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Os Memes no Ensino da Arte

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Prévia do material em texto

SENAC 
PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE-EDUCAÇÃO 
 
 
Tiago Augusto Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
OS MEMES NO ENSINO DA ARTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2020 
 
 
 
Tiago Augusto Rodrigues 
 
 
 
 
 
OS MEMES NO ENSINO DA ARTE 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Pós-Graduação 
em Arte-Educação do Centro Universitário 
Senac. 
 
Orientador: Prof.ª Dra. Suzana Schmidt 
Viganó 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu futuro eu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos professores que me guiaram nesta jornada. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Com base nos estudos de Ana Mae Barbosa e sua abordagem triangular, este 
trabalho propõe uma atividade educativa para refletir sobre a criação e circulação de 
imagens na contemporaneidade. A partir do estudo do meme Ecce Homo, são 
analisadas as origens e as consequências do compartilhamento viral de imagens 
remixadas na internet. 
 
Palavras-Chaves: 1. Arte; 2. Memes; 3. Remix de Imagens; 4. Ecce Homo; 5. 
Abordagem Triangular 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Based on Ana Mae Barbosa's studies and the triangular approach, this paper proposes 
an educational activity to reflect on the creation and circulation of images in 
contemporary times. From the study of meme Ecce Homo, the origins and 
consequences of viral sharing of remixed images on the internet. 
 
Keywords: 1. Arts; 2. Memes; 3. Image Remix; 4. Ecce Homo. 5. Triangular Approach 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 
JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 10 
OBJETIVOS .................................................................................................... 15 
PLANO DE LEITURA/APRECIAÇÃO ............................................................. 15 
Sobre o Ecce Homo “original” ................................................................. 18 
O gênero Ecce Homo .............................................................................. 20 
O Ecce Homo de Cecília Giménez e seu legado memético .................... 21 
PLANO DE ATIVIDADE EDUCATIVA ............................................................ 24 
MATERIAL EDUCATIVO ................................................................................ 27 
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ............................................................... 30 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 31 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 33 
ANEXOS – PRINCIPAIS LÂMINAS DO FOLHETO ....................................... 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
INTRODUÇÃO 
 
As relações entre a arte e a comunicação têm se estreitado cada vez mais. 
Entre as diversas hibridizações, uma delas tornou-se parte de nosso cotidiano e se 
firma como uma nova linguagem: os memes. Este código traduz-se em reações quase 
sempre imagéticas aos produtos da nossa cultura contemporânea, que carregam em 
si relações de intertextualidade e do remix. São coletâneas de imagens e/ou textos 
que remixam uma fotografia de uma notícia, quadros de um vídeo que se propagaram 
mais do que o próprio vídeo, imagens acompanhadas de frases, bordões, trejeitos de 
políticos e celebridades, mas sempre transmitem uma mesma ideia em comum. De 
acordo com o Museu de Memes1, os memes são uma nova forma de letramento 
midiático. Por isso, é necessário desenvolvermos maneiras de aprendermos e 
criarmos a partir desta nova linguagem. 
O termo meme foi introduzido em 1976 pelo biólogo evolucionista Richard 
Dawkins em seu livro “O gene egoísta”, a partir de uma abreviação do grego mimeme 
(μίμημα). Dawkins, buscava estabelecer um paralelo com o conceito de gene, 
apresentando o meme como uma unidade de transmissão cultural ou de imitação 
social. Para o autor, memes e genes compartilham uma mesma natureza: a 
capacidade de replicação. Uma unidade replicadora é uma molécula capaz de criar 
cópias de si mesma, atuando como um modelo, uma base. Desta forma, o autor 
entendia que, assim como um gene, um meme também é um replicador. Entretanto, 
alimentando-se da reprodução de ideias e valores sociais. 
Ao longo do tempo, a própria definição de meme também se transformou. Para 
a psicóloga Susan Blackmore (BLACKMORE, 2000), os memes não são somente 
ideias, mas também são comportamentos que se replicam socialmente. Deste modo, 
necessitam de uma ancoragem material, um suporte que facilite a sua reprodução de 
um “hospedeiro” humano para outro. Resumidamente, os memes se propagam por 
meio de uma mídia (a linguagem oral, um livro, uma notícia de jornal, uma fotografia). 
Na internet, de acordo com Lucena (2015), os memes se dão através das interações 
 
1 O Museu de Memes é um site brasileiro que se dedica ao estudo, catalogação e preservação de 
memes. Trata-se de um web museu que respeita o suporte midiático inerente ao próprio meme. 
 
 
 
9 
mediadas no ambiente virtual das redes sociais, configurando uma cadeia circular de 
sentidos, fortemente marcada pela subjetivação virótica e espontânea. Nas redes 
sociais, o termo passou a se referir principalmente às frases, imagens estáticas ou 
animadas, comumente incluindo elementos textuais, sons e produtos audiovisuais que 
são massivamente compartilhados e modificados, contudo, ainda mantendo alguma 
característica que os identifique. Esta transformação é a característica fundamental 
dos memes. Para Shifman (2014), um meme da internet é sempre uma coletânea de 
textos (conteúdos), e nunca uma imagem ou texto isolado - não sendo possível 
analisá-lo sem observar também o contexto em que surgiu. 
A partir dos estudos de Ana Mae Barbosa (2014) sobre a imagem no ensino da 
arte, este trabalho pretende criar uma proposta de ensino/aprendizagem de arte, 
utilizando como objeto a linguagem dos memes da internet, em uma sequência de 
oficinas proposta ao Sesc Sorocaba, ao longo de três encontros. Será trabalhado, com 
um público adolescente, através da abordagem triangular de Barbosa (2010), 
aspectos da criação, circulação, contextualização e principalmente da produção de 
sentidos destas imagens remixadas, a partir do estudo de um compêndio do meme 
“Ecce Homo”, catalogado no acervo do site “Museu de Memes” e também no site 
“Know your Meme2”, detalhado mais tarde neste trabalho. 
Para Rosa Iavelberg (2015, p.191), o aprender sobre arte hoje deve ser 
interdisciplinar, requerendo a leitura de diferentes tipos de textos (e imagens), nos 
mais variados suportes, como livros, internet, exposições, jornais, revistas, 
quadrinhos, grafites etc. 
Na arte-educação pós-moderna descontrói-se a ordenação cronológica no 
estudo dos movimentos artísticos ao longo da história, rompe-se com o 
ensino da arte europeia consagrada, se inclui a pluralidade cultural, se propõe 
a aula invertida dando abertura à voz e à interpretação do conhecimento 
pelos alunos em ações individuais ou colaborativas. (IAVELBERG, 2015, p. 
190-191). 
 
