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Revista Científica do Departamento de Polícia Técnica da Bahia


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Prova Material - Revista Científica do Departamento da Polícia Técnica, vinculado à Secretaria de Segurança
Pública do Estado da Bahia.
Av.Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador/ Bahia, CEP 40.100-180.
Telefone (71) 324 1692 - Fax (71) 324 1672
Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira
responsabilidade de seus autores. Tiragem desta edição: 1000 exemplares, 32p.
EXPEDIENTE
Fotografias
Paulo Lázaro
Silvio N. Amorim
Arquivo DPT
Capa
Fábio Souza
Revisão
Tania Cristina Brites Gesteira e
Mariacelia Vieira
Secretário
Djalma Conceição Silva
Conselho Editorial
Adriana Santana Queiroz Melo (ICAP)
Antonio César Morant Braid (ICAP)
Elson Jeffeson Neves da Silva (LCPT)
Joaci Gama de Sant’Anna (LCPT)
Jose Antonio Vilela Dourado (IIPM)
Hélio Paulo de Matos Júnior (IMLNR)
Luis Geraldo Nascimento Luciano de Sena (ICAP)
Maria de Lourdes Sacramento Andrade (DPT/A.T)
Paulo César Teixeira Vieira (ICAP)
Raul Coelho Barreto Filho (IMLNR)
Socorro de Maria de A. A. Ferreira (IIPM)
Tania Cristina Brites Gesteira (LCPT)
Prova Material - v. 1 - n. 2 - abr. 2004 – Salvador: Departamento de Policia Técnica, 2003.
Quadrimestral
ISSN 1679-818X
1. Criminalística – Bahia – Periódico
CDU 343.9 (813.8) (05)
Paulo Ganem Souto
Governador do Estado da Bahia
General Edson Sá Rocha
Secretário da Segurança Pública
Luiz Eduardo Carvalho Dorea
Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica
Antonio dos Santos Vital Neto
Coordenador Executivo
Rita de Cássia Monteiro de Carvalho
Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
Iracilda Mª de Oliveira Santos Conceição
Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello
Marcelo Antonio Sampaio Lemos Costa
Diretor do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
José Felice Cunha Deminco
Diretor do Laboratório Central da Polícia Técnica
Editora Geral
Mariacelia Vieira
Jornalista - RG DRT/MG nº 2266
Editor Gráfico
Luciano Soares Rego
Jornalista RG MTB nº 958
Artefinalista
Fábio Souza
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SUMÁRIO
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Editorial ......................................................................................................
Um caso de criptografia (Artigo Original)
Iracilda Maria de Oliveira Santos Conceição e
Socorro de Maria de Araújo Alves Ferreira ...............................................
O Caso “Jomara” - mudanças na trajetória (Relato de Caso)
Marco Aurélio Dultra ..................................................................................
Transcrição fonográfica não é perícia (Ponto de Vista)
Antônio César Morant Braid ......................................................................
Um estudo sobre a técnica de análise qualitativa de partículas
de chumbo provenientes de resíduos de disparo com armas de fogo,
em mãos de supostos atiradores (Artigo Original)
Djalma Conceição Silva e Jorge Borges dos Santos ...............................
Reflexões sobre perícia criminalística - dúvidas que persistem
no campo da perícia contábil (Comunicação)
Antonio Pedro Ferreira da Silva ................................................................
Crimes contra os costumes na Bahia (Artigo Original)
Lídia Ramos de Araújo ..............................................................................
Energia de projéteis (Discussão de Caso)
Adeir Boida de Andrade .............................................................................
Eventos ......................................................................................................
Resenha Literária .......................................................................................
Normas .......................................................................................................
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EDITORIAL
A Polícia Técnica da Bahia passa por trans-
formações. O propósito é deixá-la em um nível de
excelência capaz de efetivamente contribuir para a
“garantia de segurança pública à sociedade e as ins-
tituições, com a finalidade de promoção da paz so-
cial”. Não cabe a atual diretoria listar erros cometi-
dos em passado recente, mas assegurar que não te-
rão continuidade. E isso vem sendo feito. Há seis
meses foi tornado realidade o projeto de promoções
regulares, de acordo com o surgimento de vagas na
estrutura funcional. Espaços físicos foram reorde-
nados e ampliada a Coordenação de Execução Or-
çamentária, considerada a circunstância que, a par-
tir do ano em curso, o DPT estará gerindo os seus
próprios recursos. Novas técnicas e metodologias,
que permitem resultados mais seguros, estão sendo
agregadas. Os plantões reformulados dão oportuni-
dade aos profissionais do DPT de melhor atender as
solicitações. Equipamentos de Informática e softwa-
res de ponta agilizam a velocidade de resposta no
atendimento e realização das perícias. A Coordena-
ção de Crimes Contra o Meio Ambiente foi criada
no ICAP, para atender à crescente demanda de ca-
sos nessa nova modalidade de crimes, cuja legisla-
ção específica foi recentemente aprovada. No Insti-
tuto de Identificação o Arquivamento pelo Código
de Endereçamento da Caixa (ACEC) é a inovação.
Otimizaram-se os processos de identificação civil e
criminal. Ainda no IIPM foi reduzido o prazo de
encaminhamento do Boletim de Informação Crimi-
nal (BIC) ao Departamento de Polícia Federal
(DPF)/Instituto Nacional de Identificação (INI) e
saneadas prestações de contas referentes a Postos
de Identificação. O Interior vem recebendo atenção
especial, de acordo com a filosofia de Segurança
Pública implementada pelo Governo do Estado.
Houve melhoramento da infra-estrutura dos prédi-
os, de material utilizado e substituição de prestado-
res de serviços. Os projetos de melhoria previstos,
para os quais são buscados recursos nas mais diver-
sas fontes, inclusive no Exterior, devem ser deslan-
chados a curto e médio prazos. Profissionais são trei-
nados e enviados a participar de cursos, no País e
fora dele. Através da revista Prova Material, lança-
da em dezembro passado, agora em sua segunda
edição, a Polícia Técnica da Bahia mostra os avan-
ços na área pericial, e mantém vivo um veículo téc-
nico-científico de divulgação. É inteligente e impor-
tante essa troca contínua de conhecimentos, entre
profissionais que visam como objetivo comum: a de-
fesa da sociedade e do cidadão que a constitui. É
indispensável entender essa realidade no presente,
como o seu inexorável avanço tecnológico, para as-
segurar uma melhor aplicação da Justiça.
Presente, passado e futuro
7
RESUMO
Em outubro de 2001, foram encaminhadas para exame na
Coordenação de Documentoscopia e Perícias Contábeis
do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto, oito folhas
destacadas de uma agenda do ano de 1998, apresentando
manuscritos em letra cursiva, desenhos e escrita criptogra-
fada produzidos à grafite e à tinta - peça A; duas cópias em
folha de papel tipo ofício, trazendo caracteres impressos e
preenchimento dos claros em letra de forma - peça B;
folhas destacadas de caderno tipo universitário - peça
C; caderno tipo universitário, sem capa, apresentando
textos manuscritos cursivos e criptografados - peça D.
Em tais peças, os manuscritos foram analisados com o
objetivo de verificação de unicidade do punho escre-
vente. Este trabalho apresenta os estudos e resultados
relativos ao caso real ocorrido em janeiro de 1999,
quando foi encontrado o corpo de uma adolescente em
uma praia da cidade de Ilhéus, interior da Bahia. A ví-
tima foi identificada como Ria Kinita Schodler, nasci-
da em 22/04/1982, na cidade de Wettingen, Suíça, re-
sidindo em Ilhéus com a família. As investigações,
porém, não levaram à autoria do crime.
PALAVRA CHAVE
Criptografia
ABSTRACT
On October 2001, they were sent to be examined at Docu-
mentocopy and Accountancy Investigation Departament
of the Afrânio Peixoto Criminal Institute, eight pages taken
from an 1998 agenda with manuscript in cursive handwri-
ting, drawingsand cryptographied writing made by gra-
phite and ink – item A; two copies in paper with printed
characters and blanks with capital letters – item B; pages
taken from a university notebook – item C; university no-
tebook without cover, showing written and cryptographi-
ed manuscripts– item D. In these parts, manuscripts were
analyzed to verify the uniqueness of the handwriting. This
technical paper presents studies and conclusions related a
real case which ocurred in January 1999, when the
teenager´s body was found in a beach of Ilhéus, a city oh
Bahia. The victim was identified as Ria Kinita Schod-
ler, who was born on 1982 April, 22, from Wettingen,
Switzerland and lived in Ilhéus city with her family.
