiente fora do domínio religioso foram os filósofos gregos. Vivendo entre os séculos VII A.C e V A.C., procuraram identificar o princípio de todas as coisas existentes no cosmo. Nomearam a natureza como physis, acreditando que ela era um movimento primordial envolvendo todos os seres humanos e o mundo natural. O filósofo Heráclito de Mileto (535 A.C. - 475 A.C.) pensava que a natureza ou a physis, desempenhava um papel semelhante ao do coração no corpo humano. O filosofo Sócrates, (469 A.C. – 399 A.C.), considerou que o domínio dos seres humanos sobre a natureza correspondia a um projeto dos deuses (eles eram politeístas como você viu no curso do professor André Alonso – Bases da Cultura Ocidental), destinando a natureza para o desfrute humano. Aristóteles (384 A.C. – 322 A.C.) reafirmou a submissão do mundo natural aos desígnios da humanidade sendo a natureza um processo em mutação. Para ele, todas as espécies existentes, de homens a animais, e vegetais, compunham um sistema (Hugues, 2015,54.). Seu pensamento foi seguido por outros, como Teofrasto, lançando as bases da moderna visão sobre pesquisa e observação. Por outro lado, o pai da medicina grega, Hipócrates, acreditava que problemas ambientais se refletiam no corpo humano e resultavam em doenças tendo escrito um livro intitulado Ares, Águas, Lugares (Hugues, 2015, 61). O historiador grego, Diodoro de Sicília (90 A.C.-30 A.C.) quando fez um censo no mundo antigo, empregou o critério da alimentação para classificar as populações (Cascudo, 2017,20). No período conhecido como Helenístico, situado entre os séculos IV A.C e I A.C., estados monárquicos como o reino dos Ptolomeus, no Egito, Éfeso, na Ásia Menor e Siracusa, na Sicília, incentivaram a criação de obras de engenharia complexas como o farol de Alexandria e a máquina de Anticítera, considerada pelo instituto Smithsonian, como o pai do 3 atual computador. Sábios como Hierôn de Alexandria e Arquimedes de Siracusa (287 A.C – 212 A.C.), criaram equipamentos complexos. Eratóstenes escreveu duas obras, na primeira, comprovando a geometria do planeta Terra e, na segunda, descrevendo todas as regiões conhecidas e habitadas, calculando, ainda, a redondeza do planeta com notável precisão (Roller, 2010, 263). Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antikythera_model_front_panel_Mogi_Vicentini_2007.JPGBox 1 Na década de 1960, o ecologista norte-americano Eugene Odum estava trabalhando com uma teoria na qual um ecossistema holístico compunha uma teoria unificada. O surgimento de novas tecnologias, a atualização científica em relação à ecologia e ao ambiente, começou a se aproximar, paradoxalmente, das antigas crenças gregas. Segundo elas, todos os organismos existentes na terra estavam juntos numa única entidade viva que os gregos denominavam de Gaia, identificada como mãe-terra. Modernamente, essa hipótese ressurgiu quando na corrida espacial, no laboratório de Pasadena, técnicos debateram a ausência de vida na lua e em vários planetas. Ao visitar essa instituição, o cientista britânico James E. Lovelock (Worster, 1994, 379), que trabalhava com medicina, química, engenharia, cibernética e fisiologia, e estudioso dos gases atmosféricos, consolidou o que denominou de a Teoria de Gaia (também conhecida como Hipótese de Gaia). James E. Lovelock sustentava que o planeta Terra é um organismo vivo, capaz de controlar e modificar suas condições ambientais - o que não acontece com outros planetas do sistema solar. 4 Na religião grega, a deusa Gaia era considerada a mãe de todos os seres vivos, personificando o planeta Terra. Quando religiosos cristãos de todas as confissões insistiam que Gaia era Deus, Lovelock negou essa pretensão. Ele replicou que o que tentava descobrir era como em culturas não judaico-cristãs, o meio-ambiente foi pensado e representado. (www.significados.com.br/gaia/). Lovelock residia no Wiltshire (onde fica Stonehenge), seu vizinho e parceiro de animadas conversas era o renomado escritor britânico William Golding (1911-1993), prêmio Nobel de Literatura de 1983. Golding sugeriu a Lovelock o nome Gaia porque apontava para uma entidade coletiva com atributos de uma pessoa. Curiosamente, essa teoria recebeu