Prévia do material em texto
1 JORDANA HONORATO – 75D Início da segunda etapa do curso de neuroanatomia MICROSCOPIA DO SNC VIAS AFERENTES (SENSITIVAS) Chegam ao sistema nervoso central: Medulares, Cranianas e Viscerais As vias aferentes/sensitivas/ascendentes medulares são aquelas que vão percorrer a medula espinhal e levar informação sensitiva até o giro sensitivo que tem o nome de giro pós-central. Recebem o nome também de vias ascendentes pois elas seguem um trajeto ascendente na medula em direção à área sensitiva do cérebro (IMAGEM) Os estímulos sensitivos que são captados por um nervo periférico são transportados por este até o interior da medula. As vias sensitivas transportam esses estímulos sensitivos de forma ascendente pela medula espinhal, passando pelo tronco encefálico até sofrer um espécie de um stop a nível do tálamo e, a partir dele, as vias sensitivas sobem em direção ao giro pós-central (IMAGEM) Tronco na sua face posterior mostrando os dois tálamos por onde sempre as vias sensitivas irão passar e sair pela sua face lateral em direção ao giro sensitivo ou giro pós-central. RECAPITULAÇÃO DA MACROSCOPIA DA MEDULA ESPINHAL As vias sensitivas medulares sobem, cada uma delas, por diferentes funículos da medula, portanto, muita atenção com eles. Medula é dividida em substância cinzenta, estrutura em forma de letra H, que fica no interior, no miolo da medula e substância branca, que fica na periferia da medula, a qual em sua superfície, passam na sua porção anterior três sulcos. O suco do meio é a chamado de fissura mediana anterior (FMA), ao seu lado, temos o suco lateral anterior (SLA) direito e esquerdo. Na parte posterior da medula é quase um espelho da anterior, tem-se no centro o sulco mediano posterior (SMP), lateralmente a ele encontram-se os sulcos laterais posteriores (SLP) e entre o SMP e o SLP, na região cervical da medula ainda surge o sulco intermédio posterior (SIP), o qual divide o funículo posterior da medula em fascículo grácil e fascículo cuneiforme. Entre o SLP e o SLA, tem o funículo lateral (direito e esquerdo) e entre a FMA e o SLA, tem o funículo anterior FMA 2 JORDANA HONORATO – 75D FORMAÇÃO DO NERVO PERIFÉRICO Todas as vias medulares ascendentes ou sensitivas tem como início o nervo periférico. O nervo periférico é uma estrutura de função mista, ou seja, ele tem função motora e função sensitiva. Isso ocorre devido a especificação de cada uma das raízes que o formam, de modo que a raiz posterior é sensitiva, ou seja, o estilo captado por um nervo na sua periferia viaja pelo nervo periférico, mas sempre vai entrar na medula pela raiz posterior dela e, assim, ascender por ela em direção ao giro sensitivo. Já a raiz anterior desse nervo é a motora, que vai transportar estímulos motores que descem do cérebro em direção a medula espinhal e, assim, os estímulos motores saem sempre pela raiz anterior do nervo para o estímulo percorrer o nervo periférico e estimular um músculo. VIA DE DOR E TEMPERATURA (NEOESPINOTALÂMICO) Via que vai transportar estímulos da pele de dor – aguda, precisa e bem localizada (ex: fincada de agulha na pele) – e temperatura em direção ao giro pós central (sensitivo). Ilustração de fácil compreensão para nos ajudar a compreender o trajeto das vias sensitivas no interior do sistema nervoso central até chegar ao seu destino final. Temos a representação de um nervo periférico que nós vamos chamar de neurônio I, mais a frente há a representação de um corte transversal da medula, onde está localizado o segundo neurônio da via e também a ilustração de trato de um funículo subindo pela medula espinhal até fazer conexão com o terceiro neurônio que estará situado a nível do tálamo, e, a partir dele, as fibras do terceiro neurônio vão subir sempre passando dentro da cápsula interna para depois chegar ao giro sensitivo ou giro pós-central 3 JORDANA HONORATO – 75D Logo, nessa via existem três neurônios. O 1º neurônio é a raiz posterior (sensitiva) de um nervo periférico, logo, o estímulo da periferia (da