Buscar

Redução de Preconceito e Estereótipos no Contexto Escolar com Crianças e Adolescentes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TEMA: Redução de Preconceito e Estereótipos no Contexto Escolar com Crianças e Adolescentes.
	 
A educação é um fenômeno social e é parte integrante das relações sociais, econômicas, políticas, culturais e ideológicas de uma determinada sociedade. Nesse sentido, estão entre as finalidades da educação formal e intencional apresentada pela escola, elementos como: valores, regras, noções de verdades, princípios éticos e morais. 
Segundo Émile Durkheim “A palavra educação tem sido muitas vezes empregada em sentido demasiadamente amplo, para designar o conjunto de influência que, sobre nossa inteligência ou sobre a nossa vontade, exercem outros homens, ou, em seu conjunto, realiza a natureza”. (1973, p. 33). A educação pode ser vista como instrumento que pode possibilitar aos homens se aproximarem de certos ideais; sendo que, para isso, a escola atue de forma direta ou indireta sobre as faculdades mentais do educando, para inculcar nos indivíduos seus valores e concepção de verdade social.
Por outro lado, os sistemas de educação repousam em uma base comum, são vistos muitas vezes como especiais e estão inseridos em todo sistema social. Durkheim acrescenta ainda que: “não há povo em que não exista certo número de ideais, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar a todas as crianças, indistintamente, seja qual for à categoria social a pertençam”. (1973, p. 39). 
Para Durkheim, “a educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine”. (1973, p. 41). A educação é nesse sentido, um meio pelo qual prepara os indivíduos para lidarem com suas próprias condições existenciais. Partindo dessa premissa é interessante pensar o papel da escola na construção e/ou reprodução cultural de discurso sobre racismo, preconceitos e estereótipo no contexto de desenvolvimento do corpo discente no interior da instituição escola. 
As análises sobre o tema racismo, desde o século XX até os dias atuais, apresentam muitas questões que precisam ser lidas por vários ângulos e variadas formas. Sobre discurso, Michel Foucault diz que: “Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro”. (1979, p. 12.). É importante compreender aqui que o discurso não é apenas uma palavra proferida, mas é também um hierarquizador de pessoas, um estruturador de relações sociais. 
Segundo Dalila Xavier de França, “A psicologia, em particular, a psicologia social em seus pressupostos teóricos relativos às relações entre grupos sociais, pode colaborar com a compreensão dos processos que subjazem ao preconceito na escola” (2017, p. 152). Nesse sentido, a escola pode exercer papel preponderante na desconstrução de preconceitos e estereótipos sobre crianças e adolescentes no que tange a sua etnia e raça.
Todavia, é relevante pensar em que discursos e como os mesmos são apropriados pela sociedade, nesse caso, sobre a raça negra. Sobre a materialização do discurso, Michel Foucault, assim diz: “(...) suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade” (1996, pp. 8 - 9). Partindo dessa premissa cabe pensar e refletir como as crianças e adolescentes materializam os discursos sobre a raça negra, dentro do contexto de seleção, dominação, perigos, bem como os danos que esses discursos possam causar para si e para os demais, no cotidiano das relações interpessoais da vida em sociedade.
Dalila reforça ainda que, “Aspectos como a cor da pele, cor e formato dos olhos, estilo de cabelo são exemplos de marcas físicas genéticas geradoras de racismo, um grupo alvo de racismo na nossa sociedade é o grupo dos negros”. (2017, p. 153). A autora acrescenta dizendo que a escola está impregnada de visões que deturpam a imagem sobre o negro; essas práticas e visões levam as pessoas a não enxergarem os indivíduos a partir de sua alteridade.
De modo geral, dentre os temas políticos priorizados, a questão racial tem avançado no debate e está de certa forma no bojo da implementação de novas políticas sociais. Um exemplo é a Lei de número 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A partir de então, tornou-se obrigatório à inclusão no currículo das escolas de ensino fundamental e médio (públicas e privadas), o estudo da História e Cultura Afro Brasileira. A lei propõe ainda que os calendários escolares incluam o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. 
Apesar da existência dessa lei, Dalila aponta para o aspecto da dificuldade da sociedade brasileira em trazer o tema do racismo, preconceito e estereótipos de pessoas negras, inclusive no ambiente escolar, pois: “Essa suposta dificuldade em perceber o racismo no ambiente, ou mesmo desinteresse em tratar das relações raciais, é por vezes compreendida em termos de silenciamento imposto a análise da questão do racismo, que parece estar presente em vários lugares”. (2017, pp. 155 – 156).
Embora a convivência pacífica entre os grupos étnicos na sociedade brasileira seja uma realidade, o racismo e o preconceito encontram-se fortemente presentes na realidade social do país, de modo que a escola pode ser um instrumento importante para se pensar e orientar as mudanças do paradigma de intolerância com relação à etnia presentes no ambiente escolar, de forma a permitir a construção de uma sociedade tolerante com o outro e com o diferente. Pois preconceito e estereótipos são alimentados por práticas e atributos desenvolvidos no interior das instituições sócias, nesse caso, escola pode perpetuar ou pode contribuir de forma efetiva na desconstrução de estigmas negativos sobre pessoas negras. 
Entretanto, “O silêncio ou denegação do preconceito pode ser observado ainda na essencialização das questões raciais, isto é, muitas vezes, os professores percebem o racismo como parte da “natureza humana”, sendo o próprio negro o responsável pela propagação”. (2017, p. 156). Isso pode levar a danos complexos às crianças e adolescentes negras, e mais, a escola passa a reforçar os estereótipos negativos sobre a população negra. 