de braços abertos as ideias holísticas de Eugene Odum. Fim do Box Teoria geocêntrica Os gregos foram os primeiros a separar a religião das concepções sujeitas a debate “científico”. Outras civilizações, como as mesopotâmicas e a Faraônica, colocavam o debate natural dentro da religião. As explicações sobre os fenômenos naturais residiam na cosmogonia dominante. A concepção que o filósofo Aristóteles (384 A.C. - 322 A.C.) nutria em relação à Humanidade e visão da Natureza, colocava o planeta Terra como o centro do universo. Essa ideia foi ampliada pelo astrônomo e cartógrafo grego Ptolomeu (90 D.C. – 168 D.C.), que viveu em Alexandria, no Egito, num ambiente de intenso debate e experimentação. Ptolomeu elaborou a teoria geocêntrica, na qual o planeta Terra ocupava uma posição central no sistema solar. Quando o cristianismo se tornou dominante, essa teoria foi bem vista porque Jesus Cristo havia vindo a Terra para redimir a humanidade. O mapa de Ptolomeu. A Europa é perfeitamente reconhecível, bem como a Arábia e a Índia. A China é indicada como “Sina”. Wikipédia Commons. http://www.significados.com.br/gaia/ 5 A pensadora Hipatia de Alexandria (351 D.C.- 415 D.C.), uma mulher pioneira, foi importante ao refletir sobre o planeta Terra e sua posição relativa no sistema solar. Filha do filósofo Theon, era a cabeça da escola neoplatônica da cidade de Alexandria. Acreditava que o homem podia atingir a prática do bem pela filosofia. Escreveu vários tratados e considerava ser o universo regido por leis matemáticas. Empregou instrumentos de precisão para aprimorar suas ideias. Foi morta por fanáticos religiosos que a consideravam pagã e inimiga da fé que professava. (http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica- historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras). Pensando natureza no mundo antigo Por volta do século I A. C., o Império Romano era dominante no Ocidente, norte da África, e incorporou todo o mediterrâneo oriental. Suas conquistas consolidaram um império onde importantes aquisições culturais se afirmaram como a base do mundo moderno. Sua literatura cresceu espantosamente, abrangendo teatro, história, ciências e ficção como o célebre Satyricon, de Petrônio. Haviam inúmeras bibliotecas subvencionadas pelo Estado e uma produção de papel e de cópia de livros. As realizações produzidas por eles no terreno da praticidade da vida material resultaram em obras de engenharia, destinadas ao conforto humano. Assim, as cidades receberam abundante fornecimento de água potável por meio de complexos aquedutos. Havia uma rede urbana de esgotos, a edificação de pontes, estradas, canais, portos e grandes construções de vários andares como as ínsulas, prédios de apartamentos, e os anfiteatros. No mundo antigo, os romanos levaram ao máximo a submissão da natureza aos desígnios humanos criando um instrumental técnico, só superado a partir da Revolução Industrial do século XIX. Sua agricultura produzia grandes excedentes empregando técnicas agrícolas sofisticadas, porém o uso intensivo e não sustentável de inúmeros recursos naturais contribuiu para sua queda final. Exemplo de rua pavimentada romana. Foto do Autor. http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica-historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras http://animamundhy.com.br/blog/filosofa-astronoma-matematica-historia-hypatia-alexandria-mulheres-pioneiras 6 O conjunto de seus monumentos, tais como cidades planejadas em tabuleiro de xadrez, agricultura racionalizada, obras de engenharia, arcos de triunfo marcaram de maneira indelével a paisagem romana. Roma e o domínio uniforme da paisagem Este traçado permitiu a elaboração de métodos de controle espacial e numérico por parte das administrações municipais. Ele implantava a cultura, a cidadania romana, as magistraturas, o direito, o ius gentium, as relações mercantis. As cidades romanas apresentavam um aspecto de uniformidade e unidade: urbi et orbi, cidade e mundo. Seus traçados em xadrez “representam um modo elementar de fazer ruas através do território por intermédio do tabuleiro” (Sennett, p.1992, p.47). Placa indicativa de quarteirão, rua e moradia em Herculano, foto do