pele) é captado por um nervo, entrando na medula através dessa raiz, em direção ao seu interior, pelo corno posterior dela. Os estímulos, nesse caso, vão ser dolorosos ou térmicos – calor ou frio. Atenção, pois na superfície da pele existem receptores especializados em captar diferentes estímulos. No caso dos de dor e temperatura, na superfície da pele tem as chamadas terminações nervosas livres, receptores especializados em captar estímulos, seja dolorosos ou térmicos. Uma vez que a pele recebe um estímulo dessa natureza as terminações nervosas livres passam ele para o nervo periférico que é o nosso primeiro neurônio, o qual corresponde a raiz posterior, transporta esse até o corno posterior da medula e, nessa via de dor e temperatura, o segundo neurônio dela vai se encontrar a nível desse corno. O 2º neurônio das vias medulares é sempre um neurônio responsável pela de decussação da via. Portanto, assim que o primeiro neurônio leva informação ao segundo, ele recebe os estímulos de dor e temperatura e já promove a sua decussação até o funículo lateral do lado oposto. Esses estímulos sobem, portanto, pelo funículo lateral da medula até encontrar já lá no tálamo o terceiro neurônio da via. Esse 3º neurônio, via de regra nas vias medulares, sempre vai se encontrar também no interior do tálamo. Ao receber os estímulos de dor e temperatura, ele vai em direção ao giro pós-central sempre passando pela cápsula interna. A via de dor e temperatura, ao subir pelo funículo lateral da medula, constitui o chamado Trato Espino Talâmico Lateral, ou seja, um trato, um conjunto de vias sensitivas que transportam esses estímulos que vai da medula espinhal em direção ao tálamo, motivo do nome recebido. É por dentro desse trato que as vias de dor e temperatura viajam dentro do funículo lateral da medula em direção ao terceiro neurônio ou em direção ao tálamo. Um detalhe a mais via é que esse trato antes de chegar ao tálamo ou ao terceiro neurônio passa por um corredor estreito que tem o nome de Lemnisco espinhal O conhecimento do trajeto das vias medulares é extremamente útil para a realização de raciocínios clínicos, seja nas lesões medulares ou nas supramedulares. Para isso, é necessário a utilização de uma sinopse, ou seja, um resumo da via de dor e temperatura Essa via pode ser resumida com esse traçado em vermelho, de uma forma bem simplificada. O estímulo proveniente do lado esquerdo da medula, ao entrar nela, já troca de lado (decussa) – ação realizada pelo 2º neurônio a nível de entrada do estímulo –, e sobe pelo trato espino talâmico lateral que está dentro do funículo lateral da medula, passa pela cápsula interna e chega no giro pós central, do lado oposto ao da origem da via (contra-lateral). Destaca-se, portanto, duas características fundamentais da via de dor e temperatura. Interpretações clínicas baseadas nisso: uma lesão medular do lado direito resulta na perda de temperatura e dor do lado esquerdo do corpo, pois a via disso que nasceu do lado esquerdo vai ser interrompida pela lesão medular a direita antes de cehgar ao seu destino final, ou seja, ao giro pós central. E vice-versa. 4 JORDANA HONORATO – 75D Raciocínio semelhante pode ser feito nas lesões supramedulares (acima da medula). Exemplo dessas são as lesões da cápsula interna. Quando essa ocorre no lado direito dela, resulta também a perda de temperatura e de dor do lado esquerdo do corpo ESTRATIFICAÇÃO DO TRATO ESPINOTALÂMICO LATERAL Desenho da via de dor e temperatura em vários segmentos medulares ao mesmo tempo. Recordar que o N1 (primeiro neurônio) entra na medula pelo corno posterior, o N2, recebe o estímulo de dor e temperatura, promove a decussação e esse estímulo sobe pelo trato espinotalâmico lateral. Aestratificação dele é a disposição das fibras de dor e temperatura dentro do próprio trato espinotalâmico. Quanto mais baixo o segmento medular, mais lateral as fibras de dor e temperatura viajam nesse trato. Ou seja, a medida que o estímulo vai subindo nos segmentos medulares mais interna