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As cartas de São Paulo aos CORÍNTIOS CADERNOS DE ESTUDO BÍBLICO As cartas de São Paulo aos CORÍNTIOS Com introdução, comentários e notas de Scott Hahn e Curtis Mitch e questões para estudo de Dennis Walters Tradução de Alessandra Lass ECCLESIAE As cartas de São Paulo aos coríntios - Cadernos de estudo bíblico Scott Hahn e Curtis Mitch l" edição - janeiro de 2017 - CEDET Título original: The First and Second Letters of Saint Paul to the Corinthians (Catholic Study Bible) - © Ignatius Press. Os direitos desta edição pertencem ao CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Rua Ângelo Vicentin, 70 • CEP: 13084-060 - Campinas - SP Telefone: 19-3249-0580 e-mail: livros@cedet.com.br Editor: Diogo Chiuso Editor-assistente: Thomaz Perroni Tradução: Alessandra Lass Revisão: Gabriel Corrêa Editoração: Virgínia Morais Capa J. Ontivero Conselho Editorial: Adelice Godoy César Kyn d'Avila Diogo Chiuso Silvio Grimaldo de Camargo Thomaz Perroni � ECCLESIAE - www.ecclesiae.com.br Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. SUMÁRIO I N T RODUÇÃO A E S T E E S TUDO • 7 Insp iração e inerrân cia bíblica • 8 Auto ridade bíblica • 9 Os sentidos da Sagrada Escritu ra • 1 o Critérios para a interp retação da bíblia • 1 3 Usando este estudo • 1 5 Colocando tudo em perspectiva • 1 7 Uma nota final • 1 7 I N TRODUÇÃO À PRIMEIRA CA RTA DE SÃO PAULO A O S C O RÍN T I O S • 19 A uto ria e data • 1 9 Destinatários • 19 Propósito • 20 Temática e ca racterísticas • 20 E S QUEMA DA PRIMEIRA CA RTA DE S ÃO PAULO A O S C O RÍN T I O S • 23 A PRIMEIRA CA RTA DE SÃO PAULO AO S C O RÍN T I O S • 2 5 Estudo da palavra: Sabedoria ( 1 Cor 1 , 20) • 28 Estudo da palavra: Perderá ( 1 Cor 3, 1 5) • 34 Estudo da palavra: Santificados ( 1 Cor 6, 1 1 ) • 42 Ensaio so bre um tóp ico: Fugi da devassidão, fugi da idolatria • 42 Ensaio so bre u m tóp ico: Paulo, comida aos ídolos e o Concílio de Jerusalém • 5 1 I N T RODUÇÃO À SEGUNDA CARTA DE S ÃO PAULO A O S C O RÍN T I O S • 8 3 A utoria e data • 8 3 Destinatários • 8 3 Propósito • 84 Temática e características • 84 E S QUEMA DA SEGUNDA CA RTA DE SÃO PAULO A O S C O RÍN T I O S • 87 A SEGUNDA CA RTA DE SÃO PAULO A O S C O RÍN T I O S • 89 Estudo da palavra: Amém ( 2 C o r 1 , 20 ) • 92 Estudo da palavra: Nos faz sempre triunfar (2 Cor 2, 4) • 9 5 Ensaio so b re um tóp ico: Não é obra de mãos humanas • I 04 Estudo da palavra: Inábil (2 Cor 1 1 , 6) • II 9 Estudo da palavra: Paraíso (2 Cor 1 2, 3) • I 2 I QUE S TÕES PA RA E S TUDO • I 2 5 INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO Você está se aproximando da "palavra de Deus". Esse é o título mais freqüente mente atribuído à Bíblia pelos cristãos e é uma expressão rica em significado. Esse é também o título atribuído à segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Filho - Jesus Cristo, que se encarnou para a nossa salvação "e é chamado pelo nome de Palavra de Deus" (Ap 19, 13; cf. Jo 1, 14).' A palavra de Deus é a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é Jesus. Essa associa ção sutil entre a palavra escrita de Deus e sua Palavra eterna é intencional e presente na tradição da Igreja desde a primeira geração de cristãos. "Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro é Cristo, 'já que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo'2" (CIC 134). Isto não significa que a Escritura é divina da mesma maneira que Jesus é divino. Ela é, antes, divinamente inspirada e, como tal, é única na história da literatura universal, assim como a En carnação da Palavra eterna é única na história da humanidade. Podemos dizer ainda que a palavra inspirada assemelha-se à Palavra encarnada em muitos e importantes aspectos . Jesus Cristo é a Palavra de Deus encarnada; em sua humanidade, Ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado. A Bíblia, enquanto obra escrita pelo homem, é como qualquer outro livro, exceto pelo fato de não conter erros. Tanto Cristo quanto a Sagrada Escritura nos são dados "para nossa salvação",3 diz o Concílio Vaticano II, e ambos nos fornecem a revelação defi nitiva de Deus. Portanto, nós não podemos conceber um sem o outro - a Bíblia sem Jesus, ou Jesus sem a Bíblia. Um é a chave interpretativa do outro. É por que Cristo é o sujeito e o assunto de toda a Escritura que São Jerônimo afirma que "ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo"4 (CIC 133). Ao aproximarmo-nos da Bíblia, então, nós nos aproximamos de Jesus, a Palavra de Deus; e para que o encontremos de fato, devemos abordá-lo através de um estudo devoto e piedoso da palavra inspirada de Deus, a Sagrada Escritura. Jo 1, 14: "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade". A tradução brasileira dos textos bíblicos utilizada ao longo de todo este estudo é a da Bíblia da CNBB-NE. 2 Cf. Hugo de São Vítor, De arca Noe, 2, 8: PL 176, 642; cf. ibid., 2, 9: PL 176, 642-643. 3 Cf. Dei Verbum, 11. 4 Dei Verbum, 25; cf. S. Jerônimo, Commentarii in !saiam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17). 7 Cadernos de estudo bíblico INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA BÍBLICA5 A Igreja Católica faz afirmações admiráveis em relação à Bíblia. É essencial para nós, se quisermos ler a Escritura e aplicá-la à nossa vida do modo como a Igreja pre tende que o façamos, que reconheçamos essas afirmações e as admitamos. Não basta que simplesmente concordemos, acenando positivamente com a cabeça, quando lemos as palavras "inspiradà', "únicà' ou "inerrante" . É preciso que saibamos o que a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar pessoal essa compreensão. Afinal de contas, a forma como cremos na Bíblia influenciará inevita velmente o modo como vamos lê-la. E o modo como lemos a Bíblia, por sua vez, é o que determina o que nós "tiramos" de suas páginas sagradas . Esses princípios são válidos independentemente do que estamos lendo - uma reportagem de jornal, um aviso de "procura-se'', uma propaganda, um cheque, uma prescrição médica, uma nota de despejo ... O modo como lemos essas coisas (ou até, se as lemos ou não) depende muito de nossas noções pré-conceituadas a respeito da autoridade e confiabilidade de suas fontes - e também do potencial que têm de afetar diretamente nossa vida. Em alguns casos, a má interpretação da autoridade de um documento pode levar a conseqüências terríveis; noutros casos, pode nos im pedir de desfrutar certas recompensas das quais temos o direito. No caso da Bíblia, tanto as conseqüências quanto as recompensas envolvidas têm valor definitivo. O que quer dizer a Igreja, então, ao endossar as palavras de São Paulo - "Toda Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3, 1 6) ? Uma vez que, nessa passagem, o termo "inspiradà' pode ser entendido como "soprada por Deus", segue-se então que Deus soprou sua palavra na Escritura assim como você e eu sopramos ar quando falamos. 5 Na linguagem cotidiana, o termo "errante" costuma significar "a ndar a esmo", "a ndar sem rumo " ou "vaguear "; "iner rante", nesse sentido, se diria de algo que "anda com propósito", "com desti no certo". No entanto, o termo é empregado aqui no sentido estrito de "sem erros", mesmo. Poder-se ia dizer "infalível", porém o autor faz uma clara disti nçáo entre esses dois termos - "inerrante" e "infalível " - quando diz, mais à frente, que "o mistério da i nerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade". A disti nçáo esclarece que o autor está se referindo à escrita da Bíblia como inerrante, enqua nto que se refere à interpretação do que foi escrito como infalível - dois adjeti vos disti ntos para duas etapas disti ntas da relaçáo com o texto sagrado: a escrita e a i nterpretaçáo da escrita. Ambass áo feitas pelo próprio Espírito Santo e , portanto, náo podem falsear. Na Carta Encíclica Divino Ajflante Spiritu, de setembro de 1 943, o Papa Pio XII diz da doutri na da inerrância bíblica: "O primeiro e maior cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo, falando de coisas físicas, 'se atém ao que aparece aos sentidos; como escreveu o Angélico [Sto . Tomás de Aquino], exprimindo-se 'ou de modo metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação ordinária mesmo pelos maiores sábios'. De fato, 'não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por eles falava - são palavras de Sto. Agostinho -, eminar aos homem essas coisas - isto é, a íntima constituição do mundo visível - que nada importam para a salvação'. [ . . . ] Nem pode ser acusado de erro o escritor sagrado, 'se aos copistas escaparam algumas inexatidões na tramcrição dos códices' ou 'se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo'. Enfim, é absolutamente vedado 'coarctar a impiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou; pois que a divina impiração 'de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e comtante da Igreja" - NE. 8 As cartas de São Paulo aos coríntios Isso significa que Deus é o autor primordial da Bíblia. Certamente Ele se serviu tam bém de autores humanos para essa tarefa, mas não é que Ele simplesmente os assistiu enquanto escreviam, ou então aprovou posteriormente aquilo que tinham escrito. Deus Espírito Santo é essencialmente o autor da Escritura, enquanto que os escritores humanos o são instrumentalmente. Esses autores humanos escreveram francamente tudo aquilo - e somente aquilo - que Deus queria: é a palavra de Deus nas exatas palavras de Deus. Esse milagre da dupla-autoria se estende a toda a Escritura e a cada uma de suas partes, de modo que tudo o que os seus autores humanos afirmam, Deus também afirma