Autor. Esse domínio do ambiente empregando técnicas e mão de obra escrava, em proveito do bem-estar humano, está na raiz da filosofia estoica romana, para quem a natureza havia sido feita para a utilidade e conforto do homem. O filósofo Plínio, o Velho (23 D.C. - 79 D.C.), escreveu sua História Natural (77-79 D.C.), analisando a natureza e seus fenômenos. Por outro lado, os romanos refinados como Plínio, o Jovem (61 A.C. - 113 A.C.), mostravam- se apaixonados pela natureza, desenvolvendo uma noção de gosto paisagístico. Os romanos sentiam e experimentavam a paisagem. Seus lugares possuíam uma importância simbólica e alguns estudos recentes sugerem que a posição social relacionava-se à visão da paisagem. Nas áreas de produção agrícola, criaram uma interatividade de monumento e paisagem, cujo conceito parece ter tido um grande significado. Trata-se de um espaço que combina estética e prazer sensual como os jardins, que encerram uma tensão entre o controle paisagístico e a fertilidade descontrolada da natureza (Spencer, 15). Edificavam gigantescas villas, ou casas de campo, para lazer e pensar em áreas privilegiadas em termos de paisagem pelo império. Plínio, o Jovem, construiu uma villa nas 7 montanhas da Toscana, outra no mar, no Laurentino, e finalmente uma terceira, no lago de Garda, no norte da Itália, que assim descreveu: “O aspecto do lugar é belíssimo. Imagina um anfiteatro imenso, tal como só a natureza é capaz de forjar. A planície, larga, espalhada, é cercada de montanhas e nos cumes das montanhas há uma floresta elevada e antiga” (Spencer, 114). Os romanos, atendendo a um grande mercado consumidor, empregavam complexos maquinismos. Sua produção de tecidos era vasta, porém a metalúrgica, a produção de vidro e cerâmica, era alimentadapor uma intensa atividade mineradora, ambas altamente poluentes e grandes consumidoras de energia hidráulica e lenha. O couro, que era produzido em larga escala, era produto descrito pelo geógrafo Strabão como malcheiroso e manufaturado em estabelecimentos que, localizados nas cidades, exalavam gases fétidos (Ponting, 354). Logo a poluição ambiental resultante se tornou um grave problema. Como apontamos acima, a produção metalúrgica trabalhava no refino de metais, em particular o ouro, que requeria uma grande quantidade de mercúrio, elemento poluente e cancerígeno. Dessa maneira, os romanos teriam aspirado uma grande quantidade de metais pesados ao longo de suas existências. O poeta Horácio (65 AC – 6 AC), relata a existência de edifícios enegrecidos por fuligem e nuvens pesadas de poluição sobre a cidade (Mark J. Jacobson, 2002, 82). Muitos romanos eruditos sabiam que as ações industriais exercidas sobre o ambiente eram deletérias (Hughes, 2004, 74). Mapa das estradas da península ibérica sob Roma. Wikipédia commons. Hispania roads, Redtony. Se os antigos greco-romanos viam a natureza, florestas, montanhas, grutas, rios, como residência divina, isso logo mudou. No período imperial, exploraram os recursos ambientais velozmente (Hughes, 2014, 77). Nas geleiras da Groelândia, os depósitos de gelo antigo, correspondentes à época de apogeu do império romano, apresentam concentrações poluidoras elevadas correspondendo a 10 por cento dos níveis mais modernos. Concentram-se lá, 8 também, o registro das intensas atividades metalúrgicas e mineradoras da China da Dinastia Sung (960 - 1279). Atividade 1. Atende ao objetivo 1. 1. Por que para os filósofos gregos a natureza era essencial à vida de todos os seres? 2. Descreva porque o pensamento grego helenístico conseguiu avançar na questão da interpretação da natureza, criando equipamentos e consagrando a teoria geocêntrica. 3. Explique porque a relação romana foi ambígua em relação à natureza. Respostas comentadas 1. Os filósofos gregos foram os primeiros pensadores a se debruçar sobre o estudo da natureza que denominavam physys, um movimento primordial envolvendo todos os seres vivos num processo dialético no mundo natural. Outros, como Hipócrates, associavam um ambiente sadio com a saúde humana, no respeito às normas de higiene e boa alimentação. Eratóstenes insistia no avanço da investigação e das pesquisas naturais. 