vão ficando suas fibras dentro desse trato Aplicação prática: se ocorrer uma lesão apenas da parte superficial ou periférica do funículo lateral, vai causar dor no indivíduo nos segmentos medulares mais baixos VIA DE DOR E TEMPERATURA (PALEOESPINOTALÂMICA) Outra via, mas essa tem pouca aplicação prática, logo sem necessidade de fazer aplicações clínicas. Ela também transporta estímulos de dor – não aguda, sem precisão e sem estar bem localizada – e temperatura. Transporta dores crônicas, difusas e de difícil localização, dores em queimação, um exemplo são as dores viscerais que não conseguimos localizá-las de forma precisa. Não é necessário guardar detalhes dela, mas para uma compreensão simplista: Essa via tem um 1º neurônio, que é um nervo periférico; um 2º neurônio também localizado no corno posterior da medula; e um 3º neurônio, presente no tálamo. A diferença é que essa via paleoespinotalâmica é bilateral, ou seja, um nervo periférico do lado esquerdo, ao entrar na medula, com o estímulo de dor e temperatura, ele sobe pelo lado homolateral e pelo oposto de forma simultânea, levando informações desses estímulos para os dois hemisférios cerebrais simultaneamente. Isso que causa uma interpretação difusa da dor, de pouca precisão e de difícil clara localização. TERMINAÇÕES NERVOSAS LIVRES 5 JORDANA HONORATO – 75D VIA DO TATO PROTOPÁTICO E PRESSÃO Segunda via, praticamente cópia da via anterior, muito semelhante à via de dor e temperatura. Existem dois tipos de trato, o grosseiro (protopático) e o fino (epicrítico). Na superfície da pele existem receptores especializados em captar tato e pressão, são chamados de Corpúsculos de Meissner e Ruffini e também, existem os Folículos pilosos, receptores capazes de perceber ou captar estímulos táteis na superfície da pele. Nessa via existem três neurônios. O 1º neurônio é a raiz posterior (sensitiva) de um nervo periférico, logo, o estímulo da superfície da pele de tato e pressão é captado, a partir dos receptores da pele, entrando na medula através dessa raiz, em direção ao seu interior, pelo corno posterior dela. O 2º neurônio dessa via também está localizado no corno posterior da medula. Ele recebe estímulo do primeiro neurônio, promovendo a decussação da via, a qual é interrompida no funículo anterior. Esses estímulos de tato e pressão sobem pela medula espinhal em direção ao tálamo, no qual está localizado também o terceiro neurônio A partir desse 3º neurônio, esses estímulos atravessam a cápsula interna em direção ao giro sensitivo ou giro pós central. OBS: a única diferença entre a via de dor e temperatura e a via de tato protopático e pressão, é que a primeira sobe pela funículo lateral da medula, e já a segunda sobe pelo funículo anterior dela. Logo, ao subir pelo funículo anterior da medula, a via de tato e pressão constitui o chamado de trato espinotalâmico anterior, por onde os estímulos de tato e pressão vão subir em direção ao terceiro neurônio. O Lemnisco espinal, é por onde o trato espinotalâmico anterior e também o trato espinotalâmico lateral (dor e temperatura) se reúnem, passando por ele, antes de se conectar no tálamo com o terceiro neurônio A sinopse ou resumo da via de tato protopático e pressão é praticamente idêntica à via de dor e temperatura. Ambas as vias ao entrar na medula trocam de lado, sofrem decussação, sobem pela medula espinhal passando pela cápsula interna e indo em direção ao giro pós-central. Para raciocínio clínico prático, pode-se considerar como uma única via, as vias de tato e pressão e as de dor e temperatura. Ou seja, em ambas as vias quando ocorre uma lesão medular do lado direito, tem como resultado a perda de temperatura, dor, tato protopático e pressão do lado esquerdo do corpo. O mesmo ocorre com as lesões supramedulares, tendo como exemplo a cápsula interna, logo, as lesões da cápsula interna do lado direito, resultam na perda de temperatura, dor, tato protopático e pressão do lado esquerdo do corpo 6 JORDANA HONORATO – 75D VIA DO TATO EPICRÍTICO, SENSIBILIDADE