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PROJETO DE ARQUITETURA DE INTERIORES COMERCIAIS Gabriel Lima Giambastiani Estudo de cortes e elevações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Apresentar os conceitos básicos de cortes e elevações. Identificar o tipo de desenho adequado à representação de cada parte do projeto. Exemplificar a utilização de cortes e elevações em projetos de interiores comerciais. Introdução A correta representação de um projeto de arquitetura é tão importante quanto a elaboração do projeto em si. O desenho é uma forma de trans- missão de informação; assim como a fala e a escrita, ele transmite e registra as nossas ideias, para que elas possam ser transmitidas a outras pessoas. Na arquitetura, a representação bidimensional dos objetos, representada pelas plantas baixas, cortes e elevações, faz parte da documentação necessária para que os projetos se materializem. Neste capítulo, você conhecerá os conceitos de cortes e elevações na arquitetura, bem como identificar os desenhos mais adequados para cada parte do projeto e para cada finalidade. Por fim, verá exemplos de cortes e elevações em projetos de interiores comerciais. Cortes e elevações Assim como as plantas baixas, os cortes e as elevações de um elemento tri- dimensional fazem parte de um sistema de projeção ortogonal, no qual as linhas projetadas são paralelas entre si e perpendiculares ao plano do desenho (CHING; JUROSZEK, 2012). Esses desenhos são um modo conceitual de re- presentação dos objetos, e, para que se entenda a sua lógica, devem ser revistos conceitos de geometria descritiva, como plano de corte, vistas e projeções. Uma maneira efetiva e simples de pensar a representação dos planos de um edifício é imaginar um dado montado a partir de uma folha de papel dobrada. Quando o objeto está completamente montado, sua forma é a de um cubo composto por faces planas, no entanto, quando o objeto é aberto, as faces são dispostas paralelamente uma à outra, resultando em um objeto plano. A operação realizada no dado da Figura 1 é muito semelhante à técnica de desenho de vistas: representar bidimensionalmente um objeto tridimensional. Figura 1. Processo de planificação de um dado. Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 138). Na representação bidimensional de objetos tridimensionais, existem três sistemas principais de projeção: o paralelo, no qual os atributos são desenha- dos em verdadeira grandeza, ou seja, mantendo as suas dimensões reais e, consequentemente, a proporção entre os elementos; as projeções oblíquas, nas quais as linhas se mantêm paralelas, mas a proporção é perdida; e as Estudo de cortes e elevações2 projeções em perspectiva, que simulam o modo como os seres humanos enxergam os objetos no espaço. A Figura 2, a seguir, apresenta as diferenças entre os sistemas de projeção. Figura 2. Sistemas de projeção. Fonte: Adaptada de Ching (2017, p. 30). A representação de plantas baixas e cortes é feita a partir de cortes rea- lizados por planos imaginários, posicionados em uma determinada posição do edifício. Uma planta baixa é desenhada a partir de um corte horizontal, considerando-se 1,50 m de altura em relação ao piso, resultando em um dese- nho que contém todos os objetos interseccionados pelo plano, além daqueles possíveis de se enxergar através do plano (Figura 3). 3Estudo de cortes e elevações Figura 3. Processo de representação em planta baixa. Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 147). Assim como as plantas baixas, os cortes e as elevações são representações planares realizadas a partir de cortes paralelos a uma parte da edificação. No entanto, ao contrário das plantas, os cortes e as elevações são desenhados verticalmente, com o plano de corte perpendicular ao chão. Nesse tipo de desenho, ficam evidentes as relações de altura entre os objetos, como a pro- porção entre a altura das janelas e das portas. Na arquitetura de interiores comercial, as representações em corte e ele- vações são muito utilizadas para o desenho de mobiliário, em que diferentes vistas são elaboradas, a fim de representar todos os detalhes envolvidos na construção do objeto final. Além disso, elevações internas podem ser uti- lizadas para representar