2. Os gregos helenísticos beneficiaram-se de equipamento de precisão capazes de representar e alterar o ambiente, como a máquina de Anticítera e as de Arquimedes de Siracusa. E o filósofo Ptolomeu de Alexandria, criou um modelo para o universo: a teoria geocêntrica, colocando o planeta Terra como o centro do sistema solar, teoria que perdurou até o século XVI. 3. Apesar de identificar nela critérios de beleza, seu caráter utilitário gerou intensa exploração ambiental, produzindo poluição atmosférica registrada nas geleiras da Groenlândia e desastres ambientais como secas, salinização e erosão dos solos. Seu olhar objetivo criou uma trama de cidades planejadas, estradas pavimentadas, rede de água e esgotos, pontes e grandes máquinas, além do manuseio calculado da luz solar e da água. A Idade Média Após o colapso do Império Romano no ano de 414 D.C., a crise subsequente que levou a desarticulação urbana e ruralizarão, insegurança, fragmentação política e declínio cultural, foi conhecida como Idade Média. Ela não foi uma só, mas se dividiu em duas grandes fases. Inicialmente do ano 476 D.C. até o ano 1000, foi grande a precariedade da vida material e do conhecimento. As invasões e a crescente insegurança reduziu a população esvaziando as cidades. A natureza reocupou imensas áreas cultivadas e nessas regiões, os lobos chegavam à porta das pessoas. A Igreja, que sobreviveu ao Império Romano, 9 reafirmava o predomínio da fé sobre a razão. Deus explicava tudo, sendo um erro e um pecado estudar a Natureza. Nesse início da Idade Média, filósofos da Igreja como Santo Agostinho, Isidoro de Sevilha e Dionísio Areopagita, pensavam a Natureza como obra de Deus, sendo vedado ao homem o seu entendimento (Meirinho e Pulido, 2011, X). Desde o ano 1000 e do século XII em diante, ocorreram mudanças graduais como um lento, mas constante crescimento mercantil urbano, acelerando o volume de trocas com o mundo muçulmano, resultando em um avanço cultural. O feudalismo e o poder da nobreza territorial, dominantes na época, fizeram surgir residências fortificadas - o castelo - que permitia o exercício do poder local, ou seja, senhores eram donos do lugar. Castelo em Sabugal, Portugal. Foto do Autor. Surgiram os estados nacionais centralizados, com suas monarquias, como na Inglaterra, Portugal e Franca; havia cidades que eram repúblicas, como Veneza. Cresceram as lutas urbanas travadas entre o povo comum contra os poderosos na Europa Ocidental e, em especial, na Itália. No século XIV até o XV, o incremento desse contexto de expansão mercantil, cultural e urbano, originou-se o Renascimento. No século XIII, surgiu a primeira perspectiva de pensamento ecológico, com São Francisco de Assis, para quem o homem era igual e não superior às demais criaturas (Almino, 1993, 11). O que afetou bastante esse novo olhar foi a Espanha árabe e sua florescente cultura. Da Espanha árabe à ressurreição urbana ocidental Na vizinha Espanha muçulmana, pensadores árabes de Toledo, Sevilha, ou Córdoba, lecionavam em universidades, que ficavam nas mesquitas. Eles traduziam filósofos gregos, catalogavam os elementos naturais, e produziam livros. Além do contato com o Ocidente, eles conheciam o Oriente e a África, onde a cidade saariana de Timbucu tinha uma universidade famosa. Esse imenso mundo mulçumano falava e escrevia em árabe, e se estendia da Europa à China. 10 Rotas de comércio saarianas medievais com se localiza Tombuctu. Wikipédia, Por T L Miles. Construíram um notável sistema de irrigação na Andaluzia, Espanha, produzindo frutas cítricas disseminadas na Europa. Sabe por que a tangerina tem esse nome? Fácil, porque vem da cidade de Tanger. As pessoas que comiam os cítricos, e se banhavam com mais frequência, viviam mais e melhor. Ao interpretar o mundo natural em seus livros de papel, os pensadores hispano-árabes contribuíram muito para o posterior avanço da ciência moderna, em especial, da medicina e da farmacopeia (Meirinho e Pulido XV). Tratado árabe sobre plantas medicinais. Observe o formato livro. Wikipédia. Na Europa, a racionalidade crescente levou a redução do pensamento religioso cristão sem perda da fé. As universidades na Europa cristã surgiram no século XIII, como as árabes anteriormente, junto