2 Know Your Meme é um dos mais importantes sites que documenta memes de internet, como vídeos 
virais, "macros" de imagens, frases populares, celebridades, entre outras coisas que se tornam meme. 
 
 
 
10 
Desta forma, ao se valer dos produtos contemporâneos da cultura de massas, 
o ensino da arte também pode se dar a partir do estudo dos memes, entendidos aqui 
como elementos da cultura popular nos ambientes virtuais e que funcionam como 
respostas à cultura de massas. 
 
JUSTIFICATIVA 
 
Ao falarmos das aproximações e convergências entre arte e comunicação, 
Santaella (2008) nos recorda que a história da arte se constitui de um extenso banco 
de imagensque o design gráfico, a publicidade, o cinema e a televisão sempre fizeram 
uso, cada um a seu modo. A partir dos anos 80, com a informatização, o resultado 
destes materiais passou a ser digitalizado e armazenado em computadores. Mais 
tarde, com o desenvolvimento das redes de comunicação global, passamos a ter 
acesso aos bancos de imagens, aos acervos inteiros de museus e aos sites de artistas 
em nossas próprias casas e que “além desse acesso, os programas de tratamento de 
imagens permitem a manipulação. Por essa e outras razões, a absorção das imagens 
artísticas pelas mídias constitui-se em um mercado em expansão” (SANTAELLA, p. 
41, 2008). 
Henry Jenkins (2009), estudioso das novas mídias, aponta que a colisão (ou 
interação) entre novas e antigas mídias, vem reduzindo barreiras à expressão 
artística, aumentando o estímulo à criação e à produção de novas formas de conteúdo 
e, por consequência, novas maneiras de transmissão e de consumo. Neste novo 
contexto, reações pessoais, anteriormente isoladas ao serem expressas no ambiente 
da internet, podem se transformar em uma interação social ampliada. (JENKINS, 
2006, p. 41). Além disso, o pesquisador defende que vivemos hoje em uma cultura 
participativa, na qual os consumidores das mídias de massa passam também a ter 
voz, a participar da cultura que consomem, inclusive se apropriando destes conteúdos 
e os fazendo circular de novas formas. O autor acrescenta que, quando um material 
é propagado, ele é refeito: seja literalmente, ao ser submetido aos vários 
procedimentos de remixagem e sampleamento, seja figurativamente, por meio de sua 
inserção em conversas em andamento e por meio de diversas plataformas (JENKINS, 
2013, p. 54). Ainda para o autor, o sucessivo processo de transformação do propósito 
 
 
 
11 
original e de recirculação de conteúdos está borrando as linhas que dividem a 
produção e o consumo. 
Esta nova dinâmica de circulação pode ser observada na internet, sobretudo 
nos sites de comunidades virtuais, como Facebook, Twitter e Youtube e aplicativos de 
comunicação instantânea como o Whatsapp. Nestas plataformas encontramos textos, 
imagens e vídeos que circulam de maneira similarmente contagiosa e em constante 
transformação, dialogando e remixando a cultura de massas tradicional. Para os 
adolescentes de hoje, que são nativos digitais, estes conteúdos fazem parte do seu 
cotidiano e são consumidos e criados de maneira naturalizada, sem muitas vezes 
refletir sobre seus significados e origens. Muitos destes conteúdos são o que 
atualmente chamamos de memes. 
Apesar de Nestor Garcia Canclini não pensar exatamente sobre o tema, é 
possível traçar relações entre os memes e o que Canclini chama de gêneros impuros, 
como o grafite e os quadrinhos, obras da contemporaneidade que, assim como os 
memes, borram as linhas entre o visual e o literário, o culto e o popular, e aproximam 
o artesanal da produção industrial e da circulação massiva (CANCLINI, 2008, p. 336). 
O surgimento dos memes, como linguagem, pode também ser comparado aos 
movimentos de subversão e remixagem, característicos do modernismo do início do 
século XX, e que passou a ser uma linguagem típica da arte desta atualidade, 
reforçando as manifestações pós-modernas como especialmente referenciais e 
metalinguísticas. 
Para Nicolas Bourriaud, a pós-produção é o que define as imagens criadas na 
contemporaneidade, que tem a rede como um de seus pontos basais. De acordo com 
o curador e crítico de arte: 
[...] desde o começo dos anos 1990, uma quantidade cada vez maior de 
artistas vem interpretando, reproduzindo, reexpondo ou utilizando produtos 
culturais disponíveis ou obras realizadas por terceiros. Essa arte da pós-
produção corresponde tanto a uma multiplicação da oferta cultural quanto – 
de forma mais indireta – à anexação ao mundo da arte de formas até então 
ignoradas ou desprezadas. Pode-se dizer que esses artistas que inserem seu 
trabalho no dos outros contribuem para abolir a distinção tradicional entre 
produção e consumo, criação e cópia, ready-made e obra original. Já não 
lidam com uma matéria-prima. Para eles não se trata de elaborar uma forma 
a partir de um material bruto, e sim de trabalhar com objetos atuais em 
circulação no mercado cultural, isto é, que já possuem uma forma dada por 
outrem. Assim as noções de originalidade [...] e de criação [...] esfumam-se 
nessa nova paisagem cultural [...]. (BOURRIAUD, 2009, p.7-8) 
 