através de suas palavras . O princípio da inerrância bíblica decorre logicamente do princípio de sua divina autoria. Afinal de contas, Deus não mente, e nem erra. Sendo a Bíblia divinamente inspirada, nela não pode haver erro algum quanto àquilo que seus autores, tanto o divino quanto os humanos, afirmam ser verdadeiro. Isso quer dizer que o mistério da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade - a saber, o de que é garantido que a Igreja sempre nos ensinará a verdade em tudo aquilo que disser respeito à fé e à moral. É claro que o manto da inerrância sempre cobrirá também o campo das questões de fé e moral, mas ele se estende para mais longe ain da, no sentido de nos assegurar de que todos os fatos e eventos da história de nossa salvação estão apresentados de modo exato na Escritura. A inerrância bíblica é a nossa garantia de que as palavras e os feitos de Deus narrados na Bíblia são verdadeiros e lá estão unificados, declarando numa só voz as maravilhas de seu amor salvífico. A garantia da inerrância bíblica não quer dizer, no entanto, que a Bíblia é uma enciclopédia universal, que serve a todos os propósitos e cobre todos os campos de estudo. A Bíblia não é, por exemplo, um compêndio das ciências empíricas - e não deve ser tratada como tal. Quando os autores bíblicos relatam fatos de ordem natural, podemos ter a certeza de que estão falando de modo puramente descritivo e "fenome nológico", de acordo com a maneira como as coisas se apresentaram aos seus sentidos. AUTORIDADE BÍBLICA Implícito nessas doutrinas6 está o desejo de Deus de se fazer conhecido por todo o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem, mulher e criança que Ele criou. Deus nos deu a Escritura não apenas para nos informar ou nos moti var; mais do que tudo, Ele quer nos salvar. É este o principal propósito que perpassa cada página da Bíblia - e cada palavra sua, na verdade. No intuito de se revelar, Deus usa aquilo que os teólogos chamam de "acomoda ção" . Às vezes Ele se inclina para se comunicar conosco por "condescendência" - ou 6 fu d outri nas da i nspira ção, da i nerrância e da dupla-autoria da Bíblia - NE. 9 Cadernos de estudo bíblico seja, Ele fala à maneira dos homens, como se Ele tivesse as mesmas paixões e fraque zas que nós temos (por exemplo, quando Deus diz que "se arrependeu" de ter feito o homem sobre a Terra, em Gn 6, 6). Noutras vezes, Ele se comunica conosco por "elevação" - ou seja, dotando as palavras humanas de um poder divino (por exem plo, através dos profetas) . Os inúmeros exemplos de acomodação divina na Bíblia são a expressão do modo sábio e paternal de proceder de Deus. Com efeito, um pai sensitivo fala com seus filhos tanto por condescendência, usando um palavreado in fantil, ou por elevação, trazendo o entendimento do filho a um nível mais maduro. A palavra de Deus é, portanto, salvífica, paternal e pessoal. Justamente porque fala diretamente conosco, nós nunca devemos ser indiferentes ao seu conteúdo; afi nal de contas, a palavra de Deus é, ao mesmo tempo, objeto, causa e sustento da nossa fé. Ela é, na verdade, um teste para a nossa fé, uma vez que nós só vemos na Escritura aquilo que nossa fé nos faz ver. Se nosso modo de crer é o mesmo da Igreja, vemos na Escritura a revelação salvífica e inerrante de Deus, feita por Ele mesmo. Se cremos de modo distinto, vemos um livro totalmente distinto. Esse teste é válido e aplicável não só aos fiéis leigos, como também aos teólogos da Igreja e até aos seus membros da mais alta hierarquia - inclusive para o seu Magisté rio. Recentemente, o Concílio Vaticano II enfatizou que a Escritura deve ser "como que a alma da sagrada teologia".7 O Papa Emérito Bento XVI, ainda enquanto Car deal Ratzinger, ecoou esse ensinamento com as próprias palavras, insistindo que "os teólogos normativos são os autores da Sagrada Escritura" (grifo nosso) . Ele nos lembra que a Escritura e o ensinamento dogmático da Igreja estão entrelaçados de forma tão firme ao ponto de serem inseparáveis: "O dogma é, por definição, nada mais que a interpretação da Escritura". Os dogmas já definidos de nossa fé, portanto, guardam em si a interpretação infalível da Igreja daquilo que está na Escritura, e a teologia é uma reflexão posterior sobre eles. OS SENTIDOS DA SAGRADA ESCRITURA Como a Bíblia é, ao mesmo tempo, de autoria divina e humana, é necessário, para lê-la coerentemente, que dominemos um tipo de leitura distinto daquele ao qual estamos acostumados. Primeiramente, temos que lê-la de acordo com seu sen tido literal, ou seja, do mesmo modo como lemos qualquer outro escrito humano. Neste estágio inicial, devemos nos empenhar na descoberta do significado originário que tinham as palavras e expressões usadas pelos escritores bíblicos à época em que primeiramente foram escritas e recebidas por seus contemporâneos. Isso quer dizer, entre outras coisas, que não devemos interpretar tudo que lemos "literalmente'' , como se a Escritura nunca falasse de forma figurada ou simbólica (porque freqüen- 7 Cf. Dei Verbum, 24. IO As cartas de São Paulo aos coríntios temente fala!) . Pelo contrário: a lemos de acordo com as regras de escrita que go vernam seus diferentes gêneros literários, que variam dependendo do que estamos lendo - se é uma narrativa, um poema, uma carta, uma parábola ou uma visão apocalíptica. A Igreja nos exorta a ler os livros sagrados dessa maneira a fim de nos fazer compreender, com segurança, o que os autores bíblicos estavam se esforçando para explicar ao povo de Deus a cada texto. O sentido literal, no entanto, não é o único da Escritura; nós interpretamos suas sagradas páginas tambémde acordo com seus sentidos espirituais. Dessa forma, bus camos compreender o que o Espírito Santo está tentando nos dizer para além daquilo que afirmaram conscientemente os escritores humanos. Enquanto que o sentido literal da Escritura descreve realidades históricas - fatos, ensinamentos, eventos-, os sentidos espirituais desvelam os profundos mistérios abrigados através das realidades históricas. Os sentidos espirituais são para o literal o que a alma é a para o corpo. Você é capaz de distingui-los; porém, se tentar separá-los, a conseqüência imediata é fatal. São Paulo foi o primeiro a insistir nisso e já alertava para as conseqüências: "Deus [ ... ] nos tornou capazes de sermos ministros de uma aliança nova, não aliança da letra, mas do espírito; pois a letra mata, e o Espírito é que dá a vida'' (2 Cor 3, 5-6). A tradição católica reconhece três sentidos espirituais que se erguem sobre o ali cerce do sentido literal da Escritura (cf. CIC 1 1 5): Alegórico. O primeiro é o alegórico, que revela o significado espiritual e profético da história da Bíblia. As interpretações alegóricas expõem como as personagens, os eventos e as leis da Escritura podem apontar para além deles mesmos, em direção ou a grandes mistérios ainda por vir (como no caso do Antigo Testamento) , ou aos frutos de mistérios já revelados (como no Novo Testamento) . Os cristãos freqüentemente lêem o Antigo Testamento dessa forma para descobrir de que modo o mistério da Nova Aliança do Cristo já estava contido no da Antiga - e também de que modo a Antiga Aliança foi manifestada plena e finalmente na Nova. A compreensão alegórica é também latente no Novo Testamento, especialmente no relato da vida e da obra de Jesus nos evangelhos . Sendo Cristo a cabeça da Igreja e a fonte de sua vida espiritual, tudo aquilo que foi reali zado por Ele enquanto viveu no mundo antecipa aquilo que Ele continua realizando em seus membros através da Graça. O sentido alegórico fortalece a virtude da fé. Moral. O segundo sentido espiritual da Escritura é o moral, ou tropológico , que revela como as ações do povo de Deus, no Antigo Testamento , e a vida de Jesus , no Novo, nos incitam a criar hábitos virtuosos em nossa própria vida. Nesse sentido, da Escritura se tiram alertas contra vícios e pecados, assim como nela se encontra a inspiração para se perseguir a pureza e a santidade. O sentido moral fortalece a virtude da caridade. Anagógico. O terceiro sentido espiritual é o anagógico, que nos ascende à glória celeste: mostra-nos como um incontável número de eventos contidos na Bíblia prefigura nos- I I Cadernos de estudo bíblico sa união final com Deus na eternidade; revela-nos como as coisas visíveis na Terra são imagens das coisas invisíveis do Céu. O sentido anagógico leva-nos a contemplar nosso destino e, portanto, é próprio para o fortalecimento da virtude da esperança. Junto do sentido literal, esses sentidos espirituais extraem a totalidade daquilo que Deus quer nos dizer através de sua Palavra e, portanto, abarcam o que a antiga tradição chamava de "sentido total" da Sagrada Escritura. Tudo isso significa que os feitos e eventos narrados na Bíblia são dotados de um sentido que vai além do que é imediatamente aparente ao leitor. Em essência, esse sentido é Jesus Cristo e a salvação que, morrendo, Ele nos concedeu. Isso é correto sobretudo nos livros do Novo Testamento, que explicitamente proclamam Jesus; porém é também verdadeiro para o Antigo Testamento, que fala de Jesus de um modo mais camuflado e simbólico. Os autores humanos do Antigo Testamento nos revelaram tudo que lhes era possível revelar, mas eles não podiam, à distância em que estavam, ver claramente que forma tomariam os eventos futuros. Só o Espírito Santo, autor divino da Bíblia, podia predizer a obra salvífica do Cristo (e assim o fez) , da primeira página do livro do Gênesis adiante. O Novo Testamento, portanto, não aboliu o Antigo. Ao contrário, o Novo cum priu o Antigo e, assim o