a centros religiosos como a Mesquita de Córdoba (Hughes, 2002, 205). Havia agora grandes universidades como a de Paris, a Sorbonne, Pádua, Bolonha, Coimbra, Salamanca, Oxford, Upsala. Pensadores em toda a Europa viajavam disseminando o saber e ideias novas. A concepção de natureza e de Deus mudou. Santo Tomás de Aquino, indagado da natureza de Deus, respondeu que Deus era Luz e o primeiro motor, que movia a tudo e não 11 era movido por nada. Nos debates, despontou a expressão natureza, derivado do latim natura, com o significado de "fonte”, "ser natural”, e "fazer nascer”. Manuscrito medieval mostrando doutores na Universidade de Paris, wikipédia. O Renascimento Enquanto isso, na Itália, as práticas mercantis se sofisticavam com moeda, sistema bancário, letras de câmbio. As cidades viram sua população crescer, e com elas a circulação e produção de mercadorias, o assalariamento a economia monetária, o algarismo arábico e o comércio internacional. Mas tudo isso era feito em tramas, isto é, em associações que se solidificavam como redes que se estendiam pela Europa e logo atingiriam o mundo inteiro.A cidade de Siena, Alegoria do bom e do mau governo, 1328, Ambrogio Lorenzetti, Wikipédia. Desde o final do século XIII em diante, o ressurgimento da vida urbana em contato com o Oriente levou os pensadores ocidentais a resolver, de maneira prática, seus problemas concretos. Por exemplo, um novo remédio para uma doença, um novo tipo de vela para um navio, um cálculo para erguer uma parede, um guindaste, ou como fazer um relógio mecânico. Substituindo as técnicas obsoletas por outras mais novas, mais avançadas, o 12 homem tornou-se o homo faber. Ele fazia coisas e transformava a natureza que o cercava mediante a ação do seu saber (Moreira, 2014, 90). O inglês e filósofo franciscano, Roger Bacon (1214-1294), estudando nas universidades de Oxford e Paris, desligando-se da Escolástica, elaborou as leis para a natureza, consagrando a fórmula: observação, hipótese, experimentação. Enquanto isso, os reis de Portugal, Inglaterra, França, e os reinos espanhóis cristãos, preocupavam-se com a preservação de florestas cuja madeira era empregada na construção naval. Enquanto isso, na Inglaterra, a preservação das matas constava da Magna Carta inglesa, a ponto de ¼ do país se tornar reserva florestal, preservando a caça do rei (Donald Hugues, 90). A Europa passou por sérias crises, como a Peste Negra, que eliminou metade da população, a guerra dos Cem Anos, que dividiu a Europa entre o apoio à França ou à Inglaterra. No entanto, ao cessarem essas mortandades, as populações voltavam a crescer, enquanto a fome continuava a espreitar. O racionalismo renascentista e o predomínio científico do homem sobre a natureza O Renascimento na Itália articulou novas forças econômicas e políticas, provocando um recuo da nobreza e do papado. Lançou as bases de um modelo de sociedade laica que perdura até hoje (Hardt e Negri, 2001,89). Começou uma revolução visual no campo da arte que sustentou avanços técnicos. O crescimento da população urbana italiana, ocupada na produção artesanal e mercantil, passou a consumir alimentos produzidos por empreendedores nos cinturões agrícolas circunvizinhos. Matas próximas às cidades davam lugar a plantios racionalizados. Pastagens surgiam onde pântanos eram drenados. Novas terras eram povoadas por gente em movimento, mas o desmatamento assoreava os rios, e provocava falta de combustível nas cidades. A produção de cereais e as pastagens para ovelhas aceleraram a desertificação (Hughes, p. 93). A fome era um flagelo que seguia de perto as populações. Um comerciante da cidade de Florença, Itália, dizia que toda a área plantada nas proximidades de sua cidade permitia alimentar a população apenas por cinco meses no ano, o resto teria de ser importado. Os avanços da medicina com escolas, como a de Salerno e Mântua, igualmente na Itália, eram notáveis. Graças ao contato com os árabes, sugeriram uma medicina preventiva e, coroando o ponto de vista do homo faber, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico contestou a concepção ptolomaica aristotélica geocêntrica. Na sua teoria heliocêntrica, a terra deixou de ser o centro do universo, para ser um apenas mais um planeta no sistema governado pelo sol. Isso causou uma revolução. 