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Bruna Argolo CHIKUNGUNYA • O nome Chikungunya deriva de uma palavra em Makonde, dialeto de um grupo étnico que vive no sudeste da Tanzânia e no norte de Moçambique. • Significa “aqueles que se dobram” descrevendo a aparência encurvada de pacientes que sofrem artralgia intensa. OBS: Os primeiros casos na Bahia foram em 2014 e continuam até hoje. O VÍRUS: • Vírus RNA que pertence à família Togaviridae do gênero Alphavirus. • Isolado pela primeira vez em 1952 na Tanzânia. • Outros surtos ocorreram na África e na Ásia. • Em 2004 surto nas ilhas do Oceano Índico, de 2004 a 2006 aproximadamente 500 mil casos (taxa de ataque de 38 a 63% - taxa de ataque seria como uma incidência cumulativa). • Em outubro de 2013 grande epidemia em diversas ilhas do Caribe. • Três genótipos distintos: do oeste africano, leste/centro/sul africano e asiático. • O asiático está presente no Caribe, América Central e Oiapoque. • Em 2014 a cepa asiática entra no Brasil pelo Oiapoque. • Em meados de 2014, um paciente que trabalhava em Angola vem contaminado para a Bahia e dá início ao surto. - Ele estava contaminado com a cepa leste/centro/sul africana, e ela prevalece até hoje nos casos da Bahia. - A Bahia é o estado do Brasil que notifica o maior número absoluto de casos novos de Chikungunya nesse ano de 2020. É o maior surto de Chikungunya dos últimos anos. • Então, simultaneamente, em 2014, existe a entrada da cepa asiática pelo Oiapoque e a entrada da cepa leste/centro/sul africana pela Bahia. PATOGENIA: • O vírus se replica nos tecidos articulares e essa replicação recruta células inflamatórias, com monócitos, macrófagos e células natural-killer. • A artralgia crônica pode ser devida à persistência viral. Entretanto, não se sabe bem, tem fenômeno auto-imune e alguns questionam que pode ser devido a essa persistência viral, ou ainda a uma replicação de baixo nível. Ainda é uma questão muito discutida. • Pacientes com artralgia crônica tem IgM persistentemente positivo. - Dá a entender que é uma infecção que ‘se arrasta’ na articulação. INFECÇÃO PELO VÍRUS CHIKUNGUNYA: • A maioria das pessoas infectadas (até 70%) desenvolvem sintomas clínicos. - Situação diferente da Zika, onde acontece o inverso. • O período de incubação é de 3 a 7 dias (variando de 1 a 12 dias). • Período de viremia pode durar por até 10 dias (início 2 dias antes dos sintomas). • Pode evoluir em 3 fases: - Aguda: 7 a 10 dias (febre alta, dor de cabeça, mal-estar, rash cutâneo, dores articulares migratórias); - Subaguda: 10 dias até 3 meses (o paciente passa a se queixar cada vez mais só de artralgia, porém ainda tem muito fenômeno inflamatório na articulação, então o paciente tem um pouco de artrite e a artralgia); - Crônica: mais de 3 meses (artralgia). • Baixa letalidade (1 em cada 1000) - pode ser mais grave em pacientes com comorbidades. APRESENTAÇÃO CLÍNICA - FASE AGUDA: • Essa fase dura de 5 a 14 dias. • Quadro começa frequentemente com febre alta (38-39°C), dores pelo corpo, dores nas articulações envolvendo um grande número delas já nessa fase inicial, rash cutâneo maculo-eritematoso difuso, aftas na boca, e cefaleia. - O envolvimento das articulações é o mais característico do quadro. • Nessa fase o paciente tem dificuldade em se alimentar, perde muito líquido, podendo se desidratar, e tem dificuldades de locomoção. • Pacientes vão e retornam a unidade de saúde inúmeras vezes porque os profissionais frequentemente prescrevem medicações para dor por pouco tempo. - O ideal é dar um kit inicial de terapia para esse paciente para 14 a 21 dias, com: hidratação, analgésicos, e evitar anti-inflamatório não hormonal nessa fase, mas pode fazer corticoide. Bruna Argolo • Pacientes