 
 
12 
As intersecções entre arte e tecnologia têm se cruzado há algum tempo. Em 
2012, o Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York anunciou a inclusão dos 
primeiros games em seu acervo e dividiu opiniões. Passados quatro anos, emojis3 
também foram incorporados à exposição permanente do museu. Para alguns 
estudiosos, o Brasil já é reconhecido como uma potência na criação de memes. Por 
exemplo, desde 2017, a Universidade Federal Fluminense (UFF) segue alimentando 
um espaço virtual auto definido como “o maior acervo de memes brasileiros do país”, 
onde arquiva, cataloga e contextualiza os memes nacionais e, de maio a agosto de 
2019, inaugurou sua primeira exposição off-line: “A política dos memes e os memes 
da política” no Museu da República no Rio de Janeiro. Também no mesmo ano, o 
coletivo de memeiros “Saquinho de lixo” participou com uma obra na exposição “À 
Nordeste”, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. 
Ações como estas confirmam a potencialidade desta forma de linguagem. 
Utilizar a linguagem do meme como tema para se trabalhar com o 
ensino/aprendizagem de arte com adolescentes, especificamente, pode ser 
interessante não apenas por sua familiaridade e natividade com as ferramentas 
digitais, mas também para melhor entender os discursos presentes nestes objetos. A 
adolescência é uma etapa da vida que possibilita uma abertura para as mais variadas 
expressões. De acordo com Freitas, Pinto e Ferronato, nesta fase os jovens estão em 
plena vivência de suas novas possibilidades e autonomias, e espera-se que busquem 
formas alternativas de expressar seu próprio mundo. Essa particularidade deve ser 
aproveitada pelo educador que trabalha com adolescentes, cabendo a ele 
proporcionar momentos de encontro com novas linguagens e novas expressões, já 
que o valor maior é a autonomia física, cognitiva e social dos adolescentes (FREITAS, 
PINTO E FERRONATO, p. 132, 2016). 
Para além do campo da arte, atualmente o neologismo “memeiro”, que se refere 
às pessoas que criam memes, ganha destaque até mesmo como profissão. 
Parlamentares criam departamentos específicos para trabalhar com esta linguagem 
 
3 Emoji é um neologismo vindo da junção das palavras japonesas e+moji, respectivamente 
imagem+letra; correspondem as imagens que acompanham ou substituem palavras em mensagens 
eletrônicas, podem representar desde expressões faciais, objetos, lugares, animais até tipos de clima. 
Sua popularização se deu juntamente a popularização de smartphones por serem acessado em um 
teclado virtual nativo nestes aparelhos. Em 2015, um emoji (rosto amarelo com lágrimas de alegria) foi 
eleito como a palavra do ano pelo dicionário Oxford. 
 
 
 
13 
na internet, como o caso do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), que em março 
de 2019, criou em seu gabinete o “departameme”, em que a função principal dos 
memeiros é “monitorar” a atuação de Kataguiri e demais notícias sobre política com a 
finalidade de criar publicações em vídeo e imagens para as suas redes sociais. De 
acordo com a sua assessoria, em resposta a revista Exame: “a ideia é transmitir as 
diretrizes do deputado para o público através de memes”4. 
Memes geralmente são efêmeros, funcionando e sendo replicados às vezes 
por poucas horas, dias, ou, no máximo, algumas semanas. Porém, alguns se tornam 
clássicos e são constantemente relembrados e utilizados como ready-made de novos 
memes. A escolha do meme para este trabalho se deu por grande parte de sua 
coletâneaversar sobre assuntos ligados à história da arte. 
 
O meme “Ecce Homo” (Figura 1) também conhecido como “Jesus restaurado” 
ou ainda “Potato Jesus” surgiu a partir de uma notícia de agosto de 2012, que narrava 
como a senhora Cecilia Gimenéz, de 81 anos, decidiu restaurar por conta própria um 
 
4 “Departameme”: conheça o novo departamento de Kim Kataguiri. Disponível em: 
<https://exame.abril.com.br/brasil/departameme-conheca-o-novo-departamento-de-kim-kataguiri>. 
Acesso em: 06 nov. 2019. 
Figura 1 - A pintura original, sua versão antes da restauração de Cecília 
e, por fim, a pintura que deu origem ao meme “Ecce Homo” 
Fonte: Museu de Memes, 2019 
 
 
 
14 
afresco “Ecce Homo”, do século XX, que ornamentava um dos pilares do Santuário 
de Misericórdia da comunidade de Borja, província de Zaragoza, na Espanha. 
Cecília acabara por alterar completamente o rosto pintado na obra original e a 
desastrosa restauração se tornou um dos assuntos mais comentados na época. Ainda 
que a igreja tivesse se pronunciado informando que contrataria um outro restaurador 
para corrigir o erro, uma petição online pediu que sua versão de Cecília para “Ecce 
Homo” fosse mantida. A repercussão foi tamanha que causou impacto positivo real 
em Borja. Houve um incremento do fluxo turístico no local, fomentando a economia e 
divulgando o patrimônio cultural e artístico da cidade. De acordo com o site Museu de 
Memes, o próprio Santuário posteriormente chegou a criar o primeiro Museu 
Internacional do “Ecce Homo”, que conta com obras sobre o tema, de diversas partes 
do mundo. Mais de 140 mil pessoas passaram pelo local desde então para conhecer 
a pintura restaurada. Mais um apontamento de que conversas no ambiente digital 
podem produzir profundos impactos na realidade off-line. Na sequência será 
desenvolvido um pouco mais sobre o meme criado iniciado por Cecília e sobre a obra 
original. 
 
 
 
Figura 2 – Coletânea com algumas entradas do meme “Ecce Homo” 
Fonte: Know Your Meme (2019) 
 
 
 
15 
OBJETIVOS 
 
Geral: Discutir o conceito de meme e a ideia de remix na história da arte e na cultura 
de massas contemporânea. 
Específicos: Analisar as contribuições criadas para o meme estudado, identificando 
as obras que os originaram e os diversos remix feitos a partir deles; possibilitar aos 
alunos a criação de suas próprias versões do meme estudado, utilizando como 
ferramentas computadores e aparelhos celulares. 
 