However, the investigations haven’t led to the author
of the crime yet.
KEY WORD
Cryptography
INTRODUÇÃO
Criptografia é a arte de escrever ocultamente. Tão antiga
como a própria escrita, hoje é um dos métodos mais efici-
entes de se transferir informações sem que haja a possibili-
dade de comprometimento do sigilo. Baseada em chaves,
uma informação pode ser codificada através de algum al-
goritmo de criptografia, de modo que, tendo conhecimen-
to do algoritmo e da chave utilizados, é possível recuperar
a informação original fazendo o percurso contrário da en-
criptação, a decriptação.
UM CASO DE CRIPTOGRAFIA
IRACILDA MARIA DE OLIVEIRA SANTOS CONCEIÇÃO
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Perita Criminal
SOCORRO DE MARIA DE ARAÚJO ALVES FERREIRA
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Perita Criminal
Artigo Original
8
DESENVOLVIMENTO
Os peritos deram início ao estudo, visando pri-
meiramente a verificação de unicidade do punho
escrevente. Constataram a presença de manuscri-
tos referentes a assuntos didáticos, que inicialmen-
te apresentam características de produção por
punho escolar, sobretudo no caderno - peça D,
evoluindo o traçado no dinamismo, no calibre e
na forma dos gramas, conservando, entretanto, a
morfogênese e a tendência para uma escrita jus-
taposta, com caracteres predominantemente
curvilíneos. Nas peças A e D foi identificada
escrita criptografada, seguida por outras cita-
ções curtas ou mais extensas. A análise tinha
por objetivo estudar a concepção genética dos
grafismos, a fim de catalogar os elementos in-
dividualizadores, ficando constatada a partici-
pação de mais de um punho escritor na produ-
ção da peça D. Nos demais grafismos foi en-
contrada identidade morfogenética¹, embora
existam modificações desde os lançamentos
examinados datados de 1995 e 1996 (cader-
no), os quais apresentam-se com elementos
mais curvilíneos, escrita ligada, aos poucos
tendendo para uma escrita sincopada, com tra-
çado rebuscado, quase ornamental, procedi-
mento este comum na adolescência, quando o
indivíduo deixa transparecer, também no gra-
fismo, a instabilidade de comportamento e as
mudanças que ocorrem no corpo e na mente.
A peça C, embora com datas dos anos de 1996,
1997 e 1998, apresenta evidências de ter sido
produzida em datas contemporâneas e muito
próximas, o que se constatou também pelo uso
do papel com características idênticas.
No exame, os peritos verificaram tratar-se de uma
linguagem cifrada em que na representação de
alguns símbolos pode-se fazer relação com letras
iniciantes de determinadas palavras. A decodifi-
cação teve início com o texto que começa codifi-
cado e, em dado momento, passa a ser produzido
com escrita cursiva, deduzindo os técnicos que a
palavra de ligação poderia ser “então”. Foi feito o
trabalho inverso. Contando com a descoberta de
três vogais e duas consoantes, os peritos passa-
ram a substituir os símbolos em um trabalho de
experimentação e, após inúmeras tentativas, con-
seguiram realizar a decriptação, ou seja, a decodi-
ficação, e revelar as mensagens que antes esta-
vam ocultas.
CONCLUSÃO
Após os estudos realizados, conclui-se que os gra-
fismos atribuídos à Ria Kinita Schodler foram
produzidos pelo mesmo punho escritor, autor dos
caracteres criptografados. Estas citações foram
decodificadas a partir da descoberta da chave uti-
lizada na encriptação, sendo os textos ocultos,
devidamente traduzidos e transcritos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEL PICCHIA , José Filho. Tratado de Docu-
mentoscopia. São Paulo: Universitária de Direi-
to, 1976.
MENDES, Lamartine. Tratado de Perícias Cri-
minalísticas – Documentoscopia. Porto Alegre:
Sagra Luzzatto, 1999.
http://www.nucc.pucsp.br/novo/cripto/cripto.html
www.catar.com.br/hg/leohomepage/
criptograia.htm
www.dei.isep.ipp.pt/~andre/documentos/
criptografia.html
*** Segundo Drª Silvia S. Vieira, Delegada da 7ª
Coordenadoria de Polícia do Interior – Ilhéus/
BA, o êxito dos exames realizados levou à desco-
berta da autoria do crime que foi vítima Ria Ki-
nita Schodler e provocou a reabertura de outros
casos de homicídio cometidos contra mulheres
em Ilhéus, os quais encontravam-se arquivados e
apresentavam idêntico “modus operandi”, inclu-
sive o caso de um corpo encontrado em uma praia
da cidade em 12/10/98, citado por Ria Kinita
Schodler, em uma das peças examinadas. ***
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¹ Identidade morfogenética – convergências na forma e na concepção genética dos caracteres.
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PRIMEIRO TEXTO DECODIFICADO
HOJE NO ANIVERSARIO DO
PAI DE PIPOCA EU ES?(T)AVA
SUPER A FIM DE FIGAR COM
DAMODA. EU FALEI COM JULI
PARA ELA ME ARMAR COM
ELI ENTÃO ELA MAIS PIPOCA
FORAM LA PERGUNTAR SE
ELE NÃO QUERIA FICAR
COM ALQUEM E ELE DISSE
QUE NÃO.
QUANDO RECEBI A RESPOSTA
FIQUE TODA SEM CRAÇA,
ENTÃO comecei a beber im montão
de vinho até ficar tonta. Depois de
pouco tempo tomei coragem e sentei
no braço...
1 - ESTOU COM MEDO
2 - DE CAXIXI !
3 - ELE QUER ME MATAR !
10
1 - CAXIXI FALOU PARA ME QUE EU
2 - TENHO QUE CALAR A MIA BOCA!
3 - ELE VAI ME MATAR COMO ESSA
4 - MOCA NA PRAIA!
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Através de denúncias anônimas, foi encontrada em 7
de setembro de 2003, uma ossada parcialmente reco-
berta por camadas de pele ressecada , e impregnada de
uma substância na cor preta similar ao betume. Estava
enterrada em uma oficina mecânica, situada na Região
Metropolitana de Salvador, supostamente pertencente a
uma mulher conhecida por “Jomara”. Removida ao Insti-
tuto Médico Legal Nina Rodrigues, o corpo recebeu o nº
de registro 3228/2004IMLNR (vide foto nº 1) e foi logo
encaminhado à Coordenação de Antropologia Forense para
exames que possibilitariam a identificação.
Durante a perícia, encontrou-se um fragmento de teci-
do dérmico do polegar, motivando a realização do exa-
me de confronto necropapiloscópico entre o fragmento
do tecido e os datilogramas dos polegares da ficha de “Jo-
mara”. Preliminarmente, foi feita a análise das dificulda-
des encontradas para tentar efetuar a identificação do cor-
po através do exame necrodatiloscópico.
O trabalho exigiu quatro etapas: Primeiro, se definiu
quais os produtos que possibilitariam retirar a substân-
cia similar ao betume, sem causar danos ao tecido. Na
segunda fase, se fez a limpeza e a remoção da substân-
cia impregnada, deixando para a fase três os procedi-
mentos de estiramento da pele. Na quarta e última eta-
pa, retirou-se o tecido gorduroso da camada mais pro-
funda do derma (hipoderme), facilitando os processos
fotográficos. Utilizou-se na primeira e segunda etapas
o detergente líquido para dissolver a substância que
impregnava e limpeza do tecido examinado, na tercei-
ra fase do processo, procedeu-se ao estiramento utili-
zando-se lâminas de vidro, colocando o tecido entre
O CASO “JOMARA” - MUDANÇA NA TRAJETÓRIA
MARCO AURÉLIO LUZ DULTRA
Instituto de Identificação Pedro Mello
Perito Técnico
Relato de Caso
elas e fazendo suaves compressões.Na quarta e úl-
tima etapa, removeu-se o tecido gorduroso com ins-
trumento cirúrgico, facilitando o estiramento e tam-
bém a passagem da luz para se obter um contraste
entre os sulcos e as cristas digitais.
Realizadas então as etapas preliminares, foi feita a rei-
dratação do tecido, através de água e glicerina líquida,
para facilitar a manipulação da peça em lide, objeti-
vando o estiramento total do tecido, que se encontrava
enrugado. Após a primeira reidratação do tecido, ob-
servou-se que não poderia ser efetuado o estiramento
da pele em um só momento, pois danificaria a peça.