fazendo, levantou o véu que mantinha escondida a face da noiva do Senhor. Uma vez removido o véu, vemos de súbito o mundo da Antiga Aliança cheio de esplendor. Água, fogo, nuvens, jardins, árvores, montanhas, pom bas, cordeiros - todas essas coisas são detalhes memoráveis na história e na poesia do povo de Israel. Mas agora, vistas à luz de Jesus Cristo, são muito mais que isso. Para o cristão que sabe ver, a água simboliza o poder salvífico do batismo; o fogo é o Espírito Santo; o cordeiro imaculado, o próprio Cristo crucificado; Jerusalém, a cidade da glória celestial. Essa leitura espiritual da Escritura não é novidade alguma. De fato, logo os pri meiros cristãos já liam a Bíblia dessa maneira. São Paulo descreve Adão como sendo um "tipo" que prefigurava Jesus Cristo (Rm 5, 1 4) .8 Um "tipo" é algo, ou alguém, ou um lugar ou um evento - reais - do Antigo Testamento que prenuncia algo maior do Novo Testamento. É desse termo que vem a palavra "tipologia", referente ao es tudo de como o Antigo Testamento prefigura Cristo (CIC 1 28- 1 30) . Em outro tre cho, São Paulo retira significados mais profundos da história dos filhos de Abraão, declarando: " Isto foi dito em alegorià' (Gl 4, 24) .9 Ele não está sugerindo que esses 8 Rm 5, 14: "Ora, a morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado, cometendo uma transgres são igual à de Adão, o qual é figura daquele que devia vir" (grifo adicionado). As traduções deste trecho (não só as brasileiras) preferem o termo figura à palavra tipo, que aparece em algumas traduções inglesas. O termo latino encontrado na Vulgata é forma. Aqui, mantém-se o termo tipo pela associação imediata que se faz com o co nceito de tipologia - NE. 9 Gl 4, 24: "Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mul heres representam as duas alianças [ . . . ]" (grifo adiciona- 12 As cartas de São Paulo aos coríntios eventos distantes nunca aconteceram de fato; ele está dizendo que os eventos não só aconteceram mesmo como também significam algo maior ainda por vir. O Novo Testamento, depois, descreve o Tabernáculo da antiga Israel como sendo a " imitação e sombra das realidades celestes" (Hb 8, 5) e a Lei Mosaica como "uma sombra dos bens futuros" (Hb 1 0, 1 ) . São Pedro, por sua vez, nota que Noé e sua família foram "salvos por meio da água" que, de certo modo, "representavà' o sacra mento do Batismo, "que agora salva vocês" (lPd 3, 20- 1 0) . É interessante saber que a palavra grega que aí foi traduzida para "representavà' é originalmente um termo que denota o cumprimento ou contrapartida de um antigo "tipo" . Não é preciso, no entanto, que busquemos j ustificar a leitura espiritual da Bíblia considerando apenas os discípulos. Afinal de contas, o próprio Jesus lia o Antigo Testamento assim. Ele se referia a Jonas (Mt 1 2, 39) , a Salomão (Mt 1 2, 42) , ao Templo (Jo 2, 1 9) e à serpente de bronze (Jo 3, 1 4) como "sinais" que apontavam para ele mesmo. Vemos no evangelho de Lucas, quando Cristo con versa com os discípulos no caminho para Emaús, que "começando por Moisés e continuando por todos os Profetas, Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele" (Lc 24, 27) . Foi precisamente essa interpretação espiritual do Antigo Testamento que causou um profundo im pacto nesses viajantes, antes tão desencorajados, e deixou seus corações "ardendo" dentro deles (Lc 24, 32). CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA Nós também devemos aprender a discernir o "sentido total" da Escritura e o modo como nele estão incluídos o sentido literal e os espirituais . Contudo, isso não significa que devemos "exagerar na interpretação", buscando significados na Bíblia que não estão de fato nela. A exegese espiritual não é um vôo irrestrito da imagina ção. Pelo contrário, é uma ciência sagrada que procede de acordo com certos prin cípios e permanece sob a responsabilidade da sagrada tradição, o Magistério, eda ampla comunidade de intérpretes bíblicos (tanto os vivos quanto os mortos). Na busca do sentido total de um texto, sempre devemos evitar a forte tendência de "espiritualizá-lo demais", de modo que a verdade literal da Bíblia seja minimizada ou até negada. Santo Tomás de Aquino, muito ciente desse problema, asseverou: "Todos os sentidos da Sagrada Escritura devem estar fundados no literal" (cf. CIC 1 1 6) . 1 0 Por 1�utro lado, jamais devemos confinar o significado de um texto em seu do). Novamente há di vergências termi nológi cas : as traduções ora utili zam o termo simbolicamente, ora o term o alegoria. O termo latino encontrado na Vulgata é allegoriam. A tradução brasileira aqui e scolhida, especi ficamente p ara e s te caso, é a da Bíb l ia de Jerusalém, São Paul o: Paulus, 2002; assim, m antém -se o termo alegoria no sentido de concordar com a uniformidade terminológica do res tante da introdução - NE. 10 Cf. S to. Tom ás de Aquino, Summa Theologiae I, 1 , 10, ad 1. 13 Cadernos de estudo bíblico sentido literal, indicado pelo seu autor humano, como se o divino Autor não inten cionasse que aquela passagem fosse lida à luz da vinda do Cristo. Felizmente, a Igreja nos deu diretrizes de estudo da Sagrada Escritura. O caráter único e a autoria divina da Bíblia nos clamam a lê-la "com o espírito"." O Concílio Vaticano II delineou de forma prática esse conselho direcionando-nos a ler a Escri tura de acordo com três critérios específicos: 1 . Devemos "prestar muita atenção 'ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira'" (CIC 1 1 2) ; 2. Devemos "ler a Escritura dentro 'da Tradição viva da Igreja inteira' " (CIC 1 1 3) ; 3 . Devemos "estar atento [s] 'à analogia da fé"' (CIC 1 1 4; cf. Rm 1 2 , 6) . Esses critérios nos protegem de muitos perigos que iludem alguns leitores da Bíblia, do mais novo estudante ao mais prestigiado erudito. Ler a Escritura fora de contexto é uma tremenda armadilha, provavelmente a mais difícil de escapar. Num desenho animado memorável dos anos 50 , um jovem garoto, debruçado sobre as páginas da Bíblia, dizia à sua irmã: "Não me perturbe agora; estou tentando achar um versículo da Escritura que fundamente meus preconceitos". Não há dúvida de que um texto bíblico, privado de seu contexto original, pode ser manipulado a dizer algo completamente diferente daquilo que seu autor realmente intencionava. Os critérios da Igreja nos guiam justamente porque definem em que consistem os "contextos" autênticos de cada passagem bíblica. O primeiro critério dirige-nos ao contexto literário de cada verso, no que se inclui não apenas as palavras e parágrafos que o compõem e o circundam, mas também todo o corpo de escritos do autor bíblico em questão e, ainda, toda a extensão dos escritos da Bíblia. O contexto literário com pleto de qualquer parte da Escritura inclui todo e qualquer texto desde o Gênesis até o Apocalipse - já que a Bíblia é um livro unificado, não uma coleção de livros separados. Quando a Igreja canonizou o livro do Apocalipse, por exemplo, ela reconheceu que ele seria incompreensível se lido separadamente do contexto mais amplo de toda a Bíblia. O segundo critério posiciona firmemente a Bíblia no contexto de uma comuni dade que valoriza sua "tradição vivà'. Tal comunidade é o Povo de Deus através dos séculos. Os cristãos viveram sua fé por bem mais que um milênio antes da invenção da imprensa. Por séculos, só alguns fiéis possuíam cópias dos evangelhos e, aliás, só poucas pessoas sabiam ler. Ainda assim, eles absorveram o evangelho - através dos sermões dos bispos e clérigos, através de oração e meditação, através da arte cristã, através das celebrações litúrgicas e através da tradição oral. Essas eram as expressões 1 1 Cf. Dei Verbum, 1 2 . 14 As cartas de São Paulo aos coríntios de uma "tradição vivà', de uma cultura de viva fé que se estende da antiga Israel à Igreja contemporânea. Para os primeiros cristãos, o evangelho não podia ser enten dido à parte dessa tradição. Assim também é conosco. A reverência pela tradição da Igreja é o que nos protege de qualquer tipo de provincianismo cultural ou cro nológico, como alguns modismos acadêmicos que surgem, arrebatam uma geração inteira de intérpretes e logo são rejeitados pela próxima geração. O terceiro critério coloca a Escritura dentro do quadro da fé. Se cremos que a Escritura é divinamente inspirada, temos de crer também que ela é internamente consistente e coerente com todas as doutrinas nas quais os cristãos crêem. É impor tante relembrar que os dogmas da Igreja (como o da Presença Real, o do papado, o da Imaculada Conceição) não foram adicionados à Escritura; eles são, de fato, a interpretação infalível da Escritura feita pela Igreja. USANDO ESTE ESTUDO Este estudo foi projetado para conduzir o leitor pela Escritura dentro das di retrizes da Igreja - fidelidade ao cânon, à tradição e ao credo. Os princípios in terpretativos usados pela Igreja, portanto, é que deram forma unificada às partes componentes deste livro, de modo a fazer com que o estudo do leitor seja eficaz e recompensador tanto quanto possível. Introduções. Nós fizemos uma introdução ao texto bíblico que, na forma de ensaio, abarca as questões sobre sua autoria, a data de sua composição, seus objetivos e propó sitos originais e seus temas mais recorrentes . Esse conjunto de informações históricas ajuda o leitor a compreender e a se aproximar do texto nos seus próprios termos. COMENTÁRIOS. Os comentários feitos em toda página ajudam o estudante a ler a Escritura com conhecimento. De forma alguma eles esgotam os significados do texto sagrado, mas sempre providenciam um material informativo básico que auxilia o leitor a encontrar o sentido do que