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Ultrassonografia em obstetrícia Tatiane Lira – MED UFPE · · Introdução: · Permite avaliar IG, n° de conceptos, desenvolvimento fetal, líquido amniótico, placenta e cordão umbilical. · Também pode propiciar análise detalhada da anatomia fetal. · Quando equipado c/ Doppler colorido, permite o mapeamento do sistema cardiovascular do concepto e o estudo dos compartimentos vasculares materno-placentário-fetal. · É um efeito físico: onda sonora c/ frequência > 16KHz (não é audível pelo ouvido humano). · Histórico: ○ Antes de 1978: utilizada no contexto de guerra. ○ De 1980 a 1983: começou a ser usada na medicina. ○ Após 1983: começou a ser usada na obstetrícia. · Métodos invasivos x métodos não-invasivos. · Medicina fetal vem se utilizando muito dela atualmente. · Segurança: · O limite global da utilização do ultrassom é de 720 mW/cm2 p/ todo o equipamento. · C/ um sistema de exibição que permite o usuário empregar níveis efetivos e judiciosos (até 8x de intensidade) de USG apropriados p/ o exame. · Se seguir todas as recomendações, é seguro, s/ restrição de quantidade. · Apenas uma ressalva, p/ não usar Doppler no início do 1°t → é utilizada uma maior energia e ela pode aquecer o líquido amniótico → malformações. · Mas se houver necessidade, fazer rápido e objetivo p/ não dar tempo de esquentar o líquido. · Classificação: · American College of Obstetricians and Gynecologists, 2009 (ACOG): ○ USG padrão ou básica: obstétrica, de rotina. ○ USG limitada: procura por um dado específico (LA, peso do feto, apresentação fetal). ○ USG especializada (morfológica): é recomendado realizar entre 18-24s pois fornece + detalhes. ○ USG de 1° tri: ▪ Rotina. ▪ Morfológica: realizada entre 11-14s. · Época de realização da USG: · 11-14ªs: estudo inicial da anatomia, medida da translucência nucal, identificação do osso nasal e outros marcadores de rastreamento e prognóstico, p/ saber n° de conceptos e corionicidade; p/ rastreio de anomalias cromossômicas → morfológica de 1° tri. · 18-22/24ªs: confirmar IG, realizar exame morfológico do feto, medição do colo uterino via TV, dopplervelocimetria das aa. uterinas; morfológica de 2° tri. · 26-28ªs: corrigir algo que não foi observado antes. · 32-34ªs: observar vitalidade. · O MS só recomenda como rotina: 1 USG de 1° tri → IG. · Os outros tipos → evidência p/ fazer → em centros especializados, pois sistema público não tem tanta disponibilidade. USG DE 1° TRIMESTRE · Ideal é a USG TV. · Indicações: · Confirmar a presença de gestação intraútero e prenhez ectópica. · Avaliar hemorragia vaginal. · Avaliar dor pélvica. · Estimar a IG. · Diagnosticar e avaliar gestações múltiplas. · Viabilidade fetal: atividade cardíaca e perfil embrionário. · Auxiliar na biópsia de vilo corial, transferências de embriões e DIU. · Diagnosticar anomalias fetais graves, como anencefalia. · Avaliar útero e anexos: massas e anormalidades uterinas. · Rastreamento de anomalias cromossômicas e defeitos cardíacos. · Avaliar a suspeita de mola hidatiforme. · Avaliação: · Cório em desenvolvimento: ○ A partir de 4s. ○ Definir corionicidade: sinal do T (monocoriônica, diamniótica); sinal do lambda (dicoriônica, diamniótica). · Translucência nucal: ○ Normal: > 2,5 mm. ○ É o principal marcador. ○ Varia c/ a IG (> 95º percentil). ○ Alto risco de cromossomopatia: aumento de translucência nucal; ausência/hipoplasia do osso nasal; alteração do ducto venoso; refluxo da válvula tricúspide. · Diâmetro médio do saco gestacional, observando se tem controles regulares e está adequadamente implantado (> 2,2cm deveria ser acompanhado do surgimento do embrião). · Presença de vesícula vitelina no interior do útero (5-6s). · Embrião (5-6s, quando é visualizado, o