Assim sendo, partiu-se para processos de desidratação
utilizando álcool etílico a 98º e reidratação, alternadamen-
te, esticando o tecido por etapas (vide foto nº 2).
Era o momento então, de desvendar a identificação.
Buscas foram feitas nos arquivos do Instituto de Iden-
tificação Pedro Mello e, com a ficha de “Jomara” em
mãos, partiu-se para a confrontação datiloscópica. As
peças apresentavam a mesma classificação datiloscó-
pica básica: verticilo, nos polegares! Os processos de
identificação adotados pelo IMLNR/DPT (antropomé-
trico e arcada dentária) não tinham uma definição con-
clusiva, devido à dificuldade do estado de conservação do
corpo e à inexistência da ficha dentária de “Jomara”.
Depois de feita a inversão dos datilogramas da ficha
de “Jomara”, transformou-se as impressões digitais em
desenhos digitais. Cumpridas todas as etapas para a
realização do exame de confronto necrodatiloscópico,
e, após confrontadas as peças em lide, observou-se que
as conformações morfológicas das estruturas das linhas
12
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO , Clemil José, Identificação
Papiloscópica, MJ-SENASP/ANP/DPF,
publicado em 2000.
KEHDY , Carlos, Elementos de Datiloscopia,
Edições e Publicações Brasil, publicado em
1940.
KEHDY , Carlos, A Datiloscopia nos Locais
de Crime, Edições e Publicações Brasil,
publicado em 1940.
IMPRESSÕES Nº 02, Revista, do Instituto
Nacional de Identificação, publicada em 09/1999.
Manual do Instituto Nacional de
Identificação – INI/DPF/MJ, publicado em
1987.
apresentaram divergências quanto à subclas-
sificação datiloscópica, espiral no tecido e si-
nuosas na ficha (vide fotos nº 3 e 4). O traba-
lho foi extremamente técnico e, mesmo com
todas as dificuldades de preservação que a peça
impunha, pode-se concluir que o tecido dér-
mico do polegar (Peça Questionada) não per-
tencia a “Jomara”, identificada e cadastrada no
IIPM/BA, fato que mudou definitivamente a tra-
jetória na investigação policial, pelo resultado
negativo para a identidade de “Jomara”. Afinal,
qual a verdadeira identidade desse corpo?
QUADROS FOTOGRÁFICOS
Foto 04
Fonte: Datilogramas (invertidos) dos Polegares da
ficha
Foto 01
Fonte: do
corpo
nº 3228/
2003-
IMLNR
Foto 03
Fonte: do Tecido
Dérmico da
Região Central
do Núcleo,
apresentando a
classificação
datiloscópica:
Verticilo Espiral.
Foto 02
Fonte: Tecido
Dérmico (Peça
Questionada)
após o
processo de
estiramento.
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É evidente que o delegado de polícia, o promotor de
Justiça e o juiz de Direito necessitam recorrer a especi-
alistas para, com os exames periciais, desincumbir-se
de seus misteres, seja o delegado ao instruir seus inqu-
éritos, o promotor ao acusar, seja o juiz ao julgar, todos
amparados em provas de materialidade e autoria for-
necidas pelo perito. A atividade pericial, assim, tem
objeto determinado, devendo ser requisitada quando
necessária e respeitando estritamente atribuições.
Seria inconcebível constar nos autos de um processo judi-
cial apenas o texto de transcrição sem existir o correspon-
dente registro de áudio, todavia o inverso não afeta o plano
de existência da materialidade do fato. O objeto de prova
material eventualmente existente está contido na fala gra-
vada, pois só ela apresenta as características fonéticas que
acompanham e dão pleno sentido à informação. Uma trans-
crição jamais conterá os componentes prosódicos indis-
pensáveis em alguns casos para assinalar o modo entoaci-
onal responsável pelo sentido de uma elocução.
Uma locução transcrita mitiga a força informativa da fala,
pois não se infere o conteúdo de uma mensagem apenas
pelo que se diz, mas, sobretudo, como se diz. As dúvidas
de interpretação do texto de transcrição devem ser sanadas
recorrendo-se à oitiva da fala gravada, desprezando-se a
transcrição, o que evidentemente demonstra que o meio
de prova está na fala, e não no texto escrito.
O perito criminalístico é o funcionário encarregado de es-
clarecer por meio de laudo uma questão de fato. Assim,
não lhe seria permitido constar em um relatório de trans-
crição a sua própria interpretação do discurso, que pode
variar a depender do modo de fala, como em situação de
TRANSCRIÇÃO FONOGRÁFICA NÃO É PERÍCIA
ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID
Engenheiro Eletrônico / Bacharel em Direito
Instituto de Criminalistica Afrânio Peixoto
Coordenação de Fonética Forense
Perito Criminal
Ponto de Vista
ironia, por exemplo. Na transcrição não existe trata-
mento pericial em sentido próprio, não há conclusões
ou qualquer tipo de análise criminalística, como tam-
bém não há juízos valorativos, dessemelhando-se de
uma narrativa literária, que além da fala do persona-
gem ainda apresenta-se o sentido implícito. Portanto,
não raro, um relatório de transcrição não fornece o co-
nhecimento necessário para resolver a lide, podendo-
se incorrer em erro de interpretação, sobretudo para os
crimes cuja existência depende da intenção do agente,
como os crimes de intenção ou tendência.
O perito criminalístico é um apreciador técnico, com
função bem definida, qual seja, a de fornecer dados
instrutórios de ordem material e a proceder à verifica-
ção do corpo de delito. É a perícia um elemento subsi-
diário para valoração e, se possível, solução da prova
destinada a descoberta da verdade. Afora tal situação,
torna-se a atividade do perito despicienda. A transcri-
ção não é atribuição do perito, podendo ser efetuada
por qualquer funcionário detentor de fé pública.
Vale ressaltar que no Brasil vigora o sistema de livre
convencimento, isto é, o juiz forma sua convicção pela
livre apreciação da prova, não ficando adstrito a crité-
rios valorativos apriorísticos. Nesse diapasão, um rela-
tório de transcrição realizado por um funcionário dota-
do de fé pública, não terá menos valor do que se fosse
elaborado por perito criminalístico.
A mera transcrição fonográfica não tem natureza jurídica de
perícia e não compõe uma categoria dentro da Criminalística.
Assim, a atividade de transcrição fonográfica não é perícia,
não sendo, portanto, atribuição de perito criminalístico.
14
UM ESTUDO SOBRE A TÉCNICA DE ANÁLISE QUALITATIVA DE
PARTÍCULAS DE CHUMBO PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE DISPARO
COM ARMAS DE FOGO, EM MÃOS DE SUPOSTOS ATIRADORES
DJALMA CONCEIÇÃO SILVA
Laboratório Central de Polícia Técnica
Perito Criminal
JORGE BORGES DOS SANTOS
Laboratório Central de Polícia Técnica
Perito Criminal
Artigo Original
RESUMO
Após a implantação no Laboratório Central de Polícia
Técnica do Estado da Bahia – LCPT/BA, da técnica
de análise qualitativa de partículas metálicas de chum-
bo oriundas de disparos com armas de fogo em mãos e
vestes de supostos atiradores, faz-se um estudo crítico,
indicando as variáveis que influenciam os resultados
obtidos, tais como: concentração de rodizonato de só-
dio, e uso da solução-tampão ácida e tempo de seca-
gem, sugerindo modificações que possibilitam o aper-
feiçoamento do método, citando-se as análises realiza-
das no LCPT/BA, entre os anos de 1999 e 2003.
PALAVRAS CHAVES
Partículas metálicas. Chumbo. Arma de fogo. Mãos
atiradores
ABSTRACT
After the implementation by the Bahia’s Technical
Police Central Laboratory Experts – LCPT/BA, of the
qualitative technical analysis of lead metallic parties
arising from firearms shootersin hand and vestments
of supposed shooters, we make a critical study indica-
ting the variables that influence the obtained results,
such as, sodium rodizonate concentration, use of acid
cover solution and the drying time, suggesting chan-
ges that make possible improvements of the method. The
analysis acheved in LCPT/Ba, from year 1999 to 2003.
KEY WORDS
Lead metallic parties. Firearms. Shooter’s hand.
INTRODUÇÃO
Desde muito tempo, o problema da determinação
de resíduos provenientes de disparos de armas de
fogos em mãos de supostos atiradores aflige a co-
munidade científica da área Criminalística.
A inexistência de elementos marcadores na confec-
ção dos propelentes de cartuchos de armas de fogo é
o motivo principal para a existência dessa dificul-
dade de encontrar uma técnica analítica ideal.
