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@literidica A busca pela proporcionalidade, igualdade, reparação histórica, são um dos fundamentos por trás da política de cotas, e por todas as ações afirmativas, afinal, elas são o reflexo do desejo de mudar a realidade social. Infelizmente na atualidade ainda existe uma disparidade entre brancos e negros, sendo esse último, maioria em presídios, favelas, vítimas de homicídio e minoria no ensino superior. Com a finalidade de incluir negros na graduação e pós-graduação surge o sistema de cotas, que em sua essência tem o objetivo de desnaturalizar a discriminação e a tolerância, proporcionando oportunidades para a maioria oprimida. Igualdade, um substantivo que carrega consigo esperança, expectativas, lutas, e direitos, uma palavra que muitas vezes não é plenamente alcançada em uma sociedade, e no Brasil, é sinônimo de luta diária, da ruptura com um passado que massacrou uma massa populacional. O sistema de cotas é mais uma das ferramentas usadas pela luta de uma sociedade igualitária, a sua inexistência representaria um retrocesso, assim como também, significaria retirar das mãos de todos os cidadãos o dever de reparar o passado escravista e desumano. Primordialmente, deve ser esclarecido que a reparação histórica é feita através da visibilidade dos acontecimentos, da retomada de consciência, da ruptura com toda e qualquer discriminação, e principalmente na utilização de políticas públicas. Sendo assim, revogar a Portaria n.13, de 11 de maio de 2016 é afirmar que as autoridades governamentais não possuem o dever de promover a igualdade dos cidadãos, que não é obrigada a aprender com os fatos do passado. Além do mais, retirar do âmbito legal o sistema de cotas raciais é confiar cegamente em políticas universalistas de base, que em inúmeros momentos demonstram serem insuficientes. Anular a última ação do antigo ministro da educação Abraham Weintraub é esclarecer para a população que o dever do estado brasileiro é promover o bem comum e proporcionar a equidade. Além do que foi exposto, o ato de cancelar a portaria n. 542, de 16 de junho de 2020, reforça a constitucionalidade das políticas públicas de reparação histórica. Sem contar que o ato efetiva a luta dos estudantes e dos negros, colocando em evidência o que Ikawa (2008, p. 152) escreve “[...] enquanto há indivíduos que não mais podem ser alcançados por políticas universalistas de base, mas que sofreram os efeitos, no que toca à educação, da insuficiência dessas políticas, são necessárias, por conseguinte, também políticas afirmativas”. É indispensável que todas as ações públicas não venham a ferir a soberania da constituição, muito menos todos os dispostos nelas. Aqueles que são contra ao sistema de cotas na pós- graduação alegam que tal mecanismo fere a isonomia, a liberdade das instituições de ensino e o princípio da não discriminação. “Há ofensa ao preceito constitucional da isonomia, por conseguinte também ofensa ao princípio de não discriminação. ” (PASSOS, 2012, digital). No entanto, a política pública adotada para reverter as desigualdades não fere o princípio de isonomia, muito pelo contrário, ela faz uso da equidade e da interferência estatal na relação privada para acabar com o racismo. A portaria assinada pelo ex- ministro da educação possuía como embasamento jurídico o exposto na Constituição Federal: "Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão." (BRASIL, 1988,on line). Alegando assim, que cada universidade pode inserir o sistema de cotas na pós- graduação se assim desejar. Contudo, em pleno cenário de discriminação o referido artigo não pode ser o único mecanismo usado para reverter a naturalização da desigualdade. Sem contar que o mesmo artigo usado para amenizar os impactos de uma ação impensada foi utilizado anteriormente para barrar a política de cotas nas primeiras universidades que a inseriram. O ideal não seria existirem política de cotas, discriminação, disparidade social, o ideal seria uma sociedade isonômica, no entanto no momento isso parece uma doce utopia, que infelizmente se distancia do plano concreto quando ações governamentais retrocedem, quando atitudes demonstram uma possível retomada dos erros cometidos no passado. A LINDB, em sua essência representa a regulamentação de todas as normas, ela busca a preservação dos limites morais e éticos, busca o fim do retrocesso, explica com precisão, é exatamente como ela que as ações sociais deveriam ser. Tem-se a necessidade de repensar a sociedade com relação a temporalidade, analisando sempre passado, presente e futuro, para que no final, todos os espaços sociais sejam ocupados igualitariamente. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil de 1988, de 5 de outubro de 1988. Brasília, n. 1, p. 1, Outubro de 1988. Disponível em: Acesso em: 29 de julho de 2020. IKAWA, D. As ações afirmativas em universidades.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. PASSOS, J. J. Calmon de. O Princípio de não discriminação, Juris Plenum Ouro, Caxias do Sul: Plenum, n. 28, nov./dez. 2012. 1 DVD. ISSN 1983- 0297. ZUIN, Aparecida Luzia Alzira; BASTOS, Eliane. A justiça social por meio das cotas na Universidade Federal de Rondônia. Educação & Formação, 2019, 4.12set/dez: 104-123.
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