idosos, hipertensos, diabéticos, renais crônicos, devem ser monitorados mais de perto com observação por pelo menos 6 horas na unidade de saúde (são os pacientes que tendem a complicar mais), e liberados se clinicamente estáveis e exames sem anormalidades muito significativas. ❖ FREQUÊNCIA DE SINTOMAS AGUDOS: OBS: As dores articulares acometem principalmente ombro, mãos (paciente tem dificuldade de fechar as mãos – deixa objetos caírem), joelhos, pés, tornozelos e alguns referem cotovelo. LABORATÓRIO INESPECÍFICO • Alterações são sempre inespecíficas, não há nada que possa te confirmar que é Chikungunya: - Pode ter leucopenia com linfopenia < 1000 cels/mm³; - Pode ter trombocitopenia < 100.000 cels/mm³, mas é bem menos comum que na dengue; - VHS e PCR geralmente elevadas; - Pode haver elevação discreta das enzimas hepáticas; - Elevação discreta CPK. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: • Do 1° ao 3° dia só é possível fazer diagnóstico através do RT-PCR, até porque não temos tecnologia hoje aqui para realizar um isolamento viral. Nesses primeiros 3 dias não adianta pedir IgM, porque ainda vai estar negativo. • Do 4° ao 8° dia o RT-PCR ainda está positivo, então pode ser pedido, mas o IgM também já positivou. • A partir de 8 dias, o RT-PCR já vai estar negativo, mas o IgM permanece positivo. - O IgM pode permanecer por um tempo prologado. FASE SUBAGUDA E CRÔNICA: • Persistência principalmente da dor articular com ou sem edema e dor muscoloesquelética (a dor não fica apenas na articulação, ela se apresentará também nas estruturas que estão em volta das articulações, como nos tendões, dá tendinite, da pielosinovite, e dá muita dor neuropática, com irradiação e formigamento). • Normalmente é poliarticular e simétrico, mas pode ser assimétrico e monoarticular. • Pode evoluir para artropatia destrutiva (raro). Bruna Argolo • Comportamento flutuante: - O paciente tem muita oscilação da dor, tendo dias sem dor nenhuma, dias com dores mais tranquilas e dias com muita dor. Saber disso é importante para já estabelecer um tratamento prolongado para esse paciente, apesar da característica flutuante, sem ficar ‘tirando e botando’ medicação. • Fatores de risco para cronificação são: idade >45 anos, desordem articular prévia, sexo feminino e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda. • A artropatia crônica pode durar até 5 anos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA - FASE SUBAGUDA E CRÔNICA: • Fadiga • Dor neuropática • Cefaléia • Prurido • Fenômeno de Raynaud (ex: ao colocar a mão em uma água fria ocorre uma potente vasoconstrição, a mão fica arroxeada e a dor é intensa) • Distúrbio do sono • Alopécia • Alteração da memória • Disestesia • Depressão • Parestesia • Turvação visual AVALIANDO UM ESTUDO: • Acompanhou 180 pacientes da Polinésia Francesa por até 3 anos com taxa de cronificação de 60%. • Dos 76 pacientes acompanhados até a semana 36 (pouco mais de 6 meses): - 45% com artralgia persistente; - 24% recuperação inicial seguida de recidiva; - Apenas 31% recuperação completa da fase aguda. • Impacto na qualidade de vida (dos pacientes que tiveram a cronificação do quadro): - 63% limitações para levantar-se da cadeira; - 55% para andar e para pegar um objeto; - 53% para abrir uma garrafa; - 37% para tomar banho. • Consequências da dor persistente no status emocional: - 56% desordem do sono; - 50% depressão; - 44% desordem da memória; - 39% da concentração. TRATAMENTO: • Hidratar o paciente: faça esquema para Dengue. • Pacientes que não serão admitidos: pressão arterial normal, hidratado, hematócrito até 46%, pacientes sem comorbidades. • Indicado para pacientes jovens, sem comorbidades, sem alterações clínicas significativas. ❖ MEDICAÇÕES