As técnicas usuais para determinação de nitrito,
chumbo e cobre, embora não sejam ineficientes, não
garantem que as espécies identificadas sejam origi-
nadas exclusivamente de disparos, pois elas são co-
muns no meio ambiente.
Os exames por Espectrofotometria de Absorção Atô-
mica apresentam o empecilho da obtenção de valo-
res comparativos que possuam confiabilidade sufi-
ciente para serem tomados como padrões.
Atualmente, existe a concordância de que a pesqui-
sa conjunta de chumbo, bário e antimônio, elemen-
tos constituintes das substâncias presentes nas mis-
turas iniciadoras das espoletas, caso seja positiva,
traduz a materialidade de que ocorreu um tiro, fa-
zendo-se a ressalva de que a pessoa em questão pode
ter disparado uma arma de fogo ou tê-la manusea-
15
do, ou ainda simplesmente ter estado próxi-
ma a um evento onde ocorreu o disparo. A
técnica da Microscopia Eletrônica de Varre-
dura (MEV) tem sido usada com relativo
sucesso na pesquisa destes resíduos. No en-
tanto, devido à sofisticação do equipamen-
to, apresenta a desvantagem de ser dispen-
diosa, principalmente se levarmos em conta
a utilização em processos rotineiros de um
laboratório forense. Desde 2001 /2003, téc-
nicos do Instituto de Criminalística do Esta-
do de São Paulo, associados a especialistas
do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nu-
cleares – IPEN - CNEN/SP vêm estudando
a implantação da técnica de Espectrometria
de Massas com Fonte de Plasma Indutivo
(HRICP – MS) na identificação de resíduos
de disparos de arma de fogo.
OBJETIVOS
O presente trabalho visa estudar as variáveis
que influenciam os resultados obtidos pela
técnica de análise qualitativa das partículas
metálicas de chumbo, oriundas de disparos
com arma de fogo, através de uma reação
com solução aquosa de rodizonato de sódio
a 0,1% em pH=2, a influência do tempo de
secagem do materi-
al, o pH do meio re-
agente e a concen-
tração da solução
reveladora.
METODOLOGIA
a) COLETA: conforme as fotos
As amostras são coletadas em mãos de su-
postos atiradores, utilizando tiras de fita ade-
siva dupla face ou esparadrapo, aplicadas di-
retamente em três regiões específicas das
mãos. As fitas são então suportadas indivi-
dualmente em papéis de filtro e enviadas ao
laboratório para análise.
Região 3:
coleta de resíduos químicos dedo polegar na região palmar
Região 2
coleta de resíduos químico no dedo polegar
Região 1
coleta de resíduos químicos no dedo indicador
Papel de filtro e tiras de esparadrapo
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b) REVELAÇÃO
Gases, resíduos metálicos e não metálicos são
projetados no momento do disparo, podendo-
se afirmar que corpúsculos de chumbo estão
presentes, tanto no estado iônico, na forma de
trinitroresorcinato de chumbo (II) ou estifina-
to de chumbo (II) da carga de espoletamento,
como na forma de chumbo metálico (Pbº) proce-
dente da liga constituída dos projéteis de chumbo
cru, em abrasão com a alma do cano da arma.
A revelação é feita utilizando a solução aquo-
sa do sal de sódio do ácido rodizônico (rodi-
zonato de sódio) recentemente preparada. A
concentração indicada por Feigl e Sutter, pio-
neiros do método, é de 0,1% m/vol.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela abaixo indica o número de exames
realizados no LCPT no período de setembro
de 1999 a dezembro de 2003 e os números de
resultados positivos e negativos, com as res-
pectivas percentagens:
Nos laudos com resultados negativos, estão
contidas ressalvas a título de esclarecimentos
de que, por exemplo, os tipos de arma e muni-
ção, a empunhadura e eventuais contamina-
ções, além de outros fatores tais como o tipo
de secreção ou o próprio metabolismo da pes-
soa, podem interferir nos resultados, que de-
vem ser considerados apenas como orientação
técnica, juntando-se a outros exames de evi-
dências materiais (do local, balística, etc.), além
de provas circunstanciais ou testemunhais que
venham a auxiliar na formação da convicção
que cada caso requer.
Dados estatísticos revelam que a positividade
do método situa-se na faixa entre 9 a 10% do
total de exames. As mudanças efetuadas no
LCPT mostram um crescimento desta faixa
percentual, chegando até 13,7% em 2001.
A INFLUÊNCIA DO TEMPO
DE SECAGEM
Observa-se que quando se emprega a solução
de rodizonato de sódio, depois da nebulização
do papel de filtro contendo a fita adesiva onde
foram coletados os resíduos, isto é, com o
material em estado úmido, nos casos positi-
vos logo após disparos efetuados em câmaras
de tiro, o desenvolvimento da cor vermelha-
púrpura nos pontos onde se encontram as par-
tículas de chumbo detectadas demora de 30
segundos a 1 minuto, e se faz de forma tênue,
tendendo a clarear cada vez mais, chegando
ao desaparecimento em cerca de 24 ou 48 ho-
ras, exigindo que muitas vezes seja necessário
o uso de fotografia para comprovação.
Modificando o tempo de secagem para 12 ho-
ras e 24 horas ao ar livre, verifica-se, na etapa da
revelação, o aparecimento da mesma cor, com a
manutenção, até agora, com tempo indefinido, já
havendo casos superiores há um ano.
Para agilizar o processo de análise, o papel de
filtro contendo a tira adesiva com os resíduos
coletados, após nebulização com a solução áci-
da, foi colocado sobre vidro de relógio em estufa
com circulação de ar, na faixa de temperatura de
50 a 55ºC por uma hora, o que promove uma
secagem mais rápida sem a destruição do papel.
A etapa seguinte, revelação com o rodizonato de
sódio, destaca um desenvolvimento de coloração
intensa para os casos positivos.
A SUBSTITUIÇÃO DA SOLUÇÃO
TAMPÃO ÁCIDA
O uso da solução tampão tem como um dos
objetivos promover a ionização das partículas
metálicas de chumbo (Pbº) para o cátion Pb++.
Fonte:
Banco de Dados da Coordenação de Química do LCPT
ANO EXAMES
REALIZADOS
RESULTADOS
POSITIVOS
RESULTADOS
NEGATIVOS
1999 96 9 (9,6%) 87 (90,6%)
2000 520 52 (10,0%) 468 (90,0%)
2001 489 67 (13,7%) 422 (86,3%)
2002 551 62 (11,2%) 489 (88,8%)
2003 395 45 (11,4%) 350 (88,6%)
17
Outra finalidade é a de garantir e preservar
meio adequado (pH=2,8) para a reação do ro-
dizonato de sódio com o chumbo iônico, for-
mando o rodizonato de chumbo (cor verme-
lha-púrpura). Entretanto, neste mesmo pH, o
rodizonato de sódio reage também com os íons:
Tl+; Ag+, Cd++, Ba++e Sr++, produzindo com-
postos coloridos. Embora estas reações possuam
uma sensibilidade menor em relação ao chumbo
iônico (Pb++), de qualquer forma, trata-se de uma
contaminação possível de ocorrer.
Foram realizados experimentos no sentido de
reduzir o valor de pH de trabalho, acidifican-
do o meio-reagente, com o uso de ácido tartá-
rico em diferentes concentrações.
A concentração de 10% m/vol da solução
de ácido tartáricoconduz o pH durante a ne-
bulização do papel de filtro para uma faixa
de 1,8 (inicio da nebulização – papel úmi-
do) até 2,0 (papel após secagem ao ar livre
ou aquecido em estufa).
As medidas feitas com a impregnação das ti-
ras de esparadrapo com finíssimas partículas
de chumbo obtidas por pulverização de projé-
teis de arma de fogo, apresentaram positivida-
de com o aparecimento de uma coloração mais
nítida dos pontos ou manchas detectados.
As análises realizadas em coletas nas mãos
de atiradores e vestes atingidas por disparos
de arma de fogo, revelam idêntica nitidez e
alta preservação dos pontos e manchas duran-
te a revelação, levando a crer que nesta faixa
de pH a reação química principal permanece
ocorrendo sem maiores comprometimentos.