PLANO DE LEITURA/APRECIAÇÃO 
 
A oficina terá início com um acolhimento realizado em uma roda de conversa, 
para levantar o conhecimento prévio dos alunos sobre memes; eles se apresentarão 
e contarão sonbre o interesse pelo tema. Além disso, serão abordados com questões 
como: Você usa memes no seu dia a dia? Você conversa usando alguma imagem? 
Você apenas compartilha imagens ou também cria seus próprios memes? Espera-se 
uma maioria de respostas que confirmem a familiaridade com o assunto. Os 
participantes também serão questionados sobre o porquê de algumas imagens 
viralizarem tanto. Acredita-se que aqui possa haver maior discordância e 
multiplicidade nas respostas. 
Em seguida, os alunos observarão uma sequência de imagens de memes 
populares, conforme a Figura 3, indagando-os se já haviam as visto anteriormente. 
Por último o professor projetará uma sequência de imagens do meme “Ecce Homo” e 
a conversa se orientará ao conhecimento que os alunos têm desta imagem. A partir 
 
 
 
16 
daqui a aula se torna mais expositiva, mas com grande convite à participação dos 
alunos. 
 
Será feita uma apreciação estética da imagem. Coletivamente, o grupo 
descreverá o que observa. Após algumas respostas livres, o professor poderá auxiliar 
com perguntas como: Vocês acham que esta imagem é uma pintura? Que tipo de tinta 
pode ter sido usada? Acham que é uma tela ou outro tipo de material? Quais cores 
predominam? O que ela retrata? Após este percurso, espera-se que os alunos 
cheguem à conclusão de que se trata de uma representação de Jesus, mas de uma 
maneira peculiar - pode ser que alguns já conheçam um breve histórico sobre a 
imagem. Entretanto, esta contextualização será feita em breve. Na sequência os 
alunos observarão a imagem anterior ao meme da restauração e, e poderão contar 
sobre as representações de Jesus, a que estão habituados a ver. 
Neste momento, o diálogo se voltará ao conhecimento que têm de restaurações 
de obra de arte, se sabem por que restauramos quadros, prédios e outros objetos de 
valor histórico; quem os alunos acreditam que é o profissional que realiza este trabalho 
e outras questões. Na sequência, voltando ao meme, os alunos tentarão responder 
porque Cecília Giménez acabou decidindo restaurar a obra por si mesma e se 
acreditam que ela foi bem-sucedida nesta feitura. Partindo destas respostas, será 
observada a noção que o grupo tem sobre história e sobre imagens e objetos que nos 
ajudam a narrá-las, além do julgamento estético que fazem sobre o material. 
Finalmente, os alunos serão indagados sobre o porquê acreditam que a 
imagem da restauração de Cecília Giménez se tornou mais famosa que a obra 
original. Diante da inusuabilidade da representação de Cristo por Cecília, podemos 
Figura 3 – Alguns memes populares: Gloria Maria no Oscar, namorado distraído e Nazaré confusa 
Fonte: Google Imagens (2019) 
 
 
 
17 
seguir o roteiro de Samuel Messik e Phillip Jackson (BARBOSA, p.14, 2014) para 
descobrir se um objeto representa uma resposta estética. Assim os alunos 
responderão as seguintes perguntas: Esta imagem muda alguma coisa na forma de 
representar o que ela pretende representar? Esta obra muda algo em você? Esta obra 
muda algum conceito de arte? Esta obra traz alguma mudança na arte hoje? Qual a 
mudança que ela significa para a arte de outros tempos ou para a arte em diversos 
outros tempos? - Como estas perguntas podem parecer um pouco mais complexas, 
nem todas precisarão ser respondidas nesta hora. Entretanto, almeja-se que ao final 
do primeiro dia da oficina, os alunos possam ter compreendido que a imagem se 
tornou famosa por subverter de uma maneira engraçada a imagem clássica de Jesus 
a que estamos habituados. E, por isso, acabou se tornando um meme. 
No segundo dia de oficina, a aula continuará mesclando a abordagem 
expositiva com as conversas junto aos alunos, novamente se utilizando de imagens 
projetadas como apoio. Será apresentado um breve histórico sobre a obra, seu 
(possível) autor e um panorama do gênero “Ecce Homo” na história da arte. Em 
seguida, os alunos serão apresentados às diversas imagens derivadas do retrato 
restaurado por Cecília. Neste momento, o diálogo se voltará ao porquê eles acreditam 
que estas novas imagens foram criadas a partir da restauração de Giménez. Espera-
se as mais variadas respostas e, a partir delas, tentará se descobrir semelhanças 
entre as imagens de maneira que se possa separá-las em alguns grupos. 
Para esta classificação, nos basearemos nas tipologias apresentadas por 
Chagas e Toth que levam em consideração categorias que dividem os memes em: 
image macros (fotografias com legendas), exploitables (montagens com sobreposição 
de imagens), look-alikes (justaposição de retratos de personagens lado a lado para 
fins de comparação), selfies5, snowclones (fórmulas textuais, como “você pode 
substituir X por Y” ou “in Brazilian Portuguese, we don’t say X we say Y and I think 
that’s beautiful”), e outras várias denominações (CHAGAS, TOTH, 2016, p. 216). 
Ao final do segundo dia, ainda de forma expositiva, com auxílio de imagens 
projetadas, os alunos tomarão conhecimento de como estes remixes e a restauração 
 
5 Selfie é neologismo em inglês para autorretrato, é uma foto tirada e compartilhada pela própria pessoa 
na internet. Selfies com expressões ou gestos específicos e de momentos como o Oscar de 2014 
também frequentemente tornam-se memes. 
 