Segundo Roger Chartier, “As percepções sociais não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que têm a impor uma autoridade à custa de outras, por elas menosprezadas, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas”. (1998, p. 17). Essa categoria nos permite perceber de que forma esses discursos sobre a construção de preconceito e estereótipos junto ao corpo discente no ambiente escolar.
 Segundo Muniz Sodré,
“A cor branca extrai a sua hegemonia do fato de deixar presente na realidade inteira do indivíduo – seja ele rico ou pobre – a possibilidade de exercício de uma dominação, já que as identidades constroem-se no interior de relações de poder assimétricas. Ela tende a esconder, no essencialismo absolutista da pele, a relação histórica de poder – tanto as situações imperiais ou coloniais quanto as condições sociais para a hegemonia socioeconômica de um grupo determinado, real ou imaginariamente vinculado á civilização européia”. (1999, p. 263). 
	Historicamente o Brasil foi colonizado sob a égide da dominação branca e de valores predominantementeeuropeus. Nesse sentido, a questão racial desde a constituição do Brasil como colônia, que a cor branca é sinônima de privilégio e objeto de desejo de todo aquele que vislumbrasse uma ascensão social. A cor aqui não se restringe apenas à condição de dominação e subordinação de brancos europeus sobre negros africanos, mas todo o aparato ideológico e valorativo que se constituiu durante séculos de uma etnia sobre a outra.
As mudanças se efetivam a partir do conhecimento, nesse caso a escola pode ser um dos instrumentos que pode refletir sobre as distorções históricas entre a sociedade brasileira. Para Manoel Bomfim “O progresso há de ser da própria sociedade, no seu todo; e isto só se obtém pela educação e cultura de cada elemento social. Não se eleva o meio sem melhorar os indivíduos; não há progresso para quem seja incapaz de compreendê-lo e desejá-lo e buscá-lo”. (2008, p. 272). Nesse sentido, a permanência da prática do preconceito, bem como dos estereótipos sobre negritude no país reflete de certa maneira os dizeres construídos socialmente na sua relação histórica. 
A questão racial, ainda nos dias de hoje, é objeto de estudo e tentativa de compreensão do processo de estruturação e montagem das relações de poder no país. Para Franz Boas, “(...) o indivíduo só pode ser compreendido como parte da sociedade à qual pertence, e que a sociedade só pode ser compreendida como base nas inter-relações dos indivíduos seus constituintes”. (2006, p. 53). Assim sendo, a sociedade só pode existir enquanto reconhecimento de si mesma, dos seus indivíduos e vice-versa. Nessa perspectiva as relações inter-raciais existentes no seio da sociedade brasileira e vivenciadas no ambiente escolar incidem no que se refere sobre preconceito, discriminação, estereótipo, tanto como negação, quanto à aceitação da negritude pelas crianças e adolescentes.
Segundo Bourdieu, “As desigualdades frente à escola e à cultura apontam que existe certa crença de que a escola é um fator de mobilidade social, sendo que, na realidade, ela tende a propagar as diferenças sociais existentes, pois fornece ás desigualdades a aparência de legitimidade, além de sancionar a herança social como algo natural. (1998, p. 41). No caso da reprodução de uma cultura permeada de preconceito racial e de estereótipos negativos sobre pessoas negras, a escola aparece como espaço de legitimação de tais discursos, uma vez que a mesma reforça tais práticas, quando desconhece a existência de tais práticas no ambiente escolar, ou quando não assume seu papel de intervenção e de interlocutora na desconstrução junto ao corpo discente desses tipos de ações.
	De certa forma, escola ainda é vista como uma instituição social que possibilita aos indivíduos terem acesso a instrumentos e conhecimentos necessários para intervir no mundo e transformar a realidade em que vivem, sendo que a mesma deve possibilitar aos estudantes informação, conhecimento e instrumento pertinente a uma formação, que leve o estudante a se reconhecer enquanto sujeito histórico e agente de transformação social. 
Pois a escola deve prezar pela liberdade e autonomia dos sujeitos, já que o ambiente escolar é plural e permite que o conhecimento vá além do conteúdo sistemático, ou seja, a escola deve pensar na formação da sociedade na perceptiva de futuro, com indivíduos que se reconheçam e reconheça o outro na sua diferença, seja ela qual for.
De acordo com Manoel Bomfim “Ser livre é, antes de tudo, escapar da escravidão que a ignorância impõe, da escravidão que nós mesmos reside, e trazer a inteligência a iluminar os atos e a vida; ser livre é compreender que a injustiça é o mal, e que a ordem social não deve ser a ordem exterior, prepotente, instável, resultando de uma imposição tirânica, mas sim o acordo normal de todas as aspirações” (2008, p. 282). Isso significa dizer que o reconhecimento da liberdade pode transformar indivíduos em sujeitos autônomos e construtores dos seus processos históricos. 
BIBLIOGRAFIA 
BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. In: a Escola conservadora: as desigualdades frente á escola e á cultura. Petrópolis, d. Vozes, 1998.
________A escola conservadora, in, Escritos sobre educação. Petrópolis. Ed Vozes, 1998.
BOAS, Franz, 1858-1942. Antropologia Cultural; textos selecionados, apresentação e tradução, Celso Castro. – e.ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar., 2006.
BOMFIM, Manoel. A américa latina: males de origem. s.l.: SciELO Books - Centro Edelstein, 2008.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1998.
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. S. P, Ed. Melhoramentos, 1973.
FRANÇA, Dalila Xavier. DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA.
 Vol. 13 N.º 45 (2017): Violência, discriminação e desigualdades /
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo. Loyola, 12ª edição, 1996.
MUNANGA. Kabengele. Superando o Racismo na Escola. Ministério da Educação 2ª edição Brasília – 2005.
SODRÉ, Muniz. “Claros e escuros: identidade, povo e mídia no Brasil”. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
1

Outros materiais