13 Página da obra de Copérnico mostrando o sol no centro do sistema solar. 1520-1541.Wikipédia. Atividade 2. Atende ao objetivo 2. 1. Comente como o Renascimento abriu a natureza à exploração econômica. 2. Descreva com a Europa sofreu crises, mas as superou e abasteceu suas cidades mercantis com elementos de controle natural. 3. Como a cultura racional renascentista deu o homem "criado à imagem se semelhança de Deus", a certeza de ser o centro do mundo natural? Respostas comentadas 1. O Renascimento implicou na Itália em uma abertura da natureza ao sistema econômico de lucro mercantil e de retificação da paisagem, submetida aos interesses sociais e econômicos. 2. Apesar das crises como a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos, a Europa recuperou seu impulso criando medidas de controle sobre as florestas reais e criando, ao redor das cidades, extensa produção agrícola racional destinada aos mercados, o que resultou em alguns desastres ambientais. 3. Nas cidades mercantis um novo tipo de cultura começou a ganhar corpo, um conjunto de saberes racionais forneceu ao homem a convicção de ser o centro do mundo e da natureza, como obra suprema de Deus, criando a teoria Heliocêntrica. 14 Leonardo da Vinci. Ilustração. O homem vitruviano Wikipédia. A Modernidade Desde o Renascimento, a Modernidade (que se definia como crise), se tornou um processo de superação de saberes. Uma invenção era afeiçoada dando origem à outra. E surgiu a imprensa! No século XVI, os livros já não mais eram feitos à mão, mas impressos, o que os barateava e disseminava o conhecimento. Com a reforma protestante, a unidade da Europa se perdeu e os estados nacionais lutavam pela supremacia. Entre 1480 e 1500, o campo de ação da Modernidade se expandiu. Os portugueses descobriram o Brasil, dobraram a África, chegaram ao Índico e a Ásia. Os espanhóis circundaram o globo e conquistaram o México e o Peru. Esse mundo conquistado foi ligado às redes europeias de comércio internacional, resultando na primeira etapa da mundialização. Detalhe do Mapa Miller de 1519, Terra Brasilis, mostrando o Brasil e o produto principal que denominou o lugar, o pau-brasil. Wikipédia, Original da Biblioteca Nacional da França. 15 O achado das Américas possibilitou ao Velho Mundo dispor de metais preciosos, mas também de uma surpreendente riqueza natural: os gêneros alimentícios, altamente nutritivos, gerados pela biota Americana. Vocês os conhece? Listemos alguns: o milho, o cará, a mandioca, as batatas, o cacau, a erva-mate, o abacate, e o fumo. Estes gêneros seriam importantes na alimentação da Europa e, progressivamente, se tornaram básicas em suas dietas. Ao mesmo tempo, a chegada dos colonizadores resultou em desastres ambientais devido ao imediatismo dos seus projetos. Por exemplo, os portugueses introduziram coelhos na ilha da Madeira, destruindo a cobertura vegetal. Mais tarde, os ingleses fizeram o mesmo na Austrália do século XVIII, desembarcando os coelhos, além de ovelhas, gerando grave desequilíbrio ambiental (Ponting, p.78). Box 6. A Modernidade, segundo os pensadores Hardt e Negri, só pode ser definida como crise por que: “A Modernidade não é um conceito unitário, mas aparece, de preferência, em dois modos. O primeiro modo é o que já definimos, um processo revolucionário radical. Essa modernidade destrói suas relações com o passado e declara a imanência do novo paradigma do mundo e da vida. Desenvolve conhecimento e ação como a experiência científica e define uma tendência política democrática, colocando a humanidade e o desejo no centro da história. Do artesão ao astrônomo, do mercador ao político, na arte como na religião, o material da existência é reformado por uma vida nova” (2001, P. 92). Pintura renascentista mostrando a cidade ideal no século XV, dotada de rigoroso desenho geométrico, limpa e nova. Wikipédia, atribuído a Fra Carnevale. O século XVII O século XVII começa com a edição do primeiro romance conhecido, da autoria do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). Trata-se de uma obra revolucionária e inovadora, intitulada O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha, cuja primeira edição teve a sua 16 primeira parte editada em 1605, e a segunda parte, em 1615. De certa forma, Cervantes escreve contra a realidade, preferindo refazer o mundo com a imaginação. Um dos episódios mais emblemáticos é o dos moinhos de vento, que o herói tomou por gigantes e os apontou para seu companheiro Sancho Pança: “Que gigantes? Dijo Sancho Panza. Aqueles que ali ves, respondio su amo, de los brazos largos, que los suelen tener algunos de casi dos léguas.”