melhor parâmetro p/ calcular IG é o comprimento cabeça-nádegas). · Batimentos cardíacos (5-6s). · Âmnio (7s). · Movimentos fetais (7-8s). USG PADRÃO OU BÁSICA (OBSTÉTRICA) · Tempos básicos (etapas): · Estática fetal (posição, situação e apresentação). · Biometria fetal (DBP: diâmetro biparietal, CC: comprimento crânio-caudal, CA: comprimento abdominal e CF: comprimento do fêmur). ○ Estimativa de peso fetal e crescimento. ○ Determinação da IG (menos acurada que USG de 1° tri). · Vitalidade fetal (PBF). · Morfologia fetal: ○ Avalia morfologia básica. ○ Malformações congênitas: ▪ Rastreamento (diagnóstico inicial). ▪ Incidência: 2 a 3% (gestações de baixo risco). · Colo uterino (não obrigatório): p/ avaliar risco de TPP. · Estudo dos anexos: placenta (localização -tópica ou heterotópica- e espessura), cordão umbilical (suas inserções placentária e fetal, determinação da anatomia -2 artérias e 1 veia-) e líquido amniótico. Placenta: ○ Textura. ○ Espessura. ○ Localização (alta ou baixa → prévia total, parcial, marginal). ○ Graus de maturidade: ▪ Grau 0: homogênea. ▪ Grau I (relação L/E > 2 em 68%): começam a aparecer pontos de calcificação na placa basal. ▪ Grau II (relação L/E > 2 em 88%): calcificação em forma de vírgula. ▪ Grau III (relação L/E > 2 em 100%): lóbulos placentários. ▪ Grau placentário avançado segundo IG → RCIU. ○ Existe uma relação entre maturidade placentária e pulmonar: ▪ Faz amniocentese no LA e manda dosar 2 fosfolipídeos do surfactante pulmonar → relação lecitina/esfingomielina > 2 → maturidade pulmonar (mas hoje se sabe que não necessariamente é assim). ▪ Hoje não se usa mais p/ indicar cesáreas → bb em grau III não necessariamente tem pulmão maduro. ○ Não se preocupar c/ envelhecimento de placenta precoce (grau III c/ 34s, por exemplo) → só acompanha. Cordão umbilical: ○ Comprimento: ▪ Média 60-65cm (30-120cm). ○ Localização da inserção: ▪ Central: ▪ Pode apresentar variações: ☆ Pode sair da borda marginal da placenta. ☆ Inserção velamentosa do cordão: 》Sai da borda marginal, percorre a membrana placentária (colado nela) e só depois vai p/ feto. 》Associada a fetos pequenos 》Uma complicação associada é a rotura de vasa prévia (quando essa inserção velamentosa é na parte de baixo do útero, no colo) → se a bolsa romper, cordão rasga no meio → morte do bb. ○ Área de secção transversa: ▪ Aumenta de acordo c/ a IG até 33s. ○ N° de vasos: ▪ 2a e 1v. ▪ Sinal do mickey (observado em corte transversal). ▪ Esse sinal não está presente nos casos de a. umbilical única (devia ter 2, passando dos 2 lados ds bexiga). ○ Presença de anomalias: aneurisma, hemangiomas e cistos. Líquido amniótico: ○ Componente importante do ambiente intrauterino. ○ Mantido por meio de um mecanismo de equilíbrio dinâmico. ○ Produção e absorção (feto: produz urinando e absorve engolindo; placenta; membranas e organismo materno). ○ Então, no 2º e 3º tri, seu volume reflete diretamente a perfusão renal fetal e indiretamente a perfusão uteroplacentária. ○ ILA: boa reprodutibilidade, aprendizado fácil e variação interobservador não significativa; avalia de maneira subjetiva. ○ Alterações do VLA: ▪ Oligoidrâmnio: ☆ Volume inferior a 300 ou 400mL. ☆ ILA < 5° percentil p/ a IG. ☆ Incidência: 0,5 a 5,5%. ☆ RCIU, pós-datismo, malformações renais fetais, rupreme. ▪ Polidrâmnio: ☆ Volume superior a 2.000mL. ☆ ILA > 95° percentil p/ a IG. ☆ Incidência: 0,4 a 1,5%. ☆ DMG, isoimunização Rh, síndrome da transfusão feto-fetal, malformações fetais que não permitam deglutição ou absorção, idiopática. ○ Funções: ▪ Proteção física e microbiológica. ▪ Crescimento fetal. ▪ Mobilidade fetal. ▪ Nutrição fetal. ▪ Território propedêutico. ○ Influência sobre o volume: ▪ Alteração renal → oligohidrâmnio. ▪ Atresia de esôfago/intestino → polihidrâmnio. ○ Avaliação ultrassonográfica: ▪ Avaliação subjetiva: ☆ Boa técnica p/ pessoas experientes. ☆ Mas mesmo assim não consegue mensurar a evolução. ▪ Maior bolsão vertical. ☆ Escolhe o maior dos 4 quadrantes. ☆ Melhor avaliação, relacionado a menos intervenções desnecessárias. ☆ Manning et al: 2-8cm. ▪ Índice de líquido amniótico (ILA): ☆ Peculiaridades técnicas: 》Divisão por quadrantes: medir os maiores bolsões em cada quadrante → soma é o índice. 