A CONCENTRAÇÃO DA SOLUÇÃO
DE RODIZONATO DE SÓDIO
Durante a etapa de revelação das amostras ana-
lisadas no LCPT/BA, usamos o swab de ma-
deira com algodão numa das pontas, impreg-
nado com a solução de rodizonato de sódio
preparada no momento do exame, percorren-
do por toda a área do papel de filtro seco, após
nebulização ácida. Verifica-se que há o desen-
volvimento tênue da mancha vermelho-púrpu-
ra característica, com o breve desaparecimen-
to. O fato ocorre devido a uma possível de-
composição da solução de rodizonato de só-
dio, graças ao contato do swab com o meio
ácido do papel.
Para evitar este fato, a concentração da solu-
ção reveladora foi elevada para valores até o
dobro da inicial (0,1% m/vol) e passamos a
usar frasco nebulizador durante a revelação,
abandonando o swab de madeira.
A observação feita revela que uma solução de
rodizonato de sódio preparada com 0,2% p/v
(20mg de reagente em 10ml de água destila-
da) reduz eficazmente este problema prático,
sem interferência nos resultados.
CONCLUSÕES
1. As análises realizadas com papel de filtro
seco ao ar por 12 a 24 horas ou em estufa de
50 a 55ºC produziram resultados positivos mais
nítidos e com maior tempo de preservação.
2. O uso da solução de ácido tartárico 10%
(m/vol), substituindo a solução tampão ácida
(ácido tartárico + tartarato de sódio e potás-
sio), modificando o meio reacional de um pH
igual a 2,8 para uma faixa de 1,8 a 2, 0, provo-
cou resultados de revelação mais rápidos e de-
senvolvimento de pontos ou manchas verme-
lho-púrpura de maior nitidez visual.
3. O aumento da concentração do rodizonato
de sódio de 0,1%para 2,0%, permitiu a diminui-
ção da decomposição ácida do reagente, garan-
tindo maior eficiência durante as análises.
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APRESENTAÇÃO
A natureza interdisciplinar da Criminalística é incon-
testável, uma vez que os vários ramos das Ciências
Naturais e Sociais integram o seu conteúdo técnico-
científico, dando-lhe o corpo de uma Ciência Aplicada.
Prescindindo das questões filosóficas que giram em
torno dessas premissas, destaca-se a contribuição da
Ciência Contábil no campo da Criminalística, com o
objetivo de compor a prova material contábil.
O trabalho ora apresentado visa esclarecer alguns ques-
tionamentos que ainda permanecem entre os peritos
oficiais, notadamente no ramo da Perícia Contábil.
INTRODUÇÃO
A prova material, com a Constituição Pátria de 5 de
outubro de 1988, ganhou força surpreendente, consti-
tuindo-se numa forma de proteção ao cidadão contra
arbitrariedades e injustiças, isto porque a Assembléia
Constituinte imprimiu uma ideologia garantista dos
direitos do cidadão, tendo em vista o fortalecimento e
a manutenção do regime democrático.
A pureza da prova material e a sua legitimidade per-
passam pelo atendimento a requisitos como: a auto-
ridade competente para requisitar a perícia e o pro-
fissional devidamente habilitado para o exercício do
múnus pericial.
Neste Contexto, delimitando a apreciação da matéria
apenas no campo processual penal, ao qual a perícia
oficial está umbilicalmente ligada, o trabalho será de-
senvolvido com a intenção de explicitar questões que
ainda hoje não são claras para as autoridades compe-
tentes e profissionais, cujas áreas de labor estão liga-
das à prova pericial, notadamente a Contábil.
QUEM PODE REQUISITAR A PERÍCIA?
No dia a dia dos trabalhos periciais, em regra, o pri-
meiro contato do perito criminalístico com a perícia é
com o documento que a requisita. Neste, algumas for-
malidades devem ser observadas. Na área contábil,
destacamos a autoridade que requisita a perícia e os
quesitos formulados.
Atendo-se ao ponto autoridade requisitante e promo-
vendo uma interpretação sistemática dos dispositivos
legais pátrios que tocam no tema Prova Pericial em
geral, observa-se que são legitimadas a requisitar a pe-
rícia as seguintes autoridades: a autoridade policial (de-
legado de polícia); o Ministério Público; a autoridade
judiciária competente (juiz); e o perito criminalístico,
quando necessita de exames complementares.
Como não é intenção do presente artigo desenvolver o
tema em seu aspecto jurídico, somente serão citados
alguns dispositivos legais pertinentes, são eles: artigo
6º, inciso VII; artigo 168; artigo 180; parágrafo único
do artigo 181; todos do Código Processual Penal; e o
art. 129, III e VIII da Carta Magna de 1988.
QUEM É O PROFISSIONAL HABILITADO
PARA REALIZAR A PERÍCIA CONTÁBIL?
O Código de Processo Penal, em seu artigo 159 e pará-
grafos prevê que os exames serão procedidos por dois
peritos oficiais ou por profissionais de nível superior –
devidamente compromissados – escolhidos, preferenci-
REFLEXÕES SOBRE A PERÍCIA CRIMINALÍSTICA - DÚVIDAS
QUE PERSISTEM NO CAMPO DA PERÍCIA CONTÁBIL
ANTONIO PEDRO FERREIRA DA SILVA
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Coordenação de Documentoscopia e Ciência Contábil
Perito Criminal
Comunicação
20
almente, entre os que tiverem habilitação téc-
nica relacionada à natureza do exame.
Cabe neste ponto esclarecer que no tocante
à classe contábil, contabilista é a denomina-
ção dada a todos os profissionais que labo-
ram no campo da Ciência Contábil, tendo
como categorias, independentes e distintas,
o Contador (bacharel em Ciência Contábil)
e o Técnico em Contabilidade (nível médio).
O Decreto-lei nº 9.295 de maio de 1946 em
seus dispositivos estabelece atribuições aos
profissionais da área Contábil, impondo a
realização da Perícia Contábil por Contador,
cabendo aqui a observação do Prof. Marti-
nho Ornelas:
“(...) Art. 26. Salvo direitos adquiridos ex-
vi do disposto no art. 2º do Decreto nº
21.033, de 8 de fevereiro de 1932, as atri-
buições definidas na alínea c do artigo an-
terior são privativas dos contadores diplo-
mados e daqueles que lhes são equiparados,
legalmente” (grifo nosso).
Para regulamentar os dispositivos do decre-
to-lei, visando dirimir dúvidas surgidas en-
tre os contabilistas,quanto ao regular exer-
cício da perícia contábil, o Conselho Fede-
ral de Contabilidade editou a Resolução nº
858/99 de 21 de outubro de 1999, que em
seu item 13.1.2 estabelece:
“A Perícia Contábil, tanto a judicial, (...), é
de competência exclusiva de Contador Re-
gistrado em Conselho Regional de Conta-
bilidade.”
Assim, ante as premissas acima expostas,
destaca-se que para realizar os exames rela-
cionados à Ciência Contábil, o profissional
deve ser devidamente registrado no Conse-
lho Regional de Contabilidade como Con-
tador, ainda que exerça a função pública de
Perito Criminalístico.
CONCLUSÃO
Pontuadas as questões suscitadas em torno da
Perícia Criminalística, com enfoque na área
Contábil, defluem-se as seguintes conclusões:
a) As autoridades requisitantes de perícias
em geral no campo processual penal são: a
autoridade policial; a autoridade judiciária
competente; o Ministério Público; e o Peri-
to Criminalístico, quando requer exames
complementares;
b) A perícia contábil é atividade exclusiva de
Contador (bacharel em Ciências Contábeis) de-
vidamente habilitado pelo Conselho Regional
de Contabilidade. Esta imposição se estende à
área pública, alcançando a função pública de
Perito Criminalístico.
BIBLIOGRAFIA
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CRIMES CONTRA OS COSTUMES DA BAHIA
EVOLUÇÃO E PECULIARIDADES EM TRÊS DÉCADAS
LIDIA RAMOS DE ARAÚJO
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
Perita Médica
Artigo Original
RESUMO
Objetiva-se fornecer conhecimentos sobre evolução e
peculiaridades dos crimes contra os costumes, nos úl-
timos 30 anos, a partir de estudo sistematizado de perí-
cias, realizadas no Instituto Médico Legal Nina Rodri-
gues-BA, e de experiência docente assistencial, da au-
tora, em Sexologia Forense, nesse período, incluindo
participação em projeto para assistência às vítimas de
violência sexual. Este ensaio tem, ainda, como escopo
informar sobre projeto assistencial, hoje implantado no
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, pela Secreta-
ria da Segurança Pública/Ba, para atenção às vítimas
de violência sexual, estabelecendo um novo paradig-
ma de Segurança Pública, que integra a pesquisa mé-
dico legal à assistência integral da saúde, através da
vertente de bem estar social, componente do conceito
de saúde emitido pela Organização Mundial de Saúde
– OMS. Além do estudo dos registros periciais dos cri-
mes contra os costumes, nas décadas de setenta, oiten-
ta e noventa, realizou-se entrevistas estruturadas para
recolher informes da real possibilidade para assistên-
cia multidisciplinar e multinstitucional às vítimas de
violência sexual familiar, que resultou na disposição
motivada de aproximadamente 80% dos entrevistados.