 
 
18 
de Cecilia influenciarama realidade da sua cidade. Os alunos serão interrogados se 
lembram, por exemplo, quando e onde viram pela primeira vez o meme estudado, se 
conhecem mais memes que não têm origem no Brasil, se já ouviram falar sobre a 
Espanha, e/ou sobre a cidade de Borja, e se também conhecem alguma manifestação 
de meme no mundo off-line – aqui não há respostas certas ou erradas, mas prepara-
se o terreno para que os alunos sejam apresentados à cidade de Borja e ao templo 
onde a pintura de Giménez está exposta. 
Por fim, o terceiro encontro será o dia para o fazer artístico, em que os alunos 
aplicarão os conhecimentos adquiridos para a criação dos memes. A seguir, neste 
texto, serão apresentados os conteúdos utilizados para a etapa de apreciação e 
contextualização do meme estudado. 
 
Sobre o Ecce Homo “original” 
 
Na época do surgimento da imagem e dos memes relacionados, em agosto de 
2012, as reações foram as mais diversas. Em um primeiro momento, defendeu-se 
uma intervenção para que se devolvesse o “estado original” da obra, pois, em 
interpretação extrema, a senhora havia vandalizado um patrimônio da cidade. 
Ironicamente, apesar da obra versar sobre um tema comum na história da arte 
ocidental, a peça em si não era amplamente conhecida antes do meme. Como aponta 
o arquiteto especialista em restaurações Moreno-Navarro, nem mesmo o Santuário 
ou as autoridades locais haviam se atentado para a sua deterioração, justamente 
porque a obra era considerada mais como uma homenagem de um devoto do que 
uma peça de arte. Esta conclusão se daria porque a pintura foi feita a óleo diretamente 
sobre o gesso que cobre o pilar, sem aplicar previamente qualquer preparação, 
explica o autor (MORENO-NAVARRO, 2017). 
Moreno-Navarro acrescenta ainda que esta pintura teria ao redor de 100 anos 
(sendo no máximo de 1930) e que não se sabe com plena certeza quem a realizou, 
mas que provavelmente tenha sido o valenciano Elías García Martínez. O pintor foi 
aluno da Escola de Bellas Artes de Valência, viveu em Barcelona e em Zaragoza, 
onde lecionou na Escola de Artes e Ofícios. Como pintor era relativamente 
 
 
 
19 
desconhecido, mas cultivou o retrato, a paisagem, a naturezas morta, as flores, os 
animais, as cenas da vida cotidiana, arquitetura e a religiosidade como temas de suas 
obras (MORENO-NAVARRO, p. 2, 2017). O sociólogo e pesquisador, Paulo Peixoto, 
conta que Martínez costumava passar férias de verão com a família em Borja, onde 
aproveitava para treinar suas habilidades, reproduzindo pinturas, em especial as de 
temas religiosos como o gênero “Ecce Homo” que, à época, eram largamente 
reproduzidos em estampas religiosas e em cartões-postais (PEIXOTO, p.6, 2016). 
 
Desta forma, tanto Peixoto quanto Moreno-Navarro apontam que o “Ecce 
Homo” de Martínez é uma reprodução de uma obra do pintor barroco italiano Güido 
Reni, que viveu nos séculos XVI e XVII, e que também já havia sido 
consideravelmente copiado ou reproduzido pelos trabalhos do alemão William French 
no século XIX (PEIXOTO, p.6, 2016). Também acrescenta o estudioso que “Martínez, 
na sua devoção e na tentativa de melhorar sua técnica, teria pintado vários “Ecce 
Homo”. E seu trabalho mais bem conseguido não terá sido o que pintou na Igreja de 
Borja, mas quadros que ficaram na posse da família” (PEIXOTO, p.6, 2016). 
 
 
Fonte: Composição criada pelo autor com imagens do 
Museu de Memes (2019) e MORENO-NAVARRO (2017) 
Figura 4 – Ecce Homo de Martínez e Ecce Homo de Güido Reni 
 
 
 
20 
O gênero Ecce Homo 
 
A expressão em latim Ecce Homo, de acordo com o Dicionário enciclopédico 
de teologia (2002) significa: "Eis o Homem" e, na narrativa judaico-cristã, são as 
palavras ditas por Pôncio Pilatos ao apresentar Jesus (flagelado e com a coroa de 
espinhos) aos judeus. Na iconografia judaico-cristã e na História da Arte Ocidental, 
Ecce Homo tornou-se um sinônimo de representar Jesus com estas características, 
como pode ser observado nas imagens a seguir: 
 
 
Figura 5 – Ecce Homo de German 
Dominguez, sec. XV. 
Fonte: Google Arts & Culture (2019) 
 
Figura 6 – Ecce Homo de 
Caravaggio, 1605. 
Fonte: Google Arts & Culture (2019) 
 
Figura 7 – Ecce Homo de 
Albrecht Durer, 1490 
Fonte: Google Arts & Culture (2019) 
 
Fonte: Google Arts & Culture (2019) 
 
Figura 8 – Ecce Homo de 
Hieronymus Bosch, 1500. 
 
 
 
21 
O Ecce Homo de Cecília Giménez e seu legado memético 
 
A notícia sobre a restauração de Cecília começou a se espalhar em 21 de 
agosto de 2012, quando um usuário da rede social Reddit fez uma postagem intitulada 
"Uma igreja antiga na Espanha precisava restaurar uma pintura desgastada. Eles 
contrataram a pessoa errada" (tradução do autor), que incluía fotografias da pintura 
antes e depois de alterada. Em dois dias, o post recebeu mais de 11.000 votos 
positivos e 750 comentários. Um outro usuário da rede respondeu ao post com uma 
versão editada da restauração, feita para parecer como se fosse uma ilustração de 
um leão (Figura 9, à esquerda). No dia 22 de agosto, usuários da rede social 4chan 
apelidaram a pintura "Potato Jesus" (Figura 9, à direita), que referenciava a um outro 
meme da época. 
 