》Posição do transdutor. 》Aferição de profundidade. 》Velocidade de execução. 》Soma das medidas. ☆ Resultados:☆ Achados: Medida do maior bolsão; única a. umbilical; polidrâmnio ( > 8). Placenta grau III (lóbulos placentários → calcificações); oligohidrâminio (s/ áreas escuras). USG ESPECIALIZADA (MORFOLÓGICA) · Tempos básicos (etapas; iguais ao da obstétrica): · Estática fetal (posição, situação e apresentação). · Biometria fetal (DBP, CC, CA e CF). ○ Estimativa de peso fetal e crescimento. ○ Determinação da IG (menos acurada). · Estudo dos anexos (placenta, cordão umbilical e líquido amniótico). · Vitalidade fetal (PBF). · Morfologia fetal. · Colo uterino (obrigatório): medida do comprimento pode demonstrar risco de parto pré-termo; observar se o orifício cervical interno encontra-se fechado. · Tempos adicionais (etapas): · Avaliação sistematizada e detalhada da morfologia fetal (craniocaudalmente). · Avaliação detalhada do coração fetal. · Dopplervelocimetria: preditora p/ desenvolvimento de complicações relacionadas à insuficiência placentária. · PBF: avalia bem estar fetal; 4 parâmetros: movimentos fetais, tônus fetal, movimentos respiratórios fetais, volume de LA. · Biometria adicional. 11-14s: · Avaliação de IG. · Vesícula vitelina. · CCN. · Diâmetro biparietal. · Circunferência cefálica. · Circunferência abdominal. · Comprimento do fêmur. · N° de conceptos. · Localização da placenta. · Quantidade de LA. · Translucência nucal: medida da coleção de líquido na nuca do feto; existe correlação positiva entre espessura aumentada da TN e incidência de trissomias. · Osso nasal*. · Regurgitação tricúspide*. · Ducto venoso: onda a reversa*. · Ângulo facial frontomaxilar: aumentado*. *Relacionados à síndrome de Down. · Avaliação morfológica: exame anatômico de todos os órgãos. · Avaliação da vitalidade fetal: movimentos corporais e dos membros e ritmo cardíaco. 20-22s: · Cabeça: Achatamento dos frontais “sinal do limão”; má formação do cerebelo “sinal da banana” (normal é formato de 8) → sinais indiretos de Meningomielocele* → Síndrome de Arnold Quiari tipo II. *O líquido da coluna vertebral se comunica c/ o da cabeça; quando a estrutura no final vai p/ fora, é como se puxasse todo SNC (ocorre um vácuo/pressão negativa e a estrutura mole entra). ○ Avalia: integridade e formato ▪ Crânio, córtex, tálamo, septo pelúcido, foice cerebral, plexo coroide. ▪ Ventrículos, átrios, cornos anteriores e posteriores dos ventrículos laterais, 3º ventrículo. ▪ Fossa posterior: anatomia cerebelar*, cisterna magna*. ○ Mede: ▪ Diâmetro biparietal (DBP). ▪ Diâmetro occipitofrontal (DOF). ▪ Circunferência cefálica (CC). ▪ Medida de cerebelo, corno anterior e posterior dos ventrículos laterais, cisterna magna. ▪ Relação ventrículo lateral/hemisfério cerebral (VL/HC). ▪ Prega nucal. · Face: Observa ponta do nariz e lábios superior e inferior normais. ○ Avalia: ▪ Harmonia das órbitas. ▪ Orelha, nariz*, lábios, palato, língua. ▪ Perfil, linha, relação maxila-mandíbula. ▪ Estudo do pescoço: anatomia e contornos. ○ Mede: ▪ Diâmetro interorbitário externo (DOE). ▪ Diâmetro interorbitário interno (DOI). ▪ Diâmetro intra-orbitário (DIO). · Coluna e tórax: Meningomielocele. ○ Avalia: ▪ Linhas longitudinais e núcleos (cortes longitudinais e transversos). ▪ Diafragma, textura pulmonar. ▪ Frequência cardíaca*, ritmo dos batimentos, área cardíaca*, visualização das 4 câmaras e vias saída. ▪ Clavículas*. ○ Mede: ▪ Circunferência torácica. ▪ Diâmetros torácicos. ▪ Circunferência cardíaca. · Abdome: Atresia de duodeno: sinal da dupla bolha (duodeno e estômago). ○ Avalia: ▪ Parede abdominal*. ▪ Textura e dimensões de fígado* e vesícula biliar*. ▪ Circulação venosa. ▪ Estômago*, alças*, rins*, adrenais, bexiga. ▪ Inserção umbilical (identificação dos 3 vasos). ▪ Caracterização do sexo fetal: importante p/ diagnóstico de ambiguidade. ○ Mede: ▪ Circunferência abdominal (CA). ▪ Diâmetros abdominais. · Membros e relações: Pé torto. ○ Avalia: ▪ Núcleos de ossificação*. ▪ Anatomia e movimentos de extremidades*. ▪ Relação/posicionamento entre os membros. ▪ Incluindo formato, simetria ecogenicidade dos ossos longos e movimentos das articulações. ○ Mede: ▪ Comprimento do fêmur (CF). ▪ Comprimento da tíbia. ▪ Comprimento da fíbula. ▪ Comprimento do úmero. ▪ Comprimento do rádio. ▪ Comprimento da ulna. ▪ Comprimento de pés e mãos. OBS.: se tiver alterado, mede os 2 lados. · LA (quantidade) e placenta (localização e ecogenicidade). · Relações biométricas: ○ Relação CF/CA. ○ Índice cefálico = DBP/DOF x 100. ○ Relação CF/DBP. ○ Relação CC/CA. 26-28s: Acúmulo de líquido nos rins: hidronefrose bilateral por obstrução urinária. · Reavaliação. · Curva de crescimento. · Melhor estudo de face, coração (grandes vasos), coluna e membros. · Fígado, alças e rins. · Perfil biofísico fetal. · Dopplervelocimetria. · Considerações: · Importância é pouco discutida (A): Neilson, 2009. · Sensibilidade: 75% a 100% (B): Noronha Neto et al., 2009. · Alterações do VLA: Fator de risco (B): Noronha Neto et al., 2009. · Pode ser realizada em qualquer IG, 20-24s (ideal), avaliação seriada (D): ACOG, 2009. · Depende: ○ N° de exames. ○ Habilidade, conhecimento e empenho. ○ Operador dependente. ○ Qualidade do aparelho. ○ Dificuldades técnicas: obesidade, gestação múltipla, estática fetal, VLA e IG avançada. · Evidências científicas: · Vantagens da USG precoce em gestações de baixo risco: ○ Biblioteca Cochrane: 11 ECR (n=37.505) ▪ Detecção de gestações múltiplas (RR 0,07; IC95% 0,03-0,17). ▪ Melhora a detecção de anormalidades fetais (RR 3,46; IC95% 1,67-7,14). ▪ Redução da indução de parto por pós-termo (RR 0,59; IC95% 0,42-0,83). ▪ Não houve diferenças quanto à mortalidade perinatal. ○ Ultrassonografia de rotina antes da 24ªs define melhor a IG, diagnostica precocemente as gestações múltiplas e malformações fetais e reduz a necessidade de indução do TP. · Vantagens da USG após a 24ªs, em gestações de baixo risco: ○ Biblioteca Cochrane: 13 ECR (n=34.980) ▪ Não houve diferenças significativas quanto as variáveis obstétricas, neonatais e mortalidade perinatal. ○ A USG de rotina nas gestantes de baixo risco não conferem benefícios à mãe ou ao RN. ○ Há falta de dados em relação aos benefícios p/ nascimento prematuro < 34ªs e efeitos psicológicos sobre a mãe e sobre o neurodesenvolvimento aos 2a. · ILA vs Maior bolsão p/ avaliação do líquido amniótico: ○ Biblioteca Cochrane: 5 ECR (n=3.226) ▪ Não houve diferenças significativas quanto a admissão em uma unidade de terapia intensiva neonatal, pH da artéria umbilical < 7,1, presença de mecônio, escore de Apgar < 7 em 5min ou cesariana. ○ ILA: oligoidrâmnio foi + frequente (RR 2,39, IC 95% 1,73 a 3,28) ▪ Induções de parto (RR 1,92; IC 95% 1,50 a 2,46). ▪ Cesariana for SFA (RR 1,46; IC 95% 1,08-1,96). ○ A medida do maior bolsão vertical parece uma escolha melhor, uma vez que o ILA aumenta a taxa de diagnóstico de oligoidrâmnio e indução do parto s/ melhora nos resultados perinatais.
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