Da análise dos resultados destacam-se mudanças quan-
titativas e qualitativas dos delitos sexuais nas três dé-
cadas: do tabu da virgindade na primeira década, ao
estupro associado a outros delitos, praticados no con-
curso de mais de duas pessoas, na segunda década e ao
crescimento vertiginoso da violência sexual familiar
na terceira década.
ABSTRACT
The objective of this work is to offer a knowledge
about the evolution and its peculiarities of the sexu-
al crimes in the last 30 years, with a special focus on
the technical medical exams, done in the INSTITU-
TO MEDICO LEGAL NINA RODRIGUES-
BAHIA, and the work developed by the author, as a
Law Sexology Teacher, at that time, as well as the
active participation in the project that takes care of
the victims of the sexual violence. More over, this
work gives information on the care project that takes
place in the INSTITUTO MEDICO LEGAL NINA
RODRIGUES-BAHIA, by the SECRETARIA DE
SEGURANÇA PUBLICA-BAHIA, to protect the
victims of the sexual violence, introducing a new
paradigm in social security, because integrates the
law-medical research with the hole health care pro-
gram, what leads to the social well-being, that is part
of the health concept adopted by the ORGANIZA-
ÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE-OMS. There are the
study of the technical exams about the sexual cri-
mes in the 70´s, 80´s and 90´s, in addition to intervi-
ews that had the purpose of collecting opinions on
the real possibility to create an interdisciplinary and
institutional care to the victims that suffered any kind
of sexual violence, which had the approval of the 80
% of the interviewed people. The results were a chan-
ge in numbers and kinds of the sexual crimes in the
last three decades: from the virgin taboo of the first,
to the rape and other crimes, practiced by two or
more people, in the second, and the incredibly fast
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grow of sexual violence inside the family,
in the third one.
INTRODUÇÃO
A partir do levantamento e estudo de perícias
realizadas na Seção de Sexologia do Instituto
Médico Legal Nina Rodrigues e de experiên-
cia vivenciada em trinta anos, buscamos in-
formar, analisar e motivar para um novo posi-
cionamento da ciência médico-legal, no inte-
resse da coletividade e no desencadeamento
de ações de ordem pública e social, saneado-
ras da violência.
OBJETIVOS
Fornecer conhecimentos sobre evolução e pecu-
liaridades dos crimes contra os costumes, na Bahia,
em três décadas (setenta, oitenta e noventa).
Informar a predisposição de profissionais em
participar de estudos, projetos ou programas
referentes à violência sexual familiar.
Divulgar projeto assistencial, implantado no
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, pela
Secretaria da Segurança Pública para atenção
às vítimas de violência sexual.
METODOLOGIA
Realizamos levantamento e estudo de perí-
cias de verificação de virgindade, sedução,
estupro e atentado violento ao pudor, exe-
cutadas no Instituto Médico Legal Nina Ro-
drigues, nos períodos: 1972 a 1979; 1980 a
1989 e de 1990 a 1999, e entrevistas estrutura-
das através de um questionário aplicado a 83
profissionais de diversas áreas, visando pes-
quisar a predisposição desses em participar de
estudos, projetos ou programas referentes à
violência sexual familiar.
Tabela 1
Tabela 2
Fonte IMLNR/DPT
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Exemplo de interpretação:
Ao compararmos o número total de estupros
ocorridos no triênio 97/99 com o total ocor-
rido no triênio 78/80, observamos que hou-
ve aumento de 209,5%. Contribuiu para esta
evolução, o aumento de 470,7% nos estu-
pros em que o agressor foi membro da pró-
pria família (VSF).
No triênio 97/99, houve também elevação de
perícias de Atentado Violento ao Pudor em
comparação com o triênio 78/80. Contribuiu
para esta evolução o aumento de 489,5% em
Tabela 3
Fonte IMLNR/DPT
Tabela 4
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que o agressor foi membro da própria família.
*VSF – Violência Sexual Familiar
**VSNF – Violência Sexual Não Familiar
Fonte: IMLNR/BA
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Após trintaanos dedicados à perícia e ao ensi-
no da sexologia forense, é valioso informar a
evolução e peculiaridades dos crimes sexuais
ocorridos na Bahia, destacando, especialmen-
te, os crimes contra a liberdade sexual.
No curso desse período, além das mudanças
quantitativas, aqui expressas em tabelas e
gráficos, testemunhamos mudanças qualita-
tivas radicais.
Na década de 70, ao tempo em que eclodi-
am os movimentos feministas, a luta pelos
direitos da mulher, e se propalava a guerra
dos sexos, observamos na Seção de Sexolo-
gia do Instituto Médico Legal Nina Rodri-
gues-BA, que 57,05% dos casos periciados
eram de sedução e 18,13%, de verificação
de virgindade, exibindo a persistência do
tabu da virgindade, àquela época. O estu-
pro, apesar do crescimento positivo, repre-
sentava 16,97% das perícias e, na maioria
dos casos, o agressor era conhecido da vítima:
namorado, vizinho, etc. O atentado violento
ao pudor figurava em 7,85% dos casos.
Em 18 de maio de 1973, em Vitória do Es-
pírito Santo, o caso, inusitado, da menor
A.C.S., que aos 8 anos, foi seqüestrada, dro-
gada, violentada sexualmente e morta, aba-
lou o país, e a data dessa ocorrência simbo-
liza hoje o “DIA NACIONAL DE COMBA-
TE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXU-
AL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES”.
Na década de 80, houve significativo aumen-
to de perícias sexológicas no Instituto Mé-
dico Legal Nina Rodrigues, quase o dobro
de registros ocorridos na década anterior. Um
exemplo de interpretação desse fato é a cons-
tatação da quebra do silêncio pelas mulhe-
res, a partir do exercício da cidadania femi-
nina.
Nessa década, talvez pelo mesmo motivo,
cresceu o volume de denúncias de violência
sexual familiar. O tabu da virgindade, en-
tretanto, continuava presente e expresso atra-
vés de 36,72% de perícias de verificação de
virgindade e 29,28% de sedução. O estupro
já representava 28,77% dos casos registra-
dos e o atentado violento ao pudor, 5,23%.
O perfil do agressor difere da década anteri-
or; na maioria dos casos, eram desconheci-
dos da vítima. Aumentou, também, a práti-
ca da violência sexual, no concurso de mais
de duas pessoas e sua associação a outros
delitos, praticados com grave ameaça, sob a
mira de arma de fogo. O assalto a casais em
automóvel, seguido de violência sexual, tor-
nou-se freqüente, mas o registro desta ocor-
rência delituosa era feito apenas pela mulher,
embora ambos fossem violentados, conforme
declarações de agressores a estudantes de Di-
reito, no curso de um trabalho acadêmico.
A violência presumida pela idade também
passa a ser destaque nessa década. A década
de 90 foi marcada pelo crescimento da vio-
lência sexual, expresso por 51,35% de perí-
cias de estupro e 11,71% de atentado vio-
lento ao pudor. Nessa década, houve redu-
ção significativa do total de perícias regis-
tradas na Seção de Sexologia do Instituto
Médico Legal Nina Rodrigues, talvez, pela
diminuição considerável de requisições de
perícias de sedução e de verificação de vir-
gindade, representada por 17,18% e 19,76%,
respectivamente. Acreditamos que o volu-
me de delitos sexuais violentos nesta época
era bem maior que os indicados pelas esta-
tísticas; algumas pessoas violentadas prefe-
riam o silêncio à exposição, sobretudo pes-
25
LI
D
IA
 R
A
M
O
S
 D
E
 A
R
A
Ú
JO
soas do sexo masculino.
Registrou-se, ainda, nesse período, o cres-
cimento vertiginoso da violência sexual fa-
miliar, representando 16% dos casos de vi-
olência sexual, periciados no IMLNR. As
doenças sexualmente transmissíveis, espe-
cialmente a papilomatose, tornaram-se acha-
do freqüente nas perícias sexológicas.