(1844,p. 32).Sua obra Novelas Exemplares, em parte influenciada pelo italiano Bocaccio, traz consigo uma novidade que é o fato de ser um conjunto de histórias curtas. Apesar da intolerância inquisitorial do início do século XVII, o estatuto do filósofo experimentador se tornou inatacável. O avanço das ciências fez com que, no final do século, fosse criada a noção de infinito. A imprensa se disseminava pelas cidades, graças às suas folhas noticiosas. Nesse interim, o filósofo francês René Descartes (1596-1650), considerou a natureza como uma máquina de relojoaria e o homem poderia alterá-la mediante o emprego de técnicas. O inglês Francis Bacon (1561-1626) justificava a separação entre natureza e sociedade, considerando a submissão da primeira à humanidade, por meio das técnicas mecânicas. Consagrou a experimentação como método de comprovação cientifica (Latour, 2000, 30-31). Os homens nas cidades começaram a ter sua vida regulada não mais pela natureza, ou pelas estações do ano, pela noite ou pelo dia, mas pelo relógio. O século XVII foi abalado pela guerra dos Trinta Anos, que iniciou como uma querela dinástica ente católicos e protestantes e terminou com o tratado da Vestefália, de 1648, que acordou a paz e definiu o Estado-Nação como o principal ator nas relações internacionais. Banquete da Guarda Civil de Amsterdã em celebração da Paz de Münster Bartholomeus van der Helst, 1648. Wikipédia. Os Estados passaram a centralizar os poderes, mediante políticas astutas que incluíam a cultura. Isso levou o ministro das finanças do rei francês Luís XIV (1638-1715), J. B. Colbert (1619-1683), a prestigiar a ciência e os cientistas para glorificar a França, premiando a produção do conhecimento que agregava valor ao país e seus produtos (Goldstone, 1991, https://pt.wikipedia.org/wiki/Paz_de_M%C3%BCnster https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Bartholomeus_van_der_Helst&action=edit&redlink=1 17 229). Ele criou Academias que antecedem os nossos ministérios. Interveio na economia, incrementando a produção de mercadorias e navios dentro de uma política de estado denominada de Mercantilismo. Na Inglaterra, foi criado o Real Colégio de Cirurgiões, o observatório Real de Greenwich. Surgiu o primeiro museu conhecido, o Ashmolean, enquanto o francês Gabriel Naude (1600-1653) elaborou para seu rei a primeira biblioteca como uma alavanca para o conhecimento. Luís XIV, Rei de França e Navarra. Wikipédia. Atividade 3 Assista uma película anglo-americana chamada Restoration (1995), de Michel Hoffman, que demonstra essa questão do patrocínio estatal ao conhecimento na Inglaterra. Seu título em Português é O Outro lado da Nobreza. Assista-o e produza um texto de 15 linhas mostrando a relação entre política e ciência. Expansão da Ciência No século XVII, ocorreu um veloz avanço na investigação das ciências da natureza. Surgiram astrônomos como Galileu Galilei e Kepler, e o britânico Halley que, por meio de tabelas matemáticas, descobriu o cometa que leva seu nome. O cientista inglês Isaac Newton escreveu no frontispício do seu livro mais importante: “Eu vou demonstrar agora como funciona o sistema do mundo”. Harvey descobriu a circulação do sangue, e Leenwenhoeck o microscópio e a natureza miniaturizada. Boyle e Torricelli descobriram a matéria e a atmosfera. Malpighi descobriu a datação das arvores e o princípio dos vasos capilares. 18 Atividade 4. Atende ao objetivo 3. 1. O século XVII nos surpreende como a consolidação do estatuto do cientista e por grandes descobertas. Cite algumas proezas científicas desse tempo. 