lê. Freqüentemente, esses comentários servem para deixar explícito aquilo que os escritores sagrados tomavam por implícito . Eles também trazem um gran de número de informações históricas, culturais , geográficas e teológicas pertinentes à narrativa inspirada - informações que podem ajudar o leitor a suprimir a distância entre o mundo bíblico e o seu próprio . Notas e referências. Junto do texto bíblico e de seus comentários, em cada página são listadas numerosas notas que fazem referência a outras passagens da Escritura relacionadas àquela que o leitor está estudando. Essas notas de acompanhamento são essenciais para todo e qualquer estudo sério. São também um ótimo meio de se ver como o conteúdo da Escritura "se encaixà' numa unidade providencial. Junto às notas e referências bíblicas, os comentários também apontam a determinados parágrafos do Catecismo da Igreja Católica 15 Cadernos de estudo bíblico (CIC) . Eles não são "provas doutrinais'', e sim um auxílio para que a interpretação da Bí blia por parte do estudante esteja de acordo com o pensamento da Igreja. Os parágrafos do Catecismo mencionados ou tratam diretamente de algum texto bíblico ou tratam, então, de um tema mais amplo da doutrina que lança uma luz essencial ao texto bíblico relacionado. Ensaios sobre tópicos, Estudos de palavras e Quadros. Esses recursos trazem ao leitor um entendimento mais profundo a respeito de determinados detalhes . Os ensaios sobre tópicos abordam grandes temas no sentido de explicá-los de modo mais minucioso e teológico do que o que se usa nos comentários gerais, relacionando-os com freqüência às doutrinas da Igreja. Os comentários, inclusive, são ocasionalmente complementados de um estudo de palavras que coloca o leitor em contato com as antigas linguagens da Escritura. Isso deveria ajudar o estudante a apreciar e a entender melhor a terminologia que foi inspirada e que percorre todos os textos sagrados . Também neste livro estão in cluídos vários quadros que resumem muitas informações bíblicas "num piscar de olhos" . Ícones . Os seguintes ícones, intercalados ao longo dos comentários, correspondem cada qual a um dos três critérios de interpretação bíblica promulgadospela Igreja. Pequenas bolas pretas (•) indicam a que passagem (ou a que passagens) cada ícone se aplica. Os comentários marcados pelo ícone fT1 do livro relacionam-se ao primeiro LJ.U critério interpretativo, o do "conteú- do e unidade" da Escritura, a fim de que se torne explícito o modo como deter minada passagem do Antigo Testamento ilu mina os mistérios do Novo. Muitas das in formações contidas nesses comentanos explicam o contexto original das citações e indicam a maneira e o motivo pelos quais aquele trecho tem ligação direta com Cristo e com a Igreja. Por esses comentários, o lei tor é capaz de desenvolver sua sensibilidade à beleza e à unidade do plano salvífico de Deus, que perpassa ambos os Testamentos. Os comentários marcados pelo ícone � da pomba relacionam-se ao segundo .. critério interpretativo e examinam as passagens em questão à luz da "tradição viva" da Igreja. Como o mesmo Espírito Santo foi quem inspirou os sentidos espirituais da Es critura e é quem guia agora o Magistério que a interpreta, as informações contidas nesses comentários seguem essas duas vias da inter pretação. Por um lado, referem-se aos ensi namentos doutrinais da Igreja da maneira como são apresentados por vários papas e concílios ecumênicos; por outro lado, eles expõem (e parafraseiam) as interpretações espirituais de vários Padres Antigos, Douto res da Igreja e santos. Os comentários marcados pelo ícone m das chaves relacionam-se ao terceiro rA3 critério interpretativo, o da "analogia da fé" . Neles é possível decifrar como um mistério da fé "desvendà' e explica outro. Esse tipo de comparação entre alguns pontos da fé cristã evidencia a coerência e unidade dos dogmas definidos, ou seja, da interpreta ção infalível da Escritura feita pela Igreja. r6 As cartas de Sáo Paulo aos coríntios COLOCANDO TUDO EM PERSPECTIVA Talvez tenhamos deixado por último o mais importante aspecto de todo este estudo: a vida interior individual do leitor. O que tiramos ou deixamos de tirar da Bíblia depende muito do modo como a abordamos. Se não mantivermos uma vida de oração consistente e disciplinada, j amais teremos a reverência, a profunda humil dade ou a graça necessária para ver a Escritura como ela de fato é. Você está se aproximando da "palavra de Deus" . Mas, por milhares de anos - des de muito antes de tecer-lhe no ventre de sua mãe -, a Palavra de Deus se aproxima de você. UMA NOTA FINAL O livro que tem nas mãos é apenas uma pequena parte de um trabalho muito maior que ainda está em andamento. Guias de estudo como este estão sendo prepa rados para todos os livros da Bíblia e serão publicados gradualmente, à medida que forem sendo finalizados . Nosso maior objetivo é publicar um grande estudo bíblico que, num único volume, inclua o texto completo da Escritura junto de todos os comentários, quadros, notas, mapa _ s e os outros recursos encontrados nas páginas seguintes . Enquanto isso não acontece, cada livro será publicado individualmente, na esperança de que o povo de Deus possa já se beneficiar deste trabalho antes mes mo que esteja completo . Aqui incluímos ainda uma longa lista de questões de estudo, ao final, para deixar este formato o mais útil possível, não apenas para o estudo individual, mas também para discussões em grupo. As questões foram projetadas para fazer o estudante tanto compreender quanto meditar a Bíblia, aplicando-a à própria vida. Rogamos a Deus para que faça bom uso dos seus e dos nossos esforços para renovar a face da Terra! 17 INTRODUÇÃO À PRIMEIRA CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS AUTORIA E DATA O Apóstolo Paulo se identifica duas vezes como autor dessa carta ( 1 , 1 ; 1 6 , 2 1 ) . Depoimentos dos Padres da Igreja que remontam a São Clemente de Roma (95 dC) favorecem a afirmação , e estudos modernos nunca contestaram seriamente a tradição. Na verdade, 1 Coríntios está cheia de informações valiosas sobre Paulo que corroboram e reforçam o entendimento do seu ministério no livro dos Atos. De acordo com 1 6, 8, Paulo escreveu a carta durante a sua estada em Éfeso, na Ásia Menor (hoje Turquia) . Essa estada provavelmente corresponde à terceira viagem missionária do Apóstolo de 53 a 58 dC, quando passou mais de dois anos instruindo a jovem Igreja naquela cidade (At 1 9, 1 - 1 0) . Como Paulo escrevia na expectativa de chegar a Corinto depois de sua estada em Éfeso ( 1 Cor 1 1 , 34) , podemos estipular a sua composição durante a segunda parte da sua terceira missão, provavelmente na primavera de 56 dC. DESTINATÁRIOS A cidade de Corinto foi um próspero centro comercial do mundo mediterrâneo. Era a capital da província romana da Acaia (sul da Grécia) , e sua localização entre dois portos marítimos fez da cidade uma ligação comercial ideal entre a Itália, no Ocidente, e a Ásia, no Oriente. A história nos diz que Corinto atraía multidões de empreendedores e turistas que desejavam aproveitar a sua prosperidade econômica e desfrutar dos seus inúmeros santuários pagãos, suas lutas entre gladiadores , e os populares Jogos Ístmicos realizados a cada dois anos. Como muitos centros cosmo politas , no entanto, Corinto tinha uma reputação de imoralidade insolente e um espírito implacável de competição. O livro dos Atos nos informa que o próprio Paulo estabeleceu ali a jovem Igreja em cerca de 5 1 dC, mas ficou apenas tempo suficiente para fazer as coisas funcionarem (At 1 8 , 1 - 1 8) . A composição social dessa nova comunidade emerge da carta em si: alguns eram ricos ( 1 1 , 22) , outros pobres ( 1 , 26) , e outros escravos (7, 2 1 ) . Etnicamente, a Igreja de Corinto era misturada, com uma forte presença de gentios (8 , 7; 1 2 , 2) e judeus (7, 1 8-20) . 19 Cadernos de estudo bíblico PROPÓSITO Quase cinco anos se passaram entre o estabelecimentoda Igreja em Corinto por Paulo e a chegada desta carta. Durante sua ausência a comunidade cedeu a uma série de vícios que começou a romper a sua unidade e afastar os membros da fé. Embora Paulo planejasse visitar Corinto para resolver esses problemas pessoalmente (ver 1 1 , 34b), ele enviou a carta que conhecemos como 1 Coríntios para controlar as coisas até sua chegada. Suas instruções foram adaptadas em vista das informações recebidas sobre as contendas . Paulo foi informado pela primeira vez da crise que se formava em Corinto por representantes de uma mulher chamada Cloé ( 1 , 1 1 . 1 1 . 1 8) . Seu relatório pertur bador incluiu notícias de divisões internas ( 1 , 1 2- 1 5) , um caso de incesto (5, 1 -5) , imoralidade sexual (6 , 1 2-20), múltiplas ações judiciais (6 , 1 -8), e negações abertas da Ressurreição ( 1 5, 1 2) . Liturgicamente, os coríntios descuidaram das celebrações Eucarísticas ( 1 1 , 1 7-34), e alguns exerceram dons carismáticos de uma forma mais perturbadora do que edificante ( 1 4, 1 -40) . Paulo confrontou esses problemas, cen surando a imoralidade dos coríntos e chamando-os de volta aos princípios da dou trina cristã. Paulo também deu respostas pessoais aalgumas perguntas feitas pelos coríntios. Em uma carta desconhecida para nós, a jovem Igreja escreveu a Paulo pedindo orientação espiritual sobre vários assuntos, como casamento, celibato, e comida ofe recida aos ídolos (7, 1 ; 8, 1 ; 1 2, 1 ; 1 6, 1 ) . Grande parte de 1 Coríntios consiste em Paulotratando dessas questões uma a uma. No final, Paulo ficou profundamente preocupado com essa Igreja perturbada. Sua orientação pastoral é ade um pai espiritual com o objetivo de restaurar a paz ea unidade entre os filhos, fortalecendo seu compromisso com Jesus Cristo (4, 1 4- 1 5 ) . TEMÁTICA E CARACTERÍSTICAS Primeira Coríntios revela mais sobre as lutas e as particularidades de uma Igreja jovem e apostólica do que qualquer outra carta do Novo Testamento. Ela apre senta uma imagem clara da ampla gama de pressões que os primeiros cristãos tiveram de enfrentar tanto dentro de suas comunidades como no ambiente pagãocircunjacente. Paulo mostra-se sensível a esses desafios ao longo da carta e oferece orientação espiritual que por vezes é ousada e confrontadora, mas sempre cheia de caridade e de sabedoria paternal . Como os problemas na antiga Corinto são os mesmos que afligem a Igreja em todos os tempos, essa carta foi a mais citada das epístolas de Paulo no início do cristianismo e continua a dialogar com a nossa situação atual . 