SINTOMÁTICAS: • Dipirona: - Pode ser utilizada em doses moderadasa altas para controle da dor, em pacientes sem contraindicação. - Doses de 1g de 6/6 horas para pacientes adultos são esperadas, podendo ser mantidas por toda fase aguda. • Anti-inflamatório não-hormonal: ATENÇÃO - Ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, nimesulida, diclofenaco. - Podem ser utilizados na fase aguda, mas sempre hidratando o paciente, e com restrição em pacientes IDOSOS, cardiopatas, nefropatas e pacientes diabéticos. Ou seja, o uso é basicamente em pacientes jovens e hidratados. - Não devem ser utilizados continuamente por mais do que 3 a 5 dias - Contraindicado: uso de AAS (aspirina). • Corticosteroides: - Podem ser utilizados na fase aguda, em doses baixas, na faixa de 10-20mg de Prednisona ou Prednisolona ao dia para adultos ou o equivalente em crianças. - Podem ser mantidos na fase pós-aguda como drogas anti-inflamatórias. OBS: Lembrando que todas essas medicações sintomáticas devem ser usadas por muitos dias, por em média 21 dias. Não tem problema usar 20mg de Prednisona ou Prednisolona diária e suspender aos 21 dias – não há necessidade nenhuma de ir escalonando. Bruna Argolo ❖ HIDRATAÇÃO VENOSA: I. Paciente desidratado e incapaz de ingerir líquidos; II. Paciente com alteração do sensório (sonolento, hipoativo, etc); III. Paciente com aumento da uréia (> 50 mg/dL); IV. Paciente oligúrico (diurese menor do que 1 ml/kg/hora). ADMISSÃO DO PACIENTE: POR PERÍODO DE 6 A 12 HORAS • Os pacientes com qualquer uma das alterações a seguir não devem ser mandados para casa, deve ter admitido, internado e tratado: I. Paciente desidratado e incapaz de ingerir líquidos; II. Paciente com alteração do sensório (sonolento, hipoativo, etc); III. Paciente com aumento da uréia (> 50 mg/dL); IV. Paciente oligúrico (diurese menor do que 1 ml/kg/hora). ADMISSÃO DO PACIENTE: DEVE FICAR INTERNADO POR UM PERÍODO SUPERIOR A 24 HORAS I. Paciente diabético, especialmente aqueles com glicemia descompensada; II. Paciente cardiopata ou que apresente alterações no eletrocardiograma ou no ecocardiograma; III. Paciente com falta de ar, dispnéia; IV. Paciente que mantém distúrbios neurológicos, com sonolência, apesar de hidratado; V. Paciente apresentando convulsões; VI. Paciente com alterações da função renal (creatinina > 1,2), hepática (TP abaixo de 70%) ou hematológica (plaquetas < 50.000). TAMBÉM DEVE SER INTERNADO O PACIENTE QUE APRESENTA: • Dor abdominal intensa • Vômitos persistentes • Hipotensão arterial • Equimoses, petéquias • Hiperglicemia ou hipoglicemia NA ADMISSÃO DESSES PACIENTES: • Pode ser útl: - Acesso venoso periférico; - O2 sob cateter nasal fluxo 3 litros/min se necessário. • Em seguida: - RINGER LACTATO ou SF0,9% --- correr 1.500mL EV em 1 hora; - Glicemia capilar de 4/4 horas; - Glicose 25% ------- 4 ampolas EV rápido se glicemia capilar < 70mg/dL; - Insulina regular: se glicemia capilar até 200mg/dL não fazer; entre 201 e 250 fazer 4UI SC; entre 251 e 300 fazer 6 UI SC; entre 301 e 350 fazer 8UI SC; entre 351 e 400 fazer 10UI SC; > 400 fazer 12 UI SC. CHIKUNGUNYA: LETALIDADE NEGLIGENCIADA? • Taxa de letalidade em Chikungunya 3 vezes maior do que a de Dengue no ano 2018. • Muitos desses pacientes (idosos) apresentam descompensações de doenças de base (e.g., diabetes, cardiopatas, etc), então é muito importante não avaliar apenas os sintomas, como a dor, mas ver o quadro daquele paciente como um todo para realizar os internamentos adequados. • Há pacientes que apresentam quadro sepse-símile com lesões equimóticas na pele e evoluem com resposta inflamatória (raro) – o quadro é clássico de sepse: descompensa, faz hipotensão, febre, leucocitose...
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