A prática do delito sob grave ameaça foi des-
taque nessa época, assim como a violência
de natureza presumida, pela idade da víti-
ma. Os agressores, na maioria dos casos,
eram os pais ou padrastos.
Do questionário aplicado a 83 profissionais
de diversas áreas, visando pesquisar o inte-
resse em participar de estudos, projetos ou
programas referentes à violência sexual fa-
miliar, obtivemos, conforme demonstrado,
motivação em quase 80% dos entrevistados,
prevalecendo o interesse institucional sobre
o individual, tanto em profissionais da capi-
tal, que representaram 55,4%, como do in-
terior do Estado, com representação de
44,6%.
Finalmente, vale informar que na Bahia, es-
pecificamente no Instituto Médico Legal
Nina Rodrigues, foi implantado pela Secre-
taria da Segurança Pública, em dezembro de
2001, um serviço de atenção às vítimas de
violência sexual, tendo como objetivos:
· Reduzir os efeitos da agressão sofrida pe-
las vítimas da violência sexual através de
atendimento institucional especializado, com
apoio psicossocial e médico;
· Assegurar o acolhimento terapêutico e es-
cuta das vítimas;
· Proporcionar um atendimento imediato
adequado à situação de violência vivida;
· Possibilitar a criação de um grupo de estu-
do e pesquisa interinstitucional permanen-
te, sobre as questões ligadas à violência se-
xual e determinantes.
CONCLUSÃO
Esses informes servem, perfeitamente, como
indicadores de desorganização social, cujas
causas devem ser investigadas com profun-
didade e envidado esforços para prevenção
e reparação dos danos.
O interesse para atuação interdisciplinar
é real, assim como é possível aglutinar di-
versas instituições no combate à violên-
cia sexual.
BIBLIOGRAFIA
Araújo , Lídia Ramos de. Delitos Incestuo-
sos - Um Estudo Sobre Violência Sexual em
Família. Recife, Pernambuco, VI Congres-
so Brasileiro de Medicina Legal, 1980.
Araújo , Lídia Ramos de;Araújo, Paulo Ser-
gio Peixoto de; Lima , Augusto Henrique C
Dias; Regis,José Carlos da Anunciação. Vi-
olência Sexual Familiar - Uma Proposta de
Assistência Multidisciplinar Integrada. Re-
cife, Pernambuco. Forense 2000.
Butles, Sandra. A Conspiração do Silêncio
– O Trauma do Incesto. Rio de Janeiro. Zahar
Editores, 1979.
Cohen, Claudio. O Incesto, um desejo. São
Paulo: Casa do Psicólogo. Livraria e Edito-
ra Ltda, 1993.
Freud, S. Totem e Tabu. Traduzido pelo
Prof. J.P. Porto Carrero. Rio, pág 11. ed.
Guanabara.
Rich, A. On lies, secrets and silence. New
York: ww norton, 1979.
Uchoa, Darcy de Mendonça. Sobre a Psico-
patologia do Incesto, volume XI, X Ofici-
nas Gráficas de Assistência a Psicopatas –
Juqueri, SP, 1994.
Vargas, Alvarado, E. Medicina Legal. 3 ed.
San José, Costa Rica: Lehmann, 1983.
Thomas, Eva. A Violação do Silêncio. São
Paulo: Livraria Martins Fontes, Editora Ltda,
1986.
26
O Joule (J) é a unidade de energia do Sistema Interna-
cional (SI). Trata-se de uma unidade extremamente
pequena, que veio compor a unidade de potencia (que
corresponde à taxa de produção ou de consumo de ener-
gia no tempo) chamada Watt (W), sendo que 1 W = 1
Joule/segundo.
A energia que compramos da Concessionária de eletri-
cidade é medida em kWh, ou seja, 1.000 Wh. O seu
preço atual gira em torno de R$0,40/kWh.
Veja quantos Joules isto representa:
1 kWh = 1.000 J/s . 1 hora = 1.000 J/s. 60min. 60s/min
= 3.600.000 Joules
No mesmo SI, a unidade de força é o Newton (N), que
é a força capaz de alterar a velocidade (acelerar) uma
massa (m) de 1Kg a uma taxa de 1 m/s a cada segundo,
ou seja 1m/s2:
ENERGIA DE PROJÉTEIS
ADEIR BOIDA DE ANDRADE
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Coordenação de Balística
Perito Criminal
Artigo de Discussão
N = Kg. m/s2 (observe que o Kilograma-força, que é o
peso de uma massa de 1 Kg na superfície da terra seria
Kgf = Kg . 9,8m/s2, ou seja kgf = 9,8 N).
A Energia de 1 Joule, por outro lado, é aquela que se
transfere a uma massa de 1 Kg, mediante o trabalho
realizado por uma força de um Newton quando lhe é
aplicada por todo o intervalo de 1 m, ou seja: A aplica-
ção da força altera a velocidade da massa, que ganha
energia cinética medida por E = ½ m. v2.
E = Trabalho = F . d = 1/2mv2, ou, em unidades do SI
J = N . m.
Observe a correção, em termos do uso das unidades:
m.v2 = Kg . m2/s2 = Kg .m/s2 . m = N . m
Exemplo: Calcular a energia de um projétil disparado
por um revólver de calibre .38SPL com cano de 4 po-
legadas. A massa do projétil é de 158gr (10,24g) e sua
velocidade na boca do cano da arma foi medida com
sendo de 260m/s:
E = ½ 0,01024Kg . 2602 m2/s2 = 346,112 Kg. m/ s2 . m
= 346 N. m = 346 J (Joules)
Sendo 1 N = 1/9,8 Kgf, esta mesma energia poderia
ser encontrada como sendo:
E = 346/9,8 Kgf.m = 35.3 Kgf.m (aqui temos o kilograma-
força x metro, e não o kilograma-massa x m)
Fórmulas matemáticas para o cálculo da energia
dos projéteis disparados pelas armas de fogo são
apresentadas de diferentes formas em textos da nossa
Balística Forense, sendo que em muitas delas apa-
recem fatores multiplicadores constantes, ao lado
da aceleração da gravidade (g).
No texto o autor mostra como efetuar o cálculo da
energia cinética dos projéteis (valores que apare-
cem nas tabelas balísticas dos fabricantes de muni-
ção), empregando, como não poderia deixar de ser,
as fórmulas simples da Física Clássica.
27
No sistema Inglês, a massa é medida em Libras (l
lb = 0,454Kg) e a velocidade é dada em pés por
segundo (fps), sendo que 1 pé = 12 polegadas =
12 . 2,54cm = 0,3048m.
No caso, a velocidade seria v=260m/s = 260 f/
0.3048/s = 853 fps, e isto corresponde a multipli-
car o valor em m/s por 1/0.3048, ou seja 3,28!
Considerando que a aceleração da gravida-
de na face da terra é de 32.144ft/s2 (9,8m/s2
. 3,28), e que as 10,24 g correspondem a
0.0226lb, esta mesma energia poderia ser
dada por:
E = ½ 0.0226 lb . (853ft/s)2 = 8.222 lb . ft2/s2
= 8.222 ft/s2 . ft,
Dividindo o resultado pela aceleração da gravi-
dade na face da terra (g = 32.144ft/s2), temos:
E = 8.222/32.144 = 256 lb.ft. (sendo que aqui
temos a libra-força , e não a unidade de massa).
Prosseguindo com o exemplo calculado, de-
terminamos a força média resultante (pressão
dos gases menos o atrito do raiamento) que
acelerou aquela massa no cano de 4”
(=101,6mm) de um revólver .38SPL:
E = F. d
346 N . m = F . 0,1016m, donde F = 3.406 N =
3.406/9.8 = 347Kgf = 347/.454 = 764lbf
Esta força média resultante, aplicada sobre um
círculo de 9mm de diâmetro (S= ¶ (0,9cm)2/4
= 0,636 cm2), equivale a uma pressão, tam-
bém média, de:
P = 347/0.636 = 546 Kgf/cm2 sendo Kgf =
2.2lbf, e cm2 = 0.155 pol2, teremos:
P = 546 . 2,2 lb/0.155pol2 = 7.750 lb/pol2 =
7.750 psi.
A
D
E
IR
 B
O
ID
A
 D
E
 A
N
D
R
A
D
E
Observe-se que esta pressão tem um valor
cerca de 300 vezes maior que a do pneu do
seu carro, e que é apenas a pressão média
resultante, e não o pico de pressão dos gases
queimando!
28
Eventos
Fonte: Associação Brasileira de Criminalistica
29
RESENHA LITERÁRIA
NOVIDADES NAS LIVRARIAS E BIBLIOTECA
ANIBAL MUNIZ SILVANY FILHO - IMLNR.