20 As cartas de São Paulo aos coríntios Os principais temas da carta seguem as questões doutrinais e morais que Paulo foi forçado a abordar, especialmente relacionadas à imoralidade, arrogância, abuso litúrgico e opiniões errôneas sobre a morte e ressurreição. Esses problemas trans formaram a Igreja local em Corinto efizerama comunidade por vezes parecer mais uma sociedade pagã do que uma família espiritual . Para inverter essa tendência, Paulo direciona toda a carta a dois vícios que permeiam várias lutas dos coríntios: o orgulho e o egoísmo. ( 1 ) O orgulho se manifestou entre os coríntios na forma de arrogância intelectual que respeita mais o conhecimento humano e a eloquência do que a mensagem humilde do Evangelho ( 1 , 1 8-25 ; 3, 1 8-2 1 ; 8, 1 -3 ) . Paulo aprovei ta a ocasião para repreender sua atitude de superioridade, apelando às advertências nas Escrituras ( 1 , 1 9. 3 1 ; 3, 1 9-20), e lembrando-lhes que a verdadeira "sabedorià' é transmitida por meio doEvangelho da cruz ( 1 , 1 8 ; 2, 6- 1 0). O Apóstolo crê que não há espaço entre os fiéis para a arrogância ou a jactância, porque tudo o que possuem de bom é um dom de Deus (4, 6-7). (2) O egoísmo se manifesta de várias maneiras entre os coríntios . Ações judiciais entre os cristãos eram um problema crescente (6, 1 -8) ; certos cristãos afirmaram suas liberdades de forma imprudente (8, 1 - 1 3) ; alguns eram culpados de discriminação para com os pobres ( 1 1 , 2 1 -22) ; e alguns exerceram dons espirituais como uma forma de atrair a atenção para si ( 1 4, 1 -40). A prescrição de Paulo para cada uma dessas doenças é um retorno à caridade cristã ( 1 4, l; 1 6, 14. 22). Só o amor de Deus em nós "edificà' (8, 1 ) a Igreja de forma a glorificar a Cristo. O capítulo 1 3 é o mais bonito na carta, descrevendo o amor como paciente, zeloso e orientado aos outros. Essa é a lei suprema da Nova Alian ça (Rm 1 3, 8- 1 0) e a jóia da coroa das virtudes cristãs ( 1 Cor 1 3, 1 3) . Para Paulo, somente o amor divino que recebemos de Cristo pode nos libertar das correntes da vida egocêntrica e levar-nos à eternidade com Deus ( 1 3, 8-1 2). 2 1 ESQUEMA DA PRIMEIRA CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS 1. Discurso e Prólogo (1, 1-9) 1 . Saudação ( 1 , 1-3) 2 . Ação de graças ( 1 , 4-9) II. Correção dos problemas de Corinto (1, 10-6, 20) 1 . Falta de unidade e maturidade ( 1 , 10 - 4, 2 1 ) 2 . Escândalo de incesto (5 , 1 - 1 3) 3 . Questões judiciais entre cristãos (6, 1 -11) 4 . Imoralidade sexual e o corpo (6, 12-20) III. Resposta às questões de Corinto (7, 1-14, 40) 1 . Casamento e celibato (7, 1 -40) 2 . Carne aos ídolos e liberdade cristã (8 , 1 - 1 O, 33) 3. Problemas com liturgia e assembléia ( 1 1 , 1 -34) 4 . O Corpo de Cristo e o s dons dos seus membros ( 1 2, 1 - 1 4, 40) IY. Ressurreição dos mortos (15, 1-58) 1 . Ressurreição de Cristo ( 1 5, 1 - 1 1 ) 2 . Ressurreição da Igreja ( 1 5, 1 2-58) V. Epílogo (16, 1-24) 1 . Coleta para Jerusalém e a futura visita de Paulo ( 1 6, 1 - 1 2) 2 . Exortações finais ( 1 6, 1 3-24) A PRIMEIRA CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS 1 Saudação- 1 Paulo, chamado a ser Apóstolo do Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto: aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a serem santos, junto com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 3 Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 4 Dou sempre graças a meu Deus a vosso respeito, por causa da graça que ele vos concedeu no Cristo Jesus. 5 Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, 6 à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós. 7 Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. 8 É ele também que vos confirmará em vosso procedimento irrepreensível até o fim, até o dia de nosso Senhor Jesus Cristo. 9 É fiel o Deus que vos chamou à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor. 1 , l:Rm 1, l ; At 1 8 , 1 7. l , 2:At 1 8, 1 . 1 , 3: Rm 1 , 7. l , 4:Rm 1 , 8. 1 , 8: 1 Cor, 5 , 5 ; 2 Cor 1 , 1 4 . 1 , 9:Rm8, 28; Jo 1 , 3 . COMENTÁRIOS 1, 1: "chamado [ . . . ] por vontade de Deus" - a missão evangélica de Paulo foi de finida por iniciativa de Deus, não por inicia tiva própria (At 9, 1 - 1 6; Gl 1 , 1 2) . Ele afirma sua autoridade apostólica desde o início da carta, porque alguns coríntios duvidavam ou negavam o fato (9, 1 -2 ; 2 Cor 1 0- 1 2) . "Sóstenes": Possivelmente, o chefe da si nagoga de Corinto mencionado em At 1 8 , 17 . Se assim for, ele deve ter se convertido ao Evangelho durante a estada inicial de Paulo na cidade. IT'l 1 , 2: "à Igreja de Deus" - Refere-se à LJ.U congregação local em Corinto que faz parte da Igreja universal (CIC 752). A prega ção mais antiga de Paulo na cidade ocorreu na sinagoga local, onde judeus e gregos aco lheram sua mensagem (At 1 8 , 4) . "aos que foram santificados": isto é, os que foram feitos "santos" e "separados" para servir a Deus. Os cristãos são santificados pe los méritos do sacrifício de Cristo (Hb 1 O, 1 0) , que primeiro vem a nós no Batismo (6, 1 1 ; Ef 5, 26) . "invocam o nome": Um ato de oração e adoração (Gn 4, 26; SI 1 1 6 , 1 7) . Invocar o nome de Cristo está intimamente liga do à liturgia sacramental da Igreja, como no Batismo (6 , 1 1 ; Mt 28, 1 9 ; Atos 2, 38 ; CIC 2 1 56). Ver comentário em 1 Cor 1 6 , 22 . • Invocar Jesus como Senhor em qualquer lugar recorda o culto universal do nome de Deus previsto em MI 1 , 1 1 . Os primeiros cristãos viram esse oráculo ser cumprido na "oferta purà' da Eucaristia (CIC 2643). Cadernos de estudo bíblico 1 , 3 "Para vós, graça e paz" - costumei ra saudação de Paulo às igrejas locais (Rm 1 , 7; 2 Cor 1 , 2; Gl 1 , 3) . 1 , 5 "em toda palavra e em todo conhe cimento" - Dons do Espírito Santo ( 1 2 , 8) . Antes de tratar de problemas, Paulo celebra os dons de Deus para os coríntios e expres sa confiança de que o Senhor continuará a abençoá-los até o final ( 1 , 8) . 1 , 6 "testemunho sobre Cristo" - Paulo deu testemunho do Evangelho ao pregar aos coríntios (2, 1 -5) , escrever cartas para eles (5 , 9), e modelar virtudes a serem imitadas ( 1 1 , 1 ) . 1 , 7 "dom'' - Antecipa a longa discussão nos capítulos 1 2- 1 4 sobre o uso apropriado dos dons carismáticos. Tais manifestações do Espírito vêm de Deus e são destinadas a edi ficar a Igreja no amor ( 1 2 , 7- 1 1 ; 14 , 3-5) . fT1 1 , 8 "dia de Nosso Senhor Jesus LJ.U Cristo" - Paulo lembra os leitores do Dia do Julgamento, quando cada pensamen to, palavra e ação será pesado na balança por Cristo (Rm 2, 5- 1 0; 2 Cor 5, 1 0; CIC 682) . • O "dia do Senhor" é uma expressão recor rente no Antigo Testamento. É um dia de julgamento impetuoso em que Deus se vinga dos seus inimigos e j ustifica os santos QI 2, 30-32; Am 5, 1 8 ; Livro de Obadias 1 5). Às vezes refere-se a um dia no curso da história, como o dia da devastação de Jerusalém em 70 dC (Zacarias 1 4, 1 - 5 ; Mt 24) ; outras vezes, refere-se ao último dia da história, quando Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos (3, 1 3 ; 5 , 5 ; At 10 , 42) . Paulo colo ca a fórmula tradicional ("dia do Senhor") em outras palavras para identificar Cristo com o Juiz divino ( "dia de nosso Senhor Jesus Cris to" ) . Divisões na Igreja - 1 0 Irmãos,e u vos exorto, pelo nome d e nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos no sentir e no pensar. 1 1 Com efeito, pessoas da família de Cloé informaram-me a vosso respeito, meus irmãos, que está havendo contendas entre vós. 12 Digo isto, porque cada um de vós fala assim "Eu sou de Paulo" , ou: "Eu sou de Apolo" , ou: "Eu sou de Cefas", ou: "Eu sou de Cristo" ! 13 Será que Cristo está dividido? Será Paulo quem foi crucificado por amor a vós? Ou foi no nome de Paulo que fostes batizados? 14 Dou graças a Deus por não ter batizado nenhum de vós, a não ser Crispo e Gaio. 15 Assim, ninguém pode dizer que fostes batizados no meu nome. 16 Ah, sim, batizei a família de Estéfanas. Além destes, não me lembro de ter batizado nenhum outro. 17 De fato, Crisro não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho - sem sabedoria de palavras, para não esvaziar a força da cruz de Cristo. 1, 12: 1 Cor 3 , 4 ; At 1 8 , 24; 1 Cor 3 , 22 ; )o 1, 42; 1 Cor 9 , 5; 1 5 , 5. 1, 13: Mt 28, 1 9 ; At 2, 38. 1, 14: At 1 8 , 8 ; Rm 16, 23. 1, 16: 1 Cor 16, 15. 1, 17: Jo 4, 2 ; At 1 0 , 48; 1 Cor 2, l; 4 , 1 3 . 1 , 10 - 4, 2 1 : Paulo confronta cristãos ses homens são servos do mesmo Jesus Cris imaturos cuja lealdade a vários missionários to, o único que concede a salvação ( 1 , 1 3; 3 , dividem a Igreja local . Já haviam se forma- 3-9, 2 1 -23) . Esse acontecimento explica por do facções em torno dos mentores missio- que os quatro primeiros capítulos sublinham nários mencionados em 1 , 1 2 (Paulo, Apolo, a importância crucial de unidade entre os Cefas) . Paulo repreende esse comportamen- cristãos e a lealdade suprema que devemos to sectário de correr atrás dos ministros do a Cristo sobre todos os ministros do Evan Evangelho com o lembrete de que todos es- gelho. 