2. O estado monárquico apareceu e desempenhou uma posição de mando e encomenda em relação à ciência, por quê? Respostas comentadas 1. No século XVII o racionalismo e a ciência avançaram velozmente para o centro dos debates. Filósofos como René Descartes, afirmaram que o universo era como um relógio preciso, enquanto Roger Bacon inventou o método científico. Descobriu-se a data nos anéis das árvores, foram inventados o telescópio, o microscópio e descoberta a circulação do sangue. 2. O Estado procurou estimular as ciências como política pública do poder. Além de intervir na economia como o ministro francês J. B. Colbert, os monarcas criaram instituições modelares produzindo conhecimento oficial, museus e bibliotecas. O Iluminismo e o confronto entre a sociedade e natureza No século XVIII, entre 1701 e 1789, surgiu o Iluminismo, cujo ambiente cultural abrangeu a Inglaterra, a França, além das regiões de fala alemã e as colônias inglesas que seriam, futuramente, os Estados Unidos. Surgiu a Enciclopédia, publicação coletiva, dirigido por Denis Diderot (1713-1784), reunindo todo o conhecimento humano, substituindo o critério de autoridade pelo da experimentação (Falcon, 1988, 83). Capa da Enciclopédia, Wikipédia. 19 Participavam do Iluminismo, ou das Luzes, engenheiros, arquitetos, pensadores, profissionais liberais, empresários, militares, clérigos católicos e protestantes, intelectuais pobres, aristocratas e artistas que, dotados de razão, impunham uma nova ordem lógica ao mundo. Logo criticaram o Antigo Regime, desencadeando a Revolução Francesa de 1789. Na Inglaterra, como veremos na Aula 10, os Iluministas se reuniam em noites de lua cheia, na cidade de Birmingham, bem como nos cafés elegantes de Londres. Para os filósofos das Luzes, o homem, embora dominante, possuía uma posição de solidariedade com o restante da natureza, criando um mundo da cultura espelhado no conceito de civilização (Falcon, 1988, 58). Desse movimento intelectual surgiu uma ampla divisão entre as ciências, enquanto o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), consagrou o divórcio entre o Homem e a natureza, e entre os animais e o Homem. O Iluminismo e a natureza A tensão existente entre razão e a emoção, se refletiu nas obras dos filósofos Voltaire e Rousseau. O primeiro era ligado a razão e à lógica, enquanto o segundo se voltava para a natureza e sua espontaneidade emotiva. Rousseau publicou o Emilio, ou a Educação Natural e a Nova Heloísa, valorizando a sensibilidade e o instinto natural do homem primitivo. Para ele, a sociedade era corruptora e apenas a natureza podia formar um homem melhor (Falcon, 1988, 7). Por outro lado, o público encantou-se com as aplicações da ciência, e aplaudiu entusiasmado, o primeiro balão tripulado a voar sobre a cidade de Paris. Logo, seguiu avidamente as notícias sobre sucessos da técnica. Surgiu a doutrina da Fisiocracia com o filósofo Du Quesnay, valorizando a importância da agricultura sobre a indústria como a grande produtora de riqueza. Valorizaram o livre pensamento econômico, surgindo a expressão Laissez-faire, laissez-passer, - Deixai fazer, deixai passar - defendendo o livre empreendedorismo nos negócios sem que os empresários fossem perturbados pelo governo. 20 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Wikipédia. Em 1776, o pensador escocês Adam Smith (1723-1790), publicou uma obra fundamental de onde nasceu o liberalismo. Pretendendo incentivar a virtude humana, defendeu o livre cambismo e o mercado como o supremo regulador da vida econômica e social. A modernidade ganhou enorme aceleração nas duas grandes revoluções. A política, que eclodiu nas treze colônias inglesas em 1776, no Haiti e na França, em 1789. A Revolução eliminou os privilégios de classe e nascimento, iniciando o princípio da igualdade entre os homens. Na França, o Antigo Regime havia praticamente uniformizado as leis do reino sugerindo a igualdade dos indivíduos que a Revolução, triunfando, transformou em cidadãos (Starobinski, 162). Enquanto isso ocorria a Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra e, em seguida, disseminou-se pela Europa e América do Norte. Modificando as bases da produção de bens e serviços, substituiu os processos artesanais
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