VIBRATÓRIA E PROPRIOCEPÇÃO CONSCIENTE Terceira e última via medular ascendente Transporta tato epicrítico (fino) + sensibilidade vibratória (tipo especial de sensibilidade, quando colocamos a mão sobre o motor, a exemplo, de uma geladeira temos a capacidade de perceber a vibração desse motor) + propriocepção consciente O tato fino (epicrítico) é aquele que consegue discriminar dois pontos distintos tocando a superfície da pele simultaneamente. O significado disso é que se fecharmos os olhos e duas estruturas/pontas encostarem na nossa pele, temos a capacidade de perceber que são dois objetos simultâneos que estão tocando OBS: já o trato protopático – que transporta tato e pressão – não consegue fazer essa distinção. Propriocepção é a capacidade de perceber mudanças da posição no espaço das articulações e dos membros. Exemplo, de olhos fechados conseguimos perceber se nosso braço está estendido ou flexionado. A consciente é aquela que vai chegar a nível do giro pós central. Estereognosia Essa via é bem diferente das duas anteriores. Nessa, o 1º neurônio é novamente um nervo periférico, que vai captar esses estímulos da superfície do nosso corpo; têm estruturas especializadas também para a captação de cada tipo de estímulo proveniente dessa superfície. O tato é captado pelos Corpúsculos de Meissner e Ruffini, além de pelos Folículos pilosos Os Corpúsculos de Vater Paccini que percebem sensibilidade de vibração (palestesia) A propriocepção é captada por receptores que não vão estar na nossa pele, mas sim em músculos, tendões e articulações. São esses receptores que vão perceber a mudança de posição no espaço das articulações e dos membros. Esses estímulos são captados por um nervo periférico (pelo N1), o qual entra na medula pelo corno posterior, mas nesse caso, ao entrar ele não acha o segundo neurônio, então ele próprio sobe pelo funículo posterior da medula e vai encontrar esse segunda neurônio apenas na porção superior, logo e imediatamente acima da medula, a nível dos chamados núcleo grácil e cuneiforme. O 2º neurônio é sempre responsável pela decussação da via, então só na altura dele que a via vai trocar de lado e subir em direção novamente ao 3º neurônio que sempre está situado a nível do tálamo. O 3º neurônio, assim como nas vias anteriores, sempre passa pela cápsula interna e leva os estímulos sensitivos ao giro pós central. OBS: A diferença marcante, portanto, entre as vias anteriores e essa, é que o 2º neurônio não se localiza no corno posterior da medula, mas sim acima, na altura do núcleo grácil e cuneiforme, logo, a decussação da via vai ocorrer em porção supramedular, e então o raciocínio clínico vai mudar muito em relação aos anteriores. VISÃO POSTERIOR DO BULBO G C 7 JORDANA HONORATO – 75D A sinopse ou resumo, portanto, da via de trato epicrítico, sensibilidade vibratória e propiocepção consciente vai ficar como na ilustração. O estímulo entra na medula, ao fazer isso, não vai trocar de lado e sim subir pelo funículo posterior da medula e somente a nível do tubérculo grácil e cuneiforme, logo acima da medula, é que a via vai sofrer a decussação, trocando de lado, passar pela cápsula interna e chegar ao giro pós-central. O raciocínio clínico vai ser diferente das anteriores. Assim, quando se tem uma lesão medular do lado esquerdo, resulta em perda de tato, sensibilidadevibratória e propriocepção do mesmo lado da lesão e não do oposto. Logo, esse estímulo que entrou do lado esquerdo vai ser interrompido/bloqueado pela lesão medular antes de chegar ao 2º neurônio, o qual é responsável pela decussação das vias, impedindo ele de chegar ao giro pós-central. Já se a lesão ocorrer acima do nível da medula, ou seja, for uma lesão supramedular, como por exemplo, do lado direito da cápsula interna, isso resulta em perda de tato, sensibilidade vibratória e propriocepção do lado esquerdo do corpo, pois vai decussar antes, no 2º neurônio. VIAS EFERENTES (MOTORAS) Saem do sistema nervoso central: Voluntárias, Involuntárias e Visceral (SNA)