1 , 1 1 : "pessoas da família de Cloé" - Além desse versículo, nada se sabe sobre esta mulher ou sua família. 1 , 12: ''Apolo" - Um líder cristão de Ale xandria (norte do Egito) , que ministrou em Corinto depois da primeira estadia de Paulo na cidade (3, 5, 22; At 1 8 , 24- 1 9 : 1 ) . "Cefas" - O nome aramaico de Pedro, que é utilizado em toda esta carta (3, 22; 9 , 5 ; 1 5 , 5) . Essa é a única menção da associa ção do Apóstolo Pedro com os coríntios no Novo Testamento. Ver Estudo da Palavra: Pedro em Mt 1 6. "Eu sou de Cristo" - Esse lema sugere que uma das facções distinguiu-se das de mais por sua fidelidade a Cristo, e não por um missionário particular. 1 , 14: "Crispo" - O chefe da sinagoga de Corinto, que se converteu ao cristianismo quando Paulo chegou pela primeira vez na cidade (At 1 8 , 8) . "Gaio" - Possivelmente o indivíduo mencionado em At 1 9 , 29 e/ou Rm 1 6, 23, mas isso é incerto, uma vez que "Gaio" era As cartas de São Paulo aos coríntios um nome popular no mundo helênico. 1, 16: "batizei a família'' - O Batismo de famílias inteiras, incluindo empregados domésticos e crianças, era uma prática habi tual na Igreja primitiva (At 1 6, 1 5 , 33 ; CIC 1 252) . Ver comentário em Lc 1 8 , 1 6 . 1 , 17: "anunciar o Evangelho" - Paulo não está minimizando a importância do Ba tismo mas sublinhando a sua obrigação pri mária de evangelizar (9, 1 6 ; Rm 1 , 1 4- 1 5) . Suas palavras são destinadas a determinados coríntios que exageravam o papel do minis tro do Batismo (1 Cor 1 , 1 3- 1 5) e perdiam de vista o propósito do Sacramento, que é nos unir com Cristo ( 1 2, 1 3 ; Gl 3, 27) . "sem sabedoria de palavras" - O poder do Evangelho para persuadir a audiência de riva da mensagem em si, não do mensageiro que a entrega ( 1 , 1 8 ; Rm 1 , 1 6) . A missão de Paulo, portanto, não é agradar o ouvido com a habilidade tão admirada pelos coríntios de falar com eloquência, mas persuadir o cora ção, falando de Cristo crucificado em termos claros e simples. Cristo, Poder e Sabedoria de Deus - 18 A pregação da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é força de Deus. 19 Pois está escrito: "Destruirei a sabedoria dos sábios e confundirei a inteligência dos inteligentes" . 20 Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o disputador deste mundo? Aliás, Deus não converteu em loucura a sabedoria deste mundo? 21 De fato, pela sabedoria de Deus, o mundo não foi capaz de reconhecer a Deus por meio da sabedoria, mas, pela loucura da pregação, Deus quis salvar os que crêem. 22 Pois tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria. 23 Nós, porém, proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. 24 Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. 25 Pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens. 26 De fato, irmãos, reparai em vós mesmos, os chamados: não há entre vós muitos sábios de sabedoria humana, nem muitos poderosos, nem muitos de família nobre. 27 Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. 28 Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa. 29 Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de Deus. 30 É graças a ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e libertação, 3 1 para que, como está escrito, "quem se gloria, glorie-se no Senhor" . l, 19: Is 29, 1 4 . l, 22: Mt 12 , 38 . l, 23: 1 Cor 2, 2; Gl 3, 1 ; 5, 1 1 . l, 27: Tg 2, 5. l, 28: Rm 4, 17 . l, 29: Ef 2, 9. l, 30: 1 Cor 4, 1 5 ; Rm 8, l ; 2 Cor 5 , 2 1 ; 1 Cor 6, 1 1 ; 1 Ts 5 , 23; Ef l , 7 . 1 4; Col l , 14 ; Rm 3, 24. l , 3 l : Jr 9, 24; 2 Cor 1 0 , 1 7. ------ 27 Cadernos de estudo bíblico 1 , 18: "A pregação da cruz" - O Evan gelho divide o destino dos homens, levando os que o abraçam à salvação e arrastando os que o rejeitam à perdição (Lc 2, 34) . O gre go de Paulo descreve isso como um processo de desdobramento e implica que o veredicto final do julgamento de Deus ainda está em aberto, ou seja, ainda há esperança para os que se perdem e ainda perigos à frente para os que estão sendo salvos. lJJ 1 , 19: "destruirei" - Uma referência a Is 29, 14 . • Isaías prediz a destruição de todas a s formas de sabedoria humana que se afirma contra a sabedoria de Deus. Originalmente esta foi uma advertência para os líderes de Israel, cujo excesso de confiança no entendimento huma no foi manifestado quando prestaram mais atenção aos políticos do que aos profetas. O mesmo aviso é agora colocado aos coríntios, que prezam a sabedoria racional dos homens sobre a sabedoria revelada do Evangelho. 1 , 20: "Onde está . . . ?" Paulo provoca a elite intelectual do mundo antigo. Ele está convencido de que os filósofos gregos (sá bio) , os especialistas judeus na Torá (escriba) , e os oradores públicos aclamados do dia (dis putador) não são nada comparados ao poder e persuasão do Evangelho. ESTUDO DA PALAVRA: SABEDORIA ( 1 COR 1 , 20) S ophia (grego) : "Sabedoria'' , "destreza'' ou "discernimento" . A palavra é usada 1 7 vezes nesta carta e 34 vezes no restante do Novo Testamento. Paulo a utiliza como ênfase ao que foi dito no Antigo Testamento ( 1 ) A Torá é vista como a personificação da sabedoria divina (Dt 4, 5-6; Eclo 24, 23-25 ) . (2) Os livros sapienciais associados com o rei Salomão retratam a sabedoria como a arte de viver com prudência. Deus deu essa sabedoria a Salomão para instruir Israel e os gentios no caminho da justiça ( 1 Rs 4, 29-34) . (3) A sabedoria também é personificada no Antigo Testamento como uma artesã da criação (Pr 8; Sb 7, 22) que dirige a história humana (Sb 9- 1 1 ) . A Sabedoria, nesse sentido, teve o seu início na eternidade (Eclo 24, 9) e está intimamenteassociada com a Palavra de Deus (Sb 9, l ; Eclo 24, 3) , bem como à ação do Espírito Santo (Sb 9, 1 7) . Paulo se baseia nessas tradições para fazer um nítido contraste entre a sabedoria que vem de Deus e a sabedoria filosófica humana celebrada pelos gregos. Para o Apóstolo, Jesus Cristo é a sabedoria divina de Deus (1 Cor 1 ,24) que é dada aos que creêm através da infusão do Espírito (1 Cor l , 30; 2, 7- 13 ; Ef l , 1 7; Cl 2, 3) . Como tal, não pode ser equiparada com a engenhosidade de filósofos e pensadores. 1 , 21 : "não foi capaz de reconhecer a salvar o mundo através de um Messias crucifi Deus" - Não a ignorância da existência de cado (2, 8; At 1 7, 30; Rm 1 0, 3) . A fé percebe Deus por si só, mas a ignorância dos seus cami- o que a razão sozinha não consegue, ou seja, nhos, especialmente do seu plano divino para a mais elevada sabedoria de Deus (Is 55 , 9) . 1 , 22: "judeus" - Israel esperava mila gres extraordinários (sinais) do Messias para autenticar a sua missão (Me 1 6, l ; Jo 6, 30) . "gregos" - pensadores helenísticos es cavam sempre à procura de explicações novas e atraentes do universo (sabedoria) . 1 , 23: "proclamamos Cristo crucificado" - a crucificação romana era normalmente um sinal de desgraça e derroca para as suas víti mas. A crucificação de Cristo, no encanto, foi um golpe mortal para o diabo e o meio para nossa salvação (CIC 272) . "escândalo para os judeus" - Para al guns judeus, corno os que escreveram os Manuscritos do Mar Morto, a crucifica ção escava ligada à maldição de Deus em Deuteronômio 2 1 , 22-23 . Paulo lida com esta aparente dificuldade em Gl 3, 1 3 , onde insiste que Cristo suportou a maldi ção da morte para que Israel e os gentios pudessem ser abençoados com nova vida. 1, 30: "graças a Ele" - todas as bênçãos es pirituais vem a nós do Pai (Ef 1 , 3; T g 1 , 1 7; CIC 28 1 3) . Ternos de reconhecer isso para evitar jactância sem sentido ( 1 Cor 1 , 29) e a ilusão da auto-suficiência (4, 7) . llJ 1 , 3 1 : "quem se gloria" - urna pará frase da versão grega de Jr 9, 24 . • Jeremias desafiou os sábios, poderosos e ri cos de Israel a parar de ostentar suas vanta gens mundanas e começar a dar a glória ao Senhor Qr 9, 23). Paulo tem essa passagem em mente quando faz o mesmo apelo aos Co ríntios. Embora alguns deles fossem "sábios" , "poderosos" e "nobres" aos olhos do mundo ( 1 Cor 1 , 26), se vangloriavam dos seus dons espirituais sem dar o devido crédito ao Se nhor (4, 7) . 29 As cartas de São Paulo aos coríntios NOTAS Cadernos de estudo bíblico 2 Proclamação de Cristo Crucificado - 1 Irmãos, quando fui até vós anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri à oratória ou ao prestígio da sabedoria. 2 Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. 3 Aliás, estive junto de vós com fraqueza e receio, e com muito tremor. 4 Também a minha palavra e a minha pregação não se apoiavam na persuasão da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, 5 para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria humana. 2, 1: 1 Cor ! , 1 7. 2, 2: Gl 6, 14; 1 Cor ! , 23. 2, 3: At 1 8 , 1. 6 . 1 2; 1 Cor 4, 1 0; 2 Cor 1 1 , 30. 2, 4: Rm 1 5 , 1 9; 1 Cor 4 , 20. 2, 5: 2 Cor 4 , 7; 6, 7 ; 1 Cor 12, 9 . COMENTÁRIOS 2, 1: "quando fui até vós" - Isto é, quan do Paulo evangelizou Corinto pela primeira vez (At 1 8 , 1 - 1 7) . 2, 3: "receio [ . . . ] e temor" - Uma ex pressão bíblica da reação ao poder e a presença de Deus Todo-Poderoso (Ex 20, 1 8 ; SI 2, 1 1 ; Ez 1 2, 1 8 ; Fl 2, 1 2) . 