Uma das dificuldades de se estudar memes é que nem todas as imagens 
podem ser encontradas. Entretanto, a fim de contornar esta irrastreabilidade, sites 
como o Museu de Memes e o Know Your Meme agrupam as diversas e incontáveis 
entradas justamente para que possamos mais tarde poder estudar estes fenômenos. 
 
 
Figura 9 – Primeiros remixes do meme Ecce Homo 
Fonte: Know Your Meme (2019) 
 
 
 
22 
Em 22 de agosto de 2012 foi criado um grupo no Facebook intitulado “Beast 
Jesus Restoration Society”, recebendo 4.050 membros em pouco menos de duas 
semanas. Os criadores começaram um blog com um único tópico na rede social 
Tumblr no dia seguinte, dedicado às imagens e fotomontagens apresentadas na 
página do Facebook. Ainda de acordo com o site Know Your Meme, no dia 23 de 
agosto, foi criada uma conta na rede social Twitter, intitulada @FrescoJesus que 
alcançou quase 7.000 seguidores em duas semanas. Em meados de setembro, a 
pintura restaurada havia sido apresentada pelos principais veículos de notícias em 
inglês e por outros jornais em 160 países em todo o mundo. 
Em 22 de agosto, foi criada uma petição no site Change.org, pedindo às 
autoridades que não removessem a restauração de Giménez, chamando sua pintura 
de "ousada" e encarando-a como um exemplo do expressionismo contemporâneo. 
Em 31 de agosto, a petição havia alcançado 22.185 assinaturas dentre as 25.000 
solicitadas. A própria petição também se tornou notícia sendo amplamente divulgada 
na época. 
 
Em 24 de agosto de 2012, a agência publicidade BBH London, lançou uma 
competição online intitulada “Cecília Prize” (Prêmio Cecília) para receber e premiar os 
Figura 10 – Imagens enviadas para o Prêmio Cecília 
Fonte: Know Your Meme (2019) 
 
 
 
23 
melhores remixes do meme. As submissões de imagens foram organizadas em um 
painel na rede social Pinterest (Figura 10) e sob a hashtag #ceciliaprize no Twitter, o 
concurso foi coberto por diversos veículos de comunicação novamente espalhando a 
imagem de Ecce Homo. Em setembro de 2012, o grupo artístico Wallpeople 
apresentou centenas de versões retrabalhadas da nova imagem em uma parede perto 
do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona. Todo este legado foi convertendo 
tanto Cecília quanto sua obra em ícones pops. 
 
Figura 11 – Mais entradas na competição do Prêmio Cecília
 
 
A repercussão online foi tamanha que, o que poderia ter sido um desastre - e 
em termos de restauração talvez realmente tenha sido, como aponta Moreno-Navarro, 
(2017) - se converteu em forma de divulgação positiva à pequena comunidade. Ao 
verem o fluxo de turistas aumentando na cidade para conhecer a obra de Cecília, os 
responsáveis pela administração do pequeno templo decidiram pormantê-la desta 
forma. De acordo com o site Know Your Meme, desde a ocorrência, o pequeno 
santuário já atraiu mais de 140 mil visitantes e levantou mais € 50.000 euros. O fluxo 
turístico favoreceu Borja, fomentando a economia local e divulgando o patrimônio 
Fonte: pinterest.com (2019) 
 
 
 
24 
artístico e cultural da cidade, assim como o próprio santuário, que mais tarde criou o 
primeiro Museu Internacional do “Ecce Homo”, contando com obras sobre o tema de 
diversas partes do globo. Atualmente, Giménez detém royalties sobre a imagem de 
sua pintura, que é comercializada em uma série de suvenires no santuário e na cidade, 
existindo até mesmo um rótulo de vinho gravado com sua obra. Mais tarde, chegou-
se ainda a produzir um documentário chamado Fresco Fiasco (2016) e um filme 
intitulado Behold the Monkey (2016), ambos sobre a restauração. 
 
Por todo este legado, “Ecce Homo” é um dos memes mais lembrados da 
década, sendo constantemente revisitado. Em 2019, o meme chegou a ser 
transformado até mesmo em um filtro para selfies na rede social Stories da plataforma 
Instagram. Todo este contexto nos confirma a necessidade de se estudar a linguagem 
dos memes e, sobretudo, o impacto destas imagens na cultura contemporânea. 
 
PLANO DE ATIVIDADE EDUCATIVA 
 
Em razão da transversalidade do tema abordado, propõe-se uma oficina em 
um espaço de aprendizagem não formal de Sorocaba. Sugere-se que esta atividade 
ocorra no Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) do Sesc Sorocaba, que é um 
laboratório e espaço de convivência para o desenvolvimento criativo, a partir do uso 
de tecnologias compartilhadas. Este espaço conta com diversos materiais, 
ferramentas e componentes eletrônicos para uso compartilhado e também com 
recursos para captação e edição de áudio e vídeo, bem como máquinas de costura, 
Figura 12 – Visitantes do santuário 
Fonte: Know Your Meme (2019 
 
 
 
25 
equipamentos de marcenaria, materiais de desenho, pintura e escultura, tablets, 
computadores, e plataformas de prototipagem, como o Arduino. Desta forma, a 
atividade ganha força e integraria o calendário da unidade. 
A partir da abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (2014), a proposta de 
ensino/aprendizagem deste trabalho se dará em uma oficina de três dias, em que cada 
um dos encontros terá duração de duas horas. Doze alunos, de 14 a 19 anos, 
previamente inscritos, conhecerão aspectos da criação, circulação, contextualização 
e principalmente da produção de sentidos de imagens remixadas. Objetivando uma 
aprendizagem significativa, os dois primeiros encontros estarão focados no “aprender 
a ver” e na contextualização das imagens estudadas, e o último reservado ao fazer 
artístico. As aulas se darão combinando conteúdo expositivos, com auxílio de slides e 
projetores; e atividades práticas com o uso de aparelhos celulares, computadores e o 
material didático do curso, detalhado mais adiante neste trabalho. 
No primeiro dia será realizado um acolhimento com levantamento das 
informações prévias que os alunos têm sobre o tema, e feita uma primeira apreciação 
estética do meme “Ecce Homo”, conforme conteúdo apresentado no capítulo anterior 
deste tralho. 
No segundo dia, se trabalharam as imagens prévias que influenciaram a pintura 
de Elías García Martínez e os memes a partir da imagem restaurada de Cecília 
Giménez. Será explorada a teoria e algumas fórmulas de se criar memes. O professor 
apresentará, como exemplo as tipologias descritas por Chagas e Toth (2016) e como 
elas produzem diferentes sentidos. Como exemplifica a Tabela 1 abaixo: 
 