ACIDENTES DE TRÃNSITO – Aspectos téc-
nicos e jurídicos, Autor: Ranvier Feitosa Ara-
gão , 3ª Edição , Editora Millennium - Esta obra
constitui valioso guia para os operadores e apli-
cadores do direito na utilização de laudos perici-
ais em seus misteres, estabelecendo, de modo sim-
ples, claro e objetivo, uma ponte entre o mundo
jurídico e o mundo da perícia em matéria de aci-
dentes de tráfego, guiando-se pelos meandros da
perícia, penetrando no âmago das coisas e na es-
sência dos fenômenos.
DESENHO PARA CRIMINALISTICA E RE-
TRATO FALADO , Autor: Albani Borges dos
Reis, 1ª Edição, Editora Millennium - O desenho
aplicado à criminalística é largamente utilizado
como instrumento de otimização da prova à dis-
posição da afirmação da Justiça, em países desen-
volvidos. Com o advento da informática e a glo-
balização das técnicas, padrões de comunicação e
convenções gráficas e visuais, as práticas perici-
ais ganham em celeridade, acuidade e confiabili-
dade. No Brasil, as fontes de consulta eram, até
agora, um tanto esparsas, desorganizadas e não
sistematizadas.
Em linguagem simples, didática e consistente, a
obra é apresentada em duas partes: Croqui e Re-
trato Falado. Reúne grande seleção de símbolos,
convenções e elementos canônicos, orienta a co-
leta de provas, inclusive por meio de entrevistas,
a elaboração de laudos claros, fomentando e faci-
litando sobremaneira as decisões e sentenças aos
que promovem a Justiça.
DOCUMENTOSCOPIA , Autor: Lamartine Bi-
zarro Mendes, 2ª Edição, Editora Millennium - Faz
detalhadas recomendações sobre procedimentos pe-
riciais e orienta quanto aos cuidados na seleção, co-
leta e manejo de elementos de prova, interpretação
dos dados, elaboração de laudos, e conclusões. Ca-
pítulos especiais são dedicados a análises sobre
moeda metálica, cédulas do Real, Dólar norte-ame-
ricano, e de selos. Comenta sobre a modernização
dos recursos em segurança e proteção contra frau-
des, práticas de falsificação e formas de atuação dos
criminosos.São narrados, também, inúmeros casos
de crimes famosos.
ENTOMOLOGIA FORENSE - Quando os inse-
tos são vestígios, Autora: Janyra Oliveira Costa,
Editora Millennium - A Entomologia Forense é a
aplicação do estudo de insetos na elucidação de ques-
tões judiciais, tais como a morte violenta, tráfico de
entorpecentes, danos em bens imóveis, contamina-
ção de materiais e produtos estocados, e inúmeros
outros casos que se apresentam à Justiça. Em mui-
tas dessas situações, os insetos constituem, com a
sua presença, vestígios de grande valor criminalísti-
co nos procedimentos de perícias.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL , Autor: Carlos Go-
mes de Carvalho, 2ª Edição, Editora Millennium –
Esta obra reúne sistematicamente toda a vasta e mul-
tifária legislação ambiental brasileira. Dividida em
seis livros, traz diversas normas vigentes (Decretos,
Leis,Resoluções, Portarias), além de jurisprudênci-
as, sobre a política ambiental, biosfera, tecnosfera,
legislação processual, legislação constitucional (fe-
deral e dos estados), acordos e tratados internacio-
nais, indígenas, etc.
30
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Destinada a divulgar trabalhos científicos e
pesquisas produzidas pelos profissionais que atuam no
Departamento de Polícia Técnica da Bahia (IMLNR, ICAP,
IIPM, LCPT), nas mais diversas áreas de conhecimento,
conforme resolução do diretor Geral, Eduardo Dorea. Os
trabalhos devem seguir as seguintes normas:
1º - A Revista Prova Material será aberta, preferencialmente,
a profissionais da Policia Científica, e destinada à publicação
de matérias, que, pelo seu conteúdo, possam contribuir para
a formação e o desenvolvimento científico, além da
atualização do conhecimento nas diferentes áreas do saber.
2º - A revista científica do DPT terá periodicidade
quadrimestral com tiragem inicial de mil exemplares e
distribuição interna, em congressos, simpósios e eventos
onde o Departamento de Polícia Técnica da Bahia estiver
representado.
3º -A responsabilidade de recebimento, seleção e edição do
material será do Editor (a) e do Secretário.O Conselho
Editorial, formado por profissionais lotados no DPT, ICAP,
IML, IIPM e LCPT, analisará o material recebido e emitirá
pareceres.O calendário de publicação da revista Científica,
bem como as datas de fechamento de cada edição, serão
definidas pelo editor (a) da revista, em consonância com o
conselho editorial e as disponibilidades orçamentárias.
4º - O Departamento de Polícia Técnica publicará em sua
revista científica os seguintes trabalhos:
I – Artigos originais, que envolvam abordagens teóricas ou
práticas referentes à pesquisa e trabalhos que atinjam
resultados conclusivos e significativos, não devendo
ultrapassar 200 linhas de 70 toques cada;
II – Comunicações, envolvendo textos mais curtos, nos quais
são apresentados resultados preliminares de pesquisa em
curso, ou recém concluídas, devendo ter no máximo 40 linhas
de 70 toques cada.
III – Notas, entendidas como complementos de trabalho já
publicados, dissertações ou comentários de autoria própria
ou de outro, devendo ter, no máximo, 40 linhas de 70 toques;
IV – Artigos de revisão ou atualização, que correspondam a
textos preparados por especialistas,a partir de uma análise
crítica da literatura sobre determinado assunto de interesse
da comunidade de peritos, não devendo ultrapassar 100
linhas de 70 toques cada;
5º - A entrega dos originais para a revista obedecerá aos
seguintes requisitos:
I – O artigo original e o de revisão ou atualização deverão
ser acompanhados, obrigatoriamente, de resumo em
português, que não exceda 70 linhas e resumo em inglês
fiel ao resumo em português. O autor deve fornecer o(s)
nome(s) do(s) autor(es) e da instituição em que o elaborou.
No rodapé, serão mencionados auxílios ou dados relativos
à produção do artigo e seus autores.
II – Os trabalhos relativos à pesquisa experimental devem
ter todas as informações necessárias que permitam ao leitor
avaliar conclusões do autor.
III - Os artigos originais deverão conter obrigatoriamente
titulo, nome(s) do(s)autor(es), introdução, material e
métodos, resultado, discussão e conclusão (os três últimos
itens podem ser agrupados em um só) e bibliografia citada.
IV – Todos os trabalhos devem ser elaborados
preferencialmente em português e encaminhados em três
vias, com texto corrigido e revisado, além de gravado em
disquete.
V – As ilustrações e tabelas com respectivas legendas devem
ser confeccionadas eletronicamente, indicando o programa
utilizado para sua produção.
VI – A bibliografia e as citações bibliográficas, quando
exigidas, deverão ser elaboradas de acordo com as normas
de documentação da ABNT – 6023.
VII – Os limites estabelecidos para os diversos trabalhos
podem ser excedidos, em casos excepcionais, a critério do
Conselho Editorial.
VIII – O papel utilizado é o A4 (210x297), impresso de um
só lado, espaço 1,5 cm de entrelinhas, margem 2cm de cada
um dos lados. O corpo do texto deverá estar em caixa alta e
baixa, tamanho/fonte 12. O título e subtítulo deverão estar
em caixa alta tamanho/fonte 14, tipo Times New Roman.
IX – O suporte utilizado será o disquete 3¹/² , composto no
editor de textos word for windows, em fonte Times New
Roman, tamanho 12.
6º - O Conselho Editorial poderá propor ao(a) editor(a)
adequação dos procedimentos de apresentação dos trabalhos
às especificidades da área.
7º- Ao autor serão oferecidos dois exemplares da edição em
que o seu trabalho for publicado
8º - O original será entregue mediante comprovante de
recebimento aos representantes do Conselho Editorial.
9º - Casos não previstos nesta norma serão analisados pelo
Conselho Editorial.
Art. 10º - Os originais devem ser encaminhados ao Conselho
Editorial, na Coordenadoria de Comunicação, Cerimonial
e Marketing, 2º andar do DPT, e contatos mantidos também
pelo telefone (71) 324-1692, Fax símile (71) 324-1622/1672.
E-mail: provamaterial@ptecnica.ba.gov.br.