2, 4 : "uma demonstração do poder do Es pírito" - Mesmo as proclamações mais di nâmicas do Evangelho se mostram ineficazes a menos que o Espírito convença as mentes e os corações dos ouvintes a aceitá-lo (Fl 1 , 29) . Paulo indica que sua própria capacidade modesta de falar era uma fraqueza que permi tiu que o poder de Deus atuasse mais perfei tamente por ele (2 Cor 12 , 9) . A idéia nessa passagem é que Deus salva o mundo por meio do que é tolo e fraco a fim de que só ele possa ser elogiado pelo resultado ( 1 Cor 1 , 2 1 - 29) . Ver Estudo da Palavra: Inábil em 2 Cor 1 1 . A verdadeira Sabedoria de Deus - 6 Entre os irmãos plenamente instruídos, de certo, falamos de sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem a sabedoria dos poderosos deste mundo, fadados a desaparecerem. 7 Falamos da misteriosa sabedoria de Deus, a sabedoria escondida que, desde a eternidade, Deus destinou para nossa glória. 8 Nenhum dos poderosos deste mundo a conheceu. Pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. 9 Mas, como está escrito, "o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu" . 10 A nós, Deus revelou esse mistério por meio do Espírito. Pois o Espírito sonda tudo, mesmo as profundezas de Deus . 1 1 Quem dentre as pessoas conhece o que é próprio do ser humano, a não ser o espírito humano que nele está? Assim também, ninguém conhece o que é de Deus, a não ser o Espírito de Deus. 12 Nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos concedeu. 13 Desses dons também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, aplicando a realidades espirituais uma linguagem espiritual. 14 O homem não-espiritual não aceita o que é do Espírito de Deus, pois isso lhe parece loucura. Ele não é capaz de entendê-lo, porque só pode ser avaliado pelo Espírito. 15 Ao contrário, o homem espiritual julga tudo, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. 16 Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, de maneira a poder lhe dar conselho? Nós, todavia, temos o pensamento de Cristo. 2, 6: Ef 4, 1 3 . 2, 7: Rm 8, 29-30. 2, 8: At 7, 2; Tg 2, !. 2, 9: Is 64, 4 ; 65, 17. 2, 10: Mt l i , 25; 13, l i ; 16, 17; Ef 3, 3 . 5 . 2, 12: Rm 8, 1 5 . 2, 13: 1 Cor ! , 17 . 2, 14: 1 Cor ! , 1 8 ; Tg 3, 1 5 . 2, 15: 1 Cor 3, ! ; 14 , 37; Gl 6, 1 . 2, 16: Is 40, 1 3 ; Rm l i , 34. 2, 6: "irmãos plenamente instruídos" 1 táos que alcançaram maturidade espiritual e - ou "o perfeito" . Paulo diferencia entre cris- os que são simplesmente "crianças" (3 , 1 ) . Ironicamente, os coríntios imaturos são os que se consideram mais sábios e avançados espiritualmente. 2, 7: "misteriosa sabedoria de Deus" - O plano divino para salvar o mundo através de um Messias crucificado foi escondido dos gentios e apenas vagamente retratado no An tigo Testamento. 2, 8: "poderosos deste mundo" - As au toridades judaicas e romanas que colabora ram para executar Jesus eram culpadas pelos seus crimes e contudo ignorantes do plano de Deus para redimir o mundo através de sua morte (At 3, 1 7; 4, 27-28 ; CIC 59 1 , 597) . rT1 2, 9: "que os olhos jamais viram'' - LlU Uma paráfrase de Is 64, 4 . • Isaías se admira que nunca se viu ou ouviu um Deus como o Senhor, que é sempre fiel para libertar os que esperam nele. As palavras finais desta citação não sáo de Isaías, mas apa rentemente do Eclo 1 , 1 O, em que a sabedoria insondável de Deus é um dom prometido aos que o amam. Paulo une Isaías e Sirach para ressaltar o que Deus tem preparado há muito tempo em segredo e tornou agora conheci do para o mundo através do Espírito (CIC 1 027) . 2, 10: "o Espírito sonda tudo" - O Es pírito é unicamente qualificado para sondar a mente de Deus e dar a conhecer os seus planos sábios (Dn 4, 9) . Como um guia in terior para os cristãos, o Espírito nos ilumina sobre os dons espirituais e verdades que Deus transmitiu em Cristo ( 1 Cor 2, 1 2- 1 3 ; CIC 687, 2038) . 2, 14: "homem não-espiritual" - O ho mem não redimido que não tem o espírito e o discernimento espiritual. As cartas de São Paulo aos coríntios 2, 15 : "homem espiritual" - O cristão maduro que tem o espírito e a sabedoria espiritual (2, 6) . rT1 2, 16: "pois quem conheceu" - Uma LlU referência a Is 40, 1 3 . • A pergunta retórica de Isaías antecipa uma resposta negativa, isto é, nenhum homem mortal tem acesso à mente de Deus ou é capaz de informá-lo sobre verdades que ele já não saiba. Paulo conclui que a sabedoria divina está além do alcance da compreensão humana e pode ser conhecida pelos homens apenas se for revelada pelo próprio Deus (Sb 9 , 1 3- 1 8 ; CIC, 1 998) . NOTAS 3 1 Cadernos de estudo bíblico 3 Sobre as divisões na Igreja de Corinto - 1 Irmãos, não vos pude falar como a pessoas espirituais. Tive de vos falar como a pessoas carnais, como a crianças na vida em Cristo. 2 Eu vos alimentei com leite, não com alimento sólido, de acordo com a vossa capacidade. E nem atualmente sois capazes de tomar alimento sólido, 3 pois sois ainda carnais. fu rivalidades e contendas que existem no meio de vós acaso não mostram que sois carnais e que procedeis de modo humano apenas? 4 Quando um declara: "Eu sou de Paulo" e outro: "Eu sou de Apolo", não estais apenas no nível humano? 5 Pois, que é Apolo? Que é Paulo? Não passam de servos pelos quais chegastes à fé. A cada um o Senhor deu sua tarefa: 6 eu planeei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. 7 De modo que nem o que planta nem o que rega são, propriamente, importantes. Importante é aquele que faz crescer: Deus. 8 Aquele que planta e aquele que rega são a mesma coisa, mas cada qual receberá o salário correspondente ao seu trabalho. 9 Pois nós somos cooperadores de Deus, e vós, lavoura de Deus, construção de Deus. 10 Segundo a graça que Deus me deu, eu, como bom arquiteto, coloquei o alicerce, sobre o qual outro se põe a construir. Mas cada qual veja bem como está construindo. 11 De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo. 12 Se então alguém edificar sobre esse alicerce com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno, palha, 13 a obra de cada um acabará sendo conhecida: o Dia a manifestará, pois ele se revela pelo fogo, e o fogo mostrará a qualidade da obra de cada um. 14 Aquele cuja construção resistir ganhará o prêmio; 1 5 aquele cuja obra for destruída perderá o prêmio - mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo. 16 Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós . Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus. 1 8 Ninguém se iluda: se algum de vós se julga sábio diante deste mundo, faça-se louco, para tornar-se sábio; 1 9 pois a sabedoria desce mundo é loucura diante de Deus. Assim está escrito: "Aquele que apanha os sábios em sua própria astúcià' , 20 e ainda: "O Senhor conhece os pensamentos dos sábios: são fúteis" . 2 1 Portanto, ninguém ponha a sua glória em ser humano algum. Sim, tudo vos pertence: 22 Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, 23 mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus. 3, 1 : Rm 7, 14; Hb 5 , 13. 3, 2: Hb 5 , 12 - 13 ; 1 Pd 2, 2. 3, 4: 1 Cor 1 , 12. 3, 5 : 2 Cor 6, 4; Ef 3, 7; Cl 1 , 25. 3, 6: At 1 8 , 4; 24-27; 1 Cor 1 , 1 2 . 3 , 9 : Is 6 1 , 3 ; Ef 2, 20-22; 1 Pd 2 , 5 . 3 , 10: Rm 1 2, 3 ; 1 Cor 1 5 , 1 0 . 3 , 1 1 : E f 2 , 20. 3 , 13: 2 Ts 1 , 7- 10 . 3 , 1 5: J o 23, 1 0 . 3 , 16: 1 Cor 6, 1 9; 2 Cor 6, 1 6. 3, 18: Is 5 , 2 1 ; 1 Cor 8 , 2; Gl 6, 3 . 3, 19: Jo 5 , 13; 1 Cor 1, 20. 3, 20: SI 94, 1 1 . 3, 21: 1 Cor 4, 6; Rm 8, 32. 3, 22: 1 Cor 1, 12; Rm 8, 38. COMENTÁRIOS 3, 1: "pessoas carnais" - cristãos imatu ros que possuem o Espírito, mas são escravi zados por formas mundanas de pensamento. As "rivalidades e contendas" (3, 3) encontra das em Corinto era a prova de que muitos deles eram crianças espirituais. A maturidade cristã real produz frutos de amor e unidade (Gl 5, 22-23; Cl 3, 1 2- 1 5) . 3, 5-23: Paulo enfatiza que o sucesso no ministério é principalmente obra de Deus. Mestres do rebanho devem reconhecer que ( 1 ) somente Deus dá a vida e crescimen to para a Igreja e que (2) Deus vai testar o trabalho de cada trabalhador no Dia do Juízo. Por conseguinte, os fiéis não devem superestimar a importância de seus mestres, mas vê-los como "servos" (3 , 5 ) e "coopera dores" (3 , 9) do Senhor. Paulo ilustra isso com duas analogias, uma agrícola (3, 5-9 ; CIC 75 5) e outra arquitetônica (3 , 1 0- 1 7; CIC 756) . 3, 6: "Eu plantei: Apolo regou" - Paulo estabeleceu primeiro a Igreja em Corinto (At 1 8 , 1 - 1 7) , enquanto Apolo veio depois para fomentar o crescimento espiritual da comu nidade (At 1 8 , 24- 1 9, 1 ) . 