 
 
 
26 
Tabela 1 – Exemplo de algumas divisões de entradas para os remixes do meme estudado 
 
Image Macro 
(fotografia com 
legenda) 
 
Exploitables 
(montagens com 
sobreposição de 
imagens) 
 
Look-alikes 
(justaposição de retratos 
 para comparação) 
 
Selfie 
(retrato junto ao meme 
ou de alguém se 
caracterizando como o 
meme) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Elaborada pelo autor (2019) 
 
Assim, os alunos serão indagados, por exemplo, sobre o que eles percebem 
ou entendem quando determinado texto é sobreposto à imagem; que relação é 
estabelecida quando se coloca uma imagem específica lado a lado com o meme 
estudado; ou ainda quando tiramos uma selfie imitando a expressão da imagem. Aqui 
objetiva-se que os alunos percebam a pluralidade de sentidos que um mesmo meme 
pode tomar. As respostas poderão ser as mais diversas possíveis e espera-se que 
entendam que um meme nunca é apenas uma imagem isolada, mas sim uma 
coletânea de discursos imagéticos e textuais combinados que podem produzir novos 
sentidos, muito além da imagem original que conhecemos. 
O encontro final será o dia para o fazer artístico, em que os alunos aplicarão 
conhecimentos adquiridos para a criação dos memes. Com o auxílio de computadores 
oferecidos pela própria unidade do Sesc, bem como o uso dos celulares dos próprios 
alunos, se utilizarão aplicativos, programas de edição de imagens e sites, como o 
memecreator.org, para a criação de imagens remixadas. Será proposto aos alunos 
que, além de criarem contribuições ao meme estudado, também utilizem as imagens 
 
 
 
27 
analisadas e o folheto da oficina (detalhado adiante) para criarem novas propostas e 
novas narrativas com base em suas próprias vivências. 
Para esta atividade os alunos trabalharão em quatro bancadas com três alunos 
em cada, com um computador e um folheto. A proposta é que os alunos tenham 
autonomia para criar suas próprias montagens, o professor mostrará o funcionamento 
do site e auxiliará os alunos caso tenham dúvidas específicas. O professor ficará 
responsável por coletar estas imagens e, no período final, se organizará uma nova 
roda de conversa para que todos os alunos possam conhecer a imagens criadas pelos 
colegas. Os alunos serão comentarão o que a nova imagem criada os provoca, os 
lembra, ou pode significar. O criador da peça comentará sobre ela e compartilhará 
suas dificuldades durante o processo criativo. Ao final, todo o material desenvolvido 
será exposto em um perfil criado na rede social Instagram. 
 
MATERIAL EDUCATIVO 
 
Será desenvolvido um folheto de 20cm x 20cm, com um conteúdo explicativo 
sobre o que são memes e como podem ser criados. Ainda neste folheto haverá uma 
interação com uma faca especial, que permitirá a combinação de imagens de forma 
lúdica, para que o público possa criar rostos combinando as imagens entre si, ou com 
seu próprio rosto. As lâminas terão três cortes dividindo cada imagem na altura dos 
olhos, nariz e boca. Dentre as imagens escolhidas, teremos a obra original de Elías 
García Martínez, a restauração de Cecília Giménez, alguns outros espécimes do 
gênero “Ecce Homo”, citado neste trabalho, além de algumas entradas do compêndio 
do meme. 
 
 
 
 
28 
 
 
 
Figura 13 – Simulação do material: capa e páginas internas 
Fonte: Material elaborado pelo autor (2019) 
 
 
 
29 
Como estamos falando de imagens típicas da internet, o material estimulará a 
produção e o compartilhamentos de novas imagens criadas pelo público. Como o 
gênero selfie é uma das possibilidades estudadas durante a oficina, este material 
permitirá ao aluno combinar seu próprio rosto com as imagens do material. 
 
Entre os textos do material, haverá uma chamada para ação, convidando seus 
leitores a publicarem as fotos criadas com o folheto nas redes sociais utilizando a 
hashtag #eccememe, para que as imagens compartilhadas possam ser localizadas e 
compiladas para eventuais análises posteriores. 
Propõe-se ainda que este material tenha três usos: divulgação para inscrições 
da oficina; material didático da própria oficina e também como material para o público 
que seja frequentador da unidade, mas que não venha a realizar a oficina. 
 
 
Figura 14 – Simulação de uso do material 
Fonte: Material elaborado pelo autor (2019) 
 
 
 
30MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO 
 
Como prática convencionada e sistematizada, a avaliação no processo de 
ensino/aprendizagem é realizada em todos os momentos do trabalho pedagógico. Ela 
o inicia, transpassa todo o processo e o conclui. Todo o processo é monitorado, tendo 
como norte os objetivos definidos no planejamento do projeto. Segundo Villas-Boas 
(1998, p. 21), as práticas avaliativas podem servir à manutenção ou à transformação 
social. Este processo compreende não apenas análise de desempenho do aluno, mas 
também do professor e de toda a situação de ensino que se realizará no projeto. 
Portanto, neste projeto a avaliação será contínua, ocorrendo em todos os 
momentos do processo de ensino-aprendizagem. Nos dois primeiros encontros, onde 
a aula é mais expositiva, a participação nas respostas constituirá importante 
parâmetro para mensurar o sucesso dos métodos escolhidos e, assim, adequar o 
projeto às dificuldades encontradas. 
No último encontro, destinado ao fazer artístico, se valorizará a autonomia dos 
alunos. Ainda que o professor seja uma figura central nas primeiras etapas do projeto, 
no terceiro dia seu papel se dará como facilitador do processo de criação dos alunos. 
Conseguirem criar e executar suas próprias imagens/memes será apenas um 
indicativo do grau de sucesso do projeto, porém, o que se espera é que os alunos 
comecem a ter um olhar mais crítico em relação às imagens e memes que consomem 
e criam no seu dia a dia. Em relação às principais dificuldades que poderão ser 
encontradas, acredita-se que, por exemplo, no último dia de oficina, alguns alunos 
poderão apresentar maior ou menor familiaridade com as ferramentas digitais. 
Contudo, o uso do material didático se fará presente como maneira de garantir que 
todos consigam realizar pelo menos algum remix/montagem de maneira analógica. 
Como produto do projeto, para documentar os processos e os resultados da 
oficina, também se criará um perfil da oficina no Instagram, que será alimentado ao 
longo de toda a oficina. Nesta página serão compartilhadas fotografias dos bastidores 
da oficina e as imagens criadas pelos alunos. Sincronicamente, se utilizando da 
dinâmica da própria plataforma (Instagram), as imagens poderão também ser 
compartilhadas pelos alunos em seus próprios perfis, alcançando ainda mais pessoas 
que também poderão conhecer o trabalho realizado. De igual maneira, o sucesso do 
 
 
 
31 
material didático também poderá ser mensurado pela quantidade de fotos publicadas 
e marcadas com a hashtag #eccememe, criando assim uma exposição virtual 
organizada nas próprias plataformas digitais. Após a oficina, o perfil criado no 
Instagram continuará ativo, e poderá ser utilizado novamente em futuras oficinas. 
Pretende-se, também, que após a oficina desenvolva-se um relatório sobre o 
projeto, acompanhado de algumas imagens, para ser publicado no site da 
organização e em sua revista mensal, narrando a experiência da oficina. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Se nos anos 80 Ana Mae Barbosa (2014) já nos alertava sobre mais de 25% 
das profissões do nosso país estarem ligadas direta, ou indiretamente, às artes, no 
contexto atual, em que muito se fala sobre preparar os alunos para as profissões que 
ainda nem sabemos que existirão, atentar-nos sobre as relações estéticas que 
estabelecemos com a tecnologia é uma das nossas saídas para criarmos propostas 
de ensino/aprendizagem significativas. 
As plataformas digitais são, sem dúvida, um campo que deve ser usufruído pela 
educação, não somente no ensino da arte. Prestar atenção em como os discursos, os 
processos criativos e as relações acontecem mediadas por este terreno nos prepara 
para entender qual o caminho estamos tomando enquanto sociedade. Sobretudo 
porque nem sempre os memes trazem apenas discursos de humor, ou são 
“bonzinhos”, ou democráticos. As propostas educativas com memes podem permitir, 
portanto, entendermos como são recebidos os produtos culturais da nossa sociedade. 
Conhecer os memes que circulam a respeito de um determinado produto, de uma 
marca, de um candidato político, de uma telenovela, de um artista ou de sua obra, 
permite ao arte-educador estudar de forma mais apurada sobre a forma como criamos 
imagens para nos comunicar e como funciona a sua fruição na contemporaneidade. 
 O campo memético é uma vasta seara a ser explorada pela arte-educação. 
Aos educadores futuros e contemporâneos fica o desafio de como se fixar nos memes 
do agora, nas plataformas atuais, enquanto elas ainda estão acontecendo. O 
profissional que se aventurar por este caminho tem que levar em conta a efemeridade 
 
 
 
32 
destes fenômenos. Em se tratando de projetos baseados em mídias sociais, estamos 
sujeitos aos termos de uso definidos pelos administradores das plataformas, que 
podem, inclusive, alterar suas regras internas, ou até mesmo encerrar a própria 
plataforma. 
Além disso, é sempre possível que um novo tipo de imagem digital ou meme 
nos surpreenda, exigindo o desenvolvimento de novas formas de estudá-lo e aplicá-
lo como objeto de ensino/aprendizagem. Durante o desenvolvimento deste trabalho, 
por exemplo, observou-se o surgimento de um interessante novo tipo de meme 
sonoro, com a criação dos grupos de Whatsapp exclusivos para compartilhar áudios 
imitando determinado som, que pode ser desde um jargão de uma celebridade ao som 
de um instrumento musical. Ótima oportunidade para arte-educadores do campo da 
música, pedagogos focados em alfabetização e comunicólogos especialistas em 
redes sociais. Ficar atento a manifestações como estas é antecipar as flutuações de 
ânimo, interesse e criatividade da sociedade. Em tempo, ainda em novembro de 2019, 
foi lançado o site memensina.com.br, que coleciona propostas educativas brasileiras 
que se valem de memes para o ensino de diversas disciplinas. Desta forma, 
principalmente em escolas públicas, este é um ótimo ponto de partida para 
professores que queiram levar o tema para as suas aulas. 
Desta forma, os memes necessitam ser compreendidos não como conteúdos 
fluidos e desambiciosos, mas como interessantes indicadores da leitura que os 
internautas fazem de um determinado tema ou personagem. Nesse sentido, o meme 
não se trata de um objeto em si mesmo, mas um meio, uma ferramenta. Uma oficina 
de seis horas pode não levar jovens a se tornarem memeiros profissionais - e este 
realmente não é o objetivo deste trabalho. Entretanto, pode ser um primeiro passo 
para levá-los a refletir sobre o conteúdo que consomem e compartilham nas redes. 
Não se estuda memes para se tornar um excelente criador de memes, mas para 
entender os possíveis significados pensados e até mesmo os não pensados pelos 
seus autores. 
 
 
 
 
33 
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