a relação entre as alturas dos diferentes elementos compositivos do espaço (ver Figuras 4 e 5). Estudo de cortes e elevações4 Figura 4. Elevação interna de uma sala de espera. Fonte: Akane1988/Shutterstock.com. Figura 5. Corte de uma residência. Fonte: Al-xVadinska/Shutterstock.com. Os desenhos são a principal ferramenta disponível aos arquitetos para transmitir o que foi imaginado para os espaços criados. Portanto, é indis- pensável que o arquiteto conheça profundamente a natureza e o objetivo de cada peça gráfica que ele irá criar. A seguir, você compreenderá que cada desenho criado por profissionais de arquitetura tem um objetivo e uma especificidade. 5Estudo de cortes e elevações Tipos de desenho adequados à representação de cada parte do projeto A representação do projeto de arquitetura de interiores deve ser realizada com um objetivo em mente: transmitir da melhor maneira possível as ideias contidas no projeto de arquitetura. Portanto, cada atributo do projeto possui um tipo de desenho mais adequado à sua clara representação. Seria muito difícil, por exemplo, representar o desenho de um piso utilizando apenas a representação de uma elevação, certo? Da mesma maneira, por mais que exista a representação das janelas em uma planta baixa, sua representação é mais clara em uma vista, como as fachadas e os cortes. A arquitetura de interiores é uma disciplina que trata, fundamental- mente, da disposição de elementos tridimensionais no espaço. No entanto, as convenções gráficas utilizadas para representar tal disposição são, em sua maioria, bidimensionais, a exemplo das plantas baixas, dos cortes e das elevações. O grande desafio da representação da arquitetura, seja a de interiores ou da edificação, é, portanto, a tradução clara e precisa de objetos espaciais em linhas planares. A complexidade inerente à representação de objetos tridimensionais em um plano levou à criação de vários tipos de desenho, classificados quanto à orientação do plano de vista — em geral, disposto horizontal ou verticalmente — e quanto à escala, que pode ser menor para desenhos que demonstram o espaço como um todo ou maior, quando é preciso demonstrar um detalhe de um objeto. A escala é a relação entre o tamanho do objeto real representado e as dimensões da sua representação bidimensional. Por exemplo, um banco com 40 centímetros de altura, se representado na escala 1:100, deverá ser desenhado com apenas 4 milímetros no papel, ou seja, cem vezes menor que o real; na escala 1:25, por outro lado, esse mesmo banco seria representado com 16 milímetros, ou 25 vezes menor. Estudo de cortes e elevações6 Como visto, existem diferentes desenhos realizados para fins diversos. Agora, serão exploradas as principais categorias de desenhos realizados para representar a arquitetura de interiores, com foco nos projetos comerciais, os quais têm par- ticularidades em relação aos projetos de natureza residencial ou de paisagismo. Plantas As plantas, ou plantas baixas, como são comumente referidas, são desenhos que representam um corte horizontal de um edifício, geralmente passando acima do plano dos peitoris das janelas. A característica principal que distingue a planta dos demais desenhos trata-se de um corte horizontal, ou seja, um plano imaginário, traçado paralelamente ao piso, corta as paredes do edifício; a segunda informação é relativa à altura desse plano, que os autores dizem estar acima dos peitoris das janelas. Nesse caso, a defi nição acaba sendo um pouco imprecisa, mas indica a intenção desse tipo de desenho: demonstrar a relação dos objetos interiores com as aberturas principais do espaço. Para aumentar a precisão da definição de planta, pode-se consultar a ABNT NBR 6492:1994que trata da representação de projetos de arquitetura. Na ABNT NBR 6492:1994, a planta é definida como “[...] vista superior do plano secante horizontal, localizado a, aproximadamente, 1,50 m do piso em referência [...]” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994, p. 1). A norma admite, no entanto, que o plano horizontal seja movido, para cima ou para baixo, para representar mais claramente objetos que o projetista considere necessários (Figura 6). Figura 6. Planta baixa de um edifício de escritórios. Fonte: YAZZIK/Shutterstock.com. 7Estudo de cortes e elevações As plantas baixas são muito utilizadas na arquitetura de interiores para representar o leiaute, ou seja, a distribuição do mobiliário no espaço. O fato de tal desenho ser realizado paralelamente ao piso facilita a compreensão das dimensões existentes entre os elementos, para que arquitetos e clientes possam debater sobre o conforto dos usuários e a distância entre as diferentes peças de mobiliário. Além do leiaute, as plantas são utilizadas para indicar elementos que serão demolidos ou construídos em uma reforma, sempre destacados com cores diferentes, como: paginação de revestimento, ou seja, a distribuição das peças de piso no espaço; instalações elétricas e iluminação, com a posição e especificidades dos diferentes elementos elétricos; instalações hidráulicas, com a posição e o modelo de torneiras, vasos sanitários, etc. Cortes O corte pode ser explicado apresentando suas diferenças em relação à planta. Enquanto na planta o plano de corte é horizontal, mostrando o piso, nos cortes, o plano é vertical, representando as paredes e portas em vista frontal. Os cortes podem ser traçados livremente e na quantidade que for necessária para melhor representar um espaço arquitetônico. Na arquitetura de interiores, os cortes são muito úteis para representar a altura dos forros, os detalhes de encontro entre janelas e mobiliário e as relações verticais existentes entre todos os elementos, principalmente quando o espaço representado tiver mais de um pavimento, como um mezanino, por exemplo. Elevações Assim como os cortes, as elevações são representações bidimensionais realiza- das a partir de planos verticais em uma edifi cação. A diferença entre os cortes e as elevações é que, para as elevações, não é importante que os elementos estejam cortados, sendo mais importante os planos internos. A Figura 7, a seguir, apresenta uma elevação interna, representada acima da planta baixa do mesmo espaço. Dessa maneira, fi ca simples entender a natureza de cada um dos desenhos. Estudo de cortes e elevações8 Figura 7. Conjunto de planta baixa e elevação de um escritório. Fonte: Vlera/Shutterstock.com. Detalhes Os detalhes são representações gráfi cas de situações específi cas do projeto, ou, segundo a NBR 6492, de “[...] pormenores necessários [...] para um perfeito entendimento do projeto e para possibilitar sua correta execução [...]” (ASSO- CIAÇÃO BARSILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994, p. 2). Na arquitetura de interiores comercial, é muito comum realizar detalhes para a execução de peças em marcenaria, em que os móveis são desenhados geralmente em escalas maiores que 1:25 e enviados para a fábrica, que, com essas informações, tem capacidade de fabricar aquilo que foi especifi cado corretamente. Um ponto interessante dos detalhes é que eles são desenhados geralmente utilizando os três tipos de desenho vistos anteriormente — as elevações, os cortes e as plantas baixas —, com a diferença da escala de desenho. As plantas baixas apresentam uma diferença em relação àquelas produzidas para representar a edificação além da escala: como visto, as plantas de um espaço são geralmente 9Estudo de cortes e elevações desenhadas a 1,50 m a partir do piso. Nos detalhes, como é necessário representar situações em diferentes alturas, o plano de corte dessas plantas tem altura livre, sendo, muitas vezes, preciso desenhar diversas plantas do mesmo objeto, cada qual com uma altura de plano diferente. A Figura 8, a seguir, mostra a representação de detalhes de marcenaria para um armário, sendo possível ver duas plantas (uma a 40 e outra a 200 cm do piso), uma elevação e dois cortes. Figura 8. Detalhes em planta, elevação e corte. Estudo de cortes e elevações10 As plantas em diversas alturas correspondem a “fatias” da edificação ou do espaço em diferentes níveis, a fim de representar todos os elementos que são observados nas vistas. Imagine que em uma planta em altura convencional, a 150 cm, não seja possível visualizar uma prateleira que se encontra a 170 cm de altura em um móvel. Essa prateleira aparece nas vistas e nos cortes, mas não na planta baixa. Por essa razão, pode ser necessário fazer cortes horizontais (plantas) em diversas