3 2 liJ 3 , 1 0 : "bom arquiteto" - Ou "sábio arquiteto" . Paulo estabeleceu a Igreja em várias cidades pela evangelização, deixan do aos líderes subsequentes a construção das congregações na fé e no amor (Rm 1 5 , 1 9- 20) . Para ele, o único alicerce estável para construir é o Evangelho de Cristo ( 1 Cor 3 , 1 1 ) . • Arquitetos no Antigo Testamento foram dotados pelo Espírito com a sabedoria e as habilidades técnicas necessárias para cons truir o Tabernáculo no deserto (Ex 35 , 30- 33) e o Templo de Jerusalém (1 Rs 4, 29; 7, 1 3- 1 4) . O rei Salomão, em particular, foi um arquiteto sábio que estabeleceu os alicerces do Templo ( 1 Rs 5, 1 7- 1 8) , e concedeu a sua sabedoria para Israel e as nações iguais ( 1 Rs 10 , 24; Pr 1 , 1 -2) . Paulo vê a s i mesmo como um Salomão espiritual que supervisio na a construção de outro templo, a Igreja, e proclama a maior sabedoria do Evangelho aos "gentios" e aos "filhos de Israel" (At 9, 1 5) . liJ 3 , 12 : "Se então alguém edificar" - Líderes espirituais são como artesãos comissionados para edificar cristãos no Tem plo de Deus (3, 1 6- 1 7) . A qualidade da sua obra é retratada por uma lista de materiais de construção que vão desde o mais ao menos valioso - os três primeiros (ouro, prata, pe dras preciosas) são caros e resistentes, en quanto os outros três (madeira, feno, palha) são baratos e inflamáveis . O impetuoso Dia do Julgamento irá revelar se têm trabalhado diligente ou negligentemente, uma vez que todo o trabalho abaixo do padrão será consu mido nas chamas do escrutínio divino (3, 1 5) . Embora Paulo esteja falando diretamen te aos ministros do Evangelho, suas palavras se aplicam a todos os cristãos na medida em As cartas de Sáo Paulo aos coríntios que todos são chamados a "edificar" a Igreja no amor ( l 4, 4; Ef 4, 1 1 - 1 6; 1 Ts 5 , 1 1 ; CIC 2045) . • A lista de Paulo para materiais de constru ção é semelhante às apresentadas no Antigo Testamento para a construção do Tabernácu lo (Ex 3 1 , 2-5) e do Templo ( 1 Cr 29, 2) . Feno e palha, no entanto, estão ausentes des sas listas - um fato que acentua a sua indigni dade como materiais estruturais. liJ 3, 14: "prêmio" - O mesmo termo grego é traduzido como "salários" em 3, 8. Refere-se à compensação espiritual pelo trabalho apostólico. • No fundo, Paulo está pensando no rei Sa lomão, que contratou os trabalhadores de Hiram de Tiro para, recebendo "salários" , construírem o Templo de Jerusalém sob sua supervisão (1 Rs 5, 5-6) . Ver comentário em 1 Cor 3, 10 . liJ � 3, 15: "como que através do lilllJll fogo" - Alguns trabalhadores cristãos, cujos esforços são pobres e imperfei tos, passarão pelo julgamento impetuoso de Deus como um homem que escapa por pou co com vida de um prédio em chamas. Este prelúdio para a salvação implicará consequ ências espirituais dolorosas, que, embora graves, irá poupá-las da condenação eterna. • O Antigo Testamento muitas vezes retrata o fogo como um agente de prova e refinamento (Eclo 2, 5; Is 4, 4; 6, 6-7; Zc 1 3 , 9; MI 3 , 2-3) . • A tradição católica interpreta o ensina mento de Paulo à luz do Purgatório, uma doutrina definida nos Concílios de Lyon I I 3 3Cadernos de estudo bíblico ( 1 274) , Florença ( 1 439) , e Trento ( 1 563) . O Purgatório é uma etapa final de purificação àqueles que estão destinados ao Céu, mas deixaram essa vida ainda sobrecarregados com pecados veniais ou com uma dívida não paga de pena temporal dos pecados passados (isto é, pecados mortais já perdoados, mas imperfeitamente arrependidos) . Passar pelo fogo é, portanto, um processo espiritual em que as almas são purificadas do egoísmo re sidual e refinadas no amor de Deus (CIC 1 030- 1 032) . ESTUDO DA PALAVRA: PERDERÁ (1 COR 3, 15) Zemioõ {grego): "perder" , "sofrer perdà', ou "ficar sujeito a penalidade" . O Antigo Testamento grego usa esse verbo para simbolizar o sofrimento pessoal (Pr 22, 3) , bem como sanções financeiras (Ex 2, 22; Dt 22, 1 9 ; Pr 1 7, 26) . Os Evangelhos o utilizam para a perspectiva assustadora de perder a vida eterna (Mt 1 6, 26; Me 8,36; Lc 9, 25 ) . Em 1 Cor 3, 1 5 , refere-se a danos espirituais sofridos por líderes cristãos que são descuidados e não comprometidos na sua tarefa de edificar a Igreja. O contexto sugere que Paulo faz alusão às relações de trabalho conhecidas no mundo antigo. De fato, esse termo e termos relacionados eram usados em contratos de construção para estabelecer multas por dano ou mão-de obra defeituosa em projetos desaprovados pela inspeção. 3, 16: "sois templo de Deus" - O tem plo em Jerusalém ainda estava de pé quando esse versículo foi escrito (56 dC) . Para Pau lo, o santuário de pedra da Antiga Aliança foi substituído pelo corpo vivo de Cristo na Nova Aliança. Ele via esse mistério em três dimensões: o corpo de cada cristão é um templo (6, 1 9) ; o corpo de cada Igreja local é um templo (3, 1 7) ; e o corpo da Igreja uni versal é um templo (Ef 2, 1 9-22) . 3, 17: "se alguém destruir" - O cená rio final descrito na metáfora da construção de Paulo: construtores cuidadosos receberão uma recompensa celestial (3, 1 4) ; constru tores descuidados vão passar pelo fogo pu- rificador em seu caminho para salvação (3, 1 5) ; e os trabalhadores que destroem serão destruídos (3, 1 7) . r\'r1 3, 19-20: Paulo cita Jó 5 , 1 3 e SI 94, Ll.U 1 1 para advertir os que pensam ser sá bios. • A primeira passagem é dita por um amigo de Jó, Elifaz, que afirma que enquanto Deus exalta os humildes, também frustra os orgu lhosos e garante que os seus esquemas arro gantes desmoronem. O segundo é um apelo ao Senhor para castigar os soberbos que pen sam que a sua maldade passa despercebida ao Senhor. 3 4 As cartas de São Paulo aos coríntios 4Ministério dos Ap6stolos - 1 Que as pessoas nos considerem como ministros de Crisro e administradores dos mistérios de Deus. 2 Ora, o que se exige dos administradores é que cada um se mostre fiel. 3 Quanto a mim, pouco me importa ser j ulgado por vós ou por alguma instância humana. Nem eu me julgo a mim mesmo. 4 É verdade que minha consciência não me acusa de nada. Mas isro não quer dizer que eu deva ser considerado justo. 5 Quem me j ulga é o Senhor. Portanto, não queirais j ulgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha. Ele trará à luz o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o devido louvor. 6 Estas coisas, irmãos, expliquei em figuras, a respeito de mim e Apolo, para vosso proveito, para que de nós aprendais a regra: "Nada além do que está escrito" e não fiqueis cada qual torcendo por um contra o outro. 7 Pois quem é que te faz diferente? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido? 8 Vós já estais saciados! Já vos enriquecestes! Sem nós, já começastes a reinar! Oxalá estivésseis mesmo reinando, para nós também reinarmos convosco! 9 Na verdade, parece-me que Deus nos apresentou, a nós Apóstolos, em último lugar, como pessoas condenadas à morte. Tornamo nos um espetáculo para o mundo, para os anjos e a humanidade. 'º Nós somos loucos por causa de Cristo, vós, porém, sensatos em Cristo; nós somos fracos, vós fortes; vós sois tratados com honra, nós com desprezo. " Até à presente hora, padecemos fome, sede e nudez; somos esbofeteados e vivemos errantes; 1 2 esgotamo nos no trabalho manual; somos injuriados, e abençoamos; somos perseguidos, e suportamos; 1 3 somos caluniados, e exortamos. Tornamo-nos como que lixo do mundo, a escória universal, até ao presente. 4, l: 1 Cor 9 , 17; Rm 1 1 , 25; 1 6, 25. 4, 4: 2 Cor 1 , 1 2. 4, 5: Rm 2, 1 6; 1 Cor 3 , 1 3 ; 2 Cor 1 0, 1 8 ; Rm 2, 29. 4, 6: 1 Cor ! , 1 9. 3 1 ; 3 , 1 9- 20; ! , 1 2-34. 4, 9: 1 Cor 1 5 , 3 1 ; 2 Cor l i , 23; Rm 8, 36; Hb 1 0, 33. 4, 10: 1 Cor ! , 1 8 ; 2 Cor l i , 1 9 ; 1 Cor 3, 1 8 ; 2 Cor 1 3 , 9; 1 Cor 2, 3 . 4, 11 : Rm 8, 35 ; 2 Cor 1 1 , 23-27. 4, 12: Ar 18 , 3 ; 1 Pd 3, 9. COMENTÁRIOS 4, 1: "administradores" - Administra dores responsáveis pela propriedade do seu mestre. Refere-se, neste contexto, aos minis tros espirituais que administram os assuntos da família de Deus, a Igreja (Lc 1 2, 42-48 ; 1 Tm 3, 1 5 ; CIC 859) . "Mistérios de Deus": As verdades re veladas da Nova Aliança, que estavam es condidas em épocas passadas , mas agora são manifestas por meio do Evangelho. Até certo ponto permanecem mistérios, porque a mente humana pode compreender a obra divina apenas de forma limitada. 4, 4: "Mas isto não quer dizer que eu deva ser considerado justo" - Ou "Eu não sou justificado por isso" . A consciência de Paulo estava tranqüila perante as críticas , embora não fossem necessariamente corre tas . O veredicto final sobre o seu ministério deve aguardar o julgamento, quando Deus revelará os projetos do "coração" ( 4 , 5; cf. Rm 2, 1 6; CIC 678) . Antes disso, pronun ciar um julgamento definitivo sobre as obras dos outros - e até de nós mesmos - pode ser perigoso e bastante impreciso. 4, 6: "de nós aprendais" - Um apelo para ouvir os pastores da Igreja e viver de acordo com o seu exemplo ( 4, 1 6; 1 1 , 1 ) . "Nada além do que está escrito": Paulo adverte os cristãos a permanecerem dentro dos limites da humildade pessoal definidos pelas Escrituras. Ele se refere especificamente à série de advertências do Antigo Testamento a respeito da vanglória citada anteriormente na carta ( 1 , 1 9 . 3 1 ; 3, 1 9-20) . O propósito de Paulo aqui é interromper os efeitos nocivos da arrogância em Corinto, conforme indica do pelo esclarecimento que se segue. São en- 3 5 Cadernos de estudo bíblico ganosas e insustentáveis as interpretações que sugerem que neste versículo Paulo restringe a base da doutrina e moral cristãs ao que é expressamente estabelecido nos livros da bí blia (sola Scriptura) . Nada no contexto sugere tal referência, e em todo caso, Paulo insiste alhures que mesmo a pregação inspirada dos Apóstolos está em paridade com a palavra es crita de Deus ( 1 Ts 2, 1 3 ; 2 Ts 2, 1 5 , 3, 6) . 4 7 " � gl . ,, o , : por que, entao, te ortas - s homens estão sempre à procura de algo de bom em seus arbítrios que seja verdadeira mente deles, em vez de um dom recebido de Deus. É inconcebível encontrar algo assim. 1 2 4, 8-13: Paulo repreende os cristãos hi pócritas por seu egoísmo e críticas injustas . Embora os descreva como sábios e próspe ros, sua ironia retórica implica o oposto, isto é, são ignorantes e estéreis . Sua recusa em abraçar a loucura de Cristo expõe seu orgu lho e revela como seus problemas parecem pequenos em comparação à humilhação dos Apóstolos . 4, 9: "espetáculo" - Paulo compara os Apóstolos a criminosos condenados que es tão em desgraça pública e e são executados diante da multidão ao ar livre. Admoestação paternal - 14 Isto vos escrevo, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos exortar como a filhos queridos. 15 De fato, mesmo que tenhais milhares de educadores em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei no Cristo
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