alturas quando estamos fazendo algum detalhamento específico. A seguir, são apresentados alguns exemplos de desenhos realizados com diferentes objetivos, produzidos cada qual na escala adequada para a sua correta interpretação. Exemplos de cortes e elevações em projetos de interiores comerciais Os desenhos realizados na grafi cação do projeto de arquitetura devem ser feitos de maneira pragmática, visando à clareza e à efi ciência na comunicação com o receptor do material. Como visto anteriormente, plantas, cortes e elevações são as principais categorias de desenho utilizadas na representação gráfi ca de um projeto e têm especifi cidades que devem ser entendidas para garantir que o objeto representado seja executado da melhor maneira possível. Além da natureza dos desenhos, é importante considerar o receptor desses documentos. Cada profissional envolvido na construção civil — seja um empreiteiro, um marceneiro, um serralheiro ou outro especialista dentre os diversos com os quais os arquitetos precisam se comunicar — precisa ter as informações necessárias para a correta execução do seu trabalho, sem que este entre em conflito com as atribuições de outro profissional. A maneira mais eficiente de se compreender como a representação precisa ser diferente para cada especialista é por meio de um exemplo prático de arquitetura de interiores comercial. Na Figura 9, a seguir, observe o detalha- mento entregue para a execução de marcenaria e tampos de pedra para uma casa noturna na cidade de Porto Alegre, a fim de entender de que maneira as elevações e os cortes podem ser utilizadas para garantir que tudo saia conforme o projeto. 11Estudo de cortes e elevações Figura 9. Elevação do móvel de fundo de bar. O desenho da Figura 9 trata-se de um móvel dividido em duas partes. Na parte inferior, há um armário fechado com portas — representadas com as setas tracejadas, indicando o sentido de abertura. Na parte superior, há um garrafeiro (i.e., estante projetada especificamente para exposição de garrafas). Na parte inferior à esquerda do garrafeiro, observe as linhas horizontais — esse detalhe do móvel será objeto de um detalhamento específico (Figura 10). Estudo de cortes e elevações12 Figura 10. Detalhe do letreiro do garrafeiro. Na Figura 10, é possível ver o detalhamento do letreiro que estava des- tacado na elevação da Figura 9. Este elemento, devido à sua complexidade, necessitava de um detalhamento específico, mostrando, em escala maior, como as letras são encaixadas nas calhas de madeira e qual é a relação entre estas e os elementos verticais do garrafeiro. Figura 11. Corte do móvel, mostrando o garrafeiro em elevação ao fundo. 13Estudo de cortes e elevações A Figura 11, por sua vez, representa dois cortes, um longitudinal, à esquerda, e outro transversal, à direita. Observe como, no corte transversal, apenas a porção inferior do móvel está cortada. Isso se deve à diferença de profundidade entre os dois elementos, que você pode conferir no corte transversal. Na Figura 12, a seguir, é possível ver o detalhe do tampo instalado sobre a parte inferior do armário, cuja marcenaria foi representada anteriormente. Observe como, nesse caso,o móvel que está abaixo do tampo não aparece, uma vez que o tampo deveria ser fixado diretamente na parede. Por envolver profissionais de diferentes áreas, optou-se por omitir o que estava abaixo, a fim de evitar confusão. Figura 12. Detalhe de tampo. A partir de todos esses desenhos, foi possível que a equipe de fabricação enten- desse o conceito que os arquitetos haviam imaginado para esse móvel, permitindo que o objeto ficasse ao gosto dos clientes, que já haviam aprovado o projeto. As elevações e os cortes são ferramentas poderosas que estão à dispo- sição dos arquitetos para que estes consigam representar da maneira mais clara possível os seus projetos. É essencial que os profissionais conheçam os dispositivos e os códigos de representação, para que o seu trabalho possa ser executado da melhor maneira possível. Estudo de cortes e elevações14 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6492:1994. Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 15Estudo de cortes e elevações
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